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Resumo:
Este artigo tem por foco analisar a dialética da comunicação
síncrona no ciberespaço considerando a linguagem como
Maria Rosangela Bez
produto e produtora de sentido à luz de Bakhtin e Vygotsky.
Para isso, são apresentados para discussão teórica elemen-
tos como gênero, discurso e linguagem que permitem con-
Liliana Maria Passerino
textualizar o espaço de pesquisa enquanto gênero digital e
suas características nos gêneros emergentes. Uma análise
sócio-histórica e dialógica do corpus de um chat educacio- Evandro Alves
nal a respeito da linguagem construída pelos sujeitos parti-
cipantes finalizam o presente artigo. Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Linguagem. Chat. Interação social. Me-
diação.
Abstract:
This work aims to analyze the synchronous dialectic of 1 Introdução
communication in cyberspace considering the language
as product and producer of meaning from Bakhtin´s and
N
Vygotsky´s focus. For this, theoretical discussion are pre-
sented included elements like genre, speech and langua- ovos espaços de mediação surgem com
ge which contextualizes the research space as digital and
emerging genres in their characteristics. A socio-historical o advento da Internet a partir de novas
analysis and dialogue of the body of an educational chat tecnologias da informação e comunica-
about the language constructed by the subjects participa-
ting finalizing this work. ção, que culminam na comunicação eletrônica
Keywords: Language. Chat. Social interaction. Mediation.
(escrita via chats, fóruns). Estes espaços são,
ao mesmo tempo, semióticos e sociais, na me-
dida em que permitem a produção de sentidos
e a subjetivação a partir da interação social.
Estes espaços afetam a mediação pela lingua-
gem oral/escrita, pois a ela incorpora novos
signos semióticos e trocas entre os sujeitos,
adaptando a linguagem a estes espaços. A co-
municação eletrônica pode ser percebida prin-
cipalmente entre os jovens nascidos no final
do século XX, pois para estes a interação me-
diada pelo computador já se tornou corriquei-
ra. Mas como a escrita eletrônica pode afetar
a circulação na/mediação pela linguagem em
um espaço acadêmico? Mais precisamente,
em uma disciplina de Pós-Graduação que se
vale dessas ferramentas de comunicação no
entorno de um ambiente virtual de aprendiza-
gem em seu componente a distância?
BEZ, Maria Rosangela; PASSERINO, Liliana Maria; ALVES,
Evandro. A dialética da comunicação síncrona no ciberespaço Este estudo colocará em enfoque a lingua-
na produção de sentido. Informática na Educação: teoria &
prática, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 91-100, jan./jun. 2010.
gem nesta circunstância específica. Tem as
perspectivas de Bakhtin e de Vygotsky como
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arcabouços teóricos principais que permitem típicas da vida cultural e não meramente cate-
analisar as interações em espaços digitais. gorias taxonômicas. Isso porque, basicamen-
Como estudo de caso foi escolhido o corpus de te, todo gênero possui duas funções: a de ser,
um chat, demonstrando-se como através da simultaneamente, um instrumento comuni-
linguagem digital as trocas intencionais e me- cativo e uma forma de ação social. Portan-
diadas tem ocorrido e como este novo gênero to, a análise de um gênero precisa realizar um
de discursivo vem se constituindo e alterando movimento dialético que considere tanto as
as relações entre os sujeitos. intenções comunicativas como as formas de
Para atingir este objetivo, o presente ar- ação e produção dos participantes.
tigo se organiza da seguinte maneira: inicia- Dentro dessa perspectiva de análise, a
se com uma discussão teórica sobre gêneros, CMC pode ser entendida como engendradora
discurso e linguagem a partir das concepções de novas formas de mediação comunicativa, a
inter-relacionadas de Bakhtin e Vygotsky; produzir novas atividades humanas, forman-
posteriormente, se apresenta o estudo de do novas comunidades discursivas; e, conse-
caso para finalizar com a análise e resultados qüentemente, novas estruturas enunciativas
encontrados. Pesquisas futuras e possíveis que merecem ser consideradas e investiga-
desdobramentos são assinalados nas conside- das como fruto do desenvolvimento humano.
