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LETRAMENTOS TRANSMÍDIA: UM CONCEITO E UMA

METODOLOGIA
Naiá Sadi Câmara
“Los conceptos, em el mundo acadèmico, deben trabajarse com calma y, como
um buen vino, necesitan um tiempo de añejamiento para poder extraerles todo su
sabor”. (Scolari, 2013)

Este artigo objetiva apresentar uma revisão do termo transmídia, associando-o


ao conceito de letramentos transmídia, concebido no contexto das mudanças culturais e
estruturais pelas quais passam as tecnologias de linguagens.
Transmídia é considerado um conceito inaugural de uma nova visão sobre o
processo comunicativo contemporâneo, e se tornou polissêmico tendo em vista as
muitas definições de diferentes áreas e pesquisadores, como nos mostra Jenkins (20161,
p.2)
A palavra transmídia tornou-se tão moderna em certos setores da
indústria que provocou um impulso amplamente documentado entre
aqueles que alegavam que o termo “transmídia” tinha substituído as
palavras “interativo”, “digital” ou “multimídia”, como termos que
simplesmente descrevem os aspectos descontraídos de uma nova
produção”

Segundo o pesquisador (2009, 2013, 2014, 2016), estamos inseridos em um


universo cultural convergente, cujas práticas letradas, impulsionadas pelos avanços
tecnológicos, são produzidas e veiculadas por uma lógica trasmídia determinada pelos
locais de produção “O foco nas locações transmídia começa da premissa de que as
diferentes formas de transmídia estão aptas para emergir de diferentes contextos sociais,
culturais e industriais, por parte de diferentes prioridades que são dadas ao conceito de
transmídia por formas de explorar a criatividade entre trabalhadores e financiadores”.
(JENKINS, 2016, p.6)
Além disso, o autor entende que, na lógica transmídia, dois aspectos relacionam-
se: “Os objetivos que a produção transmídia tenta atingir e as suposições feitas a partir
das relações desejadas entre os consumidores, produtores e textos”. (Idem, p.6).
A convergência, concebida por Jenkins (2009) como um processo centrípeto de
concentração e difusão, nas produções transmídia, ocorre primeiro por um processo de
hibridização entre atores, empresas, tecnologias, linguagens, formatos, gêneros, e depois

1
Tradução livre
por práticas de transmidiações por redes2 de conexões midiáticas por multiplataformas.
Essas produções, cada vez mais complexas, híbridas e aceleradas, são realizadas
e modificadas continuadamente por franquiais, empresas, conglomerados e pela
participação/interferência do enunciatário-leitor- consumidor, que, no universo da
cultura participativa3, interage não apenas como pressuposto da enunciação
(BERTRAND,2003) ou como co-autor dialogicamente estabelecido (BAKTHIN,
1992), mas como um “interator” que assume, de forma bastante marcada e manifestada,
o papel de co-autoria, sujeito de voz e do fazer enunciativo, que se caracteriza, como
mostram MASSAROLO, et. all (2015) pelo individualismo em rede.
Dessa forma, os sujeitos não são mais concebidos como simples receptores
“passivos” de mensagens pré-construídas, uma vez que interferem, moldam,
compartilham, espalham, ressignificam, remixam conteúdos e formas por redes de
agrupamentos sociais e por plataformas transmidiáticas, marcadas, como nos mostra
Latour “pela mobilidade dos atores e pelo fluxo de informações, como redes, com seus
“fluxos, circulações, alianças, movimentos”. (LATOUR, 2012).
Para Santaella (2010, 2013), os espaços digitais multidimensionais e
multifacetados, a hipermobilidade das redes sem fio e o acesso livre aos conteúdos
possibilitam práticas comunicativas ubíquas e pervasivas que criam “espaços fluídos,
múltiplos não apenas no interior das redes, como também nos deslocamentos espaço-
temporais efetuados pelos indivíduos” (SANTAELLA, 2010, p.2).
Na concepção da autora, essa nova forma de relação espaço-temporal provoca
profundas mudanças neurológicas e sensórias nos sujeitos: “Mais do que isso,
tecnologias de linguagens produzem mudanças neurológicas e sensoriais que afetam
significativamente nossas percepções e ações”. (SANTAELLA, 2010, p.1).
Se, como aponta a semioticista, o aparecimento de uma nova tecnologia de
linguagem não substitui a sua anterior, pois o que ocorre é a alteração das “funções sociais
realizadas pelas tecnologias precedentes” ( SANTAELLA, 2010, p.2), uma questão que se

2
“A palavra rede indica que os recursos estão concentrados em poucos locais – os nós e os pontos – os
quais estão conectados a outros – os vínculos e a rede: essas conexões transformam recursos dispersos em
uma rede que parece estender-se a todos os lugares”. (Latour, 2012, p.180)
3
“ Uma cultura participativa é uma cultura com barreiras relativamente baixas para a expressão artística e
o envolvimento cívico e um forte apoio à criação e compartilhamento de criações com algum tipo de
orientação mental informal que participantes mais experientes passam conhecimento para novatos. Em
uma cultura participativa, os membros também acreditam que suas contribuições importam e sentem
algum grau de conexão social entre eles (pelo menos, os membros se preocupam com as opiniões dos
outros sobre o que criaram)”.
apresenta no universo da convergência cultural e midiática é sobre que tipo de
competências e habilidades letradas os sujeitos precisam possuir para interagirem nesse
universo que, como identifica Santaella, estabelece-se por meio da convergência de cinco
tecnologias de linguagens4? Que competências comunicativas de leitura e produção de textos
os sujeitos contemporâneos devem dominar para realizar práticas letradas transmídia?
Grande parte das pesquisas que busca responder a essas questões acerca dos
letramentos contemporâneos dedica-se a compreendê-los do ponto de vista da sua relação
com as mídias, ora associando-os às práticas comunicativas realizadas pelos jovens nas redes
sociais nas quais circulam, tais como nas comunidades de fãs (JENKINS, SCOLARI); ora
associando-os às características que configuram a competência letrada digital, perspectiva
que relaciona a competência letrada à promoção da cidadania contemporânea e à
necessidade de as escolas adotarem práticas educativas que competencializem os sujeitos a
se comunicarem no universo das novas mídias. (ROJO, 2009/2012), (BUZATO, 2012),
(DA MOITA LOPES, 2016).
Sem dúvida que é imprescindível aos sujeitos tornarem-se competentes digitalmente
a fim de poderem circular e interagir nesses espaços, sobretudo tendo em vista que a
migração das práticas sociais para o universo digital tem ocorrido de forma muito acelerada,
estabelecendo uma vida (trans)mídiática. (DEUZE, 2010); MARLET E MASSAROLO,
2015).
Se considerarmos, no entanto, com Jenkins (2016, p.3), que o conceito
“transmídia” nos diz pouco sobre a mídia envolvida, já que não implica necessariamente
mídia digital, não significa necessariamente interatividade ou participação, não é
necessariamente storytelling; podemos afirmar que os letramentos transmídia não se
caracterizam somente como uma prática midiática digital, pois como também afirma
Scolari:
Pela perspectiva dos consumidores, as práticas transmídia promovem
a multi-alfabetização, ou seja, a capacidade de interpretar de maneira
integral os discursos procedentes de diferentes meios e linguagens
(Dinehart, 2008). Para compreender um mundo transmídia, o
leitor/expectador/usuário deve juntar as peças textuais espalhadas em
diferentes meios e plataformas, como se fosse um quebra-cabeças.

