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doi: 10.20513/2447-6595.

2017v57n1p15-18 15

ARTIGO ORIGINAL

WĞƌƐƉĞĐƟǀĂƐĞƉƌŝŶĐŝƉĂŝƐĂůƚĞƌĂĕƁĞƐŶŽ^DͲϱ
WƌŽƐƉĞĐƚƐĂŶĚŬĞLJĐŚĂŶŐĞƐŝŶ^DͲϱ
Janaína Bandeira1. Eugênio de Moura Campos2.
1 Médica, residente de Psiquiatria do Hospital Walter Cantídio (HUWC), Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará,
Brasil. 2 Doutor em Farmacologia, Professor Adjunto de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará,
Brasil.

Z^hDK
Introdução: com o avanço das pesquisas em neurobiologia e a necessidade de optimização dos critérios diagnósticos, a 5ª edição do
0DQXDO'LDJQyVWLFRH(VWDWtVWLFRGH7UDQVWRUQRV0HQWDLV '60 UHDOL]RXLPSRUWDQWHVPXGDQoDVQRPRGRGHFODVVL¿FDUFDWDORJDU
e diagnosticar as doenças mentais. Material e métodos: empreendemos pesquisa de artigos na Pubmed com análises sob diferentes
perspectivas com o propósito de obter uma ampla visão das limitações e conquistas com sua publicação. Desenvolvimento: a nova
HGLomRGRPDQXDOHIHWXRXLQ~PHUDVDOWHUDo}HVHPUHODomRjDQWHULRUFRPRDPXGDQoDGRVLVWHPDGHFODVVL¿FDomRPXOWLD[LDOSDUD
GLPHQVLRQDOD¿PGHPHOKRUDERUGDURVVLQWRPDVFRPRXPcontinuum de intensidade, e a elaboração de critérios com maior
HVSHFL¿FLGDGH SDUD UHGX]LU RV GLDJQyVWLFRV ³VHP RXWUD HVSHFL¿FDomR´ 3RU ¿P FLWDPRV R SURMHWR Research Domain Criteria
Project (RDoC)UHVVDOWDQGRRFRQWH[WRHRVPRWLYRVGHVXDFULDomRHPWRUQRGR'60Conclusão: a atualização conseguiu
apenas parcialmente seu objetivo de adotar amplamente o sistema dimensional e não obteve sucesso em incluir critérios genéticos
ou neurobiológicos. Contudo, sua possibilidade de contínua revisão possibilita que seja renovada de acordo com as descobertas
relevantes.

Palavras-chave: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Transtornos mentais. Psicopatologia.

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Introduction: ZLWK WKH DGYDQFHPHQW RI UHVHDUFK LQ QHXURELRORJ\ DQG WKH QHHG IRU RSWLPL]DWLRQ RI GLDJQRVWLF FULWHULD WKH WK
HGLWLRQ RI WKH 'LDJQRVWLF DQG 6WDWLVWLFDO 0DQXDO RI 0HQWDO 'LVRUGHUV '60  PDGH LPSRUWDQW FKDQJHV LQ RUGHU WR FODVVLI\
catalog and diagnosing mental illness. Methods:XQGHUWDNHUHVHDUFKDUWLFOHVLQ3XEPHGZLWKDQDO\VLVIURPGLIIHUHQWSHUVSHFWLYHV
LQRUGHUWRJHWDEURDGYLHZRIWKHOLPLWDWLRQVDQGDFKLHYHPHQWVZLWKLWVSXEOLFDWLRQDevelopment:WKHQHZHGLWLRQRIWKHPDQXDO
PDGHVHYHUDOFKDQJHVIURPWKHSUHYLRXVRQHOLNHFKDQJLQJWKHPXOWLD[LDOFODVVL¿FDWLRQV\VWHPIRUGLPHQVLRQDOLQRUGHUWREHWWHU
DGGUHVVWKHV\PSWRPVDVDFRQWLQXXPRILQWHQVLW\DQGWKHGHYHORSPHQWRIPRUHVSHFL¿F criteria WRUHGXFHWKHGLDJQRVWLF³QRW
RWKHUZLVHVSHFL¿HG´)LQDOO\ZHPHQWLRQWKH5'R&SURMHFWKLJKOLJKWLQJWKHFRQWH[WDQGWKHUHDVRQVIRULWVFUHDWLRQDURXQGWKH
DSM-5. Conclusion:WKHXSGDWHRQO\SDUWLDOO\DFKLHYHGLWVJRDOWRZLGHO\DGRSWWKHGLPHQVLRQDOV\VWHPDQGZDVQRWVXFFHVVIXOLQ
LQFOXGLQJJHQHWLFRUQHXURELRORJLFDOFULWHULD+RZHYHUWKHLUDELOLW\WRFRQWLQXRXVUHYLHZHQDEOHVLWWREHUHQHZHGLQDFFRUGDQFH
ZLWKWKHUHOHYDQW¿QGLQJV

