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O país mais aberto à fartura produzida pelo

resto do mundo é o país cujos habitantes são os


mais privilegiados e favorecidos.
E é fácil entender isso quando você analisa
por que as pessoas acordam cedo e vão trabalhar
todos os dias: elas fazem isso para auferir uma
renda, a qual utilizarão para obter bens e
serviços. Ou seja, elas trabalham e produzem
para poder obter coisas em retorno.
O objetivo final do trabalho e da produção é
o consumo. E quanto mais desobstruído for esse
consumo, maior será a capacidade dessa
população de trocar os frutos do seu trabalho por
bens e serviços. Logo, maior será o padrão de vida
dessas pessoas.
Nada pode ser mais direto.
Nosso trabalho e nossa produção são a
expressão de um desejo de "importar" bens e
serviços, seja do vizinho ao lado ou de algum
produtor a milhares de quilômetros de distância.
Trabalhar e produzir — ou seja, criar oferta
— significa demandar coisas. E isso é verdade
mesmo que este trabalhador poupe 100% de sua
renda: ao poupar, ele está meramente
transferindo demanda para terceiros, sejam eles
tomadores de empréstimos, empresas nas quais
ele investe, instituições de caridade para quem
ele doa ou mesmo repasses para seus filhos e
netos.
O ponto principal é que a produção, sempre
e em todo lugar, é a expressão de uma demanda.
Por isso, quando o governo impõe tarifas de
importação ou desvaloriza a moeda, ele está
simplesmente elevando os custos de se trabalhar e
produzir, afetando o padrão de vida da
população. O objetivo de tais medidas é proteger
alguns empregos em setores privilegiados, os
quais ficam blindados da concorrência
estrangeira e agora podem produzir bens de
menor qualidade e a preços mais altos. A
consequência inevitável é que uma minoria é
protegida e uma esmagadora maioria é
prejudicada, pois seu poder de compra foi
atacado e, consequentemente, seu padrão de vida
foi restringido.
É tautologicamente impossível tarifas de
importações e desvalorizações da moeda
aumentarem o padrão de vida de uma economia,
pois, por definição, obrigar a população a utilizar
uma moeda com menor poder de compra e a
pagar mais caro por bens de pior qualidade não
são medidas que possam elevar a qualidade de
vida de uma população. Questão de lógica básica.
Pior: por reduzirem a renda disponível da
população — que agora tem de pagar mais caro
pelos produtos nacionais —, tarifas e
desvalorizações comprovadamente reduzem
investimentos e, consequentemente, a geração de
empregos. Não há mágica.
Mas tudo piora.
A importância da divisão do trabalho
Quem defende o protecionismo como
forma de "gerar empregos", além de incorrer em
contradição (a perda de empregos ao redor de
toda a economia sempre é maior que a eventual
criação nos setores agora protegidos), parece
ignorar uma verdade simples: a divisão do
trabalho em escala mundial — que é,
possivelmente, o mais poderoso conceito
econômico do mundo — não apenas não gera
desemprego, como ainda nos permite
especializarmos naqueles trabalhos que mais
estão de acordo com nossos talentos.
Imagine uma ilha quase deserta: se apenas
duas pessoas estiverem ali trabalhando e
produzindo, a chegada de mais oito
pessoas não irá fazer com que estes dois
habitantes originais fiquem desempregados e sem
nenhuma atividade para desempenhar. Isso
atentaria contra a lógica, pois significaria que a
chegada de oito pessoas aboliu a escassez e criou
a mais completa abundância para todos, de modo
que não há mais trabalho e produção a serem
feitos, pois todos já vivem na fartura.
Obviamente, tal raciocínio é
completamente desprovido de sentido.
A realidade, como bem sabe qualquer
indivíduo dotado de razão, é oposta: a chegada
destes oito significa que agora dez pessoas irão
produzir exponencialmente mais do que apenas
duas, e será assim simplesmente porque o
acréscimo de oito pessoas fisicamente
capacitadas para produzir irá permitir que dez
possam se especializar ainda mais naquilo que
cada um sabe fazer melhor.
E aquilo que já funciona bem para dez
pessoas em uma ilha quase deserta irá funcionar
ainda melhor para os habitantes de todo o
mundo.
