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2015
2015 GM Editora
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Impressão
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Ilustração da capa
Mosaico representando o banho de Dioniso. Sentado no colo de Hermes, Dioniso recebe a adoração das
personagens ao redor, numa clara alusão à cena evangélica da visita dos reis magos a Jesus. O mosaico é
proveniente de Nea Pafos, cidade situada no sudoeste de Chipre, e data da época tardia (séculos III-V d.C.)
SumárIo
APRESENTAção ............................................................................................................................... 7
Parte I
FoRMAS PoLíTICAS E DINâMICAS CULTURAIS No PRINCIPADo
Parte II
PoDER, RELIGIão E IDENTIDADE NA ANTIGUIDADE TARDIA
um ImPérIo Plural
Silvia M. A. Siqueira
Eis aqui uma signiicativa obra, fruto da dedicação e apreço aos estudos
clássicos, elaborada pela relevante iniciativa dos organizadores, Gilvan
Ventura da Silva e Érica Cristhyane Morais da Silva, ambos docentes da
Universidade Federal do Espírito Santo. Um valioso presente para o público
leitor, carecido de boas leituras oriundas de relexões profundas e instigantes.
Este livro representa, sobretudo, o encontro entre estudiosos brasileiros
e estrangeiros provenientes de destacadas universidades e centros de
excelência em pesquisa que comungam o interesse pelos diferentes aspectos
do mundo romano. Resultado de um profícuo intercâmbio cientíico que
privilegia a diversiicação de temas relevantes para os estudos sobre Roma
e seus domínios desde o saeculum augustum até os séculos VI e VII d.C.
os capítulos aqui apresentados evocam a imagem de um contexto
permeado pela diversidade, contradições e desagregação. os autores usam
diferentes conceitos, especialmente o de identidade ou identidades. Conceito
cada vez mais importante para várias disciplinas, ele está calcado no aspecto
relacional e na construção histórica; ou seja, para identiicar algo é preciso
recorrer à comparação, ao diferente, em determinado contexto temporal
e espacial. Assim, as questões estabelecidas no processo de constituição
identitária contemplam um imenso universo no qual interagem aspectos
urbanos, sociais, religiosos e culturais. Estes, por sua vez, evidenciam
distintos componentes da memória, da identidade histórica, das práticas
urbanas, das formas de apropriação material e simbólica, dos processos de
signiicação, das representações sociais e dos imaginários coletivos. Todos
esses elementos estão aqui contemplados por meio de autores iluminados,
como Juliano, Agostinho, Tácito, Dion Cássio, Cícero, Isidoro de Sevilha,
apenas para citar alguns.
Recusei ser nomeado pontifex maximus no lugar do meu colega que ainda vivia,
quando o povo me ofereceu este sacerdócio que meu pai ocupou (Augusto,
res gestae, 10.2).1
1 pontifex maximus ne ierem in vivi conlegae mei locum, populo id sacerdotium deferente mihi quod pater
meus habuerat, recusavi (tradução minha).
2 Compreendo paisagem religiosa como uma construção simbólica e dinâmica do espaço por meio da ação
conjunta da performance dos rituais e da pragmática poética dos mitos e narrativas, de acordo com as
propostas de J. Scheid e F. de Polignac, que apresentam o conceito de paisagem religiosa como uma leitura
simbólica do espaço, entendida simultaneamente “em sua materialidade visível e, metaforicamente, como
o espectro de identidades religiosas múltiplas e negociadas” (SCHEID; PoLIGNAC, 2010, p. 430).
3 A distinção entre sacra publica e sacra priuata fornecida por Festo é um guia para a compreensão dos
sacra romanos: “os ritos públicos são aqueles realizados às expensas públicas em benefício do povo [...]
em contraste com os ritos privados, que são realizados em benefício de indivíduos, das famílias, dos
descendentes” (publica sacra, quae publico sumptu pro populo iunt quaeque pro montibus pagis curis
sacellis; at priuata, quae pro singulis hominibus familiis gentibus iunt: 350L). Em outras palavras, são os
ritos realizados em benefício do povo romano (pro populo), por oiciantes sancionados e inanciados
pelo tesouro público, com participação ativa de magistrados e sacerdotes. A própria deinição de sacrum
é reservada para coisas e lugares consagrados oicialmente pelos pontíices (cf. Gaio, inst. 2, 5; Ulpiano,
dig. I, 8.9). Podemos assumir que a deinição de sacra – ao menos juridicamente – seguia os mesmos
passos que deiniam o ritual público, ou seja, um objeto ou lugar que se tornava sagrado através de um
ato ritual especíico – a consecratio – que devia ser autorizado pelo Senado, presidido por sacerdotes e
magistrados e promovido com fundos públicos.
4 A maioria das datas mencionadas neste texto são anteriores à Era Comum, dispensando assim a
indicação AEC.
5 Sacerdotes encarregados de velar pela aplicação do direito nas situações de conlito com outros povos.
(para nós) do princeps aguardando mais de duas décadas até a morte de Lépido
para assumir o maior posto no colégio dos pontíices e, consequentemente,
realizar algumas das principais ações das suas restaurationes religiosas. o fato
de otaviano não afastar Lépido do sacerdócio e a longa espera do Augusto
até inalmente se tornar pontifex maximus são temas que já renderam muitas
e divergentes especulações, dada a estranheza da situação. Pode-se perguntar
por que, ainal, Lépido continuou a ser – e a agir como – pontifex maximus,
assim como podem ser indicadas as limitações trazidas às intervenções
urbanas e religiosas de otaviano/Augusto, pois, para determinadas ações, era
necessário o aval do colégio dos pontíices, ou mesmo a presença, a anuência
ou a intervenção formal do pontifex maximus eram requeridas. Para além
dos fatos políticos imediatos, a conduta de Augusto permite-nos perceber,
em seu feixe de poderes, a importância do colégio dos pontíices em geral e
do pontifex maximus, em particular.
Interessa-me aqui observar especialmente os elementos religiosos de
tal situação no que tange às intervenções augustanas na urbs e, ao mesmo
tempo, alguns aspectos do jogo político augustano em relação às grandes
gentes republicanas, tendo como eixo a gens aemilia. Para tal, apresentarei
algumas considerações sobre o colégio dos pontíices, suas atribuições e
funções, passando à observação de certos aspectos das relações entre o
princeps e membros dos aemilii, com destaque para o pontifex maximus
Marco Emílio Lépido, e à observação das linhas gerais das ações de Augusto
após 6 de março de 12, visando à compreensão da relevância do pontiicado
máximo na chamada restauratio augustana.
6 [...] romulum auspiciis, numam sacris constitutis fundamenta iecisse nostrae civitatis, quae numquam
profecto sine summa placatione deorum inmortalium tanta esse potuisset (tradução minha).
7
Ver quadro dos colégios sacerdotais em Beltrão (2006, p. 146).
8
Segundo Macróbio (sat. 1.14.6), os pontíices eram os sacerdotes qui curabant mensibus ac diebus (os
sacerdotes que cuidavam dos meses e dos dias).
9
Ressaltamos a participação dos membros do colégio dos pontíices nas festas religiosas tradicionais – o
colégio tem uma importância quase exclusiva nas festas relacionadas ao ciclo natural do ano, exceção feita à
festa de dea dia, realizada pelos Arvais, sobre a qual temos documentos relativos a consultas dos Arvais ao
colégio dos pontíices acerca da execução do rito, e as fornacalia, de fevereiro, celebradas pelos membros das
cúrias, que faziam a torrefação dos grãos. Já nas festas do ciclo cívico vemos maior variedade de celebrantes
(outros collegia, magistrados). Há festivais para os quais não temos informação sobre os celebrantes
(terminalia, equirria), mas os pontíices celebravam um bom número delas (agonalia, carmentalia,
Virgo parentat, quirinalia, regifugium, argeus, Vestalia, uitutatio, equus october, bona dea, larentalia,
além dos sacrifícios das Calendas, das Nonas e dos Idos). É possível que os pontíices participassem com
os magistrados dos sacrifícios aos penates do Lavinium, e atesta-se também a participação dos pontíices
em cerimônias circunstanciais, como a confarreatio (a forma antiga do conuentio in manum), difarreatio,
a assistência a magistrados (por exemplo, quando dos votos extraordinários, seguidos de um senatus
consultum, o magistrado era assistido pelo pontifex maximus, que lhe ditava a fórmula: praeiunte pontíice
maximo).
um papel central, com sua organização do tempo anual e em suas funções cor-
respondentes, e sua ênfase na prática ritual transmitida como um modelo para
o futuro. Os pontíices [...] ligam o passado ao futuro pela lei, pela memória e
pelo registro (BEARD; NoRTH; PRICE, 1998, p. 26. v. I).
10
Importa observar que o ius augurale não implicava que os áugures pudessem invalidar leis ou eleições
per se, mas muitas vezes se envolviam em disputas e controvérsias políticas. Na República tardia, querelas
políticas envolvendo áugures não eram incomuns. Um exemplo famoso é a legislação controversa do início
dos anos 50, em que os oponentes de César e seus aliados repetidamente tentaram fazer com que suas
ações fossem invalidadas e/ou canceladas dada uma objeção religiosa quanto à sua validade (BEARD;
NoRTH; PRICE, 1998, p. 126-9. v. I).
11
in confusione rerum ac tumultu m. lepidus pontiicatum maximum intercepit (tradução minha).
12
Para David Wardle (2011, p. 273), Suetônio dá pouco destaque às questões relativas à chegada de Augusto
ao cargo de pontifex maximus talvez porque, em sua época, este cargo sacerdotal fosse um direito inalienável
do princeps, ressaltando, contudo, que é preciso pensar o que o cargo signiicava na República tardia.
Júlio César foi eleito para o cargo e Augusto teve de esperar longos anos por ele, até a morte de seu rival,
Lépido.
13
Para as ações dos triúnviros, ver Lange (2009).
14
L. Emílio Paulo era mais conhecido como conquistador da Macedônia e pai de Públio Cornélio Cipião
Emiliano, o Africano.
15
o fato de ter sido o terceiro ilho, e não o segundo – pois o mais velho fora adotado – a ter os tria nomina
do pai não é usual nas gentes romanas.
16
A basilica aemilia foi incendiada em 14 e restaurada por Augusto e por amici dos aemilii (D. Cássio,
Hist. rom. LIV, 24.2) e uma nova restauração foi realizada por um ilho de L. Emílio Paulo, chamado M.
Emílio Lépido, em 22 EC (Tácito, ann. III, 72). Foi sobre esta nova versão da Basílica que Plínio, o Velho
teceu seus comentários elogiosos (nH, xxxVI, 102)
Ao subir sexto sol do oceano ao polo/ ó vós, que rendeis culto à prisca Vesta,/
taças levai, e incenso ao fogo ilíaco./ Do grande César aos títulos sem conta/
acresceu neste dia o que mais enche/ de almo prazer; por tê-lo merecido: a
suma, a pontifícia autoridade (ovídio, fasti, III, 415-420)!20
17
L. Emílio Lépido, cônsul de 1 EC, foi casado com Júlia, neta de Augusto e ilha de Júlia e de Agripa, e desta
união nasceu Emília Lépida, que foi prometida ao futuro imperador Cláudio; uma ilha de M. Emílio
Lépido, cônsul de 6 EC, casou-se com Druso, ilho de Germânico, dentre outros casamentos (WEIGEL,
1985, p. 185).
18
Um incêndio na primeira década EC destruiu a basilica iulia, dedicada pelo jovem otaviano; em seu
lugar, Augusto reconstruiu-a como um memorial para seus netos Gaio e Lúcio (rg, 20).
19
quod sacerdotium aliquod post annos, eo mortuo qui civilis motus occasione occupaverat, cuncta ex italia
ad comitia mea conluente multitudine, quanta romae nunquam fertur ante id tempus fuisse, recepi, p.
sulpicio c. Valgio consulibus (tradução minha).
20
sextus ubi oceano clivosum scandit olympum/ phoebus et alatis aethera carpit equis,/ quisquis ades
castaeque colis penetralia Vestae,/ gratare, iliacis turaque pone focis. /caesaris innumeris, quos maluit ille
mereri,/accessit titulis pontiicalis honor (Tradução de Antônio Feliciano de Castilho para clássicos Jackson:
Horácio/Sátiras; ovídio/os Fastos. São Paulo: W. M. Jackson, 1970. v. IV.).
21
A principal referência literária para os ritos da eleição de Augusto como pontifex maximus é ovídio, fasti,
3. 417-20. A presença do lamen dialis na procissão do lado sul da ara pacis é também um indício para
uma rápida nomeação do novo sacerdote.
nomeações, junto com novas vestais. Por sua vez, o controle do calendário,
competência dos pontíices, era um elemento central do governo da urbs.
A reforma promovida por Júlio César modiicou o tradicional calendário
lunar romano, aumentando o número de dias e alinhando-os ao ano solar
(cf. esp. RÜPKE, 2011, p. 109-39). Com isso, problemas e diiculdades
advindos das intercalações irregulares poderiam ser eliminados, e os
pontíices passariam a acrescentar apenas mais um dia em fevereiro, a cada
quatro anos completos, a im de que se mantivesse a correspondência entre
o calendário e o ciclo natural das estações. Para Rüpke, os sacerdotes teriam
seguido à risca o texto do edito cesariano,22 mas isso levou a um erro, pois
o mês tradicional da intercalação era fevereiro, e o acréscimo de um dia
após o quarto ano completo implicaria a intercalação no início do quinto
ano. Seria este o motivo que, segundo Rüpke, levou ao fato de os pontíices
acrescentarem o dia extra no terceiro ano e à não solução do problema das
intercalações irregulares. No ano 8, o problema foi solucionado pelo colégio
dos pontíices presidido por Augusto através do ajuste do texto do edito de
César,23 acompanhado pelo senatus consultum que alterava o nome do mês
sextilis em sua homenagem (Suet., aug. 31.2).24 Para John Scheid (1999,
p. 15), “o ajuste permitia aperfeiçoar e completar a obra de César, mostrando
um príncipe preocupado com a ordem do mundo. Por outro lado, ele podia
ressaltar a incompetência do grande pontíice Lépido”. Andrew Wallace-
Hadrill (2008, p. 244) segue esta mesma linha interpretativa, argumentando
que Augusto soube capitalizar este erro do colégio sacerdotal no período de
Lépido “para destacar a falta de legitimidade da velha aristocracia pontiical”.
Augusto era um dos pontíices, e é difícil compreender de outro modo o
longo atraso no ajuste, relativamente simples, do calendário juliano. Mas
também podemos supor que Augusto desejasse evitar qualquer possibilidade
de resistência ativa de Lépido e/ou atritos com os aemilii.
No que tange às intervenções arquitetônicas, é interessante observar
que os primeiros templos a serem restaurados na urbs não foram nem os
22
Toda e qualquer alteração no calendário tinha de ser aprovada por um senatus consultum ou por uma
lei, e o aconselhamento do colégio dos pontíices sob a presidência do pontifex maximus era requerido.
Segundo Macróbio, o edito de César trazia a determinação: quarto quoque anno confecto, antequam
quintus incipere (sat. 1,14,13-4).
23
Segundo Macróbio, o texto do senatus consultum propunha: quinto quoque incipiente anno (sat. 1, 14, 14-5).
24
Suetônio destaca o controle do calendário como elemento central do governo da urbs e o vincula à obtenção
do pontiicado máximo por Augusto.
25
A transferência dos Livros Sibilinos, do Capitólio ao Palatino, envolvia as competências do colégio dos
pontíices e do colégio dos xV uiri sacris faciundis, ao qual Augusto também pertencia.
26
J. Scheid (1999, p. 18-9) data a restauração das compitalia em 12, com base em CIL 6.452, ligando-a
diretamente à eleição de Augusto como pontifex maximus, mas J. Bert Lott (2004, p. 35-7) defende a data de
7, fazendo coincidir a restauração do festival com a inauguração da reforma dos uici, controlando os bairros
e canalizando o potencial religioso dos lares compitales para si mesmo, o que me parece convincente.
27
É possível, contudo, que Lépido tenha estado em Roma algumas vezes durante seu ostracismo e, mesmo,
tenha participado de reuniões do Senado, mas não há referências nem indícios seguros de participações
de Lépido em rituais atuando como pontifex maximus. Sobre sua participação em reuniões do Senado, a
referência mais famosa é um comentário tardio sobre o comportamento de Augusto em relação a Lépido,
de Dion Cássio: “[...] No tempo do qual estamos falando, Augusto executou alguns homens; no caso de
Lépido, embora o odiasse, entre outras razões porque seu ilho fora detectado num complô contra ele e
fora punido, contudo, ele não quis matá-lo, mas manteve-o sujeito a diversos tipos de insultos ao longo do
tempo. Assim, podia ordenar-lhe que [Lépido], querendo ou não, deixasse sua propriedade no campo e
voltasse à cidade, e podia sempre levá-lo às reuniões do Senado, de modo que pudesse ser submetido a graves
zombarias e insultos, e assim pudesse perceber sua perda de poder e dignidade. Em geral, não o tratava
como alguém digno de qualquer consideração de sua parte, e nas vezes em que era chamado a votar, o fazia
como o último dos ex-cônsules. [...] Foi assim que ele costumava tratar Lépido. E, quando Antístio Labeão
escreveu o nome de Lépido entre aqueles que podiam ser senadores, no momento em que o processo de
seleção que descrevemos ocorria, o imperador primeiro declarou que ele [Labeão] cometera perjúrio contra
si e ameaçou puni-lo. Então, Labeão respondeu: ‘Por quê? que mal iz ao manter no Senado aquele a quem
você até agora permitiu ser o sumo pontíice?’ Com isso, Augusto abrandou sua ira, pois, embora ele tivesse
sido muitas vezes convidado, privada ou publicamente, a ocupar este sacerdócio, não se sentia no direito
de fazê-lo enquanto Lépido vivesse (D. Cássio, Hist. rom. 54, 15.4-7; seguimos aqui a tradução inglesa de
E. Cary para a loeb classical library).
foram postergadas até que Augusto se tornou o pontifex maximus. É certo que
os sacra regulares dispensavam a presença do pontifex maximus,28 podendo
ser realizados por outro pontíice, agindo como promagister,29 contudo,
intervenções radicais no espaço da urbs dependiam do consenso do colégio
dos pontíices, que Augusto, ao que parece, não mantinha sob seu controle
enquanto Lépido viveu.
Por esses dados, é possível perceber que a obtenção do pontiicado
máximo foi signiicativa para as ações augustanas, permitindo a Augusto a
consecução de ações capitais na urbs, que, até então, eram diicultadas, ou
mesmo impedidas, pelo pontifex maximus Lépido. E, após 12, o investimento
nas restaurações urbanas e institucionais na urbs foi visivelmente intensiicado,
encontrando seu eco na nova mitograia augustana. o pontiicado máximo de
Augusto foi exaltado por escritores augustanos, que destacaram uma ligação
entre o princeps – ilho do divino Júlio – com Vesta, cujo fogo teria sido
trazido de Troia à Itália por Enéias, antepassado dos iulii, e transferido de Alba
Longa para Roma, e com Rômulo, ilho de uma vestal e de Marte (Virgílio,
aen. II, 296, 567; ovídio, fasti I, 527-8; III, 29; VI, 227; Dion. Hal., II, 65.2).30
o augustus estava, portanto, ligado à Vesta, e essa conexão foi corporiicada
em sua domus no Palatino. Beard, North e Price (1998, p. 191, v. I) comentam:
Não só o pontifex maximus agora podia ser chamado “príncipe de Vesta” (ovídio,
fasti, III, 669); não só Vesta foi realocada num novo cenário imperial, mas, e mais
crucialmente, a lareira pública do Estado, com sua associação ao bom sucesso do
Império Romano, foi fundida com a lareira privada de Augusto. o imperador (e
sua casa) podia agora ser chamado a representar o Estado.