Keywords:'LDJQRVWLFDQGVWDWLVWLFDOPDQXDORIPHQWDOGLVRUGHUV0HQWDOGLVRUGHUV3V\FKRSDWKRORJ\

Autor correspondente: Janaína Bandeira, Rua Dinamarca 387, Parangaba, Fortaleza, Ceará. CEP: 60710-570. Telefone: +55 85 99936-9695.
E-mail: janabandeira@outlook.com
&RQÀLWRGHLQWHUHVVHV1mRKiTXDOTXHUFRQÀLWRGHLQWHUHVVHVSRUSDUWHGHTXDOTXHUXPGRVDXWRUHV
5HFHELGRHP$EU5HYLVDGRHP$JR$FHLWRHP$JR

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/EdZKhK

Na Psiquiatria, o diagnóstico é tão importante quanto em Estados Unidos um movimento para aperfeiçoar o diagnóstico
qualquer outra área da Medicina. Através dele, permite-se psiquiátrico. Dessa forma, surgiram sistemas baseados em
SUHGL]HUFXUVRSURJQyVWLFRHSODQHMDUOLQKDVGHWUDWDPHQWRD WD[RQRPLDRXVHMDVLVWHPDVGHFODVVL¿FDomRFLHQWt¿FDEDVHDGRV
curto e médio prazos, além de facilitar a comunicação entre no processo de agrupamento das entidades com características-
psiquiatras e médicos de outras áreas.1 FKDYHTXHFRPSDUWLOKHPGHFRQFHLWRVHPFRPXP3

O uso do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos .UDHSHOLQSRUH[HPSORSURS{VTXHRVTXDGURVSVLFyWLFRVSRGHULDP


