Você está na página 1de 22

MÁQUINAS

ELÉTRICAS I

Erick Costa Bezerra


Gerador CC I
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as características básicas do gerador CC e do circuito


equivalente.
„„ Demonstrar o funcionamento do gerador CC com excitação
independente.
„„ Reconhecer o funcionamento do gerador CC com excitação shunt.

Introdução
Todos os geradores são acionados por uma fonte de potência mecânica,
usualmente denominada máquina motriz do gerador, que pode ser uma
turbina a vapor, um motor a diesel ou mesmo um motor elétrico. Como
a velocidade da máquina motriz afeta diretamente a tensão de saída de
um gerador, é necessário analisar esse impacto em diversos cenários.
Para isso, analisaremos dois sistemas de excitação.
Neste capítulo, você identificará as características básicas e o funcio-
namento de um gerador sendo utilizado com dois tipos de excitação: a
independente e a shunt.

Características básicas do gerador CC e do


circuito equivalente
A estrutura física da máquina consiste em duas partes: estator — ou parte
estacionária — e rotor — ou parte rotativa. O estator é constituído de uma
carcaça que dá suporte físico e de peças polares que se projetam para dentro e
propiciam um caminho para o fluxo magnético na máquina. As extremidades
das peças polares, denominadas sapatas polares, que estão mais próximas do
rotor, alargam-se sobre a superfície dele para distribuir uniformemente o seu
fluxo ali. A superfície exposta de uma sapata polar é denominada face polar, e
2 Gerador CC I

a distância entre as faces polares e o rotor é denominada entreferro de ar — ou


simplesmente entreferro (CHAPMAN, 2013).
O estator de uma máquina CC tem polos salientes e é excitado por uma ou
mais bobinas de campo. A distribuição do fluxo no entreferro é simétrica em
relação à linha central dos polos de campo. Esse eixo é chamado de campo
ou direto. Na Figura 1, a seguir, pode ser vistas escovas formando, junto com
o comutador, um retificador mecânico, que converte a tensão CA gerada em
cada bobina de armadura rotativa em tensão CC (UMANS, 2014).

Eixo em
quadratura

Eixo
Escovas direto
Campo

Bobina Armadura
de campo

Bobinas
de armadura
(a) (b)

Figura 1. (a) Eixos de uma máquina CC. (b) Representação esquemática de uma máquina CC.
Fonte: Umans (2014, p. 404).

As escovas estão posicionadas de modo que a comutação ocorra quando


os lados da bobina estão na zona neutra, a meio caminho entre os polos de
campo. O eixo da onda de força magnetomotriz (FMM) de armadura estará,
então, distanciado 90 graus elétricos do eixo dos polos de campo, isto é, no
eixo em quadratura.
A Figura 1a mostra as escovas no eixo em quadratura porque essa é a posição
das bobinas às quais elas estão conectadas. A onda de FMM de armadura estará
ao longo do eixo das escovas, como está demonstrado. A posição geométrica
das escovas em uma máquina real é a, aproximadamente, 90 graus elétricos
da posição mostrada no diagrama esquemático, devido à forma das conexões
de terminação até o comutador, conforme visto na Figura 2, a seguir.
Gerador CC I 3

Eixo magnético
da armadura
12 1
Bobina de campo
11 2

10 3
Eixo magnético
do campo
ia

9 4

8 5

7 6

ia

Figura 2. Sentido das correntes para as duas posições de armadura.


Fonte: Umans (2014, p. 412).
4 Gerador CC I

Desse modo, sempre que a tensão na espira muda de sentido, os contatos


também mudam de segmento, e a saída de tensão dos contatos sempre é do
mesmo tipo, evitando curto circuito e desgastes prematuros das escovas. Esse
processo de troca de conexões é conhecido como comutação. Os segmentos
semicirculares rotativos são denominados segmentos comutadores, ou anel
comutador, e os contatos fixos são denominados escovas.
Considerando que o ângulo entre as forças magnetomotrizes de campo
(FMMd) e armadura (FMMa) é de 90 graus elétricos, temos:

