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TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

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Núcleo de Educação a Distância
R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05
Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111
www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.


Material Didático: Ayeska Machado
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes


Diagramação: Heitor Gomes Andrade

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes,
Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
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ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professor Thiago Henrique Sampaio


O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.
Esta unidade analisará o que se compreende por teoria política. Sa-
bendo das diversas interpretações a respeito do conceito, o trabalho
versará sobre as origens da sociedade humana, abordando a formação
dos primeiros conjuntos políticos e das primeiras civilizações. Abordará
também as diversas formas de governo que a história até hoje tomou
conhecimento e também as grandes obras de teoria política escritas até
hoje, onde Maquiavel, Hobbes, Marx, dentre outros, serão trazidos à
tona. Mais à frente, será abordado como a teoria política é pensada na
contemporaneidade, quais são as visões de grandes autores, tais quais
Bobbio e Skinner e também se versará sobre a importância da historio-
grafia para a teoria política.

Teoria política. Ciência Política. História. Estado.


Apresentaçãodomódulo______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA

Mesopotâmia_____________________________________________ 16
Egito_____________________________________________________ 20

Hebreus__________________________________________________ 27

Roma____________________________________________________ 31

Grécia____________________________________________________ 36

Recapitulando_____________________________________________ 41

CAPÍTULO 02
FORMAS DE GOVERNO E CORRENTES POLÍTICAS

Monarquia________________________________________________ 48

Democracia_______________________________________________ 54
República_________________________________________________ 57
Marxismo_________________________________________________ 59
Totalitarismo______________________________________________ 62

Nazismo__________________________________________________ 64
Fascismo__________________________________________________ 67
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Autoritarismo______________________________________________ 68
Anarquismo_______________________________________________ 69

Recapitulando_____________________________________________ 72
CAPÍTULO 03
OBRAS CLÁSSICAS DA TEORIA POLÍTICA

República, de Platão_______________________________________ 79
Política, de Aristóteles______________________________________ 81

9
O Príncipe, de Maquiavel____________________________________ 82

O Leviatã, de Hobbes____________ ___________________________ 83

Segundo Tratado Sobre o Governo, De Locke___________________ 84

O Contrato Social, de Rousseau______________________________ 85

O Espirito Das Leis, de Montesquieu___________________________ 86

A Democracia na América, de Tocqueville______________________ 87

O Manifesto do Partido Comunista, de Marx E Engels_____________ 88

Economia E Sociedade, de Weber____________________________ 90

Estado e a Revolução, de Lenin_______________________________ 91

O Que é a Propriedade?de Proudhon__________________________ 92

Minha Luta, De Hitler_______________________________________ 94

Recapitulando_____________________________________________ 97

CAPÍTULO 04
A TEORIA POLÍTICA HOJE

A Importância da Historiografia para Compreender a Teoria Políti-


ca_______________________________________________________ 104

O Pensamento De Bobbio E Skinner__________________________ 105

Recapitulando_____________________________________________ 109

Considerações Finais____________ ___________________________ 114

Fechando a Unidade_______________________________________ 115


TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Referências_______________________________________________ 121

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É muito difícil conceituar qualquer tipo de teoria, uma vez que
o objetivo destas é também conseguir explicar determinada coisa.
A teoria política, entretanto, surge como uma vaga prerrogativa de
entender os comportamentos humanos e suas consequências quando
em sociedade.
Aristóteles afirmava já há milhares de anos que o homem era
um animal político. Certo estava o grego a respeito do espírito do ho-
mem, que sempre logra alcançar objetivos em conjunto através da po-
lítica. É impossível avançar em grupo sem decisões políticas. É impen-
sável a vida em sociedade sem a política.
Assim, ainda que Aristóteles afirmasse há tanto tempo sobre
a condição humana de animal político, mal podia imaginar que milha-
res de anos depois, suas ideias permaneceriam em voga pelo mundo
moderno. Se na democracia grega, com poucos relatos, Aristóteles já
enxergava tal faceta do ser humano, imagine nos dias de hoje com a
massificação da informação e com o gritante alcance que a política tem
sobre nossas vidas.
Então, recapitulando, a teoria política é uma área dentro da
Ciência Política que versa a respeito das características e vicissitudes
que ocorrem nas organizações entre humanos. É através dela que se
entende como se constitui, se legitima e se estrutura determinada forma
de governo. Ao mesmo tempo, é através dela que se crítica, se deslegi-
tima e se rompe com determinada forma de governo.
Ao longo da história, a experiência do ser humano com a sua
organização em grupos passou por diversos momentos. Desde o início,
havia desconfiança de uma parcela de um povo ao se juntar com outra
parcela de outro povo, por conta dos conflitos que geriam os interesses
de tais grupos. A solução seria decidir alguém, ou algum grupo de pes-
soas para que pudessem responder pelas demandas do resto do povo.
TENDÊNCIAS GASTRONÔMICAS - GRUPO PROMINAS

Esse ínfimo movimento de dar poder a alguém ou a alguéns, é o cerne


da organização política e o gênesis da teoria política.
A partir do momento em que o ser humano entendeu que, para
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viver em sociedade, necessitaria de algumas pessoas para ficar res-


ponsáveis por tarefas que diziam respeito a todos, podemos começar a
esmiuçar como se davam as escolhas, as relações e as consequências
de tal ato. Nesse sentido, a história passa a ser o braço direito da teoria
política.
Doravante, a teoria política pode se dividir em duas vertentes:
Que trabalha em alinhamento com a história, observando de
um ponto presente como a política se ajustou nas civilizações passa-
das. Como o homem se converteu em um ser social e fixo, abandonan-
do o nomadismo que lhe era corriqueiro em eras passadas
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Que trabalha com a experiência adquirida da história para for-
mular melhorias e diferentes opções de ações no presente e no futuro.
É de onde surgem os grandes textos sobre teoria política, por onde se
debruçaram os pensadores em observar o seu mundo e o mundo que
passou, para entender e estender as coisas úteis, formulando novas
possibilidades ao futuro
Essas duas vertentes, portanto, compreendem os três espaços
temporais existentes. Na primeira, do presente se observa o passado.
Na segunda, o presente já observou o passado, mas teoriza e esboça
mudanças para o futuro.
Constitui-se a teoria política, então, em uma múltipla área do
saber, que transita no tempo cronológico, em busca de respostas e so-
luções sobre como se deve reger, como foi regida e como deverão ser
regidas as sociedades organizadas entre os humanos.
Já resumindo o que vem a seguir, iniciaremos esta unidade
abordando as primeiras civilizações. Conheceremos a origem da orga-
nização política humana, entendendo como se constituiu a transição da
sociedade nômade para a sedentária e como dessa junção surgem as
primeiras grandes civilizações. Esmiuçaremos então algumas particu-
laridades que abrangem os Mesopotâmicos, os Egípcios, os Hebreus
e iremos prosseguir até chegarmos ao Império Romano, onde temos
o primeiro choque político da história, na transição de uma sociedade
que era pautada na República para um Império regido sob a sombra de
Júlio César.
No segundo capítulo, apresentaremos as diversas correntes
políticas que se tem conhecimento na história até hoje. Assim, avança-
remos para compreender o que é a monarquia, o que é a democracia, a
república, o fascismo, o comunismo, dentre outras tantas formas de go-
verno. É importante ressaltar a importância desse capítulo, pois, é atra-
vés dele que se pode compreender as características e particularidades
que cada forma de governo tem. Apresentaremos também exemplos
históricos que dão prática às teorias apresentadas.
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O terceiro capítulo apresenta as grandes obras já publicadas


na esfera da teoria política. Nesse capítulo poderemos conhecer auto-
res que debruçaram seus estudos – e em alguns casos suas vidas –
para compreender o mundo da política. São dessas obras que grandes
teorias, algumas permanecentes até hoje na sociedade. É nesse capí-
tulo que conheceremos um pouco da trajetória de Maquiavel, de Marx,
de Hobbes e até de Hitler. Cada obra selecionada teve grande influência
na grandiosa roda da história, e impulsionou, moldou ou gerou reflexões
em todos aqueles que já entraram em contato com suas páginas.
É no quarto capítulo que conhecemos alguns autores
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contemporâneos que elaboraram teorias para compreender a teoria
política. Complexo, não?! Pois bem, é por aqui que se compreende a
importância de estudar a teoria política, de estudar a história da teoria
política e de como a teoria política influencia no mundo de hoje.
Já o último capítulo aborda as relações da teoria política com o
Brasil. Demonstraremos quais foram as formas de governo que o Brasil
compreendeu em sua história e como a teoria política influenciou nas
alternâncias entre modos de governar da nação. Por fim, apresentare-
mos também alguns autores brasileiros, que se debruçaram sobre a
questão da teoria política, ou da história e produziram obras importantes
para compreender o que é a política, e como ela se funde com a própria
história nacional.
Enfim, a gama de abordagens sobre um assunto como a teoria
política é muito ampla, de forma que essa unidade não esgota de forma
alguma todos os temas que pretende abordar. Esgotar, no ramo das
ciências humanas, é um termo que deveria inclusive ser abolido. Nada
se esgota quando se trata do homem, pois, todos os dias este com-
preende, reinterpreta e analisa novas ideias e concepções a respeito
de seu ser.
Milhares de anos atrás, o oráculo de Delfos propunha ao ho-
mem que conhecesse a si mesmo, e é esta a tarefa sob a qual o homem
contemporâneo se debruça incessantemente. Agora não só a si, mas
também à sua vida em sociedade.

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ORIGENS DA ORGANIZAÇÃO
POLÍTICA
Ainda existem muitas dúvidas sobre o surgimento da humani-
dade. Os criacionistas acreditam que o homem surgiu do barro, sendo
criação de Deus. Os evolucionistas acreditam que o homem é uma evo-
lução de uma espécie, evolução essa que ocorre em todo ser vivo que
habita o universo e que se transforma com o passar do tempo.
O fato é que até hoje sabe-se pouco sobre a gênese do ser
humano. Independente da origem em que se acredita sobre a ‘chegada’
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do homem à terra, aos poucos esse ser foi crescendo e povoando o


mundo. De início, era um mundo repleto de natureza, vasto em riquezas
que podiam ser consumíveis pelo homem, ainda que a tecnologia para
adquirí-las fosse precária. Era também um mundo cheio de perigos,
de ameaças da natureza, de animais selvagens, um mundo até então
inexplicável. Uma torre de fenômenos que surpreendiam a todos os ha-
bitantes.

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Figura 1- Evolução Humana. Disponível em: <<https://www.significa-
dos.com.br/evolucao-humana/>>. Acesso em fevereiro/2019

Os anos passaram, os milênios foram se juntando no passado


e o homem foi entendendo aos poucos o funcionamento do mundo em
que habitava. Dominou o fogo, dominou a pedra, desenvolveu-se de
forma a conseguir manter-se vivo num ambiente hostil. Vivia de maneira
nômade, ficando em determinados lugares em determinadas estações
e, depois seguindo viagem rumo ao desconhecido, em busca de novos
lugares, de novas formas de se manter e se alimentar. As famílias iam
crescendo e a população humana ia aumentando. Os pequenos grupos
que viajavam juntos, as famílias, passaram a ter dificuldades em viver
de maneira nômade. A necessidade de se fixar em um local veio de en-
contro com a necessidade de transformar o ambiente antes hostil, em
um ambiente propício à manutenção da vida. Foi nessa linha, de forma
superficial, que surgiram as primeiras comunidades.
O ser humano, então, compreende que pode viver em socieda-
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de. Pode juntar sua família com outras famílias, tendo assim mais bra-
ços para ajudar na tarefa de se manter. Tendo assim mais força humana
na hora de enfrentar os perigos que a natureza lhes conferia. Porém,
viver em grupo é gerir muitos pensamentos diferentes, muitos desejos
difusos e que nem sempre estão de acordo. Como resolver então um
conflito dentro de um grupo? Quem teria a capacidade e o poder de de-
cidir a respeito desses conflitos? É aí que surge a política.
A política surge como uma saída para a resolução dos proble-
mas, mas ela nunca é concreta. Não existe uma maneira correta de fa-
zer política, um dogma ou uma orientação, pelo contrário, são diversas

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as possibilidades para alcançar um objetivo político.
Nesse princípio das sociedades, as escolhas eram pautadas
no mais forte, pois, este teria a legitimidade de defender seus próximos.
A propagação dos deuses já era comum nos povos, suas tradições já
abarcavam a religião em sua estrutura, portanto, sinais dos deuses tam-
bém influenciavam na escolha de suas lideranças. (Pinsky, 2006)
Não havia ainda concepções de monarquia, de democracia ou
de qualquer termo que, posteriormente, a teoria política passou a des-
crever. Havia apenas a necessidade de sobreviver e de solucionar qual-
quer conflito para a manutenção e a prosperidade de uma comunidade.
Mas as comunidades foram crescendo exponencialmente. Alguns líde-
res morriam, outros ascendiam. O ser humano passou a sentir o desejo
de poder e do controle. Passou a querer domar a natureza e também o
próximo.
Subjugação, domínio, expansão territorial são alguns dos ob-
jetivos que então passam a figurar na mente dos chefes das comunida-
des. A guerra, o conflito e o poder passam a ser temas centrais. Suas
consequências se desenrolam até os dias atuais e acarretam as trans-
formações, pelas quais a raça humana passou nos últimos milênios.
Assim, é nesse interím, onde as comunidades passam a cres-
cer exponencialmente e o homem passa a querer expandir suas terras,
tomado por certa ganância, onde já se estrutura uma protopolítica que
alcança os chefes dessas comunidades, e onde a tecnologia já permite
alguns avanços no modo de vida das comunidades, que começa a se
desenhar as primeiras civilizações, das quais trataremos de agora em
diante.

MESOPOTÂMIA

Há na região do Oriente Médio, onde hoje se situam nações


que vivem em conflitos duradouros e que são matéria da mídia todos os
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dias, como o Iraque, dois rios. O rio Tigre e o rio Eufrates. Ambos tem
extensões gigantescas, com o primeiro tendo por volta de 1800 km de
extensão enquanto o outro alcança cerca de 2800 km. Foi no espaço
entre esses rios que há muitos milênios surgiu a primeira grande civili-
zação que se tem registro na história: a civilização mesopotâmica.
Diz Pinsky (Contexto, 2006) que isso ocorre pois
na Mesopotâmia havia, portanto, condições altamente favoráveis à agricul-
tura, condições essas, entretanto, que precisavam ser aproveitadas com um
trabalho sistemático, organizado e de grande envergadura. Talvez por isso
é que a urbanização tenha se desenvolvido antes aí e não na Palestina, na
Síria ou no Irã. (p. 45)

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Essa civilização, oriunda da junção de diversas comunidades
que habitavam a mesma região e se aproveitavam da fertilidade da terra
local e do amplo acesso à água, derivada dos dois rios já citados, alcan-
çou grandes feitos durante sua existência.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, ao analisarmos
o que foi a Mesopotâmia, não podemos raciocinar uma civilização ho-
mogênea. Muito pelo contrário, a Mesopotâmia se constituiu da junção
de diversos povos difusos. Durante sua existência, foi governada por
povos distintos, conflitantes entre si e com características únicas, o que
permite observar tal civilização apenas com um olhar bem heterogêneo,
calcado nas mudanças atingidas pelas suas transformações.
Pinsky (Contexto, 2006), relata
Ao contrário do Egito, em que a uma cultura unificada corresponde uma che-
fia única, na Mesopotâmia isso não ocorrerá tão cedo: pelo contrário, assis-
timos a um desfilar de reinos e reis que lutam entre si, não pela hegemonia,
mas por um espaço político-econômico (p. 55)
Pois:
Há Estados mesopotâmicos e não um Estado mesopotâmico, definitivamen-
te unificado. As línguas, semíticas, não apresentam muita variação; a cultura
é semelhante, a atividade econômica praticamente igual: agricultores nos
campos, artesãos e comerciantes nas cidades. Mas, se não há um Estado
único, há uma civilização mesopotâmica cuja influência iria marcar a região
por muitos e muitos séculos. (p. 65)

Dentre os povos que governaram a Mesopotâmia, devido a


sua grande heterogeneidade, cabe citar os sumérios, considerados os
primeiros habitantes da região, os Acádios, que tem como figura mais
importante o rei Sargão I, os amoritas, que tem como figura mais impor-
tante Hamurabi, já discutido na Unidade por sua importância na transcri-
ção de seu Código, os assírios, conhecidos por suas proezas militares,
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que contavam com um exército profissional, incluindo guerreiros que já


domavam cavalos para batalha e os caldeus, que tiveram como figura
mais conhecida o rei Nabucodonosor, destemido por ter decretado a
ruína de Jerusalém e por ter ostentado a criação de magníficas constru-
ções na Babilônia.

Para saber mais sobre esse assunto, acesse:


https://www.mundovestibular.com.br/articles/1156/1/MESOPO-
TAMIA/Paacutegina1.html

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Portanto, logo que a Mesopotâmia se organiza como uma ci-
vilização, ainda que seja a junção de comunidades heterogêneas, ela
passa a necessitar de uma liderança, alguém com a força necessária
para a prosperidade de seus povos.
Conforme já citamos, na Mesopotâmia, já existia uma concep-
ção de religião e muitas divindades defendidas pela população. Assim,
a escolha do rei, do líder dessa civilização, se dava por orientação divi-
na. Era escolhido de acordo com a vontade dos deuses que se comuni-
cavam com os homens dessa civilização através de sinais.
Havia organização política e chegou a haver divisão social do
trabalho, mas esta se restringiu aos templos, pois nos campos e nas
cidades, o trabalho era coletivizado entre os habitantes, exceto aqueles
dotados de atribuições políticas. (Pinsky, 2006).
Foi na Mesopotâmia que surgiu o primeiro documento norma-
tivo de que se tem conhecimento: o Código de Hamurabi. Se tratou
da primeira tentativa de agrupar os costumes e normas vigentes, até
então consuetudinárias – ou seja, de tradição oral – em um documento
escrito. Sustenta Pinsky (Contexto, 2006), que a ideia de criar o Códi-
go como algo original não parte de Hamurabi, o rei que leva o nome
do ordenamento, mas o que parte dele é o interesse em reunir esses
costumes e normas que já eram praticados há muito tempo. Assim, o
Código de Hamurabi seria inovador por emoldurar, pela primeira vez, de
maneira escrita, palpável e física, um ordenamento jurídico, ao mesmo
tempo que não trazia leis inovadoras, pois, era apenas a transcrição de
costumes já latentes na civilização mesopotâmica.

Figura 2 - Fragmento do Código de Hamurabi. Disponível em: <<https://


www.estudopratico.com.br/codigo-de-hamurabi/>> Acesso em feverei-
ro/2019
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Portanto, a Mesopotâmia foi uma das primeiras civilizações,
tendo se estruturado numa forma de governo análoga à monarquia,
onde o rei era escolhido pela vontade divina, demonstrando já haver
nessa época o alinhamento do pensamento político ao religioso. A civili-
zação mesopotâmica se pautou em uma comunidade heterogênea, pois
se constituia de diversos povos distintos, que alternaram-se no poder
com seus líderes sinalizados pelos deuses.
Dentro de seus territórios, havia o rei, líder escolhido pelos
deuses para comandar seus súditos, havia os sacerdotes, incumbidos
de satisfazer e compreender as vontades divinas, os escravos – tão
comuns em toda a história da raça humana -, as terras reais, eram re-
passadas aos súditos para cultivo, sendo que os rendeiros pagavam
pela cessão das terras, os colonos pagavam com parte da colheita e
os funcionários públicos, que trocavam terras por seus serviços para o
rei. Havia também os iamkarum, funcionários do rei que tinham entre
suas atribuições, funções de mercador e usurário, sendo responsáveis
por emprestar dinheiro aos agricultores (em troca de taxas altas), mas
também tinham competência para comprar em nome do rei e receber as
taxas devidas pelos súditos.
Assim, é possível perceber o alto grau de organização política
e social que constituiu a civilização mesopotâmica. Ainda que numa era
muito antiga, conseguiu sustentar uma estrutura que continha um rei,
legitimado pelos deuses, um corpo de funcionários públicos, um código
de leis – de Hamurabi em diante - , agricultura e tecnologia suficiente
para manter a população e depois proporcionar avanços territoriais que
conotam em alguns historiadores (LEACKEY & LEWINI, 1981), a partir
das primeiras expansões, o termo Império Mesopotâmico.
Dessa forma, é possível compreender que a Mesopotâmia,
além de ter sido “berço” de outras civilizações, também foi “berço” da
teoria política, pois é a partir de sua experiência que muitas outras ações
políticas se sucederam. É a partir do código de Hamurabi que passa, o
homem, a se preocupar em anotar fixamente suas leis, seus costumes.
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É a partir do modelo de governo estruturado e com uma figura central,


detentora do poder, que outras civilizações ascendem na grande roda
da história.

Os diversos povos que habitaram a mesopotâmia podem cau-


sar certa confusão por conta das particularidades que cada um tinha. É
interessante notar, entretanto, que mesmo nas diferenças nítidas entre
19
os povos que habitaram e tiveram controle político na Civilização meso-
potâmica, algumas características se mantiveram, tais como a forma de
governo baseada numa estrutura análoga a monarquia, onde havia um
líder escolhido pelos deuses, uma elite religiosa que se aproveitava de
sua condição privilegiada para sustentar seu luxo exacerbado nas cos-
tas de uma mão-de-obra de súditos do rei que temiam da ira dos deuses
e economia baseada na agricultura, aproveitando a fertilidade da terra
entre rios, aproveitando as evoluções tecnológicas que a experiência
humana transformava em progresso.

Saiba mais:
Filme sobre o assunto: O Herói da Babilônia (Gladiator Films,
Itália, 1963).
Na literatura: Mesopotâmia – Luz na Noite do Tempo – Série
Às Margens do Eufrates, de Dolores Bacelar
Acesse os links: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/mesopo-
tamia/> e http://www.ufrgs.br/antiga/linksa.htm
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note
a relevância do assunto dentro do seu campo de atuação.

EGITO

Ao pensar no Egito, instantaneamente temos três visões em


nossas mentes: a primeira sobre as icônicas pirâmides, maravilhas do
mundo, que encantam todos os anos milhares e milhares de turistas,
que se aventuram ao norte do continente africano para prestigiá-las.
Pensa-se também nos icônicos faraós, mumificados após sua morte e
que gozaram, durante seus reinados, de prestígio e poder tamanhos
que atribuíam às suas figuras, um ar de divindade. Por último, pensa-se
também no vasto rio Nilo, com sua extensão inenarrável, absurda, ou,
em termos egípcios, faraônica.
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Apesar de haver amplo conhecimento atualmente sobre os Fa-


raós, o Nilo e as Pirâmides, boa parte desse conhecimento parte de um
senso comum. Às vezes até de um esoterismo tolo, em que se busca
infligir um teor místico e misterioso nos artefatos que datam de reinos
egípcios.

20
Figura 3- Algumas Pirâmides egípcias. Disponível em <<https://super.
abril.com.br/mundo-estranho/como-foram-erguidas-as-piramides-do-e-
gito/>> Acesso em fevereiro/2019

Contudo, com o advento da história, dentre outras ciências hu-


manas, principalmente após o século XX, diversos intelectuais se de-
bruçaram sobre essa civilização, para tentar traçar um panorama geral
de seu funcionamento, de suas façanhas e de sua cultura. Ainda que
seja difícil nos dias de hoje explicar como as Pirâmides foram construí-
das em uma civilização que, conforme se acredita, não dispunha de tec-
nologia suficiente para tamanha arquitetura, por outro lado já se tornou
muito mais fácil e prático compreender as estruturas políticas, sociais
e culturais que orientaram os modos de vida dessa grande civilização
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

antiga.
No âmbito de sua estruturação, o Egito erigia-se sob a égide
de um líder: o Faraó. Tal líder, que assim como no caso mesopotâmico,
possuía diversos papéis em suas mãos para o andamento da socieda-
de, como a chefia das colunas militares e a propriedade sobre a terra,
também possuía algumas diferenciações com a civilização que lhe es-
tendia divisa à leste, a Mesopotâmia. Se no caso mesopotâmico, o rei
era legitimado pelos deuses, no caso do Faraó isso não ocorre. Isso
devido ao fato de o Faraó ser considerado como uma própria encar-
nação divina. O Faraó não servia aos deuses, pois, era si próprio uma

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divindade. Assim, além de acumular funções políticas e sociais, esse
líder também acumulava funções religiosas, sendo adorado pelos seus
súditos, por sua condição de deus.

Figura 4 - Estátua do Faraó Ramsés II - Disponível em <<https://www.


thevintagenews.com/2018/01/16/ramesses-ii-passport/>> Acesso em
fevereiro/2019

Nesse sentido, diz Pinsky (Editora Contexto, 2006)

De qualquer forma, o mito mistura-se com a realidade e o rei aparece legiti-


mado pela sua origem divina. Isso é comum em muitos povos, mas entre os
egípcios adquire uma expressão literal: o rei não tem apenas origem divina;
ele é a expressão do próprio deus. Mais que senhor dos exércitos ou supre-
mo juiz, o faraó é o símbolo vivo da divindade (p. 70)
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Vale ressaltar:

O rei era também chefe militar. Essa função teve importância diversa em
diferentes momentos da história egípcia. Acredita-se que durante o Antigo
Império e até o Médio o isolamento do território deve ter sido mantido, exceto
poucas e menos significativas incursões. Já no Novo Império, o Egito torna-
-se expansionista, desempenhando papel militar e político na região. Mesmo
em tempo de paz, torna-se necessário prevenir e cuidar para que não ocor-
ram as guerras. O faraó cuidava do policiamento das rotas, vigilância das
fronteiras e portos. Produtos básicos tinham que chegar de outras regiões, e
comerciantes precisavam ser protegidos, sempre (Pinsky, 2006, p. 73)

22
Ainda que houvesse uma cadeia de funções mantidas pela au-
toridade faraônica, a civilização egípcia também contava com um corpo
de funcionários. Pinsky (2006) demonstra

O faraó é, além de sumo sacerdote e chefe militar, o juiz supremo, aquele


que decide as petições em última instância. Centralizador, divino e absoluto,
poderia parecer que o faraó tudo pode e governa sem limites. Mas não é bem
assim. [...]
[...] A autoridade regional era o nomarca (não confundir com monarca), espé-
cie de governador que administrava o nomo, em número de quarenta, espa-
lhados pelo Egito. Cada aldeia podia eleger o seu líder local e um conselho,
composto por representantes de diferentes categorias. A autonomia desses
“prefeitos” e “vereadores” variou muito ao longo da história egípcia, mas deve
ter sido sempre limitada pela presença de funcionários do governo central que
vinham sempre fiscalizar campos, conferir rebanhos, orientar construções ou
transmitir normas, de modo a permitir a manutenção de ligação estreita entre
o poder central e o mais obscuro dos habitantes. O executor material das or-
dens reais era o escriba. Era ele o funcionário do poder central, responsável
concreto pela articulação entre as ordens dadas e sua execução (pp. 73-75)

Dentro da esfera urbana, já havia cidades que variavam entre


10 e 35 mil habitantes, sendo que os templos e palácios faraônicos
encontravam-se em posição de destaque frente ao resto das estruturas
que constituíam a cidade.
Assim como no caso mesopotâmico, não se pode dizer que
houve uma sociedade egípcia, uma vez que esta “sociedade” se cons-
tituía, na verdade, de diversas cidades independentes, porém interde-
pendentes no que toca ao quesito econômico. Se havia heterogeneida-
de em algumas características da civilização egípcia, no âmbito cultural
podem ser apontados casos homogêneos entre grande parte dessas
cidades independentes. (Pinsky, 2006)
Há também, nesse sentido, uma separação entre o alto e o bai-
xo Egito. O baixo Egito seria a região que vai do mar mediterrâneo, se
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estendendo territorialmente até a região conhecida como delta do Nilo.