Mentais (DSM) é mais frequente na prática clínica nos EUA e em ser diferenciados pela sua psicopatologia e evolução clínica. As
pesquisa. A maioria dos outros países utilizam a&ODVVL¿FDomR FODVVL¿FDo}HVPRGHUQDVFRPRR'60HD&,'VmRFRQVLGHUDGDV
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde ³QHRNUDHSHOLDQDV´SRUVHJXLUHPDVEDVHVGHVVHPRGHOR3
(CID), reservando aquele apenas para pesquisa e publicação
de artigos por ser mais comum ou obrigatório em algumas Ainda, Kraepelin organizava as doenças mentais utilizando
UHYLVWDVFLHQWt¿FDVSULQFLSDOPHQWHQRUWHDPHULFDQDV R VLVWHPD GH FODVVL¿FDomR YHUWLFDO QR TXDO HODV HUDP
KLHUDUTXL]DGDV 6H KRXYHVVH HYLGrQFLDV GH FDXVDV RUJkQLFDV
3XEOLFDGR HP PDLR GH  D  HGLomR GR '60 WURX[H isso suplantaria outras considerações, independente do conjunto
importantes alterações em relação à sua anterior, como mudança de sintomas psiquiátricos que o paciente pudesse apresentar.4
GR VLVWHPD GH FODVVL¿FDomR GDV GRHQoDV GH PXOWLD[LDO SDUD Tal modelo foi responsável por moldar os DSM’s I e II.
categorial-dimensional) e possibilidade de ser continuamente
renovado. Portanto, esse seria o motivo para, a partir de então, 5RELQVH*X]HHPVHXWUDEDOKRGHVXVWHQWDYDPTXHD
ulitizar-se algarismo arábico em vez de romano, pois tem a PHOKRU PDQHLUD GH VH GLDJQRVWLFDU HP 3VLTXLDWULD VHULD SHOR
intenção de ser um documento com atualizações regulares. HVWXGR GD KLVWyULD QDWXUDO GD GRHQoD 3DUD WDQWR FULDUDP 
Possivelmente, teremos DSM’s 5.1 e 5.2 e suas renovações.2 critérios diagnósticos: descrição clínica; testes laboratoriais;
delimitação com outros diagnósticos (através de critérios de
Este estudo é uma revisão literária dos artigos mais impactantes H[FOXVmR HVWXGRVGHDFRPSDQKDPHQWRHKLVWyULFRIDPLOLDU1
TXHIRUDPSXEOLFDGRVDSyVRODQoDPHQWRGR'60HTXHOKH Criticaram a maneira categorial e limitada dos manuais
teceram críticas ou descreveram suas principais mudanças em GLDJQyVWLFRVGDpSRFDFXOPLQDQGRHPPXGDQoDVVLJQL¿FDWLYDV
relação à edição anterior. no DSM subsequente (no caso, a terceira edição), como a
DGRomRGRVLVWHPDPXOWLD[LDOD¿PGHFRQWHPSODURVDVSHFWRV
DdZ/>DdKK^ sociais, cognitivos e funcionais dos pacientes.4

Como ferramenta de busca de periódicos, foi utilizado o sítio +i  WLSRV GH FODVVL¿FDomR GH GRHQoDV XWLOL]DGDV QDV
3XEPHG DWUDYpV GH WHUPRV FRPR ³changes from DSM-IV- diversas áreas da Medicina. O DSM-IV utilizou o sistema
