Você está na página 1de 185

DIREITO EMPRESARIAL

Acesse também o vídeo sobre o capítulo pelo link:


somos.in/OABE1813

Marcelo Sacramone

Doutor e Mestre em Direito Comercial pela USP. Bacharel em Direito pela


USP. Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de São Paulo em exercício na
2ª Vara de Recuperações, Falências da Capital. Professor de Direito
Empresarial da PUC-SP. Professor nos Cursos de Pós-Graduação da
Escola Paulista da Magistratura (EPM) e do IBMEC. Autor de livros e
artigos jurídicos.

Sumário

1. Introdução: 1.1. Origem e evolução do direito empresarial; 1.2. Conceito;


1.3. Princípios; 1.4. Autonomia do direito empresarial; 1.5. Fontes do
direito empresarial – 2. Empresa e empresário: 2.1. O conceito de
empresa; 2.2. O conceito de empresário; 2.3. Atividades econômicas civis;
2.4. Espécies de empresários; 2.5. Empresa individual de responsabilidade
limitada (EIRELI); 2.6. Produtor rural; 2.7. Capacidade; 2.8. Impedimento;
2.9. Obrigações dos empresários; 2.9.1. Escrituração dos livros
empresariais; 2.9.2. Empresário inativo; 2.10. Nome empresarial; 2.10.1.
Proteção ao nome empresarial – 3. Estabelecimento empresarial: 3.1. O
conceito de estabelecimento empresarial; 3.2. Atributos do
estabelecimento comercial; 3.3. Trespasse – 4. Contratos empresariais:
4.1. Contrato de leasing; 4.2. Contrato de franquia; 4.3. Contrato de
corretagem; 4.4. Contrato de abertura de crédito – 5. Sociedades: 5.1.
Contrato de sociedade; 5.2. Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno
Porte (EPP); 5.3. Classificação das sociedades; 5.3.1. Quanto à natureza
da atividade; 5.3.2. Quanto à importância dos sócios ou do capital; 5.3.3.
Quanto à responsabilidade dos sócios; 5.3.4. Quanto à aquisição de
personalidade jurídica; 5.4. Sociedades não personificadas; 5.4.1.
Sociedade em comum; 5.4.2. Sociedade em conta de participação; 5.5.
Personalidade jurídica e desconsideração; 5.6. Sociedades com
personalidade jurídica; 5.6.1. Sociedades simples; 5.6.1.1. Deliberações
sociais; 5.6.1.2. Administração da sociedade simples; 5.6.1.3. Resolução e
dissolução da sociedade simples; 5.6.2. Sociedade limitada; 5.6.2.1.
Constituição; 5.6.2.2. Obrigações e direitos dos sócios; 5.6.2.3.
Responsabilidade dos quotistas na sociedade limitada; 5.6.2.4.
Modificação do capital social; 5.6.2.5. Quotas sociais; 5.6.2.6. Órgãos da
sociedade limitada; 5.6.2.6.1. Assembleia geral de quotistas; 5.6.2.6.2.
Administração da sociedade limitada; 5.6.2.6.3. Conselho fiscal da
sociedade limitada; 5.6.2.7. Dissolução da sociedade; 5.6.3. Sociedade
anônima; 5.6.3.1. Classificação das sociedades anônimas; 5.6.3.2.
Constituição da sociedade anônima; 5.6.3.3. Capital social da sociedade
anônima; 5.6.3.4. Acionistas da sociedade anônima; 5.6.3.5. Acionista
controlador; 5.6.3.6. Acordo de acionistas; 5.6.3.7. Valores mobiliários;
5.6.3.7.1. Ações; 5.6.3.7.2. Partes beneficiárias; 5.6.3.7.3. Debêntures;
5.6.3.7.4. Bônus de subscrição; 5.6.3.7.5. Commercial paper; 5.6.3.8.
Órgãos sociais; 5.6.3.8.1. Assembleia geral de acionistas; 5.6.3.8.2.
Administradores; 5.6.3.8.2.1. Conselho de administração; 5.6.3.8.2.2.
Diretores; 5.6.3.8.3. Conselho fiscal; 5.6.4. Sociedade em nome coletivo;
5.6.5. Sociedade em comandita simples; 5.6.6. Sociedade em comandita
por ações; 5.6.7. Sociedades cooperativas; 5.7. Operações societárias – 6.
Falência e recuperação de empresas: 6.1. Histórico; 6.2. Sujeitos à lei de
falência e de recuperação; 6.3. Competência para o processo de falência e
de recuperação; 6.4. Falência; 6.4.1. Conceito de falência; 6.4.2. Juízo
universal e indivisível; 6.4.3. Autor do pedido de falência; 6.4.4.
Fundamentos do pedido; 6.4.4.1. Impontualidade injustificada; 6.4.4.2.
Execução frustrada; 6.4.4.3. Prática de atos falimentares; 6.4.5.
Contestação e depósito elisivo; 6.4.6. Sentença denegatória da falência;
6.4.7. Sentença declaratória de falência; 6.4.8. Órgãos da falência; 6.4.8.1.
O juiz; 6.4.8.2. O Ministério Público; 6.4.8.3. O administrador judicial;
6.4.8.4. Assembleia geral de credores; 6.4.8.5. Comitê de credores; 6.4.9.
Efeitos da falência; 6.4.10. Procedimento falimentar; 6.4.11. Verificação de
créditos; 6.4.12. Arrecadação e liquidação dos bens; 6.4.13. Classificação
do crédito na falência; 6.4.13.1. Créditos extraconcursais; 6.4.13.2.
Créditos concursais; 6.4.14. Encerramento; 6.5. Recuperação judicial;
6.5.1. Créditos submetidos à recuperação judicial; 6.5.2. Processamento
da recuperação judicial; 6.5.3. Plano de recuperação judicial; 6.5.4.
Decisão sobre o plano de recuperação judicial; 6.5.5. Período de
fiscalização; 6.5.6. Convolação em falência; 6.5.7. Plano especial de
recuperação de EPP e ME; 6.6. Recuperação extrajudicial; 6.7. Insolvência
transnacional – 7. Propriedade industrial: 7.1. Patente; 7.2. Desenho
industrial; 7.3. Marca; 7.4. Indicação geográfica – 8. Títulos de crédito: 8.1.
Classificação; 8.1.1. Quanto à natureza; 8.1.2. Quanto à tipicidade; 8.1.3.
Quanto ao modo de circulação; 8.1.4. Quanto ao emissor; 8.1.5. Quanto à
estrutura jurídica; 8.2. Letra de câmbio; 8.3. Nota promissória; 8.4.
Cheque; 8.4.1. Endosso e cessão de crédito; 8.4.2. Aval; 8.4.3.
Pagamento; 8.4.4. Prescrição; 8.4.5. Tipos de cheque; 8.5. Duplicata;
8.5.1. Aval e endosso; 8.5.2. Protesto; 8.5.3. Prescrição; 8.5.4. Duplicata
escritural, eletrônica ou virtual – Questões.
■ 1. INTRODUÇÃO
■ 1.1. Origem e evolução do direito empresarial
O Direito Empresarial origina-se na Idade Média, com o
surgimento da burguesia. Pode-se dividir evolução em três fases.
A primeira fase é chamada subjetivista. Ligada à origem do direito
empresarial, a fase subjetivista decorre da aplicação do estatuto das
corporações de ofício pelos tribunais consulares apenas aos
comerciantes inscritos nas corporações. O direito comercial nasce
como um direito corporativo, aplicado apenas aos membros das
corporações de ofício.
Com o crescimento da importância das corporações de ofício e
dos Tribunais Consulares, passou-se a aplicar esse direito aos
comerciantes que não estavam inscritos nas corporações de ofício,
bem como em relações entre comerciantes e não comerciantes. A
incidência das normas não mais se fazia em razão da inscrição nas
corporações de ofício. Importava mais a natureza do ato praticado.
Com o fortalecimento do Estado Nacional e a Revolução Francesa
de 1789, que pugnou pelo ideal de igualdade entre todos, surge a
fase objetivista. Essa segunda fase do direito comercial, consagrada
no Código Comercial Francês de 1807 (Código Napoleônico), limitou
os Tribunais do Comércio (sucessor dos tribunais consulares) a
apreciarem questões que envolviam os atos de comércio.
No Brasil, o Código Comercial de 1850 adotava esse sistema. Ele
estabelecia a aplicação aos que fizessem da mercancia profissão
habitual. O Regulamento 737 disciplinava que a mercancia era a
prática de atos de comércio e indicava quais eram assim
considerados, como a compra e venda, operações de câmbio,
banco e corretagem, atividade industrial etc.
Ainda que entendida a enumeração legal como meramente
exemplificativa, não existia uma definição clara do que era
considerado ato do comércio e do que era considerado ato civil. O
desenvolvimento implicava o surgimento contínuo de novas práticas
e a adoção de atividades tradicionalmente civis na dinâmica
comercial.
Essas críticas fizeram com que, independentemente da
identificação do negócio como tipicamente mercantil, fosse
caracterizado como mercantil a atividade econômica profissional e
organizada para a produção e circulação de bens ou serviços. A
partir do Código Civil italiano de 1942 e adotado pelo Código Civil
brasileiro de 2002, surge a terceira fase do direito comercial: a
empresa.

■ 1.2. Conceito
O Direito Empresarial caracteriza-se pelo conjunto de regras
destinado a disciplinar o exercício da atividade econômica
profissional e organizada, voltada à produção e circulação de bens e
serviços: a empresa. Disciplina também institutos típicos que, ainda
que não ligados diretamente à empresa, pois poderão ser realizados
por pessoas que não os empresários, possuem características
específicas e que exigem regulação peculiar. São exemplos de
institutos tipicamente empresariais os títulos de crédito.
Três características básicas identificam o ramo do direito
empresarial: o informalismo, o cosmopolitismo e a onerosidade.
O informalismo é característica do direito empresarial. Como esse
ramo surge para disciplinar a atividade dos empresários, uma
atividade dinâmica e célere no mercado, as normas de direito
empresarial devem evitar impor formas solenes e rígidas ou
exigências excessivas para a realização dos negócios jurídicos.
O cosmopolitismo é decorrente da necessidade de contratar,
independentemente das fronteiras nacionais. O direito empresarial
não se restringe às trocas internas a uma nação, mas permite a
contratação entre agentes situados em diversos países. A
regulamentação dessas trocas é realizada, em diversos desses
casos, por convenções internacionais, as quais, de modo a garantir
uma abordagem universalista ao direito empresarial, foram
reproduzidas em parte na legislação nacional, como as leis
uniformes da letra de câmbio, da nota promissória etc.
Por fim, a característica mais importante: a onerosidade. Definida
como a disciplina da atividade econômica organizada e profissional
voltada à produção e circulação de bens e serviços, pressupõe-se
que os atos sejam praticados com a finalidade lucrativa. Como
realizada a atividade profissionalmente, o empresário aufere
rendimentos em razão desta, de modo que se presume que os
diversos atos e contratos celebrados são onerosos.

■ 1.3. Princípios
Alguns princípios básicos orientam a disciplina da atividade
desenvolvida pelo empresário. Dentre os princípios mais
importantes, despontam a livre-iniciativa, a liberdade de
concorrência e a função social da propriedade.
A livre-iniciativa é a ampla possibilidade de criar e explorar uma
atividade econômica pelos empresários, os quais apenas poderão
ter a liberdade de atuação restrita por lei ou pela própria vontade.
Une-se com a livre-iniciativa a liberdade de concorrência. Essa parte
do pressuposto de que apenas a livre concorrência entre os
diversos agentes permitiria um maior desenvolvimento nacional,
com a melhoria dos serviços e produtos e uma redução dos preços,
caracteriza-se pela liberdade dos agentes de atuarem
economicamente, inclusive disputando mercados com outros
agentes.
Ambas as liberdades, entretanto, devem se harmonizar com o
princípio da função social da propriedade. A atividade produtiva
envolve o interesse de diversas pessoas, as quais sofrem os efeitos
da atividade tal como o empresário. O interesse econômico do
empresário deve ser harmonizado, nesse ponto, com esses demais
interesses, os quais são também protegidos pela legislação durante
o desenvolvimento da atividade, como o interesse dos empregados,
na manutenção dos postos de trabalho, dos consumidores, com a
melhoria dos produtos, da coletividade como um todo, por permitir o
desenvolvimento econômico nacional.

■ 1.4. Autonomia do direito empresarial


A teoria da empresa fora consagrada pelo Código Civil brasileiro
de 2002, o qual unificou o direito das obrigações. As obrigações
contratadas por empresários e por não empresários possuem no
Código Civil uma fonte comum.
O Código Civil de 2002, entretanto, não revogou totalmente o
Código Comercial de 1850. O Código Comercial permanece em
vigor em sua Parte Segunda, a qual disciplina o comércio
marítimo.
A unificação do direito obrigacional não acabou com a autonomia
do direito empresarial. Esse direito permanece com institutos típicos
e possui princípios específicos para disciplinar uma atividade que é
desempenhada de modo peculiar pelos empresários, com
onerosidade e celeridade, sem formalismos.
O direito empresarial continua autônomo e permanece como
sistema com princípios próprios e normas específicas de atuação.
■ 1.5. Fontes do direito empresarial
As fontes são os elementos dos quais as normas de direito
empresarial podem ser extraídas. Classificam-se em fontes
primárias e secundárias.
As fontes primárias são as de aplicação imediata, com preferência
sobre as demais fontes. São consideradas fontes primárias a lei. No
âmbito do direito empresarial, o Código Civil é o regulamento básico
ao disciplinar a empresa em sua Parte Especial, Livro II, e ao
regular os títulos de crédito, no Livro I. Há, ainda, diversas
legislações esparsas, dentre as quais o próprio Código Comercial de
1850, ao regular, em sua Segunda Parte, o comércio marítimo; a Lei
de falências, Lei n. 11.101/2005; a Lei de Sociedade por Ações, Lei
n. 6.404/76, dentre outras.
As fontes secundárias, por seu turno, são as aplicáveis na
hipótese de lacuna legislativa. Na hipótese de não existir
regulamentação legal da questão, são aplicáveis ao caso a
analogia, os usos e costumes e os princípios gerais de direito,
conforme art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
■ 2. EMPRESA E EMPRESÁRIO
■ 2.1. O conceito de empresa
A empresa não fora definida pelo Código Civil. Como fenômeno
econômico, a empresa poderia ser decomposta em diversos perfis e
foi utilizada com diversos sentidos nas diversas legislações
nacionais, ora como sinônimo de empresário, ora como sinônimo de
estabelecimento, ora como instituição.
No Código Civil, o conceito de empresa pode ser apreendido da
definição de empresário, como definido no art. 966. Nesse ponto, a
empresa pode ser caracterizada como a atividade desempenhada
pelo empresário, uma atividade econômica profissional e organizada
voltada à produção de bens e serviços.

■ 2.2. O conceito de empresário

Por atividade, é necessário um conjunto de atos destinados a um


fim. Não basta um único ato, mas que sejam praticados
continuadamente.
A atividade deve ser econômica. Os atos devem ser destinados a
produzir riqueza, de modo que o lucro é pressuposto de seu
desenvolvimento. Econômica, também, é a atividade destinada ao
mercado. Os bens e serviços produzidos devem ser destinados ao
mercado e não à utilização do próprio agente.
Os atos devem ser praticados pelo empresário de modo
profissional. Como profissional, o empresário deve deter o
monopólio da informação. Ele deve possuir o conhecimento técnico
para a realização da atividade. Outrossim, a profissão também
indica atividade não eventual. O empresário faz dessa prática
habitual de atos o modo de obter rendimentos ao longo do tempo.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813

Para o seu desenvolvimento, o empresário deverá organizar os


diversos fatores de produção. A organização é da essência dos atos
praticados, mas não pressupõe o concurso do trabalho de terceiros.
É empresário aquele que desenvolve atividade ainda que sozinho,
como uma produção totalmente automatizada. Basta que haja uma
organização do empresário de todos os fatores de produção, como
máquinas e mercadorias, para a produção do bem pretendido.

■ 2.3. Atividades econômicas civis


Exceção ao conceito de empresário é aquele que exerce atividade
civil.
A prestação de serviços era considerada, antes da unificação do
direito obrigacional realizada pelo Código Civil, atividade tipicamente
civil. Com o Código Civil, que conceituou como empresarial a
atividade econômica profissional e a organização para a produção
ou circulação de bens ou serviços, estes últimos também são
considerados atividades tipicamente empresariais.
Ao conceituar as atividades empresariais, entretanto, o Código
Civil as diferenciou das atividades econômicas civis. São esses atos
praticados por aqueles que exercem profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso
de auxiliares ou colaboradores, a menos que constitua elemento de
empresa.
Por elemento de empresa entende-se que a atividade intelectual é
inserida em uma organização maior. A atividade intelectual, com as
qualidades pessoais do sujeito que a desenvolve, é inserida como
um fator de produção, entre os demais, para a realização de uma
atividade maior, o que descaracteriza essas qualidades pessoais. É
a diferença observada em um médico, o qual, ao exercer atividade
intelectual científica, não é considerado empresário. A partir do
momento em que está inserido em um hospital, ele se torna
elemento de uma empresa, compreendida, no caso, como a
atividade hospitalar como um todo.

■ 2.4. Espécies de empresários


O empresário poderá ser pessoa física ou pessoa jurídica. A
pessoa física que exerce a atividade econômica organizada e
profissional é chamada de empresário individual de
responsabilidade ilimitada. Esse, como não tem personalidade
distinta, possuirá responsabilidade ilimitada pelas obrigações
contraídas como empresário. O empresário individual poderá ter
CNPJ (cadastro nacional de pessoas jurídicas) para se beneficiar de
regime fiscal diferenciado, mas ainda assim será pessoa física e não
pessoa jurídica.
A atividade empresarial também poderá ser desenvolvida por
pessoa jurídica. A pessoa jurídica poderá ser sociedade ou não. É
pessoa jurídica, mas não é sociedade, pois é composta por um
único integrante, pessoa física, a empresa individual de
responsabilidade limitada (EIRELI).
Também poderão ser empresárias as sociedades, quer tenham ou
não personalidade jurídica. Fundamental para a consideração da
atividade como empresário é o modo pelo qual ela é exercida, e não
o registro em si. São sociedades empresárias as sociedades que
desempenham atividades típicas de empresário e, portanto,
atividade econômica organizada e profissional para a produção e
circulação de bens ou serviços.

■ 2.5. Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI)


Inserida no Código Civil pela Lei n. 12.441/2011, a empresa
individual de responsabilidade limitada foi criada para evitar a
prática dos homens de palha nas sociedades, ou seja, a
necessidade de pluralidade de sócios provocava a inclusão de
algumas pessoas como sócio com capital mínimo e desprezível
apenas para preencher o requisito legal.
A EIRELI caracteriza-se por ser pessoa jurídica a ser integrada
por uma única pessoa, física ou jurídica. Pela Instrução Normativa
do Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI) n.
38/2017, a EIRELI poderá ser constituída tanto por uma pessoa
física quanto por uma pessoa jurídica.
Essa pessoa será a titular de todo o capital social, o qual deverá
ser superior a 100 salários mínimos. A pessoa jurídica que integra a
EIRELI não poderá integrar mais de uma EIRELI.
A EIRELI poderá resultar do fim da pluralidade de sócios de uma
sociedade, independentemente da causa, e será regida,
supletivamente, pelas normas das sociedades limitadas. Dessa
forma, a pessoa que lhe integra somente responderá nos limites da
integralização do capital social pelas dívidas sociais.
O patrimônio da EIRELI é autônomo em relação ao patrimônio da
pessoa que a constituiu. A menos que haja desconsideração da
personalidade jurídica, nas hipóteses de confusão patrimonial ou
desvio de finalidade o instituidor da EIRELI não responde pelas suas
dívidas, a menos que o capital não esteja integralizado, situação
que lhe exigirá a responsabilização nos limites dessa integralização.
Outrossim, diante da aplicação das normas da sociedade limitada,
os administradores da EIRELI deverão ser pessoas físicas, mas
poderão ser o próprio instituidor ou terceiro.
A EIRELI poderá desenvolver qualquer atividade. Poderá ser
atribuída à EIRELI a remuneração decorrente da cessão de direitos
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que
seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade
profissional.

■ 2.6. Produtor rural


Em razão da extensão territorial do Brasil e da diversidade entre
regiões facultou ao produtor rural, independentemente da
complexidade e da organização de sua atividade, caracterizar-se
como empresário.
Sem o registro, ainda que desenvolva sua atividade de modo
organizado e profissional, o produtor não se caracteriza como
empresário.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813

A exigência de registro para a caracterização do empresário


ocorre apenas para o produtor rural.

■ 2.7. Capacidade
A atividade empresarial poderá ser desempenhada apenas por
aqueles que estão em pleno gozo da capacidade civil. São
absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil os
menores de 16 anos, assim como são relativamente incapazes os
maiores de 16 e menores de 18 anos, os ébrios habituais e os
viciados em tóxico e os que, mesmo que por causa transitória, não
conseguem exprimir sua vontade. Ambos não poderão exercer
atividades empresariais.
Exige-se para o empresário a capacidade plena. Apenas se
excetua o menor púbere que possua estabelecimento comercial que
lhe forneça economia própria, pois esse poderá ter capacidade civil
plena através da emancipação.
Ainda que para se iniciar a atividade o empresário deva ter
capacidade civil plena, possível o exercício por incapaz, desde que
a incapacidade seja superveniente ao desenvolvimento da atividade.
O incapaz, seja ele relativo ou absoluto, poderá somente continuar a
empresa, desde que essa atividade tenha sido exercida antes por
ele, enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança que lhe
beneficia.
Para tanto, esse exercício deverá ser desempenhado por
representação do curador, se absolutamente incapaz, ou pela
assistência do tutor, se relativamente incapaz.

A continuidade não prejudica os direitos adquiridos por terceiros,


embora não fiquem sujeitos ao resultado da empresa os bens que o
incapaz já tinha, desde que estranhos a essa, quando ocorreu a sua
incapacidade ou a sucessão daquele que a exercia anteriormente.
Essa não submissão pretende preservar os bens do menor de um
eventual insucesso da empresa.

■ 2.8. Impedimento
Impedimento é uma impossibilidade pessoal de alguns, em razão
da função exercida, de desempenharem a atividade empresarial.
Estão impedidos de a desempenharem os falidos até a extinção
das obrigações ou, se condenados por crime falimentar, até cinco
anos após a extinção da punibilidade ou reabilitação penal (arts. 102
e 181 da Lei n. 11.101/2005).
Os servidores públicos não podem exercer atividade empresarial
nem participar da administração de sociedades. Tampouco podem
realizar atividade empresária os magistrados e membros do
Ministério Público.
Não a poderão exercer também os deputados e senadores.
Esses, além disso, não poderão ser proprietários, controladores ou
ter direitos de sociedades que realizem contratos com pessoa
jurídica de direito público.
Ainda que impedidos de realizarem a atividade empresarial, caso
a realizem, os agentes não ficam isento das obrigações contraídas.

■ 2.9. Obrigações dos empresários


A lei determina que é obrigatório aos empresários o registro.
Como já visto, o registro não é imprescindível para a caracterização
do agente econômico como empresário, com exceção do produtor
agropecuário, mas sua falta impedirá que o empresário obtenha
alguns benefícios legais, como a recuperação judicial, ou que possa
requerer a falência de outro empresário. O empresário sem registro
continua a ser empresário, embora irregular.
Outrossim, terá a obrigação de escriturar os livros mercantis e
deverá levantar balanço patrimonial anualmente.
Enquanto o empresário deverá inscrever-se no Registro Público
de Empresas Mercantis, as demais sociedades deverão inscrever
seus atos constitutivos no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. O
registro deverá ocorrer em 30 dias da assinatura do ato, para ter
efeitos ex tunc. Do contrário, terá efeito apenas ex nunc.

Inscrição com mais de 30 dias da Efeitos ex nunc: só produzem efeitos a


assinatura. partir do registro.

Inscrição com menos de 30 dias da Efeitos ex tunc: retroagem à assinatura do


assinatura. ato.

O Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis é


composto pela Junta Comercial, com atribuição estadual, e pelo
Departamento de Registro de Empresas e Integração (DREI),
sucessor do antigo Departamento Nacional de Registro do Comércio
(DNRC).

A função de cada uma das Juntas Estaduais é a de execução,


principalmente. Compete às Juntas as matrículas dos auxiliares do
comércio, como leiloeiros, tradutores públicos, administradores de
armazéns gerais, o arquivamento dos documentos relativos às
sociedades mercantis e às cooperativas. Também deverão ser
arquivados na Junta os pactos e declarações antenupciais dos
empresários, o título de doação, herança, legado, bem como a
sentença que decreta ou homologa o divórcio do empresário.
Além do registro do empresário, a Junta Comercial tem atribuição
para a autenticação dos livros comerciais. Cumpre às Juntas
Comerciais, ainda, o assentamento dos usos e práticas
mercantis.
A Junta não faz apreciação de mérito dos referidos documentos. A
análise é apenas formal. Seus atos poderão ser realizados por
decisão do Presidente da Junta, por Vogal, ou ainda pelo Plenário
ou pelas Turmas. Das decisões singulares dos vogais ou da Turma
cabe recurso ao Plenário. As decisões do Plenário são recorríveis
ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração,
como última instância administrativa (art. 44 da Lei n. 8.934/94,
alterado pela Lei n. 13.874/2019). Todos os recursos possuem o
prazo de 10 dias úteis e não terão efeito suspensivo.
O DREI tem por função supervisionar e coordenar as Juntas
Comerciais. Sua principal atribuição, contudo, é normativa. É ele
quem estabelece as normas e diretrizes ao Registro Público de
empresas mercantis.

■ 2.9.1. Escrituração dos livros empresariais


Além do registro, aos empresários é obrigatória a escrituração dos
livros empresariais. Os livros podem tomar a forma de fichas, se
escrituração mecânica ou eletrônica.
Se regularmente escriturados, os livros provam em favor do
empresário. Caso não, apenas contra este. Para isso, precisam ser
autenticados pelo Registro Público de Empresas Mercantis.
É livro obrigatório comum a todos os empresários o Livro Diário,
em que lançadas diariamente as operações empresariais. Outros
livros são obrigatórios apenas se realizadas pelo empresário
determinadas atividades. É o caso dos livros de registro de ações
nominativas, livro de transferência de ações nominativas, registro de
partes beneficiárias, livro de registro de duplicatas. Sem prejuízo, o
empresário poderá adotar qualquer outro livro para auxiliar no
registro de sua atividade. São os livros facultativos, como o livro-
caixa, contas etc.
Em regra, os livros são protegidos a partir do princípio do sigilo. A
divulgação de suas informações é restrita, mas poderá ser atenuada
por determinação judicial de exibição se houver discussão sobre a
sociedade, administração ou em caso de falência.
Por fim, os empresários deverão ainda levantar balanço
patrimonial e de resultado, anualmente.