Desse modo, concebemos os letramentos transmídia como um conceito-chave

4
As tecnologias da reprodução (jornal, foto, cinema); da difusão (rádio, TV); do disponível (redes de TV
a cabo, videocassete, etc); do acesso ( computadores); da conexão contínua (redes móveis- ubiquidade) (
SANTAELLA, 2010).
integrador dos multiletramentos5 (ROJO, 2009; 2012) que as diferentes práticas sociais
de linguagens contemporâneas exigem, como uma competência e uma prática
comunicativa de produção, interpretação, circulação de textos de diferentes gêneros,
formatos e linguagens veiculados em trans- mídias.
Dessa perspectiva, partimos do pressuposto que, mais do que uma competência
comunicativa de leitura e produção de textos, os letramentos transmídia
contemporâneos exigem um sujeito complexo com competências e habilidades de
traduções, curadoria, gestão de conteúdos, sujeitos capazes de selecionar fontes de
informações, transformar informações em conhecimentos, analisar dados, monitorar
redes, produzir, compartilhar, armazenar e, principalmente gerar conhecimento.
Diante das dificuldades comunicativas de leitura e de produção de textos dos
nossos alunos em processos de formação profissional inicial e continuada6, realidade
corroborada pelos baixos índices dos exames oficiais de avaliação do desempenho dos
estudantes brasileiros7, temos realizado estudos sobre os letramentos produzidos nas
esferas comunicativas do entretenimento e da educação (CÂMARA,2003, 2013, 2014,
2015), a fim de propormos a prática de letramentos transmídia como uma metodologia
de ensino e aprendizagem que interfira nas práticas de formação básica e profissional
de modo a contribuir para melhorar as competências letradas dos sujeitos alunos e
consequentemente melhorar sua formação profissional.
Em nossos projetos, adotamos como perspectiva de análise investigar esses
letramentos considerados do ponto de vista do conceito de tradução transmídia e dos
regimes de interação, engajamento e crenças estabelecidos nas práticas comunicativas
transmídia que se configuram com novas estéticas, novas éticas, novos gêneros, novos
regimes de interação e, portanto, novos letramentos.
Neste artigo, apresentamos as bases teóricas e as reflexões iniciais que sustentam
nossas propostas.

5
Segundo Rojo (2012, p.15), o conceito de multiletramentos “aponta para dois tipos específicos e
importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente urbanas, na
contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituição
dos textos por meio dos quais se informa e se comunica”.
6
Graduação e pós-graduação lato e stricto senso.
7
O relatório do Fórum econômico mundial, realizado entre 20 e 23 de junho/2016, em Davos, revelou
que a baixa qualidade da educação básica no país “joga o Brasil no grupo dos 'lanternas' em ranking de capital
humano”.7 Segundo esse relatório, 35% do capital humano do país continua subdesenvolvido, principalmente na
faixa etária entre 0 a 14 anos, dados que colocam o Brasil em 100º lugar entre 130 países avaliados. O Programa
Internacional de Avaliação do Aluno (PISA), publicado em 2013, revelou que o Brasil ficou em 58º lugar no
desempenho dos estudantes nas três áreas de conhecimento avaliadas (matemática, leitura e ciências).
1. O contexto transmídia

De acordo com Jenkins, em entrevista concedida para Scolari (2013, p.10),


transmídia é um adjetivo que define “a cultura produzida para a geração que cresceu
jogando e assistindo (à) ao (Pokémon, Star Wars, He-Man e Master of Universe)”.
“Transmídia é um adjetivo, não um nome: transmídia precisa modificar alguma coisa,
implica relações sistemáticas entre múltiplas plataformas de mídias e de práticas.”
(JENKINS, 2016, p.1).
Indagado por Scolari (2013) sobre os diferentes campos nos quais o conceito de
transmídia pode ser aplicado, tais como a ficção, o jornalismo e a educação, Jenkins
explica que se trata de uma lógica transmídia que compreende, com base em seu
significado básico “histórias (narrativas transmídia) através dos meios”, outras
significações, como atuação transmídia, branding transmídia, educação transmídia,
mobilização transmídia, ritual transmída, espetáculo transmída, jogo transmídia, gestão
de conhecimento transmídia.
As narrativas transmídia, para Jenkins (2009, p.384), desenrolam-se por meio de
diferentes sistemas de significação e por múltiplas plataformas de mídias, com cada
novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de
narrativa transmídia, cada meio constrói o que faz de melhor, a fim de que uma história
possa, por exemplo, ser introduzida num filme e expandida para uma websérie, um
livro, uma HQ, um game e ou até mesmo para uma atração de um parque de diversões.
Essas expansões narrativas são consideradas transmídia na medida em que
apresentem um conteúdo adicional à narrativa matriz, conteúdo que objetiva promover
no enunciatário-leitor um querer-fazer-interagir (assistir, jogar, ler, entre outros) com
cada nova expansão e, assim, estabelecer o contrato fiduciário, o engajamento e a
adesão àquele universo narrativo. Além disso, por se manifestarem em diferentes
gêneros e linguagens, sempre se submetendo às coerções das mídias e plataformas em
que serão veiculadas, essas expansões atraem enunciatários leitores de diferentes esferas
comunicativas e diferentes formas de vida8.
Jenkins afirma que a variedade das mídias na prática transmídia seria o que