28
Ridley (2005, p. 296) apresenta uma lista de ausências de pontiici maximi de Roma, iniciada com Cipião
Barbatus, pontifex maximus entre 304 e 208, ausente durante 4 anos durante as Guerras Samnitas; Crasso
Dives (pontifex maximus entre 212 e 183), ausente durante a guerra contra Aníbal; M. Emílio Lépido
(pontifex maximus entre 180-152), fora de Roma quando foi procônsul na Ligúria; Cipião Nasica (pontifex
maximus entre 141 e 132), ausente quando atuou como legado na ásia; Crasso Muciano (pontifex maximus
entre 132 e 130), o primeiro pontifex maximus a se ausentar da Itália durante um longo tempo; Metelo
Pio (pontifex maximus entre 81 e 63), ausente de Roma entre 79 e 71, quando foi procônsul na Hispania,
e do próprio Júlio César (pontifex maximus entre 63 e 44), quando ocupou o proconsulado da Gália entre
58 e 50, e durante as guerras civis de 49 a 45. cf, também Rüpke (2005).
29
o promagister é atestado, no Principado, por uma inscrição de 155 EC (cil, VI 2120, ils 8380, cil¸VI,
32398a), e anteriormente para o colégio dos Arvais (SCHEID, 1990), substituindo o pontifex maximus
na Itália em caso de afastamento.
30
Dionísio de Halicarnasso (II, 65.2) apresenta também a versão de Numa como instaurador do culto de
Vesta, assim como Tito Lívio (a.u.c. I, 20).
referências
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31
É como augure que Augusto, e.g., realiza as transformações físicas e religiosas do Palatino, bem como a
transferência dos Livros Sibilinos para seu novo templo de Apolo deveu-se a uma conjugação de poderes
sacerdotais.
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continue tenure as pontifex maximus, 44-13 BC. latomus, 65.3, p. 628-633, 2006.
suas obras tem nos feito repensar a noção de “Segunda Sofística”, cunhada a
partir de um excerto da obra de Filostrato, Vidas dos soistas. Simon Swain
(1996, p. 28), em sua obra Hellenism and empire, chega a gerar o termo
“greicidade” (greekness) para explicar a reconstituição da koiné e a adoção
de um aticismo construído de forma quase artiicial, efetuada nos séculos
II e III de nossa era, por alguns autores que escreveram em grego, como
é o caso diôneo. Tom Whitmarsh (2001, p. 23), no livro greek literature
and the roman empire: the politics of imitation, retoma o pensamento de
Swain de forma crítica, tentando demonstrar como a utilização de cânones
culturais gregos serviu, muitas vezes, para demonstrar como os romanos
conseguiam superar os modelos helênicos, mais do que imitá-los ou mesmo
se sentirem presos a eles.
Lembremos que Dion Cássio, ao ter nascido na cidade de Niceia, na
Bitínia, ou seja, na região da ásia Menor, pode ser encaixado na igura de
membro de uma elite provincial que passou a ocupar, durante o governo
de Cômodo, uma posição de destaque no Senado de Roma. No dizer de
Eugène Cizek (1990, p. 160), apesar da inserção de novos membros no
Senado, teria permanecido uma forma mentis senatorial, pois os senadores
continuaram se distinguindo do resto da população por sua forma de vida
e suas aspirações, apesar da diversidade crescente de sua origem territorial.
Contudo, é como senador romano e antigo magistrado que Dion se
posiciona como auctor de seu relato.
Para Martin Hose (2007, p. 464), no artigo “Cassius Dio: a Senator and
Historian in the Age of Anxiety”, parte integrante do livro a companion
to greek and roman historiography, editado por John Marincola (2007,
p. 461-7), Dion viu-se confrontado por um problema na composição interna
de seu trabalho no III século d.C.: prévios paradigmas de interpretação da
história romana haviam se tornado impraticáveis depois das guerras civis,
que se estenderam de 193 a 197 d.C. Após a violência ocorrida, ele teria
percebido que as ações humanas eram impulsionadas pela avareza, pela
ambição e pelo medo. Assim, para Dion, os conlitos eram explicáveis, antes
de tudo, como expressões do poder político. Ele retorna ao passado em sua
narrativa para perceber a perda de poder dos senadores e a criação de um
tipo de poder autocrático que não está conseguindo garantir a abundância
e a estabilidade em seu tempo.
Ele foi expulso do Senado porque havia expedido uma quantidade de grãos
insuiciente para abastecer os soldados acampados na Mauritânia. Esta foi
a acusação oicial feita contra ele, mas o verdadeiro episódio que custou a
expulsão não foi este, mas o fato de que ele havia brigado com alguns libertos
(D. Cássio, Hist. rom. Lx, 24.5).
Sabe-se que conspirou contra Cláudio, mas não pagou com a morte e sim com
o exílio. Uma razão para isto foi provavelmente o fato de que não havia organi-
zado previamente um exército, nem tinha recolhido inanciadores para isto, mas
encontrava-se aturdido por sua loucura [nóia – leitura equivocada da realidade],
com a ilusão de que os romanos se submeteriam ao seu domínio devido à sua
linhagem [primo de Druso por parte de mãe] (D. Cássio, Hist. rom. Lx, 27.5).
o aniversário de seu pai Druso e de sua mãe Antônia; honrou sua avó
Lívia com corridas de cavalo e com sua divinização, pondo sua estátua no
Templo de Augusto e impondo às vestais a realização de sacrifícios em sua
memória e a invocação de seu nome durante os juramentos (D. cássio, Hist.
rom. Lx, 5.1). Em agosto, promovia corridas de cavalos em honra de seu
nascimento, lembrando que era também o mês de consagração do Templo
de Marte (agosto de 2 a.c.). Aceitou com moderação sacrifícios em sua
honra, numerosas aclamações (37 em 13 anos de governo, que se estendeu
de 41 a 54 d.c.) e uma estátua de prata e duas de bronze e mármore em
sua homenagem. Promoveu poucos combates de gladiadores (D. cássio,
Hist. rom. Lx, 5.5-6). Preferia o circo ao teatro e ao aniteatro. Certa vez,
no hipódromo, promoveu uma corrida de camelos e mandou matar 300
ursos e outros animais provenientes da Líbia (D. Cássio, Hist. rom. Lx, 7.3).
Aproveitava as cerimônias para se mostrar afável e indulgente,
visitava senadores quando estes se encontravam doentes e participava de
festas particulares destes (D. Cássio, Hist. rom. Lx, 12.1). No primeiro
aniversário de sua ascensão ao poder (25 de janeiro de 41 d.C.), distribuiu
aos pretorianos 100 sestércios, iniciativa que repetiu todo ano e também
no aniversário de Messalina (D. Cássio, Hist. rom. Lx, 12.5). o nascimento
de Britânico ensejou a realização de combates de gladiadores e de um
banquete (D. Cássio, Hist. rom. Lx, 17.9). Para comemorar as vitórias
bélicas na Bretanha, o Senado lhe conferiu o título de Britânico e lhe deu
autorização para executar a procissão do triunfo. os senadores votaram que
se festejassem anualmente as vitórias militares e que se erigissem dois arcos
triunfais, um em Roma e outro na Gália, local de nascimento de Cláudio
e ponto de partida das tropas para as conquistas bretãs (D. Cássio, Hist.
rom. Lx, 22.1). Do primeiro, construído na capital, em plena Via Flamínia,
só se conservou a inscrição; do segundo, nada sobrou.
Em 45 d.C., comemorou seu aniversário distribuindo grãos para
a plebe e trezentos sestércios por cidadão. Além disso, a festividade
natalícia coincidiu com um eclipse solar. Temendo a repercussão do fato
e a interpretação do mesmo, mandou distribuir panletos explicando o
fenômeno de forma a não comprometer seu governo nem ser visto como
um presságio do im de seu imperium e/ou de sua vida (D. Cássio, Hist.
rom. Lx, 26.1). Já em 51 d.C., Cláudio sentiu vontade de exibir uma batalha
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Catalina Balmaceda
1
Para virtus en diferentes perspectivas, ver Hellegouarc’h (1972), Eisenhut (1973), Sarsila (2006), McDonnell
(2006) e Balmaceda (2007).
2
Para la compleja identiicación de un género exacto para agricola, ver Marincola (1999, p. 281-324, esp.
318). Ver también ogilvie; Richmond (1967, p. 11) y Dorey (1969, p. 1-4); y más recientemente, Sailor
(2008, p. 116-8).
3
Para la moderatio de Agrícola, ver por ejemplo, Liebeschuetz (1966, esp. p. 134); ogilvie; Richmond (1967,
esp. p. 17); Martin (1981, esp. p. 25); Martin (1998, p. 9-12); Classen (1988, esp. p. 115-6); Clarke (2001,
esp. p. 112).
4
modestia, si industria ac vigor adsint, eo laudis excedere.
5
neque licenter ... neque segniter.
6
sed noscere provinciam, nosci exercitui, discere a peritis, sequi optimos.
7
Nótese el sentido activo del adverbio strenue.
8
Ver también 36-7 para su rol en la batalla del monte Graupio.
9
posse etiam sub malis principibus magnos viros esse, obsequiumque ac modestiam, si industria ac vigor adsint,
eo laudis excedere, quo plerique per abrupta sed in nullum rei publicae usum ambitiosa morte inclaruerunt.
dos polos que Tácito describiría luego en sus annales como servidumbre
vergonzosa (deforme obsequium) y rebeldía violenta (abrupta contumacia)
(Tac., ann. 4.20). La moderación que Tácito le concede a su suegro no es
pasiva, sino verdadera virtud; es justamente una zona de frontera entre la
valentía ostentosa por un lado y la desidia o inacción por otro. Agrícola es
un ejemplo de una vida de trabajo duro y prestigio, sin hacer un alarde de
independencia (inani iactatione libertatis) (Tac., agr. 42.3). La moderación
de Agrícola ayudó a re-deinir la virtud de la moderatio y su importante rol
no solo en el Principado sino incluso bajo una tiranía.
Pero Tácito no se interesa solo por la virtus y la libertad romana, se
preocupa también por la naturaleza de la virtud y la libertad mismas, incluso
si las formas más puras de éstas se encuentran fuera de Roma. Por eso Tácito,
en su agricola, se detiene a describir tan exhaustivamente a los britanos. y
lo que aparece a Tácito como la primera virtud de Britania es su imbatible
energía en mantener su libertad. Los britanos parecen haber encontrado
una vía media para aceptar a un extranjero como su amo, porque no se
han rendido completamente a él: “su sujeción implica obediencia, pero
no esclavitud [iam domiti pareant, nondum ut serviant]” (Tac., agr. 13.1).
libertas es, por lo tanto, mostrada como la primera cualidad de este pueblo.
Su condición espacial y fronteras geográicas los ayuda a asegurar su libertad
de movimientos e ideales.
Britania tenía muchas ventajas geográicas: la ubicación de la isla,10 su
riqueza, incluso su clima había actuado en su favor en diferentes ocasiones
(Tac., agr. 22.1-2). Los guerreros eran valientes y feroces – ferocii – y le habían
dado rudos golpes a los romanos (Tac., agr. 11.4). Los britanos no habían
caído en el ocio y la indolencia de los galos que los había hecho perder al
mismo tiempo su valentía y su libertad (amissa virtute pariter ac libertate)
(Tac., agr. 11.4). Virtus y libertas trabajan juntas para Tácito: la libertad era
un requisito para la virtud y al mismo tiempo la valentía era necesaria para
mantener la propia libertad.
Según Tácito, los britanos poseen algunas características propias de
los romanos, que se maniiestan especialmente en su lucha por mantener
10
Para el tema de Britania como isla con sus consecuencias políticas e ideológicas, ver Clarke (2001,
p. 94-112).
11
Estos autores insertan este tipo de discursos dentro de una tradición historiográica. Para los elementos
retóricos del discurso, ver Clarke (2001, p. 105).
12
Para Walser (1951, p. 155-60), Calgaco era totalmente una construcción tacítea. Ver también Fick (1994).
13
Aunque se puede decir que el inal de la eneida sugiere algo diferente.
14
nostris illi dissensionibus ac discordiis clari vitia hostium in gloriam exercitus sui vertunt.
15
an eandem romanis in bello virtutis quam in pace lasciviam adesse creditis?
16
Ver también Rutledge (2000) y Clarke (2001).
17
Para la constantia de Agrícola, ver 18.3; 41.3; 45.3.
Virtus en la Germania
18
Para el propósito de la germania, ver por ejemplo: Lund (1991), Perl (1993) y Rives (1999, esp. p. 48-56).
19
gallia est omnis divisa in partes tres, quarum unam incolunt belgae, aliam aquitani, tertiam qui ipsorum
lingua celtae, nostra gallia appellantur.
20
germania omnis a gallis raetisque et pannoniis rheno et danuvio luminibus, a sarmatis dacisque mutuo
metu aut montibus separatur: cetera oceanus ambit. Para la importancia de descripciones geográicas en
Tácito, ver Giua (1991).
21
Para las características especíicas de la tradición etnográica, ver Rives (1999, p. 11-21).
22
Aunque esto no signiicaba que fuese fácil cultivarlas.
23
plusque ibi boni mores valent quam alibi bonae leges.
24
Desde el capítulo 28 al 37.
no tenían el circo ni sus seducciones, tampoco banquetes lujosos con sus pro-
vocaciones para corromperlos. Hombre y mujeres eran inocentes con respecto
al intercambio secreto de cartas… Para la castidad manchada no había perdón.
Nadie se reía de los vicios; nadie llamaba ‘el espíritu del tiempo’ a la seducción,
sufrida o perpetrada (Tac., germ. 19).
25
laboris atque operum non eadem patientia.
26
Para referencias de inertia y otium en el sentido de inacción, ver Tac., germ. 15.1-2; 28.4; 36.2; 37.6;
44.3; 45.4.
los emperadores, Tácito parece estar urgiéndolos para que se muevan hacia
una activa colaboración en la perpetuación del Estado. Les recuerda que,
para los romanos – contrariamente que para los bárbaros germanos –, la res
publica es siempre una preocupación y responsabilidad de todos. La virtus
un poco salvaje de los germanos es verdaderamente admirable y a través de
ella han podido preservar una cierta libertas política frente a un dominador
extranjero, pero los romanos bajo un princeps se encuentran bajo una
situación diferente. Ellos necesitan “domesticar” sus deseos de sobresalir en
gloria con su valentía a través de la templanza o autodominio (moderatio),
y también controlar sus aspiraciones de libertad ilimitada permaneciendo
irmes y constantes en su propósito (constantia), no dejándose llevar por
la tentación de la indolencia que podía ser compañera de la obediencia.
Domesticar, moderar o controlar la competitividad propia de la política
republicana implica una cierta adaptabilidad por un lado, pero la misma
energía y fortaleza para alcanzar la meta por otro.
Los germanos de Tácito no pueden ser simplemente comparados o
equiparados a los primeros romanos. Ambos pueblos tienen como supremos
valores la valentía y la libertad, pero la virtus y libertas en los romanos –
así como las nuevas manifestaciones de éstas bajo el Principado – están
permeadas por una energía o industria hacia la res publica que no se ve en
los germanos, que tienen una tendencia a la inacción en tiempos de paz
según Tácito. quizá es justamente esta industria la que había permitido
que los romanos adaptaran su virtus mostrando moderación (moderatio) y
constancia (constantia) más tarde. Su trabajo (labor), paciencia (patientia),
y gravedad (gravitas) tradicional los han entrenado hacia la adquisición
de estas virtudes más soisticadas. En las categorías de Tácito, es difícil
para un bárbaro ser constante o moderado. Estas características aparecen
como virtudes propias de pueblos “civilizados”; pueblos que habiendo
experimentado la dramática caída de la libertad a la servidumbre ahora
buscaban maneras de recobrar cierta libertad.
En la obra germania nos enfrentamos a una valentía y a una libertad
más “básica” y elemental. Pero en la germania no nos movemos tan solo en
una frontera temporal, sino también de identidad. La virtus es importante en
ambas sociedades, pero en los romanos está unida a una responsabilidad para
con la comunidad, a un preocuparse por la res publica, especíicamente la idea
de que es algo que se hace entre todos que no se ve en las tribus germanas.
La germania muestra que otras sociedades con una versión más “simple”
de política pueden mantener en cierta manera esta virtus romana original,
y en ese sentido Tácito propone la redeinición a partir del sistema político:
era necesario para Roma transformar estas virtudes en unas versiones más
exigentes de moderación y irmeza en la lucha valiente por la libertad bajo
un autócrata. En las revueltas aguas del Principado los romanos debían
moverse con más cuidado y cautela en el ejercicio de sus derechos políticos
lo que signiicó que los valores de virtus y libertas necesitaran ser redeinidos.
Consideraciones inales
referências
1
Para uma crítica dessa representação dos metecos atenienses, ver Morales (2008).
e escravos que são dominados. Não por acaso o pano de fundo teórico
do livro seja a obra citada de Orlando Patterson, que frisa justamente as
“características universais da estrutura interna da escravidão”, deinindo-a
como “a dominação permanente e violenta de pessoas desenraizadas e
geralmente desonradas” (PATTERSoN, 1982, p. 13). Nas palavras de
Patterson (1982, p. 79), “aqueles que não competem por honra, ou que não
estão inclinados para tanto, estão, de fato, fora da ordem social”. A posse de
escravos é um elemento central na construção dessa honra.
os artigos coligidos na he cambridge world history of slavery, cujo
primeiro volume, sobre o Mediterrâneo antigo, foi organizado por Keith
Bradley e Paul Cartledge (2011), seguem especialmente essa linha de
raciocínio. Assim, Dimitris Kyrtatas (2011), ao tratar da economia da
escravidão grega, airma que a difusão da escravidão-mercadoria pelo
mundo grego a partir do século V a.C. permitiu que a escravidão se
conigurasse como essencialmente uma forma de dominação, uma vez que
os antigos gregos visavam antes à maximização da honra do que do lucro
e daí não se preocuparem em entrar em detalhes sobre a produtividade e
empregabilidade dos escravos. John Bodel (2011, p. 313-4), em seu capítulo
sobre o trabalho escravo na sociedade romana, segue semelhante abordagem
quando fala: “Pelo fato de a escravidão na Antiguidade estar fundada em
considerações ideológicas antes que econômicas, o trabalho escravo era
endêmico na cultura romana – e estava fadado a sê-lo, independentemente
de sua lucratividade”.
Não só os estudos de economia da escravidão partem do princípio de
uma unidade cultural, mas recentemente cada vez mais isso é observável
em análises das relações entre escravidão e religião na Antiguidade.