■ 2.9.2. Empresário inativo


A falta de arquivamento pelo empresário durante 10 anos
consecutivos na Junta Comercial exige que essa notifique o
empresário para se manifestar. Decorrido o prazo atribuído pela
própria Junta Comercial sem manifestação do empresário, a Junta
Comercial cancelará o registro do empresário.
Cancelado o registro, o empresário passa a ser considerado
irregular e perderá a proteção ao nome empresarial.

■ 2.10. Nome empresarial


O nome empresarial permite a identificação do empresário pelos
demais envolvidos na atividade empresarial. Pode ser composto por
firma ou razão social e por denominação e permite a distinção entre
os empresários.
A firma é composta pelo nome civil do empresário individual e
poderá ser facultativamente completada pelo gênero da atividade
(ex.: João da Silva comércio de brinquedos).
A razão social ou firma social, por seu turno, é a utilização da
firma para as sociedades. Ela é composta pelo nome civil de mais
de um dos sócios da sociedade, embora não precise ser de todos
eles. Basta a inclusão da expressão “e companhia”.

Na razão social, será incluído o nome dos sócios de


responsabilidade ilimitada ou o de um deles acompanhado da
expressão “e companhia”. São exemplos as sociedades em nome
coletivo e a sociedade em comandita simples. Nessa última, como
há sócios de responsabilidade limitada e ilimitada, apenas os sócios
de responsabilidade ilimitada devem figurar na razão social.
A denominação social, por seu turno, é a segunda forma de
composição do nome empresarial. A denominação é integrada por
um elemento fantasia e pela atividade a ser desenvolvida. O ramo
de atividade é obrigatório na denominação.
Como elemento fantasia, será possível a adoção de qualquer
nomenclatura. Poderá também ser utilizado como elemento fantasia
o nome de um fundador, acionista ou pessoa que se pretende
homenagear por ter auxiliado ou inspirado o desenvolvimento da
empresa, ainda que não seja integrante desta.

Para se diferenciar dos demais tipos, deverá incluir a palavra


“limitada” ou “Ltda.” ao final do nome.
Essa possibilidade de adoção da firma ou da denominação
também é conferida às sociedades em comanditas por ações e às
EIRELIs, desde que integradas por pessoa natural. Nas comanditas
por ações, caso adotem firma, os nomes dos sócios diretores, que
respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais, devem integrar
o nome empresarial. Firma ou denominação, o nome empresarial
deverá ser acompanhado da expressão “comandita por ações”.
As empresas individuais de responsabilidade limitada, por seu
turno, deverão ter, ao final do nome empresarial, seja ele firma ou
denominação, a expressão EIRELI. Para a formação de seu nome,
há uma exceção legal. Caso adote a denominação, o objeto social
não é de menção obrigatória, mas apenas facultativa, o que difere
da regra geral.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813


A denominação é de adoção obrigatória apenas nas sociedades
anônimas. O elemento fantasia, acompanhado da indicação do
objeto social, deverá ser somado à expressão “sociedade anônima”
ou “companhia”, ou de forma abreviada. A única exceção é que a
palavra “companhia” não poderá ser incluída ao final, para distinguir
das sociedades que usam razão social. A expressão “sociedade
anônima”, por seu turno, poderá ser inserida no começo, meio ou
fim.

Obrigatório
Empresário individual João da Silva
firma

Sociedade em nome Obrigatório


João da Silva & Cia.
coletivo firma

Sociedade em Obrigatório João da Silva & Cia.


comandita simples firma (João é sócio comanditado)

Firma João da Silva & Cia. Ltda.


Sociedade limitada Mundo do João Comércio de
Denominação
brinquedos Ltda.

Firma João da Silva EIRELI


EIRELI
Denominação Mundo do João EIRELI

João da Silva & Cia. Comandita por


Firma ações.
Sociedade em (João é o diretor)
comandita por ações
Mundo do João Comércio de
Denominação
brinquedos Comandita por ações.

Sociedade anônima Obrigatório Mundo do João Comércio de


denominação brinquedos S.A.
Companhia Mundo do João Comércio
de brinquedos

■ 2.10.1. Proteção ao nome empresarial


O nome empresarial permite sua utilização exclusiva pelo seu
titular, o que impede que consumidores sejam levados a erro por
nomes semelhantes entre empresários. Em razão dessa finalidade,
o nome empresarial é protegido apenas no ramo determinado de
atividade do titular. Nomes idênticos em atividades diversas não
permitem o engano dos consumidores.
Essa proteção é feita pela inscrição do empresário ou dos atos
constitutivos da sociedade na Junta Comercial. Como os limites de
atribuição das Juntas Comerciais são estaduais, a proteção pela
utilização é garantida nos limites do Estado em que a inscrição foi
feita. A proteção é estendida a outro Estado se houver nele o
registro de abertura de filial. Do contrário, se pretende a proteção
em outro Estado, o empresário deverá arquivar o nome empresarial
nas demais Juntas Comerciais das localidades em que pretende a
proteção.
A comparação para evitar nomes idênticos ou próximos é feita
entre os núcleos, desde que não sejam de uso generalizado.
Nesses casos, a comparação é feita com os nomes por inteiro.
■ 3. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
■ 3.1. O conceito de estabelecimento empresarial
Para desenvolver a atividade empresarial, o empresário deve
organizar os diversos fatores de produção. Estabelecimento
empresarial é o complexo de bens utilizado pelo empresário para
exercer a empresa. É conhecido também como fundo de comércio.
Não são todos os bens do empresário que compõem o
estabelecimento. Apenas os bens organizados para o exercício da
atividade é que integram essa universalidade de fato.

Dentre os elementos que o compõem, podem ser incluídos os


bens materiais, tanto coisas móveis quanto imóveis, como os bens
imateriais. Integram esses bens imateriais o ponto comercial,
direitos sobre propriedades industriais, como patentes de invenções
ou modelos de utilidade, e registros de desenhos industriais e de
marcas.
Dentre esses elementos imateriais, o ponto comercial possui
disciplina peculiar.
Ele pode ter existência real ou virtual e não exige o título de
propriedade, eis que o imóvel, por exemplo, em que é desenvolvida
a atividade pode ser alugado. Tratando-se de contrato de locação, o
ponto comercial é protegido inclusive contra o locador.
Ao locatário, ainda que contrário à vontade do locador, é conferida
a proteção ao ponto comercial de modo a permitir a renovação
compulsória do contrato de locação não residencial, nos termos do
art. 51 da Lei n. 8.245/91.

Preenchidos os requisitos, poderá ocorrer a renovação do


contrato de locação. O prazo decadencial para promover a ação
renovatória, contudo, é de um ano a seis meses antes da data de
finalização do prazo do contrato.
A renovação apenas não ocorrerá se o locador precisar retomar o
imóvel em razão de obrigação imposta pelo poder público de
reforma substancial do imóvel ou se, no próprio interesse do
locador, aumente significativamente o valor do imóvel; o locador
pretender usar o imóvel, com a transferência de seu
estabelecimento comercial, de seu cônjuge, ascendentes ou
descendente, desde que existente há mais de um ano. Nesse caso,
o estabelecimento não poderá ter a mesma atividade do locador.
A renovação ainda não ocorrerá se o locatário não oferecer valor
condizente ao preço de mercado ou se houver proposta mais
vantajosa realizada por terceiro.

■ 3.2. Atributos do estabelecimento comercial


A organização do complexo de bens pelo empresário garante ao
estabelecimento algumas características que lhe tornam peculiar em
relação aos demais. Esses atributos podem ser identificados no
aviamento e na clientela.
O aviamento é a qualidade da organização realizada sobre o
complexo de bens empreendida pelo empresário. É a capacidade de
essa universalidade de fato produzir lucros. O aviamento determina
que o valor do estabelecimento como um todo é diverso da simples
soma do valor de cada um dos bens individualmente.
A clientela, por seu turno, não é elemento do estabelecimento,
mas atributo esperado da organização dos bens. É o resultado do
aviamento.
O cliente não se confunde com o freguês. Clientela é o conjunto
de pessoas que mantém uma relação continuada com o
estabelecimento, uma relação duradoura. Freguês, por outro lado, é
o adquirente transitório, ocasional, dos bens do empresário.
A clientela é protegida no campo da concorrência desleal, pois,
embora não haja um direito do empresário ao cliente, há direito a
que não haja o desvio indevido da clientela esperada.

■ 3.3. Trespasse
O estabelecimento empresarial poderá ser objeto de negócios
jurídicos. Para preservar os terceiros, esses contratos somente
produzirão efeitos quanto a esses após a sua averbação à margem
da inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
mercantis.
O contrato de trespasse é o contrato pelo qual o estabelecimento
é alienado a uma terceira pessoa. Consiste na transferência de todo
o estabelecimento mediante o pagamento de um preço. Com a
transferência, o adquirente passará a ser proprietário de todos os
bens organizados para que possa continuar a desenvolver a
atividade empresarial exercida inicialmente pelo vendedor.
Para que isso ocorra, o adquirente se sub-rogará em todas as
posições contratuais do vendedor, desde que não tenham caráter
pessoal. Os terceiros contratantes poderão rescindir o contrato em
90 dias da averbação da transferência, se ocorrer justa causa.
Se, por ocasião do trespasse, o alienante não possuir mais bens
para a satisfação de seus credores, o contrato somente será eficaz
perante os credores se houver o pagamento prévio de todos eles,
ou se eles manifestarem seu consentimento, expressa ou
tacitamente.
Os credores precisarão ser notificados para anuírem com a
alienação. Caso, no período de 30 dias da notificação, não se
oponham a essa, presume-se que anuíram tacitamente à alienação.
O alienante será responsável pelo prazo de um ano,
solidariamente com o adquirente, pelos débitos existentes antes do
trespasse. Referido prazo se inicia, quanto aos débitos já vencidos,
da data da averbação do contrato de trespasse e, quanto aos
vincendos, de seu vencimento.
A responsabilidade do adquirente, contudo, ocorre apenas pelos
débitos regularmente contabilizados. Pelas obrigações não
contabilizadas, responde apenas o alienante.

Débitos Responde solidariamente com o adquirente


contabilizados pelo prazo de 1 ano.
Alienante
Débitos não
Responde exclusivamente
contabilizados

Débitos
Responde solidariamente com o alienante.
contabilizados
Adquirente
Débitos não
Não responde.
contabilizados
■ 4. CONTRATOS EMPRESARIAIS
Ainda que a disciplina contratual esteja unificada no direito privado
e possa ser tratada pelo direito civil, a Lei n. 13.874/2019 procurou
assegurar a livre autonomia entre as partes contratantes, com a
intervenção excepcional do Estado. Notadamente nos contratos
empresariais, característicos por serem integrados por empresários
em ambos os lados da relação contratual, os contratantes têm
absoluta ciência de todos os termos do contrato e dos riscos a que
voluntariamente submeteriam suas prestações.
A liberdade contratual, nesses termos, deve ser exercida nos
limites da função social do contrato (art. 421 do Código Civil). Essa
função social do contrato, contudo, deverá ser entendida como a
circulação de riqueza a que o contrato se destina e é concebida
pelas partes. O Estado não poderá intervir nessa relação para
alterar a vontade das partes ou equilibrá-las na relação jurídica.
Nas relações contratuais privadas prevalecerão o princípio da
intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. Isso
porque, nos termos do art. 421-A do Código Civil, os contratos civis
e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença
de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa
presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis
especiais.
Essa paridade dos contratantes assegura que as partes
negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a
interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de
revisão ou de resolução. Exige que a alocação de riscos definida
pelas partes seja respeitada e observada; e que a revisão contratual
somente ocorra de maneira “excepcional e limitada”.
No mesmo sentido de se garantir a liberdade econômica dos
contratantes para livremente se vincularem pela própria vontade,
determinou a Lei n. 13.874/2019, pela inserção no art. 113 do
Código Civil, que os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Para essa
interpretação, o sentido deverá ser aquele que for confirmado pelo
comportamento das partes posterior à celebração do negócio;
corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas
ao tipo de negócio; corresponder à boa-fé; for mais benéfico à parte
que não redigiu o dispositivo, se identificável; e corresponder àquela
que seria a razoável negociação das partes sobre a questão
discutida, inferida das demais disposições do negócio e da
racionalidade econômica das partes, consideradas as informações
disponíveis no momento de sua celebração.
Para se assegurarem de que os contratos sejam interpretados
conforme a vontade dos contratantes, as partes poderão livremente
pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de
integração dos negócios jurídicos diversas das acima referidas.
Os contratantes, outrossim, desde que pessoas capazes de
contratar, poderão valer-se da arbitragem para dirimir seus litígios. A
arbitragem pode ser estipulada no contrato, desde que verse sobre
direitos patrimoniais disponíveis (Lei n. 9.307/96).
As partes podem inclusive dispor se a arbitragem será de direito
ou de equidade. Se de direito, poderão as partes escolher as regras
de direito aplicáveis, os princípios gerais de direito, os usos e
costumes ou regras internacionais de comércio, a menos que violem
os bons costumes ou a ordem pública. Exceção, a arbitragem que
envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará
o princípio da publicidade.
As partes contratantes poderão submeter a solução dos litígios ao
juízo arbitral mediante compromisso arbitral ou pela cláusula
compromissória.
O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes
submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas,
podendo ser judicial ou extrajudicial.
Por sua vez, a cláusula compromissória é a cláusula contratual
pela qual as partes submetem eventuais litígios que podem surgir à
arbitragem. Ela deve ser estipulada por escrito, podendo estar
inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se
refira. Se for decorrente de contratos de adesão, a cláusula
compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de
instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua
instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em
negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.
A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato
em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica,
necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.
Dentro dos contratos com maior incidência nos exames em direito
empresarial, podem ser apontados os apresentados a seguir.

■ 4.1. Contrato de leasing


O contrato de arrendamento mercantil é conhecido por leasing e
não possui previsão legal típica. Caracteriza-se por ser um contrato
que conjuga o contrato de locação e o contrato de compra e venda.
O arrendatário arrenda (loca) o bem do arrendador com a faculdade
de, ao término do arrendamento, optar pela aquisição do bem, com
o desconto do valor pago pela locação, ou rescindir o contrato ou,
ainda, renovar a contratação, com a substituição do bem arrendado.
Ao final do contrato, o arrendatário, caso opte pela aquisição,
pagará apenas o “valor residual” da aquisição, ou seja, pagará a
diferença do preço com a dedução dos valores utilizados para o
pagamento do aluguel, o Valor Residual Garantido (VRG). Não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil para compra e
venda a antecipação do pagamento do VRG durante todo o
contrato. Conforme a Súmula 293 do STJ, “a cobrança antecipada
do valor residual garantido não descaracteriza o contrato de
arrendamento mercantil”.
Poderá ser feito na modalidade leasing operacional, em que o
próprio fabricante do bem é o arrendante; leasing financeiro,
tradicional, em que o bem a ser arrendado é comprado pela
sociedade financeira intermediária do fabricante para arrendar ao
arrendatário, com a opção de, ao final, o arrendatário adquirir o bem
pelo valor residual; e o lease back, em que o bem é vendido pelo
próprio proprietário do bem à arrendadora, que arrendará o bem ao
antigo proprietário.
Caso o contrato seja rescindido, o valor residual garantido
antecipado durante o pagamento do contrato deverá ser devolvido
ao arrendatário. Todavia, o STJ publicou a Súmula 564,
exclusivamente para o arrendamento mercantil financeiro, em que a
instituição financeira adquiriu o bem do fabricante para arrendar ao
arrendatário. Pela súmula, determinou-se que, no caso de
reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro,
quando a soma da importância antecipada a título de valor residual
garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do
VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber
a respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o
prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.
■ 4.2. Contrato de franquia
O contrato de franquia, por seu turno, é um contrato de
colaboração entre empresários. A franqueadora cede o direito de
uso de marca ou patente de produtos e serviços e/ou o direito de
uso de tecnologia de administração de negócio para o franqueado
mediante pagamento de remuneração, direta ou indireta, sem que
fique caracterizado vínculo empregatício ou relação de consumo,
seja em relação ao franqueado ou a seus empregados, ainda que
durante o período de treinamento.
O franqueador deve ser titular ou requerente de direitos sobre os
objetos da propriedade intelectual negociados pelo contrato de
franquia, ou estar expressamente autorizado pelo titular.
Nada impede, pela nova disciplina legal aprovada para as
franquias, que o contrato seja celebrado por empresa estatal,
privada ou por entidade sem fins lucrativos, independentemente do
segmento em que desenvolva sua atividade. A nova disciplina legal
estabelece expressamente a possibilidade de empresas públicas,
sociedades de economia mista e entidades controladas direta ou
indiretamente pela União, Estados e Municípios celebrarem
contratos de franquia, desde que precedidas de oferta pública,
mediante a publicação em jornal diário de grande circulação onde
será oferecida a franquia, pelo menos anualmente.
Para a celebração do contrato exige-se a emissão de circular de
oferta de franquia (COF), documento por escrito que contenha
todos os elementos do futuro contrato original e seja escrito em
língua portuguesa. A circular deve ser entregue ao franqueado no
prazo de dez dias antes de ser formulado o contrato de franquia
ou do pré-contrato de franquia ou, ainda, do pagamento de qualquer
tipo de taxa e razão do contrato, salvo no caso de licitação ou pré-
qualificação promovida por órgão ou entidades públicas. Nestas
últimas hipóteses, a COF poderá ser divulgada logo no início do
processo de seleção.
A Circular de Oferta de Franquia deverá conter, obrigatoriamente:
histórico, forma societária e nome do franqueador; balanço e
demonstrações financeiras da franqueadora; indicação de todas as
pendências judiciais sobre a operação e sobre o sistema de
franquia; descrição detalhada da franquia; perfil do franqueado ideal;
requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação
e na administração do negócio; especificações quanto ao total
estimado de investimento, valor da taxa inicial de filiação, valor
estimado das instalações; informações claras quanto às taxas,
períodos e valores a serem pagos pelo franqueado; relação de
todos os franqueados; se é garantida ao franqueado exclusividade
territorial, ou possibilidade de realizar vendas fora de seu território,
informações quanto à obrigação do franqueado de adquirir bens e
serviços; indicação dos produtos e serviços oferecidos pelo
franqueador.

São obrigações do franqueador a disponibilização do produto ou


serviço, a assistência técnica, o treinamento do franqueado, o
respeito à territorialidade, se fixada e/ou exclusividade. O
franqueado é obrigado ao pagamento da remuneração, à aquisição
dos produtos do franqueador, à obediência às suas instruções e
submissão à sua supervisão, à manutenção da confidencialidade a
respeito dos métodos comerciais, dentre as demais condições
contratadas.
Pelo contrato de franquia, é possível que haja a sublocação pelo
franqueador ao franqueado do ponto comercial em que instalada a
franquia. Nesse caso, qualquer das partes poderá pleitear a ação
renovatória do contrato de aluguel, sendo vedada a exclusão de
qualquer delas do contrato de locação e de sublocação em sua
renovação ou prorrogação, a menos que haja inadimplência dos
contratos ou do contrato de franquia.
Caso haja sublocação, o valor do aluguel pago pelo franqueado
ao franqueador poderá ser superior ao valor do aluguel pago pelo
franqueador ao locador no contrato de locação originária do ponto
comercial, desde que a possibilidade esteja expressa na COF e o
valor pago a maior não implique excessiva onerosidade ao
franqueado.
O contrato de franquia deverá ser sempre escrito em português e
será regido pela legislação brasileira se os efeitos se produzirem
exclusivamente no território nacional. Casos internacionais deverão
ser traduzidos para a Língua Portuguesa.
As partes poderão eleger juízo arbitral para solução de
controvérsia relacionada ao contrato de franquia.
Terá validade independentemente de ser levado a registro no
cartório ou órgão público. Contudo, caso haja transferência de
tecnologia, para produzir efeitos perante terceiros deverá o contrato
ser registrado no INPI, nos termos do art. 211 da Lei n. 9.279/96.

■ 4.3. Contrato de corretagem


Por apenas mediar o negócio, o corretor somente responde por
perdas e danos se não prestar ao cliente todos os esclarecimentos
acerca da segurança ou do risco, das alterações de valores e de
outros fatores que possam influir nos resultados do negócio.
Responderá, ainda, se não agiu com diligência e prudência na
execução da mediação pela qual foi contratado.
O corretor receberá a remuneração se conseguiu o resultado
previsto no contrato ou se o contrato não foi celebrado em virtude de
arrependimento das partes. Sua remuneração será a convencionada
ou, na sua falta, a arbitrada segundo a natureza do negócio e os
usos locais. Se o negócio for iniciado e concluído pelas partes, sem
a mediação do corretor, a este não será devida remuneração.
Caso o negócio seja concluído posteriormente ao prazo do
contrato de corretagem ou, se por prazo determinado, após a
dispensa do corretor, será devida a remuneração ao corretor se o
negócio se realizou por efeito dos trabalhos iniciais do corretor ou
em decorrência de sua mediação.
Poderá, entretanto, ser estabelecido, por contrato escrito, a
exclusividade do contrato de corretagem. Nessa hipótese, o corretor
terá direito à remuneração, ainda que o negócio tenha se realizado
sem a sua mediação, se foi realizado durante o prazo do contrato e
desde que não tenha sido demonstrada a inércia ou ociosidade do
corretor.
Se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um
corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais, salvo
ajuste diverso incluído no contrato.

■ 4.4. Contrato de abertura de crédito


No contrato de abertura de crédito, uma instituição financeira se
obriga a disponibilizar a seu cliente determinada quantidade de
recursos financeiros durante determinado tempo ou por prazo
indeterminado. Pela utilização dos recursos, o cliente contratante se
obriga a devolver o montante, acrescido de juros e correção
monetária, ao final do contrato ou em prazo estabelecido.
O contrato de abertura de crédito se diferencia do contrato de
mútuo (art. 1.256 do Código Civil), pois, enquanto no mútuo o
contrato se aperfeiçoa com a transferência do dinheiro ao mutuário,
na abertura de crédito o contrato se aperfeiçoa apenas com a
disponibilização dos recursos ao cliente da instituição financeira,
ainda que os valores não sejam por ele utilizados.
O STJ firmou posicionamento no sentido de que o contrato de
abertura de crédito não é título executivo, pois não haveria um valor
certo devido, mas simplesmente seria conferida a possibilidade de
se utilizar determinada quantia. O contrato asseguraria a
disponibilização de valores em determinada conta, os quais
poderiam ou não ser utilizados. A obrigação de pagar determinada
quantia somente existiria, assim, na medida dos valores utilizados e
nos termos do contrato celebrado.
Como o montante devido dependeria dos valores utilizados pelo
cliente da instituição financeira, não haveria liquidez para a
caracterização do título executivo extrajudicial. A despeito do
posicionamento de parte da jurisprudência, o STJ determinou que a
apresentação dos extratos bancários não supriria essa iliquidez. Por
ser documento alheio ao contrato, ser produzido unilateralmente
pela instituição financeira e não ter qualquer concordância do cliente
contratante, os extratos não poderiam ser considerados integrantes
do título executivo extrajudicial.
Nesses termos, a Súmula 233 do STJ esclarece que “o contrato
de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-
corrente, não é título executivo".
Por seu turno, a nota promissória emitida por ocasião da
celebração desse contrato não poderia ser utilizada para contornar
esse óbice da iliquidez. Sua emissão não gozaria de autonomia em
relação ao contrato de abertura de crédito, haja vista que, no
momento em que emitida, por ocasião da celebração do contrato de
abertura de crédito, não se sabia ainda o valor que seria utilizado
pelo cliente e que, portanto, seria por ele devido à instituição
financeira. Nesses termos, assentou a Súmula 258 do STJ que “a
nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não
goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou".
■ 5. SOCIEDADES
■ 5.1. Contrato de sociedade
Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente
se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e para a partilha, entre si, dos resultados.
A sociedade é formada por um conjunto de pessoas e é
decorrente da necessidade de uma pessoa se associar a outra para,
unindo esforços, realizar um empreendimento em comum. Para
tanto, os sócios celebram um contrato plurilateral, em que cada um
dos sócios ocupa um dos polos de uma relação, a qual, portanto, ao
contrário de um contrato bilateral, forma uma relação circular e não
linear. Não há apenas dois polos contratantes, mas diversos,
conforme a quantidade de sócios.
Como qualquer contrato, os contratantes precisam ser capazes
para contratar ou devem estar representados ou assistidos. O
incapaz, que estava proibido de ser empresário, não está
impossibilitado de ser sócio. Em razão da responsabilidade,
determinou-se que os menores poderão ser sócios, desde que o
capital social esteja totalmente integralizado e eles não participem
da administração das sociedades.
Os casados também poderão contrair sociedades. A sociedade,
entretanto, não poderá servir para fraudar o regime matrimonial e,
entendeu a lei, não poderia ser realizada se houvesse apenas um
patrimônio único efetivo, como na comunhão universal.
Nesse ponto, cumpre ressaltar que, independentemente do
regime jurídico do matrimônio, o empresário individual poderá
alienar ou onerar bens sociais independentemente de outorga
conjugal, o que é inadmissível se não fosse empresário.
Além de agente capaz, objeto lícito, possível e determinado ou
determinável e forma prescrita ou não defesa em lei, o contrato de
sociedade exige elementos específicos.
O primeiro desses elementos é a pluralidade de sócios. A
sociedade unipessoal não é permitida no direito brasileiro, à
exceção da sociedade subsidiária integral, em que será possível ter
como acionista uma única sociedade brasileira. A EIRELI, nesse
contexto, é pessoa jurídica empresária, mas não consiste em
sociedade.
A unipessoalidade, entretanto, poderá ser superveniente e
temporária. Durante o desenvolvimento da atividade, a sociedade
poderá ficar com um único sócio, independentemente do motivo a
tanto. Na sociedade anônima, a sociedade será dissolvida de pleno
direito se a pluralidade não for recomposta, após a assembleia que
a constatou, até a do ano seguinte. Nas demais sociedades, o
Código Civil estabelece que elas se dissolverão se a pluralidade não
for recomposta no prazo de 180 dias da redução.
As sociedades também deverão ter capital social. Esse é o
montante formal, inserido no contrato de sociedade, referente aos
bens conferidos pelos sócios para o desempenho da atividade
social.

Ainda deve constar no contrato de sociedade a participação dos


sócios nos lucros e nas perdas. Pela própria definição do contrato
de sociedade, os sócios celebram o contrato para que se beneficiem
do resultado da atividade e, em razão disso, participarão de
eventuais perdas. Por conta disso, a cláusula que exclui qualquer
dos sócios da participação nos resultados ou nas perdas, a
chamada sociedade leonina, é nula.

■ 5.2. Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP)


A Microempresa e Empresa de Pequeno Porte foram protegidas
pela Constituição Federal, que determinou que elas deveriam ter
tratamento diferenciado, com a simplificação de suas obrigações
tributárias e administrativas. O mandamento constitucional foi
regulado pela Lei Complementar n. 123/2006, que garantiu o
tratamento diferenciado a ME e EPP.
Não é a forma de uma pessoa jurídica ou do empresário
individual, mas um benefício tributário concedido a esses, os quais
preservam sua forma jurídica, como sociedade limitada, empresário
individual, EIRELI etc. Acrescenta-se, apenas, ao nome empresarial
a expressão ME ou EPP, abreviadas ou por extenso, no registro
próprio.
São Microempresas as que possuem receita bruta anual igual ou
inferior a R$ 360.000,00, e Empresas de Pequeno Porte as que
tenham desse valor até R$ 3.600.000,00 de receita bruta anual. A
partir de 1º de janeiro de 2018, esse limite será estendido para
R$ 4.800.000,00 de receita bruta anual (LC n. 155/2016). Não
podem assim se caracterizar, contudo, as pessoas jurídicas cujo
sócio seja outra pessoa jurídica ou se ela participa de outra pessoa
jurídica, ou seja filial de outra pessoa jurídica com sede no exterior,
que tenha sócio que seja também sócio de outra pessoa jurídica ME
ou EPP, cuja receita global supere os limites legais; ou cujo sócio
participe com mais de 10% do capital de outra sociedade, cuja
receita somada ultrapasse o limite; ou cujo sócio seja administrador
de sociedade, cuja receita somada ultrapasse os limites legais.
Estão excluídas as cooperativas, exceto as de consumo, as
sociedades por ações, que exerçam atividade bancária, de seguros,
arrendamento etc., bem como as sociedades resultantes de cisão
ou desmembramento nos últimos cinco anos.
As MEs e EPPs podem se beneficiar com uma simplificação do
regime de recolhimento tributário e poderão optar pelo SIMPLES
nacional.
No âmbito comercial, as EPPs e MEs beneficiam-se com a
autorização de que os registros e alterações no Registro Público de
Empresas Mercantis se farão sem a apresentação das Certidões
Negativas de Débitos. Dispensou-se a realização de assembleia e
de reunião para as sociedades, bastando manifestação escrita de
todos os sócios. Dispensou-se, ainda, a publicação de qualquer ato
societário.

■ 5.3. Classificação das sociedades


O Código Civil não reproduziu a sociedade de capital e indústria
existente no Código Comercial de 1850. Previu nove tipos de
sociedades: as sociedades em comum, sociedade em conta de
participação, sociedade simples, sociedade em nome coletivo,
sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade
anônima, sociedade em comandita por ações e sociedade
cooperativa.

■ 5.3.1. Quanto à natureza da atividade


Quanto à natureza da atividade, as sociedades podem ser de
forma empresarial ou sociedades simples. A diferença entre
sociedade comercial e civil não foi reproduzida, pois a prestação de
serviços, considerada como atividade civil anteriormente, é definida
como empresarial no Código Civil atual.
A sociedade será empresarial se exercer atividade própria do
empresário, ou seja, atividade econômica organizada e profissional
voltada à produção de bens ou serviços. São atividades simples as
exercidas por profissionais intelectuais, artísticos, científicos,
literários, a menos que inseridas em uma atividade empresarial.
As sociedades sob a forma empresarial devem adotar um dos
tipos empresariais. São eles: sociedade em nome coletivo,
sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade
anônima ou sociedade em comandita por ações. Nesse caso, as
sociedades empresariais deverão inscrever seus atos constitutivos
no Registro Público de Empresas Mercantis.
■ 5.3.2. Quanto à importância dos sócios ou do capital
As sociedades podem ser de pessoas ou de capital. Nas
sociedades de pessoa, a qualidade dos sócios, suas características
pessoais, são mais importantes do que a contribuição que cada um
deles se obriga.
Por conta dessa característica, na sociedade de pessoas os
demais sócios podem impedir o ingresso de terceiro, como credor
ou herdeiro de sócio falecido, ou mesmo do cessionário. São
exemplos as sociedades em nome coletivo e a sociedade simples.
Nessas, o ingresso de terceiro exige aprovação dos demais sócios.
Na sociedade em comandita, apesar de se caracterizar, a princípio,
como sociedade de pessoas, pois aplicável supletivamente às
normas da sociedade em nome coletivo, poderá haver o ingresso do
herdeiro do sócio falecido, salvo vedação contratual.
Na sociedade de capitais, as contribuições dos sócios para o
capital social é mais relevante do que as qualidades dos sócios.
Como o que importa é o capital, a transferência de ações é livre
para terceiros. Pode ocorrer o ingresso do herdeiro do acionista
falecido, a penhora das ações etc. São exemplos a sociedade
anônima e a comandita por ações.
A sociedade limitada é tipo misto, ora de capital, ora de pessoas,
a depender do contrato social. A sociedade limitada poderá se reger
supletivamente pelas normas da sociedade simples ou pelas
normas da sociedade anônima. O contrato pode prever a livre
transferência das quotas. Caso não o faça, o sócio poderá ceder
sua quota a quem seja sócio, independentemente da vontade dos
demais, mas apenas poderá ceder a terceiros se não houver
oposição de mais de um quarto do capital social (art. 1.057).

■ 5.3.3. Quanto à responsabilidade dos sócios


As sociedades também se classificam quanto à responsabilidade
pessoal dos sócios por obrigações sociais.
Um primeiro tipo de sociedade caracteriza-se pelos sócios serem
ilimitada e solidariamente responsáveis entre si pelas dívidas
sociais. Desde que o patrimônio da sociedade seja insuficiente para
satisfazer as obrigações contraídas, o sócio poderá ser
responsabilizado pelo pagamento da dívida social, em solidariedade
com os demais, até o montante da dívida.
Essa responsabilidade dos sócios é ilimitada e solidária entre si,
mas sempre subsidiária em relação à sociedade. Os sócios somente
serão responsabilizados pessoalmente se os bens sociais forem
insuficientes para a satisfação das obrigações sociais. São
exemplos dessas sociedades, as sociedades em nome coletivo, as
sociedades simples e as sociedades em comum.
As sociedades também podem ser classificadas conforme seus
sócios tenham responsabilidade limitada pelas dívidas sociais.

Caso a sociedade não satisfaça as obrigações sociais com os


seus bens, os sócios, desde que o capital social já esteja
integralizado ou suas ações, não sofrerão qualquer
responsabilidade.
Por fim, há sociedades em que parte dos sócios responde
ilimitadamente e parte limitadamente. É o que ocorre na sociedade
em comandita simples, por ações e na sociedade em conta de
participação.
Na sociedade em comandita simples, o sócio comanditário
responde apenas limitadamente ao valor de sua quota, enquanto o
sócio comanditado responde ilimitadamente. Na sociedade em
comandita por ações, o acionista diretor responde ilimitadamente e
os demais acionistas respondem apenas limitadamente pela
integralização de suas ações. Nas sociedades em conta de
participação, por fim, o sócio ostensivo responde com os bens
pessoais pelas dívidas sociais contraídas, porque o foram em nome
próprio. O sócio participante não responde perante terceiros, mas
apenas perante o ostensivo e nos termos do contrato.

■ 5.3.4. Quanto à aquisição de personalidade jurídica


As sociedades poderão ou não adquirir personalidade jurídica.
Caso o façam, surge nova pessoa jurídica, distinta da pessoa dos
sócios contratantes e que passa a ser a titular dos direitos e sujeito
das obrigações. São sociedades sem personalidade jurídica a
sociedade em comum e a sociedade em conta de participação. Com
personalidade jurídica são todas as demais.
A aquisição da personalidade jurídica faz-se, para as pessoas
privadas, com a inscrição dos atos constitutivos no registro Público
de Empresas Mercantis, se sociedades empresárias, ou no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas. Exceção a tanto ocorre com a
sociedade em conta de participação. Ainda que essa possua o
registro, seu tipo impede que lhe seja conferida personalidade
jurídica.

■ 5.4. Sociedades não personificadas


As sociedades que não possuem personalidade jurídica no direito
brasileiro são as sociedades em comum e as sociedades em conta
de participação.

■ 5.4.1. Sociedade em comum


São sociedades em comum tanto as sociedades que possuíam
atos constitutivos, mas que não estavam inscritos no Registro
Público, chamadas antigamente de sociedades irregulares, como as
sociedades que sequer tinham ato constitutivo escrito, as chamadas
anteriormente de sociedades de fato. Ambas foram consideradas
sociedades em comum pelo Código Civil de 2002, que condicionou
a concessão da personalidade jurídica à inscrição dos atos
constitutivos no registro público competente.
A sociedade existe, porém não tem personalidade jurídica distinta
da de seus sócios membros. Como não tem personalidade distinta,
os bens sociais e obrigações não pertencem a um sujeito diverso,
mas à coletividade dos sócios.
A Lei, entretanto, caracterizou os bens vinculados a essa
atividade como patrimônio especial. Patrimônio especial é diverso
de autônomo. Ele não se separa totalmente do patrimônio da
coletividade dos sócios. Apenas exige que os terceiros, antes de
executarem os demais bens particulares de cada um dos sócios,
executem primeiro os bens sociais.

Esse benefício de ordem imposto pela lei somente não é exigido


em relação ao sócio contratante da obrigação. Em relação a esse
sócio, o terceiro pode executá-lo independentemente de ter
executado antes os bens sociais.
Na sociedade em comum, qualquer dos sócios poderá vincular os
demais sócios em relação aos terceiros com a prática de atos de
administração. Os sócios podem estipular que os poderes de gestão
sejam atribuídos apenas a alguns ou com limitações. Contudo,
referido pacto apenas terá efeitos perante os terceiros se esses
conhecessem a convenção ou devessem conhecê-la.
■ 5.4.2. Sociedade em conta de participação
A sociedade em conta de participação também é considerada
sociedade sem personalidade jurídica. É a chamada sociedade de
gaveta ou sociedade oculta.
O contrato de sociedade em conta de participação não exige
formalidade.

A sociedade é destinada a que apenas o sócio ostensivo apareça


perante terceiros e contrate com esses. Apenas o sócio ostensivo
exerce a atividade e a desempenha em seu nome próprio, com
responsabilidade exclusiva perante os terceiros, inclusive
ilimitadamente com os seus bens próprios.
O outro tipo de sócio, conhecido como sócio oculto ou
participante, não contrata nunca com terceiros. Ele permanece
oculto e se obriga apenas em face do sócio ostensivo, nos termos
do contrato social.
O contrato de sociedade vigora apenas entre os sócios e não gera
efeitos perante terceiros. Caso o sócio oculto interfira no
desenvolvimento da atividade ou contrate com terceiros, o sócio
oculto passa a ter responsabilidade ilimitada e solidária com o sócio
ostensivo.
Na sociedade em conta de participação, a admissão de novos
sócios exige o consentimento unânime de todos. As contribuições
dos sócios constituem patrimônio especial, mas apenas para
produzir efeitos entre os sócios. Não pode o patrimônio especial ser
oposto a terceiro.
A dissolução da sociedade ocorre com a falência do sócio
ostensivo, o que exigirá a apuração das contas conforme o contrato
de sociedade. A falência de sócio participante poderá não implicar a
dissolução da sociedade, pois o contrato poderá ser cumprido pelo
administrador judicial da massa falida.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813

■ 5.5. Personalidade jurídica e desconsideração


A personalidade jurídica permite que o ente torne-se titular de
direitos e sujeito de obrigações. A personalidade jurídica é atribuída
aos entes de direito privado através da inscrição do ato constitutivo
no respectivo registro, nos termos do art. 45 do Código Civil. Se a
atividade desenvolvida pela sociedade for empresarial, a
personalidade jurídica será obtida com a inscrição dos atos
constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis. Se a
atividade for a de profissional intelectual, salvo se for elemento de
empresa, a inscrição dos atos constitutivos deve ocorrer no Registro
Civil de Pessoas Jurídicas.
A personalidade jurídica distingue as pessoas dos sócios e a do
ente coletivo. A partir de seu surgimento, a pessoa jurídica passa a
ser um sujeito de direito distinto, com patrimônio autônomo e
responsabilidade própria em relação aos sócios que integram a
sociedade.
A autonomia patrimonial e a distinção de personalidade jurídica
para fins de responsabilização dos agentes diante das obrigações
contraídas em face de terceiros permitiram o desenvolvimento das
atividades e a redução do risco do empreendimento. Entretanto,
referidas características essenciais à personalidade jurídica
permitiram que alguns agentes utilizassem a personalidade jurídica
para prejudicar terceiros.
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica surge para
evitar que a atribuição da personalidade seja desviada para fins
ilícitos nas hipóteses em que houve abuso desse direito.

Duas foram as teorias para a aplicação da desconsideração da


personalidade jurídica: a teoria maior e a teoria menor. Pela teoria
menor, adotada pelo Código do Consumidor, por exemplo, em seu
art. 28, § 5º, exigem-se menos requisitos para se constatar o abuso.
Basta que a personalidade jurídica seja um obstáculo ao
ressarcimento dos prejuízos causados aos consumidores para que
ela seja desconsiderada.
Pela teoria maior da desconsideração, entretanto, teoria adotada
pelo Código Civil, em seu art. 50, não basta a insuficiência
patrimonial do ente coletivo. Além da demonstração de que o
patrimônio da pessoa jurídica é insuficiente para satisfazer a
determinada obrigação, é necessária a demonstração de que a
personalidade foi utilizada com abuso de direito.
O abuso de direito poderá ser caracterizado tanto pelo desvio de
finalidade quanto pela confusão patrimonial. A partir da Lei n.
13.874/2019, que especificou esses requisitos no art. 50 do CC,
desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o
propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos. Por
seu turno, a confusão patrimonial é caracterizada pela ausência
de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada pelo
cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio
ou do administrador ou vice-versa; transferência de ativos ou
de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor
proporcionalmente insignificante; e outros atos de
descumprimento da autonomia patrimonial.
Duas exceções foram acrescentadas. A mera existência de grupo
econômico sem a presença dos requisitos da confusão ou desvio de
finalidade não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica.
Também não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a
alteração da finalidade original da atividade econômica específica da
pessoa jurídica.
Determinou o Código Civil que a personalidade jurídica será
considerada ineficaz não para todos os sócios ou administradores. A
personalidade jurídica é desconsiderada apenas para estender os
efeitos de determinadas obrigações aos bens particulares de
administradores ou sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.
A desconsideração da personalidade jurídica pode ser inversa.

Na desconsideração inversa, a personalidade jurídica é


desconsiderada para que ela possa ser responsabilizada com seus
bens por uma dívida particular do sócio ou do administrador. Isso
ocorrerá nas mesmas hipóteses de confusão patrimonial e desvio de
finalidade, quando ocorrer prejuízo aos credores particulares dos
sócios ou administradores e benefício da pessoa jurídica.

■ 5.6. Sociedades com personalidade jurídica


São sociedades com personalidade jurídica as sociedades
simples, cooperativas, sociedades em nome coletivo, em comandita
simples e por ações e a sociedade anônima.

■ 5.6.1. Sociedades simples


O tipo de sociedade simples é um tipo societário subsidiário. As
sociedades que não desenvolvam atividade empresarial, como as
que exerçam atividade intelectual, de natureza científica, literária ou
artística poderão escolher um tipo de sociedade empresarial. Caso
assim o façam, serão submetidas à disciplina do tipo societário
escolhido, do contrário, serão disciplinadas pelo tipo da sociedade
simples.
Esse tipo da sociedade simples fora estabelecido como disciplina
geral e suas regras serão aplicáveis supletivamente aos demais
tipos societários.
Quanto à sua formação, a sociedade simples exige contrato
escrito, que identifique o nome dos sócios, sua qualificação, o objeto
e capital social e as obrigações dos sócios. O contrato deverá ser
inscrito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas no local de sua sede
e deverá indicar a participação de cada sócio nos lucros e nas
perdas.
O sócio pode ser pessoa jurídica e física. O incapaz poderá ser
sócio desde que não exerça a administração da sociedade e o
capital esteja totalmente integralizado. Cada um desses sócios deve
realizar as contribuições sociais, conforme determinado no contrato.
Na sociedade simples, os sócios podem integralizar as quotas
com serviços, bens ou dinheiro.
As contribuições devem ser realizadas no prazo determinado no
contrato social. Decorrido o prazo sem o adimplemento, a sociedade
poderá notificar os sócios para a realizarem em 30 dias. Não
satisfeita a obrigação, o sócio será considerado remisso e
responderá pelos danos causados à sociedade. Em vez de
responsabilizá-lo, a sociedade poderá preferir excluir o sócio
remisso ou reduzir suas quotas ao montante já integralizado.
Caso o contrato social não discipline qual a participação dos
sócios nos lucros e nas perdas, os sócios participarão na proporção
das respectivas quotas.

Na sociedade simples, os sócios respondem ilimitadamente com


seus bens pessoais pelas dívidas sociais. A execução dos bens dos
sócios, contudo, exige que os bens sociais já tenham sido
previamente esgotados.

O sócio que se retira ou é excluído da sociedade permanece


responsável pelos débitos sociais existentes do período em que nela
participou e dos débitos que surgirem até a data da averbação no
Registro Público da alteração contratual. Sua responsabilidade
pelos débitos perdura até dois anos após a averbação da
modificação do contrato social. Caso tenha cedido sua participação,
o cessionário responderá perante a sociedade e terceiros
solidariamente com o cedente até dois anos da averbação da
modificação do contrato.
Na hipótese de falecimento do sócio, seus herdeiros não se
eximem da responsabilidade pelos débitos existentes até a morte do
sócio. Os herdeiros permanecem responsáveis pelas obrigações
sociais anteriores à morte do sócio até dois anos após a averbação
da resolução da sociedade no Registro Público.
Qualquer alteração do contrato na sociedade simples exige a
unanimidade de aprovação dos sócios, pois a sociedade simples é
sociedade de pessoas. Para que haja a cessão das quotas, por
exemplo, exige-se o consentimento unânime dos demais sócios
para a alteração contratual, sob pena de ter eficácia perante os
sócios e a sociedade (art. 1.003).
Como na sociedade de pessoas há importância para as
qualidades dos sócios, o credor particular do sócio não poderá
ingressar na sociedade com a penhora da quota do sócio devedor.
O credor poderá executar apenas a proporção que caberia ao sócio
devedor dos lucros da sociedade ou o montante resultante da
liquidação da quota. Da mesma forma os herdeiros do sócio
somente podem concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se
liquide a quota.
Os sócios têm o direito de participar dos lucros da sociedade, de
participar das deliberações sociais e de fiscalizar a administração da
sociedade.

■ 5.6.1.1. Deliberações sociais


Os sócios deverão deliberar em Assembleias Gerais, por maioria
absoluta de votos segundo o valor das quotas. A Lei ou o contrato
social podem estabelecer quóruns qualificados.

■ 5.6.1.2. Administração da sociedade simples


A manifestação ordinária da vontade social é feita pelos
administradores, aos quais são atribuídos os poderes não apenas
de representar a sociedade, mas a de gerir seus fatores de
produção.
Os administradores devem ser necessariamente pessoas físicas.
É vedado administrador pessoa jurídica. Podem ser sócios ou
terceiros, desde que a pessoa nomeada não tenha sido condenada
à pena que vede o acesso a cargos públicos, ou fora condenada por
crime falimentar, prevaricação, corrupção ativa ou passiva,
concussão, peculato, crime contra a economia popular, contra o
sistema financeiro etc., enquanto perdurarem os efeitos da
condenação.
A nomeação do administrador poderá ocorrer por contrato social
ou ato em separado. Caso nada determine o contrato social, a
administração da sociedade compete isoladamente a cada um dos
sócios.
Se nomeado no contrato social, o sócio não poderá ser destituído,
pois se exige a unanimidade para alteração do contrato. São
irrevogáveis os poderes administrativos atribuídos ao sócio por
cláusula do contrato.
São revogáveis, a qualquer tempo, por maioria absoluta do capital
social, os poderes administrativos atribuídos aos sócios por ato
separado, ou a quem não seja sócio.

■ 5.6.1.3. Resolução e dissolução da sociedade simples


A dissolução da sociedade poderá ser total ou parcial. A
dissolução parcial ou resolução do sócio em relação à sociedade
ocorre quando da retirada ou exclusão de um dos sócios. Nesse
caso, a sociedade continua a desenvolver sua atividade com os
sócios remanescentes. Liquida-se a quota apenas do sócio que se
retira da sociedade.
O valor da liquidação da quota deverá, a menos que haja
disposição em contrato ao contrário, ser aferido mediante balanço
patrimonial à data da resolução, e o pagamento deverá ocorrer em
dinheiro em até 90 dias.
São hipóteses de resolução parcial:
a) falecimento de sócio, caso os sócios remanescentes não
prefiram a dissolução total ou o acordo com os herdeiros para a
substituição do falecido;
b) exercício de direito de retirada dos sócios, nas hipóteses em
que, se a sociedade for por prazo indeterminado, o sócio
notifique sua saída com 60 dias de antecedência. Se prazo
determinado, desde que prove judicialmente que tenha ocorrido
uma justa causa, como um ato que quebre sua confiança
perante os demais;
c) exclusão do sócio. A exclusão poderá ser de pleno direito ou
por maioria de votos.
Na exclusão de pleno direito, o sócio será excluído se for
declarado falido ou houver a liquidação de sua quota por credores
particulares.
A exclusão também pode ocorrer por vontade da maioria dos
demais sócios, caso ocorra falta grave no cumprimento de suas
obrigações, incapacidade superveniente, ambas mediante ação
judicial, ou caso o sócio seja considerado remisso.
Na dissolução total, por seu turno, ocorre o fim da atividade social,
com a liquidação das quotas de todos os sócios e a apuração do
montante a ser distribuído. Com a dissolução total, liquidam-se os
bens para que o produto, após o pagamento dos credores, possa
ser distribuído proporcionalmente à participação do capital social
aos sócios.
A dissolução total pode ocorrer de pleno direito, sem que haja a
apreciação pelo Poder Judiciário. Ocorre, nos termos do art. 1.033
do Código Civil, com: a) o vencimento do prazo de duração, salvo
se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade
em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
b) o consenso unânime dos sócios; c) a deliberação dos sócios, por
maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; d) a falta de
pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias; e) a
extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar.
Judicialmente, a dissolução total pode ocorrer com a anulação do
ato constitutivo da sociedade, o exaurimento do seu fim social ou a
impossibilidade do cumprimento deste.

■ 5.6.2. Sociedade limitada


A sociedade limitada caracteriza-se como o tipo mais frequente de
sociedade no Brasil. Sua ampla adoção decorre da limitação da
responsabilidade dos sócios.

Caracteriza-se por ser uma sociedade de natureza híbrida. A


sociedade limitada não pode nem ser caracterizada como sociedade
totalmente de pessoa, em que prevalecem as características
pessoais dos sócios, nem como sociedade de capital, em que é
relevante apenas a contribuição social, mas não a pessoa do sócio.
Os sócios poderão disciplinar no contrato social quais
características preponderantes, ora de uma sociedade de pessoas,
ora de uma sociedade de capitais, regerão a vida societária. Podem
assim determinar a regência supletiva pelas normas das sociedades
anônimas, como uma sociedade de capital, ou podem permitir a livre
cessão das quotas dos sócios a terceiros ou imporem maior
restrição etc.

■ 5.6.2.1. Constituição
A constituição da sociedade limitada exige contrato escrito, o qual
será inscrito no Registro Público. O contrato social deverá
estabelecer: I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e
residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a
denominação, nacionalidade e a sede dos sócios, se pessoas
jurídicas; II – nome empresarial, objeto, sede e prazo da sociedade;
III – capital social; IV – a quota de cada sócio no capital social e o
modo de realizá-la; V – os administradores da sociedade, seus
poderes e atribuições; VI – a participação de cada sócio nos lucros e
nas perdas.
Como contrato, exige-se a pluralidade de sócios contratantes. Ao
menos dois sócios, pessoas físicas ou pessoas jurídicas, devem
contratar a sociedade.
A Lei n. 13.874, de 2019, entretanto, criou modalidade de
sociedade unipessoal. Por meio da alteração no art. 1.052, admitiu-
se a sociedade limitada constituída por uma única pessoa,
hipótese em que se aplicarão ao documento de constituição do
sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social.

■ 5.6.2.2. Obrigações e direitos dos sócios


Como sociedade, os sócios se obrigam a contribuir com seus
recursos para o desenvolvimento de uma atividade comum com a
partilha entre si dos resultados. Essa contribuição permite a
formação do capital social, o qual será dividido em quotas, iguais ou
desiguais.
Para essa formação do capital, o sócio poderá contribuir com
bens ou com dinheiro. É proibida, na sociedade limitada, a
contribuição com serviços. Caso algum dos sócios contribua com
bens, todos os sócios respondem solidariamente, até o prazo de
cinco anos do registro da sociedade, pela exata estimação dos bens
transferidos.
O sócio que não integralizar suas quotas será considerado
remisso. Para ser remisso, entretanto, o sócio inadimplente nos
termos do contrato social, deverá ser notificado para integralizar a
quota no prazo de 30 dias. Apenas após sua inércia é que o sócio
poderá ser responsável perante a sociedade pelos danos causados
pela sua mora.
Alternativamente à indenização pela mora, a sociedade poderá
decidir, por maioria, excluir o sócio remisso ou reduzir o capital ao
montante efetivamente integralizado. Na sociedade limitada,
outrossim, a sociedade também poderá tomar para si as quotas
subscritas pelo sócio remisso ou transferi-las a terceiros, com a
exclusão do sócio, mas sem a liquidação da quota. Devolve-se ao
sócio remisso apenas aquilo que houver pago, deduzidos juros,
despesas e eventuais encargos estabelecidos no contrato.
Além de contribuir, os sócios serão obrigados à reposição dos
lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, mesmo que
autorizados pelo contrato social, quando tais lucros ou quantia se
distribuírem com prejuízo do capital social.
O principal direito dos sócios é o de participar dos lucros da
sociedade e de, na hipótese de dissolução, participar da partilha dos
ativos e apuração de haveres. Além dos direitos patrimoniais,
possuem os sócios os direitos de fiscalizar a atividade social, o de
participar da administração da sociedade, o de votar nas
deliberações.
O sócio tem ainda direito de preferência. Poderá participar, na
proporção de suas quotas, de eventual aumento do capital social,
desde que exerça seu direito no prazo de 30 dias da deliberação de
aumento.
Também terão o direito de recesso.

Se a sociedade tiver prazo indeterminado, o sócio poderá se


retirar da sociedade mediante simples notificação da sociedade,
com prazo de 60 dias. Caso a sociedade tenha prazo determinado,
o direito de retirada ocorre apenas se houver modificação do
contrato social, fusão, incorporação de sociedade, e o sócio não
tiver concordado com a deliberação que determinou. Apenas diante
desse justo motivo, o sócio poderá se retirar da sociedade em 30
dias da deliberação.
Pelo exercício do direito de recesso, será apurado o valor da
quota do sócio mediante o levantamento de balanço patrimonial
especial na data de sua retirada, exceto se houver previsão em
contrário no contrato social. Do mesmo modo, a menos que
estabelecido de modo diverso, o sócio deverá ser pago em dinheiro,
no prazo de 90 dias, a contar da liquidação.

■ 5.6.2.3. Responsabilidade dos quotistas na sociedade limitada


Na sociedade limitada, o sócio responde pelas obrigações sociais
apenas subsidiariamente. Seus bens pessoais poderão ser
executados apenas após esgotados os bens da sociedade. Além de
subsidiária, a responsabilidade restringe-se ao montante do
capital social a ser integralizado por todos os sócios. Os sócios
respondem pela obrigação que contraíram perante a companhia de
contribuir para a integralização do capital social. Somente serão
responsabilizados, nesse ponto, pela diferença de valor entre o que
prometeram (subscreveram) e o que faltou satisfazerem (o que
faltou ser integralizado).
Além de subsidiária em face da sociedade, ou seja, desde que
não restem bens à sociedade para satisfazer as dívidas, a
responsabilidade dos sócios é solidária entre si. Ainda que o
sócio tenha integralizado todas as suas quotas, caso qualquer dos
outros sócios não tenha, todos os sócios ou qualquer deles poderão
ser responsabilizados com seus bens particulares pelas obrigações
sociais na medida do montante remanescente à integralização total
do capital social.

■ 5.6.2.4. Modificação do capital social


O capital social expressa a soma das contribuições dos sócios
para o desenvolvimento da atividade social, ao menos inicialmente.
Durante o desenvolvimento da atividade, embora o capital social
seja fixo, ao contrário do patrimônio, poderá ser reduzido ou
aumentado.
Como o capital social procura garantir os credores da satisfação
de suas obrigações sociais, a alteração do capital social requer a
modificação do contrato de sociedade. Para majorá-lo, é
necessário que já tenha ocorrido a integralização das quotas e que
haja deliberação dos sócios.
A redução do capital social poderá ocorrer se:
a) integralizadas as quotas, houver a necessidade de redução
em razão de perdas. O valor das quotas será reduzido na
proporção da redução do capital social. Apenas é eficaz perante
terceiros após a averbação no Registro.
b) delibere-se que o capital social é excessivo em relação ao
objeto social. O valor das quotas será reduzido, mas a diferença
será restituída aos sócios. Somente será eficaz se não houver
impugnação de credores no prazo de 90 dias da publicação da
ata da assembleia, ou desde que tenha havido o pagamento da
dívida do credor ou o depósito do valor do crédito em juízo.

■ 5.6.2.5. Quotas sociais


O capital social é dividido em quotas sociais, as quais podem ser
iguais ou desiguais.
As quotas são indivisíveis em relação à sociedade. Ainda que
possa uma única quota ser de propriedade de várias pessoas, os
direitos em relação a essa quota são exercidos pelo representante
do condomínio dos proprietários, ou pelo inventariante do sócio
falecido. Entre os coproprietários, a responsabilidade pela
contribuição é solidária. Apenas em relação à transferência é que a
quota não é indivisível em relação à sociedade e o sócio poderá
transferir a quota ou parte dela a terceiro.

Perante a sociedade e os terceiros, os efeitos da cessão


ocorrerão apenas a partir da averbação do instrumento no registro e
desde que acompanhado da anuência dos sócios.

■ 5.6.2.6. Órgãos da sociedade limitada


São órgãos da sociedade limitada a assembleia geral de
quotistas, os administradores e o conselho fiscal.
■ 5.6.2.6.1. Assembleia geral de quotistas
As principais decisões da sociedade podem ser tomadas pelos
sócios. Na sociedade limitada, as deliberações poderão ocorrer na
forma de assembleia ou de reunião, conforme disponha o contrato
social. A faculdade de escolha, entretanto, ocorrerá apenas se a
quantidade de sócios for inferior a dez. A deliberação em
assembleia será obrigatória se o número de sócios for superior
a dez.
As reuniões possuem menos formalidades de instalação e o
próprio contrato social poderá estabelecer as formas de convocação
e quórum de instalação. Na assembleia geral, entretanto, as
formalidades são as descritas na própria lei. Exige-se a convocação
por publicação de anúncio por três vezes, com ao menos oito dias
entre a data da assembleia e a data da primeira publicação e de
cinco dias para a segunda convocação. As publicações devem
ocorrer em jornal de grande circulação e no órgão oficial.
Em virtude da alteração promovida pela Lei n. 14.030/2020, nas
sociedades limitadas poderá haver reunião ou assembleia geral
digital ou eletrônica. O quotista poderá participar e votar à distância,
desde que respeite os direitos legalmente previstos de participação
e de manifestação dos sócios, nos termos do regulamento do órgão
competente do Poder Executivo Federal (art. 1.080-A do CC).

As deliberações vinculam todos os sócios, ainda que não tenham


comparecido ou tenham discordado. Caso a deliberação seja contra
a Lei ou o contrato social, as deliberações tornarão ilimitadamente
responsáveis os sócios que a aprovaram.
Poderão os sócios deliberar, além das matérias previstas no
contrato social, sobre: I – a aprovação das contas da administração;
II – a designação dos administradores, quando feita em ato
separado; III – a destituição dos administradores; IV – o modo de
sua remuneração, quando não estabelecido no contrato; V – a
modificação do contrato social; VI – a incorporação, a fusão e a
dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
VII – a nomeação e destituição dos liquidantes; VIII – o pedido de
recuperação; IX – a remuneração dos membros do conselho fiscal.
A assembleia instala-se com quórum, em primeira convocação, de
três quartos do capital social e, nas convocações posteriores, com
qualquer número. O quórum de votação é de maioria relativa, ou
seja, maioria do capital social presente na assembleia, exceto se o
contrato exigir prazo maior.
Exigem quórum qualificado a modificação do contrato social, a
incorporação, fusão, dissolução da sociedade e a cessação do
estado de liquidação. Nessas matérias, o quórum de votação é de,
no mínimo, três quartos do capital social.
O quórum de votação será de maioria absoluta, ou metade mais
um do capital social, para a designação dos administradores em
ato separado, a destituição dos sócios administradores ou de
terceiros, quer sejam nomeados em ato separado ou no próprio
contrato social (conforme alteração da Lei n. 13.792/2019 no art.
1.063 do Código Civil), o modo de sua remuneração, quando não
estabelecido no contrato e o pedido de recuperação judicial.
A assembleia deverá ocorrer ao menos uma vez por ano, nos
quatro meses seguintes ao término do exercício social. A
assembleia deverá tomar as contas do administrador, deliberar
sobre o balanço de resultados e designar os administradores, se for
o caso.
Diante da pandemia do Coronavírus, a Lei n. 14.030/2020 permitiu
que as sociedades limitadas cujo exercício social tenha sido
encerrado entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020
poderá, excepcionalmente, realizar a assembleia geral ordinária em
até sete meses do término do exercício social. Inclusive, quanto à
essa dilação do prazo, o prazo de gestão dos administradores e
membros do Conselho Fiscal ficarão prorrogados até a realização
da assembleia.
A ação anulatória da deliberação de aprovação dos balanços
extingue-se em dois anos.
A deliberação dos sócios será convocada pelos administradores,
nos casos previstos na lei e no contrato. Caso não o façam no prazo
de 60 dias, poderá ser convocada pelos sócios. Poderá ser
convocada também por quaisquer titulares de mais de um quinto do
capital social, quando não atendido em oito dias pedido de
convocação fundamentado. Pode ainda ser convocada pelo
Conselho Fiscal, se a diretoria retardar por mais de 30 dias a
convocação anual ou sempre que houver graves motivos.
■ 5.6.2.6.2. Administração da sociedade limitada
Embora tenham sido atribuídas as principais decisões da
sociedade à deliberação dos sócios, as decisões ordinárias da
sociedade são tomadas pelos administradores, aos quais compete a
prática dos atos de gestão e da representação da sociedade perante
terceiros.
Os administradores terão poderes para praticar atos de gestão,
administração da sociedade internamente, bem como atos de
representação, e manifestar a vontade da sociedade perante
terceiros. Caso o contrato social nada estabeleça, os
administradores poderão atuar isoladamente e cada qual terá poder
para representar a sociedade perante terceiros. No exercício dessa
função, eles respondem solidariamente entre si pelos prejuízos que
causarem a terceiros ou à própria sociedade, desde que tenham
agido com culpa.
Os administradores serão sempre pessoas físicas. Não se admite
na lei a nomeação de uma pessoa jurídica como administradora. Os
administradores podem ser sócios ou não sócios.

A nomeação de terceiros, como administradores, é permitida para


aumentar a especialização de funções da administração da
sociedade. A nomeação de terceiro, contudo, deve estar aprovada
no contrato social. Os quóruns, entretanto, são diversos se o
administrador for sócio, ou não sócio.
Podem os administradores, ainda, serem nomeados no contrato
social ou em ato em separado. Se for sócio, o administrador
nomeado em ato em separado exige aprovação de maioria absoluta
do capital social. A nomeação deve ser averbada no Registro
Público no prazo de 10 dias da investidura sob pena de não ter
eficácia perante terceiros. Se o sócio for nomeado no contrato
social, o quórum de aprovação é de três quartos do capital social.
A cessação das funções do administrador ocorre pela destituição,
em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no
contrato ou em ato separado, não houver recondução.
A destituição mantém o mesmo quórum da nomeação. A única
exceção refere-se ao sócio nomeado no contrato social como
administrador. Salvo disposição contratual, referido
administrador somente poderá ser destituído por voto de
sócios representativos da maioria absoluta do capital (art.
1.063, § 1º, do CC).

Quórum de
Sócio ou não sócio Quórum de destituição
eleição

Administrador sócio nomeado no 3/4 do Maioria absoluta, salvo


contrato social capital social disposição contratual diversa

Administrador sócio nomeado em Maioria


Maioria absoluta
ato em separado absoluta

Administrador não sócio se o 2/3 do


2/3 do capital social
capital estiver integralizado capital social
Administrador não sócio se o Unanimidade Unanimidade dos sócios
capital não estiver integralizado dos sócios

A cessação das funções do administrador deverá ser averbada no


registro público em 10 dias ao da ocorrência.
Além da destituição e do término do prazo, poderá cessar a
função do administrador pela renúncia. A renúncia do administrador
torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o momento em que
esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante; e,
em relação a terceiros, após a averbação e publicação.

■ 5.6.2.6.3. Conselho fiscal da sociedade limitada


O conselho fiscal tem a atribuição de supervisionar os
administradores da sociedade. A ele compete examinar os livros e
papéis da sociedade, lavrar no livro de atas do conselho fiscal o
resultado dos exames, fornecer parecer sobre os negócios e as
operações sociais, denunciar erros, fraudes ou crimes que
descobrir, convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar.
Ele não é obrigatório nas sociedades limitadas, apenas nas
sociedades anônimas. A facultatividade de sua instalação é não
exigir que a onerosidade de sua criação seja imposta a sociedades
limitadas de pequena dimensão e que não exigiriam um controle
maior do administrador.
O conselho fiscal deve ser concebido pelo contrato social. Deverá
ser composto por, no mínimo, três membros, sócios ou não sócios,
desde que residentes no país. Não podem ser administradores da
sociedade, nem de sociedades controladas, nem empregados de
quaisquer delas ou de seus administradores.
São eleitos pela assembleia geral por quórum de votação de
maioria relativa.
As atribuições do conselho fiscal não podem ser outorgadas a
outro órgão da sociedade. Seus membros respondem apenas por
culpa no desempenho de suas funções, quer perante a sociedade,
quer perante terceiros.

