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A história da agropecuária

Prof. Cléberson Santos

O que é agropecuária?

A agropecuária é um conjunto de atividades do setor primário relacionadas ao


cultivo de plantas (agricultura) e à criação de animais (pecuária) voltadas para o consumo
alimentar e, também, a geração de matérias-primas para indústrias, por exemplo, de roupas,
sapatos, medicamentos, biocombustíveis, produtos de beleza, entre outros.
Essa atividade se distingue da indústria porque o seu fluxo produtivo depende de
processos biológicos e do ambiente no qual se desenvolve.

Surgimento da agropecuária

A agropecuária surgiu cerca de 12 mil anos atrás, no Período Neolítico (Revolução do


Neolítico).
Os grupos humanos daquela época passaram do estilo de vida nômade (caça e coleta)
para o sedentário (cultivo de plantas e domesticação de animais).
Esse início esteve localizado próximos de grandes rios como o Tigres e Eufrates
(Iraque), Nilo (Egito), Yang-Tsé-Kiang (China), Ganges e Indo (Índia).
Nessas áreas, desenvolveram-se as grandes civilizações da antiguidade.

Revolução do Neolítico

O Neolítico (Pedra Polida) marcou a transição da


economia predatória e nômade para a economia produtiva e
sedentária.
Essa revolução baseou-se na domesticação de
animais e cultivos de plantas e começou na região do
Crescente Fértil (atual Oriente Médio).
Os excedentes gerados possibilitaram o surgimento
das mais antigas aglomerações urbanas e as primeiras
civilizações.

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Rio Yangtzé (Yang-Tsé-Kiang) - Rio Azul

Rios da Índia

As duas principais
planícies são:
• A do Rio Ganges
• A do Rio Hindu
As quais, juntas,
recebem o nome de planície
Indo-gangética.

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As Civilizações dos Grandes Rios
Suméria – entre os rios Tigre e Eufrates.
Egípcia – junto ao rio Nilo.
Vale do Indo – junto ao rio Indo – atual Índia
Vale do rio Amarelo – junto ao rio Amarelo – atual China

Desenvolvimento da agropecuária

O desenvolvimento da agropecuária foi muito lento e a quantidade e a qualidade da


produção dependiam fortemente das características naturais dos espaços de produção (solos,
umidade, clima, relevo, águas etc.).
Por muito tempo, através da seleção dirigida (cruzamento entre variedades ou raças da
mesma espécie), as sociedades produziram novas variedades de plantas e raças de animais.
Ao longo do tempo, com a criação de técnicas e ferramentas os humanos conseguiram
diminuir e vencer obstáculos naturais. Exemplos de técnicas: rotação de culturas, correção do
solo, irrigação, controle de pragas.

Exemplos de avanços: Maquinário

Os tratores, plantadeiras e colheitadeiras substituíram a tração animal e máquinas a


vapor.
A mecanização do campo possibilitou o uso de máquinas em quase todas as fases do cultivo.

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Produtos químicos

Os produtos químicos são utilizados para o controle de pragas, doenças e plantas


daninhas. Eles contribuíram para diminuir as perdas nas colheitas e os preços dos produtos
caíram drasticamente.

Os fertilizantes e nutrientes

Descobriu-se que os elementos essenciais para o crescimento das plantas são nitrogênio,
fósforo e potássio.
Atualmente, muitos agricultores utilizam fertilizantes químicos, com nitratos e fosfatos,
para aumentar a produtividade das culturas.

A água

Com as técnicas de irrigação, pode-se controlar um fator determinante para a produção


agrícola, a quantidade de chuvas.
As diversas modalidades de irrigação permitem – para quem tem acesso a elas – que um
grande período de estiagem não represente mais a perda de uma cultura, como ocorria no
passado.

Biotecnologia

Aplicada à agricultura, permite reorganizar genes e adicionar novos com a finalidade de


garantir a resistência a doenças e pragas e aumentar a produtividade das culturas.
Trata-se dos organismos geneticamente modificados (OGM) e, entre eles, os transgênicos.

Pecuária moderna

Utilização de técnicas genéticas para a criação de uma determinada raça, inseminações


artificiais, utilização de medicamentos, acompanhamento veterinário, áreas de pastagens com
maior qualidade e elevado índice de produtividade.