TR to DSM-5´ ³overview of DSM-5 changes´ ³history of GHFODVVL¿FDomRPXOWLD[LDOFRPD¿QDOLGDGHGHSURSRUFLRQDU
'60 FODVVL¿FDWLRQ´ ³DSM-5 criteria´ H ³DSM-5 changes múltiplas visões do funcionamento do paciente e de sua doença,
implications´2VDUWLJRVFRPLQIRUPDo}HVSHUWLQHQWHVDHVVH tendo sido considerado um avanço no diagnóstico psiquiátrico
estudo foram aproveitados para o desenvolvimento do mesmo QD pSRFD &DGD HL[R HUD LQGHSHQGHQWH SRGHQGRVH DERUGDU
e citados na seção de Referências. características como síndrome psiquiátrica, personalidade,
doenças físicas, aspectos psicossociais e funcionais.5
2WUDEDOKRFOiVVLFRGH5RELQVH*X]HGHVREUHFULWpULRV
diagnósticos em psiquiatria, também foi citado devido à sua -iR'60SURS}HDFODVVL¿FDomRGLPHQVLRQDOQDGHVFULomR
importância. GH VXDV SDWRORJLDV 3DUD MXVWL¿FDU R DEDQGRQR GR VLVWHPD
GH FODVVL¿FDomR PXOWLD[LDO SDUD R GLPHQVLRQDO D¿UPD TXH
Ainda, buscamos em livros de psiquiatria clínica sobre HYLGrQFLDVFLHQWt¿FDVDWXDOPHQWHFRORFDPYiULRVWUDQVWRUQRV
D KLVWyULD GRV VLVWHPDV GH FODVVL¿FDomR VHX FRQWH[WR H ou mesmo a sua maioria, em um espectro com transtornos
implicações na prática. intimamente relacionados que apresentam sintomas
FRPSDUWLOKDGRV IDWRUHV GH ULVFR DPELHQWDLV JHQpWLFRV H
^EsK>s/DEdK SRVVLYHOPHQWH VXEVWUDWRV QHXURQDLV FRPSDUWLOKDGRV >@ (P
VXPD UHFRQKHFHPRV TXH RV OLPLWHV HQWUH RV WUDQVWRUQRV VmR
'HVGHD$QWLJXLGDGHWHQWRXVHFULDUVLVWHPDVGHFODVVL¿FDomR mais permeáveis do que se concebia anteriormente.6
GH GRHQoDV PHQWDLV GH IRUPD TXH RV SUR¿VVLRQDLV GH VD~GH
SXGHVVHP VH FRPXQLFDU HQWUH VL SHUPLWLU LGHQWL¿FDU RV FDVRV $VVLP D¿UPD TXH RV LQGLYtGXRV SRGHP DSUHVHQWDU SRXFRV
que mereciam tratamento, direcionar a terapêutica e avaliar a sintomas e estarem no limite da normalidade, ou se encontrarem
gravidade. No início do século XVIII, psiquiatras franceses e entre dois transtornos, como o psicótico e o afetivo, além de
alemães iniciaram uma busca pela etiologia dos transtornos WHUVHWRUQDGRPDLVYDORUL]DGDFRPRDYDQoRGRFRQKHFLPHQWR
mentais na tentativa de encontrar substratos orgânicos para essas acerca dos aspectos dimensionais de mensuração das doenças
patologias. Como as pesquisas foram infrutíferas nessH¿PQR mentais. As avaliações desse modelo estendem-se a outras
¿QDOGRVpFXOR;,;LQLFLRXVHDDGRomRGHFULWpULRVFOtQLFRVSDUD características além dos sintomas, como comportamentos
RGLDJQyVWLFR$OLDGRjH[SDQVmRGDQHXURFLrQFLDLQLFLRXVHQRV desadaptativos, traços temperamentais e alterações da

