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12 dicas práticas para lidar com a birra

Por Renata Losso, especial para o iG São Paulo

O que fazer quando seu filho abre aquele berreiro no


supermercado – e como evitar que isso aconteça
O escândalo que algumas crianças fazem diante de uma frustração pode acabar com o
dia de qualquer um. Perdidos e nervosos com o barulho e a atenção que a criança atrai,
muitas vezes em público, os pais não sabem o que fazer. A solução não envolve gritos,
puxões de orelha ou palmadas, mas sim firmeza e autoridade, desenvolvidas a médio
prazo.

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Os pais devem contornar a situação com firmeza, sem apelar para gritos ou palmadas

Segundo a psicóloga Dora Lorch, autora do livro “Superdicas para Educar bem seu
Filho” (Editora Saraiva), enquanto as crianças não sabem lidar com o “não”, só os pais
podem tomar uma atitude capaz de melhorar a situação. Foi o caso da especialista em
mídias sociais Samantha Shiraishi, mãe de dois meninos e autora do blog “A Vida
Como a Vida Quer”.
Arquivo pessoal
Samantha e os filhos: autocontrole foi determinante na educação de Giorgio

Quando era pequeno, Giorgio, hoje com nove anos, queria comer um pacote inteiro de
balas de uma só vez. Ao proibi-lo, o menino deu um escândalo no meio do metrô. Na
hora, sem perder o controle, Samantha determinou que ele não poderia mais comer
aquela bala enquanto não aprendesse a se comportar em público. “Até hoje, quando
alguém oferece a bala, ele lembra que é a ‘bala proibida’”, diz a mãe.

Faça o teste: que tipo de mãe você é?

Segundo especialistas e mães, táticas como esta podem ser muito efetivas para lidar com
as birras infantis. Leia outras dicas práticas para ajudar seu filho a aprender a se
comportar.

1. Não perca o controle: seja firme, mas também acolhedor


Assim que a criança começa a fazer uma cena dramática no shopping ou no parque, é
melhor segurar as rédeas da situação do que entrar na mesma dança. Pode ser que você
esteja ficando muito irritado, mas segundo o psicólogo e terapeuta familiar João David
Cavallazzi Mendonça, pais que perdem o controle podem assustar ainda mais a criança
e tornar a birra ainda pior.

Mas os pais tampouco devem amolecer. Segundo a psicopedagoga Quézia Bombonatto,


presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), os adultos devem
manter firmeza no tom de voz e falar com a criança na altura delas, explicando que
atitudes como esta não irão mudar nada. Ao perceber que a criança está prestando
atenção, João David ainda indica demonstrar acolhimento: segurá-la no colo e explicar
o porquê da negativa poderá ajudar bastante.

2. Não ceda aos apelos da criança e mantenha a palavra


Por culpa ou falta de paciência, às vezes os pais acabam cedendo aos pedidos dos filhos
e deixam a birra passar como se não fosse nada demais. Esse é um erro fatal: segundo
Dora Lorch, a criança pode ficar cada vez mais autoritária, pois percebe uma maneira de
sempre conseguir o que quer. Segundo a psicóloga e psicoterapeuta familiar Ana
Gabriela Andriani, as crianças precisam entender que nem sempre terão o que desejam e
quando desejam, e que sua insistência não é uma cartada aceita nesta hora.
3. Dê exemplos: sair batendo porta dentro de casa não é um deles
Que os pais devem ser bons modelos para seus filhos e esta premissa vale também para
momentos de raiva em que o adulto resolve fazer a própria “birra” – batendo uma porta
em casa após um momento de estresse, por exemplo. “Às vezes a criança está apenas
repetindo o comportamento da mãe”, diz Dora Lorch.

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Quanto mais atenção os pais derem à birra do filho, pior será o comportamento dele

4. Não dê atenção à birra


Aos dois anos, Rafaela, filha da socióloga Ariane Torezan, foi com a mãe ao
supermercado. Quando Ariane proibiu a filha de levar para casa uma guloseima, Rafaela
se deitou no chão, começou a chorar e a gritar. “Não tive dúvidas: virei as costas e
continuei andando. Ela não teve outra alternativa se não parar de chorar e vir atrás”,
relembra Ariane.

Para o psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de “Disciplina: Limite na Medida Certa”
(Integrare Editora), as crianças precisam passar pelo estresse de perder a segurança na
hora da birra. “Se ela se sente insegura, muda. A criança fica preocupada se os pais a
deixam”. Rafaela, hoje com nove anos, nunca mais teve qualquer comportamento
parecido.