Por exemplo, Catherine Hezser (2006) busca examinar se haveria uma
perspectiva especiicamente judaica no tocante à escravidão. Sua discussão
aponta para um predomínio de traços de similaridade com a escravidão
greco-romana por conta de as elites da sociedade judaica viverem sob uma
estrutura socioeconômica assimilada a um contexto mais amplo greco-
romano. Igualmente, Jennifer Glancy (2002) considera as atitudes cristãs
frente à escravidão e indaga sobre o possível impacto do cristianismo na
melhora das relações escravistas no Império. A autora conclui que a imersão
do cristianismo no contexto social e econômico da cultura greco-romana
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A cidade no geral tem crescido tanto nos últimos tempos que muitos a tomam
como a primeira cidade do mundo habitado, e certamente ultrapassa todas
as outras cidades em beleza, extensão, abundância e luxo. O número de seus
habitantes supera o de outras cidades. Na época em que estávamos no Egito,
aqueles que mantinham os registros de censos da população diziam que sua
população livre ultrapassava os trezentos mil, e que o rei recebia dos rendi-
mentos do Egito, mais do que seis mil talentos (bibliotheca Historica 17.52.3-6).
1
o crítico, que viveu entre 257-180, no governo de Euergetes, provavelmente trabalhava na Biblioteca,
antes de suceder Eratóstenes como diretor.
Biblioteca, considerando que tal herança grega não deveria ser questionada
e nem retrabalhada. É plausível que o intuito fosse rebaixar a produção
da Biblioteca, reforçando novamente a ausência de originalidade. A
condenação se estende à realeza por ter perdido o controle do que era
realizado no local. Vitrúvio assinala ainda que Homero foi a maior
autoridade literária em meio à nova realeza instalada no Egito e esboça
certo preconceito com relação às inovações produzidas em contexto
alexandrino, sugerindo que a identidade mista da cidade enfraquecera os
valores helênicos. Mas, como Estrabão e Ateneu, também ressalta o forte
vínculo das duas instituições com a realeza.
como Vitrúvio, Sêneca indica certa aversão à instituição, por
considerá-la um exemplo de esbanjamento. Argumenta que até para os
estudos, gastos só eram justiicáveis se existissem limites e questiona o
sentido de se ter ininitos livros, cujos títulos diicilmente seriam lidos no
decorrer de uma vida inteira. E esclarece que não se daria ao trabalho de
elogiar essa Biblioteca, como izera Tito Lívio, que a considerava como o
mais bonito memorial da riqueza real. Sêneca considera que tal projeto só
estimulava o luxo, pois se colecionavam livros unicamente para exibição e
decoração. Portanto, o problema eram a ostentação e o acúmulo desmedido
(Sêneca, ad serenum. de tranquillitate animi, 9.5; Tito Lívio, periochae
112.42). Em outro momento, Tito Lívio (ab urbe condita 45.33.7.3)
faz menção ao esbanjamento dos Ptolomeus, dizendo que o palácio de
Alexandria icava abarrotado de objetos para exibição e sugerindo que a
coleção não tinha inalidade prática e estava exposta apenas para o desfrute,
da mesma forma como os livros mencionados por Sêneca eram usados
como adornos.
Percebe-se que os latinos celebram menos a cultura erudita da cidade,
entendida como mero esbanjamento, e não um projeto intelectual em
grande escala. o silêncio a respeito do conhecimento produzido na
Biblioteca e no Museu e com relação ao potencial intelectual de Alexandria
é sugestivo, principalmente se analisado paralelamente aos mesmos relatos
que descreviam a grandeza e a riqueza da metrópole. Evitavam tecer
testemunhos sobre a Biblioteca, pois não era um assunto conveniente para
os romanos reforçarem? ou seja, a centralidade cultural de Alexandria não
deveria ser estimulada, pois poderia abalar Roma caso se desenvolvesse.
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Ramón Teja
Ellos juran por Dios, por Cristo, por el Santo Espíritu y por la majestad del
emperador que, el primero después de Dios, debe ser adorado y venerado por
el género humano. En efecto, al emperador, desde que recibió el nombre de
Augusto, le son debidas una iel devoción y una sumisión incondicional como a
un dios físicamente presente (praesenti et corporali deo) (Vegetius, institutiones
rei militaris, II, 5).
******
El proceso que condujo a la identiicación entre cristianos y romanos
constituye una de las más profundas transformaciones “identitarias” que ha
conocido la historia de occidente: lo que convencionalmente denominamos
“Antigüedad Tardía” es la historia de la integración entre el cristianismo
y la cultura e instituciones romanas; una integración que neutralizó la
inicial demonización de la romanidad por algunos cristianos, minoritarios
ciertamente, representados ya en la literatura apocalíptica del Nuevo
Testamento y después en escritores como Hipólito de Roma que consideraba
el Imperio como obra de Satanás y coniaba en su inminente inal profetizado
en el sueño de Nabucodonosor (Hipólito, in danielem IV, 9, 2). Se trata de
una concepción que era compartida también por muchos escritores paganos
que no concebían la posibilidad de conciliar el cristianismo con el Imperio.
Pero se dio la gran paradoja histórica de que la identidad cultural romana se
convirtió en identidad religiosa y terminó por ser asumida por los cristianos
como una forma de patriotismo cultural. Los primeros historiadores
romanos en lengua latina, como es el caso de san Agustín y orosio, crearon
una sincronía Cristo-Augusto que constituyó la base de una auténtica
teología de la historia y del Imperio transformado en cristiano. En realidad
el proceso venía de muy atrás. El primero en poner en relación el éxito del
Imperio con la aparición de Cristo y una religión de origen “bárbaro” como la
cristiana había sido, que sepamos, Melitón de Sardes en su apología dirigida
a M. Aurelio, de hacia el 170:
tierra (Oros. Hist. VI, 20). E. Peterson ha caliicado este libro VI de orosio
como “el desarrollo de toda una teología política de Augusto” donde “este
español provincial entrelazó Imperio y Cristianismo como tal vez nadie
hizo, y los relacionó de una manera impresionante, vinculando Augusto a
Cristo. Evidentemente con ello cristianiza a Augusto y romaniza a Cristo,
que resulta ser un civis romanus” (PETERSoN, 1999, p. 91). Me permito
recordar también un pasaje poco conocido de Gregorio de Nacianzo donde
reiriéndose al emperador Constancio II, dice: “Sabía bien, porque su idea
sobre estas cosas era más alta, más digna de un rey de lo que es común
entre la mayoría, que la grandeza de los romanos había aumentado con la
de los cristianos, que el Imperio se había iniciado con la llegada de Cristo
pues nunca hasta entonces todo el poder había estado en manos de un solo
hombre” (Greg. Nac., oratio IV, 37; vide PETERSoN, 1999, p. 81 ss. en
donde traza la evolución de la idea desde Melitón de Sardes a Eusebio y los
escritores que después se inspiraron en él; vide LUGARESI, 1993, p. 271-2).
De este paralelismo o sincronía, a partir del siglo V, comenzaron a
ser protagonistas también los bárbaros en cuanto parte integrante de la
polémica entre paganos y cristianos que caracterizó el inal de la Antigüedad.
El término paganus, derivado de pagus (aldea), fue utilizado por los escritores
cristianos latinos, a partir del siglo IV, para indicar todos los ritos o cultos
presentes en la ecúmene romana – fuesen de matriz grecorromana, céltica o
germánica – y que permanecían coninados en las aldeas en un momento en
que el cristianismo se expandía por las ciudades: estos autores, como Isidoro
de Sevilla para Hispania, Gregorio Magno para Italia o Gregorio de Tours para
la Galia, todo lo que no consideraban cristiano lo relegaban a la condición
de pagano. Ello demuestra que se había producido ya la identiicación del
cristianismo con las sociedades urbanas, y no se debe olvidar que fue la civitas
lo que caracterizó la civilización greco-romana, aunque sabemos bien que,
todavía en el s. V en Roma – y más aún en otras muchas ciudades – el espacio
cívico continuaba siendo compartido por cristianos y paganos.
Salvando las peculiaridades religiosas de las minorías que en las aldeas o
pagi seguían siendo “paganas”, la presencia de los bárbaros en el interior de la
viejas fronteras del Imperio aceleró el proceso que, por contraste, llevó a los
cristianos a reconocerse en la cultura de los romanos dando origen a nuevos
paralelismos bien señalados, en un estudio aún inédito, por la estudiosa
******
******
******
El Señor ha querido poner a prueba a sus hijos, y como una paz larga había
relajado los preceptos que nos enseñó Dios, la justicia del cielo se encargó
de levantar nuestra fe decaída y casi diría aletargada, y aunque por nuestros
pecados merecíamos más castigos, Dios clementísimo lo dispuso de manera
que todo lo que hasta aquí sucedido pareciese más un sondeo (exploratio) que
una persecución (cipriano, de lapsis, 5).
Se unían en matrimonio con los inieles, se prostituían con los gentiles los
miembros de Cristo [...] Se despreciaba con soberbia altanería a los prelados,
se maldecían recíprocamente con venenosas lenguas, se destrozaban con obsti-
nado odio unos a otros. Muchos obispos, que deben ser un estímulo y ejemplo
para los demás, despreciando su sagrado ministerio, se empleaban en el manejo
de bienes mundanos y, abandonando su cátedra y su ciudad, recorrían los mer-
cados por las provincias extranjeras a la caza de negocios lucrativos, buscando
acumular dinero en abundancia, mientras pasaban necesidad los hermanos de
la Iglesia; se apoderaban con ardides y fraudes de heredades ajenas, cargaban
el interés con desmesurada usura […] (Cipriano, de lapsis, 6).
Al entrar en este templo los hombres y mujeres, esclavos y libres, juren por
todos los dioses que no maquinarán deliberadamente algún engaño o veneno
letal contra algún hombre o mujer; que no conocerán, ni harán, ni recurrirán
a iltros amorosos, a fármacos para abortar, a anticonceptivos, ni a acciones
de rapiña o de sangre; que no robarán y que tendrán buenas acciones respecto
a esta casa (templo), y que, si alguien hace o proyecta algunas de estas cosas,
no lo callarán, sino que lo denunciarán y lo castigarán. Los hombres no de-
ben tener relaciones con las mujeres de otros, ya sean libres o esclavas, ni con
******
(movetur urbs sedibus suis) y el pueblo, que pasa de largo en oleadas ante los
santuarios semiderruidos, corre a los sepulcros de los mártires (Jerónimo,
epistola 107, 1).
referencias
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1
Este texto é uma versão ampliada do artigo un imperatore in cerca della città perfetta: giuliano e l’immagine
di antiochia nel ‘misopogon’ publicado na revista Khaos et kosmos de 2013. Gostaríamos de deixar aqui
registrados nossos agradecimentos ao Prof. Ennio Sanzi pela atenta leitura dos originais e pelas sugestões
visando ao aprimoramento do texto.
2
De acordo com Caseau (2001, p. 24), a sacralidade do solo cívico era resguardada por meio de dois ritos
ancestrais: o da dedicatio, a oferta da cidade aos deuses, executado pelo fundador, por magistrados ou
generais; e o da consecratio. Realizado em nome do populus, esse rito convertia o território da urbs em res
sacra, espaço público sagrado onde qualquer ato violento ou destrutivo era qualiicado como sacrilegium.
uiuendi urbano, isto é, por tudo o que fosse apreciado pela multidão,
criticando amiúde o apego excessivo dos citadinos às termas, aos teatros,
às tavernas, aos lupanares, aos circos e aniteatros como prova de mollitia,
de frouxidão de caráter, atributo dos escravos e das mulheres, em oposição
à simplicidade e rudeza da vida no campo, capaz de estimular, no homem,
a têmpera inquebrantável da uirtus. Como assinala Edwards (2002, p. 194),
numerosos textos das fases republicana e imperial exprimem o desejo
da elite greco-romana, ou ao menos de uma parte dela, de se conservar
distante de tudo aquilo tido como apanágio do populacho, da ralé, sem,
contudo, defender o argumento segundo o qual a cidade comportaria, em
si mesma, um risco iminente à integridade física, moral e espiritual de seus
habitantes, o que, no limite, reclamaria uma ação urgente com o propósito
de restaurá-la. Muito pelo contrário, no decorrer dos três primeiros séculos
da era imperial, a possibilidade de se residir numa cidade, com todos os
atrativos e confortos que lhe eram inerentes, foi sempre tida como um fator
de prestígio, um componente distintivo da própria humanitas, conceito
por vezes associado à paideia, mas também à urbanitas, na medida em
que a constelação de atributos positivos que faziam de gregos e romanos
seres humanos superiores diante do barbaricum se resolvia, em termos
topográicos, no recinto da cidade. organizadas em cidades, as populações
dispersas pelas províncias se integravam assim nessa extensa “comunidade
imaginada” que era o Império Romano. Reletindo sobre os elementos
capazes de conferir identidade aos habitantes do Império, Revell (2009, p. 5)
sugere o emprego do conceito de romanidade (roman-ness) para exprimir a
solidariedade proporcionada pelas estruturas imperiais. Segundo a autora,
a romanidade repousaria em, pelo menos, três pilares: o culto imperial, a
práxis religiosa e o urbanismo, ou seja, uma ideologia a respeito do modo
correto ou apropriado de se viver que envolvia, para além da interface física
de uma cidade, seu traçado, edifícios e monumentos, uma maneira de
executar as atividades cotidianas nesses ambientes, que seria incorporada
ao mapa mental dos usuários. o afeto incondicional que gregos e romanos
costumavam nutrir pela sua cidade de nascimento ou de opção pode
ser avaliado pelos panegíricos, gênero literário empregado a serviço do
orgulho cívico desde pelo menos o panatenaico, de Isócrates (séc. IV a.C.,
cf. HARVEy, 1998, p. 291).
Disso resulta que a cidade antiga nunca foi tida a priori como uma
ameaça aos seus habitantes, como um ambiente inóspito, degradado,
privado de carisma e que merecesse ser regenerado, reformado ou mesmo
puriicado. No século IV, todavia, parece pouco a pouco tomar forma uma
representação que, ao converter a cidade numa realidade potencialmente
nociva, uma heterotopia, como certa vez sugeriu Lefebvre (2004, p.
45), engendra um conjunto de discursos e de práticas que visam à sua
reabilitação, segundo uma lógica na qual prevalece a obsessão pela pureza,
de modo a se obter, ao término da operação, uma cidade coesa, una, solidária
e isenta de qualquer agente que a coloque em risco. Tal procedimento, como
assinala Sennet (2008, p. 9), é próprio das conjunturas nas quais irrompem
transformações intensas e por vezes dramáticas na ordem social, quando
as certezas do passado são confrontadas pela chegada dos “novos tempos”,
que portam consigo a perspectiva de um futuro desejado, mas ainda não
conhecido, impelindo os homens a se preocupar com o estatuto do lugar
onde residem, o palco onde se desenrola o drama da vida em sociedade,
seja com a inalidade de recuperar uma essência já perdida ou de instituir
uma experiência radicalmente nova. o projeto de uma cidade livre do mal,
do pecado e da idolatria tem, entre os autores cristãos, bastante prolíicos
no Império Romano tardio, os seus principais defensores. Valendo-se
dos recursos da retórica clássica posta a serviço da cristianização, bispos
e presbíteros darão início, no século IV, a uma pregação ostensiva com o
irme propósito de reformar a cidade greco-romana, dissolvendo assim os
laços ancestrais que a uniam aos deuses, vale dizer, a Satanás e suas falanges,
mediante a condenação dos lugares, dos monumentos e das atividades
características da vida urbana. Desse modo, embora do ponto de vista da
realidade vivida a cidade, na Antiguidade Tardia, ainda conserve, em maior
ou menor grau, o seu ethos greco-romano e/ou judaico, constatação que a
investigação arqueológica não cessa de reiterar (Brown, 2010, p. 407), do
ponto de vista discursivo ela tende a ser representada como um território
totalmente cristão ou em vias de ser cristianizado, o que equivale a uma
autêntica regeneração, pois, mediante o emprego da “terapêutica” cristã, a
cidade pode ser “curada” das “moléstias” que há séculos a aligem, como
comprova a abundância de metáforas médicas presentes nos tratados e
homilias dos Padres da Igreja.
3
Segundo Marcone (1984, p. 228), a sátira grega, ao contrário da sua homônima latina, não possuía uma
forma literária deinida, razão pela qual quando tratamos da sátira grega estamos falando de uma obra
que comporta elementos satíricos, mas que não segue cânones estritos na sua composição. É possível
também, conforme sugere o autor, identiicar no misopogon características da diatribe, pois o texto de
Juliano conjuga temas cômicos e temas sérios com inalidade pedagógica.
4
Sabemos que Juliano, apesar do seu curto governo, manifestou desde o início um cuidado particular
com a situação das cidades e de suas cúrias, tendo desenvolvido toda uma legislação visando a aprimorar
a administração urbana. De acordo com Carvalho (2005, p. 118), Juliano buscou fortalecer o sistema
administrativo do Império por meio da revitalização das cúrias municipais.
o Misopogon, um antipanegírico
5
Tal interpretação é compartilhada, dentre outros, por Norwich (1989, p. 94), Ferril (1989, p. 46) e
Christensen-Ernst (2012, p. 48).
de apoio popular (DOWNEy, 1961, p. 390 e ss.). À parte todas essas variáveis
de ordem econômica e militar, bastante inluentes por sinal, é necessário
atentar para o fato de que o “ruído” entre Juliano e a população da cidade
foi agravado também pela política religiosa do imperador, que desencadeou
uma série de atritos, não apenas com os adeptos do cristianismo, como seria
de se esperar, mas igualmente com os pagãos.
Nos meses em que residiu em Antioquia, Juliano dedicou-se a uma
autêntica peregrinação pelos templos e santuários em sinal de reverência
às divindades cívicas, dentre as quais Zeus, Deméter, Hermes, Pan, Ares,
calíope, Apolo, ísis e a tyché. Uma peculiaridade da devoção de Juliano era
o seu apego aos sacrifícios sangrentos, com o abate de um grande número
de vítimas prontamente consumidas pelos soldados de sua comitiva, atitude
um tanto ou quanto acintosa diante de uma crise de abastecimento então
em curso. O palácio imperial da ilha do Orontes, por sua vez, foi convertido
num templo, erigindo-se altares nos jardins, sob as árvores, onde o imperador
poderia acompanhar os sacrifícios com maior comodidade (SOLER, 2006,
p. 44). crítico contumaz dos jogos, dos mimos e pantomimas, Juliano se
afasta deliberadamente do teatro e do aniteatro, proibindo inclusive que
os sacerdotes pagãos compareçam aos espetáculos ou recebam a visita de
atores, dançarinos e aurigas (ep. 89b, 304). Agindo com singular audácia,
decide suprimir a Maiuma, um antigo festival orgiástico celebrado a cada
três anos em honra a Dioniso e Afrodite (SoLER, 2006, p. 39). Inclinado a
uma postura rigorista e altaneira, Juliano se apresenta, na cidade, como um
ilósofo, evitando o contato com a população nos espaços de lazer, censurando
suas modalidades de entretenimento e acusando-a de indiferença para com
os deuses. Irritados, os antioquenos não tardam a revidar com irreverência
e deboche. De acordo com Gleason (1986, p. 108), no início de janeiro de
363, quando da comemoração das Calendas, que anunciavam o Ano Novo,
o desconforto da população com o imperador teria se tornado insustentável,
pois a festa, ao assumir um tom claramente jocoso, forneceu aos antioquenos
o pretexto para exercitar amplamente a sua verve satírica, sendo Juliano
comparado a um macaco, a um anão, a um bode barbado e mesmo a um
victimarius, um açougueiro, devido à pletora de sacrifícios que promoveu
(Am. Marc. 22,14). Não obstante a indignação pelo ultraje sofrido, Juliano
evitou o uso da força contra a cidade, preferindo responder aos insultos
a utopia de Juliano
6
Sobre o tema, consultar o estudo clássico de Browning (1952).