rações finais. As mídias, no caso, meio digital, alteram as
formas de comunicação do homem no curso
de sua história, transformando, incorporando
2 Gênero e linguagem e refletindo as necessidades sociais da época
atual. Elas modificam as formas de produção e
recepção de textos e os meios de organização
Para que se possa realizar uma análise dos de suas mensagens.
impactos da digitalização (linguagem empre- Em particular, a comunicação eletrônica
gada) nas interações humana a noção bakhti- via Internet pode ser vista como protótipo
niana de gêneros do discurso é indispensável. de novas formas de comportamento co-
Bakhtin (2003) define os gêneros discur- municativo. Conhecer essas formas a partir
sivos a partir do uso concreto da linguagem de suas características genérico-discursivas é
nas diferentes esferas de atividade humana. uma das maneiras de recuperar a função so-
Para o autor, tais gêneros estabilizam algumas cial de todo signo: a de mediar as relações
formas enunciativas que passam a ser consi- humanas em toda a sua complexidade.
deradas características de uma determinada Todo gênero discursivo é situado histórico,
comunidade, ao mesmo tempo em que orien- social e culturalmente, por serem produtos de
tam a produção de novos textos, que passam relações complexas entre um meio, um uso e
ser reconhecidos como a essa comunidade a linguagem. Dito de outra forma, um gênero
pertencentes. A noção de gêneros discursi- é um artefato cultural que permite desen-
vos, atuando como mecanismo de regulação volver ações (que envolvem o contexto social)
parcial das produções em linguagem, permite em situações específicas (que envolvem o cul-
que se faça uma caracterização adequada das tural e o histórico), que se definem por obje-
formas e usos da linguagem para cada texto tivos comunicativos, audiência, regularidades
produzido em determinado contexto social. formais e conteúdos.
Para Marcuschi (2005), gênero é um ele- Desta forma, um gênero é um elemento
mento importante da cultura comunicativa de dinâmico e dinamizador do ato comunicativo,
uma sociedade e as TICs têm propiciado o sur- pois estrutura a comunicação criando expec-
gimento de uma grande variedade de novos tativas partilhadas acerca da forma e do con-
gêneros (Blogs, Fóruns, Chat, entre outros). teúdo da interação (MARCUSCHI, 2005).
Graças à comunicação mediada por compu- Um gênero como artefato cultural contém
tador (CMC), novas formas de interação vêm (ERICJSON, 2000):
sendo adotadas, estabelecendo diferenças ou-
tras entre linguagem falada e a escrita do que • Propósito comunicativo;
aquelas conhecidas até o momento. Destaca- • Natureza da comunidade discursiva;
se que os gêneros discursivos, em Bakhtin, • Regularidades de forma e conteúdo, ex-
assumem formas sociais de organização pectativas subjacentes e convenções;
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Propriedades das situações em que o gêne- é mediação social é o meio principal de media-
ro é utilizado, incluindo forças institucionais, ção da atividade cognitiva” (FRANCHI, 1977
sociais e tecnológicas que dão origem às re- apud MORATO, 1995, p. 92).
gularidades do discurso. Para Bakhtin, a análise da linguagem enfa-
É importante destacar que as distinções tiza as conexões entre o que se enuncia (atra-
entre um gênero e outro não são predomi- vés da oralidade ou da escrita) e as condições
nantemente lingüísticas, mas sim funcionais; de sua enunciação. Afirma, assim a natureza
é justamente esta diferenciação funcional que social da linguagem e seu potencial de media-
nos interessa focar no presente estudo. ção sígnica entre os sujeitos. Bakhtin (1997, p.
14) relata que “a fala está ligada às condições
de comunicação, que, por sua vez, estão liga-
3 A linguagem analisada à luz de das às estruturas sociais”. Dessa forma, para
Bakhtin e Vygotsky se analisar um fenômeno da linguagem, este
jamais pode ser separado de seu conteúdo
ideológico ou vivencial, pois essa separação
O papel da linguagem na construção do in- acarreta monólogos mortos e descontextua-
divíduo, segundo Bakhtin e Vygotsky, é fun- lizados, isto é, ocasiona uma enunciação mo-
damentado na palavra, já que é através dela nológica..