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Sistemas e modos de produção agropecuária

Sistemas de produção: intensivos e extensivos

As condições de produção agrícola e pecuária são muito diferentes nos diversos locais
de produção, mas alguns aspectos são comuns e permitem fazermos uma classificação em dois
grandes sistemas de produção: sistemas intensivos e sistemas extensivos.
Essa diferenciação pode ser determinada de acordo com a quantidade de capital
investido na produção e o índice de produtividade.

Sistemas intensivos

Na agricultura é praticado pelas propriedades que utilizam modernas técnicas de preparo


do solo, cultivo e colheita (uso de adubos, fertilizantes, sistemas de irrigação e mecanização),
apresentam elevados índices de produtividade e conseguem explorar a terra de forma
sustentável.
E na pecuária é determinado pelo rendimento é avaliado pelo número de cabeças por
hectare (10 mil m²). Quanto maior a densidade de cabeças, maior é a necessidade de ração, de
pastos cultivados e de assistência veterinária e haverá grande produtividade.

Sistemas extensivos

Na agricultura é praticado pelas propriedades que utilizam técnicas rudimentares, com


baixa exploração da terra e reduzido índices de produtividade.
E na pecuária é caracterizado por criar o gado alimentando-se apenas dos pastos naturais
e com baixa produtividade.
Tanto as práticas intensivas e extensivas causam impactos ao meio ambiente. Entretanto,
as intensivas, pela quantidade de insumos, recursos e técnicas, são as que mais geram impactos
ambientais como o uso de máquinas (combustíveis fósseis) e a poluição pelos insumos
agrícolas.

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Sistemas de produção: agricultura familiar e patronal

Outra maneira de classificar os sistemas de produção está relacionada ao uso da mão de


obra.
Na agricultura familiar a administração da propriedade, os investimentos e a maior parte
do trabalho são feitos por membros de uma família sendo ou não donos da terra, pois há famílias
que utilizam terras arrendadas. Porém em alguns momentos há contratações de outros
trabalhadores.
Na agricultura patronal (ou empresarial) prevalece mão de obra contratada e
desvinculada da família do administrador ou proprietário da terra.

Sistemas de produção: agropecuária coletiva

Existem diversos exemplos de produção em grupos de trabalhadores que formam


comunidades de produção coletiva no campo. No Brasil um exemplo é o faxinal, em Israel há
o kibutz e na Rússia (época da U.R.S.S.) o kolkhoz.
Os faxinais estão presentes na região sul do Brasil, principalmente no Paraná, e são
caracterizados pelo uso comum da terra para produção animal e agrícola servindo para consumo
interno da comunidade e para comercialização. Também praticam extrativismo florestal de
baixo impacto.
Os kibutz são comunidades agrícolas coletivas israelenses que surgiram em 1910 tendo
inspirações socialistas e com o objetivo de atrair judeus para a região e fortalecer o movimento
sionista. Se caracterizam pelas propriedades coletivas, práticas de igualdade social, meios de
produção próprios, distribuição da produção para a comunidade e pela excelência na educação
das crianças. A produção é intensiva e participam significativamente da produção alimentar no
país.
Os kolkhozes, criados a partir de 1927, foram sistema de coletivização da agricultura na
implantados pelo governo na União Soviéticas através de fazendas coletivas. Os trabalhadores
recebiam parte do que produziam nessas fazendas para cobrir as necessidades de suas famílias.
O processo de privatização das cooperativas foi iniciado em 1992, após o fim da U.R.S.S. em
1991.

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Sistemas tradicionais: agricultura de subsistência

A agricultura de subsistência atende as necessidades básicas de consumo alimentar dos


agricultores e de suas famílias; geralmente praticada em regiões pobres; pequenas propriedades
e poucos recursos; o excedente é vendido em centros urbanos.

Sistemas tradicionais: agricultura itinerante

Nesse tipo de agricultura, conhecido também pelo nome de coivara, costuma-se a atear
fogo à mata para limpar e preparar a terra ao plantio.
Cultiva-se o local por alguns anos, porém, devido às queimadas e à não utilização de
técnicas para conservação dos solos, há o esgotamento do solo e isso faz com que o agricultor
tenha que abandonar essa área.
A partir disso o processo de desmatamento se reinicia em outra área. A área antiga fica
abandonada e começa a se regenerar. Posteriormente, o agricultor poderá voltar a desmatar
aquela área e reutilizá-la.