7
Juliano era particularmente avesso ao cordax, acusando os antioquenos, por ele qualiicados genericamente
como sírios, de uma inclinação excessiva pela embriaguez e pela dança do cordax (mis. 20).
de seu tempo havia sido esvaziado por completo do ethos sagrado que outrora
possuía, desconectando-se do culto aos deuses e adquirindo um matiz
sacrílego, ímpio. Numa carta ao sacerdote Teodoro, escrita em janeiro de 363,
quando ainda se encontrava em Antioquia, Juliano confessava que, se fosse
possível banir dos teatros a indecência de modo a restituí-los, puriicados, à
tutela de Dioniso, não hesitaria em o fazer, mas, diante das circunstâncias,
recomendava expressamente aos sacerdotes pagãos que evitassem os
espetáculos teatrais (ep. 89b, 304). Considerando o teatro uma atividade
ofensiva aos deuses, Juliano o transformava em algo que, ao menos em meios
pagãos, ele nunca havia sido, ou seja, um vetor de poluição capaz de romper
os liames entre os deuses e a polis. Aqui não se trata mais de apenas qualiicar
os atores e atrizes como infames, tendência já bem consolidada entre os
juristas romanos do período imperial, mas de condenar os ludi theatralis e
o recinto que os abrigava como uma ameaça à sacralidade do solo urbano.
No intento de demonstrar como Antioquia era a antítese das hierai
poleis, ou seja, das cidades sagradas que veneravam as divindades, a exemplo
de Emesa (mis. 28; 33), Juliano acusa os antioquenos de negligenciar o
cuidado com os cultos e os templos. A esse respeito, a maior decepção
experimentada pelo imperador teria ocorrido entre ins de julho e início
de agosto de 362, ao se dirigir a Dafne para celebrar a festa de Apolo.
Ansiando por participar de uma cerimônia esplêndida, repleta de oferendas,
incensos, coros e libações, Juliano se depara, no recinto do templo, apenas
com o sacerdote do deus, que trazia um ganso de sua propriedade para
ser imolado. A cúria, por sua vez, não teria tomado nenhuma providência
para honrar Apolo com a pompa devida, o que irrita profundamente o
imperador (mis. 34). Para Juliano, era inadmissível que uma cidade como
Antioquia despendesse tantos recursos com a festa da Maiuma, mas fosse
incapaz de oferecer ao menos uma vítima a Apolo, um de seus deuses
tutelares. o descuido para com a festa de Apolo poderia ser interpretado,
a princípio, como uma evidência de que Antioquia, em meados do século
IV, já estivesse plenamente cristianizada, como sugerem Lacombrade (1964,
p. 141), Gleason (1986, p. 114) e Jiménez Sánchez (2003, p. 118). Todavia,
essa não nos parece a melhor explicação para o episódio, uma vez que,
em outra passagem do misopogon (11), Juliano se queixa de que, em sua
peregrinação pelos templos, uma multidão costumava segui-lo com gritos
e arengas, não pelo desejo de prestar culto aos deuses, mas de ver de perto
o imperador, adotando assim uma conduta absolutamente imprópria em
lugares reservados à oração e ao silêncio. Na medida em que a visita aos
templos, como de resto qualquer outro deslocamento do imperador pelo
perímetro urbano, era um acontecimento que mobilizava a população, o
esvaziamento da festa de Apolo parece sugerir uma visita inesperada de
Juliano a Dafne, sem que os decuriões tivessem tido a oportunidade de
planejar uma recepção à altura. Por outro lado, tal esvaziamento pode
se encontrar igualmente conectado com a crise econômica que assolou
Antioquia em 362. Além disso, não podemos descartar a hipótese de que
a igura solitária do sacerdote trazendo nas mãos um ganso, um animal de
pequeno porte, conigure um artifício retórico empregado para reforçar a
negligência dos antioquenos para com Apolo.
Antioquia, na concepção de Juliano, era uma cidade sacrílega por
recusar a contrição e o recolhimento dos templos, preferindo a festa, o canto
e a dança em praça pública, como vemos na seguinte passagem:
8
Trata-se de em favor da santa religião dos cristãos contra os livros do ímpio Juliano. De data incerta, supõe-
se que tenha sido escrito entre 433 e 444, ano da morte de Cirilo.
Considerações inais
utilizado para qualiicar tanto aquilo que pertencia à cultura grega quanto
as crenças e práticas do politeísmo, tornando-se assim sinônimo de um
sistema religioso distinto do cristianismo. Em pouco tempo hellenismos será
igualmente incorporado ao vocabulário dos autores cristãos, em substituição
a ethnikon. A ressigniicação de hellenismos nos sugere a tentativa de criação,
ao menos por parte dos ilósofos neoplatônicos, de uma identidade de
teor religioso capaz de confrontar o cristianismo, muito embora isso não
exclua empréstimos mútuos, como demonstra Juliano, cuja reforma do
paganismo inspirou-se, até certo ponto, em princípios cristãos. Dentre tais
empréstimos, um dos mais evidentes foi a noção de philanthropia, ou seja, o
exercício da caridade para com os pobres, tema que o imperador desenvolve
extensamente na carta ao sacerdote Teodoro (ep. 89b). Num contexto em que
as autoridades episcopais, ao liderar as redes de assistencialismo, começavam
a controlar uma massa anônima de pobres e indigentes, uma poderosa base
de apoio para o trabalho de cristianização da cidade, Juliano propõe uma
contraofensiva em moldes pagãos, exortando os sacerdotes ao cuidado com
os pobres e prisioneiros, que deveriam ser protegidos da ganância alheia.
A conexão entre o pensamento de Juliano e a doutrina cristã alora,
igualmente, na maneira pela qual o imperador se refere a Antioquia, como
vemos no misopogon. Em sua opinião, Antioquia não seria apenas uma
cidade tryphosa, como tantas outras do Império, mas uma cidade marcada
pela impiedade, pela falta de respeito para com os deuses. Juliano condena
o estilo de vida dos antioquenos, sua frequência ao teatro e ao hipódromo,
seus festivais, seu gosto pelas comemorações em praça pública, não como
um desvio moral próprio de indivíduos de categoria inferior, mas como uma
afronta à majestade divina. Para Juliano a cidade deveria aspirar à santidade,
à elevação espiritual, o que exigia a rejeição a tudo aquilo que até então a
caracterizava em prol da autopuriicação. Talvez não fosse incorreto supor
que, diante da cristianização da cidade antiga, processo cada vez mais nítido
em meados do século IV, a reforma do paganismo idealizada por Juliano
comportasse a “helenização” da cidade, desde que esta helenização não
seja compreendida tão somente como um bloqueio à atuação dos cristãos
no recinto urbano, como uma reabilitação dos cultos ancestrais da polis ou
como o restauro dos templos e santuários. De fato, pensar nos termos de uma
helenização da cidade greco-romana sob Juliano é pensar na coniguração
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Introdução
1
o capítulo intitulado “he cult of the Roman emperors in Ephesus”, de Steven Friesen, publicado na obra
ephesus, metropolis of asia editada por Helmut Koester, em 1995, teve como objeto de relexão a cidade de
Éfeso no que se refere ao título de neokoros. Em 1996, a obra metropolis and Hinterland de Neville Morley
trouxe um estudo sobre a cidade de Roma antiga e seus arredores na Península Itálica sob a ótica da economia
e segundo uma concepção teórica da relação entre metrópole-periferia. Em 2013, Judith Herrin organizou
uma obra intitulada margins and metropolis composta por capítulos referentes ao chamado Império Bizantino.
Já neokoroi: greek cities and roman emperors, embora seja resultado de uma tese de doutorado defendida
em 1980, foi publicada apenas em 2004. Barbara Burrell (2004, p. 1-13) se dedicou ao estudo da origem, do
desenvolvimento e da deinição do título de neokoros associado às cidades entre ins do século I aos ins do
século III d.C.
2
roman asia minor foi publicada como parte de obra an economic survey of ancient rome, volume IV,
editada por Tenney Frank.
3
o título da obra é roman rule in asia minor.
4
Conferir, he cities of asia minor under the roman imperium.
5
A obra se intitula anatolia, land, men and gods in asia minor.
6
coinage in roman syria, obra publicada em 2004.
7
Libânio (or. xI, 130 e 187) utiliza o termo na expressão “metrópole da ásia”. Cf. Foerster. Libanii Cf. Foerster.
Libanii opera, vol. I, oratione xI, p. 479. No artigo l’image d’antioche dans les Homélies sur les statues de
Jean chrysostome, Laurence Brottier (1993, p. 619-35) argumenta que Antioquia, para João Crisóstomo,
será concebida como a “metrópole do oriente” e também uma “metrópole terrestre” e, para além disso, uma
“metrópole celeste”.
8
homas Robert Shannon Broughton (1975, p. 696) argumenta que “o estudo sobre as cidades da ásia Menor
durante os dois primeiros séculos do Império é um estudo sobre o progresso da urbanização e sobre o
aumento da prosperidade” citadina e que “as evidências para ambos são provenientes, principalmente, das
moedas e das inscrições”.
9
Sobre a documentação disponível para esse tema, no que se refere, por exemplo, à fundação de Cirene, em
c. 430 a.C., conferir: Heródoto (Historias, Livro IV, 154-6).
10
Conferir, por exemplo, a obra colony and mother city in ancient greece de Alexander John Graham.
11
Vanderspoel (1995, p. 54) argumenta que Roma, em lugar de ser a metrópole de uma província, era a
metrópole de um Império.
12
Para esses argumentos e a moeda que ora citamos, conferir o sítio da University of Warwick: http://www2.
warwick.ac.uk/fac/arts/classics/students/modules/romanneareast/resources/
Considerações inais
agradecimentos
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1
o cristianismo, desde a sua origem é controverso, plural e, nos séculos IV e V, também está marcado por
divergências doutrinárias, disciplinares e regionais, que icam bem explícitas no Concílio de Niceia. Este
concílio, celebrado em 325, organizado por Constantino, visava fundamentalmente a resolver a questão
ariana. o presbítero ário defendia que Cristo, por ter sido criado pelo Pai, não era da mesma substância
Dele, era inferior. Esta tese dividiu a Igreja e deu origem a vários concílios. Em Niceia, as ideias de ário
foram rejeitadas e foi imposta a fórmula de fé, conhecida como o Credo de Niceia, que ressalta a unidade
de Cristo com o Pai (a consubstancialidade = homoousia) e nega a doutrina das três hipóstases trinitárias
que prevalecia no oriente. Como consequência dos embates travados em Niceia, a Igreja icou dividida
entre partidários do credo niceno e do credo ariano (SIMoNETTI, 2002, p. 149-53).
2
Segundo Brown (1999, p. 53), paganus é um vocábulo latino utilizado para designar aquilo que é rústico,
do campo, da aldeia; muitas vezes servia para tratar de modo pejorativo pessoas sem instrução, “iletradas”,
“subalternos em relação aos oiciais”. É difícil determinar com precisão como essa palavra ganhou um
signiicado religioso, mas há algumas inferências sobre o assunto. A resistência dos homens que viviam
no campo em abandonar suas antigas crenças e se converterem ao cristianismo teria levado à associação
entre paganus e a pertença ao antigo politeísmo. Siniscalco (2002, p. 1059) não discute o motivo da
identiicação, mas indica que o uso do termo com o signiicado de “idólatra” passa a ser comum a partir
do século IV e airma que esta noção é absolutamente inútil para compreender o sistema religioso dos
antigos romanos, porque era uma forma de os cristãos denominarem aqueles que não eram judeus nem
professavam a fé em Cristo. Entre os autores cristãos que escreveram em grego no século IV, os termos
utilizados para designar aqueles que praticavam o politeísmo eram ethnikos, helenos e anomos como
sinônimos para injusto e ímpio; entre os latinos, é comum gentilis, impius e sacrilegus. Portanto, paganismo
foi um termo que começou a aparecer nos textos cristãos com maior frequência a partir do século V para
designar “crença nos falsos deuses e a prática de ritos e costumes condenáveis” (LEMoS, 2013, p. 37).
3
Sobre a relação entre pagãos e cristãos no Império Romano ver Macmullen (1998) e o atual Cameron (2013).
4
As citações bíblicas usadas neste texto foram extraídas de A BIBLíA DE JERUSALÉM, edição coordenada
por Gilberto Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson.
De acordo com Paulo, o iel cristão era um cidadão celeste que peregrinava
pela Jerusalém terrestre aguardando o momento da salvação, quando seria
levado à “cidade celeste”, livre de toda a ignomínia. Na “cidade terrena”, os
inimigos de Deus eram escravizados pelos vícios e punidos com a dor eterna,
e os cristãos eram colocados à prova pela Providência divina. Nas escrituras
sagradas, a “cidade celeste” é a morada eterna dos cristãos, somente alcançada
por aqueles que, durante a peregrinação pela Jerusalém terrestre, não se
deixaram corromper pelo mundo e viveram segundo os princípios da fé
(LEMoS, 2004, p. 81). Agostinho, bispo de Hipona, no século V d.C., enfatizou
a diferença e a distância entre os cidadãos que habitavam as duas cidades:
5
A doutrina da “cidade celeste é tema recorrente na Bíblia, aparece no apocalipse (III, 12; xxI, 1-10),
na epístola aos Hebreus (xIII, 14-15), aos gálatas (IV, 22-26) e aos filipenses (III, 18-21). Em a cidade
de deus, Agostinho desenvolveu essa doutrina: há uma “Cidade Celeste”, chamada de Nova Jerusalém,
fundada por Deus e morada eterna dos cristãos. Ela possui uma parte que peregrina pela terra, através
de seus cidadãos reunidos na Igreja. E há uma outra cidade, a “Terrestre”, dos homens, denominada de
Jerusalém terrestre ou Babilônia, ilha de Caim, ou seja, do pecado, da corrupção humana. Não existe uma
clara separação entre essas duas cidades, elas formariam um único corpo místico, vivendo misturadas no
mundo, até o dia do Juízo Final (civ. dei, xVIII, 54).
6
“É sacer “tudo que é considerado propriedade dos deuses” (Macróbio, saturnais, III, 3, 2, segundo o jurista
Trebácio, contemporâneo de Cícero). o que signiica que é “o que foi dedicado e consagrado aos deuses”
(Festo, da signiicação das palavras, p. 424, edição Lindsay, segundo o jurista Élio Galo, contemporâneo de
Cícero). o sagrado não é, propriamente falando, uma qualidade divina que se constata num ser ou numa
coisa, mas uma qualidade que os homens ali colocam. [...] o sagrado não é “uma força mágica” que se
coloca num objeto, mas simplesmente uma qualidade jurídica que este objeto possui. […] A consagração,
em nível dos cultos públicos, pode ser efetuada somente pelos magistrados ou por pessoas que foram
encarregadas disto por uma lei. De fato, no culto público somente eram sagrados os edifícios ou objetos
consagrados pelos magistrados supremos ou por aqueles que a assembleia do povo elegia para fazer em
seu nome” (SCHEID, 1998, p. 2).
Na língua grega, nem mesmo havia uma palavra cujo campo semântico
fosse equivalente ao termo religião. A que mais se aproximava era eusèbeia,
deinida como os cuidados (therapeia) devidos aos deuses (VEGETTI, 1994,
p. 232). Durante muito tempo, os latinos também não tiveram um termo para
designar a religião. A palavra religio sofreu muitas variações no decorrer da
história,7 até assumir o signiicado de “verdadeira religião”, no cristianismo.
Por fim, para gregos e romanos pagãos, conforme Vegetti (1994,
p. 232), “a religiosidade consistia na observância pontual dos ritos cultuais
que exprimiam o respeito, a veneração e a deferência dos homens pela
divindade.” Não havia um profeta fundador e muito menos o monopólio
do sagrado por um grupo ixo de intérpretes especializados. o espaço do
secular se confundia com o do sagrado, e este não era identiicado com uma
religião, como explica Nola (1987, p. 109):
7
“os antigos se referem a duas etimologias diferentes para exprimir o que eles entendem por este termo
sempre perigoso ao traduzir. Eles tanto relacionam a religare (“ligar”) como a relegere (“retomar”, “controlar”;
“zelo religioso”). No primeiro caso, eles sublinham os elos entre homens e deuses, no segundo, o zelo
da observância. A religião como comunidade com os deuses e a religião como sistema de obrigações
induzido por esta comunidade, tais são os dois aspectos principais que os romanos revelam por trás do
termo religio, um sendo como corolário do outro. Em todo caso, religio, não designa o elo sentimental,
direto e pessoal do indivíduo com uma divindade, mas um conjunto de regras formais e objetivas legadas
pela tradição. É no quadro destas regras tradicionais e desta ‘etiqueta’ que o indivíduo entra em relação
com os deuses” (SCHEID, 1998, p. 2).
[...] Poder-se-ia sugerir que é apenas sua religião anterior, e não sua maneira de
vida, a que o convertido precisaria renunciar. Mas onde essa religião termina,
e sua maneira de vida, seus costumes “seculares” ou “cultura” começam? quais
são as fronteiras do cristianismo, parte de sua substância essencial? O que,
minimamente, fará de um convertido um cristão?
[...] Ser cristão signiicava ser membro de um grupo que se estendia através
do abismo que dividia o céu e a terra. Agostinho fazia eco a essa convicção
universal ao dizer que “essa Igreja que agora está em viagem, está unida com
a Igreja celeste onde temos os anjos como nossos concidadãos”, pois “todos
somos membros de um só Corpo, quer estejamos aqui ou em qualquer outro
tempo, do justo Abel até o im do mundo” (MARKUS, 1997, p. 32).
Se uma grande dor me prostra, é a dor de ver cristãos, meus irmãos, entrarem
na igreja só com os corpos, deixando os corações lá fora […] Tudo deve vir
para dentro da igreja, corpo e alma; por que deve o corpo, que é visto pelos
homens, icar dentro, enquanto se deixa fora o que é visto por Deus? […]
Nós pregamos, com efeito, contra os ídolos: é de seus corações que queremos
desenraizá-los (Agostinho, sermão 62).
Claro que não têm importância para esta Cidade, desde que se professe a fé
que conduz a Deus, os hábitos ou costumes de cada um, contanto que não
sejam contrários aos preceitos divinos. Aos próprios ilósofos, não impõe ela,
quando eles se tornam cristãos, que mudem as maneiras de se comportarem
e de viverem se elas não forem contrárias à religião, mas apenas lhes impõe
que renunciem às falsas doutrinas.
Embora a sorte da nação cristã não pudesse ser acomodada dentro das histórias
convencionais, a história do crescimento da Igreja e sua relação com o governo
imperial foi incluída no novo gênero, a história eclesiástica, estabelecido por
Eusébio. Sua proposta era reforçar a identidade da Igreja, delinear suas relações
com fatores externos e estabelecer uma linhagem de ortodoxia para assinalar
as fronteiras da doutrina (cROKE; EMMETT, 1983, p. 5-6).
[...] ela é ao mesmo tempo uma história e um discurso. Ela é história, no sen-
tido em que evoca uma certa realidade [...]. Mas a obra é ao mesmo tempo
discurso: existe um narrador que relata a história; há diante dele um leitor que
a percebe. Neste nível, não são os acontecimentos relatados que contam, mas a
maneira pela qual o narrador nos faz conhecê-los (ToDoRoV, 2009, p. 220-1).