Entre algumas características curiosas, segundo Baines e Malik (An-
dromeda Oxford Limited, 2008), o símbolo do baixo Egito era o papiro e
uma coroa vermelha representava seu povo. O alto Egito, situado ao sul
do Delta do Nilo, até as fronteiras com a Núbia, por sua vez, tinha como
símbolo o Lótus e usavam uma coroa branca.
Essa simples dicotomia entre “dois” Egitos colabora para ilus-
trar a impossibilidade de se situar o Egito como uma sociedade, pois,
até mesmo em sua constituição territorial já havia uma divisão entre os
povos do alto e do baixo Egito. Assim, é possível ver as semelhanças

23
de características que aproximam o Egito num todo, sob o âmbito cul-
tural, onde pode até se falar em homogeneidade, porquanto, em outras
áreas, existia grande heterogeneidade. É a partir disso que o termo ci-
vilização toma mais sentido ao tratar dos povos desses territórios em
seus anos de glória. Todavia, ainda que haja uma diferenciação entre
o baixo e o alto Egito, conforme Pinsky (Contexto, 2006), o Faraó se
autoproclamava líder de todos.
A elite egípcia gostava de esbanjar luxo e riquezas sem ta-
manho. Principalmente nos palácios dos Faraós, era comum observar
grande luxúria. A respeito disso, diz Pinsky (2006)

Ao contrário da liderança nas aldeias, provisória e sujeita a permanentes


contestações, aqui o rei esquece as razões que o levaram a liderar (o con-
senso do grupo social com vistas ao bem comum), e através de sua origem
divina (no caso do Egito) ou legitimação divina (no caso da Mesopotâmia e,
mais tarde, entre os reis de Israel, passa a justificar suas atitudes autoritárias,
seu luxo acintoso e sua vida desligada da dos produtores diretos (p. 50)

Ou seja, chega um momento em que os Faraós e a elite da ci-


vilização egípcia deixam de se preocupar com os súditos, para apenas
preocuparem-se com suas próprias necessidades. Tal fato se dá pela
temeridade dos súditos em contestar a ordem vigente, por conta das
aspirações divinas que acometiam os seus Faraós.
Em suma, a civilização egípcia também se construiu com base
em uma sólida estrutura política análoga à monarquia, com uma figura
central, o Faraó, que também era responsável pela tutela religiosa da
civilização, pois era tido por deus. Tinha um corpo de funcionários que
tratava de difundir as tarefas políticas do Faraó. Os nomarcas e demais
funcionários tinham responsabilidades para colaborar na engrenagem
governamental dos egípcios, coletando impostos, distribuindo e orga-
nizando as terras e resolvendo conflitos entre os súditos. É importante
lembrar que o Faraó continha poder para deliberar sobre as questões
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que envolvem, posteriormente, os três poderes elaborados por Mon-


tesquieu. É o Faraó quem toma as decisões políticas, logo, tem caráter
executivo. É o Faraó quem decide sobre o funcionamento da civilização
e suas permissões e objeções, logo, tem caráter legislativo. E é também
o Faraó quem decide conflitos “judiciais” entre os habitantes de seu
povo, portanto, tem caráter judiciário.
Aos súditos, era dada uma organização política que permitisse
a adoração ao Faraó, seu líder e deus, o acesso agricultura, para plan-
tar e colher, de forma a colaborar nas tarefas sociais de alimentar a civi-
lização, o acesso ao trabalho urbano, para colaborar na construção das

24
edificações e também na produção das ferramentas necessárias para
o uso de suas tecnologias e também a participação na guerra, no caso
dos homens saudáveis, que podiam enfileirar as colunas dos exércitos
egípcios, sempre prontos para defender a civilização em suas frontei-
ras, não permitindo a entrada de povos em seus domínios e também o
Faraó, pois, até a figura divina era cabível de morrer ao ser traspassado
por uma lança.

É importante salientar que o baixo e o alto Egito traziam


algumas particularidades em seus costumes, em seu cotidiano. O baixo
Egito, por exemplo, se fundia sobre uma faixa geográfica muito fértil,
o que permitia maior acesso dessa parte da população à alimentação
que era menos acessível aos integrantes do alto Egito, vez que sua
faixa geográfica era muito menos fértil – pouco mais de 10 quilômetros
de largura na região costeira do rio Nilo, o resto era deserto. Ainda
assim, veneravam o mesmo Faraó e, analisados os fatores culturais,
apresentavam semelhanças consideráveis.

O modelo político egípcio ainda gera muito debate nas esferas


acadêmicas e intelectuais. No restante da população, é causa de admi-
ração, por conta das riquezas e das grandes obras que persistiram no
tempo, firmes e fortes, para se tornarem símbolo da grandeza que ou-
trora esbanjou essa civilização. Seus moldes políticos, com um governo
centralizado em uma divindade, chegaram a ser explorados por outras
nações, mas a maior contribuição dos egípcios no tocante à teoria po-
lítica é sobre a hierarquização do poder, trazendo a figura do nomarca,
conforme visto, uma espécie de governador. Esse nomarca, com atri-
buições administrativas, políticas e judiciárias, colaborava para a efe-
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tivação dos interesses do Faraó no território, uma vez que a extensão


dos domínios da civilização egípcia era bastante larga. Outrossim, ain-
da que se possa falar em dois Egitos diferentes, o nomarca colaborou
para manter, apesar de suas particularidades, as duas partes egípcias
sob a tutela de um só Faraó, permitindo que algumas decisões tivessem
autonomia regional, mas que as grandes decisões, principalmente no
que concerne às colheitas e à manutenção dos privilégios e riquezas do
Faraó, alcançassem todo o reino.

25
O Egito até os dias contemporâneos se divide geograficamente
de maneira similar ao período dos Faraós. Ainda que a tecnologia tenha
avançado brutalmente, as cidades na costa do Nilo já haviam se assen-
tado e ali se desenvolveram continuamente. Esse fator é curioso para
compreender como a geografia e fatores naturais são importantes para
as decisões e formulações políticas em um Estado.

Figura 5 - Mapa do Egito Antigo e da Núbia - Disponível em <<http://


www.ead.ufrpe.br/acervo-digital-eadtec/node/327>> Acesso em feverei-
ro/2019
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HEBREUS

Doravante a importância dos mesopotâmicos e egípcios na ori-


gem das organizações políticas, importante participação tem também
os hebreus nesse âmbito. De maior valia é o fato de essa civilização
ter trazido uma cultura monoteísta, que se difundiu ao seu povo e que
serviu de base à consolidação do cristianismo e do islamismo, as duas
maiores religiões dos dias atuais.
Mas porque falar de monoteísmo e religião num trabalho de
teoria política? Bem, veremos adiante que, boa parte das transforma-
ções políticas, ocorridas na história, segue um precedente ético pauta-
do nos valores religiosos. Esses valores são oriundos dessas religiões
monoteístas que se pautaram nos hebreus para tomar forma e se cons-
tituir. Nessa linha, diz Pinsky (2006)

O leitor deverá ter percebido que fala-se do Egito, da Babilônia, da Assíria,


de Roma, etc. e fala-se dos hebreus e não de Jadá, Israel ou outro nome de
Estado político. Não que os hebreus nunca tenham tido um Estado: só que
ele nunca teve maior importância e seria um dos inúmeros pequenas reinos
desaparecidos nas brumas da História, não fosse a existência do monote-
ísmo ético e de uma religião para a qual o conhecimento era uma forma de
aproximação com deus, daí a necessidade de escrever, documentar tudo e
ser capaz de ler também (p. 81)
A origem dos Hebreus é mesopotâmica, trata-se de um povo
semita que resolveu migrar da região da primeira civilização para outra
área geográfica e acabou se estabelecendo no oriente médio.
Sua constituição política se pautava na ausência de proprie-
dade particular de bens de produção, ou seja, toda a propriedade era
pública. De início, não há reis, mas ergue-se um sistema tribal, que só
recebe uma liderança quando acontecem guerras. A esses líderes, nos
momentos de guerra, dá-se o nome de juiz. A transição para a monar-
quia passa por diferentes interpretações. Na versão bíblica, alguns an-
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ciãos vão até Samuel, que na época era um desses juízes, para solicitar
a escolha de um Rei. O juiz conversa com seu deus, que não olha com
bons olhos tal ideia, pois vê muitos malefícios ao homem com todas
essas transformações. Ter um rei, então. Seria colocar o próprio povo
em servidão. (Pinsky, 2006)
Porém ocorre justamente o oposto, e tempos depois, Saul con-
duz os hebreus até a monarquia. O problema é que nessa altura, as
tribos do norte e do sul de onde se encontravam os hebreus, se dividem.
Ao Norte, fica Israel, ao sul, Judá.
Se Saul falhou em unir as duas tribos que havia se dividido,

27
Davi, famoso na história bíblica por seu encontro com o gigante Go-
lias, avança mais. Como era bom soldado e tinha um bom carisma,
consegue constituir a tribo de Judá, aceitando a entrada de povos não
hebreus em meio ao seu próprio povo. Estratégico, avança sobre os
filisteus e conquista Jerusalém, que se torna capital de seu reino. Erigir
um templo era parte de seus objetivos, assim como trazer prestígio re-
ligioso até seu reino.
Em busca de aumentar o prestígio religioso de seu povo, afir-
ma ter descoberto a arca da aliança e, com muito estardalhaço, a traz
até Jerusalém. É com isso que legitima seu poder, sob o argumento
de ser um escolhido de deus. Tão escolhido, que fora a ele atribuída a
tarefa de encontrar a arca da aliança.
Assim, de maneira diferente do Egito, onde o líder e a divinda-
de se encontravam na pessoa do Faraó, entre os hebreus o líder passa
a ser uma escolha divina, de maneira semelhante ao que ocorria nas
escolhas das lideranças mesopotâmicas. A sutil diferença entre o caso
mesopotâmico e o hebreu se dá através da divindade em si. O povo
mesopotâmico era politeísta, acreditava em diversos deuses, ao passo
que o povo hebreu se constituía em monoteísta, com a crença em um
único deus: Javé.

Javé, Yaweh, Deus, são algumas das denominações que se


tem do deus hebraico, que se trata do mesmo deus do islamismo e do
cristianismo. As diferenças se dão nas interpretações dos livros sagra-
dos (velho testamento, alcorão, bíblia) e das profecias. Assim, ao ler
tais livros sagrados, é possível ver diversas façanhas políticas do povo
hebreu e compreender melhor o seu funcionamento como civilização.
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O Estado hebreu carrega algumas características que tornam


seu custo muito alto e suas vicissitudes muito complexas. O rei Davi
mantinha um exército, que tinha grande parte de seu corpo formado por
mercenários, que custavam alto. Também era caro seu interesse por
construções luxuosas. Para dar cabo de tais custos, o reino de Judá se
expandia continuamente, conquistando e saqueando o que estivesse à
sua frente. (Pinsky, 2006)
Com a morte de Davi, seu filho Salomão assume as rédeas
do Estado. O mesmo Salomão que atualmente é representado como
símbolo e sinônimo de sabedoria. Bem, se Salomão não se encaixava
como grande soldado, as narrativas históricas confirmam sua grande
28
habilidade política. Fez acordos com faraós e com os reis fenícios, o
que possibilitou recuperar qualquer território que havia perdido, também
usando de casamentos para atingir tal objetivo. No âmbito econômico,
encontrou maior retorno nas relações comerciais do que na pilhagem,
porém, seu sucesso foi limitado, vez que instituiu taxas aos seus súdi-
tos.
Entretanto, sua maior realização política se construiu em es-
treita relação com a religião. Ao construir o templo que posteriormente
levou seu nome, Salomão teve a sacada de dar uma moradia para Javé.
Pinsky (Contexto, 2006), relata a respeito das narrativas das múltiplas
moradas de Javé:

Inicialmente, Iavé morava nos desertos do sul (Juízes, 5,4). Depois, aos pou-
cos, Iavé mudou para a terra de Canaã, passando a possui-la toda, mas não
saindo de Canaã. Um deus “nacional” que não fazia prosélitos, nem gostava
de ser adorado fora de seu país, pois terra estranha não é local adequado,
por ser impuro. A ligação material era tão forte que, quando Naaman, general
arameu, foi curado por Eliseu e quis dar graças a Iavé, transportou para o
seu país, no dorso de duas mulas, terra de Canaã, sobre a qual construiu um
altar (II Reis, 5, 17); para todos os efeitos, ele se erguia sobre terra de Iavé...
Jerusalém, berço do monoteísmo ético, tornou-se cidade sagrada de judeus,
cristãos e muçulmanos. A reprodução acima é um mapa feito pelos cruzados
no século XII.
Por alguns textos fala-se que Iavé habitava os santuários e depois, de forma
especial, o santuário do templo. E em outros fala-se no céu como habitat
de Iavé. Salomão, ao levantar o templo, buscava localizar fisicamente Iavé,
encarcerá-lo junto ao seu palácio e submetê-lo aos interesses da monarquia.
(pp. 89-90)
Se até então, Javé não tinha morada, com o reino de Salo-
mão ele passa a residir no templo. As mudanças políticas e religiosas
são vastas com esse acontecimento. No campo religioso, se até então
havia liberdade nas regras religiosas, sendo livre o acesso dos súditos
ao seu deus, passa a haver certa ritualização da religião, através dos
sacerdotes. Essa ritualização causa dependência entre o povo e o po-
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der político, que controlava o reino e o templo onde residia a divindade.


Se Jerusalém e a civilização hebraica vão caindo em ruínas,
da morte de Salomão até a destruição da cidade por Nabucodonosor, a
ideia do monoteísmo ético persiste. Com a retomada do Estado hebrai-
co, quase cinco séculos após a sua destruição, esses valores são reto-
mados e passam a ganhar força. A existência de uma única divindade,
portadora das normas e condutas que deveriam ser seguidas pelo povo
que acredita nela, é aceita.
O povo não aceita mais os mandos e desmandos dos reis e
das elites políticas, pois, os verdadeiros valores não vêm mais do ho-
29
mem, mas sim da divindade. Afirma Pinsky (Contexto, 2006, p. 90) que
“entre os hebreus, Iavé evoluiu de um deus tribal para um deus univer-
sal, de um deus da guerra, senhor dos exércitos, para um juiz sereno,
com consciência social e individual, exigente de justiça social”.
Assim, há maior proximidade da figura divina com seu povo,
afastando-a das elites políticas, que passam a ter de governar de acor-
do com os valores deixados pela divindade. Essa é uma mudança no-
tável, pois, até então nunca se havia tido qualquer experiência em que
os valores religiosos prevalecessem em relação aos políticos, sendo
que até então, foram sempre os valores religiosos que serviram e foram
manipulados para servir aos interesses políticos.

Figura 6 - Representação do Rei Salomão em seu palácio, atendendo o


seu povo e distribuindo sua sabedoria - Disponível em: <<https://www.
raciociniocristao.com.br/2015/02/podemos-aprender-com-vida-salo-
mao/>> Acesso em fevereiro/2019

O Estado hebraico, dessa forma, tem importância substancial à


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teoria política ao demonstrar, pela primeira vez na história, um governo


que, em conjunto com a religião, se orienta a partir de certos princípios
éticos. Tais princípios, por sua vez, não são arbitrários, mas fruto da
própria vontade de Javé. Na Mesopotâmia, o rei era escolhido pelas
divindades, no Egito, era a própria divindade, mas no Estado hebreu,
apesar de escolhido pela divindade, deveria o rei governar de acordo
com uma cadeia de pressupostos éticos, já transmitida oralmente, e
também de maneira escrita – pelos evangelhos que depois constituem
o Velho Testamento, dentre outros relatos apócrifos – que eram a trans-
crição da vontade divina.

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Figura 7- Moisés no Monte Sinai recebendo a pedra com os 10 man-
damentos - Disponível em: <<https://faladeus.wordpress.com/os-dez-
-mandamentos/>> Acesso em fevereiro/2019

ROMA
O Império Romano é, de longe, uma civilização que causa o
maior fascínio em quem se debruça sobre sua história. Sua importância
é tamanha para o mundo ocidental, que muitas vezes se confunde a his-
tória cronológica, em que se encontrou sólido o Império Romano, com
a própria existência do Império Romano. É comum ouvir pessoas de
senso comum, ao comentarem a respeito dessa magnífica civilização,
que ela se enquadra no tempo “do Império Romano” e não, como pode
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se afirmar de maneira mais correta, no tempo da “história antiga”.


Tal Império consolidou diversos costumes e comportamentos
que se encontram até hoje enraizados na cultura ocidental. Foi pelo
Império Romano, na época de Constantino, que o cristianismo se tornou
a maior religião do ocidente, quando este imperador resolve declará-la
como a religião oficial do Império. Foi pelo Império Romano que houve
diversos avanços nas ciências, na economia e na política. Na agricultu-
ra, na escrita e na guerra. E muito mais.
Mas a história do Império Romano começa com uma lenda. A
lenda de Rômulo e Remo, dois jovens bebês que foram lançados ao

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rio Tibre por conflitos políticos que envolviam seus laços de sangue.
Por sorte, sobrevivem e acabam em uma margem do rio, onde são ali-
mentados por uma loba, até que são resgatados por um homem. Ao
crescerem, descobrem suas origens e partem em busca de respostas.
No retorno, decidem fundar uma cidade onde foram encontrados pela
loba. Uma discussão leva ao assassinato de Remo por Rômulo. Ali, se
edificaria a cidade de Roma.

Durante a existência de Roma e do Império Romano, aconte-


ceram sucessivas mudanças políticas. Roma já foi governada por mo-
narcas, por uma república clássica e também por imperadores, sendo
que com o passar da história, cada vez mais os imperadores eram au-
tocráticos e tirânicos. É importante sempre observar o ano de qual está
se falando a respeito de Roma, para poder ter conhecimento de qual
forma de governo orientava a política da época. Associar apenas aos
imperadores ou apenas ao senado romano é um erro e, portanto, deve-
-se sempre ter muita cautela.

A importância de Roma para a teoria política tem alguns fato-


res. Em primeiro lugar, as sucessivas mudanças políticas e na forma de
governar, trazem diversas ações políticas por conta de quem estava no
poder. Assim, é possível observar como a política romana foi se trans-
formando e amadurecendo, e como algumas ideias são reaproveitadas
historicamente, algumas restando até hoje. Os modos de governar dos
Imperadores, autocráticos e centralizadores, por exemplo, são revisita-
dos nos governos totalitários, onde práticas semelhantes ocorrem.
Em segundo lugar, é em Roma que surge o conceito de res
publica (do latim coisa pública), ou seja, a República. Nessa forma de
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governo, o líder não poderia misturar seus interesses pessoais com os


interesses do Estado. Há uma dicotomia entre o público e o particular.
Dai a Roma o que é de Roma, daí ao Imperador o que é do Imperador,
seria uma boa forma de parafrasear a bíblia para explicar o conceito de
República.
Por último, mas não menos importante, é em Roma que vemos
a formação de um Senado, com atribuições próprias e exclusivas. É a
primeira vez na história em que o governante não tem em suas mãos
amplos poderes – ainda que fossem muito extensos -, mas tinha de
compartilhá-los com outra instituição.
É claro que o Senado Romano logo tornou-se palco de confli-
32
tos políticos, interesses pessoais e muita podridão. Serviu também para
a criação de uma elite política desejosa de poder e de luxúria. Segundo
Beard (Crítica, 2017), é através do Senado Romano que termina a fase
monárquica de Roma e se inicia a fase republicana. Após depor Tarquí-
nio (534-509 a.C), a constituição política de Roma se estruturou entre
seus funcionários mais prestigiados, como os cônsules, que deveriam
trabalhar em conjunto com o Senado. O Senado, que tinha atribuições
legislativas e de veto, passa também a ser consultor nas decisões que
diziam respeito aos rumos de Roma.

Figura 8 - Representação do Senado Romano - Disponível em <<ht-


tps://pt.wikipedia.org/wiki/Senado_romano>> Acesso em fevereiro/2019

É importante ressaltar que Roma, na mudança da monarquia


para República, já tinha uma sólida estrutura política com reis,
magistrados, cônsules, chefes militares, tribunos, pretores, censores,
etc. A divisão social do trabalho era muito bem definida, sendo que aos
patrícios, nobreza aristocrática de Roma, cabiam os cargos mais impor-
tantes da sociedade e as aspirações ao Senado, enquanto ao restante
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da população cabiam trabalhos menos prestigiados na agricultura e nas


cidades. Os mais saudáveis, homens, podiam tentar incorporar as for-
ças militares. Além disso tudo, haviam também as funções sacerdotais,
com as adorações aos múltiplos deuses, uma vez que antes de Cons-
tantino, a sociedade romana era politeísta. (Kelly, 2006)
O Senado romano, assim como a civilização, também passou
por diversas transformações em suas atribuições conforme a areia da
ampulheta histórica corria de um frasco ao outro. Durante a monarquia,
funcionava como conselho de anciãos, tendo responsabilidades – con-
forme já citado – legislativas e de veto. Com a República, se torna a ins-
33
tituição mais forte de Roma, com as antigas responsabilidades acresci-
das da tarefa de ser consultora nas decisões que dirigiam os rumos do
Estado. Com o fim da República e o inicio do Império, suas atribuições
voltam a diminuir, porém não deixam de existir. O Senado torna-se, en-
tão, em sua última fase, uma instituição da nobreza, com capacidade re-
duzida de atuar nos rumos do Império, por conta do poder se encontrar
centralizado na mão do imperador. Valia-se mais do prestígio adquirido
historicamente do que necessariamente por alguma força ativa. (Eck,
2000)
O fim da República chega após muita instabilidade política
em Roma. Júlio César consegue ser proclamado imperador, porém é
assassinado no Senado pouco tempo depois. Sua morte desencadeia
uma guerra pela sucessão do poder, onde Otávio, filho adotivo de Cé-
sar, vence Marco Antônio, que se aliara a Cleópatra, a famosa rainha
egípcia. Com a vitória, Otávio adquire uma força política considerável,
e vinculada ao apoio militar de suas forças, prestigiadas por terem saí-
do vitoriosas da batalha contra Marco Antonio, é proclamado Augusto,
título dado pelo Senado que lhe conferia poderes absolutos no governo
romano. É nesse ínterim que surge a política do “pão e circo”, onde ha-
via comida e entretenimento para o povo, que com isso não observava
as demais demandas políticas de seu líder. Institui-se também a política
da “Pax Romana”, de onde se originou um grande processo para o do-
mínio da cultura romana alcançar toda sua vasta extensão territorial. A
partir de Otávio, Roma vive seu período de maior expansão territorial.
(Nicolet, 1991)

Figura 9 - Extensão do Império Romano durante o reinado do imperador


Trajano - Disponível em: <<http://dererummundi.blogspot.com/2009/06/
longevidade-e-extensao-do-imperio.html>> Acesso em fevereiro/2019
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

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Suas fronteiras chegam da Bretanha até a Ásia. O norte africa-
no também se rende aos poderes do Império Romano. São séculos de
dominação, conquista e anexações por contados romanos. Nesse meio
tempo, a política mantinha seus moldes autocráticos, com o Imperador
mandando e desmandando e o Senado com seu papel secundário no
funcionamento do Estado. Outras funções continuavam a existir, como
os pretores, censores, dentre outros, porém os cargos agora eram to-
mados por funcionários fiéis ao Imperador que estava no comando. O
aparelhamento do Estado, então, ocorria, de forma que os cargos eram
assumidos por romanos confiáveis ao Imperador. Essa confiança, en-
tretanto, muitas vezes trouxe sequelas. Não raro, funcionários do Es-
tado, chefes militares e integrantes do Senado, conspiravam contra o
Imperador em busca de poder. A lista de Imperadores de Roma é muito
extensa. (Abbott, 2001)
O Imperador também tinha em sua pessoa a autoridade religio-
sa, sendo o supremo líder religioso e político de Roma, enquanto esti-
vesse no poder. Atuava, ainda que boa parte de suas escolhas partiam
de interesses pessoais, com conselheiros, que variavam de senadores
de confiança até a plebeus comuns, ou até escravos. Não se tratava
de um conselho oficial, tecnicamente falando, apenas de pessoas que
rondavam o cotidiano do Imperador e às vezes eram consultadas sobre
a viabilidade das ideias do chefe de Estado. (Eck, 2000)
No tocante ao direito, segundo Garnsey e Saller (1987), havia
um corpo jurídico estruturado para corresponder às demandas judiciais
do Império e das províncias, ainda que não houvessem funcionários su-
ficientes para tal. Cidadãos não romanos deveriam respeitar a lei local,
a tradição regional, enquanto os cidadãos romanos estavam sujeitos
à jurisdição de Roma. Vale lembrar, então, que o Imperador não tinha,
por sua vez, poder judiciário em sua mão. Ao contrário de outras civili-
zações já estudadas, como a egípcia e a hebraica, onde o Rei obtinha
em suas mãos os três poderes – se usarmos como base a concepção
de Montesquieu –, em Roma o poder judiciário não lhe é competente.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Muitos Imperadores depois, é no século IV que Roma passa


por sua maior transformação em toda sua existência, quando Constanti-
no, Imperador, converte-se ao cristianismo. Foi o início da transição que
culmina com Teodósio, já no final do século IX, fazendo do cristianismo
a religião oficial do Império. (Schilling, 1992).
Esse movimento de cristianização do Império Romano reflete
em toda a sua estrutura política, pois, o cristianismo remete ao mesmo
monoteísmo ético da qual se acometera a civilização hebraica, que foi
estudada anteriormente. E mais, durante a civilização hebraica não ha-
via ainda a figura de Jesus Cristo, que segundo consta, veio ao mundo
35
dos homens enviado por Deus para nos salvar, e por nós morreu na
cruz. Com o cristianismo, o monoteísmo ético passa por uma intensifi-
cação, pois, a figura de Jesus agora é presente, o enviado de Deus que
morreu na mão do homem para salvar do pecado todos os outros seres
humanos.
As outras divindades, até então adoradas, eram consideradas
falsas e os seus seguidores, pagãos. Estes pagãos deviam ser perse-
guidos e, ou convertiam-se, ou eram excluídos da vida pública – quando
não mortos. (Bowersock et. al. 1999)
O cristianismo rompe com a tradição cultural e social do Im-
pério Romano, mas resvala também nas funções políticas. O Império,
antes servo do Imperador, era agora servo de Deus. O Imperador era
apenas, legitimado pela figura do Papa – líder da cristandade – um ho-
mem agraciado por Deus com a tarefa de conduzir Roma à glória.
Assim como na Mesopotâmia e com os hebreus, a figura do
líder político como sendo uma indicação, escolha ou abençoado pela
divindade, toma força. A religião, mais uma vez, mostra como foi deter-
minante nas transformações das estruturas políticas que dominaram o
mundo na antiguidade.