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funcionalidade. Os sintomas são vistos como um continuum 3DUDTXHR'60SRVVXtVVHXPWDPDQKRPDQHMiYHOHIRVVH


de intensidade, reduzindo a imposição de pontos de corte para ao mesmo tempo, completo e com maior relevância na
um limiar patológico.6 utilidade clínica, foram incluídos escalas e instrumentos de
mensuração mais importantes na versão física, sendo outras
2VLVWHPDPXOWLD[LDOIRLDEDQGRQDGRHPUD]mRGHVHUSRXFR disponíveis on-line (ZZZSV\FKLDWU\RUJGVP).
utilizado na prática clínica e devido ao avanço de ferramentas
que avaliam longitudinalmente os sintomas e o aspecto clínico Quanto às críticas à atual edição, vários aspectos precisam
do paciente,6 tornando o sistema dimensional supostamente VHU H[SODQDGRV 3RU H[HPSOR D DPSOD DGRomR GR VLVWHPD
mais adequado atualmente. dimensional em todo o manual não foi possível por razões
pragmáticas, mas também por preocupações com possíveis
No sistema categorial, utilizado tradicionalmente nas demais incompatibilidades com os guidelines já publicados até então e
iUHDVGD0HGLFLQDKiDGRomRGHOLPLWHVHQWUHVD~GHHGRHQoD as licenças do uso de determinadas substâncias. Dessa forma,
normalidade e subnormalidade. Pela descrição concreta das o sistema categorial foi aplicado nesses casos. A abordagem
doenças, torna-se mais fácil realizar o diagnóstico, tornando-o multidimensional do DSM-5 é bastante modesta e pouco
PDLVDFHLWRHQWUHRVSUR¿VVLRQDLVGHVD~GHGHYLGRà facilidade VR¿VWLFDGDDSHVDUGDdisponibilidade de escalas psicométricas.3
do seu uso (porém, bastante limitada ao ignorar quadros de
subnormalidade e ser pouco útil na avaliação da gravidade e A maioria dos psiquiatras julgaram a adoção da
prognóstico).5 dimensionalidade prematura e pouco desenvolvida até então,
R TXH SRGH FRPSURPHWHU VXD DFHLWDomR QR PHLR FLHQWt¿FR H
1R '60 D RUJDQL]DomR GRV FDStWXORV UHÀHWH PHOKRU XPD levá-la ao fracasso.10
DERUGDJHP FURQROyJLFD GR FLFOR YLWDO ¿JXUDQGR R FDStWXOR
de transtornos mentais mais comuns na infância/adolescência O Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos
inicialmente, e os transtornos neurocognitivos, mais vistos 1,0+ XPGRVSULQFLSDLV¿QDQFLDGRUHVQHVVDiUHDGHSHVTXLVD
QDLGDGHDGXOWDQR¿PGRPDQXDO6 Fatores de risco genético GRSDtVDEDQGRQRXR¿FLDOPHQWHR'60GXDVVHPDQDVDQWHV
H ¿VLROyJLFRV H LQGLFDGRUHV SURJQyVWLFRV HQFRQWUDPVH GHVHUSXEOLFDGR2SUHVLGHQWH7KRPDV,QVHOSXEOLFRXQRVLWH
HP GHVWDTXH QR WH[WR (VSHFL¿FDGRUHV SDUD GHWHUPLQDGDV GR LQVWLWXWR HP  GH DEULO GH 11 Enquanto o DSM está
patologias foram acrescentados, de forma a evitar que múltiplos VHQGRIDODGRFRPRXPDµEtEOLD¶QDiUHDQmRSDVVDQDPHOKRU
GLDJQyVWLFRV IRVVHP UHDOL]DGRV FRPR R HVSHFL¿FDGRU ³FRP GDV KLSyWHVHV GH XP GLFLRQiULR FULDQGR GHQRPLQDo}HV H
VLQWRPDVDQVLRVRV´SDUDRWUDQVWRUQRGHSUHVVLYRPDLRU GHVFUHYHQGRFDGDXPDGHODV2UHFRQKHFLPHQWRGDVHGLo}HVWHP
VHEDVHDGRQDFRQ¿DQoDGLDJQyVWLFD±FDGDXPDVHDVVHJXUDYD
3DUD RV GH SHUVRQDOLGDGH FKHJDUDP j FRQFOXVmR GH TXH VmR que os clínicos usavam os mesmos termos nas mesmas situações.
