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Estudos de Psicologia   

A gênese do conceito freudiano de inconsciente


Gilberto Gomes
Universidade Estadual do Norte Fluminense

Resumo
Durante toda sua obra, Freud concebe os processos psíquicos como derivados da atividade do cérebro.
Aqui é proposta uma reconstituição dos passos inferenciais (constituindo uma seqüência lógica e não cro-
QROyJLFD SRVVLELOLWDGRVSRUHVVDFRQFHSomRSVLFRQHXUDOTXHOHYDUDP VREDLQÀXrQFLDGRVIDWRVFOtQLFRV 
DRFRQFHLWRSVLFDQDOtWLFRGHLQFRQVFLHQWH2VSURFHVVRVQHXUR¿VLROyJLFRVVXEMDFHQWHVDRSVtTXLFRGHYHP
SRVVXLUFRPSOH[LGDGHVX¿FLHQWHSDUDMXVWL¿FDUDVSURSULHGDGHVSVtTXLFDVFRQKHFLGDVSHODFRQVFLrQFLD3DUD
Freud, a consciência é uma espécie de percepção interna de processos psíquicos. Como a consciência não é
inerente a esses processos, torna-se natural imaginar que eles possam também ocorrer sem serem percebidos
(processos pré-conscientes). O conceito de inconsciente propriamente dito também se mostra tributário de
sua concepção psiconeural.
3DODYUDVFKDYHIUHXGPHWDSVLFRORJLDSUREOHPDPHQWHFpUHEURGXDOLVPRPRQLVPRLQFRQVFLHQWH

Abstract
The genesis of the Freudian concept of the unconscious.$ORQJDOOKLVZRUNV)UHXGFRQFHLYHVRISV\FKLFDO
SURFHVVHVDVGHULYHGIURPWKHDFWLYLW\RIWKHEUDLQ:HRIIHUKHUHDUHFRQVWUXFWLRQRIWKHLQIHUHQWLDOVWHSV
PDNLQJXSDORJLFDODQGQRWDFKURQRORJLFDOVHTXHQFH PDGHSRVVLEOHE\WKLVSV\FKRQHXUDOFRQFHSWLRQWKDW
KDYHOHG XQGHUWKHLQÀXHQFHRIFOLQLFDOIDFWV WRWKHSV\FKRDQDO\WLFDOFRQFHSWRIWKHXQFRQVFLRXV1HXUR-
SK\VLRORJLFDOSURFHVVHVXQGHUO\LQJSV\FKLFDOUHDOLW\PXVWSRVVHVVHQRXJKFRPSOH[LW\WRMXVWLI\WKHSV\FKLFDO
SURSHUWLHVNQRZQE\FRQVFLRXVQHVV$FFRUGLQJWR)UHXGFRQVFLRXVQHVVLVDVRUWRILQWHUQDOSHUFHSWLRQRI
SV\FKLFDOSURFHVVHV$VFRQVFLRXVQHVVLVQRWLQKHUHQWWRWKHVHSURFHVVHVLWLVQDWXUDOWRLPDJLQHWKDWWKH\
PD\DOVRRFFXUZLWKRXWEHLQJSHUFHLYHG SUHFRQVFLRXVSURFHVVHV 7KHFRQFHSWRIWKHXQFRQVFLRXVSURSHUO\
VDLGDOVRDSSHDUVDVGHSHQGHQWRQWKLVSV\FKRQHXUDOFRQFHSWLRQ
.H\ZRUGVIUHXGPHWDSV\FKRORJ\PLQGEUDLQSUREOHPGXDOLVPPRQLVPXQFRQVFLRXV

E
PWUDEDOKRDQWHULRUPRVWUDPRVTXHDRFRQWUiULRGRTXH jFRQFHSomRGHXPDSDUHOKRSVtTXLFRFRPH[WHQVmRHVSDFLDO
muitas vezes se pensa, Freud sempre manteve a concep- originando o ponto de vista tópico da teoria psicanalítica (Go-
ção de que os processos psíquicos dependem do funcio- mes, 2005).
namento do cérebro (Gomes, 2005). Citações cobrindo toda sua 1RSUHVHQWHWUDEDOKRGLVFXWLUHPRVRSDSHOHVSHFt¿FRGHVVD
REUD )UHXGDDD concepção sobre a relação mente-cérebro no desenvolvimento
EEF GRFRQFHLWRIUHXGLDQRGHLQFRQVFLHQWH1XPPRPHQWRGHJUDQGH
E PRVWUDPTXH desenvolvimento das neurociências e de questionamento sobre
Freud sempre considerou a atividade psíquica como tendo fun- as relações entre neurociências e psicanálise, evidencia-se a
GDPHQWRQRVSURFHVVRVQHXUR¿VLROyJLFRVGRFpUHEUR relevância da questão proposta.
Discutimos também as conseqüências desta concepção do
SVtTXLFRFRPRIXQGDPHQWDGRQXPVXEVWUDWRQHXUR¿VLROyJLFR 2LQFRQVFLHQWHQDQHXUR¿VLRORJLDGRVpFXOR;,;
Em primeiro lugar, destacamos a adesão ao pensamento causal A criação por Freud de uma teoria do inconsciente é muitas
em que esta posição implica. Inegavelmente, a pressuposição vezes vista como uma ruptura em relação às tentativas de sua
do determinismo psíquico é um dos componentes essenciais época de explicar os fenômenos psíquicos pelo funcionamento
da teoria freudiana. Em segundo lugar, lembramos o aspecto GRFpUHEUR0DUFHO*DXFKHWHPVHXOLYUR/¶LQFRQVFLHQWFpUp-
quantitativo presente em todos os aspectos de sua teoria, e que bral   RSHUD XPD PRGL¿FDomR FRPSOHWD GHVVH TXDGUR
decorre diretamente da suposição de um fundamento material (OHPRVWUDFRPRDQHXUR¿VLRORJLDGRVpFXOR;,;WLQKDGHIDWR
dos processos mentais. Finalmente, a suposição de que o sistema DEHUWRRFDPLQKRSDUDRFRQFHLWRIUHXGLDQRGHLQFRQVFLHQWH,VVR
nervoso é responsável pela atividade anímica leva naturalmente não quer dizer que este estivesse de alguma forma presente ou
32 G.Gomes