𝜏mec = KaΦdIa

onde 𝜏mec é o conjugado; Φd é o fluxo de eixo direto por polo; Ia é a corrente


de armadura, e Ka é uma constante determinada pelo projeto do enrolamento,
que pode ser calculada como:

polosCa
Ka = 2m

Os enrolamentos de armadura são classificados de acordo com a sequência de suas


conexões com os segmentos do comutador. Há duas sequências básicas de conexões
dos enrolamentos da armadura: enrolamentos imbricados e ondulados.
Uma característica interessante dos enrolamentos imbricados simples é que há tantos
caminhos de corrente em paralelo através da máquina quantos forem os polos dela.
Já em um enrolamento ondulado simples, há apenas dois caminhos de corrente: C/2
ou metade dos enrolamentos em cada caminho. As escovas dessa máquina estão
separadas entre si por um passo polar pleno.

A tensão gerada observada entre as escovas é a soma das tensões retificadas


de todas as bobinas em série entre as escovas e mostrada pela linha ondulada
ea na Figura 3, a seguir. Com uma dúzia ou tanto de lâminas de comutador por
polo, a ondulação se torna muito pequena, e a tensão média gerada observada
nas escovas é igual à soma dos valores médios das tensões retificadas de
bobina. A tensão retificada ea entre as escovas é:

Ea = KaΦdωm
Gerador CC I 5

onde ωm é a velocidade angular mecânica da máquina (rad/s). O efeito da


distribuição do enrolamento em diversas ranhuras é mostrado na Figura 3,
em que cada uma das ondas senoidais retificadas é a tensão gerada em uma
das bobinas. A comutação ocorre no momento em que os lados das bobinas
estão na zona neutra (UMANS, 2014).

Tensão de
escovas, ea
Tensão

Tensões
retificadas
de bobina
t

Figura 3. Tensões nas bobinas e tensão nas escovas.


Fonte: Umans (2014, p. 405).

Note que o conjugado induzido também pode ser descrito em relação à


potência de saída:

𝜏mecωm = Pmec = EaIa

Para saber mais sobre os aspectos construtivos de uma máquina CC, consulte Chapman
(2013) e Umans (2014).

O circuito equivalente de um gerador CC está demonstrado na Figura 4. Ele


se assemelha ao circuito equivalente de um motor CC, exceto pelo fato de que
o sentido da corrente e das perdas nas escovas é invertido. Na figura, o circuito
de armadura é representado por uma fonte de tensão ideal Ea e um resistor
Ra. Essa representação é, na realidade, o equivalente Thévenin da estrutura
completa do rotor, incluindo as bobinas, os interpolos e os enrolamentos de
compensação, se presentes.
6 Gerador CC I

A queda de tensão nas escovas é representada por uma pequena bateria


Vescova, que se opõe à corrente que circula na máquina. As bobinas de campo,
que produzem o fluxo magnético do gerador, são representadas pelo indutor
LF e pelo resistor R F. O resistor separado (Raj) representa um externo variável
usado para controlar a corrente que circula no circuito de campo.

(a) F1
IA

Raj RA A1
Vescova
RF

EA

LF

A2

F2

(b) IA
F1

A1
RA
RF

VF EA VT

LF

A2

F2

Figura 4. (a) Circuito equivalente de um gerador CC. (b) Circuito equivalente simplificado
(queda de tensão nas escovas eliminada).
Fonte: Chapman (2013, p. 528).
Gerador CC I 7

Existem variações e simplificações desse circuito equivalente básico. A


queda de tensão nas escovas é frequentemente apenas uma fração mínima da
tensão gerada em uma máquina. Portanto, em casos não muito críticos, a queda
de tensão nas escovas pode ser desprezada ou incluída de forma aproximada
no valor de Ra. Algumas vezes, a resistência interna das bobinas de campo
é combinada com o resistor variável, e a resistência total é denominada Rf
(Figura 4b). Uma terceira variação é que alguns geradores têm mais do que
uma bobina de campo, todas as quais são incluídas no circuito equivalente.