Os nova-iorquinos não estão mais pobres
por poderem "importar" comida que foi cultivada
ao redor do mundo. Muito pelo contrário: sua
capacidade de importar comida (bem como todos
os tipos de bens e servidos produzidos em outros
lugares) significa que, por causa da divisão
mundial do trabalho, cada nova-iorquino pôde se
especializar naquele tipo de trabalho que mais
amplifica suas habilidades e inteligências.
Consequentemente, sua capacidade de
importar bens e serviços se tornou
exponencialmente maior.
Quanto mais livre o comércio, maior a
probabilidade de que cada indivíduo se
especialize na produção daqueles bens e serviços
que ele é capaz de produzir com mais eficiência, e
em seguida utilize sua renda (alta, por causa da
sua especialização) para importar aqueles bens e
serviços que são produzidos de maneira mais
eficiente por outros indivíduos em outras
localidades. Um indivíduo está em melhor
situação econômica quando pode se especializar
naquilo que faz melhor e, em decorrência disso,
pode importar, ao menor preço possível, os bens
de que necessita.
Quando os cidadãos podem terceirizar a
manufatura de vários bens para outros indivíduos
de outros países, eles podem se especializar em
uma miríade de opções de trabalho: podem ser
médicos altamente especializados, financistas,
instrutores de ioga, artistas, cineastas, chefs,
contadores e empreendedores do ramo de
tecnologia. Tão rica e com tamanha liberdade de
comércio é a economia, que todos têm opções.
Mais: se as fronteiras de um país são abertas
para os bens e serviços produzidos em todos os
pontos do globo, então, por definição, o poder de
compra dos salários desses indivíduos alcança sua
máxima capacidade. Os habitantes deste país
estão na privilegiada situação de ter os indivíduos
mais talentosos do mundo trabalhando e
produzindo para atender às suas demandas. Esses
indivíduos talentosos estão concorrendo
acirradamente entre eles para fornecer a você as
melhores ofertas.
Veja, por exemplo, a pujança da Suíça, dos
EUA, da Alemanha e dos países asiáticos que se
abriram ao comércio (como Hong Kong,
Cingapura, Taiwan etc.): a população desses
países usufrui o privilégio de ter as pessoas mais
talentosas ao redor do mundo concorrendo entre
si para produzir e ofertar a ela produtos a preços
baixos. Países que são abertos ao comércio
internacional têm todos os produtores mundiais
ávidos para lhes fornecer bens e serviços de
qualidade e a preços baixos.
Qual a melhor maneira de se aumentar o
padrão de vida senão por meio de uma divisão
internacional do trabalho, a qual gera oferta
abundante de bens e serviços a preços baixos?
Em países de economia aberta, em suma, as
pessoas, exatamente por poderem adquirir bens e
serviços fornecidos por estrangeiros que são
melhores no suprimento destes, podem se
concentrar naquilo em que realmente são boas. E
a especialização comprovadamente gera aumento
da renda individual.
Protecionismo = pobreza
Por tudo isso, dizer que um país que pratica
livre comércio com outro país irá vivenciar um
aumento na fila do desemprego é algo que tem a
mesma lógica que dizer que o acréscimo de
milhões de pessoas na mão-de-obra irá reduzir a
oferta de bens e serviços.
Este ponto é crucial e merece ser
enfatizado: a força ideológica mais poderosa na
defesa do protecionismo é o temor de que, com o
livre comércio — isto é, com as pessoas podendo
comprar coisas baratas do exterior —, haverá
poucos empregos para os trabalhadores na
economia doméstica.
Repare: o que seria esse temor senão o
medo de que o livre comércio irá gerar uma
abundância tão plena, que ninguém mais terá de
trabalhar para produzir? O que seria esse temor
senão a noção de que, com o livre comércio,
todos os desejos da humanidade seriam tão
completamente satisfeitos, que chegaremos ao
ponto em que não mais seremos úteis em
fornecer bens e serviços uns aos outros?
O temor das pessoas em relação ao livre
comércio se baseia em um entendimento
completamente equivocado em relação à
realidade do mundo. É um temor de que os
humanos de um determinado país já estão no
limiar de abolir a escassez e, consequentemente,
de transformar este país em um ambiente de
superabundância.