que ocorre a interação social. A linguagem é o Na teoria bakhtiniana, a palavra ocupa um
meio pelo qual o indivíduo percebe o sentido lugar de destaque. Exercendo a função de sig-
das coisas, assim como é através dela que o no, que segundo Bakhtin:
homem se constrói como sujeito. O individuo,
através da linguagem, organiza sua vida men- Os signos só podem aparecer em um terreno in-
terindividual. Ainda assim, trata-se de um ter-
tal e, neste processo, estabelece a constitui-
reno que não pode ser chamado de ‘natural’ no
ção de sua consciência. sentido usual da palavra: não basta colocar face
A condição de mediação da tomada de cons- a face dois homo sapiens quaisquer para que os
ciência e organização do pensamento através signos se constituam. É fundamental que esses
dois indivíduos estejam socialmente organizados,
do ato comunicativo, pela troca com as palavras que formem um grupo (uma unidade social): só
e idéias, aponta à importância das interações e assim um sistema de signos pode constituir-se.
ao papel do outro no processo de significação. (BAKHTIN, 1997, p. 35)
Pois: “Se o mundo se nos apresenta simbolica-
mente não há possibilidade de conteúdos cog- Bakhtin aponta que a palavra, além de ser
nitivos integrais ou domínios do pensamento parcialmente determinada pelo contexto, valor
fora da linguagem, nem possibilidade integrais ideológico, ela opera como símbolo mediador
da linguagem fora dos processos interativos da constituição de espaços. No caso especifico
humanos” (MORATO, 1996, p. 18). deste estudo, que versa sobre ambiente virtual
Bakhtin e Vygotsky procuram compreender de aprendizagem e, mais precisamente, na uti-
a realidade humana através da análise da lin- lização da ferramenta chat no Ensino Superior,
guagem na relação do sujeito consigo mesmo, a linguagem atua neste sentido ao constituir,
na relação com outros sujeitos, e com a socie- neste contexto, um espaço compartilhado em
dade. Através da linguagem, constroem-se o que, através das trocas comunicacionais, es-
pensamento e os próprios sujeitos; é por meio tabelecem-se, ao mesmo tempo, condições de
dela que o ser humano constrói sua realida- enunciação e potenciais de interação entre os
de, seu universo, situando-se e sendo situado integrantes da disciplina, alunos e professor.
sócio-historicamente. Contudo, tais condições de enunciação e
Desta forma, a linguagem é construção do potenciais de interação não se estabelecem a
pensamento; e a linguagem, antes de ser veí- priori. Para Bakhtin (2003), o jogo das signifi-
culo de sentimentos, idéias, emoções, aspira- cações, possui uma abertura às novas enun-
ções, é um processo criador em que organiza- ciações que, inclusive, podem afetar dinâmi-
mos as nossas experiências (FRANCHI, 1977 ca deste jogo, posto que as enunciações não
apud MORATO, 1995). Porém, a linguagem são apartadas do contexto; pelo contrário, as
não apenas organiza e estrutura experiências enunciações, ainda que de uma natureza dis-
como também é organizada e estruturada por tinta da do contexto físico, acabam atuando
essas, uma vez que a “mesma linguagem que na configuração deste contexto. Por isso, a
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com outros) e vai sendo internalizadas para des acadêmicas. Buscamos, com esta análise,
se tornar individual. Como Marx e Engels, delinear formas que a enunciações assumem
Vygotsky acredita que o homem não é apenas na interação com o outro, alunos e professor,
produto de seu meio, ele é também um sujeito presumido nestas circunstâncias.
ativo no movimento que cria esse meio.
A linguagem é o meio através do qual se
generaliza e se transmite o conhecimento. As- 4 Gêneros emergentes
sim, a apropriação dos conteúdos veiculados
pela linguagem se dá sempre num contexto
social e historicamente determinado. Antes de iniciarmos o estudo de caso va-
Em uma aproximação as abordagens teóri- mos contextualizar o nosso espaço de pesqui-
cas de Bakhtin e Vygotsky, pode-se perceber sa enquanto gênero digital e as características
a linguagem como mediadora do processo so- apresentadas pelo mesmo.
