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Questões Sociais
C ontemporâneas
ACTAS DAS VIII JORNADAS DO DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
Eduardo Figueira
Maria da Saudade Baltazar
Maria Manuel Serrano
(Coordenadores da Edição)
ÉVORA
28 e 29 de Abril de 2006
QUESTÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS
FICHA TÉCNICA
Título: Questões Sociais Contemporâneas
Coordenação: Eduardo Figueira, Maria da Saudade Baltazar e
Maria Manuel Serrano
Autores: Vários
Concepção e Formatação: Patrícia Calca – CISA/AS
Design da Capa: Cristina Brázio - Fundação Luís de Molina
Editor: Departamento de Sociologia da Universidade de Évora e Centro de Investigação em
Sociologia e Antropologia “Augusto da Silva”
Data de Edição: Abril de 2007
Tiragem: 500 exemplares
Impressão: Fundação Luís de Molina
ISBN: 978-972-99959-6-5
Depósito Legal: 258329/07
Apoios:
2
QUESTÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS
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VÍTOR ROSA
_________________________________________________________
RESUMO
Esta comunicação tem por objectivo apresentar um breve resumo da
investigação em curso no âmbito do programa de Doutoramento em
Sociologia, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa
(ISCTE). O tema – Estudo Sociológico sobre o Karaté em Portugal –
insere-se na Sociologia do Desporto/Sociologia das Organizações
Desportivas.
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1. Objecto de Estudo
Quem hoje entrar num dojo (centro de prática) de karaté, em Portugal, ou
noutra parte do mundo, verá, na generalidade dos casos, os karatecas
(praticantes de karaté) vestidos com um denominado «kimono» branco, do
qual faz parte um cinto que distingue os praticantes por graduações (kyus,
desde o branco até ao castanho; dans, a partir do cinto negro).
O mestre (sensei), ou o mais graduado na sua ausência (também chamado
de sempai), normalmente cinto negro, é quem dá a aula que inicia-se e
termina por rituais próprios de saudação. É ele que dá as vozes e ordens de
comando do treino. Algumas caracterizam-se por serem em japonês:
contagem, nomes das técnicas de defesa e de ataque, movimentos corporais,
etc. É ele que decide quando e o momento de ir mais além no treino.
As aulas variam entre os dois e três dias por semana, e têm, normalmente,
uma duração de uma hora e meia. Os treinos seguem um clima de ordem
(alinhamento por ordem de graduações e tempo de prática) e de respeito
(silêncio, obediência).
O mestre corrige a execução dos alunos (feedback positivo ou negativo),
exemplificando quando acha necessário (modelo a ser interiorizado). De vez
em quando, e à sua ordem, os alunos executam um grito, chamado de kiai.
O treino decorre com um aquecimento muscular (designado de taisô) e
depois com técnicas de defesa e de ataque isoladas (kihon), ou com um ou
mais parceiros (kumité), com movimentos pré-estabelecidos. Também é
dada ênfase aos denominados katas (conjunto ordenado e codificado de
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Doutorando em Sociologia, ISCTE.
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Os estilos de karaté "tradicional" praticados em Portugal são: Shotokai, Shotokan, Wado-Ryu
(estilos japoneses), Gojo-Ryu e Shito-Ryu (okinawenses).
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respostas a estas e outras questões estão por esclarecer. Por isso, cada
um de nós tem de dar passos explicativos sobre o que ainda não foi
explorado. As práticas desportivas constituem, assim, um permanente
desafio à prática científica.
2. Objectivos da Investigação
a) Conhecer a génese e o desenvolvimento do karaté em Portugal.
Uma perspectiva sobre esta evolução permitirá tirar conclusões
sobre as “escolas”, diferenças, conflitos entre os actores, etc.