RFXOWRQDVIRUPXODo}HVGRVQHXUR¿VLRORJLVWDVFRPRSRGHULDP 3DUDRXWURVFRPR3ÀJHURX/HZHVDXQLGDGHSVLFRQHXUDOWHUi
ID]HUSHQVDUDVSURSRVWDVPHQRVULJRURVDVGH/DQFHORW:K\WH como conseqüência uma extensão das qualidades da consciência
em seu livro The unconscious before Freud (1960). VHQVLELOLGDGHHYRQWDGH DRVSUySULRVUHÀH[RV *DXFKHW 
Sem negar a originalidade de Freud, é preciso, entretanto, 3DUD)UHXGHODOHYRXjSRVVLELOLGDGHGHSHQVDUXPDYRQWDGHLQ-
UHFRORFDUDFULDomRGDSVLFDQiOLVHHPVHXFRQWH[WRKLVWyULFR1R FRQVFLHQWHUHSUHVHQWDo}HVLQFRQVFLHQWHVSHQVDPHQWRVGHVHMRV
FDVR*DXFKHWID]XPDDQiOLVHGHWDOKDGDGHWRGRXPVHWRUGHVVH HFRQÀLWRVLQFRQVFLHQWHV
FRQWH[WRKLVWyULFRKiPXLWRWHPSRHVTXHFLGRRXLJQRUDGRR
GDVGLVFXVV}HVGRVQHXUR¿VLRORJLVWDVHQHXURORJLVWDVGDpSRFD
Passos inferenciais para a elaboração do conceito
sobre o inconsciente, concebido ainda sob a perspectiva da teoria freudiano de inconsciente
GRVUHÀH[RVPDVWHQGRGHTXDOTXHUIRUPDRHIHLWRGHTXHEUDU Confrontando a teoria freudiana do inconsciente com sua
muito efetivamente a concepção tradicional do papel central da concepção sobre a relação mente-cérebro, podemos reconstituir
FRQVFLrQFLDHGDYRQWDGHFRQVFLHQWH1mRHUDDLQGDRFRQFHLWR os seguintes passos inferenciais como etapas lógicas que levaram
freudiano que estava presente, mas sim toda uma problemática – em colaboração com outros fatores, sem dúvida – ao conceito
que estava claramente colocada, todo um novo campo do “pen- IUHXGLDQRGHLQFRQVFLHQWH
ViYHO´TXHHVWDYDDEHUWRFRPRGL]*DXFKHW Primeiro passo. Se os fenômenos psíquicos conscientes têm
Desse ponto de vista, podemos encontrar um sentido no um substrato neural, os processos neurais que constituem esse
fato de a psicanálise não ter sido criada por um psicólogo ou substrato devem ter as características dos fenômenos psíquicos
XP¿OyVRIRPDVVLPSRUXPQHXURORJLVWD(YLGHQWHPHQWHHVVD LVWRpFDUDFWHUtVWLFDVTXHOKHVSHUPLWDPVHUFRQVLGHUDGRVFRPR
SUREOHPiWLFDQHXUR¿VLROyJLFDGR³LQFRQVFLHQWHFHUHEUDO´QmRIRL UHSUHVHQWDo}HVGHVHMRVDIHWRVSHQVDPHQWRVHWF 
o único fator que propiciou a criação do conceito psicanalítico de Segundo passo. Se existem processos neurais que funcio-
LQFRQVFLHQWH$TXHVWmRFOtQLFDGDVQHXURVHVMiEHPGLVWLQJXL- nam como os processos psíquicos de que temos consciência,
das dos outros quadros clínicos de que os neurologistas deviam SRGHHQWmRKDYHUSURFHVVRVQHXUDLVTXHIXQFLRQDPGDPHVPD
FXLGDURVSUREOHPDVGRKLSQRWLVPRDWHRULDGDHYROXomRQD PDQHLUDPDVVHPFRQVFLrQFLD SHQVDPHQWRVGHVHMRVHWFSUp
ELRORJLDWRGRVHVVHVIDWRUHVFRPRPRVWUD*DXFKHWIRUDPYH- conscientes).
WRUHVFXMDFRQYHUJrQFLDFRQVWLWXLXXPD³HQFUX]LOKDGD´P~OWLSOD Terceiro passo. Se existem processos neurais com todas
QRXQLYHUVRFXOWXUDOGDVHJXQGDPHWDGHGRVpFXOR;,;FULDQGR as características do psíquico consciente menos a consciência,
2
as condições de emergência do conceito freudiano. SRGHHQWmRKDYHURXWURVSURFHVVRVQHXUDLVFRPDOJXPDVGHVVDV
7DPEpPGHHVSHFLDOLQWHUHVVHSDUDFRPSUHHQGHUDLPSRUWkQ- características (as que permitem caracterizá-los como repre-
FLDGRSHQVDPHQWRQHXUROyJLFRHQHXUR¿VLROyJLFRQDIRUPDomR VHQWDo}HV GHVHMRV SHQVDPHQWRV OHPEUDQoDV HWF  PDV VHP