cial e de aprendizagem. Assim a linguagem, Primeiramente, destacamos que os gêne-
em sua pragmática, pode ser considerada ros digitais ou também denominados de gêne-
como uma forma de ação, na qual os agentes ros emergentes no ciberespaço são transmu-
definem e configuram posições respectiva- tações de outros gêneros prévios que utilizam
mente. Um sujeito, ao enunciar, presume um programas desenhados e projetados sobre
ritual social da linguagem que pode ser implí- gêneros existentes (MARCUSCHI; XAVIER,
cito ou não, mas que sempre é compartilhado 2005). Outro ponto de destaque é distinguir
entre os agentes (caso contrário, há falhas ou o gênero do programa que o suporta. Por
quebras na interação). exemplo, o gênero de comunicação através
As condições de produção e de re-significa- e-mail não se confunde com o programa de
ção do discurso são elementos essenciais de e-mail. Isto porque o projetista do programa
serem pensados em tempos de cibercultura. pode controlar a ferramenta que desenvolveu,
Ambas as condições encontram-se apoiadas porém não seus usos. Assim, a existência de
no contexto social, e se vêem, muitas vezes, uma nova ferramenta de comunicação não é
misturadas e imbricadas. Porém, ressaltamos condição suficiente para uma forma inovado-
que as condições de enunciação nem são ele- ra de comunicação; novos gêneros emergem
mentos neutros, nem determinantes causais em função das interações entre usuários e as
ao enunciado, pois, como, afirma Bakhtin ferramentas disponíveis na sociedade. Porém,
(apud MAINGUENNEAU, 1997, p. 53) “a situa- existem elementos de regularidade presentes
ção extra-verbal nunca é apenas a causa ex- mesmo em gêneros emergentes no ciberes-
terior do enunciado, (visto que) ela não age do paço. São eles:
exterior como uma força mecânica”.
A dialética da linguagem, que oscila entre • Todo gênero reflete estruturas de au-
forma de comunicação e instrumento semió- toridade e relações de poder;
tico de significação, de um lado, e formadora • Todo gênero, por ser embasado na lin-
da consciência, de outro, apresenta uma im- guagem, mantêm uma dupla funciona-
portância fundamental no estudo da inten- lidade de comunicação e ação;
cionalidade no qual “[...] não é o conteúdo da • Todo gênero apresenta formas sociais
linguagem que é crucial, e sim o processo de de organização típicas da vida cultural
se envolver dialogicamente com outra mente.” no ciberespaço;
(TOMASELLO, 2003, p. 252) • Todos os elementos pertencentes a um
Considerando a linguagem como fenômeno gênero são histórico, social e cultural-
a mediar relações sociais, de aprendizagem, mente situados.
de construção de sentido e de subjetivação,
encaminhamo-nos à análise do gênero discur- O que muda, então, nos gêneros emergen-
sivo emergente, proveniente da comunicação tes? O que é mutável é justamente a centra-
verbal através de ferramentas de chats na In- lidade na escrita, pois mesmo com a Web 2.0
ternet. Analisaremos, neste caso, as circuns- ainda os gêneros no ciberespaço perpassam
tâncias específicas de uma disciplina no Ensino muito pelo universo da linguagem escrita.
Superior, nível de Pós-Graduação, que se va- Porém essa escrita assume propriedades da
leu desta funcionalidade durante suas ativida- fala e vice-versa, sendo isto uma outra pro-
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dual, a matéria de seu desenvolvimento, e ela fundamentais de sua teoria na perspectiva deste
reflete sua lógica e suas leis. A lógica da cons- circuito graças ao qual a linguagem é focalizada
ciência é a lógica da comunicação ideológi- em sua função primordial: a função comunica-
ca, da interação semiótica de um grupo social. tiva. Aliás, esta é, igualmente, a premissa ele-
(BAKHTIN, 1977, p. 35-36) mentar do pensamento de Roman Jakobson, que
teorizou sobre as diversas funções da linguagem
em estudo já consagrado. Do ponto de vista da
Para Othero (2002), no discurso on-line, o função comunicativa, tanto o discurso interior
uso da língua é empregada através de novas quanto o discurso egocêntrico da criança estão
expressões, neologismos semânticos, emoti- longe de serem confundidos com estados psíqui-
cos. Fora do contato, nem os discursos nem o
cons e alterações ortográficas. Para ele nas próprio pensamento acontecem. O conceito de
conversas on-line pode-se encontrar um rit- mediação pela linguagem, tal como foi opera-
