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ALUNO E MATRÍCULA: Gabriel da Silva Queiróz | 222001494

1.

No Capítulo I do Livro Primeiro de "A Cidade de Deus", Santo Agostinho empreende uma
análise minuciosa do compêndio de críticas pagãs que atribuíam a queda de Roma à adoção
do cristianismo como religião oficial do Império Romano. À luz de suas propedêuticas
particulares e alicerçado na caracterização de estabelecer a verdadeira causa do declínio do
império, Agostinho busca refutar todas essas alegações. Quando inicia seus escritos
questionando o papel dos deuses pagãos na história de Roma, argumenta que se os deuses
patronos do panteão romano eram verdadeiramente poderosos e protetores da cidade, eles
teriam sido, com plenitude e sabedoria, capazes de impedir sua destruição. Agostinho
destrincha, portanto, que os próprios pagãos admitiam a derrota e o enfraquecimento dos
deuses diante das adversidades enfrentadas por Roma, como as invasões bárbaras
(AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus. Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p.99-100).

Ao desacreditar a eficácia dos deuses pagãos, Agostinho se afasta da explicação


tradicional e popular que colocava a culpa na mudança religiosa para o cristianismo. Ele
estende-se dizendo, então, que a verdadeira causa da decadência de Roma não foi a conversão
ao cristianismo, mas sim a corrupção moral e a injustiça que permeavam a cidade. Agostinho
atribui o declínio do império a uma série de fatores, incluindo a busca incessante pelo poder, a
opressão dos fracos pelos fortes e a prevalência de práticas imorais, como a escravidão e a
luxúria. Agostinho também tece uma distinção clara entre a Cidade Terrena, que é governada
pelos princípios humanos e pelo desejo de prazer e glória pessoal, e a Cidade de Deus, que
busca a adoração a Deus e a vida eterna. Ele constrói o raciocínio de que a Cidade Terrena,
em sua busca egoísta pelo poder e pelos prazeres mundanos, está fadada ao fracasso e à
destruição. A Cidade de Deus, por outro lado, transcende o mundo físico e busca a verdade, a
justiça e a paz que só podem ser encontradas em Deus (AGOSTINHO, Santo. A Cidade de
Deus. Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p.101-102).

Ao refutar as explicações pagãs para a queda de Roma e apontar para a corrupção


moral como sua verdadeira causa, Agostinho estabelece uma base sólida para a discussão
posterior da Cidade de Deus. O pensador cristão sintetiza que a Cidade de Deus é, no fim das
contas, intransponivelmente superior à Cidade Terrena, pois é regida pela verdade divina e
pela justiça, enquanto a Cidade Terrena é governada pelos desejos humanos e pela injustiça.
O fragmento do Capítulo 2 aborda a questão da proteção divina e a relação entre a
queda de cidades e seus deuses. Santo Agostinho utiliza exemplos históricos e mitológicos
para refutar a ideia de que os deuses pagãos seriam capazes de proteger seus adoradores
durante guerras e invasões.

Agostinho começa destacando que, na história registrada, não há evidências de que os


vencedores de uma guerra tenham poupado os vencidos por amor aos seus deuses. Ele
pondera se algum vencedor de um cerco a uma cidade permitiu a sobrevivência daqueles que
buscaram refúgio nos templos de seus próprios deuses. Essa construção narrativa visa desafiar
a crença popular de que os deuses pagãos eram protetores e capazes de garantir a segurança
de seus adoradores em momentos de perigo. Em seguida, Agostinho apresenta exemplos
específicos, como a queda de Tróia, onde figuras mitológicas, como Príamo e a deusa
Minerva, não foram capazes de evitar a destruição da cidade. Ele menciona que Príamo foi
morto junto aos altares e que a imagem sagrada de Minerva foi roubada e profanada pelos
gregos. Agostinho ressalta que, apesar desses eventos, a vitória acabou sendo conquistada
pelos gregos (AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus. Fundação Calouste Gulbenkian,
1996, p.103-104).

Ao conjuntamente questionar a capacidade dos deuses pagãos de protegerem seus


adoradores e confrontar a noção de que a perda de uma divindade levaria à queda de uma
cidade, Agostinho está desalentando a visão popular da época sobre a relação entre religião,
guerra e proteção divina. Há à procura de demonstrar que a proteção divina não pode ser
atribuída aos deuses pagãos e que a queda de uma cidade não está relacionada à perda de
adoração ou veneração aos seus deuses, do mesmo modo de acarar a percepção romana que
culpabiliza o cristianismo ao invés de correlacionar qualquer ruptura com seu próprio panteão.
Esta agremiação de informações enfatiza a crítica de Agostinho às crenças pagãs e a sua busca
por uma compreensão mais profunda da natureza da divindade e da relação entre Deus e a
cidade de Deus, tema central em toda a obra. Agostinho está, pouco a pouco, estabelecendo a
base para a defesa da superioridade da cidade de Deus sobre a cidade terrena, justificando a
basilaridade de sua tese que a verdadeira proteção e segurança são encontradas na busca da
comunhão com Deus, em contraste com as crenças e práticas pagãs.

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