8
Para Greimas (1993), formas de vida é a maneira de os indivíduos sentirem o mundo e expressarem sua
concepção de existência por meio das maneiras de fazer e ser, de consumir e organizar o seu espaço.
menos importa. Para o pesquisador, o essencial que caracteriza essa prática é o que ele
denomina de “intertextualidade radical”, isto é, quando as diferentes partes de um
universo estão conectadas por meio da multimodalidade e da cultura em rede9.
Em nossas pesquisas (CÂMARA, 2013, 2014, 2015), pudemos identificar dois
tipos de produções transmídia: as que se organizam predominantemente com base na
rotina e as que se configuram predominantemente com base no acontecimento10.
As narrativas organizadas pela rotina são aquelas cujas estratégias enunciativas
estruturam-se pelo esperado, pela repetição de situações no campo de presença do
enunciatário, pois, como afirma Mancini, “quanto mais vezes uma situação entra em
contato com o campo perceptivo do enunciatário, mais previsível é sua relação com essa
situação, quando esta é explorada num enunciado”. (MANCINI, 2007, p.12). Essas
narrativas organizam-se, predominantemente, por ritmos e andamentos lentos, mais
desacelerados. Por outro lado, as narrativas que se estruturam pelo acontecimento, pela
surpresa, caracterizam-se por quebras e/ou mudanças de isotopias11(figurativas,
temáticas, semânticas), pelo inesperado, e são organizadas por ritmos e andamentos
mais acelerados e, como nos mostra Mittel(2012) por complexidades narrativas.
Outra característica com a qual também se configuram, cada vez mais, as
produções transmídia contemporâneas, possibilitada principalmente pelos avanços
tecnológicos (realidade aumentada, 360º, entre outras), é a ênfase em estratégias de

9
Dessas diferentes abordagens, Jenkins considera como características fundamentais de uma produção
transmídia: A)expansão/espalhabilidade (spreadability) vs profundidade (drillability): as narrativas são
expandidas por meio de práticas virais ou espalhadas pelos consumidores por redes sociais, prática que
promove o aumento do capital simbólico e econômico do universo expandido, e a profundidade é a
capacidade de penetração dentro das audiências.B) continuidade vs multiplicidade: espera-se que haja
manutenções, continuidades nas diferentes manifestações transmídia, como temática, figurativa, dos
papéis das personagens etc. A multiplicidade complementaria a continuidade uma vez que apresenta
situações narrativas distintas. C) imersão vs extração: ao mesmo tempo em que desde os filmes até os
videogames proporcionam experiências de imersão, também permitem extrair elementos do universo
ficcional para o mundo cotidiano. D) construção de mundos: as narrativas transmídia estabelecem
contratos e veridição por meio de marcas que se repetem nas expansões, como o fato de Sherlock Holmes
tocar violino. E) serialização: a serialização não é linear, ocorre por meio de redes hipertextuais. F)
subjetividades múltiplas: produtos de uma arquienunciação 9, as narrativas transmidia configuram-se com
uma forte tendência à polifonia, promovida pela grande quantidade de personagens e de tramas. G)
performances dos fãs: a ação dos consumidores é essencial.
10
Rotina e acontecimento constituem os dois regimes de sentido propostos por Zilberberg (2007, 2011),
“dois estilos enunciativos elementares à produção e à assimilação do sentido”. A rotina tem natureza
implicativa e a significação aparece de forma progressiva e da ordem do esperado, do conforto do já
conhecido; enquanto o acontecimento é de natureza concessiva e a significação é da ordem da surpresa,
do impacto. “o sucesso do pervir tranquiliza o sujeito pela convicção e previsão, enquanto a irrupção do
sobrevir lhe faz lembrar que uma “inquietante estranheza pode se manifestar, como um avesso que se
pusesse à mostra”. (ZILBERBERG, 2011, p.243)
11
Isotopia: S.f. “ [...] a recorrência de categorias sêmicas, quer sejam temáticas ( ou abstratas) ou
figurativas.
engajamento estabelecidas nas dimensões estéticas e estésicas dos textos, ou seja,
estratégias que destacam o sensível ao inteligível nos regimes de apreensão e que se
manifestam tanto no plano de conteúdo quanto no plano de expressão das produções
transmídia, e que são responsáveis, sobretudo, pela imersão do enunciatário-leitor ao
texto.
Dessa forma, do ponto de vista da percepção e interação, essas estratégias
enunciativas configuram-se com graus de compactação típicos dos gêneros artísticos
canônicos12, nos quais a função poética13 predomina: efeitos de sentidos maximizados,
mais fortes, mais concentrados, na ordem da ruptura e do impactante, contrapondo-se
aos graus de presença mais fracos, minimizados, em princípio, característicos do gênero
midiático estereotipado de massa.

1. 2 A PRÁTICA TRANSMÍDIA
Conforme Jenkins (2016, p.4), transmídia também “implica tipos de estruturas
ou relações sistemáticas entre múltiplas plataformas de mídias e de práticas, e
atualmente sua definição ultrapassa muito além do escopo” da sua definição original de
transmídia storytellig.
Sob esse aspecto, trataremos, e nossas pesquisas, a prática transmídia como
uma prática comunicativa participativa (GREIMAS & COURTÉS, 2011, p.82)14, como
um processo geral (amplo) que acionará o discurso e o conduzirá a fim de defini-lo
enquanto uma “sequência de comportamentos somáticos”. Assim, essa prática será
presidida por estruturas contratuais e estruturas polêmicas, que se estabelecem a partir
de uma situação semiótica, compreendida como uma configuração heterogênea que
organiza os diferentes elementos (signos, objetos-suportes, etc) para a produção e
interpretação das práticas comunicativas.
Na concepção de Jenkins (2016), a prática comunicativa transmídia, à medida
que se torna cada vez mais popular e nutrida pelas frações das indústrias criativas
globais, tem o potencial de contribuir para o intercâmbio e para as traduções entre

12
Compreenderemos canonicidade como os clássicos: literatura, cinema, teatro, artes plásticas, entre
outros.
13
Ver JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. Editora Cultrix, 2008.
14
Prática comunicativa: contrariamente ao que ocorre por ocasião da comunicação ordinária, em que a
atribuição de um objeto-valor é concomitante a uma renúncia, os discursos etno-literários, filosóficos,
jurídicos ( c.F. o direito constitucional) ostentam estruturas de comunicação em que o destinador
transcendente ( absoluto, soberano, original, último etc.) proporciona valores tanto modais (o poder, por
exemplo) quanto descritivos (os bens materiais), sem a eles renunciar verdadeiramente, sem que, por isso,
seu ser venha a sofrer diminuição. (GREIMAS e COURTÉS, 2011, p. 82)
diferentes meios, a fim de efetuar novos tipos de dinâmicas culturais e facilitar o
surgimento de representações socialmente pertinentes e heterogêneas culturalmente, “e
como tal, promover a evolução viável das sociedades”. (IBRUS, OJAMAA, 2014, p.
2289-90; apud JENKINS, 2016 p.21)
Concebida no universo da cultura participativa, a prática comunicativa
transmídia ganha contornos fluídos, móveis, complexos e híbridos, que vão sendo
tecidos por um trânsito contínuo de formas e conteúdos em redes de conexões
discursivas móveis, abertas e polifônicas.
Produtos de arquienunciações, essas práticas recebem, pela interação com outras
práticas, signos, textos, objetos-suportes e formas de vida15, uma forma de função
predicativa (cena predicativa) e um sentido. Comportam diferentes processos, “[...], atos
de enunciação que implicam papéis actanciais, desempenhados, entre outros, pelo
próprio texto ou pela imagem, por seu suporte, por elementos do seu ambiente, pelo
transeunte, usuário ou observador, tudo o que forma a cena típica de uma prática”.
(FONTANILLE, 2005, p.26).
Como práticas comunicativas, sua eficiência resulta de uma dimensão
interpretativa e da integração de estratégias que determinam a organização aspectual e
rítmica, e os tipos de agenciamentos sintagmáticos que ocorrem de acordo com as
isotopias modais (poder, saber, querer e dever) e passionais dominantes. Essas
estratégias são responsáveis por gerenciar as conjunturas e intersecções entre as práticas
transmídia: “seus encadeamentos canônicos ou idiossincráticos, as sobreposições e
ajustamentos em tempo real, e as concorrências e alianças estratégicas concomitantes ou
paralelas”. (FONTANILE, 2008, p.22).
Nessa perspectiva, as práticas comunicativas transmídia submetem-se às
coerções de práticas concorrentes, a uma programação externa cuja valência extensiva é
determinada pelo tamanho do segmento e do objeto-suporte (complexidade, duração,
etc, por exemplo 140 caracteres no Twitter), e pelo número de bifurcações e de
alternativas consideradas; e constroem-se por “ajustamentos progressivos” que
permitem a “invenção de um percurso que procura a estabilidade e sua significação no
confronto com as coerções evocadas acima”. (FONTANILLE, 2008, p.52)

15
Fontanille (2005, 2008ª, 2008b, 2012, 2014, 2016) propõe seis níveis de pertinência de análise semiótica
do plano de expressão (signo, textos, objetos, práticas, estratégias e formas de vida), que, posteriormente
(2012), são reintegrados como níveis de análise da cultura das mídias, que, regidos pelo princípio de
integração, contemplam o modo como os fenômenos culturais apresentam-se no campo de presença dos
sujeitos.
Compreendida dessa maneira, as práticas comunicativas transmídia variam entre o
impacto e a ênfase das programações e dos ajustamentos que ocorrem entre a narrativa
matriz e suas expansões16, e entre os arranjos determinados pela estabilidade e/ou
instabilidade no tempo e no espaço que regulam as variações: a) de intensidade
(liberdade, abertura vs fechamento e controle; proximidade vs distanciamento);b) a
interatividade, ou seja, a participação ativa dos enunciatários, como por exemplo nas
práticas de interações mais fechadas e controladas na mídia televisiva e mais abertas e
livres nas práticas realizadas na internet.
Essas variações entre as programações e os ajustamentos que organizam as práticas
transmídias são reguladas por processos adaptativos das estratégias que ocorrem sob
duas tensões: retrospectiva (reconhecimento do universo ficcional, do gênero, formato,
etc – início da sequência, memória, crenças da origem) e prospectiva (conteúdo
adicional, novos gêneros, etc – promessas abertas, novos regimes de crenças,
expectativas de leituras).
Esses processos e ajustamentos são os que permitem aos interlocutores
interagirem com diferentes mídias nas práticas comunicativas transmídia, já que, por
mais que seja uma nova mídia, por exemplo estudar por uma plataforma educativa
digital, essa nova prática sempre partirá do já conhecido, da memória, ou seja, dos
sistemas de crenças já interiorizados, das interações passadas já atualizadas. Nos
regimes de interação das plataformas educativas, por exemplo na plataforma “ A hora
do Enen”, a convergência midiática17 estabelece agenciamentos de pelo menos quatro
práticas concomitantes: as práticas de assistir à TV – a prática de estudar pela TV - a
prática de estudar na sala de aula – a prática de navegar pela internet18.
Outro aspecto que também é necessário considerar nas práticas comunicativas
transmídia é a dimensão do espaço tridimensional e as propriedades temporais das
práticas (aspecto, ritmo, andamentos acelerados, disponibilização do conteúdo, duração,
entre outros), uma vez que essas estruturas espaço-temporais configuram “as interações
entre os participantes da prática [...], uma dimensão “topocronológica da cena
predicativa [...] e que determina os tipos de ajustamentos entre as práticas”.

16
A HQ Walking Dead e suas expansões: seriado televisivo, o jogo eletrônico, entre outros.
17
As mídias contemporâneas, consideradas por Fontanille (2012) como semióticas-objeto de natureza
integrativas e compósitas, organizam-se por regimes de interação e de crenças complexos e muito
instáveis, ora impondo formas de vida ritualizadas, paradigmas estereotipados, ora colocando no campo
de presença dos enunciatários telespectadores novas formas de vida por meio de rupturas, quebras de
rotina, acontecimentos que irrompem nas práticas de interação. (CÂMARA, 2014)
18
CÂMARA ( 2017) Trabalho apresentado no Simelp (2017), Santerém, Portugal.
(FONTANILLE, 2008, p. 27). Como exemplo, temos a relação entre assistir a narrativas
seriadas pela plataforma Netflix, que se estabelece por meio da relação entre a prática
de assistir à TV (modelo broadcasting) e a prática de interagir pela internet, e pelos
ajustamentos espaço temporais que o modelo streaming permite.
Vale ressaltar que as práticas transmídia não são ações idiossincráticas,
independentes dos efeitos culturais acumulados, mas sim determinadas coletivamente, o
que garante a permanência do passado no presente, configurando-as, assim, como
expressões individualizadas das práticas culturais, em um dado espaço/tempo.

2. A PRÁTICA DA TRADUÇÃO TRANSMÍDIA


Recriar é uma meta/de um tipo especial/de tradução:/a tradução-arte/mas para chegar à re-
criação /é preciso identificar-se /profundamente /com o texto original/é uma questão de forma
/mas também /uma questão de alma. (Augusto de Campos)

Com base nos pressupostos de Jenkins (2009), compreendemos por tradução


transmídia as estratégias de produção e de leitura realizadas no universo da cultura
participativa por meio de plataformas de mídias convergentes.
Essa prática, que recebe diferentes denominações tais como remix, remakes, memes,
mashups, paródias, paráfrases, pastiches, estilizações, transcriações, entre outras, é
exacerbada pelos avanços tecnológicos e também, como já apontamos, pelo fenômeno
da cultura participativa, em que os enunciatários assumem o poder de interferir nas
produções culturais reagindo, espalhando, ressignificando e até mesmo expandindo os
universos narrativos com os quais interagem por redes de agrupamentos sociais.
A partir de Greimas e Courtès (2008, p.508), entendemos por tradução “a atividade
cognitiva que opera a passagem de um enunciado dado em outro enunciado considerado
equivalente”. Ainda segundo o Dicionário de semiótica (2008, p.509):

É na qualidade de atividade semiótica que a tradução pode ser


decomposta em um fazer interpretativo do texto a quo, de um lado, e
em um fazer produtor do texto ad quem, de outro. A distinção dessas
duas fases permite assim compreender como a interpretação do texto a
quo (ou a análise implícita ou explícita desse texto) pode desembocar,
seja na construção de uma metalinguagem que procura explicá-lo, seja
na produção (no sentido forte do termo) do texto ad quem, mais ou
menos equivalente – uma decorrência da não adequação dos dois
universos figurativos – ao primeiro.
Dessa perspectiva, a prática de tradução transmídia estabelecerá graus de
equivalências entre a obra matriz e suas traduções, e, portanto entre os diferentes tipos e
graus de letramentos que cada novo texto exigirá.
Nessas traduções, os regimes de interações propostos na narrativa matriz, tanto
no nível de interação com o conteúdo, quanto no nível de interação com a expressão,
são ajustados e adaptados às novas mídias e operam entre os eixos triagem e mistura
(FONTANILLE E ZILBERBERG, 2001), operadores que indicam a indução da sintaxe de
um procedimento e as oscilações de expansão e condensação de cada nova produção.
Na prática de tradução transmídia, dessa forma, a triagem será responsável pela
exclusão de conteúdos ou formas, promovendo maior homogeneidade do conjunto,
propondo processos de leituras desacelerados, concentrados e fechados do ponto de
vista das expectativas do leitor; enquanto que a mistura agrega elementos, enriquecendo
a expansão narrativa, resultando em uma maior heterogeneidade interna, e propondo
processos de leituras mais acelerados, dispersos, indiferenciados e abertos, e
constituídos por rupturas, inesperados, irrupções, surpresas.
Assim, classificamos as traduções transmídia em dois grandes tipos:

2.1Tradução intersemiótica
O conceito de tradução intersemiótica foi definido, primeiramente, por
Jakobson, em Linguística e Comunicação, como tradução ou transmutação, como a
interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.
(JAKOBSON, 1969, p.64).
Nessa perspectiva, Balogh sustenta que a prática da tradução intersemiótica
“pressupõe a passagem de um texto caracterizado por uma substância da expressão
homogênea – a palavra – para um texto no qual convivem substâncias da expressão
heterogêneas, tanto no que concerne ao visual quanto ao sonoro”. (BALOGH, 1996,
p.37).
Segundo Lopes (1999), os sistemas semióticos, “códigos culturais” são
transcodificáveis, porque permitem traduzir-se19, já que “qualquer modalidade de
sistema semiótico está formatada de signos dotados dessa propriedade de semiose
ilimitada”. (U. Eco, apud Lopes, 1999, p.19).

19
“O sistema linguístico traduzido chama-se língua-objeto; a língua tradutora de uma língua objeto
chama-se metalíngua (LOPES, 1999,p.18)
Para o autor, os sistemas semióticos podem traduzir-se porque “o significado que
eles exprimem recobre a área da mesma cultura e é expressão, antes, em última
instância, pela língua natural que os modelizou”20.
Dessa forma, a tradução por exemplo do verbal- substância homegênea ( livro as
Crônicas de Gelo e Fogo) para o audiovisual- substância heterogênea (o seriado Game
of Thrones) é possível uma vez que a linguagem tradutora recobre o mesmo universo
de valores, crenças da língua-objeto, permitindo, assim, interpretações equivalentes.