Como escreve Salústio, historiador de notável idelidade, [...] fez notar esse
costume ao expor perante ao Senado o seu parecer sobre os conjurados:
“Donzelas e jovens são raptados; meninos são arrancados dos braços dos
pais; mães sofrendo os caprichos dos vencedores; templos e casas saqueados;
praticam-se morticínios e incêndios. Finalmente, armas, cadáveres, sangue e
lamentos por toda parte” (civ. dei, I, 5).
Foi nos dado a conhecer nas Escrituras Sagradas, e os próprios fatos o indicam
suicientemente, que esses deuses são demônios que tratam dos seus negócios
para serem tidos e venerados como deuses e serem obsequiados com ritos
que tornam cúmplices os seus adoradores para que tenha com eles o mesmo
péssimo veredicto no juízo de Deus (civ. dei, II, 24).
8
Para auxiliar na compreensão da estrutura interna do texto agostiniano usamos os pressupostos da leitura
isotópica, concebida no âmbito da semiótica narrativa e textual.
9
Cf. padres apologistas, 1995.
o que primeiro me ocorreu é que devia responder aos que atribuem à religião
cristã todas essas guerras que estão esfacelando o mundo e principalmente a
recente devastação da Urbe romana pelos bárbaros, isto porque foi proibido
por esta religião servir aos demônios com nefandos sacrifícios. Pois deviam
antes prestar honras a Cristo, já que foi por causa do seu nome e contra os
estabelecidos costumes de guerra que os bárbaros lhes ofereceram, para a sua
liberdade, os mais espaçosos lugares para lá procurarem asilo. E para muitos o
fato de se declararem servidores de Cristo, sinceros e hipocritamente, impelidos
pelo medo, foi de tal modo respeitado que até julgaram proibido o que por
direito de guerra lhes era permitido (civ. dei, II, 2).
Dissemos que, quando há violência corporal sem que haja mudado para o mal,
no mais íntimo, a resolução de manter a castidade, a torpeza recai somente sobre
quem satisfaz a paixão carnal e nunca sobre quem caiu, contra sua vontade, sob
a violência carnal. ousarão contradizer isto aqueles contra os quais defendemos,
não só a santidade espiritual mas também a santidade corporal das mulheres
referências
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Genève: Fondation Hardt, 1977. (Entretiens sur l’Antiquité Classique t. xxIII).
Renan Frighetto
1
Citaremos, a título de exemplo, apenas dois livros recentes que tratam do tema das identidades,
FERNANDES, F. R. (Coord.). identidades e fronteiras no medievo ibérico. Curitiba: Juruá, 2012; CABALLoS
RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (Ed.) roma generadora de identidades: la experiencia hispana. Madrid: Casa
de Velázquez – Universidad de Sevilla, 2011.
2
Critica observada tanto por WooD, I. Barbarians, historians, and the construction of national identities.
Journal of late antiquity, Washington, 1,1, 2008, p. 61-81, do qual destacamos a passagem da p. 67, “[…]
from Walther Scott’s ivanhoe […]. And he also wrote in a popular format; many of his historical writings
initially appeared as journal articles, and they were set out as narratives, inspired by the historical iction
of Scott. As a result, the history of the barbarian invasions was changed from being a history of conquest,
enslavement, and a debate over privilege, to a history of class conlict […]”, como por DIAZ MARTINEZ,
P. C. Los godos como epopeya y la construcción de identidades en la historiografía española. anales de
Historia antigua, medieval y moderna. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires, 2008, p. 59. v. 40:
“[...] A comienzo de los años 80 del siglo xIx la obsesión de identiicar heroicos españoles ne la larga
historia peninsular había dejado exhaustos a los constructores de España, ya fuesen historiadores, poetas,
dramaturgos, novelistas o artistas plásticos[...]”, que seguem a mesma forma interpretativa sugerida por
GEARy, P. o mito das nações: a invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad, 2005, p. 28, “[…] os
Estados-nações de base étnica dos dias de hoje foram descritos como ‘comunidades imaginadas’, geradas
pelos esforços criativos dos intelectuais e políticos do século xIx, que transformaram antigas tradições
românticas e nacionalistas em programas políticos[...]”.
3
Um estudo muito interessante sobre essa questão é o de GEARy, P. he crisis of European Identity. In:
NoBLE, T. F. (Ed.) from roman provinces to medieval kingdom. London-New york: Routdlege, 2006, p.
27-34; para CABALLoS RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (2011). Introducción, op. cit., p. 1, “La construcción
de Europa como proyecto vertebrador y solidario es resultado, no sólo de una voluntad política, sino de la
asunción de una dinámica histórica común. Aquí surge, como referente inexcusable, el mundo romano, en
el que las tendencias a la homogeneización organizativa, la adaptación a una cultura supraprovincial y el
mantenimiento de diferentes peculiaridades regionales fueron entre sí compatibles[…]”.
4
De forma especíica, vide FRIGHETTo, R. Identidade(s) e fronteira(s) na Hispania visigoda, segundo o
pensamento de Isidoro de Sevilha (século VII). In: FERNANDES, F. R. (Coord.). identidades e fronteiras
no medievo ibérico. Curitiba: Juruá, 2012, p. 91-126.
5
A título de exemplo, isid.,etym.,i,22,1: Vulgares notas ennius primus mile et centum invenit [...]; ix,3,4: [...]
Vnde et apud veteres tale erat proverbium: ‘rex eris, si recte facias: si non facias, non eris’ [...]; braul.,ep., (ad
emiliano) 25: [...] intumescat pelagus et hoc mare magnum uerticosam erigat ceruicem, penitus dissolvi nec
caribde ebibi nec latrantibus scilleis canibus deborari nec modulamine sirenarum resolui [...]; iul.tol.,ep. ad
mod.,2: [...] Hinc et caterua doctiorum multiplex, socras, acates, ferecides, ennius, focas, omerus, Varro,
cesar, symmachus vel caeterorum turba saecularium seu sint sophistae seu poetae carminum [...].
6
A relação entre o populus e o ambiente civilizacional romano, amparado no modelo sociopolítico da
ciuitas, é realçado por LE RoUx, P. Identités civiques, identités provinciales dans l’Empire Romain, in:
CABALLoS RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (2011), op. cit., p. 10-11, “[...] Les sources évoquées résument
une construction identitaire longue de deux siècles. Avec Auguste et la in des opérations militaires
traditionnelles, une relecture des données dans le contexte d’une réorganisation en trois provinces privilégia
déinitivement le modèle civilisé de la civitas et du populus [...]”.
7
cic.,de leg.,iii,2: Videtis igitur magistratus hanc esse uim, ut praesit praescribatque recta et utilia et coniuncta
cum legibus. Vt enim magistratibus leges, sic populo praesunt magistratus uereque dici potest, magistratum legem
esse loquentem, legem autem mutum magistratum; 4: [...] quod genus imperii primum ad homines iustissimos
et sapientissimos deferebatur [...]; 5: magistratibus igitur opus est, sine quorum prudentia ac diligentia esse
ciuitas non potest, quorumque descriptione omnis rei publicae moderatio continetur [...]; 6:[...] magistratus
nec oboedientem et noxium, ciuem multa uinculis uerberibusque coherceto [...].
8
cic.,de leg.,ii,5: [...] ego mehercule et illi et omnibus municipibus duas esse censeo patrias, unam naturae,
alteram civitatis [...].
9
Segundo BENoIST, S. Penser la limite: de la cité au territoire impérial. In: HEKSTER, o.; KAIZER, T. (Ed.)
frontiers in the roman World. Leiden-Boston: Brill, 2011, p. 31, “Débutons ce parcours des conceptions
impériales de la cité, de son territoire et des pouvoirs qui s’y exercent, du dernier siècle de la République,
fondateur des approches postérieures, aux Ve et VIe siècles de notre ère, par une première tentative de
déinition des limites, temporelles et spatiale de l’Vrbs, et de la signiication qu’il convient de leur donner. Des
antiquités divines de Varron (16, 231) à la cité de dieu d’Agustin (VII, 7) qui s’en est très largement nourrie,
la perception de l’approche romaine des dieux, du temps et de l’espace, par-delà la césure arbitraire de la
christianisation, s’avére structurante et confère à l’aventure impériale une profonde unité conceptuelle [...]”
; para isid.,etym.,Vi,7,3 : Horum tamen omnium studia augustinus ingenio vel scientia sui vicit. nam tanta
scripsit ut diebus ac noctibus non solum scribere libros eius quisquam, sed nec legere quidem occurrat; iul.tol.,
prog. fut. saec.,ii,2: legimus in beato augustino [...]; ii,3: [...] cum inter ceteros ambrosius, augustinus atque
gregorius tanti patriarchae [...]; iul.tol.,de compr.sex.aet.,i,4: [...] quod etiam et beatus augustinus exsequens
dicit: ‘ausi sunt’, inquit, ‘homines praesumere scientiam temporum, quod scire cupientibus discipulis dominus
ait: non est uestrum scire tempora, quae pater posuit in sua potestate, et deinierunt hoc saeculum sex annorum
millibus, tamquam sex diebus posse iniri [...]; iii,9,24: Haec beatus augustinus de annis breuibus Hebraeorum
unde nulla ratio redderetur, exposuit [...].
10
Sobre o conceito de Antiguidade Tardia alguns trabalhos destacam-se como os clássicos RIEGL, A. die
spätrömische Kunsindustrie nach den funden in Österreich-ungarn. Vien: K.K.Hof-und Staatsdrückeri, 1901;
BRoWN, P. o fim do mundo clássico de marco aurélio a maomé. Lisboa: Verbo, 1972; MARRoU, H. I.
decadência romana ou antiguidade tardia? Lisboa: Aster, 1979; CARRIÉ, J. M. & RoUSSELLE, A. l’empire
romain en mutation. des séveres à constantin 192-337. Paris : du Paris: Du Seuil, 1999, p. 9-25, ou estudos
recentes como os de WARD-PERKINS,B. la caída de roma y el in de la civilización. Madrid: Espasa Calpe,
2007; MARCoNE, A. A long Late Antiquity? Considerations on a controversial periodization. Journal of late
antiquity, Washington, v. 1/1, 2008, p. 4-19; e FRIGHETTo, R. a antigüidade tardia. roma e as monarquias
romano-bárbaras numa época de transformações (séculos ii-Viii). Curitiba: Juruá, 2012, p.19-33; e um estudo
especíico sobre a Hispania visigoda em FRIGHETTo, R. A Hispania visigoda (séculos VI-VII) e a Antiguidade
Tardia: algumas considerações. territórios e fronteiras, Cuiabá, n. 6, 6. Cuiabá: 2013, p. 63-96.
11
Para tanto, vide FRIGHETTo, R. a antiguidade tardia..., p.24 e ss.
12
Para BRAVo, G. ? Crisis del Imperio Romano? Desmontando un tópico historiográico. In: Vínculos de
Historia, Toledo, n. 2, 2013, p.14, “[...] algunas crisis de la Antigüedad Romana son más un producto
historiográico que una realidad histórica, propiamente dicha, aunque la idea de crisis ha trascendido a
menudo el ámbito historiográico convirtiéndose, de hecho, en un mero tópico, asumido de forma acrítica
generación tras generación [...]”, culminando com a airmação presente na p.17, “[...] Finalmente, el tercer
problema que plantea el tratamiento histórico de la crisis del Imperio es su materialización, si no incluso
su visualización, a la luz de los testimonios escritos y de cultura material de ese mismo periodo [...]”.
13
Segundo PoHL, W. Introduction: he Empire and the integration of barbarians. In: PoHL, W. (Ed.) Kingdoms
of the empire. he integration of barbarians in late antiquity. Leiden-New york-Köln: Brill, 1997, p. 4, “[...]
In a long process of ‘state-embedding’, the Empire had acquired a considerable sway over local communities.
In this sense, research on ‘imperium, gentes et regna’ has to deal with the ways in which the Empire and the
new kingdoms succeeded in involving people, in shaping their thoughts and their lives. From the beginning,
the Romans used their tremendous potential for integration to draw together countless cities, ethnic and
regional groups [...]”; na mesma linha de abordagem, CHRySoS, E. he Empire, the gentes and the regna. In:
GoETZ, H. W.; PoHL, W.; JARNUT, J. regna and gentes. he relationship between late antique and early
middle peoples and kingdoms in the transformation of the roman World. Leiden-Boston: Brill, 2003, p. 16: “[...]
Following this demand several forms of imitatio imperii were placed on the agenda. he court, the language,
public ceremonies involving the king, court rituals, his titles and dress, forms of distinct muniicence to the
people and many other expressions of power were imitating of Roman forms that were thought to safeguard
and support the position of the rex as dominus over his gens and the Roman population in his regnum
[...]”; Hydt.,chron.,a.453: [...] per fredericum heuderici regis fratrem bacaudae terraconensis caeduntur ex
autoritate romana; a.456: per augustum auitum fronto comes legatos mittitur ad sueuos. similiter et a rege
gothorum heuderico, quia idus romano esset imperio, legati ad eosdem mittuntur, ut tam secum quam cum
roman meri, quia uno essent pacis foedere copulati, iurati foederis promissa seruarent [...]; sid.ap.,epist.,i,2,1:
saepenumero postulauisti ut, quia heudorici regis gothorum commendat populis fama ciuilitatem, litteris tibi
formae suae quantitas, uitae qualitas signiicaretur [...]; 6: [...] quid multis? uideas ibi elegantiam graecam,
abundantiam gallicanam, celeritatem italam, publicam pompam, priuatam diligentiam, regiam disciplinam
[...]; ver também conc.ii Hisp.,a.619,c.1: [...] pro qua re placuit ut omnis parrochia quae ab antiqua ditione
ante militarem hostilitatem retinuisse ecclesiam suam conprobaret eius privilegio restitueretur [...].
14
De acordo com sid.ap.,epist.,i,2,4: [...] reliquum mane regni administrandi cura sibi deputat. circumsistit
sellam comes armiger; pellitorum turba satellitum ne absit, admittitur, ne obstrepat, eliminatur, sicque pro foribus
immurmurat exclusa uelis, inclusa cancellis [...]. Hora est secunda : surgit e solio aut thesauris inspiciendis
uacaturus aut stabulis [...]; greg.tour.,Hf,ii,37,22 : [...] chlodovechus vero apud burdigalinsi urbe hiemem
agens, cunctos thesauros alarici a holosa auferens, ecolisnam venit. cui tantam dominus gratiam tribuit,
ut in eius contemplatione muri sponte corruerent. tunc, exclusis gothis, urbem suo dominio subiugavit. post
haec, patrata victuria, turonus est regressus multa sanctae basilicae beati martini munera oferens; isid.,Hg,51:
(leuuigildus) [...] aerarium quoque ac iscum primus iste auxit, primusque inter suos regali ueste opertus solio
resedit, nam ante eum et habitus et consessus communis ut genti, ita et regibus erat [...]; conc.ii Hisp.,a.619,c.1
: [...] consedentibus igitur nobis in secretario sacrosanctae ierusalem spalensis ecclesiae cum inlustribus viris
sisisclo rectore rerum publicarum atque suanilane rectore rerum iscalium[...].
15
Nesse sentido, isid.,Hg,35: (euricus) [...] sub hoc rege gothi legum instituta scriptis habere coeperunt, nam
antea tantum moribus et consuetudine tenebantur [...], certamente relacionadas com as apresentadas em
isid.,etym.,V,1,7: novae a constantino caesare coeperunt et reliquis succedentibus, erantque permixtae et
inordinatae. postea heodosius minor augustus ad similitudinem gregoriani et Hermogeniani codicem factum
constitutionum a constantini temporibus sub proprio cuiusque imperatoris titulo disposuit, quem a suo nomine
heodosianum vocavit; nessa mesma linha PoLH, W. Introduction: Strategies of distiction. In: PoHL, W.;
REIMITZ, H. (Ed.) strategies of distinction: he construction of ethnic communities, 300 – 800. Leiden-
Boston-Köln: Brill, 1998, p.1-2, “[...] But at a closer look, the new ethnic kingdom of the Franks, Goths or
Lombards had grown, and could only grow on Roman territory. hey were not ‘wandering states’ whose
alien forms of organization were transplanted to imperial territory [...]. he new forms of integration that
ethnic communities ofered, especially among the military, were shaped within the Roman world [...]”.
16
Um estudo interessante desde o ponto de vista legislativo é o de MATTHEWS, J. F. Interpreting the
interpretationes of the breviarium. In: MATHISEN, R. (Ed.) law, society and authority in late antiquity.
oxford: oxford University Press, 2001, p. 13-32.
17
isid.,etym.,ix,3,14: imperatorum autem nomen apud romanos eorum tantum prius fuit apud quos summa
rei militaris consisteret, et ideo imperatores dicti ab imperando exercitui: sed dum diu duces titulis imperatoris
fungerentur, senatus censuit ut augusti caesaris hoc tantum nomen esset [...].
18
isid.,etym.,ix,3,14: [...] eoque is distingueretur a ceteris gentium regibus [...]; or.,Hist.adv.pag., Vii,43,10: [...]
deinde Vallia successit in regnum ad hoc electus a gothis [...]; Hydt.,chron.,a.416,1: [...] cui succedens Vallia
in regno [...]; sid.ap.,pan.av.,576-580: [...] tertia lux refugis Hyperiona fuderat astris: concurrunt proceres ac
milite circumfuso aggere composito statuunt ac torque coronant castrensi maestum donantque insignia regni;
nam prius induerat solas de principe curas [...].
19
isid.,sent.,iii,48,6: qui intra saeculum bene temporaliter imperat, sine ine in perpetuum regnat; et de gloria
saeculi huius ad aeternam transmeat gloriam [...]; 48,7: [...] recte enim illi reges uocatur, qui tam semetipsos,
quam subiectos, bene regendo modiicare nouerunt; 49,3: dedit deus principibus praesulatum pro regimine
populorum, illis eos praesse uoluit, cum quibus uma est eis nascendi moriendique conditio [...].
20
Segundo VELáZqUEZ, I. pro patriae gentisqve gothorvm statv (4th council of Toledo, canon 75, a.633).
In: regna and gentes…, p. 200: “[...] he elements that shape and sustain power are being deined here:
rex, the nobility of the gens and the Church. he aristocracy and the bishops choose the king. his system will
ensure social harmony and will prevent disunity of patria and gens as a result of ambition and violence [...]”.
21
Perspectiva apontada por ioan.bicl.,chron.,a.573,2: His diebus liuua rex vitae inem accepit et Hispania
omnis galliaque narbonensis in regno et potestate liuuigildi concurrit; a.586,2: Hoc anno leovegildus rex
diem clausit extremum et ilius eius reccaredus cum tranquillitate regni eius sumit sceptra.
22
conc. iii tol.,a.589,tomus:. [...] quum pro idei suae sinceritate idem gloriosissimus princeps omnes regiminis
suis pontiices in unum convenire mandasset, ut tam eius conversione quam de gentis gothorum innovatione in
domino exultarent et divinae dignationi pro tanto munere gratias agerent [...]; ioan.bicl.,chron.,a.590,1: sancta
synodus episcoporum totius Hispaniae, galliae et gallaetiae in urbe toletana praecepto principis reccaredi
congregatur episcoporum numero lxxii, in qua synodo intererat memoratus christianissimus reccaredus,
ordinem conversionis suae et omnium sacerdotum vel gentis gothicae professionem tomo scripta manu sua
episcopis porrigens et omnia [...]; isid.,Hg,53: synodum deinde episcoporum ad condemnationem arrianae
haeresis de diuersis spaniae et galliae prouinciis congregat, cui concílio idem religiosissimus princeps interfuit
gestaque eius praesentia sua et subscriptione irmauit, abdicans cum omnibus suis peridiam quam hucusque
gothorum populus arrio docente didicerat [...].
