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Praxeologia
OOMétodo dos
Método dos
Economistas Austríacos
Economistas Austríacos
Murray Rothbard
Murray Rothbard
Tradução: Daniel Chaves Claudino
Tradução: Daniel Chaves Claudino
P
raxeologia é a distinta metodolo-
gia da Escola Austríaca. O termo
foi inicialmente aplicado ao método
austríaco por Ludwig von Mises, que foi não
apenas o maior arquiteto e elaborador dessa
metodologia mas também o economista que
mais completamente e de forma mais bem-
sucedida a aplicou na construção da teoria
econômica.1 Enquanto o método praxeológico
é fora de moda, para dizer o mínimo, na eco-
nomia contemporânea bem como em ciências
sociais no geral e em filosofia da ciência, ele
foi o método básico no início da Escola Aus-
tríaca e também de um considerável segmento
da antiga escola clássica, em particular de J. B.
Say e Nassau W. Senior.2
∼
29 de julho de 2017. Discussão em AncapChannel. □
1
Ver em particular Ludwig von Mises, Human Action: A Tretise on
Economics (New Haven: Yale University Press, 1949); ver também
Mises, Epistemological Problems of Economics, George Reisman,
trans. (Princeton, NJ: Van Nostrand, 1960). □
2
Ver Murray N. Rothbard, “Praxeology as the Method of the Social
Sciences,” em Phenomenology and the Social Sciences, Maurice
Natanson,ed., 2 vols. (Evanston: Northwestern University Press,
1973), 2 p. 323–35 [reimpresso em Logic of Action One, p. 29–58];
ver também Marian Bowley, Nassau Senior and Classical Economics
(New York: Augustus M. Kelley, 1949), p. 27–65; e Terence W.
Hutchinson, “Some Themes from Investigations into Method,” em
A praxeologia se baseia no axioma funda-
mental de que indivíduos agem, ou seja, no
fato primordial de que indivíduos participam
de ações conscientes visando objetivos esco-
lhidos. Esse conceito de ação contrasta com o
comportamento puramente reflexivo, ou au-
tomático, que não é dirigido para objetivos.
O método praxeológico estende, por dedução
verbal, as implicações lógicas desse fato pri-
mordial. Em resumo, a economia praxeológica
é a estrutura de implicações lógicas do fato de
que indivíduos agem. Essa estrutura é cons-
truída sobre o axioma fundamental da ação, e
tem alguns axiomas auxiliares, tais como os
indivíduos são diferentes e que seres humanos
consideram lazer como um bem valioso. Para
qualquer cético em relação a se deduzir de tal
base simples um sistema inteiro de economia,
eu recomendo o livro Ação Humana de Mises.
Além disso, uma vez que a praxeologia inicia
com um axioma verdadeiro, A, todas as propo-
sições que podem ser deduzidas desse axioma
têm que ser verdadeiras, pois se A implica B,
Carl Menger and the Austrian School of Economics, J.R. Hicks and
Wilhelm Weber, eds. (Oxford: Clarendon Press, 1973), p. 15–31.□
e A é verdadeiro, então B tem também que ser
verdadeiro.
Consideremos algumas das implicações ime-
diatas do axioma da ação. Ação implica que o
comportamento do indivíduo é proposital, em
resumo, que é direcionado a objetivos. Além
disso, o fato de ele agir implica que ele consci-
entemente escolheu certos meios para atingir
seus objetivos. Uma vez que ele deseja atingir
esses objetivos, estes devem ser valiosos a ele;
de acordo com isso ele deve ter valores que
governam as suas escolhas. Que ele emprega
meios implica que ele acredita que ele tem o
conhecimento tecnológico que certos meios
irão atingir seus fins desejados. Notemos que
a praxeologia não assume que a escolha de
valores e objetivos pela pessoa é sábia ou ade-
quada ou que ela escolheu o método tecnolo-
gicamente correto de atingi-los. Tudo o que a
praxeologia afirma é que o indivíduo agente
adota objetivos e acredita, quer erroneamente,
quer corretamente, que ele pode chegar a eles
pelo emprego de certos meios.
Toda ação no mundo real, além disso, deve
realizar-se através do tempo; toda ação tem
lugar em algum presente e é direcionada para
a realização futura (imediata ou remota) um
fim. Se todos os objetivos de um pessoa pu-
dessem ser instantaneamente realizados, não
haveria razão alguma para que ela agisse. 3
Além do mais, que um homem age implica que
ele acredita que a ação fará alguma diferença;
em outras palavras, que ele prefere a situação
resultante da ação àquela de nenhuma ação.