Este objectivo não deve ser entendido como uma simples
aplicação da perspectiva sociológica ao passado, mas antes como
uma forma de contribuir para uma melhor compreensão dos
comportamentos dos indivíduos e das organizações do presente.
b) Traçar o perfil de forma sociológica dos praticantes de karaté a
nível nacional, nomeadamente em termos dos seus atributos
(género, idade, nível de escolaridade, classe, religião, etc.),
normas e valores.
c) Analisar as motivações dos indivíduos conducentes à prática do
karaté em particular, como actividade física de manutenção,
lazer, reabilitação, recreação, defesa pessoal, competição,
explorando eventuais diferenças entre esses motivos em função
do sexo, idade, situação na profissão, estado civil, nível de
escolaridade, zona geográfica.
3. Metodologia
Tendo como referência o problema de investigação formulado, e em função
dos nossos propósitos, optou-se por uma combinação de métodos e técnicas
de observação usadas nas ciências sociais: observação documental,
observação directa, observação-participante, entrevistas, inquérito por
questionário. O cruzamento das diversas fontes de informação (quantitativa e
qualitativa), de observação e compreensão, alarga horizontes e revela
dimensões do fenómeno que, de outro modo, permaneceriam ocultas.
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maneira mais rápida e mais eficaz. Era uma preparação com fins
eminentemente guerreiros.
Ainda durante muitos séculos, no Oriente, as guerras inter e intra povos,
contribuíram decisivamente para que as artes de guerra (artes marciais)
fossem cada vez mais eficazes nos seus confrontos. Em busca dessa
eficiência e eficácia, muitas dessas práticas de guerra foram fundidas e
aperfeiçoadas, tornando-se as técnicas utilizadas nos combates cada vez
mais letais quer pelo uso de todas as partes do corpo como instrumentos
contundentes, quer pelo uso dos mais diferentes tipos e tamanhos de armas
(v. g.: naginata, bô, jô, matracas, tonfa, etc.).
Com o desenvolvimento das sociedades, e o decorrente aparecimento de
instrumentos mais eficazes no campo de batalha, além da abolição dos usos
e costumes e códigos feudais bem definidos no Oriente, e da modernização
das regras de convivências sociais, foram proporcionadas às antigas artes
marciais adaptações aos novos contextos que lhes eram apresentados. Foi
neste período de grandes mudanças sociais que as artes marciais foram
fundidas e revistas nos seus princípios básicos, possibilitando a sua absorção
pelos sistemas de segurança colectiva do mundo Oriental e a consequente
absorção das suas práticas de luta pelo mundo Ocidental, agora com
dimensões psicossociais e pedagógicas bem delineadas.
Esta sucinta digressão procurou apenas resgatar um conceito que, no stricto
senso, se encontra deslocado, em conformidade com o modus vivendi das
sociedades modernas, onde o combate sem regras foi “abolido”, sendo
substituído tal confronto, de mãos e armas, pela representação simbólica do
desporto3.
Se actualmente os grupos sociais já não se exercitam para o
desenvolvimento de actividades guerreiras, como as sociedades feudais do
Oriente, é porque os objectivos das práticas de luta foram transferidos de
uma necessidade colectiva de defesa para uma necessidade meramente de
defesa individual, tendo como universo, nesta expressão, cada indivíduo
numa busca contínua de se conhecer, assim como no atendimento das suas
necessidades biológica, psicológica e social. No entanto, não devemos
esquecer o treino das artes marciais para efeitos de combate específico nas
forças armadas, sobretudo nos corpos especiais. Ou o desenvolvimento de
artes heterogéneas para trabalho de policiamento, como, por exemplo, o
krav maga israelita.
Figueiredo (2003: 45) afirma que «as artes marciais ou desportos de
combate, inseridos no estudo da Motricidade Humana, emergem como
contextos interessantes de desenvolvimento humano na
multidimensionalidade bio-psico-sócio-axiológica». São formas sofisticadas de
combate que, contrastando com outras formas de arte, se caracterizam pela
natureza lesional das suas técnicas, pois procuram neutralizar um oponente
infligindo dano, ou mesmo «a morte», do oponente. Assim, está sempre
implícito um elemento de perigo na sua prática, devido à própria
3
Entende-se por “desporto” todas as formas de actividades físicas que, através de uma
participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o melhoramento da
condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados
na competição a todos os níveis.
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