GH)UHXGpRSRXFRGLYXOJDGROLYURGH3HWHU$PDFKHUFreud’s algumas outras (negação lógica, contradição, temporalidade,
QHXURORJLFDO HGXFDWLRQ DQG LWV LQÀXHQFH RQ SV\FKRDQDO\WLF consideração da realidade, etc.).3
WKHRU\   1HOH SRGHPRV YHU FODUDPHQWH FRPR DXWRUHV 3URSRQKRHVVHVSDVVRVFRPRXPDVHTrQFLDlógicaVXEMD-
FRPR %UFNH 0H\QHUW H ([QHU TXH IRUDP SURIHVVRUHV GH cente ao desenvolvimento do conceito freudiano, e não como
Freud, pensavam questões muito próximas às que moldaram o uma sucessão de formulações que o autor deveria ter enunciado
pensamento desse último. H[SOLFLWDPHQWHHFURQRORJLFDPHQWH1mRSUHWHQGRDOpPGLVVR
TXHRFRQFHLWRSVLFDQDOtWLFRGHLQFRQVFLHQWHVHMDRVLPSOHVUHVXO-
Conseqüências da concepção psiconeural tado de uma inferência lógica a partir de certos pressupostos. É
A busca de entender os fenômenos psíquicos como derivados claro que ele resultou também de questões clínicas e teóricas com
da atividade cerebral, entretanto, pode levar a diferentes tipos de DVTXDLV)UHXGDFKDYDVHFRQIURQWDGR2TXHSUHWHQGRPRVWUDU
conseqüências na elaboração de uma teoria explicativa. O notável é como a resposta que deu a essas questões foi atingida por um
HP)UHXGpTXHVXDFUHQoDQHVVDEDVH¿VLROyJLFDGRVIHQ{PHQRV FDPLQKRTXHQHFHVVLWRXGHVVDVSUHVVXSRVLo}HV
SVtTXLFRVQmRRFRQGX]LXDDSOLFDUDHVWHVRVFRQFHLWRVGD¿-
VLRORJLD±FRPRWRGRVDTXHOHVTXHQRVpFXOR;,;FRQVWUXtUDP Processos neurais com características de processos
VXDVWHRULDVGR³LQFRQVFLHQWHFHUHEUDO´VREUHRPRGHORGRUHÀH[R psíquicos
*DXFKHW 0XLWRDRFRQWUiULRpVXD³QHXUR¿VLRORJLD´TXH Antes de tudo, o que importa constatar é que a suposição de
vai incorporar os conceitos do psíquico, como representação, processos neurais possuidores das características dos processos
GHVHMRDIHWRSUD]HUDQJ~VWLDSHQVDPHQWRHWF,VWRMiDSDUHFH SVtTXLFRV IRL D FRQGLomR SDUD IRUPXODU D KLSyWHVH GH XP LQ-
muito claramente no Projeto, de 1895. Mais tarde, ele abandonou consciente que é verdadeiramente psíquico, e não simplesmente
DVKLSyWHVHVHVSHFt¿FDVVREUHRVPHFDQLVPRVQHXUDLV0DVRTXH UHÀH[R FRPR R SURSRVWR SRU RXWURV DXWRUHV 3RU RXWUR ODGR
HVWiSUHVHQWHGHVGHRLQtFLRDWpR¿PpDLGpLDGHTXHRVSURFHVVRV como ele é concebido como constituído por processos naturais,
QHXUDLVGHEDVH TXDLVTXHUTXHVHMDP GHYHPFRPSRUWDUWRGDD isso permite considerá-lo como dependente de mecanismos
riqueza dos processos psíquicos. causais que podem ir além daquilo que se costumava atribuir
3DUDUHÀH[RORJLVWDVUHGXFLRQLVWDVFRPR0DXGVOH\RX6H- DRVSURFHVVRVSVtTXLFRVDSDUWLUGRFRQKHFLPHQWRGHVWHVSHOD
WFKrQRYDFRQFHSomRQHXUDOGRSVtTXLFROHYRXjHOLPLQDomRGD consciência. Sem essa pressuposição de processos neurais
vontade consciente e à substituição dos princípios explicativos com características psíquicas, o inconsciente se mostraria ou
derivados da consciência de si e dos outros pelos princípios desprovido das características dos fenômenos psíquicos, ou tão
H[SOLFDWLYRV GD ¿VLRORJLD UHÀH[R H[FLWDomR LQLELomR HWF  dependente dessas que seria impossível concebê-lo como consti-
Conceito freudiano de inconsciente 33

tuído por processos naturais. Mais ainda, e principalmente, essa XPDEXVFDGHWDOLVRPRU¿VPRQDWHQWDWLYDGHFRQVWUXomRWHyULFD


dependência das características dos fenômenos psíquicos, tais do Projeto3RURXWURODGRHVVDSRVLomRMiKDYLDVLGRFULWLFDGD
como se mostram à nossa consciência, impediria a concepção SHORSUySULRDXWRUHPVXDPRQRJUD¿DVREUHDVDIDVLDV³8PDWDO
de processos inconscientes possuidores de algumas, mas não de WUDQVSRVLomR>VHULD@pFODURWRWDOPHQWHLQMXVWL¿FDGD$VSURSULHGD-
outras, dessas características, o que caracteriza, precisamente, GHVGHVVDPRGL¿FDomR>¿VLROyJLFDSURGX]LGDSRUXPDH[FLWDomR@
os processos do sistema do inconsciente propostos, de forma GHYHPVHUGH¿QLGDVSRUHODVPHVPDVHLQGHSHQGHQWHPHQWHGHVHX
inovadora, pela teoria psicanalítica. correlato psicológico” (Freud, 1891/1983, pp. 105-106)..
Outros autores podiam, com maior facilidade, colocar uma 6HMDFRPRIRURLPSRUWDQWHpTXHQDHODERUDomRGRProje-
seqüência inconsciente de UHÀH[RV no lugar de um pensamento to, o que Freud requer dos processos neurais responsáveis pela
consciente, do que imaginar um pensamento (propriamente dito) atividade psíquica é um grau de complexidade, uma estrutura
como realidade neural. Ora, o substrato neural de um pensamento HXPDGLUHFLRQDOLGDGHTXHVHMDPVX¿FLHQWHVSDUDGDUFRQWDGH
FRQVFLHQWHSDUD)UHXGQmRpXPDVHTrQFLDGHUHÀH[RVPDV SURFHVVRVFRPRRGHVHMRRSHQVDPHQWRDDWHQomRRVDIHWRV
sim, como podemos constatar com especial clareza no Projeto etc., sem pretender reduzi-los a meros processos de associações
de uma psicologia, um verdadeiro pensamento neural (voltarei de sensações.
a esse ponto na próxima seção).
2GHVHMRHRSHQVDPHQWRQDQHXURSVLFRORJLDKLSRWpWLFDGR
9iULRV DXWRUHV Mi KDYLDP SURSRVWR D LGpLD GH SURFHVVRV
3URMHWR
¿VLROyJLFRVSRVVXLGRUHVGHFDUDFWHUtVWLFDVGRSVtTXLFR(PDO-
JXQVFRPR3ÀJHU/HZHV+HULQJ FLWDGRVSRU*DXFKHW  O primeiro passo inferencial descrito acima pode ser ilustra-
ou Butler (1880/1920), a extensão de atributos psíquicos aos GRSHODVKLSyWHVHVVREUHRGHVHMRHVREUHRSHQVDPHQWRSUHVHQWHV
5
UHÀH[RV¿VLROyJLFRVRXDWpPHVPRjPDWpULDLQDQLPDGDOHYDYD no Projeto. 2GHVHMRVXS}HXPDDVVRFLDomRFRPSOH[DHQWUH  
HQWUHWDQWR D XPD SHUGD GH HVSHFL¿FLGDGH GR SVtTXLFR 'L]HU HQFKLPHQWRGRVQHXU{QLRVGRQ~FOHRGRVLVWHPDSVLFROyJLFRD
TXHRVUHÀH[RVPHGXODUHVWrPFDUDFWHUtVWLFDVDGDSWDWLYDVTXH partir da fonte pulsional, e sua descarga por ocasião da vivência
manifestam uma sensibilidade e uma vontade é, sem dúvida, GHVDWLVIDomR  LQYHVWLPHQWRGRVQHXU{QLRVUHVSRQViYHLVSHOD
propor um “psíquico” inconsciente, mas não concorre muito SHUFHSomR HSHODOHPEUDQoD GRREMHWRSUHVHQWHQRPRPHQWR
com a concepção de um inconsciente verdadeiramente psíquico, GHVVDYLYrQFLD  LQYHVWLPHQWRGRVQHXU{QLRVUHVSRQViYHLVSHOD
TXHUGL]HUGHXPGRPtQLRQRYRTXHHVWHMDDRPHVPRWHPSRIRUD SHUFHSomR HSHODOHPEUDQoD GRPRYLPHQWRUHÀH[RTXHSHUPLWLX
GRFDPSRGRVUHÀH[RVHIRUDGRTXHPRVWUDDFRQVFLrQFLD2 DVXVSHQVmRGRHVWtPXORHQGyJHQR )UHXGS
PHVPRVHDSOLFDDGL]HUFRP+HULQJH%XWOHUTXHDPHPyULDp  8PQRYRHVWDGRGHWHQVmRSXOVLRQDOSURGX]LUi
uma característica de toda a matéria. QmR VRPHQWH R LQYHVWLPHQWR GD UHSUHVHQWDomR GR REMHWR PDV
$LQGDRXWURVDXWRUHVDGPLWLQGRDLGHQWL¿FDomRGRSVtTXLFR também um esforço para percebê-lo (pp. 332-333).
à atividade cerebral, se voltaram para a psicologia associativa 7HPRV DVVLP RV HTXLYDOHQWHV ¿VLROyJLFRV GH WRGRV RV
para dar conta desse psíquico, pois essa forma de psicologia era HOHPHQWRVH[LJLGRVSRUVXDFRQFHSomRSVLFROyJLFDGRGHVHMR
FHUWDPHQWHDTXHPHOKRUVHDGDSWDYDDXPDLGHQWL¿FDomRFRP DUHSUHVHQWDomRGRREMHWRGHVHMDGRDWHQGrQFLDDVHDSUR[LPDU
RVSURFHVVRVQHXUR¿VLROyJLFRVFRQKHFLGRVQDpSRFDLVWRpFRP dele, a exigência de percebê-lo e a representação da atividade
RVUHÀH[RV$VVLP0H\QHUW TXHIRLSURIHVVRUGH)UHXG SRU TXHSRGHWUD]HURSUD]HUSUHYLVWR(OHQmR¿FDUHGX]LGRDXPD
H[HPSORHVFUHYLDHP simples associação de sensações.
Freud também apresenta, no Projeto, toda uma teoria
Imaginemos que o córtex é uma tabula rasa, e apresentemos
QHXUR¿VLROyJLFDGRSHQVDPHQWRTXHHYRFDUHPRVPXLWREUHYH-
a ele um fenômeno que (...) estimula duas áreas distintas do
PHQWH2GHVHMRSURYRFDRLQYHVWLPHQWRGHXPDUHSUHVHQWDomR
córtex (...) as duas imagens registradas se associam e, sempre
GHREMHWRPDVHVVHLQYHVWLPHQWRVHID]FRPXPDTXDQWLGDGH
que uma delas é re-excitada, a excitação vai se estender através
PHQRUTXHQmROHYDjDOXFLQDomR )UHXGSS
GDV ¿EUDV DVVRFLDWLYDV SDUD DV RXWUDV FpOXODV   0H\QHUW
 (VVDUHGXomRTXDQWLWDWLYDpRUHVXOWDGRGHXPDLQLELomR
FLWDGRSRU$PDFKHUS
efetuada pelo eu (,FK), concebido como um grupo de neurônios
&RPRREVHUYD$PDFKHU S DSVLFRORJLDDVVR- FRQVWDQWHPHQWHLQYHVWLGR S 6HRLQYHVWLPHQWRGHGHVHMR
ciacionista tendia a eliminar as faculdades psicológicas, como a corresponde ao investimento dos neurônios a+b e o investimento
razão, a vontade, etc., reduzindo os processos psíquicos à com- perceptivo ao investimento dos neurônios a+c, o pensamento

binação de sensações. 3RGHVHFRQVWDWDUTXHRSUySULR)UHXG VHUiRSURFHVVRTXHEXVFDUiXPFDPLQKRTXHOHYHGHc a b (p.
HPDOJXPDVSDVVDJHQVUHQGHKRPHQDJHPDRDVVRFLDFLRQLVPR  (VVHFDPLQKRVHUiGHWHUPLQDGRQmRVRPHQWHSHODVIDFL-
PDV VHP MDPDLV OLPLWDU RV SURFHVVRV SVtTXLFRV D DVVRFLDo}HV litações, mas também pela representação-alvo (Ziel  S 
entre sensações. O neurônio b, que corresponde a esse alvo, exerce uma atração
Ao contrário desses autores, Freud supôs a existência de um sobre o deslocamento da quantidade.
campo próprio de processos neurais possuindo plenamente as 3HUFHEHPRVTXHRDXWRULPDJLQDXPSURFHVVRQHXUDOTXH
características do psíquico. Quando digo que Freud postulou a VHMDRHTXLYDOHQWHGRIDWRSVLFROyJLFRGHTXHQRVVRSHQVDPHQWR
H[LVWrQFLDGHSURFHVVRV¿VLROyJLFRVSRVVXLGRUHVGDVFDUDFWHUtVWLFDV SUiWLFRpJXLDGRSRUXPDOYR1mRVHGLVSXQKDDLQGDGRFRQFHLWR
do psíquico, isso não implica necessariamente na suposição de um sistêmico de processos teleonômicos, mas vemos que a limitação
LVRPRU¿VPRHQWUHSURFHVVRV¿VLROyJLFRVHDDSDUrQFLDTXHWrPRV de evitar a todo custo um pensamento teleológico em relação
IHQ{PHQRVSVtTXLFRVSDUDDFRQVFLrQFLD3RGHPRVpYHUGDGHYHU aos fenômenos naturais não vale para Freud. Algumas vezes,
34 G.Gomes

será mesmo preciso ir contra as facilitações presentes (Freud, SRVVtYHO IDODU HP UHSUHVHQWDo}HV SHQVDPHQWRV H GHVHMRV QmR
S HpReu que tornará isso possível (p. conscientes. Como, nessa etapa, são pensados processos não
 9HUL¿FDPRVTXHQmRVmRVLPSOHVUHÀH[RVRXDVVRFLDo}HV conscientes que têm as mesmas propriedades dos processos
que vêm tomar o lugar do pensamento. Ao contrário, Freud se FRQVFLHQWHVWHPRVDTXLRVSURFHVVRVFKDPDGRVSRU)UHXGGH
esforça para construir um modelo neural do pensamento que pré-conscientes. (Segundo passo inferencial).
possa representar as características psicológicas do próprio pen- 3RGHVHSHUFHEHUDTXLTXHDFRQFHSomRSVLFRQHXUDOQmRpGH
VDPHQWR WDOFRPRHOHQRVpGDGRDFRQKHFHUSHODFRQVFLrQFLD todo indispensável a esse segundo passo inferencial, que pode
mas nem por isso limitando-o ao que essa revela). VHUMXVWL¿FDGRXQLFDPHQWHSHODWHRULDGDFRQVFLrQFLD7RGDYLD
essa concepção o torna mais fácil de realizar.
O papel da consciência nos processos psíquicos Em relação a esse segundo passo, podemos relembrar esta
É preciso considerar também qual é a teoria freudiana da passagem do Projeto
consciência. Isso importa, aqui, pois o problema mente-cérebro
7UDWDPRVRVSURFHVVRVSVtTXLFRVFRPRDOJRTXHSRGHULDGLV-
é antes de tudo o problema mente consciente-cérebro (Gomes,
SHQVDU HVVH FRQKHFLPHQWR SHOD FRQVFLrQFLD DOJR TXH H[LVWH
1995). É só secundariamente que se coloca o problema da relação
independentemente dela. Estamos preparados para descobrir
entre o psíquico inconsciente e o cérebro. Duas concepções sobre
TXHDOJXPDVGHQRVVDVVXSRVLo}HVQmRVmRFRQ¿UPDGDVSHOD
DFRQVFLrQFLDSRGHPVHURSRVWDV8PDFRQVLGHUDTXHDTXDOLGDGH
consciência. Se não nos deixarmos cair em erro nisso, eis o que
da consciência é intrínseca a todos os processos psíquicos. Mes-
VHVHJXHjSUHVVXSRVLomRGHTXHDFRQVFLrQFLDQmRGiXPFRQKH-
mo se restringirmos essa tese a uma parte somente dos processos
FLPHQWRFRPSOHWRQHPGLJQRGHFRQ¿DQoDVREUHRVSURFHVVRV
psíquicos, o importante aqui é ser a consciência considerada por
QHXURQDLVHVVHVSURFHVVRVGHYHPVHUFRQVLGHUDGRVGHLQtFLRH
esse ponto de vista como intrínseca a eles. A outra concepção
em toda sua extensão, como inconscientes, e devem ser inferidos
considera que a consciência é um evento mental distinto, que
FRPRRXWUDVFRLVDVQDWXUDLV )UHXGS 
WHPFHUWRVSURFHVVRVSVtTXLFRVFRPRVHXREMHWReSRUWDQWR
uma propriedade relacional (pois envolve a relação entre dois Isso quer dizer que mesmo os processos psíquicos que são
HVWDGRVPHQWDLV HQmRXPDSURSULHGDGHLQWUtQVHFD 5RVHQWKDO REMHWRGDFRQVFLrQFLDVmRFRQFHELGRVFRPRWHQGRXPDQDWXUH]D
*RPHV (VWDVHJXQGDFRQFHSomRpVHPG~YLGDD TXHQmRpQHPFRPSOHWDPHQWHQHPFHUWDPHQWHFRQKHFLGDSHOD
de Freud (Gomes, 2003). consciência.
-DPHV6WUDFKH\DFUHVFHQWDXPDQRWDQRSRQWRFRUUHVSRQ-
a consciência (...) é excitável (...) a partir (...) do sistema da per-
dente da Standard Edition (Freud, 1950/1966b, p. 308), dizendo
FHSomRHPSULPHLUDOLQKDHHPVHJXLGDDSDUWLUGDVH[FLWDo}HV
TXHD~OWLPDD¿UPDomRGDSDVVDJHPFLWDGDUHIHUHVHD³HQWLGDGHV
de prazer e desprazer (...) Mas (...) a consciência (...) tornou-se
¿VLROyJLFDV” e que será preciso um certo tempo para que o autor
também um órgão sensorial para uma parte de nossos processos
possa repeti-la, em A interpretação dos sonhos (1900/1982a, p.
GRSHQVDPHQWR )UHXGDS 
580), em relação a “eventos psíquicos´2UD¿FDFODURTXHp
5RVHQWKDO S REVHUYDTXHHVVDFRQFHSomRQmR XPDFRQFHSomRGXDOLVWDTXHLPSHGH6WUDFKH\GHYHUTXH)UHXG
implica necessariamente numa teoria materialista do psíquico. Mi IDOD DTXL GH HYHQWRV SVtTXLFRV ± OHPEUHPRV R LQtFLR GD
Mas ela se adapta bem à tese da identidade psiconeural, ou dos SUySULDSDVVDJHPFLWDGD³7UDWDPRVRVSURFHVVRVSVtTXLFRV´
dois aspectos. 3RGHPRVOHPEUDUWDPEpPTXHHPRXWUDSDVVDJHPGRProjeto
Se queremos de fato estimar o papel da concepção de Freud )UHXGSS HOHHVFUHYH³SURFHVVRDQtPLFR

sobre a relação mente-cérebro na gênese do conceito psicana- ¿VLROyJLFR´ ³SK\VLRORJLVFKHU 6HHOHQYRUJDQJ”) – o que para
lítico de inconsciente, devemos relacionar essa concepção com outros seria uma contradictio in adjecto.
sua teoria da consciência. Se a consciência inclui a percepção Vimos que a concepção psiconeural não é, em realidade,
GHSURFHVVRVSVtTXLFRVTXHFRUUHVSRQGHPDSURFHVVRVQHXUR¿- indispensável ao segundo passo inferencial, se bem que o
VLROyJLFRVHQWmRHVVHVSURFHVVRVQHXUR¿VLROyJLFRVGHYHPSRGHU torne mais natural. É preciso, entretanto, que os processos não
dar conta da complexidade dos processos psíquicos percebidos FRQVFLHQWHVDRVTXDLVFKHJDPRVVHMDPSHQVDGRVHPWHUPRVGH
pela consciência. Isso quer dizer que categorias psicológicas de- VHXVXEVWUDWRQHXUDOSDUDSRGHUDFHGHUDRWHUFHLURSDVVR3DUD
ULYDGDVGDFRQVFLrQFLDGHVLPHVPR GHVHMRDIHWRSHQVDPHQWR essa terceira etapa lógica, assim como para a primeira, essa
etc.) devem ser, numa certa medida, aceitas e não consideradas concepção será fundamental. É a possibilidade de pensar os
FRPRSXUDPHQWHLOXVyULDVHTXHVHGHYHVXSRUTXHRVSURFHV- processos psíquicos em termos de algo que não é puramente
VRV QHXUR¿VLROyJLFRV TXH VmR VHX IXQGDPHQWRGHYDPSRVVXLU SVtTXLFRPDVWDPEpP¿VLROyJLFRTXHGDUiD)UHXGDOLEHUGDGH
PHFDQLVPRVGHXPDFRPSOH[LGDGHVX¿FLHQWHSDUDMXVWL¿FiODV de pensar a possibilidade de processos psíquicos que, além do
mesmo se essa complexidade ultrapassa largamente o que é fato de não serem conscientes, não têm todas as características
FRQKHFLGRSHODQHXUR¿VLRORJLDGHVHXWHPSR 3ULPHLURSDVVR GRVIHQ{PHQRVSVtTXLFRVDRVTXDLVHVWDPRVKDELWXDGRV3URFHV-
inferencial descrito acima). sos que, ao contrário, têm propriedades bem diferentes, mesmo
Como a consciência não é uma qualidade inerente aos pro- FRQVHUYDQGRDFDUDFWHUtVWLFDGHVHUHPSVtTXLFRVRXVHMDQmRVH
cessos psíquicos que são conscientes, mas sim uma percepção UHGX]LQGRDRVVLPSOHVPHFDQLVPRVUHÀH[RVGDQHXUR¿VLRORJLD
desses processos, torna-se natural imaginar que os processos GHVXDpSRFD2IDWRGHTXHHVWDHUDLQVX¿FLHQWHSDUDVXDVQH-
percebidos pela consciência possam também ocorrer sem serem FHVVLGDGHVRREULJRXDLQYHQWDUXPDQHXUR¿VLRORJLD RProjeto)
6
percebidos. A consciência torna-se, assim, contingente, e será TXHPXLWRVSRGHPTXDOL¿FDUFRPR¿FFLRQDO0DVDGLVWkQFLD
Conceito freudiano de inconsciente 35

GHVVDWHRULDHPUHODomRjQHXUR¿VLRORJLDSURSULDPHQWHGLWDQmR  /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 


deveria nos impedir de constatar que seu criador não poderia ter )UHXG6 E 7KUHHHVVD\VRQWKH7KHRU\RI6H[XDOLW\,QStandard Edi-
dispensado a formulação neural para desenvolver os conceitos tion YRO  SS   /RQGUHV +RJDUWK 7H[WR RULJLQDO SXEOLFDGR
em 1905)
que desenvolveu.
)UHXG6  %H\RQGWKHSOHDVXUHSULQFLSOH,QStandard Edition, vol. 18 (pp.
Conclusão  /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
)UHXG 6 D $SSHQGL[ % ,Q Standard Edition YRO  SS  
3RGHPRVYHUL¿FDUTXHHVVDIRUPXODomRQHXUDOQmRIRLXPD /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
simples linguagem metafórica, uma simples roupagem da teo- )UHXG6 E 0RXUQLQJDQGPHODQFKROLD,QStandard EditionYRO SS
ULDXPVLPSOHVUHVtGXRGHKiELWRVGHSHQVDPHQWRDQWHULRUHV  /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
como muitas vezes se considera, mas, na verdade, a condição )UHXG6  -RNHVDQGWKHLUUHODWLRQWRWKHXQFRQVFLRXV,QStandard Edition,
de possibilidade de pensar os processos do inconsciente. O YRO SS /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
FRQMXQWRGHSUHVVXSRVWRVWHyULFRVHPHWDWHyULFRVSUHVHQWHVQR )UHXG 6 D  3UHIDFH WR WKH 7UDQVODWLRQ RI %HUQKHLP¶V µ6XJJHVWLRQ¶ ,Q
Projeto constituíram a incubadora na qual pôde ser gestada a Standard Edition YRO  SS   /RQGUHV +RJDUWK 7H[WR RULJLQDO
teoria psicanalítica. publicado em 1888)
'HSRLVRDXWRUS{GHGHL[DUGHODGRDVKLSyWHVHVHVSHFt¿FDV )UHXG6 E 3URMHFWIRUDVFLHQWL¿FSV\FKRORJ\,QStandard Edition, vol. 1
VREUHRVPHFDQLVPRVQHXUR¿VLROyJLFRVUHVSRQViYHLVSHORVSUR- SS /RQGUHV+RJDUWK 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
)UHXG6 D 'LH7UDXPGHXWXQJ,QStudienausgabeYRO SS 
cessos psíquicos, que desenvolveu nessa obra, por ele repudiada.
)UDQNIXUWDP0DLQ)LVFKHU 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
0DQWHYHHQWUHWDQWRDPDLRULDGDVKLSyWHVHVTXHDtSURS{VVREUH
)UHXG6 E 7ULHEHXQG7ULHEVFKLFNVDOH,QStudienausgabeYRO SS
a natureza desses processos, postulando mecanismos de um
 )UDQNIXUWDP0DLQ)LVFKHU 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
DSDUHOKRSVtTXLFRWHyULFRQmRUHIHULGRDPHFDQLVPRVQHXUR¿- )UHXG 6 F  'DV 8QEHZXVVWH ,Q Studienausgabe, vol. 3 (pp. 119-162).
VLROyJLFRVHVSHFt¿FRV1HPSRULVVRDEDQGRQRXDFRQFHSomRGH )UDQNIXUWDP0DLQ)LVFKHU 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
XPIXQGDPHQWRQDWXUDOHQHXUDO±HPERUDDEHUWRjVLQÀXrQFLDV )UHXG6  &RQWULEXWLRQjODFRQFHSWLRQGHVDSKDVLHV3DULV3UHVVHV8QL-
FXOWXUDLV±GHVVHDSDUHOKR *RPHV 3UHWHQGRWHUGHPRQV- YHUVLWDLUHVGH)UDQFH 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP 
trado que, sem essa concepção neural, não teria sido possível )UHXG6  (QWZXUIHLQHU3V\FKRORJLH,QGesammelte Werke, Nachtrags-
para Freud criar e desenvolver sua teoria do inconsciente. band SS )UDQNIXUWDP0DLQ)LVFKHU 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGR
em 1950)
)UHXG6  /HPDODLVHGDQVODFXOWXUH,QOeuvres complètes3V\FKDQDO\VH
Referências YRO SS 3DULV3UHVVHV8QLYHUVLWDLUHVGH)UDQFH 7H[WRRULJLQDO
$$PDFKHU3  )UHXG¶VQHXURORJLFDOHGXFDWLRQDQGLWVLQÀXHQFHRQSV\- publicado em 1930)
FKRDQDO\WLFWKHRU\3V\FKRORJLFDO,VVXHV,91RYD<RUN,QWHUQDWLRQDO *DXFKHW0  /¶,QFRQVFLHQWFpUpEUDO3DULV6HXLO
8QLYHUVLWLHV3UHVV *RPHV*  6HOIDZDUHQHVVDQGWKHPLQGEUDLQSUREOHPPhilosophical
Butler, S. (1920). 8QFRQVFLRXVPHPRU\/RQGUHV-RQDWKDQ&DSH 7H[WRRULJLQDO 3V\FKRORJ\, 8(2), 155-165.
publicado em 1880) Gomes, G. (2003). A teoria freudiana da consciência. Psicologia: Teoria e Pes-
)UHXG6  $EULVVGHU3V\FKRDQDO\VH,QGesammelte WerkeYRO SS quisa, 19  
 )UDQNIXUWDP0DLQ)LVFKHU 7H[WRRULJLQDOSXEOLFDGRHP  *RPHV*  2SUREOHPDPHQWHFpUHEURHP)UHXG3sicologia: Teoria e
)UHXG6  =XU(LQIKUXQJGHV1DU]LVVPXV,QGesammelte Werke, vol. Pesquisa, 21  
 SS   )UDQNIXUW DP 0DLQ )LVFKHU 7H[WR RULJLQDO SXEOLFDGR 5RVHQWKDO'0  7ZRFRQFHSWVRIFRQVFLRXVQHVVPhilosophical Studies,
HP  
)UHXG6 D 7KHLQWHUSUHWDWLRQRIGUHDPV,QStandard Edition, vol. 5 (pp. :K\WH//  The unconscious before Freud1RYD<RUN%DVLF%RRNV
36 G.Gomes

