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Magón: revolucionário dos pobres

Por Maria Julia Barbosa Pinheiro; 29/05/2023

“POBRES SÃO A FORÇA, NÃO PORQUE SÃO POBRES, MAS PORQUE SÃO A MAIORIA.”, MAGÓN, Ricardo Flores,
por motivo do centenário do início do processo independentista do México, 16 de setembro de 1910, Califórnia –
Estados Unidos.

A fala acima introduz, no livro A história em discursos: 50 discursos que mudaram o Brasil e o mundo; escrito
por Marco Antonio Villa e publicado pela editora Planeta em 2018, o capítulo destinado a Ricardo Flores Magón, um
ativista mexicano cujos ideais e filosofia foram percursores da Revolução Mexicana ocorrida em novembro de 1910.

Em primeiro plano, é valido resumir seu papel na Revolução Mexicana, um movimento armado ocorrido em
1910 que tinha como objetivo formar um governo popular e reformista para acabar com as desigualdades sociais no
México, onde as ideias de Magón e seu irmão foram agrupadas em uma corrente de pensamento anarquista-socialista
chamada Magonismo e embasaram o processo revolucionário mexicano sob os ideais de autoemancipação e
autogoverno. Ademais, pode se caracterizar a vida do ativista mexicano como uma jornada pela defesa de seus ideais
e origens, acabando por ser preso por suas críticas incisivas sobre o governo e tendo passado por um período de exílio
nos estados unidos para desenvolver suas ideias e se proteger da perseguição política. Por conseguinte, no que se
refere à fala escolhida por Villa, o autor da antologia de discursos afirma que Magón transforma o ideário anarquista
em guia de ação política às vésperas do início da Revolução Mexicana, sendo o anarquismo um elemento interpretativo
da história do México.

Em segundo plano, além disto, enquadram-se as palavras de Flores, nas quais ele enaltece de maneira saudosa
a figura de Miguel Hidalgo1, como sendo alguém nobre e heroico que desafiou o despotismo, irradiando admiração
pelo líder do processo de emancipação do país e seu feito.

“Quando as pessoas se conscientizarem de que são mais fortes do que seus dominadores, não haverá mais
tiranos.”

MAGÓN, Ricardo Flores.2

Posteriormente, Magón inicia um processo de convocação aos seus ouvintes, pois – segundo ele – a conquista
da independência concedeu apenas a liberdade política, no entanto seria preciso adquirir também a liberdade
econômica, pois todos ainda estariam limitados ao poder do Capital, cujo poder se equipararia ao nível divino.

“Companheiros: vocês conquistaram a independência nacional e por isso se chamam mexicanos; conquistaram,
ainda, sua liberdade política e por isso se chamam cidadãos; falta-lhes conquistar a mais preciosa das liberdades
[...] A liberdade econômica é a base de todas as liberdades.”

MAGÓN, Ricardo Flores.3

Em suma, entre as falas destacadas na obra de Villa, muitos nomes famosos acabam fisgando rapidamente a
curiosidade do leitor. No entanto, é em personalidades um pouco menos populares que podem ser encontradas falas
surpreendentes, cheias de curiosidade e reflexões interessantes, além de um proveitoso aprofundamento em
acontecimentos históricos importantes, ainda que menos destacados. Nesse nicho, enquadra se o discurso de Flores,
que tem o tom inspirador de um revolucionário, visto que é possível se compadecer de sua causa mais de cem anos
depois, através de uma transcrição. Magón soa como um verdadeiro líder que visa o melhor para o futuro de seu povo,
transparecendo, além segurança ao defender seus ideais, orgulho de sua nação. É persuasivo sem exageros, objetivo
sem deixar lacunas para interpretação, é alguém que fala pelos cidadãos e para eles, como um verdadeiro
revolucionário dos pobres.

1: Miguel Hidalgo (1753-1811). Principal líder da independência do México.


2,3: A história em discursos: 50 discursos que mudaram o Brasil e o mundo, Marco Antonio Villa - 2018

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