Gerador CC com excitação independente


Os geradores CC são acionados a partir de uma fonte motriz externa. Não
sendo especificado o contrário, assumiremos que essa fonte é constante,
porque essa suposição simplifica a análise dos geradores e a comparação
entre os diferentes tipos. Como nos motores, existem quatro tipos principais
de geradores CC de uso geral:

1. de excitação independente;
2. em derivação;
3. série;
4. composto.

A corrente de campo de um gerador de excitação independente é forne-


cida por uma fonte de tensão CC externa separada. O circuito equivalente
dessa máquina está mostrado na Figura 5, a seguir. Nesse circuito, a tensão
VT representa a tensão real medida nos terminais do gerador, e a corrente IL
representa a que circula nas linhas conectadas aos terminais. A tensão gerada
interna é EA , e a corrente de armadura é IA. Está claro que, em um gerador de
excitação independente, a corrente de armadura é igual à de linha.
8 Gerador CC I

IA IL

IF RA
RF

VF EA VT
LF

IL = IA
VT = EA – IARA
V
IF = F
RF

Figura 5. Circuito equivalente de um gerador CC com excitação independente.


Fonte: Chapman (2013, p. 529).

No caso de um gerador CC, as grandezas de saída são sua tensão de terminal


e a corrente de linha. A característica de terminal de um gerador de excitação
independente é, portanto, um gráfico de VT versus IL para uma dada velocidade
constante (ω). Pela lei de Kirchhoff das tensões, a tensão de terminal é:

V T = EA – I A R A

Como a tensão gerada interna é independente de IA, a característica de


terminal do gerador de excitação independente é uma linha reta, como mos-
trado na Figura 6a.
E se a carga do gerador for aumentada? Quando a carga fornecida pelo
gerador é aumentada, IL , que é igual a IA, aumenta. À medida que a corrente
de armadura sobe, a queda IAR A cresce, de modo que a tensão de terminal
do gerador caia.
Essa característica de terminal nem sempre é inteiramente exata. Em gera-
dores sem enrolamentos de compensação, um aumento em IA causa elevação
da reação de armadura, a qual leva a um enfraquecimento de fluxo. Isso causa
uma diminuição em EA = KΦ↓ωm, o que reduz mais ainda a tensão de terminal
do gerador. A característica de terminal resultante está mostrada na Figura
6b (CHAPMAN, 2013). Uma simplificação adotada é que os geradores têm
enrolamentos de compensação. Entretanto, é importante observar que, se os
Gerador CC I 9

enrolamentos de compensação não estiverem presentes, a reação de armadura


poderá modificar as características.

VT
EA
queda IARA

IL
(a)

VT
EAn1
queda IARA

queda RA

IL
(b)

Figura 6. Característica de terminal de um gerador CC de excitação


independente (a) com e (b) sem enrolamentos de compensação.
Fonte: Chapman (2013, p. 530).

A tensão de terminal de um gerador CC de excitação independente pode


ser controlada por meio da mudança de tensão interna gerada EA da máquina.
Pela lei de Kirchhoff das tensões, temos VT = EA – IAR A. Assim, se EA aumentar,
então VT aumentará, e se EA diminuir, VT diminuirá. Como a tensão interna
gerada EA é dada pela equação EA = KΦωm, há dois modos possíveis de controlar
a tensão desse gerador. Veja a seguir.

1. Alterar a velocidade de rotação. Se ωm aumentar, então EA =


KΦωm↑aumentará, de modo que VT = EA↑–IAR A também aumentará.
10 Gerador CC I

2. Alterar a corrente de campo. Se R F for diminuída, então a corrente de


campo aumentará ( ). Portanto, o fluxo Φ da máquina crescerá.
Quando isso acontece, EA = KΦ↑ωm também deve crescer, de modo que
VT = EA↑–IAR A aumenta.

Em muitas aplicações, a faixa de velocidade da máquina motriz é bem-


-limitada, de modo que a tensão de terminal é mais comumente controlada
pela variação da corrente de campo. Um gerador de excitação independente
alimentando uma carga resistiva está mostrado, a seguir, na Figura 7a. A
Figura 7b mostra o efeito de uma diminuição da resistência de campo sobre
a tensão de terminal do gerador quando ele está operando sob carga (CHAP-
MAN, 2013). A resistência de campo, além de controlá-lo, limita a amplitude
da corrente que circula, e, dependendo do arranjo feito no circuito elétrico
da máquina, isso implica, por exemplo, em fios mais finos nos enrolamentos
(gerador shunt) devido à limitação da corrente.

RA IL

IF RF

VF EA VT Rcarga
LF

(a)

VT

V’T

VT

VT
RL =
IL
IL
IL IL’
(b)

Figura 7. (a) Gerador CC de excitação independente com carga resistiva. (b) Efeito da
diminuição na resistência de campo sobre a tensão de saída do gerador.
Fonte: Chapman (2013, p. 531).
Gerador CC I 11

Como a tensão interna de um gerador é uma função não linear de sua FMM,
não é possível calcular de forma simples o valor de EA esperado para uma dada
corrente de campo. A curva de magnetização do gerador deve ser usada para
calcular com exatidão sua tensão de saída para uma dada tensão de entrada.
Além disso, se uma máquina tiver reação de armadura, então seu fluxo será
reduzido a cada incremento de carga, fazendo EA diminuir. A única maneira
de se determinar com exatidão a tensão de saída em uma máquina com reação
de armadura é pelo uso de análise gráfica (CHAPMAN, 2013).
A FMM total de um gerador de excitação independente é a FMM do circuito
de campo menos a FMM devido à reação de armadura (RA):

No vídeo disponível no link a seguir, você pode assistir ao princípio de funcionamento


de uma máquina CC (com legendas em português).

https://qrgo.page.link/69HGo

Um gerador CC de excitação independente tem especificações nominais de 172


kW, 430 V, 400 A e 1800 rpm. O gerador está mostrado na figura a seguir, e a sua
curva de magnetização está na figura em sequência. Essa máquina tem as seguintes
características:
12 Gerador CC I

IA IL
0–300 Ω Raj 0,05 Ω

RA
20 Ω RF
VF = 430 V
EA VT
NF = 2000 espiras LF

Fonte: Chapman (2013, p. 532).

RA = 0,05 Ω
RF = 20 Ω
Raj = 0 a 300 Ω
VF = 430 V
NF = 2.000 espiras por polo

500

450
430
410
400
Tensão interna gerada EA, V

300

200

100

0
0,0 1,0 2,0 3,0
4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0
4,75 5,2
Corrente de campo, A
Nota: Quando a corrente de campo é zero, EA é aproximadamente 3 V.

Fonte: Chapman (2013, p. 533).


Gerador CC I 13

Se o resistor ajustável Raj do circuito de campo desse gerador for ajustado para 63
Ω, e a máquina motriz estiver acionando o gerador a 1600 rpm, qual será a tensão de
terminal a vazio do gerador?
A resistência de campo seria:

RF + Raj = 63 + 20 = 83 Ω

A corrente de campo seria:

VF 430
IF = = = 5,2 A
RF 83

Da curva de magnetização da máquina, vemos que o total de corrente produziria uma


tensão EA0 = 430 V na velocidade de 1800 rpm. Como esse gerador está, na realidade,
girando a ηm = 1.600 rpm, sua tensão interna gerada EA é:

EA ηm
=
EA0 η0

EA 1600
=
430 1800

EA = 382 V

A vazio, não existe circulação de corrente na armadura, então a tensão de terminal é:

V T = EA – IARA
V T = EA – 0 × RA
V T = EA
V T = 382 V

Gerador CC com excitação shunt


Um gerador CC em derivação produz sua própria corrente de campo, conec-
tando-o diretamente aos terminais da máquina. O circuito equivalente de um
gerador CC em derivação está mostrado na Figura 8, a seguir. Nesse circuito,
a corrente de armadura da máquina alimenta ambos: o circuito de campo e a
carga ligada à máquina (CHAPMAN, 2013).
14 Gerador CC I

Figura 8. Circuito equivalente de um gerador CC com excitação shunt.


Fonte: Chapman (2013, p. 535).

Pela lei de Kirchhoff das tensões, a tensão de terminal é:

V T = EA – I A R A

Note que o cálculo da tensão no terminal permanece o mesmo do gerador CC com


excitação independente. Contudo, perceba que, agora, devido ao novo arranjo do
circuito elétrico da máquina, a corrente de armadura passa de IA = IL para IA = IF + IL.

Esse tipo de gerador tem uma vantagem evidente sobre o gerador CC de


excitação independente, porque não há necessidade de uma fonte de alimen-
tação externa para o circuito de campo. No entanto, isso deixa uma questão
importante sem resposta: se o gerador supre a sua própria corrente de campo,
de que forma ele obtém o fluxo inicial de campo necessário na partida?
Gerador CC I 15

Assuma que não há carga ligada ao gerador da Figura 8 e que a máquina


motriz começa a colocar em rotação o eixo do gerador. A produção inicial
de uma tensão em um gerador CC depende da presença de um fluxo residual
nos seus polos. Inicialmente, quando um gerador começa a girar, uma tensão
interna será induzida, sendo dada por:

EA = KΦresωm

Essa tensão que surge nos terminais do gerador é uma pequena (cerca de
um ou dois volts), mas suficiente para circular uma corrente na bobina de
campo do gerador ( ). Essa corrente de campo produz uma FMM nos
polos, aumentando o fluxo neles. O incremento de fluxo causa um aumento
em EA = KΦ↑ωm, o que aumenta a tensão de terminal VT. Quando VT sobe, IF
cresce ainda mais, aumentando o fluxo Φ e EA.
Esse comportamento da geração inicial de tensão, denominado escorva-
mento, está mostrado na Figura 9. Observe que, no final, é o efeito da saturação
magnética das faces polares que impede o crescimento contínuo da tensão de
terminal do gerador.

EA(e VT), V
VT versus IF EA versus IF

VT vz

Curva de
magnetização

VT
RF =
RF

EA, res
IF , A
IFvz

Figura 9. Geração da tensão inicial de um gerador CC com excitação shunt.


Fonte: Chapman (2013, p. 536).
16 Gerador CC I

A Figura 9 mostra a geração inicial da tensão, como se ocorresse em degraus


discretos. Esses degraus foram desenhados para tornar óbvia a realimentação
positiva entre a tensão interna do gerador e sua corrente de campo. Em um
gerador real, a tensão inicial não é produzida em degraus discretos: em vez
disso, EA e IF aumentam simultaneamente até que as condições de regime
permanente sejam atingidas. Caso, na partida, nenhuma tensão inicial seja
produzida, algumas causas possíveis são listadas a seguir (CHAPMAN, 2013).

„„ Pode não haver fluxo magnético residual no gerador. Isso impedirá que
o processo de escorvamento tenha início. Se o fluxo residual for Φres
= 0, então teremos EA = 0, e a tensão nunca começará a ser produzida.
Se ocorrer esse problema, desligue o campo do circuito de armadura e
conecte-o diretamente a uma fonte CC externa, tal como uma bateria.
O fluxo de corrente dessa fonte CC externa deixará um fluxo residual
nos polos, possibilitando, então, uma partida normal. Portanto, esse
procedimento consiste em aplicar diretamente ao campo uma corrente
CC durante um breve período de tempo.
„„ Pode ter ocorrido uma inversão do sentido de rotação do gerador ou
havido uma inversão nas ligações do campo. Em ambos os casos, o fluxo
residual ainda gera uma tensão interna EA, que produz uma corrente de
campo que, por sua vez, induz um fluxo tal que, em vez de somar, se opõe
ao fluxo residual. Nessas circunstâncias, o fluxo resultante diminuirá de
intensidade, ficando, na realidade, abaixo de Φres sem induzir nenhuma
tensão. Se esse problema ocorrer, ele poderá ser corrigido invertendo
o sentido de rotação ou as ligações, ou ainda aplicando brevemente ao
campo uma corrente CC tal que inverta a polaridade magnética.
„„ O valor da resistência de campo pode ser ajustado para um valor maior
do que o da resistência crítica. Para compreender esse problema, consulte
a Figura 10. Normalmente, a tensão inicial do gerador em derivação
subirá até o ponto em que a curva de magnetização intersecta a reta
da resistência de campo. Se essa resistência de campo tiver o valor R2
da figura, sua reta será aproximadamente paralela à curva de magne-
tização. Nesse caso, a tensão do gerador poderá flutuar amplamente
com apenas mínimas alterações de R F ou IA. Esse valor de resistência
é denominado resistência crítica. Se R F exceder a resistência crítica
(como em R3 , na figura), a tensão de operação de regime permanente
ocorrerá basicamente em nível residual e nunca subirá. A solução para
esse problema está em reduzir R F.
Gerador CC I 17