Notas
1
$VSDVVDJHQVUHOHYDQWHVWUDGX]LGDVHQFRQWUDPVHHP*RPHV1RSUHVHQWHDUWLJRDVUHIHUrQFLDVD)UHXGIRUDP
feitas pela fonte utilizada em cada caso, dando-se preferência à referência ao original quando este foi confrontado com
as traduções disponíveis. Em alguns casos, em que nem todas as citações foram confrontadas ao original, ou quando foi
IHLWDUHIHUrQFLDDXPDQRWDGRWUDGXWRUWDQWRDWUDGXomRTXDQWRRRULJLQDOIRUDPOLVWDGRVVHQGRDUHIHUrQFLDHVSHFt¿FD
à fonte utilizada no caso. As citações literais foram traduzidas para o português pelo autor. Adotamos a convenção de
indicar a obra pelo ano da publicação original seguido pelo da publicação consultada.
2
$ HVVHV IDWRUHV SRGHUtDPRV DLQGD DFUHVFHQWDU D FRQVLGHUiYHO DWHQomR GDGD SRU DXWRUHV GR VpFXOR ;,; j H[SOLFDomR
SVLFROyJLFDRXQHXUR¿VLROyJLFDGRVVRQKRV9HMDVHDHVWHUHVSHLWRRVQXPHURVRVWUDEDOKRVSXEOLFDGRVQRSHUtRGRGH
DTXHVmRFLWDGRVSRU)UHXG D QRSULPHLURFDStWXOR RXVyQDELEOLRJUD¿D GH$,QWHUSUHWDomR
dos Sonhos.
3
A ausência de negação lógica, de contradição, de temporalidade e de consideração da realidade, nos processos do in-
consciente propriamente dito, é discutida na parte 5 de 2,QFRQVFLHQWH (Freud, 1915/1982c).

0HVPRDVVLPQRTXHGL]UHVSHLWRD0H\QHUWREVHUYHPRVTXHRFRQFHLWRGHUHSUHVHQWDomRDOYRTXHWHUiXPLPSRUWDQWH
SDSHOQDWHRULDIUHXGLDQD )UHXGDFDStWXORSDUWH( MiHVWiSUHVHQWHQHVVHDXWRU FLWDGRSRU$PDFKHU
1965, p. 39).
5
(VWHWUDEDOKRSXEOLFDGRSHODSULPHLUDYH]HP RQ]HDQRVDSyVDPRUWHGRDXWRU IRLUHGLJLGRHP
6
8PSURFHVVRFRQVFLHQWHSDUD)UHXGpXPSURFHVVRSVtTXLFRTXHpSHUFHELGRSHODFRQVFLrQFLD(VWDQmRpSRUWDQWR
algo inerente ao próprio processo, mas algo que se acrescenta a ele.

Lembremos que o autor usa Seele e 3V\FKH, e seelischer e SV\FKLVFKHU, respectivamente, como sinônimos (podendo ser
traduzidos como alma e psique, e anímico e psíquico, respectivamente).

Gilberto GomesGRXWRUHP3VLFRSDWRORJLD)XQGDPHQWDOH3VLFDQiOLVHSHOD8QLYHUVLWp3DULV9,, )UDQoD p


SURIHVVRUDVVRFLDGRQR/DERUDWyULRGH&RJQLomRH/LQJXDJHP8QLYHUVLGDGH(VWDGXDOGR1RUWH)OXPLQHQVH
(QGHUHoRSDUDFRUUHVSRQGrQFLD$Y$OEHUWR/DPHJR&DPSRV5-&(37HOID[  
(PDLOJJRPHV#XHQIEU
5HFHELGRHPMXO
Revisado em 25.out.06
Aceito em 18.dez.06

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