23
conc. iV tol.,a.633,c.75: [...] sed defuncto in pace principe primatus totius gentis cum sacerdotibus successorem
regni concílio conmuni constituant, ut dum unitatis concordia a nobis retinetur [...]; conc.Viii tol.,a.653,c.10:
[...] adhinc ergo deinceps ita erunt in regni gloriam periciendi rectores, ut aut in urbe regia aut in loco ubi
princeps decesserit cum pontiicum maiorumque palatii omnimodo eligantur adsensu [...].
24
conc. iV tol.,a.633,c.75: [...] non sit in nobis sicut in quibusdam gentibus inidelitatis subtilitas impia, non
subdola mentis peridia, non periurii nefas, coniurationum nefanda molimina ; nullus apud nos praesumtione
regnum arripiat ; nullus excitet mutuas seditiones civium [...].
25
De acordo com HoRSTER, M. Priestly hierarchies in cities of the Western Roman Empire? In: CABALLoS
RUFINo, A. (Ed.) del municipio a la corte: la renovación de las elites romanas. Sevilla: Ediciones Universidad
de Sevilla, 2012, p. 290, “[...] A city’s civic identity, that the collective identity of its citizen body, can be
characterized, from the classical period right through to the imperial period, under three aspects: irstly,
the political aspect, that is, the citizenry as a political unit, with its institutions and rituals; secondly, the
religious aspect, i.e. the citizens as a community of shared worship and cult; and thirdly, the communicative
aspect, that is, their shared history and narratives[...]”.
26
Vale dizer que já encontramos essa caracterização desde a época romano tardia, conforme ESCRIBANo,
M. V. maternvs cynegivs, un hispano en la corte teodosiana. In: DEL MUNICIPIo A LA CoRTE, p. 317,
“[...] Sin embargo, el análisis de las leyes en cuyo tenor Cinegio pudo intervenir [...] demuestra que las
relacionadas con asuntos religiosos no predominan dentro del conjunto, si bien como hombre de poder
compartió con Teodosio el pragmatismo y contribuyó a la necesaria adecuación de la normativa jurídica a la
nueva realidad político-religiosa que tendía a identiicar al romano con el cristiano niceno después del 380
[...]”; no reino hispanovisigodo a relação entre a comunidade cristã com a ideia de uma concordia interna,
desde o período de Augusto, aparece indicada em iul.tol.,de compr.sex.aet.,i,8: [...] cessantibus enim bellis
in toto orbe terrarum, christus pax nostra oboritur [...] ad uigesimum octauum annum caesaris augusti, cuis
quadragesimo primo anno christus natus est in iudaea, in toto orbe terrarum fuisse discordiam [...]. orto
autem domino saluatore [...] est in orbe terrarum facta descriptio, et euangelicae doctrinae pax romani imperii
praeparata [...]; nesse caso há uma conexão evidente com isid.,etym.,V,39,26: octavianus ann. lVi. christus
nascitur [...]; or.,Hist.adv.pag.,Vii,1,11:[...] quoniam inter sacra continua incessabilibus cladibus nullus inis
ac nulla requies fuit, nisi cum saluator mundi christus inluxit: cuius aduentui praedestinatam fuisse imperii
romani pacem [...].
27
Ideia que podemos observar a partir da admoestação apresentada no conc. iV tol.,a.633,c.75: [...] quiquumque
igitur a nobis vel totius spaniae populis qualibet coniuratione vel studio sacramentum idei suae, quod patriae
gentisque gothorum statu vel observatione regiae salutis pollicitus est, temtaverit aut regem nesse adtrectaverit
aut potestatem regni exuerit aut praesumtione tyrannica regni fastigium usurpaverit, anathema sit in conspectu
dei patris et angelorum, atque ab ecclesia catholica quam periurio profanaverit eiciatur extraneus et ab omni
coetu christianorum alienus cum omnibus inpietatis suae sociis[...].
28
chron.moz.,a.754,52: [...] rudericus tumultuose regnum ortante senatu inuadit [...]; 54: [...] adque in
eandem infelicem spaniam cordoba in sede dudum patricia, que semper extitit pre ceteras adiacentes ciuitates
opulentissima [...]; form.Visig.,xxi,4-8: [...] quod si ad ius praetorium et urbanum [supra] ualere non potuerit
[...] hanc uoluntatis meae epistolam apud curiae ordinem gestis publicis facias adcorporare [...]; xxV, 1-3: gesta
[...], acta habita patricia corduba apud illum et illum principales, illum curatorem, illos magistratos [...]; ver
também GARcIA MORENO, L. A. Nobleza goda bajo el Islam: el ocaso de una elite. In: DEL MUNIcIPIO
A LA cORTE, p. 336 e ss.
29
conc.iii tol.,a.589,tomus: [...] pro qua re quanto subditorum gloria regali extollimur, tanto providi esse debemus
in his quae ad deum sunt vel spem augere vel gentibus a deo nobis creditis consulere [...]. tunc adclamatum
est in laudibus dei et in favore principis ab universo concílio: i. gloria deo patri et filio et spiritui sancto, cui
cura est pacem et unitatem ecclesiae suae sanctae catholicae providere [...]. iiii. cui a deo aeternum meritum
nisi vero catholico recaredo regi? V. cui a deo aeterna corona nisi vero orthodoxo recaredo regi? Vi. cui
praesens gloria et aeterna nisi vero amatori dei recaredo regi? Vii. ipse novarum plebium in ecclesia catholica
conquisitor [...].
30
form.Visg.,ix,39-42: [...] obtestamur etiam eos quibus post foelicissimis temporibus nostris regnum dabitur
per aeterni regis imperium, sic deus gotorum gentem et regnum usque in inem seculi conseruare dignetu
r[...]; conc.Vii tol.,a.646,c.1: [...] sive etiam quod gentem gothorum vel patriam aut regem [...]; conc.Viii
tol,a.653,tomus: [...] in necem regiam excidiumque gothorum gentis ac patriae detecta fuisset [...]; c.2: [...]
ceterum quaequumque iuramenta pro regiae potestatis salute vel contutatione gentis et patriae vel hactenus
sunt exacta vel deinceps extiterint exigenda [...]; conc.xVi tol.,a.693,tomus: [...] quicumque amodo ex palatinis
cuiuslibet sit ordinis vel honoris persona in necem regiam vel excidium gentis ac patriae gothorum [...]; conc.
xVii tol.,a.694,tomus: [...] quia satis longum est ea quae regni nostri utilitatibus seu genti et patriae nostrae
necessaria [...]; esta aparece como substituta da relação, existente desde o principado romano, entre princeps/
senatus/populus, para tanto vide HIDALGO DE LA VEGA, M. J. el intelectual, la realeza y el poder político
en el imperio romano. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1995, p.120.
31
l.V.,ii,1,3 (recesvinthus rex): [...] bene deus, conditor rerum, disponens humani corporis formam, in sublimem
caput erexit adque ex illo cunctas membrorum ibras exoriri decrevit; unde hoc etiam a capiendis initiis caput
vocari precensuit [...]. ordinanda ergo sunt primo negotia principum, tutanda salus, defendenda vita, sicque
in statu et negotiis plebium ordinatio dirigenda, ut dum salus competens prospicitur regum, ida valentius
teneatur salvatio populorum.
32
Para isid.,sent.,iii,51,5: saepe per regnum terrenum caeleste regnum proicit, ut qui intra ecclesiam positi contra
idem et disciplinam ecclesiae agunt, rigore principum conterantur; ipsamque disciplinam, quam ecclesiae
Humilitas exercere non praevalet, cervicibus superborum potestas principalis imponat; et ut venerationem
mereatur, virtute potestatis impertiat; isid.,de eccl.of.,i,1,3: [...] ecclesia autem uocatur proprie, propter
quod omnes ad se uocet et in unum congreget. catholica autem ideo dicitur, quia per uniuersum mundum est
constituta; uel quoniam catholica, hoc est generalis, in ea doctrina est ad instructionem hominum de uisibilibus
atque inuisibilibus rebus caelestium ac terrestrium [...].
33
Uma deinição de placitum em isid.,etym.,V,24,19: placitum quoque similiter ab eo, quod placeat. alii dictunt
pactum esse quod volens quisque facit; placitum vero etiam nolens conpellitur, veluti quando quisque paratus sit
in iudicio ad respondendum; quod nemo potest dicere pactum, sed placitum; l.V.,xii,2,17 (recesvinthus rex):
placitum iudeorum in nomine principis factum. clementissimo hac serenissimo domino nostro reccessvindo
regi omnes nos ex Hebreis toletane civitatis, qui infra suscripturi vel signa facturi sumus. bene quidem hac
iuste dudum nos meminimus conpulsos fuisse, ut placitum in nomine dive et fecimus. sed quia et peridia
nostre obstinationis et vetustas parentalis erroris nos ita detinuit, ut nec veraciter iesum christum dominum
crederemus nec catholicam idem sinceriter teneremus [...].
34
Para tanto, vide FRIGHETTo, R. Religião e poder no reino hispano-visigodo de Toledo: a busca da unidade
político-religiosa e a permanência das práticas pagãs no século VII. iberia, revista de la antigüedad, Logroño,
v. 2, p. 133-49, 1999.
35
Especialmente no caso da imposição do placitum no tempo de Sisebuto, isid.,Hist.goth.,60: [...] sisebutus
post gundemarum regali fastigio euocatur [...]. qui initio regni iudaeos ad idem christianam permouens
aemulationem quidem habuit, sed non secundum scientiam: potestate enim conpulit, quos prouocare idei
ratione oportuit [...]; crítica que também aparece em no conc.iV tol.,a.633,c.57: [...] de iudaeis autem hoc
praecepit sancta synodus nemini deinceps ad crededum vim inferre, cui enim vult “deus miseretur et quam
vult indurat”; non enim tales inviti salvandi sunt sed volentes, ut integra sit forma iustitiae [...]. ergo non vi
sed liberi arbitrii facultate ut convertantur suadendi sunt non potius inpellendi [...]; sobre a conversão dos
judeus, isid.,chron.,120: [...] in Hispania quoque sisebutus, gothorum rex [...] Judaeos sui regni subditos ad
christi idem convertit.
36
conc.iii tol.,a.589,Homelia leand.: [...] qui ut notesceret quae uentura essent genti uel populo, quae ab unius
ecclesiae communione recidissent, secutus est: “gens enim et regnum quod non seruierit tibi peribit”. alio denique
loco similiter ait: “ecce gentem quam nesciebas, uocabis, et gentes quae non cognouerunt te ad te current”. unum
enim est christus dominus, cuius est uma per totum mundum ecclesia sancta possessio. ille igitur caput, et
ista corpus [...]; isid.,sent.,iii,51,4: principes saeculi nonnunquam intra ecclesiam potestatis adeptae culmina
tenente, ut per eamdem potestatem disciplinam ecclesiasticam muniant [...]; l.V.,xii,2,14(flavius sisebutus
rex): [...] universis populis ad regni nostri, provincias pertinentibus salutifera remedia nobis gentique nostre
conquirimus, cum idei nostrae coniunctos de inidorum manibus clementer eripimus. in hoc enim ortodoxa
gloriatur idei regula, cum nullam in christianis habuerit potestatem ebreorum execranda peridia [...]; iul.tol.,
de compr. sex.aet., praef.: [...] et nisi ante manu praecidatur artiicis, infectis membris omnibus, occasum
parturit mortis. Huius admirabilis medelae peritiam credo uestram, sacratissime princeps, uoluisse imitari
clementiam. qui dum populos a deo tibi creditos contingi exitio lethali formidas, utile praecisionis genus
excogitas, quo exitiabilem membrorum inutilium saniem, et purulentae faecis insanabilem cutem, remediabili
queant hi, qui saluandi sunt [...].
37
Como aponta GARCIA MoRENo, L. A. Expectativas milenaristas y escatológicas en la España tardoantigüa
(SS. V-VII)”. In: JoRNADAS INTERNACIoNALES LoS VISIGoDoS y SU MUNDo: Arqueología,
Paleontología y Etnografía. Madrid: Comunidad de Madrid, 1998, p. 251-2, “[...] Las expectativas mesiánicas
judaicas y los temores cristianos, calentados y escendidos por la toma de Jerusalén por Sharbaroz, coinciden
en el Reino visigodo con el reinado de Sisebuto. Isidoro de Sevilla en su crónica universal – escrita con
el claro propósito de demostrar lo avanzado de la Edad inita del Mundo[...] recuerda cuatro cosas de
Sisebuto: la conquista a los bizantinos de varias posesiones suyas en España; la conversión de los judíos; y
la construcción de la iglesia de Santa Leocadia en Toledo [...]. Seguidamente vamos a intentar demostrar
cómo estas cuatro cosas se encuentran muy afectadas, y hasta relacionadas entre sí, por íntimas expectativas
escatológicas sentidas por el propio rey y ampliamente compartidas por sus súbditos, pudiéndose dibujar
un paralelismo bastante estrecho entre Heraclio – Bizancio y Sisebuto – Reino de Toledo [...]”; braul., ep.
(fructuosus), 43: [...] Hob hoc indesinentes regi et conditori nostro domino referimus laudes quod, mundi iam
termino propinquante [...].
38
Cf. FRIGHETTo, R. A Hispania visigoda (séculos VI-VII) e a Antiguidade Tardia..., p.88 e ss.
39
Vide DIAZ MARTINEZ, P. C., La dinámica del poder y la defensa del territorio: para una comprensión del
in del reino visigodo de Toledo. In: ACTAS xxxIx SEMANA DE ESTUDIoS MEDIEVALES – ESTELLA.
DE MAHoMA A CARLoMAGNo. LoS PRIMERoS TIEMPoS (SIGLoS VII – Ix). Estella: Gobierno de
Navarra, 2013, p. 170; ver também FRIGHETTo, R. ‘in eadem infelicem spaniam, regnum eferum conlocant’:
Las motivaciones de la fragmentación política del reino hispanovisigodo de Toledo (siglo VIII)”. temas
medievales, Buenos Aires, n. 19, p.137-64, 2012.
40
Para tanto ver FRIGHETTo, R. Identidade(s) e Fronteira(s) na Hispania visigoda, segundo o pensamento
de Isidoro de Sevilha (século VII), p. 105 e ss.
41
Muito interessante a deinição oferecida por LE RoUx, P. “Identités civiques, identités provinciales dans
l’Empire Romain”. In: RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (2011), op. cit., p. 8: “[...] La natio parlait d’une origine
qui ne pouvait pas être insérée dans un modèle d’organisation en cité, ce qui veut dire qu’elle ressortissait
à une communauté ethnique, étrangere à l’institution civique [...]”.
42
conc.iii tol.,a.589,tomus: [...] gens gothorum inclyta [...]. nec enim sola gothorum conversio ad cumulum
nostrae mercedis accessit, quinimmo et suevorum gentis ininita multitudo, quam praesidio coelesti nostro
regno subiecimus [...].
43
ioan.bicl.,chron.,a.590,1: [...] memoratus vero reccaredus rex ut diximus, sancto intererat concílio,
renovans temporibus nostris antiquum principem constantinum magnum sanctam synodum nicaenam
sua illustrasse praesentia nec non et marcianum, chistianissimum imperatorem, cuius chalcedonensis
synodii decreta irmata sun t[...]; para isid.,chron.,118: [...] Hoc tempore leander episcopus in Hispaniis
ad gentis gothorum conversione doctrina idei et scientiarum claruit; já em isid., Hg,53: synodum deinde
episcoporum ad condemnationem arrianae haeresis de diuersis spaniae et galliae prouinciis congregat,
cui concílio idem religiosissimus princeps interfuit gestaque eius praesentia sua et subscriptione irmauit,
abdicans cum omnibus suis peridiam quam hucusque gothorum populos arrio docente didicerat [...].
44
Podemos establecer uma aproximação ao apontado por LE RoUx, P. Identités civiques, identités
provinciales dans l’Empire Romain. In: RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (2011), op. cit., p. 11: “[...] patria et
res publica sont, du point de vue de Rome, complémentaires et l’héritage ancestral inclut l’idéal politique
et civilisé qu’il convient de protéger et défendre. La citoyenneté romaine était porteuse d’une identité
nouvelle à l’échelle individuelle [...] ”.
45
isid.,etym.,ix,3,5: regiae virtutes praecipuae duae: iustitia et pietas. plus autem in regibus laudatur pietas;
nam iustitia per se severa est; isid.,sent.,iii,49,1: qui recte utitur regni potestate, ita se praestare omnibus
debet, ut quanto magis honoris celsitudine claret, tanto semetipsum mente humiliet, proponens sibi exemplum
humilitatis david [...]; 2: qui recte utitur regni potestate formam iustitiae factis magis quam verbis instituit
[...]; iii,50,2: multi adversus principes coniurationis crimine deteguntur, sed probare volens deus clementiam
principum [...]; iii,51,1: iustum est principem legibus obtemperare suis [...].
46
eug.tol.,epist.,iV: [...] tanquam unus ex collegio esurientium puerorum inediae coactus impulsu, eiusdem
ianuam paradisi pedetemptim adgressus et quasi temerarius introrsus explorator ingressus [...] quorsum
ista praecipua quadam curiositate quibusdam comparationibus praemittens verbis simplicibus quasi oris
obstrusi aditum resero nisi ut tam inconparabilis excellentiam viri, sancti scilicet papae gregorii, in ipso
locutionis exordio quibusdam parabolis anteferrem eiusque magnitudinem sapientiae, quo perspicuo lumine
sanctam inlustravit ecclesiam [...] quae sunt eloquia pulcritudinis, oicia linguae retorqueam. igitur cum
romae positus eius quae in Hispaniis deerant volumina sedulus vestigator perquirerem, inventaque propria
manu transcriberem [...]; braul.,epist.,11(ad taio): [...] sed, ne in multiloquio ofendamus amicum [...]
iuxta flaccum, didicimus litterulas et sepe manum ferule subtraximus [...] ymmo illut uirgilianum [...],
ne habeat ingratos fabula nostra iocos secundum ouidium ac secundum appium caninam uideamur
exercere facundiam [...], ut ait terentius [...]; conc.Viii tol.,a.653,c.8:...repperimus quosdam divinis oiciis
mancipatos tanta nescientiae socordia plenos, ut nec illis prohibentur instructi conpetenter ordinibus, qui
cotidianos versantur in usu. proinde sollicite constituitur atque decernitur, ut nullus cuiusquumque dignitatis
ecclesiasticae deinceps percipiant gradum, qui non totum psalterium vel canticorum usualium et hymnorum
sive babtizandi perfecte noverint supplementum. illi sane qui iam honorum dignitate funguntur, huiusque
tamen ignorantiae cecitate vexantur [...].
47
Aspectos reforçados em siseb.,epist.ad: [...] instar indesecabilis idei catholicae puritas quousque detersos
erroribus coeperit, tanta frugam nobilitate multiplicat, tantaque celsitudine sufragando sublimat [...].
mortem hic inimicum idei cultorem haereticorum ostendet qui vexillo crucis perterritus, atque orthodoxa
professionem turbatus, cum nequeat catholicis inferre nequissimum damnum, in suum praeceps fertur extirpatus
semper interitum [...]; braul.,renot.isid.: [...] sunt et alia eius uiri multa opuscula, et in ecclesia dei multo
ornamento instrumenta. quem deus post tot defectus Hispaniae nouissimis temporibus suscitans, credo ad
restaurandaantiquorum monumenta [...].