Portanto, ação implica que o homem não tem
conhecimento onisciente do futuro; pois se ti-
vesse tal conhecimento, nenhuma ação de sua
parte faria qualquer diferença. Assim, ação im-
plica que nós vivemos em um mundo de um
futuro incerto, ou não totalmente certo. Assim,
nós podemos retificar a nossa análise da ação
e dizer que o homem decide empregar meios
de acordo com o seu plano tecnológico no pre-
sente porque ele espera atingir seus objetivos
em algum tempo futuro.
O fato de que as pessoas agem necessaria-
mente implica que os meios empregados são
3
Em resposta à crítica de que nem toda ação é direcionada a um
ponto futuro no tempo, ver Walter Block, “A Comment on ‘The
Extraordinary Claim of Praxeology’ by Professor Gutierrez,” The-
ory and Decision 3 (1973): 381–82. □
escassos em relação aos fins desejados; pois, se
todos os meios não fossem escassos, mas supe-
rabundantes, os fins já teriam sido atingidos, e
não haveria necessidade de ação. Colocado de
outra forma, recursos que são superabundan-
tes não mais funcionam como meios, porque
eles deixam de ser objetos da ação. Assim, o ar
é indispensável para a vida e, portanto, para
o alcance de objetivos; entretanto, o ar sendo
superabundante não é um objeto da ação e,
portanto, não pode ser considerado como um
meio, mas como o que Mises chamou uma
“condição geral do bem-estar humano”. Onde
o ar não é superabundante, ele pode se tor-
nar um objeto de ação, por exemplo, onde ar
frio é desejado e ar quente é transformado
pelo condicionador de ar. Mesmo com o ab-
surdamente improvável advento do Éden (ou
o que uns poucos anos atrás foi considerado
em alguns círculos como sendo um eminente
mundo “pós-escassez”), no qual todos os de-
sejos podem ser satisfeitos instantaneamente,
ainda haveria pelo menos um meio escasso: o
tempo do indivíduo, do qual cada unidade, se
alocada para um propósito, é necessariamente
não alocada para algum outro objetivo.4
Tais são algumas das implicações imedia-
tas do axioma da ação. Nós chegamos a elas
ao deduzirmos as implicações lógicas do fato
existente da ação humana e, portanto, dedu-
zimos conclusões verdadeiras de um axioma
verdadeiro. Apesar do fato de que essas con-
clusões não podem ser “testadas” por meios
históricos ou estatísticos, não há necessidade
de testá-las uma vez que suas verdades já fo-
ram estabelecidas. Um fato histórico entra nes-
sas conclusões apenas para determinar qual o
ramo da teoria é aplicável em cada caso par-
ticular. Assim, para Crusoé e Sexta-Feira em
sua ilha deserta, a teoria praxeológica do di-
nheiro é de interesse apenas acadêmico, em
vez de um interesse aplicável no momento.
Uma análise mais completa da relação entre
teoria e história na abordagem praxeológica
será considerada abaixo.
Existem, então, duas partes desse método
axiomático-dedutivo: o processo de dedução
e o status epistemológico dos próprios axio-
4
Ver Mises, Human Action, pp. 101–2; e especialmente, Block,
“Comment,” p. 383 □
mas. Primeiro, há o processo de dedução; por
que existem meios verbais em vez da lógica
matemática?5 Sem apresentar o abrangente ar-
gumento contra a economia matemática, um
ponto pode ser imediatamente levantado: dei-
xemos o leitor tomar as implicações do con-
ceito de ação como desenvolvido até aqui neste
artigo e tentar colocá-las em uma forma mate-
mática. E mesmo que isso pudesse ser feito, o
que teria sido alcançado exceto uma drástica
perda do significado em cada passo do pro-
cesso dedutivo? A lógica matemática é apro-
priada à física – a ciência que tem se tornado
a ciência-modelo, que positivistas e empiris-
tas modernos acreditam que todas as outras
ciências sociais e físicas deveriam emular. Em
física, os axiomas e, portanto, as deduções são
em si mesmas puramente formais e apenas
adquirem significado “operacionalmente” na
medida em que elas podem explicar e prever
certos fatos. Por outro lado, na praxeologia,
na análise da ação humana, sabe-se que os
5
Para uma típica crítica à praxeologia por não usar lógica mate-
mática, ver George J. Schuller, “Rejoinder”, American Economics
Review 41 (March 1951): 188. □
próprios axiomas são verdadeiros e têm signi-
ficado. Como resultado, cada dedução verbal
passo-a-passo é também verdadeira e tem sig-
nificado; é pela grande qualidade das propo-
sições verbais que cada uma tem significado,
enquanto símbolos matemáticos não têm sig-
nificado em si mesmos. Assim, Lord Keynes,
muito pouco austríaco e ele mesmo um mate-
mático digno de nota, dirigiu a seguinte crítica
ao simbolismo matemático em economia: