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MÍDIA E O DISCURSO DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE: UMA ANÁLISE DO

PROGRAMA “BEM ESTAR”


Bianca Rodrigues de Melo1
Samara Vasconcelos Alves2
Resumo:
Atualmente uma das maiores queixas da população se dá em torno dos transtornos de
ansiedade, onde muitas vezes isso resulta pela maneira como as pessoas tem um
entendimento acerca deste tema e em como esse assunto é veiculado para a população,
principalmente através de meios de comunicações. O objetivo deste estudo, é analisar o
discurso dito veiculado a respeito da ansiedade, através do programa Bem-Estar, da
Rede Globo. Essa pesquisa se deu como uma pesquisa qualitativa, descritiva, em uma
análise do programa Bem-Estar. Como critério de inclusão, episódios que abordavam
sobre ansiedade, transmitidos em 2015 à 2019. E como critério de exclusão episódio
que não correspondem ao período desejado, matérias cuja havia no título alguma
palavra-chave, porém, fugia totalmente do assunto ou não tinha relação nenhuma com
ansiedade; anúncio da integra do programa. Os resultados foram divididos em duas
categorias: contextualização da ansiedade; a ansiedade relacionada a alimentação.
Concluímos que o tema ansiedade vem sendo apresentado de maneira genérica e com
pouco espaço de discussão, assim como, não são levados em considerações intervenções
perante aos fatores sociais.
Palavras-chaves: Ansiedade. Transtorno de ansiedade. Ansioso. Crise de ansiedade.
Abstract:

Currently, one of the biggest complaints of the population is about anxiety disorders,
where this often results from the way people have an understanding about this topic and
in how it is transmitted to the population, mainly through the media. The aim of this
study is to analyze the said speech conveyed about anxiety, through Rede Globo's Bem-
Estar program. This research took place as a qualitative, descriptive research, in an
analysis of the program Bem-Estar. As an inclusion criterion, episodes that dealt with
anxiety, broadcast in 2015 to 2019. And as an exclusion criterion, episodes that do not
correspond to the desired period, articles whose keywords contained in the title,
however, totally escaped the subject or had no relation to anxiety; announcement of the
program. The results were divided into two categories: contextualization of anxiety;
food-related anxiety. We conclude that the theme of anxiety has been presented in a
generic way and with little space for discussion, as well as, it is not taken into
consideration interventions before social factors.
Keywords: Anxiety. Anxiety disorder. Anxious. Anxiety crisis.

1. INTRODUÇÃO
1
Psicologia. Faculdade Luciano Feijão
Email: biancarodrigues.lfl@gmail.com
2
Professora orientadora. Faculdade Luciano feijão
Email: Alves.sv@gmail.com
Atualmente o Brasil vem apresentando um considerável aumento acerca do
transtorno de ansiedade e o objeto de estudo da saúde coletiva. Pesquisas recentes
(FERNANDES, 2018; OMS, 2017; ARAUJO, 2017; SILVA, 2011; VORKAPIC E
RANGÉ, 2011). Em 2015, através de um estudo, contendo 177 países, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) apresentou dados, na qual coloca o Brasil como um dos
países que mais contém pessoas ansiosas, com aproximadamente 18,6 milhões de
brasileiros (9,3% da população) convivendo com este transtorno. (OMS, 2017).
A ansiedade muitas vezes é caracterizada como um sentimento desagradável,
vagas, onde medo é o principal estimulador da ansiedade, assim como outros sentimento
o de insegurança e nervosismo. Bem como a presença de muita preensão, muitas vezes
associados com sintomas físicos (CLARK E BECK, 2012; CARTILLO, 2000; NARDI,
2000).
Bem, todos sentimos ansiedade em alguns momentos de nossas vidas, ela é algo
presente no nosso crescimento, nas mudanças e em experiências novas, situações
presentes no desenvolvimento humano. Para Santos (2009) a ansiedade também é
descrita como uma reação natural, estimulando o sujeito a alcançar seus objetivos, até
um certo limite é normal, porém quando esse limite é ultrapassado e é excedido a
normalidade, passando a apresentar esses sentimentos e sintomas de maneira bem mais
intensas e inadequadas, impactando/afetando negativamente o dia-dia, prejudicando o
desempenho diário do sujeito, passando a se tornar patológico.
Segundo o DSM-IV (2002) o transtorno de ansiedade também apresenta sintomas
corporais involuntárias, como por exemplo, sudorese, secura da boca, tremor, arrepios,
palpitações e entre outras alterações biológicas. Eles também, pontua que a ansiedade
pode vim a ser tanto generalizada, como também voltada para situações especificas, um
exemplo disso, os transtornos fóbicos.
Hoje os medicamentos encontram-se bem presentes no cotidiano das pessoas e
vem com o papel importante de “normalizar” os comportamentos, pois para muito o
medicamento é visto como uma solução imediata e eficaz, porém, o que acontece
bastante é que muitas pessoas passam a utilizar os medicamentos sem prescrições, sem
procurar entender e se aprofundar na real causa do transtorno de ansiedade
(ROUDINESCO, 1999-2000). Porém, ainda é bem comum os meios de comunicações,
como internet e programas de televisão, passem essa imagem dos medicamentos, que
funcionam a curto prazo, fazendo com que aconteça sempre rotação de estar bem e ter
crise.
É importante mencionarmos o quanto é incontestável a maneira como as
sociedade encara os transtornos, onde muitas vezes outras metodologias de abordar tal
tema, se torna necessária e promissora, como por exemplo, os meios de comunicações
sociais, já que através de pesquisas, é visto que há uma grande hipótese da mídia
impactar diretamente e indiretamente as pessoas, pois os mesmos acreditam no que
veem e escutam, sofrendo uma poderosa influência, fixando uma grande
responsabilidade no papel da mídia.
Através de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital
Israelita Albert Einstein, de São Paulo, médicos declararam que cerca de 90% de seus
pacientes utilizavam a mídia como principal fonte de informação sobre saúde.
(TABAKMAN, 2013). Atualmente a mídia vem se apresentando cada vez mais ativa
quando o assunto é cuidado e prevenção de saúde, através dos telejornais, rádios e TVs,
garantindo maior esclarecimento sobre tal tema, resultando numa promoção de saúde,
ou seja, com uma grande responsabilidade social.
Segundo Fernandes (2017) citou em seu trabalho que a Secretaria Especial de
Comunicação Social, em 2016, realizou uma Pesquisa Brasileira de Mídia onde revelou
que a televisão é o meio de comunicação de massa mais utilizado para procurar
informações, 89% dos brasileiros assistem à TV constantemente e 77% a assistem todos
os dias. Segundo Bourdieu (1997, p.27), a televisão possui um forte domínio na
formação de cabeças e pensamentos de grande parte da população.
É evidente que o processo do avanço tecnológico impacta tanto positivamente
como negativamente na qualidade de vida e saúde das pessoas, vale ressaltar que em
conjunto com esse rápido processo global, surge cada vez mais uma tecnologia
avançada, trazendo vários caminhos de possibilidade positivas. Porém, o modo como as
informações são divulgadas é de grande importância. Lima (2014) salienta que há uma
grande quantidade sobre notícias voltadas para a saúde, no entanto, são discutidas de
duas maneiras, uma muito focada teoricamente, numa linguagem mais formal e a outra
forma bem superficial. Sendo interessante utilizar uma linguagem mais compreensível,
propícia a todos os públicos, como metáforas, analogias e descrições.
A motivação para abordar tal tema se deu inicialmente através de um estágio
supervisionado na Atenção Básica, onde uma das maiores queixas dos usuários está
voltada ao transtorno de ansiedade. Surgiu a inquietação de como a ansiedade está
sendo de fato veiculada para a população? E como esse transtorno é retratado em meio a
mídia?
Com isso, o principal objetivo deste estudo, é analisar o discurso dito veiculado a
respeito da ansiedade, através do programa Bem-Estar, da Rede Globo. Por ser um
programa que muito contribuiu para prevenção de saúde, ao abordar diversas doenças,
explorando causas e sintomas e muitas vezes causando um impacto nos hábitos
populacionais.
2. DESCRIÇÃO DO PROGRAMA BEM ESTAR
Durante o ano de 2011 a 2019, o Bem Estar foi um programa produzido pelo
Jornalismo da Globo em São Paulo, com a duração de 45 minutos, na qual tinha como
objetivo debater temas relacionados à saúde e qualidade de vida, era comandando pelos
jornalistas Fernando Rocha e Mariana Ferrão, onde diariamente os recebiam
especialistas, com o objetivo de esclarecer assuntos de interesses pertinentes para toda a
população, mulheres, jovens e telespectadores de diversas classes sociais.3

Em todo os episódio haviam convidado especialistas, para explicar, debater e


esclarecer dúvidas acerca dos assuntos envolvidos, eram doutores, nutricionistas,
psicólogos e etc., porém o programa contava com um psiquiatra fixo, Dr. Daniel Barros,
presente em todos os episódios. Também ocorria as participações dos telespectadores,
através de entrevistas realizadas nas ruas ou por mensagens via Internet. Em abril de
2019, durante uma reformulação das manhas da Globo, passou a se tornar um quadro
exibido no Encontro com Fátima Bernardes.

3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para analisarmos o que tem sido divulgado na mídia sobre o assunto em questão,
essa pesquisa se deu como uma pesquisa qualitativa, descritiva, tendo como fonte
matérias televisionadas. As fontes selecionadas foram do programa Bem-Estar, da Rede
Globo. Um meio de comunicação bastante presente no cotidiano das pessoas.

Analisamos as versões eletrônicas dos referidos vídeos dos episódios do


programa, a busca se deu de acordo com o tema desejado, sendo pesquisado através da
plataforma: https://globoplay.globo.com/. As palavras chaves utilizadas na busca foram:
Ansiedade. Transtorno de ansiedade. Ansioso. Crise de ansiedade. Como critério de
inclusão, episódios que abordam sobre ansiedade, mesmo sendo correlacionado com
outros temas, porém, tendo a ansiedade como foco principal, assim como, edições
transmitidas ao longo de janeiro de 2015 até dezembro de 2019. E como critério de
3
Descrição do programa em: https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/jornalismo-e-telejornais/
bem-estar/
exclusão, episódio que não correspondem ao período desejado, matérias cuja havia no
título alguma palavra-chave, porém, fugia totalmente do assunto ou não tinha relação
nenhuma com ansiedade; anúncio da integra do programa seguinte.

O levantamento da pesquisa ocorreu durante o mês de julho de 2020, através da


ferramenta de busca de matérias de interesse por palavras-chave no site4, foram
coletados os dados relativos ao tema de cada edição do programa ao longo de 4 anos:
janeiro de 2015 a dezembro de 2019, onde ao todo foram achados 1.864 episódios
gravados, podemos ver através do quadro 1, como se deu as contagens e exclusões da
amostra, pelos critérios de inclusão previamente estabelecidos.

Vídeos referente Busca com o Busca com o


Palavras chaves Total de ao programa critério de critério de
busca exclusão inclusão
1187
Ansiedade 32 25 7

93 2 1 1
Transtorno de
ansiedade

Ansioso 532 2 2 0

46 1 0 1
Crise de ansiedade

Episódio de 4 0 0 0
ansiedade

Sem termo 2 2 0 2
“ansiedade” no título

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4
Fonte de pesquisa: https://globoplay.globo.com/

Quadro 1 - Episódios selecionados dentro dos critérios determinados para este estudo
Ao todo, a temática “ansiedade” foi construída por 11 episódios, sendo
mencionados por médicos especialistas, psiquiatras, psicólogos, nutricionistas,
neurologistas e principalmente pelo médico fixo do programa, Psiquiatra Daniel Barro.
Através de uma análise mais detalhada dos episódios, foram estabelecido duas
categorias: contextualização da ansiedade e a ansiedade relacionada a alimentação; Em
seguida, será apresentado um quadro, na qual distribui cada episódio de acordo com
suas respectivas categorias, sendo mostrado por tema e data de transmissão.

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ANSIEDADE

Como podemos ver no quadro 2, seis episódios se enquadraram na categoria um,


os programas selecionados buscaram abordar as causas ligadas ao transtorno, os
sintomas, as consequências, soluções e o uso da medicalização ligado a ansiedade.

Ep PROGRAMA TEMA
.

1 04/11/2016 Entenda como agem os calmantes

2 08/11/2016 Brasil tem dez milhões de pessoas diagnosticadas com transtorno mental

3 23/08/2017 Chás ajudam controlar a ansiedade e o estresse

4 08/11/2019 Prova do Enem: Como controlar a ansiedade?

5 11/04/2018 Estresse e ansiedade provocam a dor de cabeça tensional

6 08/11/2016 Pessoas com depressão e ansiedade tendem a ter hábitos menos saudáveis

Quadro 2- Temas referentes a categoria


1

O único episódio que fala mais precisamente sobre o transtorno de ansiedade, foi
a edição transmitida no dia 8 de novembro de 2016 (Ep.2) e com apenas a duração de 4
minutos e 52 segundos, sobre essa temática, na qual foi falado um pouco sobre dados
específicos, seus fatores, consequências e também a ansiedade como um problema de
saúde pública, porém, nada aprofundado.
Porém, estes fatos nos permite visualizar o entendimento de que geralmente a
mídia não se preocupa em atender às necessidades das pessoas com transtorno de
ansiedade, no programa bem estar, não houve uma preocupação de se aprofundar sobre
a ansiedade, falar sobre suas causas, sintomas, nem tampouco sobre os tratamentos,
assim como as orientações sobre os serviços de saúde pública disponíveis, deixando
assim de “exercer seu papel educativo” (TUZZO, 2005). O que contribui para a baixa
procura de tratamento, pois não há uma conscientização sobre esse transtorno (OMS,
2017)

A Organização Mundial de Saúde (OMS), publicou em 2002, um relatório na


qual citavam alguns fatores que contribuíam para o surgimento de distúrbios mentais,
como a ansiedade, segundo esse relatório, a pobreza, o gênero, a idade, os conflitos, as
catástrofes, as doenças físicas graves e o ambiente familiar e social, são fatores
consideráveis (OMS, 2002).

O programa ainda trouxe algumas falas pertinentes dos telespectadores, onde


realçam a grande cobrança que o sujeito sofre atualmente no decorrer do dia a dia, seja
no trabalho, nos horários, em casa. Assim como, as inúmeras responsabilidades de
continuar sempre a produzir bem, mesmo trabalhando, estudando e tendo outros
afazeres, vivemos sempre muito agitados e isso não sendo bem absorvido, resulta em
grandes preocupações e ansiedade.

Para as autoras Shinohara & Nardi (2001):

Pacientes diagnosticados com a disfunção apresentam, na maior parte das


vezes, sentimentos crônicos de nervosismo, preocupações excessivas,
persistentes e desproporcionais à realidade acompanhados por vários
sintomas somáticos, como: apreensão; tensão motora (inquietação, cefaleia
tensional, tremores, incapacidade de relaxar); alta vigilância cognitiva;
irritabilidade persistente; dores musculares; disfunções 11 gastrointestinais;
sudorese; taquicardia; desconforto epigástrico; tontura; boca seca; e
palpitações.

A ansiedade é um sentimento presente na vida do sujeito, segundo Grazziano e


Bianchi (2004) a ansiedade primária, é adaptativa e necessária ao sujeito, perante aos
enfrentamentos de situações cotidianas, em alguns momentos de nossas vidas, essa
ansiedade surge, seja por preocupação, seja, por alguma situação, enfim, ela é uma
emoção do nosso cotidiano, intensidade e duração dessa ansiedade pode variar de
pessoa para pessoa em diferentes situações, de acordo com Pitta (2011) é sempre bom
estar atendo, quando esse sentimento passa a se tornar mais presente.

No Ep. 4 na qual aborda ansiedade acerca da avaliação do Enem, definido


como um momento de muita ansiedade, porém, é destacado que não se deve permitir
que essa ansiedade atrapalhe o desempenho do aluno. Não houve nenhuma explicação
do que seria ansiedade e seus sintomas, foram apenas dicas de como conseguir controlar
essa ansiedade frente ao Enem, com exercícios respiratórios e relaxamentos, o que
chamou atenção é que durante o programa passava a seguinte frase na tela “ansiedade
não pode atrapalhar a prova”. Com isso podemos notar de que muitas vezes a imagem
que é passada sobre a ansiedade, é que sentir isso é algo errado, faz mal e atrapalha,
sabemos que de fato um grande nível de ansiedade não é algo agradável, porém, muitas
vezes quando desenhamos essa definição de que isso vai nos atrapalhar, de que isso é
errado, efetivamente se torna verídico e mais doloroso passar por esse processo, pois
pode acarretar um sentimento de culpa, de erro.

Soares (2017) mencionou em seu trabalho que o sentimento ansioso é muito


presente na vida do sujeito, principalmente se tratando da felicidade, pois essa é uma
busca insaciável e passa para muita gente como uma obrigação, porém, não se tem
como negar que há momentos deprimidos. E quando o diagnóstico de depressão e/ou
ansiedade é constatado, são prescritos os psicotrópicos, com uma única promessa, de
eliminar o que é indesejado, o que está doendo.

Roudinesco (1999-2000), aponta que esses medicamentos tem o efeito de


“normalizar” os comportamentos, eliminando os sintomas vistos como sofrimento
psíquico, sem se aprofundar e buscar o verdadeiro significado desse diagnóstico. Isso
faz com que, resulte muito no pensamento das pessoas de que os medicamentos são as
melhores e únicas soluções.

O Psiquiatra Daniel Barro pontuou algo bastante importante durante o Ep.1,


não é apenas o uso de medicamentos que auxilia na ansiedade do sujeito, é trabalhado
todo um conjunto, o que é bastante interessante pois atualmente estamos na era em que
a internet surge como principal meio de informação, na qual muitas vezes pode até
chegar a prejudicar o sujeito, pois após procurar informações nessa plataforma de
pesquisa, se formula uma resposta na cabeça, chegando a resultar numa automedicação,
sendo que na maioria das vezes as pessoas acreditam ser o suficiente, esquecendo do
mais importante “esse conjunto” de tratamentos, de estar numa terapia, de praticar
atividades de autocuidado e etc.

Isso tudo nos remete a uma colocação importante que Fávero, Santos e
Santiago (2017) aponta, onde mencionam que o uso de medicamentos, são passados
pelos neurologistas e psiquiatras, porém, vem sendo comum as pessoas passarem a
tomar esses medicamentos por conta própria, sem prescrições médicas e da maneira que
acredita ser correta, sendo um uso irracional, resultando num problema de saúde
pública. Muitas pessoas passam também a fazer uso de medicamentos naturais, como
chás, no Ep.3 o especialista fitoterapeuta Paulo de Jesus explica que os chás ajudam no
relaxamento, na melhora de algumas funções do organismo, no equilíbrio e ameniza o
estresse, cansaço físico e fadiga mental, com isso algumas pessoas aderem esse tipo de
medicamento natural como uma alternativa.

Segundo Almeida Filho (1992); Lannes (2018) a ansiedade e fobias são vistos
como os principais problemas de saúde mental da população urbana brasileira, pois os
números de pessoas com diagnostico de ansiedade vem tendo um aumento significativo
e na maioria das vezes estão sendo constantemente relacionados a vários outros fatores,
um aumento significativo e na maioria das vezes resultam em vários outros fatores,
como foi visto no Ep.5 com a dor de cabeça tensional, onde o Neurologista explica que
a causa dela se dá através de estresse e ansiedade, por conta de preocupações diárias e
etc. O episódio ressalta a importância de quebrar a rotina, desestressar e praticar
exercícios físicos. Já o Ep.6 que explanou que pessoas com depressão e ansiedade
tendem a ter hábitos menos saudáveis, pois não há animo para atividades e nem se
manter numa alimentação saudável, bebendo mais e dormindo menos causando
consequentemente problemas de infarto e derrame cerebral. Psiquiatra Daniel Barro,
também teve um papel de fala muito interessante, que seria oferecer para atenção
primaria treinamentos, para toda a equipe, para tratar da depressão e ansiedade.

4.2 ANSIEDADE RELACIONADA A ALIMENTAÇÃO

A ansiedade nos episódios não foram conceituadas e muito menos tão


aprofundadas. Nessa categoria, os episódios mencionados retratam o transtorno de
ansiedade, porém, através de temas correlacionados, principalmente se tratando do
corpo, como alimentação e peso.
Ep. PROGRAMA TEMA

1 09/03/2015 Ansiedade pode estar ligada ao aumento de peso

2 19/10/2015 Consultor do Bem Estar fala sobre ansiedade e obesidade

3 09/05/2017 Estresse e ansiedade fazem com que haja aumento de peso após o
casamento

4 23/08/2017 Especialista explica porque a ansiedade está ligada à alimentação

5 23/08/2017 Conheça alguns alimentos que ajudam no controle da ansiedade

Quadro 3- Temas referentes a categoria


2

Como já visto a ansiedade é um sentimento presente na vida do sujeito


(GRAZZIANO; BIANCHI, 2004), porém, quando a ansiedade apresenta um elevado
nível e passa a ser doloroso, o sujeito passa a apresentar uma série de comportamentos,
como uma maneira de evitar e/ou minimizar o perigo, recorrendo a vários mecanismos
psicológicos de defesa, que para ele reduz a intensidade da ansiedade (Silva, 2006). No
programa Bem-estar, 4 episódios abordaram diretamente a ligação da ansiedade com
alimentação e com o peso corporal.