R0
EA (e VT), V
R2 R1
R3
V0
V1

V2

V3 IF, A

Figura 10. O efeito da resistência de campo em derivação sobre a tensão de


terminal a vazio em um gerador CC. Se RF > R2 (a resistência crítica), nunca haverá
produção de tensão no gerador.
Fonte: Chapman (2013, p. 537).

Como a tensão da curva de magnetização varia em função da velocidade do


eixo, a resistência crítica também variará com a velocidade. Em geral, quanto
menor for a velocidade do eixo, menor será a resistência crítica.
A característica de terminal de um gerador CC em derivação é diferente
de um gerador de excitação independente, porque a corrente de campo da
máquina depende de sua tensão de terminal. Para compreender a característica
de terminal de um gerador em derivação, comece com a máquina a vazio e
adicione carga, observando o que acontece.
À medida que a carga do gerador aumenta, IL cresce e, portanto, IA = IF + IL↑
também. Uma elevação de IA aumenta a queda de tensão IAR A na resistência
de armadura, fazendo VT = EA – IA↑R A diminuir. Esse comportamento é pre-
cisamente o mesmo observado em um gerador de excitação independente.
Entretanto, quando VT diminui, a corrente de campo da máquina diminui
junto. Isso faz o fluxo da máquina diminuir, reduzindo também EA. A queda
em EA causa uma nova diminuição na tensão de terminal VT = EA ↓– IAR A.
A característica de terminal resultante está mostrada na Figura 11. Observe
que a queda de tensão é mais acentuada do que simplesmente a queda IAR A
18 Gerador CC I

do gerador de excitação independente. Em outras palavras, a regulação de


tensão desse gerador é pior do que a do mesmo tipo de equipamento, em que
a excitação é conectada em separado (CHAPMAN, 2013).

VT

IARA

Efeito do enfraquecimento
de campo

IL

Figura 11. Característica de terminal de um gerador CC em derivação.


Fonte: Chapman (2013, p. 538).

A tensão de terminal de um gerador CC de excitação shunt pode ser con-


trolada por meio da mudança de tensão interna gerada EA da máquina. Pela lei
de Kirchhoff das tensões, temos VT = EA – IAR A. Assim, se EA aumentar, então
VT aumentará, e se EA diminuir, VT diminuirá. Como a tensão interna gerada
EA é dada pela equação EA = KΦωm, há dois modos possíveis de controlar a
tensão desse gerador.

1. Alterar a velocidade de rotação. Se ωm aumentar, então EA =


KΦωm↑aumentará, de modo que VT = EA↑ – IAR A também aumentará.
2. Alterar a corrente de campo. Se R F for diminuída, então a corrente de
campo aumentará ( ). Portanto, o fluxo Φ da máquina crescerá.
Quando isso acontece, EA = KΦ↑ωm também deve crescer, de modo que
VT = EA↑ – IAR A aumenta.

A variação da resistência de campo é o método principal usado para con-


trolar a tensão de terminal dos geradores em derivação reais.
Gerador CC I 19

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Book-


man, 2013. 700 p.
UMANS, S. D. Máquinas elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7. ed. Porto Alegre: AMGH;
Bookman, 2014. 728 p.

Leituras recomendadas
DEL TORO, V. Fundamentos de máquinas elétricas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1994. 574 p.
HAYT JUNIOR, W. H.; BUCK, J. A. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman,
2013. 616 p.
KOSOW, I. L. Máquinas elétricas e transformadores. 15. ed. Porto Alegre: Globo, 2011. 667 p.

Você também pode gostar