48
Para tanto vide FRIGHETTO, R. ‘memoriae conseruandae causa facit’. A Memória e a História como veículos
da construção das identidades no reino hispano-visigodo de Toledo (inais do século VI – primórdios do
século VII). de rebus antiquis, Buenos Aires, v. 2., p. 1-18, 2012.
49
Para ESCRIBANo, M. V. maternvs cynegivs, un hispano en la corte teodosiana, p. 331: “[...] El vínculo
tradicional entre salus imperii y pietas conservaba toda su vigencia y el emperador cristiano y sus funcionarios,
al margen de sus creencias personales, estaban obligados a mantener la observancia de la religio [...] quam
diuinum petrum apostolum tradidisse romanis en los términos anunciados en la cunctos populos [...]; eug.
tol.,epist.iV: [...] ut censeo, graecae romanaeque facundiae philosophorum praecipui, socrates scilicet vel
plato, cicero atque Varro, si nostris temporibus adfuissent, condigna eius meritis verba promsissent. sed ne
panegyricis uti censear eloquiis plurima de eiusdem virtutibus auditu comperta praemittens [...].
50
conc.iii tol.,a.589,Hom..leand.: [...] condigne ergo ecclesia catholica gentes, quas sibi aemulas senserit idei
suae decore [...]: ecclesiae vero catholica, sicut per totum mundum tenditur, ita et omnium gentium societate
constituitur [...].
51
conc.iii tol.,a.589,Hom..leand.: [...] ergo, fratres, reposita est loco malignitatis bonitas, et errori occurrit veritas,
ut quia superbia linguarum diversitate ab unione gentes separaverat, eas rursum gremio germanitatis collegeret
caritas, et quemadmodum unius possessor est totius mundi dominus [...]; cf. FRIGHETTo, R. Da Antiguidade
Clássica à Idade Média: a idéia de Humanitas na Antiguidade Tardia ocidental. temas medievales, Buenos
Aires, v. 12, p. 161-3, 2004.
52
conc.iii tol.,a.589,tomus: [...] erit enim mici inmarcesibilis corona gaudium in retributione iustorum, si hii
populi qui nostra ad unitatem ecclesiae solertia transcucurrerunt, fundati in eandem et stabiliti permaneant.
sicut enim divino nutu nostrae curae fuit hos populus ad unitatem christi ecclesiae pertrahere [...]: regia cura
usque in eum modum protendi debet, et dirigi, quem plenam constet veritati et scientiae capere rationem; nam
sicut in rebus humanis gloriosus eminet potestas regia, ita et prospiciendae commoditati conprovincialium
maior debet esse et providencia [...].
53
conc.iV tol.,a.633,c.75: [...] quod si haec admonitio mentes nostras non corrigit et ad salutem conmunem
cor nostrum nequaquam perducit [...]; isid.,sent.,iii,51,2: principes legibus teneri suis, neque in se posse
damnare iura quae in subiectis constituunt. iusta est enim vocis eorum auctoritas, si, quod populis prohibent,
sibi licere non patiantur; l.V.,ii,1,2 (flavius gloriosus reccessvindus rex): omnipotens rerum dominus et
conditor unus, providens commoda humane salutis, discere iustitiam habitatores terre, sacre legis sacris
decenter imperavit oraculis [...] quibus ita et nostri culminis clementia et succedentium regum nobitas
adfutura uma cum regimonii nostri generali multitudine universa obedire decernitur hac parere iubetur
[...] sese alienam reddat cuiuslibet persona vel potentia dignitatis, quatenus subiectos ad reverentiam legis
inpellat necessitas, principis voluntas.
54
conc.iV tol.,a.633,c.75:...sed idem promissam erga gloriosissimum domnum nostrum sisenandum regem
custodientes ac sincera illi devotione famulantes, non solum divinae pietatis clementiam in nobis provocemus,
sed etiam gratiam antefati principis percipere mereamur [...]; isid.,sent.,50,6: reges vitam subditorum facile
exemplis suis vel aediicant, vel subvertunt, ideoque principem non oportet delinquere, ne formam peccandi
faciat peccati eius impunita licentia. nam rex qui ruit in vitiis cito viam ostendit erroris [...]. illi namque
ascribitur, quidquid exemplo eius a subditis perpetratur.
55
cf. FRIGHETTO, R. Identidade(s) e fronteira(s) na Hispania visigoda, segundo o pensamento de Isidoro
de Sevilha (século VII), p.120-1.
56
cic., de rep., i, 39: [...] res publica res populi, populus autem non omnis hominum coetus quoquo modo
congregatus, sed coetus multitudinis iuris consensu et utilitatis communione sociatus [...]; aug.,de civ.
dei,xix,21: [...] breuiter enim rem publicam deinit esse rem populi. quae deinitio si uera est, numquam
fuit romana res publica, quia numquam fuit res populi, quam deinitionem uoluit esse rei publicae. populum
enim esse deiniuit coetum multitudinis iuris consensu et utilitatis communione sociatum. quid autem dicat
iuris consensum, disputando explicat, per hoc ostendens geri sine iustitia non posse rem publicam; ubi ergo
iustitia uera non est, nec ius potest esse [...]; 24: si autem populus non isto, sed alio deiniatur modo, uelut si
dicatur; “populus est coetus multitudinis rationalis rerum quas diligit concordi communione sociatus”, profecto,
ut uideatur qualis quisque populus sit, illa sunt intuenda, quae diligit. quaecumque tamen diligat, si coetus
est multitudinis non pecorum, sed rationalium creaturarum et eorum quae diligit concordi communione
sociatus est [...].
57
isid.,etym.,ix,4,5: populus est humanae multitudinis, iuris consensu et concordi communione sociatus [...];
isid.,de dif.,331 : item rursus inter populum et populos. cum enim populos numero plurali dicimis, urbes
signiicamus ; cum populum, unius multitudinem ciuitatis intelligimus.
58
Representação que aparece em cic.,de leg.,iii,28: [...] nam ita se res habet, ut si senatus dominus sit publici
consilii, quodque is creverit defendant omnes, et si ordines reliqui principis ordinis consilio rem publicam
gubernari velint, possit ex temperatione iuris, cum potestas in populo, auctoritas in senatu sit, teneri ille
moderatus et concors civitatis status, praesertim si proximae legi parebitur [...].
59
Vide nota 52.
60
Para tanto, vide nota 36.
61
Uma interessante análise sobre a postura sociopolítica dos grupos sociais superiores é oferecida por TEJA,
R. La cristianización de los ideales del mundo clássico: el obispo. In: TEJA, R. emperadores, obispos, monjes
y mujeres. protagonistas del cristianismo antiguo. Madrid: Trotta, 1999, p. 82, “[...] En la elaboración y
difusión de este topos del rechazo del poder, que después concluye en aceptación más o menos forzada,
hay también un alto componente de orgullo aristocrático. El ansia de poder no cuadra con espíritus
nobles. El hombre noble ha nacido para mandar y ocupar los primeros lugares, son los innobles quienes
no tienen escrúpulos en ocupar el poder y cuando no lo ocupan lo degradan [...]”.
62
isid.,etym.,ix,4,5: [...] populus autem eo distat a plebibus, quod populus universi cives sunt, connumeratis
senioribus civitatis [plebs autem reliquum vulgus sine senioribus civitatis]; 6: populus ergo tota civitas est;
vulgus vero plebs est. plebs autem dicta a pluralitate; maior est enim numerus minorum quam seniorum...;
isid., de dif.,330: inter plebem et populum. plebs a populo eo distat, quod populus est generalis uniuersitatis
ciuium cum senioribus, plebs autem humilis et abiecta.
63
conc.iii tol.,a.589,tomus: [...] omnium episcoporum et totius gentis gothicae seniorum [...]; iul.tol.,iud.,5:
[...] omnibus nobis, id est senioribus cunctis palatii, gardingis omnibus omnique palatio oicio [...]; conc.xii
tol.,a.681,tomus: [...] et clarissimis palatii nostri senioribus [...]; iul.tol.,iud.,5: Hic igitur sceleratissimus paulus,
dum, conuocatis adunatisque omnibus nobis, id est senioribus cunctis palatii, gardingis omnibus omnique
palatino oicio [...].
64
conc.iii tol.,a.589,tomus: [...] praecipiente autem universo venerabili concílio atque iubente, unus episcoporum
catholicorum ad episcopos et religiosos vel maiores natu [...]. tunc episcopi omnes uma cum clericis suis
primoresque gentis gothicae [...]; conc.Viii tol.,a.653,tomus: [...] maioribusque personis [...]; l.V.,ii,4,6
(cintasvintus rex): [...] si maioris persona est [...]; l.V.,ix,2,9 (ervigius rex): [...] si maioris loci persona fuerit, id
est dux, comes seu etiam gardingus [...]; conc.Vi tol.,a.638,c.13: [...] qui primatuum dignitate atque reverentiae
vel gratia ob meritum in palatio honorabiles [...]; fred.,chron.,82 : [...] fertur de primatibus gotthorum hoc
vitio reprimendo ducentos fuisse interfectos [...]; iul.tol.,H.W.,9:...Vbi cum de his, quae intra gallias gerebantur,
fama se ad aures principis deduxisset, mox negotium primatibus palatii innotuit pertractandum [...]; conc.xiii
tol.,a.683,c.2: de acusatis sacerdotibus seu etiam obtimatibus palatii atque gardingis sub que eos iustitiae cautela
examinari conveniat. [...] in publica sacerdotum, seniorum atque etiam gardingorum [...]; isid.,etym.,x,126: [...]
illustris nomen notitiae est, quod clareat multis splendoris generis, vel sapientiae, vel virtutis, cuius contrarius
est obscure natus (idoneus) [...]; conc.xii tol.,a.681,tomus: [...] et vos illustres aulae regiae viros [...].
65
conc.Viii tol.,a.653,tomus: [...] Vos etiam inlustres viros, quos ex oicio palatino huic sanctae synodo interesse
mos primaevus obtinuit ac non vilitas exspectabilis honoravit et experientia aequitatis plebium rectores exegit,
quos in regimine socios, in adversitate idos et in prosperis amplecturos strenuos...
66
isid.,etym.,x,115: Humilis, quasi humo adclinis...; a condição de humilis era tremendamente pejorativa em
termos jurídicos, segundo l.V.,ii,3,4 (chindasvintus rex): ut in personis nobilibus quaestio per mandatum
nullatenus agitetur, et qualiter humilior ingenuus, sive servus per mandatum quaestioni subdatur. quaestionem
in personis nobilibus nullatenus per mandatum patimur agitari. ingenuam vero, et pauperem personam, atque
in crimine iam ante repertam non aliter ex mandato subdendam quaestioni permittimus [...].
67
isid.,etym.,x,171: [...] minor, minimus, a numero monadis, quod post eum non sit alter; na concepção isidoriana
os minores seriam possuidores de um limitado pecúlio, isid.,etym.,V,25,5: peculium proprie minorum
est personarum sive servorum. nam peculium est quod pater vel dominus ilium suum vel servum pro suo
tractare patitur. peculium autem a pecudibus dictum, in quibus veterum constabat universa substantia; conc.
Vi tol.,a.638,c.13: [...] qui etiam minores a senioribus et dilectionis amplectatur afectu et utilitatis inbuantur
exemplo [...].
68
isid.,de dif.,138: item egestatem et paupertatem. quod egestas peior est quam paupertas; paupertas enim
potest honesta esse, nam semper egestas turpis est; 139: rursus inter pauperiem et paupertatem. pauperies
damnum est, paupertas ipsa conditio; l.V.,ii,3,9 (chindasvintus rex): [...] nam etiam si potens cum paupere
causam habuerit, et per se adserere noluerit, non aliter quam aequali pauperi, aut fortasse inferiori a potente
poterit causa committi. pauper vero, si voluerit, tam potenti suam causam debeat committeret, quam potens
ille est, cum quo negotium videtur habere.
69
conc.iV tol.,a.633,c.32: de cura populorum et pauperum. episcopi in protegendis populis ac defendendis
inpositam a deo sibi curam non ambigant, ideoque dum conspiciunt iudices ac potentes pauperum oppressores
existere [...]; c.38: [...] praebendum est a sacerdotibus vitae solatium indigestibus [...]; conc.Vi tol.,a.638,c.15:
[...] ita ecclesiis conlata quae proprie sunt pauperum alimenta eorum in iure pro mercede oferentum maneant
inconvulsa [...]; conc.x tol.,a.656,tomus: [...] verum et rem suam ita in nomine pauperum religasset [...];
isid.,sent.,iii,45,4: quando a potentibus pauperes opprimuntur, ad eripiendos eos boni sacerdotes protectionis
auxilium ferunt; nec verentur cuiusquam inimicitiarum molestias, sed oppressores pauperum palam arguunt,
increpant, excommunicant [...]; l.V.,ii,1,28(flavius recesvintus rex): de data episcopi potestate distringendi
iudices nequier iudicantes. sacerdotes dei, quibus pro remediis oppressorum vel pauperum divinitus cura
commisa est, deo mediante testamur, ut iudices pervesis iudiciis populos opprimentes paterna pietate
commoneant [...].
70
isid.,etym.,ix,4,30 : [...] privati sunt extranei ab oiciis publicis. est enim nomen magistratum habenti
contrarium, et dicti privati quod sint ab oiciis curiae absoluti[...]; l.V.,V,4,19 (cintasvindus rex): de non
alienandis priuatorum, et curialium rebus. [...] curiales igitur vel privati, qui caballos ponere, vel in arca publica
functionem exsolvere consueti sunt, nunquam quidem facultatem suam vendere, vel donare, vel commutatione
aliqua debent alienare [...]; conc.xiii tol.,a.683, edictum: [...] in nomine divino omnibus populis regni nostri
tam privatis quam etiam iscalibus servis, viris seu etiam faeminis sub tributali exactione in provinciam galliae
vel galliciae atque in omnes provincias Hispaniae [...].
71
l.V.,ii,5,9 (antiqua): [...] certe nec de aliis causis, nec de maioribus rebus esse sibi credendum sciant, nisi de
minimis quibuscumque rebus, ac de terris et vineis, vel de ediiciis, quae non grandia esse constiterint, propter
quod solet inter haeredes aut vicinos possessores intentio exoriri [...]; conc.xiii tol.,a.683, editum: [...] terras
vero vineas, quae pro eodem tributo quicumque supradictorum curam publicam agencium vobis privatis vel
iscalibus populis abstulit vel accepit, fruges aridas et liquidas exinde in praeteritis annis unusquisque exactor
collegit in ratione ipsius tributi [...].
72
isid.,etym.,x,172: [...] mediocris, quod modicum illi suiciat ; fred.,chron.,82 : [...] de mediocribus quingentos
intericere jussit [...]; seriam, provavelmente, os mesmos personagens portadores de um razoável patrimônio
quantiicado na l.V.,iii,1,6 (cintasvindus rex): [...] cui autem mille solidorum facultas est, de centum solidis
tali adaeratione dotem facturus est [...]; conc.Viii tol.,a.653,decretum: [...] ecce etenim ita ex gentis nostrae
mediocribus maioribusque personis [...].
73
l.V.,ix,2,9 (ervigius rex):...inferiores sane vilioresque persone, thiufadi scilicet omnisque exercitus compulsores
vel hi [...].
74
Uma hierarquização das funções administrativas e militares, numa escala dos cargos mais importantes para os
de menor expressão, aparece descrita na l.V.,ii,1,25 (chindasvinthus rex): [...] quoniam negotiorum remedia
multimodae diversitatis compendio gaudent, adeo dux, comes, vicarius, pacis assertor, tiufadus, millenarius,
centenarius, decanus [...]; l.V.,ix,2,8(Wamba rex): [...] adeo presenti sanctione decernimus [...], si quelibet
inimicorum adversitas contra partem nostram commota extiterit, seu sit episcopus sive etiam in quocumque
ecclesiastico ordine constitutus, seu sit dux aut comes,thiufadus aut vicarius, gardingus vel quelibet persona [...];
conc.xiii tol.,a.683,edictum: [...] certe si quisquis ille dux, comes, tiufadus, numerarius, vilicus aut quicumque
curam publicam agens tributa [...]. Hoc tamen speciali et evidenti serenitatis nostrae sententia deinimus, ut
nullus de supradictis comitibus, tiufadis, vicariis, numerariis seu quibuscumque curam publicam agentibus [...].
75
isid.,etym.,ix,2,1 : gens est multitudo ab uno principio orta, sive alia natione secundum propriam collectionem
distincta [...]. Hinc et gentilitas dicitur. gens autem appellata propter generationes familiarum [...] ; 4,4: genus
aut a gignendo et progenerando dictum, aut a deinitione certorum prognatorum, ut nationes, quae propriis
cognationibus terminatae gentes appellantur ; isid.,de dif.,332 : inter gentem et gentes et genus. gens nationis
est, ut graeciae, asiae ; hinc et gentilitas dicitur. gentes autem familiae, ut iuliae, claudiae. genus uero ad
qualitatem refertur [...].
76
form.Visig.,xiV,6-8: [...] itaque quum consentienti parentum tuorum animo teque praebenti consensum,
intercedentibus nobilibus atque bene natis uiris [...]; para tanto vide FRIGHETTo, R. Considerações sobre o
conceito de gens e a sua relação com a idéia de identidade nobiliárquica no pensamento de Isidoro de Sevilha
(século VII). imago temporis. medium aevum, Lerida, v. VI, p. 420-39, 2013.
77
isid.,etym.,ix,22: [...] dux dictus eo quod sit doctor exercitus [...].
78
form.Visig.xxxix,35-6: [...] late conditiones sub die ill., anno ill., era ill. ill. uicem agens illustrissimi uiri
comitis [...]; Vf,15: [...] sicque de praesentia regis leuauit iudicem qui inter eis examinaret iudicii ueritatem
comité nomine angelate [...].
79
Para tanto, ver PLACIDo, D. Las formas del poder personal: la monarquía, la realeza y la tiranía, gerión,
Madrid, v. 25-1, p.130-6, 2007.
80
form.Visig.,xx,1: insigni merito et getice de stirpe senatus [...]; isid.,etym.,x,184: nobilis, non vilis, cuius et
nomen et genus scitur [...]; Vf,8 : [...] multas idoneas ac nobiles personas, etiam ex palatio, seruitium regis[...].
81
conc.iii tol.,a.589,praef.: [...] adest enim omnis gens gothorum inclyta et fere omnium gentium genuina
virilitate opinata [...]; isid.,etym.,ix,2,89: gothi [...] gens fortis et potentissima, corporum mole ardua, armorum
genere terribilis [...]; isid., de laud.span.,28-29: [...] denuo tamen gothorum lorentissima gens post multiplices
in orbe uictorias [...].
82
ioan.bicl.,chron.,a.589,2: [...] in hoc ergo certamine gratia divina et ides catholica, quam reccaredus rex
cum gothis ideliter adeptus est [...]; ps.eug.tol.,spec.,18: accipe consilium multis de cordibus unum, quod
tibi disponens faciat discretio gratum. utile consilium regis conirmat honorem totius et regni ines defendit ab
hoste. alto consilio debes disponere regnum, rex, tibi commissum regnum per compita totum.