Algo completamente irracional.
E tudo piora: nas economias que restringem
o livre comércio, os habitantes, ao não poderem
utilizar os frutos do seu trabalho para adquirir
aqueles bens e serviços que são mais bem
produzidos por estrangeiros, acabam sendo
obrigadas a desempenhar várias atividades nas
quais não têm nenhuma habilidade. Isolados da
divisão mundial do trabalho, eles trabalham
apenas para sobreviver, e não para desenvolver
seus talentos. Eles não podem trabalhar naquilo
em que realmente são bons, pois a restrição ao
livre comércio obriga os cidadãos a fazerem de
tudo, inclusive aquilo de que não entendem. Uma
pessoa boa em informática, por exemplo, acaba
tendo de trabalhar como operário em uma
siderurgia, pois seu governo restringe a
importação de aço, que poderia ser adquirido
mais barato de estrangeiros. Engenheiros acabam
virando operários de fábricas.
Se as fronteiras de um país são fechadas,
seus habitantes vivem em um estado de
autarquia, podendo consumir apenas aquilo que
produzem. As opções são drasticamente
reduzidas. Os preços são maiores, pois o poder de
compra da moeda é menor. A indústria é
ineficiente, pois não precisa se preocupar com a
concorrência de estrangeiros. A população
nacional se torna refém do baronato industrial
nacional, que tem seus lucros garantidos sem a
contrapartida de uma prestação decente de
serviços. Por isso o padrão de vida em países de
economia fechada é tão baixo.
E, como se ainda fosse necessário utilizar
este argumento, o desemprego é menor naqueles
países que praticam o livre comércio.
Não há pontos negativos
Importações, por definição, sempre
melhoram o padrão de vida dos habitantes de
uma economia. Sempre. E é assim porque, de um
lado, elas aumentam a recompensa pelo trabalho,
e, de outro, permitem uma maior especialização
da mão-de-obra. Acima de tudo: o livre comércio
é tautologicamente benéfico, pois, se não fosse,
os indivíduos simplesmente não o efetuariam.
Adicionalmente, mesmo em um comércio
entre habitantes de países pobres e habitantes de
países ricos, ambos os lados se beneficiam,
pois voluntariamente pagam menos por produtos,
bens de capital (maquinários, computadores etc.)
e mão-de-obra altamente especializada.
Não há pontos negativos neste arranjo.
E, para quem quer um argumento
puramente utilitarista, embora seja verdade que
possam ocorrer demissões quando a concorrência
de importados aumenta, é importante levar em
conta também os aumentos nas
exportações gerados pelo livre comércio. Uma
fabricante de automóveis pode não gostar da
concorrência trazida pelos importados, mas dado
que agora os outros países do mundo irão
também comprar mais de seus carros (desde que
eles sejam bons, é claro), é manifestamente mais
lucrativo optar pelo livre comércio.
Conclusão
No final, o protecionismo é algo puramente
ideológico, pois se baseia em crenças
sentimentais e, acima de tudo, nacionalistas. Se
excluirmos o nacionalismo do arranjo, seria
muito difícil argumentar que o comércio
internacional é prejudicial e desvantajoso ao
mesmo tempo em que o comércio doméstico (por
exemplo, entre estados e até mesmo entre
cidades) é benéfico e vantajoso.
Com o protecionismo, o que nunca é visto
são os indivíduos que jamais puderam se
especializar, a renda disponível que poderia ser
mais alta, os investimentos que nunca ocorreram,
as empresas que não puderam surgir, e, acima de
tudo, as criações que "mudam vidas" que jamais
puderam ser inventadas. Você vê apenas a
tributação do trabalho e da capacidade de
especialização. E tudo supostamente para o nosso
bem.
A lógica é inatacável: uma economia é
simplesmente uma coleção de indivíduos, e cada
indivíduo está em melhor situação econômica
quando pode se especializar naquilo que faz
melhor e, em decorrência disso, pode importar,
ao menor preço possível, os bens de que
necessita.
Por isso, a melhor política sempre será a
eliminação de todas as barreiras à
importação. Mesmo que unilateralmente. E por
dois motivos simples e racionais: a abundância
sempre deve ser preferida à escassez; e a
especialização sempre deve ser preferida à baixa
qualificação.

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