GRÉCIA

Até os nossos dias, os autores gregos são tidos como dos mais
importantes e inteligentes que já habitaram a Terra. Seus interesses
variavam da filosofia à astronomia, das ciências da natureza à política,
da comédia à tragédia.
É enorme a lista de figuras gregas que ainda são amplamente
estudadas por suas contribuições no conhecimento do ser humano. Na
tradição ocidental, ao lado dos romanos, foi a maior contribuinte para
a sua formação. Os resquícios das influências gregas permanecem
até o dia de hoje. Termos como amor platônico, ou o juramento de
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Hipócrates, afirmam o poder que os gregos tiveram e ainda têm sobre


as sociedades com o passar da história.
Aristóteles, Platão, Pitágoras, Heródoto, Homero, Sócrates, Hi-
pócrates, Tales de Mileto, Parmênides, Plutarco, Arquimedes. Nomes
que todos já ouviram falar ao menos uma vez, todos gregos.
A importância dos gregos à teoria política se baseia em uma
inovação que ocorria em suas cidades-Estado. Essa inovação perma-
nece até hoje, onde ainda é considerada a melhor forma de governo
possível: trata-se da democracia.
Para além dos grandiosos estudos filosóficos que se debruçam

36
sobre a política – alguns dos quais trataremos de maneira mais acintosa
posteriormente – foi com a democracia que os gregos definitivamente
moldaram o pensamento político mundial.
A própria origem da palavra democracia vem do grego. Segun-
do Renato Janine Ribeiro (Publifolha, 2001)
A palavra democracia vem do grego (demos, povo; kratos, poder) e significa
poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo. Pode estar no governo
uma só pessoa, ou um grupo, e ainda tratar-se de uma democracia — desde
que o poder, em última análise, seja do povo. O fundamental é que o povo
escolha o indivíduo ou grupo que governa, e que controle como ele governa.
(p. 8)

Prossegue o prestigiado intelectual brasileiro:

O grande exemplo de democracia, no mundo antigo, é Atenas, especialmente


no século V a.C. A Grécia não era um país unificado, e, portanto, Atenas não
era sua capital, o que se tornou no século XIX. O mundo grego, ou helénico,
se compunha de cidades independentes. Inicialmente eram governadas por
reis — assim lemos em Homero. Mas, com o tempo, ocorre uma mudança
significativa. O poder, que ficava dentro dos palácios, oculto aos súditos,
passa à praça pública, vai para tómésson,“a meio”, o centro da aglomeração
urbana. Adquire transparência, visibilidade. Assim começa a democracia: o
poder, de misterioso, se torna público, como mostra Vernant. Em Atenas se
concentra esse novo modo de praticar - e pensar — o poder (p. 8)

Os gregos, então, concebem uma ideia de política em que a


lógica é atender o interesse da maioria. Não se trata do interesse divi-
no, do interesse do monarca ou do Senado. Não basta o interesse de
alguns, há de ser o interesse da maioria.
Para chegar nesse raciocínio, os gregos filosofam e iniciam
uma caminhada no que concerne ao pensamento político, ao distinguir
três formas de governar: a monarquia, onde há uma figura que coman-
da e domina o poder político; a aristocracia, onde um grupo limitado
de pessoas comanda e domina o poder político e a democracia, onde
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

todos têm o direito de comandar e dominar o poder político. Porém,


atender ao interesse de toda uma população é algo muito complexo,
portanto, bastava que o interesse atingisse a maioria das pessoas para
que fosse sancionado.
Ao contrário das democracias representativas que tomam for-
ma nos dias contemporâneos, na Grécia, o modelo era diferente. Na
praça pública, todos, sim, todos os homens adultos podiam tomar parte
nas decisões. Escravos, estrangeiros mulheres e crianças não toma-
vam parte dessas reuniões, pois não continham elementos suficientes,
na lógica grega, para que fossem considerados cidadãos. Em Atenas,
37
segundo Ribeiro (Publifolha, 2001), foram fixadas já no século IV a.C. a
quantidade de 40 reuniões na ágora, por ano.
O embasamento desse sistema democrático era a liberdade.
Povo orgulhoso, os gregos se viam como livres, e isso era suficiente
para distingui-los de seus vizinhos. As poucas funções políticas – sa-
bendo que os homens decidiam de forma democrática sobre todas as
deliberações, não havia um corpo fixo de funcionários públicos com ta-
refas políticas – eram sorteadas. A justificativa, segundo Ribeiro (Publi-
folha, 2001) é que

A eleição cria distinções. Se escolho, pelo voto, quem vai ocupar um cargo
permanente - ou exercer um encargo temporário —, minha escolha se pauta
pela qualidade. Procuro eleger quem acho melhor. Mas o lugar do melhor é
na aristocracia! A democracia é um regime de iguais. Portanto, todos podem
exercer qualquer função (p 8)

Essa tendência ao sorteio, porém, não se aplicava aos chefes


militares. Nesse caso e em alguns específicos, exigiam-se habilidades
e competências técnicas, pois, não se tratavam de funções cotidianas.

Figura 10 - Representação da democracia grega na época de Péricles


- Disponível em: <<https://histdocs.blogspot.com/2015/10/o-nascimen-
to-da-democracia-na-grecia.html>> Acesso em fevereiro/2019
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

38
Outrossim, a civilização grega roga ao mundo moderno duas
grandes participações no que tange ao campo da ciência e da teoria
política. Em primeiro lugar, o conceito de democracia, a ideia de um
governo de todos – ou pelo menos da maioria.
Nunca antes na história da humanidade havia surgido um pen-
samento tão diferenciado em termos políticos. Era impensável, num
mundo rodeado de monarquias, rodeado de líderes centralizadores e
em muitos casos, déspotas, um regime de governo que abrangesse
como interesse primário os anseios da maior parte da população.
Por último, mas não menos importante, a contribuição filosó-
fica dos gregos é imprescindível à teoria política. Sem Platão, Sócra-
tes, Aristóteles, dentre outros, os debates a respeito da democracia, da
justiça, da moral e dos valores éticos perderia muito. Sem os gregos,
o conhecimento ocidental sofreria uma perda inimaginável. É possível
dizer até que, sem o pensamento dos gregos, sem suas observações
filosóficas, talvez nunca descobríssemos valores tão importantes e tão
em voga nesse século XXI, como a ética e a justiça.

TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

39
ABOTT, Frank F. A history and description of Roman politi-
cal institutions.Boston: Adamant Media Corporation, 2001

BEARD, Mary. SPQR: Uma história da Roma Antiga.São


Paulo: Crítica, 2017.

BOWERSOCK, Glen W. et. al. Late antiquity: a guide to the


postclassical world. Cambridge: Harvard University Press, 1999.

ECK, Walter. The Emperor and his advisors.Cambridge:


Cambridge University Press, 2000.

GARNSEY, Peter, Saller, Peter. The Roman Empire: Econo-


my, Society and Culture. Oakland: University of California Press, 1987

KELLY, Christopher. The Roman Empire: A very short intro-


duction. Oxford: Oxford University Press, 2006.

NICOLET, Claude. Space, Geography, and Politics in the


early Roman Empire. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1991.

PINSKY, Jaime. As civilizaçõesantigas.São Paulo: Editora


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RIBEIRO, Renato Janine. A democracia. São Paulo: Publifo-


lha, 2001.

SCHILLING, Robert. The decline and survival of Roman re-


ligion.Chicago: The Chicago Press, 1992.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

40
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2015 - Banca: Unicamp Órgão: Unicamp Prova: Vestibular
Nível: Médio.
Apenas a procriação de filhos legítimos, embora essencial, não
justifica a escolha da esposa. As ambições políticas e as necessi-
dades econômicas que as subentendem exercem um papel igual-
mente poderoso. Como demonstraram inúmeros estudos, os diri-
gentes atenienses casam-se entre si, e geralmente com o parente
mais próximo possível, isto é, primos coirmãos. É sintomático que
os autores antigos que nos informam sobre o casamento de ho-
mens políticos atenienses omitam os nomes das mulheres despo-
sadas, mas nunca o nome do seu pai ou do seu marido precedente.
Adaptado de Alain Corbin e outros, História da virilidade, vol. 1.
Petrópolis: Vozes, 2014, p. 62.
Considerando o texto e a situação da mulher na Atenas clássica,
podemos afirmar que se trata de uma sociedade:
a) Na qual o casamento também tem implicações políticas e sociais
b) Que, por ser democrática, dá uma atenção especial aos direitos da
mulher
c) Em que o amor é o critério principal para a formação de casais da
elite
d) Em que o direito da mulher se sobrepõe ao interesse político e social

QUESTÃO 2
Ano: 2017 - Banca: IBADE Órgão: SEE-PB Prova: Professor de
Educação Básica 3 - História Nível: Superior.
“As formas clientelistas atravessaram a industrialização dos anos
1940-50, a ditadura militar e, como se viu, as quase três décadas
de democracia sob a Constituição de 1988, para desembocar neste
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

governo descolado da opinião pública.”


André Singer. Jornal Folha de São Paulo. Disponível em: http://
www1. folha. uol. com.br/colunas/andresinger/2017/10/1931
038-a-vitoría-da-modernizacao-conservadora.shtml. Acesso em
28.10.2017.
O tema democracia se faz parte do noticiário nacional e interna-
cional do mundo, principalmente após o fim da Segunda Guerra
Mundial. A origem deste termo é grega e remonta à Atenas.
Sobre a democracia ateniense, assinale a alternativa correta.
a) Era direta. A Eclésia ou Assembléia dos cidadãos reunia todos os
41
cidadãos de Atenas, excluindo mulheres, estrangeiros e escravos.
b) Era indireta. Os atenienses escolhiam anualmente seus representan-
tes políticos que formavam a Gerúsia.
c) Era indireta. Os cidadãos e cidadãs elegiam seus representantes na
Eclésia. As mulheres votavam, mas não podiam opinar.
d) Era indireta e muitas vezes espartanos votaram na Assembleia. O
melhor exemplo se deu em 506 a.C. com Clístenes.
e) Era direta e contava com a participação feminina. O melhor exemplo
foi o de Aspásia, mulher de Péricles.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 - Banca: CESPE Órgão: SEDUC-AL Prova: Professor –
História Nível: Superior.
O papel civilizador do Egito foi reconhecido logo na Antiguidade.
As vias e os meios, as fases e os modos através dos quais os an-
tigos Egípcios garantiram, ao longo de cerca de quatro milênios,
a sua produção e reprodução sociais são amplamente descritos
e comentados nas obras. Para além de ter fornecido ao Egito os
homens e as culturas a partir dos quais este se tornou no florão
na antiguidade, o espaço núbio-sudanês foi vital para o país dos
faraós.
BabacarSall. Estado das investigações acerca da antiguidade afri-
cana. In: BabacarMbayeDiop e DoudouDieng. A consciência his-
tórica africana. Lisboa: Ramada; Luanda: Mulemba, 2014, p. 133
(com adaptações)
Considerando o texto anteriormente apresentado como referência
inicial e os aspectos inerentes à história da África na antiguidade,
julgue o item seguinte.
O Egito faraônico deixou como legado para a humanidade contri-
buições importantes para os campos da história e da religião, em-
bora suas contribuições em outras áreas, como na filosofia e nas
ciências, tenham sido irrelevantes.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

c) Certo
e) Errado

QUESTÃO 4
Ano: 2018 - Banca: CESPE Órgão: SEDUC-AL Prova: Professor -
História Nível: Superior.
Considerando o texto anteriormente apresentado (Questão 3)
como referência inicial e os aspectos inerentes à história da África
na antiguidade, julgue o item seguinte.
A organização da agricultura, o desenvolvimento da escrita, a for-
42
mação de um Estado unificado, a racionalização dos trabalhos de
infraestrutura e a criação de sistemas cosmogônicos complexos
são expressões consideradas relevantes na história do Egito An-
tigo.
c) Certo
e) Errado

QUESTÃO 5
Ano: 2017 - Banca: CESPE Órgão: SEDF Prova: Professor de Edu-
cação Básica - História Nível: Superior.
A Antiguidade Clássica construiu os alicerces sobre os quais se
erigiria a Civilização Ocidental. O longo período que se segue à
desintegração do Império Romano, a Idade Média, viu florescer um
sistema baseado na terra e em relações sociais servis, quando o
poder político se fragmenta e a Igreja Católica torna-se cultural-
mente hegemônica. O início dos tempos Modernos assinala a ex-
pansão europeia, de que decorreu a incorporação da África e da
América à história do Ocidente. A partir da Revolução Industrial, o
capitalismo tende a unificar o mundo, mas gera conflitos e oposi-
ção, de que seriam exemplos marcantes as duas guerras mundiais
do século XX e a Revolução Russa de 1917. No Brasil, a “República
que não foi” atravessa o século XX e chega ao século XXI entre
avanços e recuos, alternando estabilidade com contextos de seve-
ras crises.
Tendo as informações do texto 15A1CCC como referência inicial e
considerando aspectos marcantes da história mundial e do Brasil,
julgue o item a seguir.
A Roma Antiga notabilizou-se pela capacidade de construir um gi-
gantesco império a partir de sua unificação política, algo que os
gregos jamais conseguiram produzir, ou seja, um Estado.
c) Certo
e) Errado
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO 6
Ano: 2018 - Banca: Quadrix Órgão: SEDF Prova: Professor de Edu-
cação Básica - História Nível: Superior.
Filosofia, teatro e democracia formam, entre outros aspectos sig-
nificativos, o extraordinário legado cultural da Grécia Antiga para
o Ocidente.
c) Certo
e) Errado

43
QUESTÃO 7
Ano: 2017 - Banca: Quadrix Órgão: SEDF Prova: Professor de Edu-
cação Básica - História Nível: Superior.
Alguns dos mais importantes fundamentos da civilização ociden-
tal foram lançados na Antiguidade Clássica (Grécia e Roma). Esse
legado apresenta-se em múltiplos aspectos, entre os quais podem
ser citados as artes, a filosofia, a política e o direito. Nos mil anos
que se seguem à queda de Roma, a Europa se ruraliza, a econo-
mia mercantil sofre grande refluxo e verifica-se a ascendência, não
apenas religiosa, de uma instituição centralizada e de extrema ca-
pilaridade – a Igreja Católica. A Baixa Idade Média anuncia profun-
das transformações que atingem a culminância no início da Idade
Moderna. Entre os séculos XVI e XVIII, o Ocidente se reinventa geo-
gráfica, política e culturalmente. Em fins do século XVIII, a partir da
Inglaterra, a Revolução Industrial inaugura uma nova era para uma
história crescentemente globalizada.
Tendo as informações acima como referência inicial, julgue o item,
relativo à história do mundo ocidental.
Apesar da grandiosidade do império que conseguiu construir,
Roma foi incapaz de deixar um legado cultural original, o que pode
ser explicado pelo fato de ter adotado leis, crenças religiosas e
costumes dos povos conquistados
c) Certo
e) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA– DISSERTANDO A UNIDADE

Conforme visto, cada civilização antiga adotou modelos políticos que


foram muito influentes à teoria e ao pensamento político, posteriormen-
te. A Mesopotâmia, o Egito, os hebreus, o Império Romano e a Grécia,
cada uma, contribuiu com reflexões e formas de governo, às vezes si-
milares, às vezes distintas, mas que permanecem até hoje como refe-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

rências ao tratar da origem das organizações políticas. Assim, disserte a


respeito das contribuições ao pensamento político de cada uma dessas
civilizações

TREINO INÉDITO

Durante o período do Império romano, de Otávio Augusto em diante, o


Senado teve papel na sociedade romana:
a) De fiscalização, sendo responsável por limitar o poder do Imperador
b) De jurisdição, sendo responsável por resolver os conflitos dos cida-
44
dãos romanos
c) De legislação, atuando como órgão legislador responsável pela cria-
ção das leis romanas
d) Figurativo, pois o Imperador tinha amplos poderes em suas mãos, de
forma que ao Senado cabiam apenas tarefas simples
e) De comando, sendo responsável por reger o funcionamento do Im-
pério Romano

NA MÍDIA

ARQUEÓLOGOS DESCOBREM ACADEMIA DA GRÉCIA ANTIGA NO


EGITO

O grande enfoque é o fato das atividades filosóficas dos gregos terem


tanta repercussão, já na antiguidade, que eram exportados seus mo-
delos de academia para outros territórios. A descoberta da academia
no Egito evidencia a força do pensamento grego e ao mesmo tempo a
invasão dessa fórmula em um território que tinha concepções filosóficas
e políticas muito distintas dos helênicos.

Fonte: UOL
Data: 07 nov. 2017.
Leia a notícia na íntegra: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/
deutschewelle/2017/11/07/arqueologos-descobrem-academia-da-gre-
cia-antiga-no-egito.htm>

NA PRÁTICA

Por estarmos falando de civilizações muito antigas, é muito complicado


encontrar exemplos atuais que demonstrem na prática como eram suas
concepções políticas. A política e a sociedade evoluíram de tal forma
que hoje só se encontram referências e esparsas ações que refletem as
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

atitudes das antigas civilizações.


Entretanto, ainda hoje é possível observar, na Suíça, uma forma de go-
verno que remete à antiga democracia direta dos gregos. No país do
centro europeu, há um modelo de democracia semidireta, onde toda a
população pode deliberar sobre assuntos de grande importância, tanto
a nível regional – onde as votações se restringem aos moradores da
região – quanto a nível federal. Além dessa modalidade política onde
todos têm voz, a Suíça também elege representantes políticos. Suas
funções são duas: a primeira é organizar o funcionamento das votações
públicas e diretas, e a segunda é deliberar sobre assuntos de menor im-
45
portância, uma vez que na sociedade contemporânea o tempo é muito
limitado e reunir toda a população para deliberar sobre cada decisão
que envolve a nação seria muito difícil de fazer.

PARA SABER MAIS


Filmes sobre o assunto:
1- Augustus – O primeiro Imperador (Casablanca, 2003)
2- Sócrates (Luce, 1971)
3- O Príncipe do Egito (Universal Pictures, 1998)
Peça de teatro: Júlio César – William Shakespeare (L&PM Pocket,
2008)

Acesse os links:<http://greciantiga.org/> e <http://portaldoprofessor.


mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23040>
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

46
FORMAS DE GOVERNO E
CORRENTES POLÍTICAS
No capítulo anterior, pudemos nos debruçar sobre as primei-
ras civilizações e como cada uma delas contribuiu para a formação do
pensamento político posterior. Suas experiências, sucessos e fracassos
repercutiram nas decisões e reflexões políticas que surgiram depois.
Tais experiências serviram de base, ou, em algum momento,
foram analisadas por grandes pensadores e filósofos políticos com o
passar do tempo, para dar luz às novas formas de governo e novas
teorias a respeito de como deve funcionar a política.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Nesse capítulo, analisaremos as formas de governo e as cor-


rentes políticas que delas advém, desde os modelos das civilizações
antigas, que já foram vistas, até os modernos estratagemas que são
corriqueiramente utilizados na contemporaneidade.
Cabe lembrar que, longe de esgotar o assunto, por ser muito
vasto e passível de inúmeras interpretações e análises, o interesse aqui
é apresentar conceitos, experiências e características dessas formas de
governo, para ilustrar em linhas gerais como funcionam, se organizam
e se estruturam, tanto no campo das idéias como no campo das ações.

47
MONARQUIA

A monarquia se enquadra como a forma política mais antiga


dentre as civilizações. Conforme visto, desde a Mesopotâmia, milhares
de anos antes de Cristo, foi constituído um governo em que havia um
rei, responsável por praticamente toda decisão política ocorrida no ter-
ritório sob seus domínios.
Passou por algumas transformações em suas características
com o advento do tempo. Cabe destacar alguns elementos que muda-
ram nas concepções políticas da monarquia, mas cabe antes, concei-
tuar o que é monarquia. Para as conceituações nesse capítulo, nos am-
paramos na obra organizada por Norberto Bobbio, Dicionário de Política
Comentado (UnB, 1998)

Entende-se comumente por Monarquia aquele sistema [...] que se centraliza


numa só pessoa investida de poderes especialíssimos, exatamente monár-
quicos, que a colocam claramente acima de todo o conjunto dos governados.
[...]
[...] Por monarquia, portanto se entende – na complexa formação histórica
desse instituto – um regime substancial, mas não exclusivamente monopes-
soal, baseado no consenso, geralmente fundado em bases hereditárias e
dotado daquelas atribuições que a tradição define com o termo de soberania.
Um conjunto de características de origem histórica e tradicional modela a
Monarquia nos diversos tempos e nas diversas experiências locais e territo-
riais: há, porem, uma linha de tendência comum a todos os fenômenos de
Monarquia no tempo: a tendência a um progressivo crescimento e centraliza-
ção do poder nas mãos do monarca (p. 776)

Assim, agora que se tem uma compreensão básica do que é


monarquia, é possível falar das suas ramificações.
Monarquia primitiva: é o modelo monárquico que se viu na Me-
sopotâmia e no Egito, onde há concentração de poder na mão de uma
figura central, onde temos como exemplo Hamurabi nos mesopotâmi-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

cos e Ramses II nos egípcios. Essas figuras se valiam de argumentos


religiosos para sustentar sua supremacia. No caso mesopotâmico, por
serem os reis escolhidos por sinais divinos, e no caso egípcio por se-
rem os reis, divindades encarnadas. Há ainda uma organização social,
onde existem indivíduos responsáveis por fazer o governo funcionar,
ainda que as decisões partam da figura do monarca. Os súditos, por
sua vez, devem acatar todas as ordens, sem questionar, pois, eram
sempre frutos de aspirações divinas. O caso hebraico, porém, com seu
monoteísmo ético, coloca os princípios tradicionais da religião de Javé
acima de qualquer rei. Já temos aí uma monarquia diferente, onde o rei

48
é o escolhido da divindade por ser o mais capaz de dar continuidade às
orientações divinas. Nesse modelo, o rei rege de acordo com princípios
– muitas vezes manipuláveis por sua vontade e da elite sacerdotal – já
estabelecidos culturalmente. Essa linha de monarquia será base para
as monarquias da idade média, só que dessa vez alinhadas por um forte
cristianismo e uma Igreja poderosa.
Monarquia romana: é o modelo adotado pelo Império Romano.
Antes da transição para a República, Roma seguia uma monarquia nos
padrões das antigas civilizações: monarca escolhido por sinais pelas
divindades, que tem amplos poderes para gerir os rumos de seu povo.
A primeira diferença é que no caso Romano, há a instituição do Senado,
que servia como conselheira e também como órgão legislativo, capaz
de criar leis e vetar projetos do rei. Assim, a monarquia romana foi, até
a transição para a República, de certa forma, limitada. Após a coroa-
ção de Otavio Augusto, entretanto, dando fim ao período republicano do
Império, onde a monarquia não vigorou, esta retorna. Porém, agora, a
monarquia romana não encontrava mais limites. O imperador obtinha
plenos poderes para controlar a sociedade. O Senado ainda existia,
mas mitigado pelas ameaças militares, encolheu-se em figura passiva
no que tange às decisões políticas. Não obstante, durante o Império,
Roma vive uma monarquia que convive com o Senado, ainda que o
poder efetivamente estivesse apenas na mão de um.
Monarquia medieval/feudal: Para compreender a transição da
monarquia primitiva e romana para a medieval, é necessário olhar aten-
to para os povos germânicos. Se antes o Rei tinha atribuições milita-
res em primeiro lugar, é nessa época que passam a se preocupar da
mesma forma com as questões políticas. O ponto de encontro entre as
experiências monárquicas se daria com Carlos Magno, visto por muitos,
como figura central na história, por seu papel na unificação dos territó-
rios europeus do ocidente sob um só reino. Nesse modelo monárquico,
a religião continua exercendo forte papel. Dessa vez, sob o aspecto do
cristianismo, a Igreja Católica foi capaz de legitimar diversos reis nessa
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

época.
A antiga monarquia germânica pautava seu líder a partir de
critérios qualitativos, afastando-se um pouco da religião. Acredita-se in-
clusive que os reis não tinham tanta capacidade de governo, pois, eram
acometidos por satisfazer os anseios de grupos políticos – muito ricos
– capazes de pôr em risco a vida do monarca. Assim, o monarca go-
vernava de acordo com os interesses dos grupos que lhe ameaçavam
e controlavam seus movimentos. Com Carlos Magno isso muda, pois,
ao salvar o Papa e restituí-lo ao poder, na mudança do século VIII para
o IX, o Pontífice lhe consagra Imperador de Roma. Com isso, Carlos
49
Magno deixa de ser uma escolha qualitativa para – como vimos em
civilizações antigas – ser a escolha divina, legitimada pela ação papal.
Esse movimento atrela a Igreja ao monarca, pois, legitimado por Deus
e Cristo, governo nenhum poderia ser abatido, portanto, para a Igreja
essa ação gera muitos frutos, posto que, para legitimar os reis, recebia
inúmeros privilégios.
As tratativas de Carlos Magno para manter-se no poder se ar-
rastam. Praticamente ‘dono’ da Europa, compreende o monarca de que
precisa de uma estrutura política e social que lhe permita ser o rei de
todos. Ainda que houvesse a legitimação religiosa sobre seu trono, seus
territórios eram tão extensos que a notícia é recebida de diferentes ma-
neiras em cada localidade.

Figura 11 - Representação de Carlos Magno - Disponível em: <<https://


aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/carlos-magno-rei-
-franco-europa-medieval-historia.phtml>> Acesso em fevereiro/2019
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Assim, pensando na unidade de seu Império e numa forma de


controlar seus súditos em escala macro, esboça um esquema.

De fato, o próprio esquema majestático de Carlos Magno, favorecendo a difu-


são do poder universal do rei franco, induziu-o a procurar uma base de con-
senso para o seu Governo, consensoque não consistisse unicamente num
vínculo de fidelidade através dos costumeiros ligames tribais e nacionais:
isto, obviamente, porque, de um lado, as gentes, ou as tribos como centros
de poder eram já instrumentos em via de dissolução (devido à progressi-

50
va fusão com os grupos românicos dominados) e, do outro lado, porque
o ligame nacional não servia mais para um soberano que dominava uma
série denationes diversas e hostis entre si. Foi, assim, necessário recorrer,
como instrumento de Governo, ao nexo feudal (v. FEUDALISMO), recurso
que consagrava o novo fundamento real do poder numa sociedade agrária
desagregada, isto é, o controle e, em seguida, a posse da terra (Bobbio et.
al., UnB, 1998, p. 778).

O sistema feudal acabaria se tornando o símbolo da idade


média, pois, concedia ao monarca o controle territorial e, através dos
feudos, a lealdade dos senhores feudais. No fator religioso, desde que
concedesse privilégios ao Clero, mantinha sua legitimidade e a lealda-
de. Continuava abençoado. Nas cidades, todavia, o monarca sofria com
a ascensão de uma burguesia que, cada vez mais investia seus esfor-
ços contra o feudalismo, por seu caráter mercantilista e urbano, porém,
atuou em busca de uma solução que agradasse a ambas as classes,
pois, necessitava delas para poder governar.

Essa mediação assegurava um papel primário à nobreza de origem feudal,


destinando a ela, como real e principal apoio do poder (uma vez dominadas,
após os séculos XV e XVI, as ressurgentesveleidades autonomistas), os prin-
cipais postos de comando no Estado monárquico, como tácita compensa-
ção das posições de poder que a nobreza perdeu nas províncias, onde cada
vez mais aumentava a autoridade do rei. A criação de uma consciência e de
uma lealdade dinástica e, portanto, estatal nestas classes superiores repre-
sentou uma autêntica obra-prima, base de força e de prestígio da Monarquia:
esta plasmava, dessa forma, uma consciência unitária e ligava aos seusinte-
resses estatais e dinásticos todos os grupos dirigentes como uma precisa e
definitiva ideologia de poder (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 779)

Doravante, através dessa mediação, o monarca conseguia


manter satisfeitas as camadas da nobreza que rodeavam e ameaçavam
seu poder. Isso ocorria, em linhas gerais, por que
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Sendo árbitra, a Monarquia era superior a todos, circundada, também ex-


teriormente, dos sinais do poder e da majestade: nesta superioridade os
grandes componentes do Estado (nobreza, burguesia, clero) encontraram a
garantia formal e substancial da imparcialidade da Monarquia e, portanto, a
garantia do respeito de suas posições, embora seguindo o esquema de va-
lores e de precedências já consagrado e cristalizado pela tradição. Enfim, na
ordem, nobreza, clero e burguesia se sentiram garantidos pelo sistema de pi-
râmide dirigido pela Monarquia. Por fim, a prevalência decisiva e a declarada
ambição hegemônica de uma classe sobre a outra destruíram este sistema
penosamente elaborado durante séculos e abateram, por último, também a
Monarquia que não conseguia mais se assegurar se não conservando — e

51
enquanto fosse possível conservar — a ordem social e política originária da
baixa Idade Média. (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 780)

É com a ruína do modelo feudal, quando a nobreza, a burguesia


e o clero se engalfinham pela conquista do poder, que advém uma nova
transformação monárquica, dessa vez pautada no poder total do poder
nas mãos do monarca.
Monarquia absolutista: Essa forma de governo monárquica,
que ficou conhecida na história dentro da frase proferida por Luis XIV,
rei da França, “O Estado sou eu”, buscava a legitimidade jurídica e o
respaldo tradicional para conceder soberania ao monarca. Amparada
na busca do direito romano e nas bases da cristandade, a ligeira mu-
dança dessa monarquia para as outras já citadas é o caráter de legiti-
mação com maior predominância na ordem de importância do fator ter-
reno, humano – através do direito, principalmente amparado no direito
romano – do que na esfera religiosa, onde, sob a benção do Papa – o
representante de Deus na Terra – o rei seria o escolhido para a tarefa de
governar. Nesse caso, é possível perceber um princípio de discurso de
ordem laica na constituição do regime monarquista. O maior expoente
desse modelo será analisado posteriormente, Maquiavel, mas o que im-
porta no momento é compreender que a religião, até então sempre em
primeiro plano, no tocante às decisões e relações políticas, perde um
pouco de espaço para a esfera jurídica e humana. Isso não quer dizer
que o clero tenha perdido poder no campo político, pelo contrário, até a
queda da Bastilha é possível notar a influência do clero na área política,
até porque se trata de um contexto histórico, onde o cristianismo reina-
va como a mais importante religião.
Num momento de afirmação dos argumentos racionais dentro
da política, é válido destacar o papel da Reforma Protestante

[...] cuja contribuição para o reforço do poder monárquico em sua dimensão


institucional é inegável, quer no plano teórico, quer no plano prático, não
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

apenas nos territórios germânicos, onde intervieram também motivos histó-


ricos contingentes, mas também nos principais países europeus, há muito
tempo preparados para a concentração e racionalização monárquica, como
é o caso da Inglaterra e da França (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 04)

Destarte, esses elementos racionais que se incorporam na mo-


narquia, afastando seu caráter religioso, transformando a política cada
vez mais em um ambiente laico, colaboram para a maior ruptura política
já vista na história: a Revolução Francesa, quando o modelo absolutista
de governo vai às ruínas por descontentamento de parte da população,
que então sai às ruas para transformar politicamente a história da hu-
52
manidade. A chegada do pensamento iluminista reforça o caráter divi-
sório entre o antigo regime e a nova política, pautada pelos ideais da
razão e pelos direitos do povo. A legitimidade pelo direito, então, não é
mais a arma do monarca para se manter no poder, mas o argumento
sólido para demonstrar que o direito não atinge apenas ao monarca,
mas atinge a todos de maneira idêntica.
Porém, esse não é o fim da monarquia. Essa persiste em mais
uma transformação, que prossegue em voga até os dias contemporâ-
neos.
Monarquia constitucional: É esse o modelo de governo monár-
quico que se encontra em voga ainda nos dias atuais. O caso mais
famoso é da rainha Elizabeth II, que há mais de meio século detém o
poder no Reino Unido. Na monarquia constitucional, contudo, não exis-
te mais a idéia de poder absoluto nas mãos do monarca, pelo contrário,
seus poderes são bem limitados, pois, há de se seguir os pressupostos
constitucionais, e há também um parlamento, onde a maioria das deci-
sões são efetivamente realizadas.

Figura 12 - Rainha Elizabeth II, do Reino Unido - Disponível em: <<ht-


tps://www.rd.com/culture/places-named-after-queen-elizabeth/>> Aces-
so em fevereiro/2019

TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

53
Nesse sentido, pode-se afirmar que

No sistema constitucional do século XIX a Monarquia ficava vinculada a


um pacto preciso de garantias jurídicas na gestão do poder: garantias que,
embora concedidas formalmente através de uma carta graciosamente con-
cedida pelo monarca, nem por isso se tornavam inteiramente contratuais e
bilaterais. Através do pacto constitucional a Monarquia cessava de ser uma
instituição acima do Estado e se tornava um órgão do Estado: o Estado, de
fato, transmitia à Monarquia todas as suas prerrogativas, inclusive as dasu-
prema potestasque, como dissemos, deentão em diante, foram consideradas
como pertencentes à instituição estatal (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 780)

Desse modo, se no monarquismo absolutista, o Estado era a


própria monarquia e a figura se confundia com a figura do governo, no
modelo constitucional a monarquia passa a integrar o governo. É ape-
nas mais uma instituição que participa do governo, longe dos holofotes
de outrora, mas ainda com grande prestígio público e muito, mas muito
luxo.

Muitas nações até hoje têm como forma oficial de Estado a mo-
narquia. Muito além do Reino Unido da famosa rainha Elizabeth II, mais
de vinte países ainda possuem famílias reais no poder.

Para saber mais sobre esse assunto, acesse:


HTTPS://exame.abril.com.br/mundo/conheca-as-28-monarquias-que-
-ainda-existem-no-mundo/

DEMOCRACIA
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

A democracia, conforme já foi visto, se originou na Grécia anti-


ga. Seus moldes iniciais se baseavam numa estrutura direta, onde todo
cidadão – exceto os excluídos – tinha o direito de deliberar a respeito
dos prumos de seu Estado.
Nesse amanhecer do século XXI, continuam em voga muitas
formas de democracia. Mais madura e cheia de braços, a democracia
avançou pelo tempo, abocanhada por diversas experiências que lhe de-
ram diferentes formas e modelos para aplicação.
A democracia direta, como citado, consiste na divisão da res-
ponsabilidade de decidir a respeito das grandes questões de um Esta-

54
do entre todos os cidadãos plenos de direito. Assim, é o modelo mais
“puro” de democracia, onde não se tem representatividade, uma vez
que o cidadão é a própria essência da democracia. O argumento que
sustentou essa versão democrática se baseava, segundo os gregos,
no princípio da liberdade. Segundo eles, a liberdade de escolher a res-
peito dos futuros passos de sua civilização, eram os maiores indícios
de que eram livres. Dessa forma, com esse argumento da liberdade,
entendiam que apenas a democracia poderia, politicamente, alcançá-la.
Platão, como veremos adiante, não pensava assim, mas sua divisão
política nas suas obras filosóficas é imprescindível. Platão separava a
política em aristocracia, timocracia, oligarquia, democracia e tirania, no
qual nem considerava a democracia como uma forma boa de governo,
preferindo o modelo aristocrático, onde, segundo sua linha de pensa-
mento, somente os melhores teriam acesso à política.
Se o modo grego marcou época por seus argumentos pró-li-
berdade, é com o modo Romano de interpretar a democracia que se
tem contato com a idéia de soberania. Isso porque os juristas romanos
se baseiam na idéia de que, se é o povo quem confere legitimidade aos
governantes, o poder emana deste. E se o poder emana do povo, esse
poder deve ser do povo. O povo é o próprio criador do direito e o legíti-
mo responsável por sua manutenção. Doravante,

Esta teoria, assim já tão bem elaborada por Marsílio [de Pádua, pensador
medieval], segundo o qual, dos dois poderes fundamentais do Estado — o
legislativo e o executivo —, o primeiro enquanto pertença exclusiva do povo
é o poder principal, enquanto que o segundo, que o povo delega a outros sob
forma de mandato revogável, é poderderivado, e um dos pontos cardeais das
teorias políticas dos escritores dos séculos XVII e XVIII. Estes são conside-
rados com razão os pais da Democracia moderna. Há, apesar de tudo, entre
Locke e Rousseau, uma diferença essencial na maneira de conceber o poder
legislativo: para Locke, este deve ser exercido por representantes, enquanto
que para Rousseau deve ser assumido diretamente pelos cidadãos (Bobbio
et. al., UnB, 1998, p. 322) Grifos nossos
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Também é possível falar sobre a associação entre democracia


e república, sendo que não é necessário uma para o funcionamento
da outra, entretanto, quando unidas, formam uma sólida estrutura de
governo, focada nos anseios da população e na separação do público-
-privado, com vistas ao bem comum.
Essa junção foi importante para o advento da democracia in-
direta, também conhecida como democracia representativa. Nessa or-
dem, o povo elege representantes para lutarem por seus anseios. O
povo não vai mais à ágora, como na Grécia antiga, mas escolhe de

55
acordo com seus interesses cidadãos que, imbuídos do poder concedi-
do pelo voto – podemos perceber o argumento romano de legitimidade
–, devem atuar de forma a defender o bem comum, que dessa vez se
sustenta nas idéias gerais que levaram esse indivíduo ao poder.
Há outras possibilidades de se dividir a democracia. Seguem
algumas distinções possíveis

A um nível mais superficial se coloca a distinção fundada sobre o critério jurí-


dico-institucional entre regime presidencial e regime parlamentar. A diferença
entre os dois regimes está na relação diferente entre legislativo e executivo.
Enquanto no regime parlamentar, a democraticidade do executivo depen-
de do fato de que ele é uma emanação do legislativo, o qual, por sua vez,
se baseia no voto popular, no regime presidencial, o chefe do executivo é
eleito diretamente pelo povo. Em consequência disso ele presta contas de
sua ação não ao Parlamento, mas aos eleitores que podem sancionar sua
conduta política negando-lhe a reeleição (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 327)

Também é possível falar

Em nível imediatamente inferior se encontra a tipologia que leva em conside-


ração o sistema dos partidos, o qual apresenta duas variantes. Com base no
número dos partidos (isto é, com base no critério numérico que caracteriza a
tipologia aristotélica), distinguem-se sistemas bipartidários e sistemas multi-
partidários (o sistema unipartidário, pelo menos em suas formas mais rígidas,
não pode ser incluído entre as formas democráticas de Governo). Com base
no modo com que os partidos se dispõem uns para ou contra os outros no
sistema, isto é, com base nos chamados pólos de atração ou de repulsa dos
diversos partidos, se distinguem regimes bipolares, em que os vários parti-
dos se agregam em torno dos dois pólos do Governo e da oposição e multi-
polares, em que os vários partidos se dispõem voltados para o centro e para
as duas oposições, uma de direita e outra de esquerda. Deve advertir-se que
também, neste caso, um sistema monopolar, onde não existe uma oposição
reconhecida, não pode ser considerado entre as formas democráticas de
Governo. (Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 327)
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Ainda são possíveis mais duas distinções, a primeira:

Tendo em conta, além do sistema dos partidos, também o sistema da cultu-


ra política, Arend Lijphart distinguiu os regimes democráticos com base na
maior ou menor fragmentação da cultura política em centrífugos e centrípe-
tos (distinção que corresponde, grosso modo, à precedente entre regimes
polarizados e não polarizados). Introduzindo, em seguida, um segundo cri-
tério fundado sobre a observação de que o comportamento das elites pode
estar mais inclinado para as coligações (coalescent) ou tornar-se mais
competitivo, e combinando-o com o precedente, especificou outros dois tipos
de Democracia que chamou de “Democracia consociativa” (consotiational) e

56
“Democracia despolitizada”, segundo o comportamento não competitivo das
elites se junte a uma cultura fragmentada ou homogênea. A Democracia con-
sociativa tem seus maiores exemplos na Áustria, Suíça, Holanda e Bélgica
e foi chamada, tendo em vista especialmente o caso suíço, de concordante
(concordant democracy, Konkordanzdemokratie) e definida como o tipo de
Democracia em que acontecem entendimentos de cúpula entre líderes de
subculturas rivais para a formação de um Governo estável. (Bobbio et. al.,
UnB, 1998, p. 327)

E a última:
Descendo a um nível ainda mais profundo, que é o nível das estruturas da
sociedade inferior, Gabriel Almond distinguiu três tipos de Democracia: a)
Democracia de alta autonomia dos subsistemas (Inglaterra e Estados Uni-
dos), entendendo-se por subsistemas os partidos, os sindicatos e os grupos
de pressão, em geral; b) Democracia de autonomia limitada dos subsistemas
(França da III República, Itália depois da Segunda Guerra Mundial e Alema-
nha de Weimar); c) Democracia de baixa autonomia dos subsistemas (Méxi-
co). Modelos ideais mais do que tipos históricos são as três formas de Demo-
cracia analisadas por Robert Dahl no seu livro A prefacetodemocratictheory
(1956): a Democracia madisonianaque consiste sobretudo nos mecanismos
de freio do poder e coincide com o ideal constitucional do Estado limitado
pelo direito ou pelo Governo da lei contra o Governo dos homens (no qual
sempre se manifesta historicamente a tirania); a Democracia populista, cujo
princípio fundamental é a soberania da maioria; a Democracia poliárquica
que busca as condições da ordem democrática não em expedientes de ca-
ráter constitucional, mas em pré-requisitos sociais, isto é, no funcionamento
de algumas regras fundamentais que permitem e garantem a livre expressão
do voto, a prevalência das decisões mais votadas, o controle das decisões
por parte dos eleitores, etc.(Bobbio et. al., UnB, 1998, p. 328)

Há ainda uma discussão acerca da utilidade da democracia,


pois existem autores (LudwigGumplowicz, Gaetano Mosca,e Vilfredo
Pareto) que criticam o argumento da maioria, que vem com o ideal de-
mocrático. Para esses autores, não há democracia, pois, a participação
popular é sempre limitada a uma parcela que chamam de classe polí-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tica. Assim, o que tem pele de democracia, não passa de uma oligar-
quia camuflada, onde a mesma classe está sempre no poder, com raras
alterações. Onde uma minoria continua com o poder para efetuar as
decisões políticas de maior impacto na sociedade.

REPÚBLICA

A República é, ao lado da democracia, a forma de governo


mais utilizada na contemporaneidade. Seu significado, segundo Renato

57
Janine Ribeiro (Publifolha, 2001b) é

República é um conceito romano, como democracia é um termo grego. Vem


de res publica, coisa pública. Surgiu em Roma, substituindo a monarquia,
mas monarquia e república não se definem pelo mesmo critério. Monarquia
se define por quem manda: significa poder (arquia) de um (mono) só. Já a
palavra república não indica quem manda e sim para quemanda. O poder
aqui está a serviço do bem comum, da coisa coletiva ou pública. Ao contrário
de outros regimes, e em especial da monarquia, na república não se busca a
vantagem de um ou de poucos, mas a do coletivo. (p. 5)

A partir dessa conceituação, é cabível deduzir que a república


realmente acarreta interesses em comum com a democracia, principal-
mente no tocante a busca de vantagens para o coletivo.
Ao mesmo tempo, é possível afirmar que, no passado, a mo-
narquia era a grande rival da república. Isso pode ser reavaliado nos
dias de hoje, onde existem monarquias mais capazes de respeitar o
espaço público e as leis do que alguns governos expressamente repu-
blicanos. Mas, antigamente, não era bem assim.
Conforme foi visto, durante os regimes monárquicos, onde
apenas um indivíduo continha os poderes reunidos para ditar os rumos
do Estado em suas mãos, não havia uma distinção muito definida do
público e do privado. Dessa forma, o patrimônio dos reis e o erário pú-
blico se confundiam, o que entra em desacordo com a suma essência
da república, onde a coisa pública é um bem comum, e, portanto, não
deve se misturar.
Ainda, segundo Janine Ribeiro (Publifolha, 2001b), é possível
demonstrar na contemporaneidade duas atitudes que são inimigas da
república. Para tomar o lugar da monarquia não constitucional, o autor
brasileiro aponta o patrimonialismo e a corrupção.
O patrimonialismo, porque consiste na confusão do público
com o privado, igual ocorria nas monarquias antigas. É como no caso,
apontado por Raymundo Faoro (Biblioteca Azul, 2012) do rei de Por-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tugal, que geria o seu reino, durante a época do mercantilismo e das


grandes navegações, como se fosse sua empresa.
A corrupção, tão corriqueira nos noticiários brasileiros nesse
século XXI, também é considerada contrária às prerrogativas da repú-
blica, pois, trata-se do desvio de algo que é público para o particular.
Com a corrupção, temos um rumo republicano sendo rompido, pois,
algum bem que seria disponibilizado para o bem comum, deixa de aten-
der essa função para atender um bem privado, particular.
Assim, constitui-se a república numa forma de governo que se
aproxima da democracia, por defender o bem comum e o coletivo e,

58
que em tempos antigos, rivalizou com a monarquia, porém, atualmente
encontrou empecilhos à sua desenvoltura no patrimonialismo e na cor-
rupção.

MARXISMO

É possível afirmar que o marxismo foi o maior divisor de águas


do século XIX. A obra de Marx revolucionou toda a estrutura do conhe-
cimento, desde o que se entendia por história até o que se entendia por
economia.
Marx, em que nos atentaremos com mais ênfase posteriormen-
te, produziu obras sobre diversos assuntos, sendo profícuo filósofo do
direito, da sociedade, da economia e política.
A idéia central, que nos interessa por ora, remete à duas inter-
pretações que fazem de sua obra. Em um primeiro momento, analisar
como se constitui o comunismo, uma das vertentes sobre a qual o autor
alemão se debruçou em conceituar e expandir. Por último, o objetivo
é analisar como a interpretação mais branda do comunismo levou ao
pensamento socialista, assim é possível observar os elementos de cada
vertente, com suas similaridades e divergências.

Comunismo

Talvez a maior conceituação política de toda a obra marxista,


portadora de diversas polêmicas durante a história de sua existência, o
comunismo divide opiniões até hoje, muito por conta da rasa análise e
do senso comum que se espalhou sobre o que é.
Alguns defendem que todas as experiências políticas ocorri-
das até hoje não foram necessariamente experiências comunistas. Na
realidade, o que pode se perceber é a dificuldade do comunismo tomar
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

forma de acordo com os interesses antes preconizados por Marx. As


experiências até hoje efetuadas, sejam na China de Mao, na União So-
viética de Stalin, no regime de PolPot, ou até na Cuba de Fidel Castro,
impreterivelmente, acabaram em regimes despóticos e tirânicos.
Autores como Bobbio (UnB, 1998) acreditam que o comunis-
mo vem muito antes de Marx, observando ideais comunistas na obra
platônica, na bíblia e na revolução francesa. Para o autor, a concepção
marxista de comunismo se difere das demais por singelas mudanças.
Marx teria pensado que, com o capitalismo, a classe burguesa havia
acumulado riqueza demais. Riqueza no sentido amplo da palavra, longe

59
de significar apenas dinheiro, mas também poder, patrimônio e influên-
cia. Cabe ressaltar que Marx produz sua obra em um contexto histórico
pós-revolução Francesa e com muitas instabilidades políticas ocorren-
do na Europa. Assim, retornando, ao acumular muitas riquezas, a clas-
se burguesa não consegue dar cabo de revertê-la em dinheiro, pois
não há tanta demanda. Isso impulsiona a classe proletária a fixar-se
numa pobreza generalizada. Essa desigualdade se torna o ponto cen-
tral da idéia marxista de comunismo. Segundo ele, a propriedade priva-
da deveria ser abolida, de forma que só houvesse o Estado, que seria
comandado pelos proletários, que insatisfeitos com a perseguição e a
submissão aos burgueses, iriam se rebelar para deflagrar um governo
conduzido pela classe proletária: a ditadura do proletariado. Tal ditadura
não ficaria perpetuamente no poder, sendo necessária enquanto hou-
vesse resquícios de capitalismo no território. Sanado o problema polí-
tico, as desigualdades seriam combatidas quando todos fossem servir
à classe proletária através do Estado, fornecendo o que fosse possível
e, em troca, recebendo o suficiente para conter suas necessidades. As-
sim, a ideia de que o comunismo deseja tirar os bens dos ricos para
os pobres, é falaciosa. Em sua essência, usando de linhas gerais, não
haveria propriedade privada, nem acumulação de capital, porém, have-
ria distintos trabalhos e distintos modos de vida. De igualdade, só o di-
reito, pois, ainda existiria divisão social do trabalho e ainda haveria uma
distribuição de renda e bens, por parte do Estado, para suprir todas as
necessidades dos integrantes da sociedade.
Apesar do atrativo discurso comunista, que se expandiu rapi-
damente após a publicação das obras de Marx e Engels, ainda não hou-
ve experiência comunista concreta que conseguisse dar prosseguimen-
to aos ideais comunistas em uma sociedade. Como já citadas, todas
as experiências comunistas até os dias atuais resultaram em governos
despóticos, pautados no medo, na fome e na morte.
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Socialismo

É bem comum que confundam o socialismo com o comunismo


ainda. O senso comum sempre dita um entendimento de que socialismo
e comunismo sendo a mesma coisa, mas não são de maneira alguma.
O comunismo, praticamente utópico, visa uma igualdade aos
cidadãos, todos sob a tutela do Estado, que serviria para dividir os fun-
cionários de acordo com suas atribuições, para melhor funcionamento
da máquina burocrática, distribuindo a renda de acordo com a neces-
sidade de cada indivíduo. O socialismo, porém, não espera por uma

60
ditadura do proletariado ou uma revolução. Seria a versão moderada
de combater as desigualdades sociais, que poderia ser alcançada via
democracia, onde um líder socialista promoveria medidas para redu-
zir índices de desigualdade em seu território. Seu acesso poderia se
dar em eleições abertas, pois o socialismo, mais do que uma forma de
governo, se trata de uma plataforma para inibir a desigualdade social.
(Bobbio et. al., 1998).
Embora no seu surgimento na obra marxista, o socialismo te-
nha sido confundido com o comunismo, foi com o passar dos anos que
se evidenciaram algumas distinções. O socialismo, portanto, de caráter
mais científico, rogava por organizações de cunho proletário como for-
ma de adentrar na política. No caso do comunismo, essas organiza-
ções, tais quais sindicatos, se elevavam ao poder com a transformação
de um Estado em comunista. No caso do socialismo, incentiva-se a
criação desses órgãos, porém, como auxiliares na luta pela defesa do
proletariado, para integrarem a engrenagem política de maneira que os
interesses do proletário fossem defendidos, e como possível transição
para posteriormente houvesse a fundação de um Estado comunista.
(Bobbio et. al., 1998).
Os governos socialistas obtiveram grande sucesso político ao
redor do globo terrestre. Por seu caráter próximo da democracia, que
culminou com o surgimento do termo social-democracia, com discursos
que pretendiam intervenção estatal na economia e na sociedade com
objetivo de justiça social, o socialismo conseguiu alavancar diversos
governos.
No Brasil, os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(2003-2010) são um exemplo de social-democracia implantada com su-
cesso. Apesar dos escândalos de corrupção que até hoje são investiga-
dos, seus mandatos conseguiram alcançar, através de plataformas so-
ciais como o Fome Zero e o Bolsa Família, resultados que combateram
com afinco a desigualdade e a miséria no Brasil. Esses movimentos de
intervenção econômica do Estado, para combater a desigualdade, são
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

nitidamente pautados no que concerne à social-democracia.


E outros governos de esquerda moderada, onde se encaixa
politicamente o socialismo e a social-democracia, surgem no Uruguai
durante o mandato do presidente Pepe Mujica e nos países escandina-
vos (Noruega, Dinamarca, Finlândia, dentre outros).
Como forma de governo, historicamente a experiência de-
monstra maior sucesso das empreitadas socialistas e alinhadas com a
social-democracia, onde resultados positivos são alcançados e as taxas

61
de aprovação popular são boas.12

TOTALITARISMO

O totalitarismo teve seu auge no século XX com os governos de


Hitler, na Alemanha, Mussolini, na Itália e Stálin na Alemanha. Cumpre
avisar, de início, que o totalitarismo não se enquadra em nenhum lado
político: nem esquerda, nem direita. Trata-se, então, de uma terceira
via no que tange ao lado político, uma vez que pode abarcar interesses
tanto de esquerda quanto de direita, sem perder o seu caráter totalitário.
A maior referência em totalitarismo é Hannah Arendt, filósofa
de origem judia que absorveu muito prestígio após publicar obras em
que analisava justamente a origem do totalitarismo, e também o julga-
mento dos nazistas, pelos crimes contra a humanidade cometidos por
eles durante a guerra, com enfoque no processo de Eichmann, no qual
Arendt acompanhou de perto todas as minúcias.
Com palavras fortes, Arendt (UnB, 1985) explica que

A distinção decisiva entre o domínio totalitário, baseado no terror, e as tira-


nias e ditaduras, impostas pela violência, é que o primeiro volta-se não ape-
nas contra os seus inimigos mas também contra os amigos e correligionários,
pois teme todo o poder, até mesmo o poder dos amigos. O clímax do terror
é alcançado quando o Estado policial começa a devorar os seus próprios
filhos, quando o carrasco de ontem torna-se a vítima de hoje. É este o mo-
mento quando o poder desaparece inteiramente (p. 30)

Dessa forma, conceitua o totalitarismo como a forma de gover-


no do terror. Também considera o totalitarismo como a forma de gover-
no do domínio. Segundo a autora, é objetivo desse modo de governo
dominar todas as facetas da vida de seus cidadãos. Conhecer e con-
trolar todas as esferas de seu conhecimento. Ao contrário de regimes
autoritários, que veremos mais adiante, no regime do totalitarismo – até
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

pela etimologia de sua palavra, total – o poder não é demonstrado para


fora, para o externo, o poder também é exibido internamente. Não só o
poder, mas o medo e o controle. A extensão do domínio atinge a própria
esfera interna do totalitarismo. Aquele que hoje persegue, amanhã pode
ser perseguido, é uma lógica comum nesse tipo de regime. (Arendt,
1989)
1 Popularidade de Lula bate recorde e chega a 87%, diz IBOPE. Portal G1. Disponível
em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/popularidade-de-lula-bate-recorde-e-chega-87-diz-ibope.
html> Acesso em fevereiro/2019
2 Mujica deixa presidência do Uruguai com popularidade de um astro. Valor Econômico.
Disponível em: <https://www.valor.com.br/internacional/3929690/mujica-deixa-presidencia-do-uruguai-
-com-popularidade-de-um-astro> Acesso em fevereiro/2019

62
Nesse modelo de governo, não há lei em voga, no máximo
existe um ordenamento que funciona apenas de maneira figurativa. O
arbítrio é do Estado, que caça inimigos em seus territórios todo momen-
to, em busca de sustentar uma ideologia. Quem manda no Estado é o
medo.
Sim, não há totalitarismo sem alguma ideologia entrelaçada. O
totalitarismo parte do extremismo dos representantes de devida ideolo-
gia que ascendem ao poder. Uma vez lá, não admitem críticas ou oposi-
ções, suprimindo qualquer manifestação que não cumpra com os requi-
sitos da ideologia. Da ideologia passa-se à doutrinação das massas. A
indústria cultural, então, alcança importante participação nesse objetivo,
colaborando na construção dessa ideologia no imaginário do povo.
O caráter de sigilo também é adotado no regime totalitário. A fi-
lósofa chega a comentar que quanto maior o sigilo de uma organização,
de uma atividade do Estado totalitário, maior poder ela terá, enquanto o
caminho inverso enfraquece a magnitude do poder dessa atividade ou
organização. (Arendt, 1989).
No totalitarismo, há uma estatização em massa e também um
brutal aparelhamento do Estado. É necessário que o governo totalitário
tenha total controle da produção industrial e cultural do Estado, para
que assim, possa agir de acordo com a ideologia que defende. As insti-
tuições devem funcionar sempre alinhadas com a ideologia do Estado,
e há sempre a criação ou transformação de uma unidade em Polícia
Política, com atribuições exclusivas de encontrar os inimigos do Estado
a qualquer custo. Uma vez capturados os inimigos – muitas vezes de
forma arbitrária e sem nexo causal – devem confessar, entregar outros
inimigos, contribuir para a ideologia. Uma vez feito isso, são descar-
tados. Os mais sortudos vivem para trabalhar em campos de concen-
tração, onde até os inimigos do Estado atuam para manter a máquina
totalitária funcionando, trabalhando horas a fio em assentamentos do
governo para produzir e colaborar com o regime. Os menos sortudos
são torturados até a morte, quando não executados. A pena é fria e ins-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tantânea, sem nenhuma chance de recurso.