2.2. Tradução Intergenérica


Segundo Lemke (apud ROJO, 2013, 1998), “um letramento é sempre letramento
em algum gênero que precisa ser definido em termos dos sistemas de signos que o
compõem, das tecnologias materiais envolvidas, do contexto social de produção,
circulação e do uso desse gênero em particular.”
Na concepção de Bakthin (2000), os gêneros compõem-se de segmentos-tipo
organizados segundo uma ordem canônica própria que permite o seu reconhecimento
por meio do tripé: conteúdo temático, estilo e construção composicional.
A fim de podermos analisar as práticas de tradução entre os gêneros do ponto de
vista das estratégias de transmidiação, seguimos o modelo teórico--metodológico de
análise proposto por Norma Discini (2010), com base em pressupostos da gramática
tensiva zilbiberguiana21.
Dessa perspectiva, Discini afirma que, sendo a percepção uma semiose,
podemos considerar que “o mundo aparece conforme se dá ao meu campo de
presença22, este relativo a uma consciência intencional, correlata ao objeto”. (DISCINI,
2010, p.5). A autora considera o gênero como prática social que direciona a experiência
do pensamento e que “pode ser entendido como um acontecimento que orienta a
presença sensível” (DISCINI, 2010, p.11). Com base no tripé bakhtiniano, a
semioticista afirma que essas coerções determinam o modo como o acontecimento
aparecerá no campo de presença dos sujeitos.

20
Para Lopes, os sistemas semióticos dividem-se em dois tipos: a) modelizantes, “porque imprimem nos
indivíduos de um mesmo grupo social o mesmo modelo de mundo, uma mesma visão ideológica”; e os
modelizáveis, “eles se convêm reciprocamente, porque, afinal de contas, não fazem mais do que simular
as funções e propriedades do sistema modelizante primário ao qual refletem”. (LOPES, 1999, p.19)
21
Zilberberg (2001)
22
Segundo Fontanille e Zilberberg (2001, p. 129-130), o campo de presença é o domínio espaço-temporal
em que se dá a percepção do sujeito que se define pelos objetos que nele penetram e/ou saem.
Nas práticas de tradução transmídia, as traduções entre os gêneros e formatos
organizam-se primeiramente pela ampliação e manutenção de consumo do universo
ficcional no tempo e no espaço e diversificação do público-alvo; e pelas coerções da
mídia em que serão veiculados por meio de um contínuo que articula o processo de
percepção entre foco (campo de presença mais aberto, como a internet) e apreensão
(campo de presença mais fechado, como a televisão), os quais variam da tonicidade à
atonia.
Vale ressaltar com Fontanille (2005) que a noção de gênero, quando aplicada às
mídias contemporâneas, torna sua classificação difícil. O autor mostra-nos que as bases
de constituição dos gêneros “tradição e convenção” não são suficientes para classificá-
los nas novas ecologias midiáticas, uma vez que nessas mídias, “a tradição é bem curta
para ser credível e a convenção está submetida aos riscos e às tendências efêmeras do
marketing dos grandes grupos de audiovisual”. (FONTANILLE, 2015, p.130).

3. LETRAMENTO TRANSMÍDIA
A palavra Letramento23 vem de “Literacy” e tem sido traduzida sob diferentes
perspectivas teóricas, o que faz, muitas vezes, com que essa palavra gere mal-entendidos
entre os que se dedicam aos seus estudos. Entre as várias definições figuram: aquisição da
leitura/escrita (sobrepondo-se ao conceito de alfabetização24); habilidades para entender
materiais escritos; processo interno daquilo que é aprendido pela criança, prática social de
uso da escrita, entre outras.
Desde os trabalhos fundadores de Street (1984) e Heath (1983), que concebem os
letramentos como ações sociais situadas, as diferentes pesquisas partem de uma
abordagem psicológica, a uma abordagem sociológica e antropológica do conceito e,
atualmente, esses estudos têm sido direcionados para a relação entre letramentos e as novas
mídias.
Nos seus trabalhos iniciais, Street (1993) observa o conceito de letramento com base
em dois modelos: o modelo autônomo abordado “em termos técnicos, tratando-o como
independente do contexto social, uma variável autônoma cujas consequências para a
sociedade e a cognição são derivadas de sua natureza intrínseca” ( STREET,1993, p.5); o

23
Seu surgimento pode ser interpretado como decorrência da necessidade de configurar e nomear
comportamentos e práticas sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do sistema
alfabético e ortográfico, nível de aprendizagem da língua escrita perseguido, tradicionalmente, pelo
processo de alfabetização. (SOARES, 2004, p.1)
24
Sobre essas diferenças, ver Soares (2004); Kleimam, 1995, Tfouni (1995)
modelo ideológico, que “Vê as práticas de letramento como indissoluvelmente ligadas às
estruturas culturais e de poder da sociedade que reconhece a variedade de práticas culturais
associadas à leitura e à escrita em diferentes contextos”. (STREET,1993, p.7)
As pesquisas mais recentes acerca do conceito de letramento, como aponta Rojo
(2009, p32), voltam-se para o que Street identifica como o “reconhecimento dos
múltiplos letramentos que a heterogeneidade das práticas sociais de leitura, escrita e uso
da língua/linguagem contemporâneas exigem”.
Esses trabalhos abordam a relação entre linguagens, modalidades e tecnologias e
elegem o letramento midiático25como uma competência fundamental para o
desenvolvimento dos sujeitos, principalmente dos jovens, bem como um fator essencial
de inclusão social. De um lado, esses estudos destacam a relação entre letramento e o
processo de ensino/aprendizagem, sempre reforçando a necessidade de atualização
tecnológica do modelo formal de educação em todos os níveis (infraestruturas,
formação profissional, material didático, práticas pedagógicas); de outro lado, há os
estudos que se preocupam em descrever e compreender as novas competências
comunicativas que os gêneros digitais exigem.
Dessa segunda perspectiva, como já apontamos na introdução deste texto, são
referências fundadoras os trabalhos de Jenkins (2009, 2009b, 2016) e Scolari
(2009,2013,2014,2015,2016).
Jenkins (2009b) analisa os letramentos contemporâneos a partir das mudanças
que a cultura participativa promove nas práticas comunicativas e os considera como
uma habilidade social de interação dentro de uma comunidade, e não simplesmente
como uma habilidade individual de expressão pessoal. Para o autor, os novos
letramentos midiáticos organizam-se como um conjunto de competências culturais e
habilidades sociais que os jovens precisam adquirir para interagirem nas novas
paisagens midiáticas.
O pesquisador propõe que o letramento transmídia, como uma prática
convergente, movente e híbrida, além da capacidade de leitura e escrita, deve ser
composto das seguintes habilidades:
a) Jogar: capacidade de experimentar os arredores como uma forma de resolução de
problemas.
b) Desempenho: capacidade de adotar identidades alternativas para o propósito de
improvisação e descoberta.

25
São várias denominações: midiático, digital, multimodal, entre outros.
c) Simulação: capacidade de interpretar e construir dinâmicas e modelos de
processos reais.
d) Apropriação: capacidade de fazer uma amostra significativa e remixar conteúdo de
mídia.
e) Multitarefa: capacidade de digitalizar o ambiente e mudar foco em detalhes
salientes.
f) Cognição distribuída: capacidade de interagir significativamente com ferramentas
que expandem as habilidades mentais.
g) Inteligência coletiva: capacidade de agrupar conhecimento e compará-lo ao de
outras pessoas em direção a um objetivo comum.
h) Julgamento: capacidade de avaliar a confiabilidade e credibilidade de diferentes
fontes de informação.
i) Navegação transmídia: capacidade de acompanhar o fluxo de histórias e
informações por meio de múltiplas modalidades.
j) Networking: capacidade de pesquisar, sintetizar e disseminar informação e
conhecimento.
K) Negociação: capacidade de viajar por meio de diversas comunidades, discernir e
respeitar múltiplas perspectivas, compreender e seguir normas alternativas.

Considerando as mudanças das práticas comunicativas do modelo


broadcasting (de um para muitos) para o modelo de comunicação em rede ( de muitos
para muitos), e os sujeitos como agentes que criam, interferem e compartilham
conteúdos no ambiente da cultura participativa e das redes digitais, Scolari (2013,
2018) acredita que “o letramento midiático não pode mais ser limitado à análise crítica
do conteúdo midiático ou do aquisição de habilidades dentro do sistema de educação
formal”. O autor também aponta que esse conceito define muito pouco acerca das
diferentes práticas comunicativas que os jovens realizam no universo transmídia, ou
como de fato essas novas práticas comunicativas se realizam, o modo como o
aprendizado fora dos muros escolares acontece, ou de que maneira os sujeitos se
comportam como prosumidores26, enfim, o autor apresenta um conjunto de questões que
necessita ser respondido para que possamos compreender melhor essas novas práticas.
Por isso propõe o conceito letramentos transmídia ( “transmidia literacy”27),
compreendido como um conjunto de competências, práticas, valores, prioridades,
sensibilidades e o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem e compartilhamento
aplicadas no contexto das novas culturas participativas”. (Scolari, 2018, p.15)
Na visão de Scolari, dessa forma, o conceito de letramento transmídia pode
enriquecer o conceito de letramento midiático tradicional, reposicionar as abordagens

26
27
TRANSMEDIA LITERACY. Exploiting transmedia skills and informal learning strategies to improve
formal education. Disponível em: <https://transmedialiteracy.org/>. Acesso em: 20 março. 2018.
teóricas sobre os novos letramentos e ser utilizado como uma metodologia que permita
explorar os espaços de produção e aprendizagem, até agora pouco investigados pelos
letramentos tradicionais. (SCOLARI, 2018, p. 3).
O autor propõe, então, que o letramento transmídia seja compreendido como:
1) um conjunto de competências e práticas transmidiáticas; 2) uma série de estratégias
informais de aprendizagem; 3) um programa de investigação; 4) uma estratégia de
intervenção.
Se, consoante Scolari, as novas configurações discursivo-textuais complexas
das produções transmídia e a diversidade de competências e habilidades desenvolvidas
pelos jovens nas redes digitais exigem um leitor capaz de interagir com essas
textualidades, gêneros e mídias híbridos e convergentes e um leitor-autor, ou seja, um
leitor que se converte também em produtor de novos conteúdos (prossumidores)
(SCOLARI, 2013), adotamos em nossas pesquisas o conceito de letramento transmídia
definido como uma prática social convergente, heterogênea, híbrida, polifônica de usos
das linguagens, e constituída por práticas comunicativas multimodais,
hipersemiotizadas de produção e interação complexas, e que, portanto, exigem
competências e habilidades letradas complexas, híbridas e convergentes.
Scolari demonstra que o letramento tradicional é centrado no livro, o letramento
midiático é principalmente centrado na televisão, e o letramento multimodal coloca as
redes digitais e as experiências da mídia interativa no centro de sua experiência analítica
e prática. Nossa proposta é considerarmos que o conceito de letramentos transmídia seja
concebido como as competências e habilidades de os sujeitos interagirem dentro e fora
das instituições escolares, de realizarem práticas de traduções entre o verbal e o
sincrético, entre o livro, a TV/rádio e as redes digitais, ou seja entre a diversidade das
práticas comunicativas produzidas nas diferentes esferas sociais com as quais os sujeitos
interagem.
Dessa perspectiva, então, uma metodologia dos letramentos transmídia deve
considerar a convergência e a complementariedade entre os diferentes modelos
educacionais (formal e informal; tradicional (gutemberguiana); do ensino a distância;
28
dos ambientes virtuais de aprendizagem; da educação ubíqua ) e das diferentes
práticas comunicativas (linguagens, formatos, gêneros, mídias), de modo a
competencializar os sujeitos a dominarem habilidades letradas que possibilitem

28
SANTAELLA, 2013.
interações com a diversidade das práticas sociais contemporâneas dentro e fora dos
ambientes digitais.
Com base nas pesquisas de Scolari (2018, p.14,15), propomos uma metodologia
transdisciplinar a partir da relação entre as pesquisas realizadas na área da Linguística,
os Estudos culturais, os estudos sobre mídias (transmídia, Storytelling, cultura
participativa), que possibilite processos colaborativos de aprendizagens, e na qual o
professor assuma o papel de tradutor cultural e facilitador do conhecimento