PHOKRUUHSUHVHQWDGRVFRPRXPcontinuum, pois o normal e o $IUDJLOLGDGHQHVWDHGLomRpQDIDOWDGHFRQ¿DELOLGDGH'LIHUHQWH
anormal não são muito distintos.8 Assim, o HL[R II do antigo de doenças como doença cardíaca isquêmica, linfoma ou AIDS,
DSM-IV foi dissolvido entre as seções I e III da atual edição os diagnósticos do DSM são baseados em um consenso de
SRUQmRKDYHUEDVHELROyJLFDSVLFRPpWULFDRXSVLFROyJLFDTXH grupos de sintomas, não em mensurações laboratoriais ou de
MXVWL¿FDVVHVXDVHSDUDomRGRVGHPDLV imagem objetivas. No resto da Medicina, isso seria equivalente
a criar sistemas diagnósticos baseados na dor torácica ou
$LQGDUHGX]LXRQ~PHURGHFDVRV³VHPRXWUDHVSHFL¿FDomR´ na intensidade da febre. De fato, essa tradição, comum nas
DR FULDU FULWpULRV GLDJQyVWLFRV FRP PDLRU HVSHFL¿FLGDGH$V demais áreas da Medicina, foi abandonada nos últimos 50 anos
HGLo}HV DQWHULRUHV FRQFHQWUDYDPVH HP H[FOXLU diagnósticos por concluírem que apenas os sintomas raramente indicam a
IDOVRSRVLWLYRV WRUQDQGR DV FDWHJRULDV H[WUHPDPHQWH PHOKRURSomRWHUDSrXWLFDSDUDDTXHOHWUDQVWRUQR3DFLHQWHVFRP
UHVWULWDVHDQHFHVVLGDGHGLIXQGLGDGRGLDJQyVWLFR³VHPRXWUD transtornos mentais merecem mais. O NIMH lançou o Research
HVSHFL¿FDomR´6HJXLQGRFRQWUDRÀX[RGDVHGLo}HVDQWHULRUHV Domain Criteria Project (RDoC) para transformar o diagnóstico
DVGH¿QLo}HVSDUDDVGLIHUHQWHVGRHQoDVIRUDPUHGX]LGDVFRP DRLQFRUSRUDUDVSHFWRVJHQpWLFRVH[DPHVGHLPDJHPFLrQFLD
RLQWXLWRGHPHOKRUVHDGDSWDUjFODVVL¿FDomRGLPHQVLRQDOHP cognitiva e outras fontes de informação para um novo sistema
YH]GDPXOWLD[LDO6 GHFODVVL¿FDomR>7UDGXomRGDDXWRUD@
$OpP GLVVR R '60 WHP D SURSRVWD GH DOLQKDUVH FRP D Dr. David Kupfer, presidente do grupo responsável pela
ainda inédita CID-11, que tem data prevista de lançamento criação do DSM-5, admitiu que atualmente não temos
em 2016. Ambos foram progressivamente desenvolvidos em FRQKHFLPHQWRQHXURFLHQWt¿FRHELROyJLFRVX¿FLHQWHVDSRQWR
SDUDOHOR FRP PXLWRV SHVTXLVDGRUHV WUDEDOKDQGR HP DPERV de serem incorporados como critérios diagnósticos.12 Dessa
os projetos.3 A maioria das discrepâncias mais proeminentes forma, uma das propostas do RDoC, ainda a ser lançado, é
entre DVFODVVL¿FDo}HVQmRUHÀHWHGLIHUHQoDVFLHQWt¿FDVUHDLVH ampliar o aspecto dimensional, subutilizado até então nos
VLPVXESURGXWRVKLVWyULFRVGHSURFHVVRVGHFRPLWrVGLIHUHQWHV manuais já lançados, através da psicopatologia dos transtornos
É importante salientar que o DSM é usado amplamente como mentais e de suas vias neurobiológicas.
ferramenta diagnóstica nos Estados Unidos, apesar de, por
motivos de lei e seguridade, adotarem ainda a CID-10 para Ainda, em relação aos manuais em vigor, ao descreverem as
essas funções. InfelizmHQWH D VHPHOKDQoD HQWUH RV PDQXDLV doenças através apenas de sinais e sintomas, os mecanismos
é pobre, motivo pelo qual lutou-se para que suas disparidades disfuncionais não são adequadamente valorizados, e, portanto, não
sejam reduzidas a partir do lançamento da nova edição da CID. KiHVWXGRVSDUDQRYRVWUDWDPHQWRVGLUHFLRQDGRVDHOHVÀ vista disso,