Em regra, há um líder de discurso populista e hostil ao externo
e, ao que não segue sua ideologia, de caráter militar, está sempre pron-
to para a guerra, sempre pronto para enfrentar um inimigo invisível. Um
inimigo sorrateiro que legitima suas ações repressivas. Mas esse não
governa sozinho, há toda uma casta política oligárquica, que trabalha
incessantemente para manter a grande engrenagem totalitária em fun-
cionamento. A hierarquia existe e é muito bem estruturada, de maneira
que todos os funcionários do Estado e do regime – pois, agora ser do
Estado é também ser fiel ao regime – saibam exatamente quais são
63
suas atribuições e competências.
Historicamente foi perceptível que o totalitarismo só trouxe hor-
ror. As experiências totalitárias contabilizam milhões de mortos, inúme-
ros desaparecidos, relatos de extermínio, tortura, miséria. No final, o
retrato ideológico que por tempos foi o pilar do Estado, se reduz a pó. In-
felizmente, se junta a esse pó milhões de corpos humanos e a poeira da
destruição em massa acarretada por essa sombria forma de governo.

NAZISMO

O nazismo é o regime totalitário que maior sucesso alcançou


na história mundial. Os feitos e as consequências do regime de Adolf
Hitler causam fascínio em todos que se inclinam a conhecer esse pe-
ríodo histórico.
Segundo Joachim Fest (Nova Fronteira, 2011), um dos maiores
biógrafos de Hitler, o nacional-socialismo surge na Alemanha após o fi-
nal da primeira guerra mundial. Considerado um partido de extremistas,
obtinha em seus filiados ex-soldados que lutaram na primeira guerra
mundial, desolados com o cenário de destruição que a Alemanha se
encontrava e também revoltosos com as sanções do Tratado de Versa-
lhes, que praticamente culpou e responsabilizou somente a Alemanha
por todo o ocorrido na guerra. Obtinha também fanáticos que andavam
pelas ruas da Alemanha e viam a miséria, a fome e a morte de perto.
Culpavam o resto do mundo e os judeus, os primeiros pelas sanções
do pós-guerra, com um ódio especial aos britânicos e franceses, e os
segundos por, em suas opiniões, estarem em controle das grandes ins-
tituições financeiras e conspirarem para o declínio da Alemanha.
De início, o partido se alinha com alguns ideais revolucionários
de esquerda, onde pauta pela instauração de um regime com maior for-
ça política, pois, via na República de Weimar, uma fraca posição política
de sua nação. Queriam a revolução e a instauração do povo no poder.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Por povo, compreendiam os seus iguais, os alemães que sofreram hor-


rores na guerra, que haviam sido humilhados e agora vagavam pelas
ruas sem ter onde trabalhar, sem ter o que comer e sem valores morais
em que acreditar.
O passar dos anos aproxima-se o nacional-socialismo da direi-
ta. A revolução continua sendo pelo povo, a mudança é na justificativa,
não mais pela população que passa fome, que vive na miséria, mas pela
honra da Alemanha. O discurso nacional sobrepõe o social. A pressão
política sobre o governo alemão é grande e com o tempo, o discurso de
um jovem Adolf Hitler, ex-soldado que havia lutado na primeira guerra

64
mundial, começa a encontrar eco.
O discurso de Hitler é pautado em restabelecer a honra da Ale-
manha, em promover emprego, renda e honra ao cidadão alemão. Em
lutar contra os europeus que haviam colocado em ruínas sua nação, e
em se livrar da ameaça judia, que cada vez mais conspirava para o fim
da Alemanha.
Após a tentativa fracassada de um golpe, Hitler vai preso, mas,
ao sair da cadeia, encontra mais respaldo em sua argumentação. Os
anos na cadeia propiciam a escrita de seu livro – que será visto adiante
– Minha Luta, no qual revela seus objetivos para a Alemanha e demons-
tra como conseguiu compreender sua tarefa como político: ora, vendo
a sua nação sangrar, na miséria e na fome, deveria fazer algo, deveria
lutar até o fim pela soberania de sua nação. O detalhe é que Hitler não
era alemão, era austríaco. (Fest, 2011)
Cresce a popularidade de Hitler e com o declínio da política
republicana, em 1933, ele assume o posto de chanceler. Pouco depois,
por manobras políticas, assume o comando total do Estado. Está ins-
taurado o nazismo. (Fest, 2011)
As indústrias são estatizadas e seus índices econômicos são
muito bons, há emprego, menos fome e uma indústria que volta a ser
forte. Hitler não obedece ao tratado de Versalhes e passa a produzir
material bélico. Com maestria política começa a anexar territórios que a
Alemanha havia perdido em tempos passados. (Evans, 2017)
Acordos políticos passam a ser tecidos com líderes de outras
nações. Aproxima-se de Franco e Mussolini. Consegue ludibriar a Liga
das Nações para anexar mais territórios. Chega até a acordar com Sta-
lin, seu maior inimigo não declarado, um pacto de não agressão, que
descumpriria anos mais tarde. (Fest, 2011)
Nesse ínterim, o nacional-socialismo declara guerra ao comu-
nismo, apesar do caráter paradoxal que se forma pela aliança com Sta-
lin. Dentro da Alemanha, comunistas são perseguidos e deportados –
quando não presos e executados arbitrariamente.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

No campo social, Hitler consegue diminuir o desemprego. Há


emprego novamente e comida na mesa. O milagre econômico lhe atrai
muita popularidade. Seu corpo de funcionários acarreta homens de in-
teira confiança e muito competentes em suas atribuições. Sua polícia
política é efetiva e consegue perseguir com êxito os inimigos do Estado.
Apesar do discurso anticapitalista, angaria uma economia mista, onde
as elites econômicas alemãs conseguem manter suas indústrias, en-
quanto as de origem estrangeira são estatizadas. Parcerias do nazismo,
por exemplo, deram origem à famosa montadora Volkswagen. (Fest,
2011)
65
Descobre na propaganda política uma via e tanto para enraizar
na mente do povo alemão os ideais nazistas. É através do cinema, da
rádio e de muitos panfletos que Hitler manobra com a massa, trazendo-
-a ao seu lado.
Confiante, com o Estado tendo o poder centralizado em suas
mãos e com controle total sobre o território alemão, amparado por gran-
de popularidade e sustentado por Forças Armadas e material bélico que
havia construído nos anos de seu governo, Hitler invade a Polônia, mes-
mo ciente da grande probabilidade de declaração de guerra que aquela
ação traria. Era seu plano desde sempre.
Durante a segunda guerra mundial, vale ressaltar o caráter
propagandístico do regime nazista, que sempre busca tranquilizar seus
habitantes e anunciar as grandes vitórias do Terceiro Reich. Nos primei-
ros anos, a Alemanha consegue grandes resultados, dominando ampla
área da Europa ocidental.
Dentro de suas fronteiras, o nazismo continua com a política
totalitária, perseguindo inimigos e incentivando seus cidadãos em tra-
balhar para o Reich, para Hitler, de forma que a Alemanha retomasse
seu prestígio.
No totalitarismo, a legitimação do Estado não se dá por via
religiosa ou pública, ainda que a popularidade incentive as ações do
governo totalitário. Nessa forma de governo, a legitimidade vem exclusi-
vamente da força e do medo. Enquanto houver força política advinda da
ideologia no poder, e este conseguir infligir medo em toda sua extensão
territorial, este manterá seu poderio.
Avançando para o final da guerra, foram descobertos os cam-
pos de concentração. Então, o choque. Ao contrário de outros regimes
totalitários, que usavam dos prisioneiros para produzir materiais para
acalentar a indústria nacional ou manter as ferramentas para a guerra,
no regime nazista também se usou destes campos para o extermínio de
raças consideradas inferiores.
Hitler ao subir no poder, acreditava que o povo alemão era su-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

perior, pautado em evidências geográficas e relatos historiográficos que


lhe eram apresentados, necessitava então limpar o mundo de raças in-
feriores. Por raça inferior, via o exemplo claro dos judeus, aliado ao ódio
que nutria por essa raça de seus anos de desconhecido, quando acre-
ditava que os judeus eram os responsáveis em boa parte pela desgraça
alemã. Uma vez no poder, o plano de exterminar a raça judia entra em
vigor. Nos campos de concentração, os judeus trabalham enquanto po-
dem, quando não podem mais, são levados às câmaras de gás, onde
são executados. Depois, seus corpos são queimados em grandes va-
las. Ali, vela-se a história e, junto dos corpos, velou-se qualquer resulta-
66
do positivo outrora alcançado pelo regime nazista.

Saiba mais:
Filme sobre o assunto: A Onda (Dennis Gansel, Itália, 2008)
Na literatura: Ele está de volta, Timur Vermes
Acesse os links: <http://observatoriodaimprensa.com.br/ca-
tegory/memoria-do-holocausto/> e <http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/
dicionarios/verbete-tematico/nazismo-no-brasil>
Observação: Entender o nazismo é entender a história política
em sua faceta mais sombria. Assim, todo conhecimento para compreen-
der o passado e não repeti-lo, é útil à sociedade.

FASCISMO

O fascismo, assim como o nazismo, ganha força por seu dis-


curso populista após a primeira guerra mundial. Seu maior expoente é
Benito Mussolini, que utiliza dessa bandeira política na Itália durante
seu governo. (Paris, 1993)
Assim como no nazismo, esse regime pautou-se em ações po-
pulistas de cunho nacionalista, que trazia benefícios à população, que
em troca, aceitava o poder total na mão do seu líder.
O fascismo, por sua vez, rejeitava qualquer similaridade ou
animosidade com o comunismo. Rechaçava qualquer ideal socialista e
não havia acordo que pudesse colocar os dois regimes do mesmo lado.
(Bertonha, 2017)
No fascismo, também foi primordial a alavancagem das forças
armadas e da indústria bélica. Utilizaram também da propaganda para
exteriorizar e inculcar seus ideais na mente das massas. De cunho ul-
tranacionalista, o fascismo reunia todo o Estado na figura do governo e
também misturava a concepção de Estado à própria figura de seu líder,
Mussolini. (Paris, 1993)
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Aliás, para chegar ao poder, os fascistas de Mussolini tiveram


de galgar suporte de grupos políticos avessos aos seus ideais, porém,
homogêneos no que tratava do anti-marxismo. As instabilidades econô-
micas e sociais na Itália dos anos 1920, reflexos do fim da guerra, além
da sombra da revolução soviética na Rússia, impulsionou os fascistas
ao poder. De início, a transição da democracia para o totalitarismo, que
se iniciou com a Marcha sobre Roma, manifestação que foi pano de fun-
do para um golpe de Estado na Itália, foi lenta. Porém, em pouco tempo
um deputado do partido fascista foi assassinado. O resultado foi um
rápido recrudescimento do Estado, que foi se fechando e rapidamente

67
avançando para alcançar o totalitarismo. Menos de um ano após a mor-
te do deputado, a democracia italiana já sucumbia ao poderio fascista.
(Paris, 1993)
Nesse regime, assim como no nazismo, não havia eleição,
mas sim um unipartidarismo, dominado pela ideologia no poder. A eco-
nomia se pautava em um espectro misto. Haviam empresas privadas e
estatizadas, porém as empresas privadas eram ligadas à uma elite que
se compadecia do discurso fascista. Caso contrário, era estatizada. O
interesse econômico podia ser o lucro, mas em segundo plano. No pri-
meiro plano, o interesse nacional deveria prevalecer. (Paris, 1993)
Apesar de ter abolido o sindicalismo, até por sua postura an-
timarxista, o regime fascista do Duce – como Mussolini gostava de ser
chamado – criou sindicatos de cunho nacional, controlados pelo Estado,
suprimindo dessa forma qualquer tentativa de greve ou de revolta so-
cial. (Bertonha, 2017)
Assim, num panorama geral, o fascismo foi uma forma de go-
verno totalitária, mais à direita no espectro político, de cunho ultranacio-
nalista - assim como o nazismo de Hitler - que sob as rédeas de Mus-
solini, encontrou todas as características que figuram em um governo
totalitário: desde o governo pelo medo até a supressão de direitos civis,
pois o controle deveria ser do Estado.

AUTORITARISMO

Forma de governo comum na América Latina da segunda me-


tade do século XX, o autoritarismo se baseia por uma obediência sem
precedentes ao líder da nação e às autoridades, sendo contrária a qual-
quer esboço de liberdade individual, pois mantém o argumento de que
o controle do Estado é mais importante do que a liberdade do indivíduo.
Pensadores que se inclinaram a entender o autoritarismo, en-
contram nele quatro características que são vistas nas experiências his-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tóricas na qual o autoritarismo foi o mote do governo.


A) Em primeiro lugar, a legitimidade. O regime autoritário busca
legitimidade popular ao alegar que só busca o poder momentaneamen-
te, como única saída possível para resolver algumas crises internas e
ameaças ao funcionamento da nação. B) Como aparelha o Estado, o
autoritarismo também suprime direitos e é repressivo contra quem lhe
questiona. Assim, mobilizações políticas de massa praticamente não
existem, o que ilustra uma falsa aparência de segurança e apoio da
população ao regime autoritário. C) Em terceiro lugar, os poderes exe-
cutivo, legislativo e judiciário, confusos com suas atribuições e os limites

68
de suas liberdades. Em suma, existem, mas não sabem se ou como
funcionam. D) Por último, um pluripartidarismo limitado, para fomentar
uma aparência de democracia. Na realidade, essa democracia de fa-
chada permite uma oposição moderada e muitas vezes manipulada pe-
los interesses de quem comanda o regime autoritário. (Skidmore, 2003)
No campo da política há também um discurso geralmente na-
cionalista, que fomenta a política e a economia interna. De forma pare-
cida com o totalitarismo, o autoritarismo também preza por um capita-
lismo interventivo, onde o Estado atua nas orientações econômicas da
nação, mas ao contrário do primeiro, é mais tolerante com as classes
trabalhadoras.
Durante a história, houve experiências com essa forma de go-
verno. No Brasil, o regime militar (1964-1985) é talvez o maior exemplo
de regime autoritário, uma vez que são nítidas as quatro características
citadas acima. Há também experiências desse modo na Argentina, no
Chile e no Uruguai. Todas começaram na mesma época e se encerra-
ram em épocas distintas. De similar entre elas, fica o forte argumento
da influência norte-americana, que em plena guerra fria, financiava os
regimes autoritários desde que no tocante à legitimidade, o discurso
fosse pautado em um anticomunismo. (Napolitano, 2014)

ANARQUISMO

O anarquismo se constitui como a mais paradoxal forma de


governo existente até hoje já formulada pela teoria política. Por ela se
sustenta uma independência da sociedade em relação ao poder esta-
tal. Assim, acredita que o Estado deva ser abolido, pois, a organização
da sociedade em si, é suficiente para dar cabo das necessidades dela
própria.
Teorizado por Proudhon, Bakunin e Godwin, cada um em seu
tempo e com realidades diferentes, o ideal anárquico preza por concei-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tos muito distantes de todas as outras formas de governo já pensadas.


A liberdade é o conceito supremo do anarquismo, pois o indi-
víduo deve se sobressair ao Estado. Ao contrário de todos os outros
espectros políticos, nesse é colocado o indivíduo acima do Estado. Por
essa questão da liberdade, é inútil haver Estado, de forma que esse
poderia ser extinto. (Woodcock, 2002)
No que tange à propriedade, os anarquistas creem em um con-
ceito de propriedade coletiva, onde a terra pertence a todos, sem inter-
ferência de um órgão estatal para regular a divisão e o funcionamento.
Estado realmente não é algo possível no pensamento anár-

69
quico. Segundo essa linha, a sociedade se pautaria numa autogestão,
onde o povo se reuniria em grupos para deliberar, em uma situação
análoga à democracia direta que vimos anteriormente. Para isso, é ne-
cessária disciplina e responsabilidade, pois o interesse do indivíduo,
apesar de se tratar de uma prioridade, não pode afetar a liberdade do
outro indivíduo, sendo que ambos devem encontrar uma harmonia no
convívio. (Woodcock, 2002)
Pauta importante do anarquismo concerne à educação. Se em
regimes que defendem o Estado, a ideia é implantar uma linha de edu-
cação pautada na moral e nos bons costumes, para atrelar os jovens
à linha ideológica estatal, no anarquismo ocorre o oposto. A educação
proposta é libertária, consagrando à juventude o direito básico de sua li-
berdade e suas consequências, para que as próximas gerações saibam
aprimorar, manter a amadurecer o ideal anárquico dentro da sociedade.
(Proudhon, 1998)
A anarquia é a única forma de governo que ainda não passou
por experiências concretas na história. Ainda que existam movimentos
anarquistas por todo o globo terrestre, ainda não houve local em que
esse pensamento logrou êxito em transformar suas ideias do mundo
teórico em ações práticas.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

70
ARENDT, Hannah. Da Violência. Brasília: UnB, 1985
_____________. Origens do Totalitarismo: São Paulo: Cia
das Letras, 1989.

BOBBIO, Norberto. et.al. Dicionário de Política Comentado.


Brasília: UnB, 1998

EVANS, Richard J.A chegada do Terceiro Reich. Cerqueira


César: Crítica, 2017
______________. O Terceiro Reich no Poder. Cerqueira Cé-
sar: Crítica, 2014

FEST, Joachim.Hitler. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.


Vols. 1 e 2

PARIS, Robert. As origens do fascismo. São Paulo: Perspec-


tiva, 1993

PROUDHON, Joseph P. A propriedade é um roubo e outros


escritos anarquistas. São Paulo, L&PM Pocket, 1998

TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

71
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: UDESC Órgão: UDESC Prova: Vestibular Nível:
Médio.
Leia o texto a seguir:
“Todo poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como mi-
nistros de Deus e seus representantes na terra. Consequentemen-
te, o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio
Deus.
Resulta de tudo isso que a pessoa do rei é sagrada, e que atacá-lo
de qualquer maneira é sacrilégio. (...)
O poder real é absoluto. O príncipe não precisa dar contas de seus
atos a ninguém.”
(Jaques-BénigneBossuet, 1627-1704)
Assinale a alternativa que apresenta a forma de governo à qual o
trecho se refere.
a) Democracia representativa
b) Monarquia constitucional.
c) Absolutismo monárquico.
d) República Monarquista.
e) Monarquia populista religiosa

QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: FACASPER Órgão: FACASPER Prova: Vestibular
Nível: Médio.
Em um Estado absolutista, o crime maior é o de infidelidade, é a
inconfidência, o crime de lesa-majestade. A vontade do sobera-
no é um princípio que, por si, justifica as medidas tomadas pelos
agentes do Estado. Foi na França que o absolutismo atingiu o seu
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

máximo desenvolvimento na Idade Moderna. Luís XIV, apelidado


de Rei Sol, foi o monarca que melhor encarnou a figura de um rei
absoluto.
Fonte: ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado absolutista. São
Paulo. Brasiliense, 1985. p. 18.
A respeito da forma de governo descrita no texto, é correto afirmar:
a) As eleições periódicas estabeleciam o revezamento no poder, medi-
da à qual até o rei estava submetido
b) O governo era pautado em leis promulgadas por voto direto e popu-
lar, expressando a democracia
c) As relações entre o rei e a nobreza eram regidas por critérios merito-
72
cráticos, sem privilégios de origem
d) A burguesia era o grupo social privilegiado no Absolutismo, em fun-
ção da sua origem campesina
e) O poder ficava centralizado nas mãos do rei, que tinha o poder de
legislar, administrar e punir

QUESTÃO 3
Ano: 2016 Banca: UNITAU Órgão: UNITAU - Medicina Prova: Vesti-
bular Nível: Médio.
“No nazismo, temos um fenômeno difícil de submeter à análise ra-
cional. Sob um líder que falava em tom apocalíptico de poder ou
destruição mundiais, e um regime fundado numa ideologia abso-
lutamente repulsiva de ódio racial, um dos países mais cultural e
economicamente avançados da Europa planejou a guerra e lançou
uma conflagração mundial que matou mais de 50 milhões de pes-
soas”.
KERSHAW, Ian, 1993, p.3-4, apud HOBSBAWM, Eric.A era dos ex-
tremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p.113.
Em linhas gerais, podemos caracterizar a ideologia nazista como
a) nacionalista e pluripartidarista
b) racista e internacionalista
c) marxista e pacifista
d) estadista e anticapitalista
e) nacionalista e anti-comunista

QUESTÃO 4
Ano: 2015 Banca: UDESC Órgão: UDESC Prova: Vestibular Nível:
Médio.
Ditadura s.f. (1563 HPint I 328) 1. Governo autoritário exercido por
uma pessoa ou um grupo de pessoas, que tomam o poder des-
respeitando as leis em vigor, com supremacia quase absoluta do
poder executivo, apoiado pelas forças armadas, e com o poder
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

legislativo inexistente ou enfraquecido e subordinado ao poder


do(s) ditador(es), o mesmo acontecendo com o judiciário e onde
geralmente não há estado de direito, imprensa livre, liberdade de
associação, de expressão, nem eleições livres e regras claras de
sucessão 2. qualquer sistema de governo em que não sejam res-
peitadas as liberdades individuais 3. fig. Excesso de autoritarismo;
tirania, despotismo. Etim lat. dictatūra,ae dignidade de magistrado
ou regente supremo, dignidade do ditador. SIN/VAR ver sinonímia
de autoritarismo.
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)
73
Tendo como referência a definição dicionarizada de ditadura, ana-
lise as proposições e escreva (V) para verdadeira e (F) para falsa.
( ) Embora de caráter autoritário, o sistema ditatorial se caracteriza pela
defesa dos valores e direitos da maioria, garantindo plena igualdade
entre os cidadãos perante o Estado.
( ) A ditadura caracteriza-se pela concentração de poder unicamente
nas mãos de um indivíduo; na história do Brasil podem-se citar os dois
mandatos ditatoriais do governo de Getúlio Vargas e o do governo de
João Goulart entre 1961-1964.
( ) O regime ditatorial não se opõe à democracia, pois visa restaurar a
estabilidade política e social de um país à beira da catástrofe política e
econômica, é antes o governo da maioria contra o governo dos poucos.
( ) A história do Brasil possui diversos casos de experiência ditatorial
de um indivíduo ou de um partido, e pode-se citar como experiências
ditatoriais a concentração de poder nas mãos de D. Pedro II, a ditadura
republicana do general Deodoro da Fonseca na Primeira República e,
mais recentemente, a ditadura do Partido dos Trabalhadores (PT) que
governa o país há mais de uma década, não permitindo, dessa forma,
o revezamento partidário do poder, característica essencial de uma de-
mocracia.
( ) O único caso de intervenção político-militar em Santa Catarina ocor-
reu durante o governo de Floriano Peixoto, ocasionado pela Revolta
Federalista, que culminou com o assassinato de rebeldes na Ilha de
Anhatomirim.
Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
a) V-V-V-F-V.
b) V-F-F-V-F.
c) F-F-F-F-F
d) F-F-V-V-V
e) V-F-V-F-V.

QUESTÃO 5
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Ano: 2014 Banca: UPF Órgão: UPF Prova: Vestibular Nível: Médio.
Leia alguns dos artigos do Tratado de Versalhes:
Art. 45 – (...) a Alemanha cede à França a propriedade absoluta,
com direitos exclusivos de exploração, desimpedidos e livres de
todas as dívidas e despesas de qualquer tipo, as minas de carvão
situadas na bacia do rio Sarre.
Art. 119 – A Alemanha renuncia em favor do Principal Aliado e das
Potências Associadas todos os seus direitos e títulos sobre as
possessões de ultramar. Art. 198 – As forças armadas da Alemanha
não devem incluir quaisquer forças militares ou navais.
74
Art. 232 – Os Governos Aliados e Associados exigem e a Alemanha
promete que fará compensações por todos os danos causados à
população civil das Potências Aliadas e Associadas e a sua pro-
priedade durante o período de beligerância de cada uma.
(MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA, Ricardo. História
Contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 2008, p.
115-117)
A partir da leitura dos artigos transcritos, é correto afirmar que o
Tratado de Versalhes:
a) encerrou a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que a Alemanha
perdesse as colônias ultramarinas para os países Aliados.
b) extinguiu a Liga das Nações, propondo a criação da Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1945, com o objetivo de preservar a paz
mundial.
c) estimulou a competição econômica e colonial entre os países euro-
peus, resultando na Primeira Guerra Mundial
d) permitiu que as potências aliadas dividissem a Alemanha no fim da
Segunda Guerra Mundial, em quatro zonas de ocupação: francesa, bri-
tânica, americana e soviética.
e) impôs duras sanções à Alemanha, no final da Primeira Guerra Mun-
dial, fazendo ressurgir um nacionalismo exacerbado e reorganizando as
forças políticas do país.

QUESTÃO 6
Ano: 2011 Banca: USF Órgão: USF Prova: Vestibular Nível: Médio.
No sentido comum, a anarquia sempre foi o caos, a desordem. A
palavra transformou-se em sinônimo de bagunça e os cronistas
e historiadores de hoje jamais lograram repor o significado veraz
de um passado glorioso e, no mínimo, construtivo. Por paradoxal
que pareça, anarquia não é bagunça, muito menos desordem. Mas
não é com apenas uma pequena dose de purgante que se limpam
dois séculos de distorções acumuladas na cabeça dos homens e
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

alimentadas dia a dia. [...]


Os anarquistas criticaram em primeiro lugar a democracia bur-
guesa que criou e garantiu a existência permanente de uma aris-
tocracia governamental, nunca deixaram de denunciar o sufrágio
universal [...] Rejeitaram categoricamente a participação política e
boicotaram as urnas. Afirmaram fundamentalmente, e aqui vai uma
conceituação-chave para entendê-los, que a prioridade na luta de
classes estaria no campo econômico e não rejeitaram a política
mas sim a política burguesa. Profetizaram o fracasso do comunis-
mo de Estado e denunciaram o autoritarismo presente em Marx
75
quando o combateram dentro de sua organização, a Primeira Inter-
nacional, e levaram a melhor.
Caio Túlio Costa. O que é anarquismo. São Paulo: Brasiliense,
1981. (Col. Primeiros Passos.)
Com base no texto e no ideário anarquista, é correto afirmar que
a) desde o início os anarquistas são vistos como conciliadores entre os
ideais capitalistas e comunistas
b) o anarquismo apoia a política econômica estatal, pois prioriza o bem-
-estar comum.
c) as ideias marxistas despontam como norteadoras para os ideais
anarquistas fundamentados na democracia.
d) os anarquistas combatem a ditadura do proletariado e abominam o
Estado.
e) ao longo da história, a concepção de anarquismo é clara, tanto para
a população leiga como para os historiadores, abominando a ideia de
caos.

QUESTÃO 7
Ano: 2018 Banca: FUVEST Órgão: USP Prova: Vestibular Nível:
Médio.
O futurismo de Marinetti e o fascismo de Benito Mussolini têm em
comum
a) a constatação da falência cultural da Itália, que se agarrou ao pas-
sado romano e ignorou os grandes avanços da Primeira Revolução In-
dustrial.
b) o desejo de proporcionar aos cidadãos italianos o acesso aos bens
de consumo e a implantação do Estado de bem-estar social.
c) o esforço de modernização cultural e a tentativa de demolir as edifi-
cações que restaram do passado romano
d) a valorização e a adoção das bases e dos princípios das teorias re-
volucionários anarquistas e socialistas
e) a glorificação da ideologia da guerra e da velocidade proporcionada
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

pelos avanços técnicos e militares

QUESTÃO DISSERTATIVA– DISSERTANDO A UNIDADE

Nessa unidade foi possível ver que alguns regimes abrem mão da de-
mocracia e da república, para instaurar governos mais fortes e centra-
lizados. Nesse ínterim, um desses modos de regime é o comunismo.
Apesar do seu discurso político apresentar a defesa do proletariado e
a instauração de uma ditadura dos trabalhadores como forma de tran-
sição para um regime onde há igualdade de condições para todos os
76
cidadãos, abolindo assim a concepção marxista de luta de classes, na
prática essa teoria nunca funcionou. Quais razões podem ser aponta-
das como essenciais para o fracasso do comunismo progredir em suas
experiências históricas?

TREINO INÉDITO

Sobre os regimes autoritários, assinale a alternativa falsa:


a) Sustentam sua legitimidade por uma fonte divina.
b) É permitida um pluripartidarismo, ainda que seja limitado e apenas
figurativo.
c) Há confusão entre as atribuições e competências das Instituições
públicas.
d) Muitos regimes autoritários tiveram vez na América Latina após os
anos 1950.
e) Havia forte controle repressivo, para mitigar oposições mais acen-
tuadas.

NA MÍDIA

O caçador de nazistas Simon Wiesenthal se aposenta

Essa matéria é relevante, pois demonstra como uma forma de governo


pode deixar sequelas que são, anos, décadas depois, ainda evocadas
para a busca de justiça. Preso em campos de concentração durante sua
juventude, Simon Wiesenthal, finda a guerra, passa o resto de sua vida
em busca dos nazistas que fugiram e se refugiaram em outras nações,
para se esconder do fato de terem contribuído com as atrocidades co-
metidas na Alemanha.

Fonte: BBC
Data: 18 abr. 2003
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Leia a notícia na íntegra: <https://www.bbc.com/portuguese/noti-


cias/2003/030418_wiesenthalon.shtml>

NA PRÁTICA

Em pleno século XXI, onde a maioria dos regimes políticos giram em


torno da democracia e da república, ainda restam diversas nações que
seguem uma linha monarquista em sua constituição. Ainda que a mo-
narquia tenha sofrido agravantes mudanças desde seu surgimento na
Mesopotâmia, quanto mais próxima da modernidade ela se encontra,
77
mais é possível compreender suas entranhas. Assim, hoje, através de
rápida pesquisa na internet, é possível analisar como cada nação mo-
nárquica da atualidade sustenta sua monarquia e também ter maior co-
nhecimento a respeito de suas figuras reais. O caso inglês, curioso por
si só, por ser uma nação de tradição consuetudinária, pode ser analisa-
do no artigo a seguir:
<https://www.bl.uk/magna-carta/articles/britains-unwritten-constitution>

PARA SABER MAIS


Filmes sobre o assunto:
1- A Queda: As últimas horas de Hitler (Oliver Hirschbiegel, 2004)
2- A Rainha (Stephen Frears, 2006)
3- A Vida dos Outros (F. H. vonDonnersmarck, 2006)

Peça de teatro: Hamlet – William Shakespeare (Martin Claret, 2010)

Acesse os links:<https://www.royal.uk/> e <http://cnv.memoriasrevela-


das.gov.br/>
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

78
OBRAS CLÁSSICAS DA
TEORIA POLÍTICA
Compreendidas as origens da organização política e anotadas
as principais características das formas de governo que até hoje foram
teorizadas pelo homem, é hora de partir para uma análise mais biblio-
gráfica a respeito do que se tem, em termos clássicos, de produção na
teoria política.
Neste capítulo trataremos das obras mais renomadas publica-
das desde a antiguidade até a contemporaneidade no que diz respeito
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

à teoria política. Acompanhadas de pequena biografia dos autores, essa


síntese bibliográfica objetiva instigar a curiosidade e também demons-
trar como as diferentes formas de absorver e observar a política apare-
cem no papel.

REPÚBLICA, DE PLATÃO

Platão foi um filósofo grego que viveu entre o século V e IV


a.C. Foi pupilo de Sócrates e mentor de Aristóteles. Pouco se sabe a

79
respeito de sua família, sendo que os registros mais palpáveis constam
em seus próprios livros, onde é comum vê-lo citar irmãos e parentes. De
acordo com Diógenes Laércio, Platão recebeu esse nome de um pro-
fessor por apresentar uma condição física de robustez, pois, a palavra
platon de seu nome significaria “grande”. (Blackburn, 2008)
Muito influente no âmbito filosófico, Platão em sua vida adulta
construiu uma academia e aconselhou politicamente na Sicília, que, por
ter um governo que não levou a cabo suas ideias, acabou sendo con-
quistada por estrangeiros.
Na filosofia, área de seu interesse, Platão teve inúmeras con-
tribuições. Árduo defensor de Sócrates e crítico da forma como ocorreu
seu julgamento, o filósofo grego destrinchou muitas palavras à justiça e
à política. Foi também responsável por manter a memória de Sócrates
viva. Sabe-se que Sócrates não legou nenhuma obra escrita, doravan-
te, os relatos da filosofia socrática encontram-se transcritos na obra de
Platão. (Blackburn, 2008)
No campo das ideias, separou a concepção de mundo físico
e mundo metafísico, sendo que se encontra no abstrato que é captado
pela alma a verdadeira realidade. É considerado um dos fundadores da
epistemologia, área da filosofia que se atém à análise dos princípios
do conhecimento científico. Também se inclinou a refletir a respeito da
dialética, por onde visava através de questões, encontrar a verdade.
Em A República (Edipro, 2012), Platão enfoca a política para
traçar alguns pensamentos que vão desde a própria política até a justi-
ça. Nessa obra, Sócrates e dois irmãos de Platão aparecem. Sócrates
argumenta que a felicidade, objetivo maior do ser humano em suas con-
cepções, encontra-se onde há justiça. Prossegue dizendo que é melhor
ser acometido de injustiças e sofrer por isso do que praticar a injustiça.
Platão traz o conceito de solidariedade como princípio da justi-
ça, pois, não há como se alcançar a justiça sem que haja a colaboração
dos indivíduos com o coletivo.
É nessa obra que Platão evoca sua famosa passagem a res-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

peito da caverna. A história serve como alegoria de que, através do


conhecimento, a verdade liberta. É aqui que se desenvolve sua maior
contribuição epistemológica. Platão considera a justiça e a verdade
como conceitos conjuntos. Para se chegar a um, deve-se ter o outro.
(Platão, 2012)
Quando entra no assunto específico da política, Platão faz di-
versas críticas ao estado em que se encontram as cidades, tomados
por oligarquias e às vezes até por governos tiranos. Sua proposta é que
o Estado seja comandado por reis-filósofos, que seriam mantidos pelo
Estado, mas não teriam direito à riqueza. Daí, advém sua concepção
80
de República. Os reis-filósofos governariam em nome do bem comum,
da coletividade e, por não terem direito à riqueza, haveria apenas a res
publica, sem confusões ou junções com nada particular, privado.
Platão termina a sua obra fazendo uma crítica à educação ate-
niense. Até então com maior enfoque na poética, Platão clama para que
tal estrutura seja alterada, de forma que a filosofia passe a ser o mais
importante instrumento educacional. É somente com o conhecimento,
como já afirmara, que a verdade pode ser conhecida. É só com a ver-
dade que se tem justiça. Assim, a educação seria o pilar para que a
sociedade pudesse ser justa e assim acarretar uma forma de governo
em que o bem comum e a justiça fossem alcançadas. (Edipro, 2012)

POLÍTICA, DE ARISTÓTELES

Aristóteles é considerado um dos maiores filósofos da história.


Aluno de Platão, abordou muitos temas em seus escritos filosóficos,
transitando da arte à política, da música à biologia. Alexandre, o Gran-
de, imperador renomado por conquistar parte do mundo em vida, cons-
tituindo o Império alexandrino, foi aluno de Aristóteles.
Seus escritos influenciaram grandes descobertas da humani-
dade, e estudos sérios na biologia, na matemática, nas artes e na polí-
tica. Fundador de uma academia, a qual deu o nome de Liceu, Aristóte-
les reunia alunos para filosofar a respeito das ciências da natureza, da
história, da filosofia e da matemática. Com a morte de Alexandre, que
foi seu aluno, uma onda contrária ao conquistador se levanta na Grécia,
o que força a saída de Aristóteles para preservar a sua vida. Com a ex-
periência adquirida ao ler sobre a morte de Sócrates, não quis arriscar
sofrer as mesmas consequências, assim, foge de Atenas, mas morre
pouco tempo depois, segundo acredita-se, de causas naturais.
Apesar da grande protuberância de escritos, é em Política
(Lafonte, 2017) que Aristóteles desenha seus mais importantes pensa-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

mentos na área homônima. Aristóteles compreende que o objetivo da


política é a felicidade. Para alcançar tal objetivo, divide-se a busca pela
felicidade em dois caminhos: no caminho da política, a preocupação
seria com a felicidade coletiva, enquanto no caminho da ética, a preo-
cupação seria com a felicidade do indivíduo.
Nessa obra, Aristóteles divide as formas de governos em dois
modos. Em um primeiro momento separa a política de acordo com as
ações do governante: se age em prol privado ou para o bem comum.
Por último, Aristóteles faz sua famosa distinção dos três tipos de gover-
no: com uma pessoa, poucas ou muitas pessoas no poder. Mais aden-

81
tro, constata que há, nessa separação, três formas de governar que são
boas para todos, pois visam o bem coletivo, e três formas de governar
que são ruins, em sua concepção, por colocarem os interesses pes-
soais acima dos coletivos. (Lafonte, 2017)
Assim, a monarquia, governo de um, a aristocracia, governo
dos melhores e a politeia, um meio termo entre a democracia e a aris-
tocracia. Esses três modelos eram considerados bons por Aristóteles,
pois visavam o bem comum. A politeia se transforma em sua escolha
natural para um bom governo.
Por outro lado, a tirania, governo de um, a oligarquia, governo
de poucos e a democracia, governo de muitos, eram considerados mo-
delos ruins de governo.
Na obra, Aristóteles também divide os termos escravo de es-
cravidão. Enquanto a escravidão é o ato de obter vencidos de guerra
como propriedade, pois essa era a regra na Grécia, o escravo para
Aristóteles não era esse homem-propriedade, mas sim todo aquele que
não tivesse um propósito de vida e que vivesse mais para os outros do
que para si. (Lafonte, 2017)
Sua obra é de extrema importância no âmbito da teoria política,
pois é nela que se encontra uma conceituação e separação das diversas
formas de governo, acompanhadas das características de cada uma e
das razões, do ponto de vista aristotélico da serventia ou não delas.

O PRÍNCIPE, DE MAQUIAVEL

A obra de Maquiavel figura como a obra política mais impor-


tante de todos os tempos. Funcionário público em boa parte de sua
carreira, escreveu a famosa obra com dedicatória para Lourenço de
Médici, célebre líder de Florença, cidade onde Maquiavel passou parte
de sua vida.
Em O príncipe (L&PM, 2018), Maquiavel constrói a mais sólida
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

obra política de seu tempo – e até a sua época, da história. É nessa


obra que o pensador italiano separa as formas de governo em princi-
pados e repúblicas, hereditários ou adquiridos. Nessa obra, Maquiavel
faz um panorama geral da política mundial, tanto em sua época, quanto
em tempos passados. Com maior atenção ao caso dos principados ita-
lianos, o autor demonstra os erros de outros líderes, para ter exemplos
de como um príncipe deve se comportar para a manutenção do poder.
Maquiavel se inclina sobre todos os pormenores de um Estado: as leis,
as armas e o povo. Analisa também a virtu, compreendida como a vir-
tude, ou seja, um conjunto de valores que deveriam ser seguidos pelos

82
príncipes, e a fortuna, a sorte.
Atribui-se a Maquiavel a frase de que os fins justificam os
meios, algo que nunca esteve presente em sua obra escrita. Absorve-
-se, entretanto, da totalidade de sua obra, um entendimento de que,
para o príncipe manter-se no poder e governar sem dificuldades, muitas
vezes deve agir com força. Diz o próprio Maquiavel (editora ano) que é
preferível ser temido do que amado.
Doravante, a obra maquiavélica tem importância substancial no
campo da teoria política, por discutir como o Estado deveria se desen-
volver e como o príncipe deve se portar, quais princípios deve seguir, à
manutenção de seu poder e a capacidade de alcançar grandes feitos.
Seus esboços sobre a conjuntura política e seu claro entendimento a
respeito do uso da força e da diplomacia, conferem à Maquiavel o status
de maior defensor do absolutismo. Séculos depois e sua obra ainda é
muito atual, servindo de referência para compreender as ações de mui-
tos governos até os dias atuais. (Weffort, 2001)

O LEVIATÃ, DE HOBBES

Nascido em 1588, na Inglaterra, Thomas Hobbes foi o maior


pensador do absolutismo depois de Maquiavel. Sua obra trabalha com
a natureza humana e a política. Resumiu seu pensamento a respeito da
natureza humana com a célebre frase “o homem é o lobo do homem”.
Foi, primordialmente, um autor que defendeu o contrato social, ainda
que numa forma primitiva. (Weffort, 2001)
Em sua obra, O Leviatã (Icone, 2014), Hobbes alerta para a
necessidade da sociedade em ter uma autoridade. Segundo seu pen-
samento, essa autoridade deveria partir do Estado. Assim, pois, a natu-
reza humana não era boa, porém o desejo do ser humano em dar cabo
dos seus conflitos e guerra, o levariam a abrir mão de alguns instintos
de sua natureza, em troca da constituição de uma sociedade.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Hobbes pauta que a liderança dessa sociedade deve ser to-


mada por um soberano, alguém com amplos poderes, centralizados, de
forma que qualquer outro conflito poderia ser resolvido pela força do so-
berano. Tais seriam os amplos poderes do Estado e seu líder absoluto,
que haveria de parecer que tinha muitos braços, como forma de alcan-
çar a todos, daí a referência ao nome do livro, Leviatã. O Leviatã seria
uma figura bíblia que era conhecida por seus muitos braços. Segundo
Hobbes, o líder escolhido para liderar a sociedade com poderes ilimita-
dos, seria um deus mortal, abaixo apenas de Deus. (Weffort, 2001)

83
Figura 13 - Representação de um Leviatã - Disponível em: <<https://
pt.wikipedia.org/wiki/Leviat%C3%A3_(monstro)>> Acesso em feverei-
ro/2019

A teoria de Hobbes é determinante para a teoria política, pois


denota uma legitimação do absolutismo, saindo da esfera religiosa.
Para o autor inglês, legitima-se o absolutismo, não por Deus, mas pela
necessidade do homem em viver em sociedade. Por outro lado, cons-
titui-se numa das primeiras obras a abordar a ideia do contrato social,
que será depois destrinchada por outros autores. Dessa forma, surgem
duas novas ideias políticas da obra desse autor. A ideia de Estado mo-
derno bebeu muito da obra de Hobbes, que talvez por isso, siga tão
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atual, mesmo tanto tempo após sua publicação. (Weffort, 2001)

SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO CIVIL, DE LOCKE

Filósofo inglês do século XVII, tem em sua biografia o prestí-


gio de ser considerado pai do liberalismo e teórico da ideia de contrato
social. Sua contribuição filosófica também o coloca como fundador do
movimento empirista, onde argumentava que através da observação
sensorial, o conhecimento pode ser alcançado. Ao contrário de Hobbes,

84
não acreditava ser o homem mal por natureza, acreditava que havia
pacificidade por conta da liberdade dos indivíduos. (Weffort, 2001)
Sua obra é importante, pois traz uma visão jusnaturalista, onde
defende que todos os homens têm direitos naturais. Essa ideia que cor-
re nas páginas de sua obra, conflita com a ideia do absolutismo, onde
se rechaça qualquer direito natural, onde o único direito é o do soberano
de governar seu povo. Na obra de Locke, a lógica da formação das so-
ciedades é pautada na ideia de que se principia num acordo coletivo – o
contrato social – para defender seus direitos naturais. Tais direitos com-
punham-se, em primeiro momento, do direito à vida, à propriedade e à
liberdade. Assim, Locke exorta a sociedade a se rebelar contra qualquer
governo tirânico que ameace seus direitos. (Weffort, 2001)
No Segundo Tratado sobre o governo civil (Martin Claret, 2002),
Locke esboça sua ideia de estado liberal, onde reafirma que o dever do
Estado e dos seus governantes é proteger os direitos naturais dos cida-
dãos. Assim, ao falar sobre o direito à propriedade, também conceitua
do que entende por propriedade privada, sendo aquilo conquistado pelo
direito em que o indivíduo atribui valor. Vale ressaltar que Locke sempre
foi um defensor da tolerância religiosa, pois acreditava que o respeito
às crenças, constituía uma defesa do direito à liberdade. (Weffort, 2001)
A obra de Locke, então, é muito importante para a teoria políti-
ca por alguns fatores: ela traz o conceito de estado liberal para o campo
intelectual, algo até então não raciocinado e que seria daí pra frente
analisado, sendo hoje um modelo de governo socialmente aceito em
muitas nações. Suas ideias de direito natural, entretanto, são as mais
importantes. É através delas e da sua defesa de contrato social que
muitas transformações importantes ocorreriam na história. A ampla bus-
ca por uma sociedade isonômica e que respeite a liberdade, encontra
boa parte de sua retórica e construção teórica nos escritos de Locke.

DO CONTRATO SOCIAL, DE ROUSSEAU


TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Suíço de nascença, Jean-Jacques Rousseau foi um dos mais


importantes teóricos políticos da história, tendo vivido durante o século
XVIII, de onde suas ideias permanecem em voga e respeitadas até a
atualidade. (Weffort, 2001)
Se suas ações como homem suscitam algumas críticas por
comportamentos hipócritas e imorais, como por exemplo abandonar
seus filhos em um orfanato e anos depois escrever uma obra na qual
tenta demonstrar como se deve educar os filhos, no campo intelectual
da política, sua obra é alvo de elogios e muitas críticas positivas. (We-

85
ffort, 2001)
Na sua obra Do Contrato Social (L&PM, 2007), Rousseau en-
contra nos exemplos históricos a justificativa para a elaboração de um
novo contrato social. Amparado nas antigas civilizações, onde, em sua
opinião, predominava o consenso, Rousseau exorta a possibilidade de
retomar uma sociedade em que o direito a todos os cidadãos fosse res-
peitado. Criticava a monarquia, pois observava que um modelo político
liderado por apenas um homem, não atinge os interesses da população.
Doravante, era defensor de um sistema onde o povo escolheria a forma
de governo e os representantes, usufruindo de sua liberdade. (Weffort,
2001)
A soberania, na obra de Rousseau, pertence ao homem. É
mais um autor que procura separar o interesse religioso do político, con-
siderando que cada um tem seu espaço na formação da sociedade. Sua
obra também faz uma separação das formas de governo: pautado em
Aristóteles, divide-as em monarquia, aristocracia e democracia. Anali-
sando as características de cada uma, explica qual modelo seria mais
eficaz em cada situação. (Weffort, 2001)
O poder, na obra de Rousseau, seria limitado pela soberania
popular, que através de uma vontade ampla, ratificada pelo desejo da
sociedade, imporia as limitações do governante, assim as ameaças à
liberdade e o desvirtuamento do(s) líder(es) para além do interesse pú-
blico, poderiam ser combatidos de maneira legítima. (Weffort, 2001)
Sua obra, portanto, sustenta-se na história e na filosofia para
apresentar as causas de que o contrato social deveria ser renovado,
com o objetivo de garantir a liberdade do povo. Suas ideias serão re-
tomadas alguns anos depois, com o advento da Revolução Francesa,
praticamente erigida sob os seus ideais.

O ESPIRITO DAS LEIS, DE MONTESQUIEU


TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Montesquieu foi um pensador político francês que viveu no


século XVIII. De família nobre, desde jovem se alinhou com os ideais
iluministas, e desde muito cedo teceu muitas críticas ao Estado absolu-
tista. Foi também um crítico do clero e um jurista importante na França.
Na sua obra mais importante, O Espírito das Leis (Martin Cla-
ret, 2010), o autor aborda a separação dos três poderes.
O poder executivo ficaria responsável por executar as leis e os
rumos que a sociedade lhe conferiu o poder para alcançar. Assim, seria
o poder com a atribuição de governar a sociedade, respeitando seus di-
reitos sempre. Sua limitação se daria pelas leis, criadas por outro poder.

86
O poder legislativo ficaria responsável por legislar, de forma
que criasse leis benéficas para a coletividade e que fossem utilizadas
para alcançar os objetivos que a sociedade conferiu ao Estado para
alcançar. Esse poder legislativo agiria dentro das limitações dos direi-
tos inerentes ao homem, como a liberdade. Em casos de conflitos das
leis, ou interpretações a respeito de suas funções, haveria outro poder.
(Weffort, 2001)
O poder judiciário ficaria responsável por solucionar os pos-
síveis conflitos que a interpretação da norma causasse na população.
Dessa forma, se uma norma prejudicasse uma parte da sociedade, mas
beneficiasse outra parte e isso gerasse conflitos, seria pelas mãos do
poder judiciário que caberia a análise jurídica para decidir a respeito da
validade das leis.
A divisão tripartite de poderes elaborada por Montesquieu se-
gue em pauta até hoje. No Brasil, assim como em muitos outros países
do mundo contemporâneo, seu sistema é utilizado como uma forma dos
poderes se controlarem e ao mesmo tempo, harmonicamente, concede-
rem justiça à sociedade. (Weffort, 2001)
Essa contribuição política de Montesquieu, coloca sua obra
como essencial no campo da teoria política, pois é a base para a maio-
ria das democracias e governos que surgem após a revolução francesa.

A DEMOCRACIA NA AMÉRICA, DE TOCQUEVILLE

Tendo vivido no século XIX, Tocqueville se tornou prestigia-


do no mundo todo, mantendo reputação até a contemporaneidade por
seus estudos e reflexões acerca da revolução francesa e do modelo
americano de democracia. De família aristocrática, perdeu familiares
para a guilhotina no período do terror da Revolução Francesa.
Sua obra mais importante, se debruça sobre a experiência po-
lítica democrática nos Estados Unidos. Tocqueville aproveitou sua es-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tadia pelos Estados Unidos, bancado pelo governo francês em meados


do século XIX, para estudar o sistema de aprisionamento americano,
para fazer uma análise muito mais ampla de suas conjunturas políticas.
(Weffort, 2001)
Claro que sua obra sofreu críticas, principalmente por ter ocul-
tado a escravidão em suas páginas. Entretanto, retomando ao ponto
central de sua obra, a análise da democracia americana sob os olhos do
francês é relevante demais para a teoria política. Isso porque foi cons-
tatado que a sociedade americana se envolvia deveras com a política,
aumentando a participação popular no regime democrático que ainda

87
engatinhava. Tocqueville mantém sua reputação em alta pois, já na-
quela época, só de observar a formação política americana, constatou
que no futuro seria uma grande nação, muito poderosa e politicamente
influente. Dito e feito, sua profecia se confirmou em gênero, número e
grau. (Weffort, 2001)
Não obstante, sua análise compara fragmentos de experiên-
cias democráticas históricas com o modelo americano, onde, encanta-
do com a participação popular e a enérgica veia política daquele povo,
Tocqueville passa a compreender aquele modelo como a melhor forma
de governo. (Weffort, 2001)
Assim, a relevância de sua obra para a teoria política passa
pela sua noção excepcional de prever as consequências de um regime
político bem estruturado e também as diversas informações que acarre-
ta para compreender as vicissitudes de um regime democrático.

O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, DE MARX E ENGELS

Essa obra de Marx e Engels pode ser considerada a obra mais


emblemática do século XIX. As discussões e consequências dessa pu-
blicação refletem muitos acontecimentos do mundo atual. Foi a partir
dos seus princípios que regimes comunistas e a luta do marxismo con-
tra o capitalismo se efetivaram. (Weffort, 2001)
Mas antes de comentar sobre a obra, é preciso entender quem
são seus autores. Marx, foi um filósofo alemão (quando nasceu, era a
Prússia, porém hoje esse território é alemão), que passou grande parte
de sua trajetória morando em Londres. Praticamente toda a sua obra
filosófica serviu como um divisor de águas no mundo das ciências. (We-
ffort, 2001)
No campo da economia, sua obra abriu os olhos de muitos a
respeito do capital e de como o capitalismo explora uma classe em de-
trimento da outra. No campo da história, seu materialismo histórico es-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

boçou uma reanálise completa de toda a história mundial, pois sua base
argumentativa demonstrava que em toda a história sempre houve uma
luta de classes entre uma elite dominante e uma classe oprimida, que
em tensão transitavam essa luta para as gerações posteriores, man-
tendo-se até os dias de hoje, presente na sociedade. No campo políti-
co, suas ideias comunistas para a ascensão de um governo proletário,
onde o objetivo seria igualdade de condições para todos os indivíduos,
norteou diversas experiências políticas posteriores, que, fato curioso,
nunca conseguiram dar prática às teorias marxistas, levando muitos ao
argumento de que a obra de Marx foi deturpada. (Weffort, 2001)

88
Engels, alemão e contemporâneo de Marx, passou parte de
sua vida também na Inglaterra. Colaborou em muitas obras de Marx,
também escrevia sozinho e esboçava reflexões a respeito da socieda-
de. A história – nem sempre justa – legou à Engels o status de ter vivido
na sombra de Marx, por ter sido importante mecenas do amigo, além de
grande propagador de suas ideias.
A obra mais conhecida dos dois, sem sombra de dúvidas, é
O manifesto do Partido Comunista (Edipro, 2014), publicada no come-
ço de 1848. É nessa obra que os autores desenham o argumento de
que historicamente sempre houve a luta de classes. Citam que em sua
época, tratava-se da burguesia o ônus de ser a classe opressora, ainda
que dedicassem algumas páginas a celebrá-la por ter colaborado na
destruição do absolutismo e na separação entre a igreja e o Estado.
(Weffort, 2001)
Na obra, os autores orientam os proletários de sua luta contra
os burgueses, uma luta que viria ao nascer. Bastaria aos proletários se
juntarem, para assim, fortalecidos, lutarem contra os opressores. Ava-
liam que a dominação do capital já passou do limite nacional, então
rogam um caráter transnacional ao proletário. Célebre frase encerra o
livro, ao exortar que todos os proletários do mundo deveriam se unir.
(Edipro, 2014)
Afirmam no livro que, uma vez legitimada a vitória do proleta-
riado sobre a burguesia, a justiça não poderia ser pautada na repres-
são, posto que o objetivo do comunismo e da revolução é o desejo da
maioria, o desejo popular, e esse desejo se transforma em uma ação,
que a propriedade seja abolida. (Edipro, 2014)
Ainda abordam os diferentes tipos de socialismo, porém sem-
pre reafirmando que, cabe ao socialismo a transição da sociedade para
o comunismo. (Edipro, 2014)
Dessa forma, em uma sociedade que estava pautada no de-
senvolvimento industrial e na plena expansão capitalista, o livro de Marx
e Engels surge como uma tempestade repentina no horizonte. Movi-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

mentos operários passam a se reunir e sindicatos brotam em todos os


lugares com o objetivo de defender o proletariado e unir-se à luta pelo
fim da opressão. (Weffort, 2001)
Os escritos de Marx e Engels a respeito dessa obra encontram
eco até os dias atuais. Daí a relevância da obra para a teoria política,
vez que denota uma base teórica totalmente na mão contrária daquela
que estava em plena expansão na época de sua proposição. O termo
luta de classes é utilizado a rodo atualmente, assim como o conheci-
mento passado por Marx e também por Engels sofre variações e mui-
tas, mas muitas interpretações. No que tange à obra, é inegável sua im-
89
portância para a formação da sociedade contemporânea. Seus escritos
e reflexões com relação à história e à estratificação social, alcançam
sólidos exemplos se observada a experiência histórica vivida até os dias
de hoje. (Weffort, 2001)

ECONOMIA E SOCIEDADE, DE WEBER

Muitos sabem que Max Weber é um dos fundadores da socio-


logia. Entretanto, se engana quem acredita que sua influência se encer-
ra por aí. Seus escritos são importantes em muitas outras áreas, como
a política, o direito, a filosofia e a economia. Nascido na Alemanha, em
1864, Weber, aos 18 anos já havia se inscrito para cursar direito em
Heidelberg, porém ficou pouco e logo transferiu-se para Berlim, onde se
tornou doutor em direito.
Seu amplo conhecimento da jurisdição e suas leituras filosó-
ficas lhe proporcionaram o material suficiente para rascunhar escritos
sobre a política.
Em Economia e sociedade (UnB, 2012), Weber demonstra as
diferentes formas que surgem no campo do direito, da política, da eco-
nomia e da religião, onde o autor questiona se a civilização ocidental é
mesmo original ou se acarreta comparações com as outras civilizações.
Embora sua obra mais famosa não seja essa, é nesta em que
ele propõe a discussão de alguns conceitos sociológicos. Nesse livro,
Weber discute a ordem legítima, que varia de acordo com fatores racio-
nais, valorativos, de interesse e afetivos. Discorre também a respeito do
poder, que ele contrapõe ao termo dominação. Poder seria a chance de
um indivíduo se impor frente à outro, enquanto a dominação seria com
a possibilidade de um indivíduo de ser obedecido por aqueles que, em
tese, devem obediência.
Weber analisa três tipos de dominação: através do carisma,
através da tradição e através da razão. No caso da razão, ela se afirma
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

pela legalidade, no caso da tradição, pelo caráter sagrado e no caso


do carisma, pelo caráter de heroísmo e devotamento que um indivíduo
pode suscitar no outro. (UnB, 2012)
Sendo assim, a contribuição de Weber para a Teoria Política
assume papel importante, pois, colabora na identificação de conceitos
amplamente utilizados na história. É através dele que podemos obser-
var como a maioria das civilizações passou por dominações e que todas
estas se encaixam na teoria tripartite elaborada por ele. Suas observa-
ções a respeito de ordem e poder também são recorrentemente revisa-
das para dar forma à interpretações da teoria política, que se baseiam

90
em seus estudos.

ESTADO E A REVOLUÇÃO, DE LENIN

Depois de Marx, Lenin é a figura mais emblemática no que tan-


ge ao comunismo, na história. Revolucionário dos pés a cabeça, foi um
dos grandes responsáveis por parte da Revolução Russa, de 1917, que
deu fim ao czarismo na Rússia e marcou o início do governo comunista
da União Soviética.
Sua interpretação do comunismo foi tão particular, que aos
seus pensamentos atribuiu-se o nome de leninismo. Graduado em direi-
to, Lenin desde jovem corroborou com as agitações do Partido Operário
Social-Democrata Russo, participando depois de uma cisão no partido,
por ter uma visão mais revolucionária e extremista sobre o caráter polí-
tico do partido.
Em sua obra O Estado e a Revolução (Boitempo, 2017), Lenin
aponta os princípios marxistas e comunistas que se devem seguir uma
vez iniciada a revolução proletária. Conceitua o Estado como a manifes-
tação e o produto de um dito antagonismo sem chances de conciliação
das classes. Onde não se podem conciliar os antagonismos, há a figura
do Estado. Lenin vai além, para ele, o Estado também é um instrumento
de dominação, criado para submeter as classes exploradas pelas clas-
ses dominantes. Dessa forma, para manter o poder, o Estado constrói
um aparelho repressor, responsável por manter a ordem a o legalismo.
Para Lenin, esse controle da violência tem o objetivo de manter as con-
dições materiais capitalistas, de forma que a exploração com a meta de
acumular capital possa ser cumprida.
No que tange à política, Lenin desdenha da democracia, pois
vê ela como uma ferramenta da classe opressora se manter no poder, e
acredita que à classe operária eleger representantes que fossem atuar
juntos da classe burguesa no parlamento não resolveria nada. Sua ideia,
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

então, é uma abolição do Estado que vem de dentro. Com a revolução,


o proletariado assume o poder, a separação dos três poderes se acaba,
e há a junção dos poderes executivo e legislativo, para que o pensa-
mento e a ação possam agir juntos nas escolhas. (Boitempo, 2017)
Dessa forma, o Estado vai se definhando, lentamente se implo-
de, dando luz ao novo modelo de sociedade, onde o povo governa pelo
povo, sem a necessidade de um Estado.
Suas ideias, claro, também foram muito diferentes quando le-
vadas à prática. Uma vez no poder, Lenin conseguiu dar cabo de algu-
mas reformas, mas nunca conseguiu dar fim ao Estado. A União So-

91
viética persistiu por muitas décadas como um regime, principalmente
com Stalin, de cunho totalitário, onde as liberdades eram reprimidas e
qualquer oposição ao regime era caçada com muita brutalidade. O povo
continuou na miséria e o número de mortos pela fome foi monstruoso.
Assim, a obra de Lenin surge com dois efeitos: o primeiro é demonstrar
de maneira crua como a teoria e a prática suscitam uma diferença sem
precedentes, e a segunda é como Lenin interpreta a política, relendo
autores revolucionários, absorvendo suas ideias, mas transformando-
-as em ideias novas, mais palpáveis – em sua opinião – ao tempo em
que viveu. Sua teoria de Estado e da exploração do proletariado ainda é
alvo de estudo de muitos intelectuais e políticos, que procuram, com al-
guma cautela, retirar dela ideias que possam ser usadas na atualidade
e que colaborem para diminuir a forte desigualdade que atinge o mundo
contemporâneo.

O QUE É A PROPRIEDADE? DE PROUDHON

O francês Pierre-Joseph Proudhon, que viveu toda sua vida no


século XIX, alcançou certo prestígio em sua trajetória por seus escritos
políticos e por ter sido parte do parlamento francês.
Sua obra o alçou como um dos fundadores do anarquismo,
conceito do qual ele mesmo proclamou representar. Em suas ideias, o
termo anarquismo sai da sua conotação pejorativa, sinônima de caos e
desordem, para um campo político estruturado.
Em O que é a propriedade? (Editorial Estampa, 1975), o autor
aborda a questão da propriedade sob o prisma anarquista. Na opinião
do autor, o conceito de propriedade é um roubo, pois, sua teoria defen-
dia uma coletivização da propriedade. Em sua opinião, toda proprieda-
de deveria ser utilizada, só assim ela se legitimaria como propriedade.
Por essa linha de raciocínio, seu pensamento conflitou com os
ideais de locação, cessão e lucro. Não compreendia a razão da proprie-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

dade não ser utilizada no âmbito de alcançar isonomia na sociedade.

92
Figura 14 - Popular símbolo vinculado ao Anarquismo - Disponível em:
<<https://www.significados.com.br/caracteristicas-pessoa-anarquis-
ta/>> Acesso em março/2019

Sua contribuição para a teoria política se desenvolve em dois


eixos. No primeiro, pela divisão que faz da propriedade privada da pro-
priedade pessoal. A primeira seria aquela que pertence a alguém, po-
rém, não é utilizada. Essa propriedade, na sua teoria, deveria ser co-
letivizada para que alguém pudesse aproveitá-la, em um discurso que
se aproxima da função social da propriedade. A propriedade pessoal,
entretanto, seria aquela utilizada e aproveitada, sendo assim, seria
mantida ao seu proprietário em caso da ascensão do anarquismo, pois,
cumpria a sua função social.
No segundo eixo, se atenta para a teoria política do anarquis-
mo. Até então, a concepção de forma de governo se fixava em poucas
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

opções: havia as concepções marxistas, capitalistas, onde se encontra-


vam as democracias e as repúblicas, além das monarquias. O anarquis-
mo surge, de Proudhon em diante, como uma nova opção no que diz
respeito às formas de governo, ainda que seja paradoxal, conforme já
visto, que essa forma de governo propõe a própria abolição do Estado.
Assim, as aspirações políticas da anarquia tendem à assumir o governo
e também implodi-lo, relembrando do leninismo, porém com objetivos
totalmente opostos. (Editorial Estampa, 1975)

93
MINHA LUTA, DE HITLER

Durante sua estadia na prisão, após a fracassada tentativa de


um golpe de Estado, Adolf Hitler teve tempo de sobra para produzir uma
obra que transita entre o campo biográfico e o campo político.
Em sua obra, Hitler analisa a conjectura política que encontrou
ao sair de sua pequena cidade no interior da Áustria e se aventurar em
Viena. Por lá, Hitler se desilude. Preterido, na escola de artes, do seu
sonho de ser artista, encontra na política uma área de seu interesse,
onde apaixonado passa a observar os políticos de seu tempo e a histó-
ria. (Fest, 2011)

Figura 15 - Fotografia de Adolf Hitler - Disponível em: <<https://www.


tnh1.com.br/noticia/nid/hitler-repudiava-associacao-entre-marxismo-e-
-seu-partido-nacional-socialista/>> Acesso em março/2019
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Com o advento da primeira guerra mundial, é mandado ao front,


mas quando retorna, já em Munique, desespera-se com a situação da
Alemanha. Miséria, fome, morte, abandono. Com todos esses fatores
que martelavam em sua mente, decide envolver-se de vez politicamen-
te. Entra no NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães), onde encontra eco em seus discursos apaixonados, dotados
de grande retórica, e cheios de revolta contra a República de Weimar,
contra os países que destruíram a Alemanha, contra os comunistas e
94
contra os judeus. Para Hitler, somente o nacional-socialismo pode tra-
zer a Alemanha de volta aos trilhos, ao caminho da honra. (Fest, 2011)
Incessantemente, seu partido trilha uma galgada na política
tradicional, que consegue após muitos anos, sendo que, em 1933, Hitler
chega ao poder. O resto, conforme vimos anteriormente, mudou com-
pletamente o cenário político mundial. (Evans, 2017)
É na obra de Hitler, Minha Luta (Centauro, 2001), que encon-
tramos os princípios que nortearam sua política totalitária. É bem claro
na obra quais são os inimigos da Alemanha observados por Hitler e,
como com uma política nacionalista, focada na força do homem alemão,
superior por natureza, traria glória ao povo ariano.
A concepção de Estado, para Hitler, é bem parecida com aque-
la que ele coloca em ação quando chega ao poder. Acredita numa in-
dústria forte e nacional, na parceria com o setor privado, desde que
esse setor seja exclusivamente de alemães, acredita também na sobe-
rania do Estado, por conta disso, fomenta grande plano propagandístico
para levar aos quatro cantos da Alemanha as notícias da reconstrução
do Terceiro Reich. Na área econômica, consegue reduzir em muito os
índices de desemprego: parte por sua política industrialista, parte pelo
alto recrutamento militar que passa a vigorar na Alemanha. (Fest, 2011)
Socialmente, a sociedade é controlada pela polícia política. O
controle é excessivo e não há muitas liberdades aos indivíduos. Ques-
tão de segurança e foco em retomar a grandeza de outrora, são os
argumentos.
Assim, na obra de Hitler, a maioria das ideias que acabaram
sendo implantadas posteriormente quando este assume o poder – com
a exceção da solução final, medida criada para o extermínio dos judeus
que não figura em sua obra, apesar do evidente ódio que Hitler deixa
transparecer pela raça judia – já estão alicerçadas teoricamente. (Fest,
2011)
Dessa forma, sua obra ganha importância elevada no ramo da
teoria política por fixar as bases de um governo totalitário que deixou
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

muitas marcas na história. O nazismo e as consequências do governo


hitlerista, que desencadearam a segunda guerra mundial, causou mi-
lhões de mortes e reflexos econômicos e políticos que perduram desde
o final da guerra, em 1945, até os dias atuais.

95
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas.São Pau-
lo: Edições 70, 2012

BLOCH, Marc. A sociedade feudal. São Paulo: Edipro, 2015

KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Cia das Letras, 2010

MARX, Karl. O Capital. São Paulo, Boitempo, 2017

WEBER, Max. A ética protestante e o espirito do capitalis-


mo. Sumaré: Martin Claret, 2013
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

96
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2016 Banca: SEDUC-CE Órgão: SEDUC-CE Prova: Professor
- Filosofia Nível: Superior.
“Para os filósofos ditos ‘contratualistas’, a origem da sociedade e
do Estado baseia-se num contrato firmado entre os homens. Em
decorrência, descarta-se a hipótese de que o homem é um ser so-
cial por natureza e aproxima-se do fato de que a vida em sociedade
aparece como uma decorrência do desejo humano de autopreser-
vação, algo, portanto, artificial” [...].
OLIVEIRA, Flávio; BORGES, Thiago. Unidos venceremos: Mas aca-
baremos com o medo? Ciência e vida – Filosofia. São Paulo. Lafon-
teEditora, 2013. N. 89. p. 22. Fragmento.
Esse texto evidencia que o contrato social firma um acordo entre
os seres humanos, a fim de que eles vivam em sociedade. Compar-
tilham dessa concepção, os seguintes filósofos “contratualistas”:
a) Descartes, Kant e Spinoza
b) Hobbes, Locke, Rousseau.
c) Maquiavel, Marx e Sartre
d) Pascal, Hegel e Nietzsche
e) Sócrates, Platão e Aristóteles

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: SEDUC-PA Prova: Profes-
sor Classe I - Filosofia Nível: Superior.
“Em si mesmo, o homem não é bom nem mau, mas, de fato, tende a
ser mau. Consequentemente, o político não deve confiar no aspec-
to positivo do homem, mas, sim, constatar o seu aspecto negativo
e agir em consequência disso. Assim, não hesitará em ser temido
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

e a tomar as medidas necessárias para tornar-se temível. Claro, o


ideal seria o de ser ao mesmo tempo amado e temido. Mas essas
duas coisas são muito difíceis de ser conciliadas e, assim, deve
fazer a escolha mais funcional para o governo eficaz do Estado.”
Considerando a filosofia renascentista, o pensamento descrito an-
teriormente deve-se a:
a) Nicolau Maquiavel.
b) Erasmo de Roterdã.
c) Miguel de Cervantes
d) Michel de Montaigne

97
QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: SEDUC-PA Prova: Profes-
sor Classe I - Filosofia Nível: Superior.
Sobre John Locke, analise as afirmativas a seguir.
I. Não pretendeu transformar o discurso do cristianismo em dis-
curso racional: para ele, fé e razão constituem âmbitos diferentes.
II. As leis, às quais os homens comumente referem as suas ações,
são de três tipos diversos: as leis divinas; as leis civis; e, as leis
da opinião pública ou reputação. III. O empirismo lockiano possui
bases na tradição empirista inglesa e, por isso, se opõe às ideias
cartesianas de tal modo a produzir antagonismo.
A respeito de John Locke está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmati-
va(s)
a) II.
b) I e II
c) I e III
d) II e III

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: UCPEL Órgão: UCPEL Prova: Vestibular Nível:
Médio.
“É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha o poder, tende
a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coi-
sas de maneira que o poder seja contido pelo poder”.
Montesquieu, O espírito das Leis
O iluminista Montesquieu, ao criticar a ausência de limites claros
que caracterizava o governo dos reis absolutistas europeus, aca-
bou por ser fundamental na estruturação da tripartição de poderes.
Defendia o nobre francês que a democracia poderia ser medida
pela capacidade de convivência harmônica e independente entre
os três poderes. No Brasil, porém, a convivência entre os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário nem sempre foi harmônica. É
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

um exemplo de ingerência de um poder sobre os demais:


a) a República parlamentarista que resultou do plebiscito proposto por
João Goulart em 1963 e que era fundamental para que o presidente
tivesse o apoio do Congresso Nacional na aprovação das reformas de
base.
b) a monarquia autoritária advinda da “Constituição da Mandioca”, pri-
meira Constituição brasileira e que centralizava o poder nas mãos do
Imperador através da possibilidade de uso do Poder Moderador.
c) a imposição do regime parlamentarista ao Imperador D. Pedro II, que
acabou se tornando refém das decisões do seu Conselho de Estado
98
num “parlamentarismo às avessas”.
d) o regime autoritário que se instalou no Brasil após o Golpe civil-militar
de 1964 e que, apesar de permitir a existência de partidos de oposição,
de eleições e de uma Constituição, mudava as regras do jogo político
conforme as conveniências e necessidades do grupo no comando do
Poder Executivo.
e) a República Jacobina de Floriano Peixoto que, alegando a neces-
sidade de garantir a ordem, fechou o Congresso Nacional, substituiu
os governadores por interventores e anulou a Constituição Imperial de
1824.

QUESTÃO 5
Ano: 2017 Banca: Unifenas Órgão: Unifenas Prova: Vestibular
Nível: Médio.
Simón José Antonio de la Santíssima Trinidad Bolívar y Palacios,
mais conhecido como Simón Bolívar, El Libertador, é o persona-
gem central do romance O general em seu labirinto, do consagrado
escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez. Impregnado das dou-
trinas de Rousseau, Montesquieu e Voltaire, Bolívar dedicou sua
vida a “romper a cadeia com que nos oprime o poder espanhol”.
Fascinado pelo general que um dia sonhou com uma América Lati-
na unificada e livre, que se estendesse do México à Terra do Fogo,
Garcia Márquez retrata no livro o percurso de Bolívar, tanto no pla-
no físico quanto no plano espiritual.
Ao reconhecermos a influência de pensadores como Rousseau,
Montesquieu e Voltaire na formação de Simòn Bolívar, reconhece-
mos nele uma influência da doutrina
a) Marxista.
b) Teológica.
c) Anarquista
d) Monroísta
e) Iluminista
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO 6
Ano: 2016 Banca: Faceres Órgão: Faceres Medicina Prova: Vesti-
bular Nível: Médio.
“Quando os poderes Legislativo e Executivo ficam reunidos, numa
mesma pessoa ou instituição do Estado, a liberdade desaparece
(...). Não haverá também liberdade se o poder Judiciário não es-
tiver separado do Legislativo e do Executivo. Se o Judiciário se
unisse ao Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E
tudo estaria perdido se uma mesma pessoa ou uma mesma insti-
99
tuição do Estado – exercesse os três poderes: o de fazer as leis,
o de ordenar a sua execução e o de julgar os conflitos entre os
cidadãos” (MONTESQUIEU. O espírito das leis. SP: Martins Fontes,
1996, p. 168).
O texto acima, escrito por Montesquieu, compõe sua famosa obra O
espírito das leis, produzida em 1748. Tendo em vista o contexto em que
foi escrito, Montesquieu criticava:
a) O avanço industrial e tecnológico.
b) A Monarquia Parlamentarista
c) A República Liberal.
d) A Revolução Francesa
e) A Monarquia Absolutista

QUESTÃO 7
Ano: 2015 Banca: UEMG Órgão: UEMG Prova: Vestibular Nível:
Médio.
O século XIX é conhecido como a época da expansão da indus-
trialização, quando países da Europa ocidental, EUA e Japão in-
crementaram seu parque industrial e viu-se uma produção cada
vez maior e mais intensa em função do constante desenvolvimento
tecnológico. Entretanto essa situação é acompanhada de um con-
traste: enquanto todo esse desenvolvimento acontecia, a condição
de trabalho dos operários era deteriorada com as longas jornadas
de trabalho, exploração do trabalho feminino e infantil, baixos sa-
lários e falta de segurança. Nesse contexto, a classe operária se
organiza, e surgem doutrinas sociais que questionam a situação
do proletariado urbano.
Uma dessas doutrinas pode ser representada pela frase a seguir:
“Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me go-
vernar é um usurpador, um tirano e eu o declaro meu inimigo.”
PROUDHON, Pierre-Joseph. A propriedade é um roubo. Trad.Suely
bastos. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1998.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Considerando o contexto apresentado, a frase de Proudhon rela-


ciona-se com
a) o Socialismo Utópico - conjunto de propostas elaboradas por diferen-
tes teóricos que visavam superar as desigualdades e a exploração da
sociedade capitalista de forma pacífica, sem se pôr fim à propriedade
privada e, muitas vezes, com benevolência da própria burguesia.
b) o Anarquismo - teoria que acreditava que a sociedade seria mais
igualitária sem a existência de qualquer tipo de dominação e opressão.
A teoria anarquista é absolutamente contra a propriedade privada e de-
fende o fim do Estado e de todas suas instituições.
100
c) o Socialismo Científico - teoria criada por Karl Marx que defendia a
luta dos operários contra o Estado Burguês e sua consequente destrui-
ção. Em seguida, seria fundado o Socialismo, no qual o Estado contro-
laria todos os meios de produção.
d) a Doutrina Social Cristã - movimento da Igreja Católica iniciado pelo
lançamento da Encíclica “de RerumNovarum”, que criticava a explora-
ção dos operários, mas defendia a manutenção da propriedade privada
e não acreditava na luta de classes.

QUESTÃO DISSERTATIVA– DISSERTANDO A UNIDADE

Pudemos observar que, durante a história, grandes obras políticas


acompanharam e moldaram os acontecimentos da humanidade. Dessa
forma, houve obras que ratificaram em suas ideias a respeito do absolu-
tismo, da legitimação do poder, da monarquia, da democracia, da repú-
blica, do totalitarismo, etc. Discorra sobre as linhas políticas defendidas
por cada autor tratado na unidade.

TREINO INÉDITO

John Locke acredita que o homem nasce com alguns direitos. Dentre
eles, sustenta que o direito à vida, à propriedade e à liberdade são os
principais. Com essa linha de pensamento, a qual corrente filosófica
Locke se enquadra?
a) Marxismo
b) Niilismo
c) Estoicismo
d) Jusnaturalismo
e) Juspositivismo

NA MÍDIA
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Documento inédito revela ‘desgraça’ de Maquiavel’

A matéria comenta sobre um professor da Universidade de Manchester,


que, através de vasta pesquisa, encontrou um manuscrito de uma ordem
de prisão no nome de Maquiavel, por estar supostamente colaborando
em complô contra as autoridades florentinas. O professor sustenta que
o período de detenção foi determinante para algumas concepções que
depois são transcritas na sua obra O príncipe.
Fonte: G1
Data: 16fev. 2013.
101
Leia a notícia na íntegra: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/02/
documento-inedito-revela-desgraca-de-maquiavel.html>

NA PRÁTICA

Todas as obras políticas acima discutidas, trazem invariavelmente vi-


sões diversas a respeito do mundo. Escritas em épocas e localidades
diferentes, também apresentam uma gama de informações que são fru-
to de seu tempo.
Parte interessante, porém, é observar como cada obra foi trazida à prá-
tica posteriormente em diferentes governos. No Brasil, por exemplo, há
clara influência de Montesquieu na separação dos três poderes.
Nos livros de história é possível aprender como o livro de Hitler influenciou
o governo nazista e até como os discursos neonazistas e ultraconserva-
dores hoje atentam para os mesmos artifícios outrora usados por Hitler.
É possível perceber como os ideais da Revolução Francesa, em busca
de direitos humanos para toda a sociedade, reflete ainda hoje nas discus-
sões acerca de direitos humanos, que se transformaram e hoje alcançam
novos escalões.
É cabível notar como a concepção de Hobbes sobre o Leviatã hoje pode
ser observada na maior parte das nações, onde o Estado realmente
criou vários braços para dar conta de todas as demandas do mundo
contemporâneo.
Através da obra de Locke, podemos observar como os ordenamentos
jurídicos constitucionais e também as declarações dos direitos humanos
contêm os três direitos que, séculos atrás, ele julgou serem de todos:
vida, propriedade e liberdade.
Desse modo, atentando-se às características propostas em cada obra de
teoria política que foi analisada, é possível ver quais foram as consequên-
cias e como elas saíram da teoria para a prática nessa breve existência
do mundo.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

PARA SABER MAIS


Filmes sobre o assunto:
1- O Jovem Karl Marx (Raoul Peck, 2017)
2- V de Vingança (Warner Bros, 2005)
3- Alexandre (Oliver Stone, 2004)
Peça de teatro:Eles não usam black-tie – Gianfrancesco Guarnieri (Civi-
lização Brasileira, 2017)
Acesse os links:<https://www.sabedoriapolitica.com.br/filoso
fia-politica//> e <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/27/cultu
ra/1485531342_170700.html>
102
A TEORIA POLÍTICA HOJE
Atualmente, a teoria política encontra-se definida como discipli-
na capaz de compreender as minúcias e as características dos regimes
políticos e de todo o entorno da atividade política.
Tal expansão, no sentido do termo, se dá após as grandes in-
cursões de intelectuais sobre os movimentos políticos e as transforma-
ções que se acarretaram como consequências das ações políticas.
Assim, enorme contribuição, além da filosofia, tem a história, a
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

sociologia e a economia para o desenvolvimento de uma teoria política.


Nesse capítulo, analisaremos a importância da historiografia
para a compreensão da teoria política, já que é através dos estudos his-
toriográficos que novas informações são lançadas, e antigas certezas
são legitimadas ou contestadas, permitindo assim, que o leque da teoria
política tenha uma sustentação científica.
Logo depois, já caminhando para o final da unidade, veremos
as principais correntes da teoria política hoje, que se baseiam nas obras
de Bobbio e de Skinner. Seus trabalhos no âmbito da política permitiram
maior conhecimento das similaridades e divergências que se encontram

103
nas diversas proposições políticas que circulam desde os primórdios
até atualmente. Sem eles, o valor de grandes obras, prestigiadas atual-
mente, talvez não fosse o mesmo.