5. Dê castigos proporcionais (e não se sinta culpado depois)


As crianças devem entender que seus atos têm consequências. Para não se arrepender no
meio de um castigo, os pais devem calcular adequadamente o tempo de punição. “Para
uma criança de dois anos, um castigo de dez minutos já é o bastante”, recomenda
Quézia Bombonatto. Na orientação da Supernanny Cris Poli, um minuto por ano de
idade é uma boa medida. Mas tudo depende da gravidade da birra e de como aquela
família funciona.

6. Não meça forças com a criança e seja flexível de vez em quando


Os pais devem ser firmes e mostrar quem coloca as regras no dia a dia. Mas isso não
significa incorrer no autoritarismo. “O ‘não pode’ deve ser usado para o que realmente é
importante”, diz Quézia Bombonatto.

Se a criança começa a desarrumar a sala logo após uma arrumação, os pais não precisam
proibi-la, mas podem deixar claro que ela terá que arrumar tudo depois. Algumas coisas
podem e devem ser negociadas com a criança. Afinal, será que 10 minutinhos a mais no
parquinho é um grande transtorno? “Essa flexibilidade também pode ser benéfica”,
concorda João David.

7. Explique o que ela está sentindo e veja o que está acontecendo


Dar nome ao que a criança está passando pode ajudá-la a se controlar. “Ela ainda está
em processo de aprendizado e precisa aprender a identificar o que está sentindo”,
explica João David. Assegurá-la de que ela está sendo, de alguma forma, compreendida,
é importante.

Por isso, o adulto deve sentar com ela e explicar que sabe como ela se sente, mas agora
não é possível ter o que ela quer, pela razão que for. Descobrir as razões infantis
também é necessário. Às vezes, a criança pode muda de comportamento por uma razão
não aparente, como o nascimento de um irmão mais novo ou a volta da mãe ao trabalho.
“Ao ser questionada, a criança vai explicar com menos ou mais recursos, dependendo
da idade, e tudo vai ficando mais fácil”, diz Dora Lorch.

8. Distraia a criança
Segundo Quézia Bombonatto, em certas situações chamar a atenção da criança para
outra coisa pode ser a melhor saída para a birra. Especialmente quando o
comportamento desanda em locais públicos. Fazê-la rir ou distraí-la com outro atrativo
costuma ser efetivo e a criança pode esquecer a razão do escândalo que estava fazendo
minutos atrás.

9. Compare a atitude dela com a das pessoas ao redor


Ana Gabriela Andriani também sugere comparar a criança com as outras pessoas no
local e mostrar que ninguém mais está chorando, só ela. “A criança só consegue
enxergar a si mesma. Ajudá-la a se comparar aos outros é uma maneira de fazê-la se
sintonizar com o mundo”, diz.
Filhos podem imitar as atitudes dos pais: evite a "birra de adulto"

10. Não insista em conversar na hora da raiva


Assim como muitos adultos, a criança não irá ouvir o que os pais estão dizendo no calor
de um ataque de birra. “Nesta hora ela está focada na frustração, não está ouvindo”, diz
Ceres de Araújo. Por isso, o melhor pode ser ignorar a atitude dela e conversar mais
tarde, quando ela estiver mais calma, sobre o ocorrido. Neste período, os pais podem
aproveitar para pensar na atitude que irão tomar.

11. Valorize e qualifique a criança sempre que possível


Reforçar positivamente o bom comportamento infantil depois de um ataque de birra
ajuda a prevenir novos episódios. Se um dia a criança fez uma birra homérica no
parque, ao voltar ao mesmo lugar o pai pode lembrar que confia nela para a história
vivida no passado não voltar a acontecer. “Esta é uma maneira de qualificar o filho,
mostrar que você acredita que ele pode ser diferente”, diz João David.

12. Tome medidas preventivas


Sentir fome e sono sem poder suprir as necessidades são sensações capazes de deixar
qualquer um irritado. Para as crianças, estas sensações podem facilmente se transformar
em birra. Por isso, manter uma rotina de sono e alimentação ajuda a evitar a irritação.
“Os pais devem identificar o que pode ser evitado. Se sabem que a criança costuma
dormir às nove horas da noite, não é ideal sair para jantar neste horário”, exemplifica
João David.

Leia entrevistas sobre educação dos filhos:

Denise Dias: "As crianças estão precisando de tapa na bunda"


Carlos Zuma: "Mesmo em último caso, palmada não é válida"
Içami Tiba: "Educamos os nossos filhos para as drogas"
Cris Poli: "Pais precisam ser educados para educar os filhos"

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