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R1,0+ODQoDRSURMHWR5'R&D¿PGHFULDUHVWUXWXUDVHPDQHLUDV qXDGURFOtQLFRHFXUVRGDGRHQoDFRPUDUDVH[FHo}HV0HVPR
GH HVWXGDU D ¿VLRSDWRORJLD GRV WUDQVWRUQRV PHQWDLV IRFDQGR QRV os marcadores mais estudados, como os relacionados à proteína
DVSHFWRV JHQpWLFRV H QHXURFLHQWt¿FRV13 uma vez que um dos beta-amiloide na GRHQoDGH$O]KHLPHUQmRWrPEDVHVX¿FLHQWH
grandes defeitos dos manuais DSM/CID é falta de validade.14 SDUDVHUHPDGLFLRQDGRVDRVFULWpULRVQHFHVViULRVRXVX¿FLHQWHV

Ambos se tornaram padrões para a prática clínica, para a Contudo, é possível, em alguns diagnósticos, realizar
SXEOLFDomR LQWHUQDFLRQDO GH DUWLJRV FLHQWt¿FRV DOpP GH JXLD avaliações quanto à severidade e ao impacto funcional
para processos administrativos, previdenciários e legais. provocado pela doença através de questionários dimensionais.
Consequentemente, mudanças substanciais nos seus critérios
diagnósticos teriam grandes repercussões em agências públicas 2 IDWR GH PXLWDV H[SHFWDWLYDV SDUD D DWXDO HGLomR GR '60
e privadas, acarretando uma enorme resistência em alterações QmR WHUHP VLGR VDWLVIHLWDV GHPRQVWUD TXH XPD FODVVL¿FDomR
estruturais,12 todavia necessárias para maiores avanços na baseada principalmente em neurobiologia ainda é impossível
abordagem e tratamento dos transtornos e adequação às atuais SHODV OLPLWDo}HV GR FRQKHFLPHQWR FLHQWt¿FR DWXDO PHVPR
necessidades nos campos da pesquisa e da saúde pública. DSyVJUDQGHVHVIRUoRVGRFRPLWrGR'60SDUDHVVH¿P,VVR
evidencia que as descobertas nesse campo ainda se encontram
No momento, o RDoC não tem o objetivo de ser um novo em ritmo lento, e muito ainda deve ser estudado e validado
PDQXDO FODVVL¿FDWyULR GH WUDQVWRUQRV PHQWDLV PDV VLP XPD para que possa ser utilizado nos manuais diagnósticos.
PDQHLUD GH DX[LOLDU SHVTXLVDGRUHV SDUD HIHWXDUHP PXGDQoDV
QRVMiH[LVWHntes.12 Essa proposta vai de acordo com o DSM- De maneira geral, apenas alguns passos foram feitos em
 VHU XP ³GRFXPHQWR YLYR´ HP SURFHVVR FRQVWDQWH GH GLUHomRjPXGDQoDGDFODVVL¿FDomRD[LDOSDUDGLPHQVLRQDOGH
PRGL¿FDo}HVDRFRQWUiULRGHVXDVHGLo}HVDQWHULRUHV14 forma que o DSM-IV foi bastante preservado.

KE^/ZO^&/E/^ Atualmente, não temos outra opção a não ser permanecer com
as abordagens tradicionais orientadas à sintomatologia das
Apesar de todos os esforços, o consorte do DSM-5 não doenças, pelo menos para uso clínico, mas tendo em mente que
conseguiu basear os transtornos mentais em evidências SRVVXHPH[SODQDo}HVOLPLWDGDVHTXHSRGHPQmRUHSUHVHQWDr a
neurobiológicas, permanecendo o diagnóstico fundado no PHOKRUH[SOLFDomRFLHQWt¿FDSDUDDTXHOHWUDQVWRUQR

Z&ZE/^
 )HLJKQHU -3 5RELQV ( *X]H 6% :RRGUXII 5$ -U :LQRNXU * M, at al. DSM-5 reviewed from different angles: goal attainment,
0XQR] 5 'LDJQRVWLF FULWHULD IRU XVH LQ SV\FKLDWULF UHVHDUFK$UFK UDWLRQDOLW\XVHRIHYLGHQFHFRQVHTXHQFHV²SDUWELSRODUGLVRUGHUV
*HQ3V\FKLDWU\   VFKL]RSKUHQLD VSHFWUXP GLVRUGHUV DQ[LHW\ GLVRUGHUV REVHVVLYH
compulsive disorders, trauma- and stressor-related disorders,
2. Kupfer, DJ; Regier, DA. Neuroscience, clinical evidence, and SHUVRQDOLW\ GLVRUGHUV VXEVWDQFHUHODWHG DQG DGGLFWLYH GLVRUGHUV
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2014;10:25-51.
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e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; SV\FKRSDWKRORJ\:RUOG3V\FKLDWU\  ±
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Como citar:
%DQGHLUD-&DPSRV(03HUVSHFWLYDVHSULQFLSDLVDOWHUDo}HVQR'605HY0HG8)&MDQDEU  

Rev Med UFC. 2017;57(1):15-18.

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