A IMPORTÂNCIA DA HISTORIOGRAFIA PARA COMPREENDER A


TEORIA POLÍTICA

Falamos muito de história nessa unidade. Talvez porque seja


na história que buscamos amparo para muitas decisões, por nela conter
toda a experiência humana já vivida até o momento presente.
A história como ciência, com método e tudo, tornou-se o braço
direito do conhecimento mundial. Não há como ter conhecimento sem
história, afirma-se. Sem observar o passado com olhos críticos para
compreender como chegamos aonde chegamos, é difícil compreender
o presente que nos cerca.
No âmbito da teoria política, muito se deve à historiografia,
pois, sem os trabalhos de cunho historiográficos, muitas obras que hoje
são consideradas clássicas, não teriam nem sido descobertas.
Sem os trabalhos historiográficos, seria difícil definir se os rela-
tos escritos condizem com os vestígios arqueológicos em determinadas
civilizações, seria difícil afirmar, entre dois relatos difusos do mesmo pe-
ríodo, qual teria maior probabilidade de ser o verdadeiro. Sem a história,
a sociedade se fada ao marasmo e à escuridão.
Enfim, é possível apresentar alguns trabalhos historiográficos
que foram muito importantes no tocante à teoria política, pois, debru-
çaram-se sobre temas que interessam muito os cientistas políticos.
Tais obras, poderiam, por si só, se encaixar na área da teoria política,
não fosse a proposta genuinamente histórica de suas criações. Não se
pretende, de forma alguma, propor uma análise completa, mas apenas
apresentar, de maneira simples e objetiva, algumas obras de destaque
O livro de Benedict Anderson, Comunidades Imaginadas
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

(2012), é sensacional por tratar da relação entre a ideia de nação e


pertencimento ao mundo das ideias. Trata das relações que a política
traça com a cultura para gerar sentimentos de pertencimento e memória
nos indivíduos.
Os livros de Eric J. Hobsbawm, A era dos extremos (1995), A
era dos impérios (2012) e A era das revoluções (2012), assim como o
restante de sua brilhante bibliografia, são basilares para compreender
as transformações políticas dos séculos XVIII, XIX e XX. Nenhuma ou-
tra obra abrange com tamanha clareza e inteligência os movimentos e
alterações desses séculos.

104
O conjunto da obra de Jacques Le Goff e também de Marc
Bloch, a respeito da idade média, constituem exímio material capaz de
ilustrar qualquer dúvida a respeito da era feudal, do medievalismo. Al-
cançam todas as esferas, da política à econômica, da religiosa á cultu-
ral. Magnífico material.
O fim da idade média e o advento da moderna também facilita
o surgimento de estudos historiográficos sensacionais. As obras de E.
P. Thompson também constituem prazeroso material a respeito da polí-
tica e de suas transformações já num período mais moderno.
Na antiguidade, conforme citamos, os trabalhos de Jaime
Pinsky, brasileiro e Mary Beard são grata fonte de sabedoria sobre as
tendências políticas de civilizações antigas.
Numa escala nacional, é impossível não citar a fabulosa obra
de Raymundo Faoro, Os donos do poder (2012), onde o renomado ju-
rista brasileiro aborda a história do Brasil, onde procura a origem do
clientelismo e do patrimonialismo, encontrando essa lá nos primórdios
da monarquia portuguesa. Em sua obra, Faoro demonstra que, apesar
das mudanças políticas em Portugal e no Brasil, essa faceta patrimonia-
lista e clientelista jamais mudara.
A obra de Robert Dahl, na qual este cientista político busca na
história analisar a qualidade dos regimes políticos, com base no grau de
democratização, é também uma importante ferramenta à compreensão
da teoria política, principalmente no que tange à democracia.
É possível perceber, então, qual a validade da historiografia
para a teoria política, pois, diversas são as obras de história que susten-
tam as diferentes camadas de interpretações políticas atuais.

Muitos autores, sejam filósofos, historiadores ou cientistas po-


líticos, acabam se debruçando sobre os mesmos temas em suas obras.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Assim, é muito delicado tomar a visão de um desses pensadores como


correta. Correto mesmo é compreender o máximo de reflexões possí-
veis, de autores diferentes, sobre o mesmo tema, para então refletir, a
partir da experiência, em qual faz mais sentido. Nas ciências humanas,
o conceito de verdade nunca é absoluto, sempre há pauta para novas –
e incessantes – interpretações.

O PENSAMENTO DE BOBBIO E SKINNER

No campo propriamente dito da teoria política, há de se ater a

105
três grandes pensadores contemporâneos que produziram obras anali-
sando as conjunturas políticas e jurídicas da sociedade, apresentando
cada um a sua própria maneira de analisar e observar a teoria política
como um todo.
Norberto Bobbio, italiano nascido em 1909 e falecido alguns
anos atrás, em 2004, foi historiador, filósofo e senador vitalício. Sua
formação acadêmica se voltou ao direito e à filosofia do direito. Foi com
filosofia do direito e filosofia política que atuou como professor, e sobre
esses temas que publicou a maioria de suas obras.
Aproxima-se da filosofia, trazendo relações entre grandes au-
tores da história da filosofia e as interpretações de conceitos caros ao
direito, como justiça, igualdade, etc. Seu interesse então se pauta na
interpretação dos termos, dos conceitos, a partir de um ponto de vista
filosófico.
Para além disso, também oportunamente escreve a respeito
do positivismo jurídico, do jusnaturalismo, e debate sobre o futuro do
socialismo. Seu conhecimento político e jurídico, lhe dão grande em-
basamento intelectual para debater e defender seus pontos. Em suma,
considera-se um homem racional, fato que se percebe ao observar suas
obras, onde é notável como se torna rigoroso e caprichoso com sua
escrita, para deixar da maneira mais simples e direta possível as ideias
que passa.
Foi um defensor árduo da democracia, considerada por ele o
melhor regime de governo. Entretanto, nem por isso deixou de ter uma
postura muito crítica em relação às democracias, apontando fragilida-
des e desvios que poderiam ser corrigidos. Defende que até hoje, na
era da democracia moderna, nenhuma seguiu todos os pontos para que
pudesse ser uma democracia plena, criando uma escala em graus de
cumprimento da democracia por parte das nações.
Por outro lado, o grande pensador contemporâneo da teoria
política, ainda vivo, é Quentin Skinner. Integrante da Escola de Cambri-
dge, lecionou nas mais conceituadas universidades de todo o mundo.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Seu trabalho The Foundations of Modern Political Tought


(1978), lhe trouxe prestígio no âmbito acadêmico, por conta de sua
magnífica contribuição à historiografia e à teoria política.
Sua importância se baseia no fato de seu trabalho ter se tor-
nado numa referência para o trabalho, por parte dos historiadores – e
teóricos políticos também – das obras clássicas da política.
Até o lançamento de sua obra, a teoria política se sustentava
na história e nas grandes obras políticas do passado, porém, não havia
um método que pudesse orientar como trabalhar com as obras clássi-
cas. Cada autor fazia a relação entre a teoria política, a história e as
106
obras clássicas, da maneira que bem entendesse. Com Skinner, isso
muda, pois ele consegue dar conta de criar um método que pudesse
compreender uma análise satisfatória e que correspondesse aos rigo-
rosos critérios científicos para postular debater as grandes obras clás-
sicas da teoria política.
A ideia base parte de um contextualismo linguístico, onde,
além de compreender o contexto histórico de uma obra, é necessária
maior atenção ainda com a etimologia utilizada nas obras. Isso se dá,
pois, com o passar das gerações, as palavras mudam, ganham, perdem
sentidos, de forma que, ao se debruçar sobre uma obra clássica da
política, é necessário que se compreenda qual a relevância dos termos
utilizados pelo autor na época em que a obra se construiu.
Assim, ainda que a obra fique presa ao seu tempo, a partir do
momento em que há um movimento de interpretá-la – da maneira de
Skinner – é possível trazê-la ao presente, pois, sua essência terá sido
preservada. Doravante, Skinner conseguiu dar um método aos anseios
dos teóricos políticos, em resgatar as grandes obras políticas e interpre-
tá-las, de maneira rigorosa, às luzes do presente.

TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

107
BOBBIO, Norberto et. al. Dicionário de política comentado.
Brasília: UnB, 1998

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TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

108
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: FUVEST Órgão: USP Prova: Vestibular Nível:
Médio.
[...] a Declaração Universal representa um fato novo na história, na
medida em que, pela primeira vez, um sistema de princípios funda-
mentais da conduta humana foi livre e expressamente aceito, atra-
vés de seus respectivos governos, pela maioria dos homens que
vive na Terra. Com essa declaração, um sistema de valores é – pela
primeira vez na história – universal, não em princípio, mas de fato,
na medida em que o consenso sobre sua validade e sua capacida-
de de reger os destinos da comunidade futura de todos os homens
foi explicitamente declarado. [...] Somente depois da Declaração
Universal é que podemos ter a certeza histórica de que a huma-
nidade – toda a humanidade – partilha alguns valores comuns; e
podemos, finalmente, crer na universalidade dos valores, no único
sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja, no
sentido em que universal significa não algo dado objetivamente,
mas algo subjetivamente acolhido pelo universo dos homens.
N. Bobbio. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
A Declaração Universal mencionada no texto
a) foi instituída no processo da Revolução Francesa e norteou os mo-
vimentos feministas, sufragistas e operários no decorrer do século XIX
b) Assemelhou-se ao universalismo cristão, que também resultou no es-
tabelecimento de um conjunto de valores partilhado pela humanidade.
c) desenvolveu-se com a inclusão de princípios universais pelos legisla-
dores norte-americanos e influenciou o abolicionismo nos Estados Uni-
dos.
d) foi aprovada pela Organização das Nações Unidas e serviu como
referência para grupos que lutaram pelos direitos de negros, mulheres
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

e homossexuais na década de 1960.


e) originou-se do jusnaturalismo moderno e consolidou-se com o mo-
vimento ilustrado e o despotismo esclarecido ao longo do século XVIII

QUESTÃO 2
Ano: 2011 Banca: MEC Órgão: ENEM Prova: Exame Nacional Nível:
Médio.
Os três tipos de poder representam três diversos tipos de motiva-
ções: no poder tradicional, o motivo da obediência é a crença na
sacralidade da pessoa do soberano; no poder racional, o motivo da
109
obediência deriva da crença na racionalidade do comportamento
conforme a lei; no poder carismático, deriva da crença nos dotes
extraordinários do chefe.
BOBBIO, N. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da
política. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado).
O texto apresenta três tipos de poder que podem ser identificados
em momentos históricos distintos. Identifique o período em que a
obediência esteve associada predominantemente ao poder caris-
mático:
a) República Federalista Norte-Americana.
b) República Fascista Italiana no século XX.
c) Monarquia Teocrática do Egito Antigo.
d) Monarquia Absoluta Francesa no século XVII.
e) Monarquia Constitucional Brasileira no século XIX.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: UPF Órgão: UPF Prova: Vestibular Nível: Médio.
“Os 45 anos que vão do lançamento das bombas atômicas até o
fim da União Soviética não foram um período homogêneo único na
história do mundo. (...) dividem-se em duas metades, tendo como
divisor de águas o início da década de 70. Apesar disso, a história
deste período foi reunida sob um padrão único pela situação inter-
nacional peculiar que o dominou até a queda da URSS.”
(HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Le-
tras,1996).
O autor está se referindo ao período conhecido como Guerra Fria,
cuja origem pode ser atribuída à
a) construção de um discurso inglês e norte-americano, que procurou
mostrar os perigos do expansionismo soviético.
b) doutrina Truman, que incentivou os soviéticos a ampliarem seu domí-
nio político nos países do Leste europeu.
c) divisão do território alemão pelas potências vencedoras da II Guerra
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Mundial e às divergências quanto à sovietização do Oriente Médio.


d) assinatura do Pacto de Varsóvia, que proibiu a Iugoslávia de receber
ajuda econômica e militar dos Estados Unidos.
e) declaração unilateral da URSS da “Detente”, que exprimia o desejo
de buscar a coexistência pacífica entre os dois sistemas ideológicos.

QUESTÃO 4
Ano: 2009 Banca: ESAF Órgão: MPOG Prova: Especialista em Polí-
ticas Públicas Nível: Superior.
O termo Política diz respeito ao funcionamento do Estado e ao
110
exercício do poder. Quanto à sua origem, está correto afirmar que:
a) foi criado por Maquiavel
b) tem sua origem na Revolução Francesa
c) deriva da palavra grega pólis
d) surgiu com a formação dos partidos políticos
e) resultou das disputas dinásticas na antiguidade

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: MPE/AL Prova: Analista do Ministé-
rio Público Nível: Superior.
O conceito de poliarquia, desenvolvido pelo cientista político Ro-
bert Dahl, tem como objetivo analisar o regime político dos países,
classificando-os com base
a) no índice de desenvolvimento humano.
b) no grau de democratização.
c) na renda per capta.
d) nos níveis de escolaridade.
e) na pirâmide etária.

QUESTÃO 6
Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: ABIN Prova: Oficial Técnico de
Inteligência Nível: Superior
Com relação ao liberalismo, julgue os itens que se seguem. Surgi-
do com o objetivo de romper com a lógica política de antigos regi-
mes, o liberalismo tem a defesa da propriedade como um de seus
conceitos basilares.
c) Certo
e) Errado

QUESTÃO 7
Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: ABIN Prova: Oficial Técnico de
Inteligência Nível: Superior.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Com relação à formação dos Estados modernos e à ascensão do


nacionalismo, julgue os itens subsequentes. Enquanto conceito
histórico, o nacionalismo se refere à continuidade de valores imu-
táveis que caracterizam um sentimento de amor à pátria e de per-
tencimento a uma nação.
c) Certo.
e) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA– DISSERTANDO A UNIDADE


Pudemos observar que, durante a história, grandes obras políticas
111
acompanharam e moldaram os acontecimentos da humanidade. Dessa
forma, houve obras que ratificaram em suas ideias a respeito do absolu-
tismo, da legitimação do poder, da monarquia, da democracia, da repú-
blica, do totalitarismo, etc. Discorra sobre as linhas políticas defendidas
por cada autor tratado na unidade.

TREINO INÉDITO

Quentin Skinner criou um método para a análise das obras clássicas da


teoria política. Seu método ficou conhecido como:
a) Imperativo Categórico
b) Semiótica
c) Marxismo Cultural
d) Contextualismo Linguístico
e) Positivismo Jurídico

NA MÍDIA

Autobiografia de Norberto Bobbio

A matéria comenta o lançamento, em português, da autobiografia do


pensador italiano Norberto Bobbio. Lançado pela Editora Unesp, o livro
surge como uma luz em um momento no qual discursos autoritários
voltaram a ganhar força no Brasil e no mundo. É nessa linha que segue
a matéria, que faz crítica muito positiva da obra e apresenta algumas
curiosidades sobre a vida de Bobbio.
Fonte: Unesp
Data: 19/02/2018
Leia a notícia na íntegra: <https://www2.unesp.br/portal#!/noti-
cia/31830/autobiografia-de-norberto-bobbio-/>

NA PRÁTICA
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

O trabalho historiográfico é muito sério e anda colado a teoria política.


Como pudemos ver, a historiografia sustenta muitas vezes os princípios
da teoria política, pois, entrelaçam-se as disciplinas.
Por mais difícil que seja trazer uma discussão historiográfica para a
prática, uma vez que a própria historiografia figura no mundo das ideias.
Entretanto, é possível notar na prática, como os discursos políticos se
orientam dentro de determinadas características políticas.
Ao ouvir um discurso de um chefe de Estado, tendo como base o co-
nhecimento da teoria política, é possível conceituar em que referências
112
esse discurso se baseia.
Olhando o plano partidário de determinado partido político, é possível
encontrar vestígios de teorias políticas que outrora pertenceram a ou-
tros autores e pensadores. A política não se pauta mais no novo, fixa-se
nas experiências já tidas, dessa forma, observar discursos políticos, ler
panfletos político-partidários e analisar os planos de governo de cada
nação, são um exercício prático para compreender a transição que se
faz da teoria política e da história, do campo das ideias para o campo
físico.

PARA SABER MAIS


Filmes sobre o assunto:
1- Eleição (Alexander Payne, 1999)
2- Leviatã (Andrey Zvyagintsev, 2015)
Livro:Todos os homens do rei – Robert Penn Warren (Record, 2007)
Acesse os links:<https://norbertobobbio.wordpress.com/norberto-bob-
bio/> e <https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/
view/356>

TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

113
Assim termina a nossa unidade, onde pudemos dialogar e co-
nhecer um pouco sobre essa vasta área que é a teoria política.
Recapitulando, no primeiro capítulo pudemos ver como sur-
giram as primeiras organizações políticas, tendo como referências a
Mesopotâmia, o Egito, o caso dos hebreus, dos gregos e o Império
Romano. Cada qual com sua contribuição preciosa à formação do pen-
samento político moderno.
Em um segundo momento, nos inclinamos a analisar, caso a
caso, as correntes e formas de governo políticas, que existem desde os
primórdios até os dias de hoje. De maneira simples, pois, o aprofunda-
mento de cada uma dessas correntes e formas acarretaria a criação de
uma enciclopédia, sem ainda dar cabo do objetivo, foi possível perceber
como cada sistema de governo tem características próprias e algumas
até similares.
No terceiro capítulo abordamos, também sem grandes aprofun-
damentos, as grandes obras políticas da história, consideradas obras
clássicas por suas grandes contribuições à teoria política. Dos gregos
antigos até a Alemanha nazista, todos os grandes autores e as obras
clássicas foram abordados.
Por último, tivemos a oportunidade de conhecer a importância
da historiografia para a teoria política e ver algumas obras, que são mui-
to importantes de conhecer, para quem aspira algo no âmbito da teoria
política. Depois, tivemos contato com os dois grandes teóricos políticos
dos últimos anos: Bobbio e Skinner, demonstrando em linhas gerais
como se desenham suas teorias a respeito da política.
Não obstante, encerramos a unidade com a certeza de que o
conteúdo aqui adquirido, é parte de uma engrenagem muito maior, de
alcançar o conhecimento, a sabedoria, pois, parafraseando Paulo Frei-
re, a educação é libertadora.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

114
GABARITOS

CAPÍTULO 01

Questões de concursos

01 02 03 04 05
A A E C C
06 07
C E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

As civilizações antigas tiveram um papel primordial na origem da organi-


zação política. Praticamente todas as formas de governo que surgiram
posteriormente se basearam nas primitivas maneiras de se organizar
cada civilização.
Na Mesopotâmia, havia um governo centralizador, análogo à monar-
quia, onde o Rei era escolhido por sinais divinos. A característica po-
lítica que mais interessa nesse caso, em primeiro lugar, é o fato de
a Mesopotâmia ter sido a primeira civilização que utiliza um modo de
governo pautado na liderança de apenas uma pessoa. Mas, apesar do
poder se concentrar na mão desse indivíduo, toda uma máquina buro-
crática, por assim dizer, realizava funções dentro do território, de forma
que as atividades primordiais estivessem sempre em funcionamento.
Vale lembrar também que é na Mesopotâmia que surge o primeiro Có-
digo escrito, sendo um marco na transição da lei consuetudinária para a
transcrição dos costumes em um ordenamento escrito. Essa mudança
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

é muito relevante, mormente pelas implicações de ter um código escrito


numa sociedade habituada com os costumes e a tradição oral. É a base
de todo ordenamento jurídico que surge posteriormente.
No Egito, assim como na Mesopotâmia, também havia um governo cen-
tralizador e com uma figura de liderança. Aqui, entretanto, o Faraó não é
apenas o líder da civilização, mas também sua divindade. A importância
advém da fusão que há nessa civilização entre religião e política. Os
súditos do Faraó deveriam servir e adorar ao seu líder político, pois, tra-
tava-se de um deus encarnado. No campo político, havia divisão social
do trabalho e é importante ressaltar a figura do nomarca: uma espécie

115
de governador que era responsável por distribuir às regiões em que era
alocado, os princípios e desejos do Faraó. Vemos aí uma hierarquiza-
ção do poder político que desce do Faraó aos nomarcas, porém, com o
mesmo objetivo: cumprir as decisões do líder.
A importância da experiência política dos hebreus dentro da formação
do pensamento político vem de duas maneiras distintas. Na primeira,
observa-se como a religião teve papel de auxílio na regência de seus
líderes. A religião, nesse caso, atua como braço da política, pois, as
decisões do monarca eram conseqüências de inspirações e orienta-
ções divinas. Já a segunda maneira, também diz respeito à religião.
Isso porque é com os hebreus que temos a primeira civilização que sai
do politeísmo para se sustentar em um monoteísmo ético, baseado nos
princípios de Javé. Esse monoteísmo acarreta uma série de orientações
divinas sobre o comportamento e os costumes que a sociedade deve
adotar. A religião, que até então esteve ao lado e fundida com a política,
dessa vez encontra um respaldo acima do monarca. O líder do povo
hebreu deve agir de acordo com as normas já fixadas pela divindade.
Suas decisões devem conter os valores éticos que o monoteísmo de
Javé lhe deixou.
Os Romanos, por sua vez, tiveram diversas contribuições para a gêne-
se das organizações políticas. Tinham uma divisão social do trabalho
muito bem definida, com funcionários públicos atribuídos de diversas
funções para o melhor funcionamento do Estado. Passou por três fases,
a monárquica, a república e o império, conservando nas três fases um
Senado, que transitou entre ter muita importância e ter um papel passi-
vo nos rumos do governo. Foi em Roma também que houve a primeira
tentativa de República, forma de governo, em que se divide o público e
o privado, com objetivo da coisa pública, do bem comum, ser preserva-
do. Ainda que a república tenha dado lugar ao império, onde governos
autocráticos e despóticos foram se desenvolvendo, é inegável que sua
experiência influenciou deveras o pensamento político da posteridade.
Por último, os gregos. Talvez seja a civilização antiga com maior impor-
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

tância para a teoria política contemporânea. Foram os gregos que con-


ceituaram e deram forma à democracia. Foi na Grécia, especialmente
na cidade de Atenas, que a primeira experiência democrática teve ori-
gem. Ainda que fosse uma democracia direta, onde todo os homens
participavam, porém alguns eram excluídos (mulheres, estrangeiros,
crianças, escravos), era a primeira vez na história que o povo tinha po-
der direto para ditar os rumos de sua própria sociedade. A importância
dessa mudança na concepção política reflete nos dias de hoje, milhares
de anos depois, quando muitos ainda consideram que a democracia é a
melhor forma de governo que há, por predominar a vontade da maioria,
116
logo, por uma lógica sistêmica, dessa forma também se protege o bem
comum.

TREINO INÉDITO

Gabarito: D

CAPÍTULO 02

Questões de concursos

01 02 03 04 05
C E E C E
06 07
D E

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Os regimes comunistas sempre tiveram dificuldade em alcançar o teor


de suas propostas teóricas, quando confrontadas com a realidade por
uma série de fatores. Vale mencionar a dificuldade de efetivar cons-
ciência de classe em toda a população de um território, para que haja
compreensão por parte dos proletários da importância da luta e de sua
participação no governo. Para conseguir tal façanha, muitos governos
acabaram apelando ao autoritarismo e ao totalitarismo, promovendo as
reformas à força, sem permitir que chegasse a ter a ditadura do prole-
tariado.
Podemos assinalar também os interesses particulares dos líderes des-
ses regimes totalitários, que se sustentam em um discurso comunista,
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

pois é cabível que muitas vezes apenas utilizaram do discurso para


alcançar o poder, porém, uma vez lá, alternam os objetivos do Estado,
com ideias extremistas e que afastam o proletariado do poder.
Também podemos avaliar as diferentes análises que se fazem a partir
da obra de Marx. Assim, diferentes autores e políticos tendem a com-
preender o comunismo de outras formas, como Lênin e Stalin o fizeram,
resultando assim, numa prática totalmente diferente dos ideais teóricos
outrora assinados pelo filósofo alemão.

117
TREINO INÉDITO

Gabarito: A

CAPÍTULO 03

Questões de concursos

01 02 03 04 05
A B C C B
06 07
C C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A partir da atual Constituição, evidencia-se que o objetivo do Direito do


Trabalho é reger as relações jurídicas existentes entre empregados e
empregadores, assim como as consequências positivas ou negativas
que possam ocorrer durante a vigência do contrato de trabalho.

TREINO INÉDITO

Gabarito: C

CAPÍTULO 04

Questões de concursos

01 02 03 04 05
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

C A B A C
06 07

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Discorrer sobre cada autor tratado no terceiro capítulo dessa unidade,


confunde-se com discorrer a respeito da própria política.

118
Platão é o primeiro autor, traz o conceito de república em sua obra. Foi
discípulo de Sócrates e ressaltou na maioria de suas obras, diálogos
de seu mestre, onde exortavam os valores da justiça, do bem comum,
dentre outros.
Aristóteles, discípulo de Platão, escreveu obra focada na política. De-
senvolveu a tese de que há 3 modos de governar bons e 3 ruins, sendo
monarquia, aristocracia e politeia, os bons e tirania, oligarquia e demo-
cracia os ruins.
Maquiavel foi o autor mais importante da política italiana, tendo escrito
obra assertiva sobre o comportamento de um líder para manter seu go-
verno. Suas ideias colocavam o Estado acima do povo.
Hobbes criou o conceito de Leviatã, onde supunha um Estado forte e
controlador que pudesse dar cabo de manter a harmonia na sociedade,
pois o homem era mau por natureza e só se juntava em grupos, poste-
riormente transformadas em comunidades, por medo de morrer.
Locke é o defensor do liberalismo e da tolerância religiosa. Foi um dos
primeiros a pensar no contrato social e defendia a existência de direitos
naturais, como à vida, à liberdade e à propriedade.
Rousseau argumentava a necessidade de um novo contrato social, ten-
do sido o primeiro autor a explicar de maneira concreta do que se trata-
va o tal contrato. Defendia direitos para todos os homens e discordava
de Hobbes, argumentando que o homem se agrupava em sociedade
por conta da busca de um bem comum e não por sua natureza má.
Montesquieu e sua obra até hoje permanecem atuais, pois, foi o pensa-
dor que desenvolveu a teoria tripartite de poderes do Estado: o judiciá-
rio, o legislativo e o executivo.
Tocqueville foi fundamental à teorização da democracia, pois, observou
e escreveu sobre o modelo americano de democracia, onde angariou
prestígio por prever, com acuidade notável, o sucesso político e econô-
mico que se tornaria os Estados Unidos.
Marx e Engels foram um divisor de águas com a sua obra que propunha
uma ditadura do proletariado e, aos poucos, o fim das desigualdades.
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

Seu modelo se eternizou ao demonstrar historicamente como o mundo


se compunha através da luta de classes.
Weber ficou conhecido por sua contribuição à sociologia, onde foi um
dos fundadores. No tocante à política, foi um grande conceitualista, ten-
do discutido termos como dominação, ordem e legalidade.
Lenin consta na lista por ter transformado as ideias de Marx e Engels
em prática. Durante o período soviético, reinterpretou algumas ideias
comunistas e implantou um regime, que não funcionaram da mesma
forma que na teoria. Seu livro é importante material para a compreen-
são do Estado sob o ponto de vista comunista.
119
Proudhon foi o primeiro político a se declarar anarquista. Rechaçava a
ideia de propriedade e de Estado, acreditando que a população deveria
se organizar de forma autônoma, cada uma com uma quantia de territó-
rio para manter sua vida.
Hitler foi o líder alemão e maior expoente do nacional-socialismo. Seu
livro aponta, de forma antecipada, diversas diretrizes que posteriormen-
te foram utilizadas no governo nazista, quando este estava sob seu do-
mínio. Obra primordial para compreender o período e também como se
constroem ideias totalitárias.

TREINO INÉDITO

Gabarito: D
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quistas. São Paulo: L&PM Pocket, 2002
TEORIA POLÍTICA - GRUPO PROMINAS

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