mo solto e veloz, despreocupado e coloquial; do nas formulações de Bakhtin e de Vygotsky,
acaba esclarecendo o que se pode entender por
frases curtas e expressivas; palavras abrevia-
auto-comunicação sem correr o risco de inco-
das ou modificadas, que visam à rapidez; pre- erência. Que dizer, a auto-comunicação jamais
dominância de uso de letras minúsculas; uso pode ser confundida como uma ação fechada em
si mesma, o que seria um contra-senso. A auto-
de letras maiúsculas para dar idéia de grito
comunicação ativa a retroalimentação do siste-
ou ênfase; uso de recursos gráficos para dar ma e, portanto, reporta-se ao discurso dentro
ênfase (pontos de exclamação, por exemplo); do discurso. Na verdade, existe uma orientação
não emprego dos acentos. Othero (2002) afir- cultural que vai do texto ao texto e esta é, igual-
mente, uma ação dialógica ou mediada. Há mui-
ma que tais alterações acontecem como for- tas implicações na trajetória dessas idéias que
ma de adaptação da língua para melhor servir merecem reflexões mais acuradas do que essas
aos usuários no momento, calor da ação. breves incursões. (MACHADO, 2006, p. 4-5)
Na resposta a pergunta O conceito de me-
diação permitiria uma aproximação entre as te- Souza (2001) contribui com a discussão ao
orias elaboradas por Bakhtin e Vygotsky?, Irene expressar que o discurso eletrônico represen-
Machado responde de forma significativa a vi- ta um tipo de comunicação escrita. O discurso
são dos dois autores a respeito da mediação: eletrônico pode assumir formas que se asse-
melham com o discurso falado, sendo uma
A aproximação entre as formulações de Bakhtin modalidade que usa a linguagem, e freqüen-
e de Vygotsky acontece no objeto comum a am-
temente escapa a um enquadramento susten-
bas reflexões: a palavra em sua constituição se-
miótica, a palavra como signo. Ainda que os en- tando a escrita e a oralidade.
caminhamentos sejam diferenciados, os estudos Pode-se concluir que tanto Bakhtin quan-
sobre a linguagem orientam-se pela interação to Vygotsky afirmam que as relações entre os
social. Graças à dinâmica da ‘significação’, tanto
os conceitos são elaborados pelo pensamento e sujeitos somente existem na concretude da
transformados em linguagem (Vygotsky), quan- mediação semiótica constituída nas relações
to o diálogo avança para a construção de res- sociais. E que as relações sociais, consciên-
postas (Bakhtin). Porque depende de interação,
a linguagem é mediação por excelência. Nesse
cia (faculdades mentais superiores, na visão
caso, a palavra não é um dispositivo físico, fisio- vygotskyana) e semiose estão intimamente
lógico ou psíquico, mas uma mediação cultural interligadas, na medida em que as relações
sem a qual a interação não acontece. Ainda que
sociais geram a consciência e vice-versa, via
se reconheça a convencionalidade do significado,
não se credita a ela a construção do significa- mediações semióticas. Pode-se também dizer
do. Trata-se, pois, de uma distinção qualitativa. que as faculdades mentais superiores que cul-
Penso que ‘mediação’ é um daqueles termos que minam na formação da consciência são uma
passou a conceitualizar manifestações sem que
se tivesse clareza de acepção conceitual. Em construção social constituída a partir das inte-
vez de esclarecimento sobre as várias possibi- rações semio-discursivas.
lidades de emprego, a polissemia acabou reve- Ainda se pode analisar, na Figura 2, a po-
lando a vagueza do próprio termo, fragilizando
o conceito. Por isso, acho importante dizer que
sição de Bakhtin sobre a coexistência de di-
estou falando de mediação no sentido semióti- versos discursos inclusos num mesmo diálo-
co de interação complementar, própria a todo go, tornados visíveis através dos registros do
signo. Nesta acepção, a polissemia e a vagueza
chat. Ainda que abordando o mesmo assunto,
cedem lugar à precisão. A linguagem é conside-
rada mediação uma vez que é um evento cultu- observa-se a intercalação do dialógo entre-
ral das interações organizadas pela palavra cuja tido entre Nai, Gam, Mis e Ait, em torno de
ação constrói discursos igualmente interativos. um assunto; e de Mac, Luj em torno de ou-
Existe, pois, um circuito a circunscrever o con-
ceito. Bakhtin e Vygotsky formulam os conceitos tro questionamento, o que demonstra as dis-
cussões paralelas e cadeias dialógicas sendo
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