Sistemas tradicionais: agricultura de jardinagem

Praticada principalmente no sudeste asiático, que é uma região superpovoada e de verões


muito chuvosos;
Utiliza técnicas de irrigação, adubação e cuidados com o solo capazes de garantir grande
produtividade;
O principal produto é o arroz, mas produz também outros alimentos;
As propriedades, em geral, são pequenas e utiliza-se bastante mão de obra;
Constroem-se terraços para reter a água e os sedimentos (húmus) mantendo a fertilidade
dos solos.

Sistemas tradicionais: agricultura de plantation

Aplicado inicialmente pelos europeus nas suas colônias tropicais da América Latina, África
e Ásia, a partir do séc. XVI.
Opõe-se à agricultura itinerante e à de jardinagem que são sistemas nativos (autóctones).

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Caracteriza por produção de gêneros agrícolas tropicais para o mercado externo, geralmente
monocultura, plantio em grandes propriedades rurais (latifúndio) e numerosa mão de obra mal
remunerada (no passado escravizada).

Sistemas tradicionais: agricultura de plantation

Aplicado inicialmente pelos europeus nas suas colônias tropicais da América Latina, África
e Ásia, a partir do séc. XVI.
Opõe-se à agricultura itinerante e à de jardinagem que são sistemas nativos (autóctones).
Caracteriza por produção de gêneros agrícolas tropicais para o mercado externo, geralmente
monocultura, plantio em grandes propriedades rurais (latifúndio) e numerosa mão de obra mal
remunerada (no passado escravizada).

Revolução Verde, Biotecnologia (OGM e transgênicos)


e Dependência na Agricultura

Revolução Verde

Representou um conjunto de inovações tecnológicas proposto aos países pobres que teve
o intuito de melhorar as práticas agrícolas para resolver o problema da fome.
A partir da década de 1950, os E.U.A. e a ONU incentivaram a implantação de
mudanças na estrutura fundiária e nas técnicas agrícolas em vários países subdesenvolvidos. A
intenção era evitar o surgimento de insatisfação popular causados pela fome e levar a instalação
de regimes socialistas nesses países. E, também, utilizar a indústria química dos países
desenvolvidos que, desde o final da 2ª Guerra Mundial, estava ociosa.

Propostas de modernização da Revolução Verde

Utilização de adubos químicos, inseticidas, herbicidas, sementes melhoradas e


mecanização do preparo do solo, do cultivo e da colheita.
Os E.U.A. ofereciam financiamentos para a importação dos insumos, maquinaria e
capacitação técnica. A partir disso, os governos dos países subdesenvolvidos passaram a
promover essas transformações.
Porém, essas mudanças causaram impactos socioeconômicos e ambientais muito graves.
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Impactos sociais e ambientais

O aumento da produtividade ficou restrito as grandes propriedades;


Em países que não houve reforma agrária, a mecanização do campo diminuiu a
necessidade de mão de obra e contribuiu para o aumento dos índices de pobreza e, também,
provocou o êxodo rural.
Desequilíbrios ambientais causados pela monocultura (aumento das pragas, aplicação
frequente de insumos e contaminação do solo e da água e erosão genética).

Biotecnologia

Biotecnologia é o conjunto de técnicas para manipular geneticamente plantas, animais


e microrganismos.
Essas técnicas vêm sendo estudadas desde 1950 com a Revolução Verde que criava
sementes híbridas (cruzamentos de sementes da mesma espécie vegetal).

OGMs e transgênicos: diferenças

Atualmente, através da
manipulação genética criam novas
sementes, e até animais, chamados
de OGMs (organismos
geneticamente modificados) e
transgênicos.
Quando a modificação
genética de um organismo não
adiciona material genético de uma
espécie diferente temos os OGMs. E
quando envolve a introdução de um
ou mais gene de outra espécie os OGMs são chamados de transgênicos. Portanto, todo
transgênico é um tipo de OGM, mas nem todo OGM é um transgênico.

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Mapa-múndi sobre a produção agrícola de OGM
Organismos Geneticamente Modificados

OGMs e transgênicos: polêmicas

Efeitos sobre a saúde humana: questão controversa, pois ainda não existem estudos
conclusivos sobre efeitos prejudiciais.

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Alguns estudiosos afirmam que o consumo de alimentos transgênicos causam alergia,
problemas de infertilidade e que até contribuem para casos de câncer.
Outros apontam que não há nada que comprova risco aos humanos e que os OGMs
contribuem para o aumento da produtividade e para a redução da utilização de diversos tipos
de agrotóxicos nas plantações.
Efeitos sobre o ambiente: riscos a biodiversidade.
Dependência de patentes: monopólio sobre as sementes por poucas empresas.

Erosão genética

É a perda de diversidade genética entre e dentro das populações ao longo do tempo,


devido à intervenção humana ou de mudanças ambientais. Essa perda pode ocorrer devido a
variedades mais resistentes.
Na agricultura, ela se manifesta na forma de uniformidade genética. O melhoramento
genético é uma oportunidade para que os agricultores cultivam variedades mais produtivas, mas
afeta a biodiversidade.
Na área da pecuária, há também um esgotamento genético do gado, devido, em grande
parte, no cruzamento das raças locais com raças introduzidas.

Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança

É um tratado ambiental que faz parte da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
aprovado em janeiro de 2000. O Brasil confirmou sua adesão em novembro de 2003.
Atualmente, fazem parte mais de 130 países.
Este Protocolo visa assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência,
da manipulação e do uso seguros dos organismos vivos modificados (OVMs) resultantes da
biotecnologia moderna que possam ter efeitos adversos na conservação e no uso sustentável da
diversidade biológica, levando em conta os riscos para a saúde humana, decorrentes do
movimento transfronteiriço.

Sementes estéreis e a dependência

Grandes indústrias iniciaram o processo de controle sobre o comércio e a pesquisa que


modificam a semente dos vegetais cultivados e passaram a controlar toda a cadeia de insumos.
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Entretanto essas sementes modificadas não são férteis, o que obriga os agricultores a
comprar novas sementes a cada safra se quiserem obter boa produção.
Isso se tornou um grande obstáculo para os pequenos agricultores, pois trouxe a
necessidade de compra e reposição constante de sementes e fertilizantes que se adaptem melhor
a elas, aumentando muito o custo de produção.

Grupo de seis empresas controla mercado global de transgênicos

Observando a lista de cultivos de OGM liberados para plantio no Brasil pela Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) – cinco tipos de soja, 18 de milho e 12 de
algodão, além de uma de feijão – temos a noção das poucas empresas que controlam a produção
de transgênicos.
Com exceção da Embrapa, todos os cultivos liberados até hoje no Brasil utilizam
tecnologia transgênica e defensivos agrícolas produzidos pelas seis grandes empresas
transnacionais que também lideram o setor de transgenia em nível global: Monsanto (Estados
Unidos), Syngenta (Suíça), Dupont (EUA), Basf (Alemanha), Bayer (Alemanha) e Dow (EUA).

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Outras propostas: a Agricultura Orgânica e o
Banco Mundial de Sementes de Svalbard (Noruega)

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Silo Internacional de Sementes da Svalbard

O Svalbard Global Seed Vault é uma construção protegida instalada no interior de uma
montanha de gelos eternos, situado a cerca de mil quilômetros do Polo Norte, no arquipélago
das Ilhas Svalbard, na Noruega.
Nesse local é preservado, um dos bens mais preciosos do mundo, sementes de plantas
de diversos locais da Terra. São sementes de arroz, trigo, feijão, berinjela, batata, banana,
centeio e tudo aquilo que se pode plantar e que se deve conservar para a preservação da
biodiversidade.

As sementes são conservadas a 18 graus negativos para garantir a sua sobrevivência,


inclusive em caso de guerra ou de cataclismos naturais. Naquela temperatura a maior parte das
sementes pode sobreviver por milhares de anos (até 20 mil).
O projeto global desse banco de sementes foi promovido e financiado pelo governo da
Noruega e apoiado pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura.
O banco de sementes de Svalbard é o maior e mais completo do mundo, mas em vários
países existem também “bancos nacionais” menores para a conservação das sementes.

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Guerra na Síria e a 1ª retirada no banco de sementes de Svalbard

As sementes buscadas incluem trigo, centeio e gramíneas destinas a climas secos. Elas
foram requisitadas por um grupo de investigadores do Médio Oriente, para substituir as
sementes que antes lhes eram fornecidas por um banco genético perto de Alepo, na Síria.
O banco de sementes de Alepo, na Síria, continua funcionando apesar da guerra civil,
porém não é capaz de manter o papel que assumia antes da guerra civil, que era o de centro de
troca e distribuição de sementes entre as nações do Médio Oriente.

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