A alimentação pode a vim se encaixar nesses mecanismos, onde o sujeito


recorre à comida como mecanismo compensatório e assim lidar com suas emoções.
(Silva, 2006)

Já no Ep.1, pode se ver essa relação, o psiquiatra Daniel Barro menciona a


importância de cuidar do peso corporal, seja tratando a alimentação com
endocrinologista, assim como tratar da saúde mental, da ansiedade, da depressão,
pontuando sempre a atividade física como uma pratica importante.

Segundo o programa Bem Estar, estudos comprovam que há uma relação da


ansiedade com a obesidade. Baron, (1995); Jebb, (1997) relacionam os transtornos
psiquiátrico ao ganho de peso, pois a pessoa que está ansiosa pode vim a ter compulsões
alimentares, fazendo com que o sujeito faça uma grande ingestão de alimentos, na busca
dessa redução da ansiedade. Como menciona Bernardi, Cichelero & Vitolo, (2005);
Rosenbaum; White (2015) a ansiedade é um dos fatores que influenciam a compulsão
alimentar.

Outro episódio que chamou atenção é o Ep.2, onde o psiquiatra Daniel Barro
comentou sobre o fato de pesquisadores descobrirem um gene que liga os dois
comportamento (ansiedade e obesidade), pontuou o lado bom dessa descoberta,
propondo que talvez assim os cientistas consigam desenvolver um remédio que possa
controlar as duas coisas ao mesmo tempo, segundo ele “um remédio para emagrecer e
para diminuir a ansiedade”. Claramente, mais uma vez podemos ver, que o discurso de
que a medicalização causa um feito normalizador e que tem a eficácia de resolver todos
as questões, o que faz com que as pessoas passem a buscar apenas esse tipo de
tratamento, como uma única solução.

No Ep.4 a psicóloga Rogéria Taragano explica que muitas vezes a ansiedade


tem causas variadas e ela pode se manifestar através de um impulso em relação a
comida, resultando na utilização da comida pra baixar essa ansiedade, mas o que
acontece que depois de comer e exagerar a pessoa se senti mal, gerando um ciclo
vicioso.

A ansiedade pode também contribuir para o aumento de peso, ao causar


alterações no comportamento dos doentes. Essas alterações são o evitamento
de determinadas atividades físicas, que podem despertar sintomas
semelhantes aos das Perturbações da Ansiedade.48 As perturbações do sono,
tais como a insónia inicial, o sono pouco profundo, o despertar noturno e os
sonos desagradáveis, que frequentemente acompanham as perturbações
ansiosas, também contribuem para o aumento de peso associado à ansiedade.
(PEREIRA; BRANDÃO, 2014)

Quando o sujeito está passando por um momento de grande ansiedade, a


possibilidade de recorrer à comida é grande, pois essa é uma forma de compensar o
estado emocional, assim como, lidar com as emoções, sendo a alimentação apontada
como um mecanismo compensatório (Dovey, 2010). O que é o caso do Ep.3 onde
abordou o aumento de peso após o casamento, situações novas é vista também como um
momento de grande desafios e consequentemente grande ansiedade, resultando num
aumento na alimentação. Porém, comendo os alimentos corretos, saudáveis é possível
prevenir a ansiedade que o sujeito está sentindo naquele momento, como explanou o
Ep.5, entretanto, o programa não abordou isso de maneira não tão preventiva e sim de
autocontrole.
CONCLUSÃO
O meio de comunicação veio a somar, com o intuito de repassar conteúdos, na
qual possa ajudar os telespectadores a não só estarem informados, como também a
conhecer e entender certos tipos de conteúdo, mas, como podemos ver, a mídia, mais
precisamente o programa na qual foi mencionado no trabalho, em nenhum momento
buscou abordar de maneira mais aprofundada o conceito da ansiedade, assim como seus
sintomas, suas causas e/ou tratamentos adequados muito menos diferenciar ansiedade de
transtorno de ansiedade.

Outra questão pertinente é que o programa atinge a todos os públicos


independente de condições sociais, assim como, os episódios não levaram em
consideração, aos efeitos mais graves da ansiedade, não se aprofundando nas questões
de condições sociais, não orientando de maneira mais real sobre os tratamentos, ou onde
procurar, como por exemplo, o funcionamento nos serviços de saúde pública
disponíveis. Não sendo levado em considerações intervenções perante aos fatores
sociais.

De maneira geral, a ansiedade foi abordada de maneira genérica, onde muitas


vezes passou uma imagem de algo errado e simples de ser irreversível, levando sempre
para o lado corporal, como a alimentação, a pratica de atividade e etc. E por fim
dificilmente houve discussões pertinentes acerca do tema proposto.

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