5. UMA REFLEXÃO À GUISA DE CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que os jovens passam cada vez mais horas conectados a práticas
comunicativas multiplataformas, sobretudo as digitais, e portanto, a práticas letradas de
leitura, produção e circulação de textos de gêneros complexos, híbridos, sincréticos e
polifônicos, contruídos coletivamente em redes comunicativas móveis, ubíquas e
efêmeras que ressignificam o mundo por meio de uma trama convergente de mídias e de
culturas.
Do ponto de vista dos letramentos transmídia, o que podemos observar dessa
realidade é que o aumento dessas práticas de letramentos que, inclusive, têm se
configurado predominantemente como audiovosiuais, merece atenção detalhada sob
diferentes perspectivias, sobretudo porque, como já apresentamos no início deste artigo,
29
com base em Santaella (2013), as consequências desse fato são “devastadoras”, “ já
que” as mudanças das tecnologias de linguagens promovem mudanças neurológicas,
psíquicas nas formas de vida dos sujeitos.
Consoante Jenkins (2009b), é preciso tomar cuidado com o “entusiasmo” em
relação aos letramentos digitais, pois isso encobre um problema potencial:

embora os jovens não necessitem de persuasão para aproveitar as


tecnologias da internet e suas habilidades melhorem rapidamente em
relação aos mais velhos, sem orientação, eles continuam usuários
amadores da tecnologia da informação e das comunicações (TIC), o
que levanta preocupações sobre uma geração de jovens que não é
totalmente alfabetizada digitalmente, mas está profundamente imersa
no ciberespaço.

Pelo que temos observado no convívio diario com estudantes de cursos de


formação profissional inicial e continuada (graduação e mestrado), desde 1991, os
29
Expressão usada pela semioticista em palestra na Jig/Ufscar (2016).
alunos, de modo geral30, não demonstram dificuldades em relação aos regimes de
interações “técnicas” e nem tampouco midiáticas31. No entanto, é cada dia maior o
número de alunos que chegam às universidades com muita dificuldade de leitura e
produção de textos, sobretudo os textos verbais mais elaborados, como os gêneros de
divulgação científica e artísticos, gêneros fundadores das práticas educativas de
formação profissional32.
Parece-nos que essa realidade também encobre outro problema que, acreditamos,
relaciona-se com o tipo e o grau desses letramentos, sobretudo dos jovens, isto é,
relaciona-se com as características que configuram sua competência comunicativa, ou
seja, com seus níveis de apreensão dos textos e com seu grau de autoria, seu
agenciamento e protagonismo.
Se é fato, como afirmam, por exemplo, Scolari (2016, 2015, 2014) e Jenkins (
2009, 2009(b)), que as práticas comunicativas realizadas nos ambientes digitais,
principalmente pelos jovens, estão se tornando cada vez mais complexas e transmídia, é
inevitável não questionarmos sobre que tipo de complexidades elas apresentam, que
nível de apreensão dos textos esses sujeitos realizam e por que será que, em princípio,
as práticas comunicativas dos mesmos sujeitos ocorreriam de formas tão diferentes: no
ambiente digital elas seriam complexas, e, no ambiente off-line, simples, superficiais,
sem autoria?
Outra questão que essa nova situação nos apresenta relaciona-se ao fato de que cada
vez mais os sujeitos migram para práticas comunicativas multimodais, sobretudo
audiovisuais, abandonando, deixando de lado, muitas vezes substituindo os textos
verbais por elas. Se, como afirma Lopes (1999), as línguas naturais ocupam a posição
hierárquica superior entre todos os sistemas semióticos porque constituem a única
realidade imediata para o pensamento, sobretudo “em virtude da extrema adaptabilidade
que possuem para exprimir as particularidades [...] das experiências do homem”, e por
ser o único código capaz de traduzir qualquer outro sistema semiótico; e se a linguagem
verbal é a que exige maior abstração e complexidade cognitiva, como se desenvolveria a
capacidade intelectual de pensamento abstrato e raciocínio complexo em sujeitos que
interagem predominantemente com práticas comunicativas audiovisuais multitelas, de

30
Com exceção dos excluídos digitalmente (alunos de classes sociais menos favorecidas) e de alguns
alunos mais velhos).
31
Os letramentos técnicos de informática apresentam-se de forma facilitadora, intuitivos e repetitivos.
32
Dados corroborados pelos exames oficiais de avaliação do desempenho dos estudantes: ENEM,
ENADE, SARESP, PISA, entre outros.
interações abertas e dispersas que colocam no campo de presença dos sujeitos uma
quantidade exacerbada de informações e de conhecimentos.
“Leitores ubíquos e dispersos” (Santaella)33transformam-se em profissionais
competentes, ou seja é possível formarmos cidadãos plenos de seu protagonismo social,
cultural e competentes profissionalmente que não sejam também leitores contemplativos
e concentrados, e produtores de textos verbais complexos?
De todo modo, vale investigarmos as práticas de letramentos que os jovens
realizam nos ambientes digitais como tem feito o professor Scolari com seu projeto
Transmedia literacy34, para podermos, ao identificarmos os tipos e graus de seus
letramentos, propormos práticas educativas que possibilitem de fato aos sujeitos alunos
se tornarem multiletrados, “poliglotas transmídia”, que consigam apreender os efeitos
de sentidos dos textos, suas manipulações, crenças, ideologias, e que consigam ser
produtores “autores” de seus próprios textos. Como afirma Jenkins (2009b): “ Jovens
devem expandir suas competências necessárias, não afastar as habilidades antigas para
abrir espaço para o novo":
Concebendo que as formas de vida contemporâneas estão “intrincadamente
enredadas” (SANTAELLA, 2013) pela complementariedade entre as formas de vida
dadas e as novas, propomos que a orientação teórico metodológica dos letramentos
transmídia seja adotada como integradora da prática de ensino e aprendizagem das
múltiplas competências e habilidades comunicativas que as práticas sociais
contemporâneas exigem, como uma metodologia integradora da diversidade e da
convergência que os letramentos transmídia configuram e como uma saída para que as
escolas possam, de fato, formar sujeitos protagonistas de suas formas de vida, sujeitos
que sejam capazes de adquirir, com autonomia, “as competências indispensáveis ao
enfrentamento dos desafios sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo”.
(2009, p.7)

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33
Segundo Santaella, a cada nova tecnologia de linguagem, surge um tipo de leitor: leitor contemplativo
(era do livro); leitor movente (era da Revolução Industrial, do movimento, do cinema e da televisão);
leitor imersivo (era da internet, do hipertexto, da multimodalidade); leitor ubíquo (era da mobilidade, da
prontidão cognitiva para a vida em rede de conexões) (SANTAELLA, 2010, p.19-20).
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