83
ioan.bicl.,chron.,a.589,2: [...] quoniam non est diicile deo nostro, si in paucis, uma in multis detur victoria.
nam claudius dux vix cum ccc viris lx ferme milia francorum noscitur infugasse et maximam eorum partem
gladio trucidasse [...]; isid.,Hg,69: [...] porro in armorum artibus satis expectabiles, et non solum hastis, sed
et iaculis equitando conligunt, nec equestre tantum proeli, sed et pedestri incedunt [...]; ps.eug.tol.,spec.,19:
praesidio domini irmantur brachia regis eius et in manibus uictrix seruabitur hasta [...].
84
isid.,Hg,67: populi natura pernices, ingenio alacres, conscientiae uiribus freti, robore corporis ualidi, staturae
proceritate ardui, gestu habituque conspicui, manu prompti, duri uulneribus [...]. quibus tanta extitit magnitudo
bellorum et tam extollens gloriosae uictoriae uirtus ut roma ipsa uictrix omnium populorum subacta captiuitatis
iugo gothicis triumphi adcederet et domina cunctarum gentium illis ut famula deseruiret; 68: Hos europae omnes
tremuere gentes, alpium his caesere óbices, Wandalica ipsa crebro opinata barbaries non tantum praesentia
eorum exterrita quam opinione fugata est [...].
85
isid.,Hg,66:gothi de magog iapheth ilio orti cum scythis uma probantur origine sati, unde nec longe a uocabulo
discrepant [...], gallias adgrediuntur patefactisque pyrenaeis montibus spanias usque perueniunt ibique sedem
uitae atque imperium locauerunt.
86
isid.,Hg,62: [...] (suinthila) proelio conserto obtinuit auctamque triumphi gloriam prae ceteris regibus felicitate
mirabili reportauit, totius spaniae intra oceani fretum monarchiam regni primus idem politus, quod nulli
retro principum est conlatum [...]. Interessante para esta análise é o exposto por BELTRáN LLoRIS, F. In:
RUFINo, A.; LEFEBVRE, S. (2011), op. cit., p. 55: “[...] et sola omnivm provinciarvm vires svas postqvam
victa est intellexit. Una aproximación a Hispania como referente identitário en el mundo romano. [...] El
énfasis sobre la falta de cohesión de los pueblos peninsulares pone de maniiesto que esta percepción unitaria
no existía con anterioridad a la conquista, sino que, por el contrario, fue consecuencia de ella, esto es una
creación propiamente romana, de suerte que sólo una vez integrados en el Imperio adquirieron los hispanos
conciencia de sí mismos bajo la nueva identidad acuñada por Roma [...]”.
87
Cf. FRIGHETTo, R. A Hispania visigoda (séculos VI-VII) e a Antiguidade Tardia, p.92-3.
88
ioan.bicl.,chron.,a.570,2: liuuigildus rex loca bastetaniae et malacitanae urbis repulsis militibus vastat, et
victor solio redit; a.571,3: liuuigildus rex asidonam fortissimam civitatem proditione cuiusdam framidanci
nocte occupat et militibus interfectis memoratam urbem ad gothorum revocat iura; isid.,Hg,49: [...] fudit
quoque diuerso proelio militem et quaedam castra ab eis occupata dimicando recepit [...]; 54: [...] (recaredus)
saepe etiam et lacertos contra romanas insolentias [...]; 57: [...] Wittericus [...] uir quidem strenuus in
armorum arte, sed tamen expers uictoriae. namque aduersus militem romanum proelio saepe molitus nihil
satis gloriae gessit praeter quod milites quosdam sagontia per duces obtinuit [...]; 59: [...] (gundemarus) alia
militem romanum obsedit [...]; 61: [...] (sisebutus) de romanis quoque praesens bis feliciter triumphavit et
quasdam eorum urbs pugnando sibi subiecit [...]; 62: [...] (suinthila) postquam uero apicem fastigii regalis
conscendit, urbes residuas, quas in spaniis romana manus agebat [...].
89
ioan.bicl.,chron.,a.585,4: franci galliam narbonensem occupare cupientes cum exercitu ingressi, in quorum
congressionem leouegildus reccaredum ilium obviam mittens et francorum est ab eo repulsus exercitus et
provincia galliae ab eorum est infestatione liberata [...]; a.587,6: desiderius francorum dux, gothis satis
infestus a ducibus reccaredi regis superatur et caesa francorum multitudine in campo moritur; a.589,2:
francorum exercitus a gonteramno rege transmissus bosone duce in galliam narbonensem obveniunt et
iuxta carcassonensem urbem castra metati sunt. cui claudius lusitaniae dux a reccaredo rege directus
obviam inibi occurrit. tunc congressione facta franci in fugam vertuntur et direpta castra francorum et
exercitus a gothis caeditur [...]; isid.,Hg,54: (recaredus) egit etiam gloriose bellum aduersus infestas gentes
idei suscepto auxilio. francis enim sexaginta fere milium armatorum gallias inruentibus misso claudio
duce aduersus eos glorioso triumphavit euentu. nulla umquam in spaniis gothorum uictoria uel maior uel
similis extitit [...]; para max.caes.,chron.,a.587: [...] Venientem de francia reccaredum victoriem toletani
graviter inirmatur [...].
90
ioan.bicl.,chron.,a.576,3: liuuigildus rex in gallaecia suevorum ines conturbat: et a rege mirone per legatos
rogatus pacem eis pro parvo tempore tribuit; 585,2: liuuigildus rex gallaecias uastat, audecanem regem
comprehensum regno privat, suevorum gentem, thesaurum et patriam suam redigit potestatem et gothorum
provinciam facit; isid.,Hg,49: [...] (leuuigildus) postremum bellum sueuis intulit regnumque eorum in iure
gentis suae mira celeritati transmisit [...]; segundo max.caes.,chron.,a.587: [...] leovigildus rex rediens e
bello contra suevos toleti graviter inirmatur [...].
91
ioan.bicl.,chron.,a.573,5: liuuigildus rex sabariam ingressus sappos vastat et provinciam ipsam in suam
[...]; a.574,2: His diebus liuuigildus rex cantabriam ingressus provinciae pervasores intericit, amaiam
occupat, opes eorum pervadit et provinciam in suam revocat dictionem; a.575,2: liuuigildus rex aregenses
montes ingreditur [...]; a.577,2: liuuigildus rex orospedam ingreditur et civitates atque castella eiusdem
provinciae occupat et suam provinciam facit [...]; a.578,4: liuuigildus rex extinctis undique tyrannis, et
pervasoribus Hispaniae superatis sortitus requiem propriam cum plebe resedit civitatem in celtiberia ex
nomine ilii condidit, quae recopolis nuncupatur [...]; a.581,3: liuuigildus rex partem Vasconiae occupat
et civitatem, que Victoriaco nuncupatur, condidit; a.584,3: liuuigildus rex ilio Hermenegildo ad rem
publicam commigrante Hispalim pugnando ingreditur, civitates et castella, quas ilius occupaverat, cepit, et
non multo post memoratum ilium in cordubensi urbe comprehendit [...]; isid.,Hg,49: [...] (leuuigildus)
cantabrum namque iste obtinuit, aregiam iste cepit, sabaria ab eo omnis deuicta est [...]; 54: [...] (recaredus)
et inruptiones Vasconum mouit [...]; 59: [...] (gundemarus) Hic Wascones una expeditione uastauit [...]
; 61:(sisebutus) in bellicis quoque documentis ac uictoriis clarus. astures enim rebellantes misso exercitu
in dicionem suam reduxit. ruccones montibus arduis undique consaeptos per duces euicit [...]; 62: [...]
(suinthila) ruccones superauit [...]; 63: (suinthila) Habuit quoque et initio regni expeditionem contra
incursus Vasconum terraconensem prouinciam infestantium, ubi adeo montiuagi populi terrore aduentus
eius perculsi sunt, ut confestim quase debita iura noscentes remissis telis et expeditis ad precem manibus
supplices ei colla submitterent, obsides darent, ologicus ciuitatem gothorum stipendiis suis [...]; outros autores
também referem-se a estas populações, como taius,sent.,V,praef.,2: [...] Hujus itaque sceleris causa gens
efera Vasconum pyrenaeis montibus promota, diversis vastationibus Hiberiae patriam populando crassatur
[...]; iul.tol.,H.W.,10: [...] mox cum omni exercitu Vasconiae partes ingreditur, ubi per septem dies quaqua
uersa per patentes campos depraedatio et hostilitas castrorum domorumque incensio tam ualide acta est,
ut Vascones ipsi, animorum feritate deposita, datis obsidibus, uitam sibi dari pacemque largiri non tam
precibus muneribus exoptarent [...].
92
ioan.bicl.,chron.,a.572,2: liuuigildus rex cordubam civitatem diu gothis rebellem nocte occupat et caesis
hostibus propriam facit multasque urbes et castella interfecta rusticorum multitudine in gothorum dominium
revocat; a.579,3: [...] nam eodem anno ilius eius Hermenegildus factione gosuinthae reginae tyrannidem
assumens in Hispali civitate rebelione facta recluditur facit, et alias civitates atque castella secum contra patrem
rebellare facit [...]; isid.,Hg,49: [...] (leuuigildus) Hermenegildum deinde ilium imperiis suis tyrannizantem
obsessum exsuperauit [...]; para max.caes.,chron.,a.580: leovigildus ilium Hermenegildum Hispali obsidet
[...]. prius tamen contra leovigildum rebellaverant Hispalis, corduba, astigis, carthago nova [...]; a.586:
Hermenegildus Hispali dilapsus, et cordubae captus, Valentiae exsulat [...].
93
isid.,Hg,49:...(leuuigildus) adepto spaniae et galliae principatu ampliare regnum bello augere opus statuit.
studio quippe exercitus concordante fauore uictoriarum multa praeclare sortitus est (...) spania magna ex
parte potitus, nam antea gens gothorum angustis inibus artabatur...; 52:...namque ille inreligiosus et bello
promptissimus (...), ille armorum artibus gentis imperium dilatans...
94
isid.,Hg,52:...recaredus regno est coronatus, cultu praeditus religionis (...) hic ide pius et pace preaclarus
(...) hic gloriosius eandem gentem idei trophaeo sublimans. in ipsis enim regni sui exordiis catholicam idem
adeptus totius gothicae gentis populos...; isid.,sent.,iii,51,3: sub religionis disciplina saeculi potestates subiectae
sunt; et quamvis culmine regni sunt praedicti, vinculo tamen idei tenentur astricti...; iul.tol.,H.W.,3:...nam
eundem uirum quamquam diuinitus abinceps et per hanelantia pleuium uota et per eorum obsequentia regali
cultu iam cucumdederant magna oicia, ungi se tamen per sacerdotis manus ante non passus est, quam sedem
adiret regiae urbis atque solium peteret paternae antiquitatis, in qua sibi oportunum esset et sacrae unctionis
uexilla suscipere et longe positorum consensus ob praeelectionem sui patientissime sustinere...
95
Um estudo recente sobre o tema em FRIGHETTo, R. Memória, História e Identidades: considerações a
partir da Historia Wambae de Juliano de Toledo (século VII). revista de História comparada, Rio de Janeiro,
n. 5-2, p. 50-73, 2011.
96
iul.tol.,H.W., 27: tertia iam post uictoriam uictoribus aduenerat dies, et paulus ipse onustus ferro cum ceteris
consedenti in throno principi exibetur. tunc antiquorum more curba spina dorsi uestigiis regalibus sua colla
submittit, deinde coram exercitibus cunctis adiudicatur cum ceteris, quum uniuersorum iudicio et mortem
exciperent, qui mortem principi praeparassent [...]; iud.,7: [...] ob hoc secundum latae legis edita hoc omnes
communi deiniuimus sententia, ut idem peridus paulus cum iam dictis sociis suis morte turpissima condemnati
interirent, qualiter casum perpetuae perditionis uidentur excipere, qui et euersionem meditati sunt patriae et
principis interitum conati sunt eximere [...].
97
iul.tol.,H.W., iud.,7: [...] quodsi forsam eis principe condonata fuerit uita, non aliter quam euulsis luminibus
reseruentur, ut uiuant. res tamen omnes eiusdem pauli sociorumque eius in potestate gloriosi nostri domni
persistenda esse decernimos, qualiter, quicquid de his agere uel iudicare elegerit serenitatis, suae clementia,
potestas illi indubitata elegerit [...]; passagem certamente amparada no conc.Viii tol.,a.653,c.2: [...] restat
ergo ut eo nostra pergat sententia quum misericordiae patuerit via, quae ita domino probatur accepta, ut plus
eam cupiat quam sacriicia veneranda, dicente ipso: ‘misericordiam voluit et non sacriicium’. Hec indulgentiae
concessa licentia miserationis ipsius opus in gloriosi principis potestate redigimus, ut quia deus illi miserendi
aditum patefecit, remedia pietatis ipse quoque non deneget, quae ita principali discretione moderata persistant,
ut et illis sit aliquatenus misericordia contributa et nusquam gens aut patria per eosdem aut periculum
quodquumque perferat aut iacturam, haec miserationis obtentu temperasse suiciat [...] omni custodia omnique
vigilantia insolubiliter decernimus observanda, a membrorum truncatione mortisque sententia religione penitus
absoluta [...].
da pena capital pela decaluatio dos derrotados e seu ingresso na urbs regia
na forma de triunfo do vitorioso soberano 98 demonstra-nos a dinâmica da
iustitia régia,99 ao mesmo tempo em que revela-nos uma constante tensão
entre o discurso idealizador e carregado de exempla direcionados ao conjunto
da gens gothorum e as ações efetivas levadas a cabo pelos que a integravam,
adeptos das velhas tradições do morbo gothorum que levaram soberanos
como chindasvinto (642 – 651) e Egica (687 – 702) a exercerem o poder
de uma forma bastante enérgica contra seus rivais políticos, promovendo
expurgos que culminaram, em muitos casos, com o desterro de muitas gentes
para territórios fora dos limites do regnum gothorum.100
Ora, para entendermos as motivações geradoras das confrontações
políticas existentes no universo das gothicae gentes nos séculos VI e VII
devemos, igualmente, recuperar quais foram as formas de estabelecimento
e de fixação dos segmentos aristocráticos godos desde os meados do
século V nas áreas hispanas, especialmente no que diz respeito às alianças
estabelecidas, a nível local e regional, com as aristocracias hispano-romanas
98
iul.tol.,H.W.,27: [...] sed nulla mortis super eos inlata sententia, decaluationis tantum, ut praecipitur, sustinuere
uindictam [...]; 30: etenim quarto fere ab urbe regia miliario paulus princeps tyrannidis uel ceteri incentores
seditionum eius, decaluatis capitibus, abrasis barbis pedibusque nudatis, subsqualentibus ueste uel habitu
induti, camelorum uehiculis imponuntur. rex ipse perditionis praeibat in capite, omni confusionis ignominia
dignus et picea ex coreis laurea coronatus. sequebatur deinde hunc regem suum longa deductione ordo suorum
dispositus ministrorum, eisdem omnes quibus relatum est uehiculis insedentes eisdemque inlusionibus acti, hinc
inde adstantibus populis, urbem intrantes. nec enim ista sine dispensatione iusti iudicii dei eisdem accessisse
credendum est [...].
99
iul.tol.,H.W.,30: [...] sint ergo haec insequuturis reposita saeculis, probis ad uotum, improbis ad exemplum,
idelibus ad gaudium, inidis ad tormentum [...].
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fred.,chron., 83: [...] tandem unus ex primatibus, nomine chintasindus, collectis plurimis senatoribus
gotthorum, caeteroque populo, in regnum spaniae sublimatur [...]: cumque omne regnum spaniae suae
dictioni irmasset, cognito morbo gotthorum, quem de regibus degradandis habebant, unde saepius cum ipsis
in consilio fuerat, quoscunque ex eis hujus vitii promptum contra reges, qui a regno expulsi fuerant, cognoverat
fuisse noxios, totos singillatim jubet interici aliosque exsilio condemnari, eorumque uxores et ilias suis idelibus
cum facultatibus tradit [...]. quoadusque hunc morbo gotthorum chintasindus cognovisset perdomitum, non
cessavit quos in suscipione habebat gladio trucidare [...]; chron.moz.,a.754,22:...chindasuintus per tirannidem
regnum gothorum inuasum. Yberie triumphabiliter principat demoliens gothos [...]; 41: [...] egika ad tutelam
regni gothorum primum et summum obtinet principatum [...]. Hic gothos acerua morte persequitur [...];
44: [...] egika in consortio regni uuittizanem ilium sibi heredem faciens gothorum regnum retemtant [...].
qui non solum eos quos pater damnauerat ad gratiam recipit temtos exilio, uerum etiam clientulus manet in
restaurando [...].
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Alianças que faziam parte de uma ação política tradicionalmente perpetrada por Roma, segundo HORSTER,
M. Priestly hierarchies in cities of the Western Roman Empire?, p. 292: “[...] he portion of Romanness in
the above mentioned political, religious, and communicative aspects of the identity of people living outside
Italy is therefore oten described as the result of a ‘negotiation’ between Roman culture and local culture
[...]; while they are also visible symbols of Romanisation, and one of the features that demonstrate loyalty
to the Roman state and its representatives [...]”.
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Ideia apontada igualmente por GARCIA MoRENo, L. A. Nobleza goda bajo el Islam, p. 336: [...] Esa
nobleza cordobesa de inales del reino godo tenia origenes mixtos, fruto de las alianzas matrimoniales
entre antiguos y ricos linajes decurionales romanos y los nuevos militares godos asentados en la región ya
a principios del siglo V [...]”. Para VALVERDE CASTRo, M. R. ideología, simbolismo y ejercicio del poder
real en la monarquía visigoda: un proceso de cambio. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca,
2000, p.128-9: “[...] Frente a la ocupación visigoda de los territorios galos, coordinada, en virtud del foedus,
por la autoridad central, la del rey visigodo, aceptada por todos independientemente de que lo hicieran
por su calidad de rey o por ser el delegado del poder romano imperial con atribuciones para dirigirla,
el traslado de la población visigoda a la Península Ibérica no contó con una dirección real tan acusada
[...]. En consonancia con el tipo de estructura social imperante, es lógico pensar que fuesen los seniores
gothorum quienes, seguidos de sus familiares, de sus comitivas privadas y de sus servidores, dirigieran
los desplazamientos y regulasen los asentamientos, asegurándose así un poder local que ya no derivaba
de su directa relación con la institución monárquica [...]”.
103
Vale recordar o indicado por VALVERDE CASTRo, M. R. ideología, simbolismo y ejercicio del poder real en
la monarquía visigoda, p. 129, “[...] el resultado del modo en que se llevó a cabo la inmigración visigoda a
la Península Ibérica fue el fortalecimiento de la nobleza, que se consolida como grupo de poder enfrentado
a la monarquía [...].”
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Como indica ioan.bicl.,chron.,a.580,2: liuuigildus rex in urbem toletanam synodum episcoporum sectae
arrianae congregat et antiquam haeresim novello errore emendat, dicens de romana religione ad nostram
catholicam idem venientes non debere baptizari, sed tantummodo per manus impositionem et communionis
perceptione ablui, et gloriam patri per ilium in spiritu sancto dari [...].
Considerações parciais
abreviaturas
referências
obras de apoio
BELTRáN LLORIS, F. ...et sola omnivm provinciarvm vires svas postqvam
victa est intellexit. Una aproximación a Hispania como referente identitário en
el mundo romano. In: cABALLOS RUFINO, A.; LEFEBVRE, S. (Ed.). roma
generadora de identidades: la experiencia hispana. Madrid: casa de Velázquez-
Universidad de Sevilla, 2011, p. 55-77.