■ 5.6.2.7. Dissolução da sociedade


A sociedade limitada pode se dissolver total ou parcialmente.
A dissolução parcial é conhecida também por resolução da
sociedade em relação a um sócio. Ela pode ocorrer pela retirada do
sócio em razão de seu direito de recesso ou pela exclusão, a qual
pode ser judicial ou extrajudicial.
A exclusão judicial pode ocorrer nas hipóteses de incapacidade
superveniente do sócio ou em razão da demonstração de falta grave
desse. Ambas as hipóteses exigem aprovação da maioria dos
demais sócios e pedido judicial. Nessa hipótese, poderá ocorrer a
exclusão do próprio sócio majoritário, pois a deliberação é dos
demais sócios.
Para que a exclusão possa ser extrajudicial, ela precisa ter sido
estabelecida no contrato social. Caso exista a possibilidade no
contrato, exige-se deliberação da maioria absoluta do capital social,
que poderá determinar a exclusão do sócio em razão da prática de
um ato de inegável gravidade. Em razão do quórum, apenas o sócio
minoritário poderá ser excluído da sociedade. Exige-se que se
demonstre que o comportamento do sócio minoritário coloca em
risco a continuidade da empresa.
A deliberação da assembleia sobre a exclusão do sócio em razão
da falta grave, entretanto, exige prévia possibilidade de o sócio
exercer o contraditório. Para tanto, o sócio deve ser previamente
cientificado, com tempo hábil para comparecer e se defender, de
que deliberação apreciará sua exclusão.
A hipótese de existirem apenas dois sócios na sociedade excetua
a necessidade de assembleia ou reunião de sócios especialmente
convocada para a exclusão. Se existirem apenas dois sócios,
desde que o sócio possua mais da metade do capital social e a
possibilidade esteja prevista no contrato social, o sócio
majoritário poderá excluir o minoritário em razão de ato de
inegável gravidade que ponha em risco a continuidade da
empresa mesmo sem qualquer deliberação societária (art.
1.085, parágrafo único, alterado pela Lei n. 13.792/2019).
Excluído da sociedade, o sócio terá direito à apuração de seus
haveres. A menos que estabelecido de modo diverso no contrato,
será levantado balanço especial para apuração. A quota do sócio
será liquidada com base na situação patrimonial da sociedade, à
data da resolução, e seu valor será pago em dinheiro no prazo de
noventa dias, salvo estipulação em contrário (arts. 1.086 c/c 1.031
do CC).

A dissolução total, por seu turno, tem as mesmas hipóteses da


sociedade simples. Poderá a sociedade ser dissolvida se vencer o
seu prazo de duração, a menos que se prorrogue automaticamente
por não ter ocorrido oposição de sócios; pelo consenso dos sócios;
por deliberação da maioria absoluta dos sócios, na hipótese de
sociedade por prazo indeterminado; pela falta de pluralidade de
sócios, caso não seja reconstituída em 180 dias (o que deve ser
considerado tacitamente revogado em razão da nova possibilidade
estabelecida de sociedade limitada com sócio único – alteração
realizada no art. 1.052, parágrafo único, pela Lei n. 13.874/2019), e
pela extinção da autorização para funcionar.

■ 5.6.3. Sociedade anônima


A sociedade anônima é disciplinada pela Lei n. 6.404/64.
Caracteriza-se por ter personalidade jurídica e ser necessariamente
empresarial, independentemente da natureza da atividade
desenvolvida.
A sociedade anônima caracteriza-se, ainda, por ser sociedade
tipicamente de capital, em que é mais relevante o montante da
contribuição dos acionistas do que suas características pessoais.
Nesses termos, seu capital social é dividido em ações, títulos de
livre circulação pelos proprietários, independentemente do
consentimento dos demais acionistas.
As ações representam frações idênticas do capital social e são
livremente circuláveis. Sua circulação não poderá ser restrita de
qualquer forma. Em razão de sua natureza como sociedade de
capital, a ação das companhias poderá ser objeto de penhora pelos
credores particulares dos acionistas, pode ser transferida a
terceiros, inclusive mortis causa aos herdeiros.
Os acionistas são responsáveis apenas pelo valor das ações por
eles subscritas e ainda não integralizadas. Subscrição identifica a
promessa de pagamento pelo adquirente do valor das ações à
companhia, e esse pagamento é concebido como integralização.
Ainda que os demais acionistas não tenham integralizado,
satisfeito, o montante ao qual se vincularam a contribuir para o
capital social, o acionista responde apenas pela integralização do
valor de sua ação. Caso já o tenha integralizado, ainda que os
demais não, e mesmo que não existam bens sociais suficientes para
a satisfação das obrigações sociais, o acionista não será
responsabilizado.
A lei determina que o objeto social da companhia deve estar
definido de modo preciso. O objeto social é a atividade econômica a
ser desenvolvida pela companhia, e que não poderá ser contrária à
lei, à ordem pública e aos bons costumes (art. 2º da Lei n.
6.404/76).
O objeto social limita a responsabilidade da companhia pelas
obrigações contraídas. Isso porque restringe os poderes dos
administradores à atividade previamente delimitada. Apenas dentro
dessa atividade especificada no objeto social os administradores
possuem poderes para fazer presente a companhia e, nesse caso,
para vinculá-la pela obrigação contraída perante terceiros.

■ 5.6.3.1. Classificação das Sociedades Anônimas


As sociedades anônimas podem ser fechadas ou abertas. A
diferenciação entre ambas refere-se à possibilidade ou não de
negociação dos títulos por elas emitidos no mercado de capitais.
As sociedades anônimas abertas são as sociedades cujos valores
mobiliários, títulos de emissão pela companhia que fornecem
direitos aos adquirentes, são livremente negociados no mercado de
capitais, composto pela Bolsa de Valores e Mercado de Balcão.
A Bolsa de Valores poderá ser associação ou sociedade anônima
e é integrada por sociedades de corretores. Constitui um mercado
secundário, pois não negocia novas ações, mas apenas negocia as
ações já titularizadas por acionistas com os adquirentes.
O Mercado de Balcão consiste no conjunto de operações com
valores mobiliários realizadas por intermediários do sistema de
distribuição. Pode consistir tanto em um mercado primário, em que
os títulos são adquiridos diretamente da companhia, como em
mercado secundário, em que os títulos são adquiridos de um outro
proprietário.
As sociedades anônimas fechadas não possuem seus títulos
negociados no mercado de capitais. A negociação dos títulos faz-se
diretamente entre o proprietário e o adquirente.

Caso essa limitação ocorra por alteração estatutária, a limitação


somente será aplicável às ações cujos titulares expressamente
tenham concordado com ela.

■ 5.6.3.2. Constituição da sociedade anônima


Para que ocorra a constituição da sociedade anônima,
imprescindível que ocorra a subscrição de pelo menos duas
pessoas de todas as ações em que se divide o capital social;
pagamento de, no mínimo, 10% em dinheiro do valor do preço de
emissão das ações subscritas, com o depósito da referida entrada
em estabelecimento bancário pelo fundador no prazo de 5 dias do
recebimento das quantias.
A partir do depósito no banco pelo fundador, a companhia terá o
prazo de seis meses para se constituir, sob pena de o Banco
restituir as quantias depositadas diretamente aos subscritores. Caso
adquira a personalidade jurídica, apenas a sociedade poderá
levantar os recursos.
O requisito da subscrição de todas as ações poderá ser feito de
duas formas: subscrição pública ou subscrição particular.
A subscrição pública é exigência para as sociedades anônimas
abertas. Requer o intermédio de instituição financeira e o prévio
registro da emissão na Comissão de Valores Mobiliários, de modo a
disponibilizar as ações para a subscrição pelo público. Por ocasião
dessa subscrição, o adquirente pagará o valor mínimo de 10% do
preço de emissão das ações em dinheiro à instituição financeira.
Caso ocorra a subscrição de todo o capital social, os fundadores
convocarão a assembleia geral e os subscritores constituirão a
companhia desde que não haja votos contrários por mais da metade
do capital social ao projeto de estatuto social. Na assembleia de
constituição serão eleitos os administradores e fiscais.
Em vez da subscrição pública, poderá ocorrer uma subscrição
particular para a constituição da companhia. A subscrição particular
é realizada sem maiores formalidades pelas sociedades anônimas
fechadas e não exige a intermediação de instituição financeira ou
prévio registro na CVM. Faz-se por deliberações dos subscritores
em assembleia geral ou por escritura pública.
Em assembleia, o projeto de estatuto deve ser entregue à
assembleia com a assinatura de todos os subscritores do capital. Se
realizado por escritura pública, ele precisa ser assinado por todos os
subscritores e deverá conter a identificação destes, o estatuto da
companhia, a relações das ações, o recibo do depósito das entradas
das contribuições ao capital social, nomeação dos primeiros
administradores e fiscais, se o caso.
Para adquirir personalidade jurídica, os atos constitutivos devem
ser inscritos no Registro Público de empresa mercantil e deverão
ser publicados na imprensa oficial do local da sede da companhia.

■ 5.6.3.3. Capital social da sociedade anônima


O capital social é o valor expresso no estatuto social e,
inicialmente, refere-se ao valor da contribuição dos sócios com bens
para o desenvolvimento da atividade empresarial. O capital social
permitirá aos terceiros que pretendam contratar com a sociedade
aferir um montante aproximado de seu patrimônio, pois o capital
social será fixo, estável, enquanto o patrimônio é variável. Permite a
determinação da posição do acionista na sociedade também, pois o
capital social será dividido em ações atribuídas a cada um dos
sócios, os quais, diante do montante por eles detido, poderão
exercer determinados direitos.
Compõe-se o capital social, portanto, pela soma das contribuições
dos sócios. A integralização das ações subscritas, além da entrada
que deve ser feita necessariamente em dinheiro, poderá ser
realizada em bens.

Para que o capital social seja conforme a realidade efetiva dos


bens conferidos pelos acionistas ao integralizarem suas ações, a lei
determinou que os bens deverão ser avaliados por três peritos ou
por empresa especializada, ambos nomeados na assembleia geral
de subscritores. O laudo será apresentado à assembleia que, caso o
aprove, permitirá a incorporação dos bens ao patrimônio da
companhia.
Caso referidos bens sejam imóveis, a transferência dos bens não
exige escritura pública. A certidão de arquivamento dos atos
constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis é
suficiente para a transferência, por transcrição no Cartório de
Registro de Imóveis, dos bens que o subscritor tiver contribuído para
a formação do capital social (art. 98, § 2º, da LSA).
A responsabilidade civil dos subscritores que contribuírem com
bens para a formação do capital social será idêntica à do vendedor.
Eles respondem, juntamente com os avaliadores, com culpa ou dolo
na avaliação dos bens pelo prejuízo que causarem à companhia ou
a terceiros.
Embora o capital social seja fixo, poderá ser reduzido ou
aumentado.
O capital poderá ser aumentado por deliberação da assembleia
geral ordinária para a correção monetária de seu valor; por
deliberação da Assembleia Geral ou do Conselho de Administração
para emissão de ações dentro do limite autorizado no estatuto; por
conversão de debêntures, partes beneficiárias e bônus de
subscrição, em ações; por deliberação da Assembleia Geral
Extraordinária, mediante subscrição pública ou particular, desde que
depois de três quartos do capital social ter sido integralizado; por
capitalização dos lucros e das reservas.
O capital social poderá ser reduzido se a Assembleia Geral
aprovar a redução em razão de perdas sociais ou em razão de
julgar o capital social excessivo (art. 173 da LSA). Essa redução
somente poderá ser eficaz após 60 dias da publicação da ata da
assembleia que a tiver deliberado, pois, no prazo, os credores
poderão se opor à redução e, caso o façam, o arquivamento da ata
apenas poderá ser feita na Junta Comercial caso o pagamento dos
credores tenha sido realizado. Caso a companhia tenha emitido
debêntures, a redução de capital exige que os debenturistas
aprovem a redução.

■ 5.6.3.4. Acionistas da sociedade anônima


O acionista é o proprietário de ações emitidas pela companhia.
Como contrato, a sociedade anônima deve possuir ao menos dois
acionistas para a sua constituição.

A única exceção a essa regra ocorre com a sociedade anônima


subsidiária integral. Essa pode ser constituída por escritura pública e
pode ter um único acionista consistente numa sociedade brasileira.
Ao se tornar proprietário de ações, o acionista passa a obter
direitos e a contrair obrigações perante a companhia. Dentre as
obrigações, a principal do acionista é o seu dever de integralizar as
ações por ele subscritas, conforme o previsto no estatuto ou no
boletim de subscrição.
Caso o acionista não faça o pagamento na data prevista, ficará de
pleno direito constituído em mora e se sujeitará ao pagamento de
juros, correção e de multa que o estatuto determinar, a qual não
poderá ser superior a 10% (art. 106 da LSA). O acionista em mora
é considerado remisso.
Em face do remisso, a companhia poderá cobrar as importâncias
devidas e/ou mandar vender as ações em Bolsa de Valores. Caso
ainda assim não consiga a integralização das ações, poderá
declará-las caducas e fazer suas as entradas realizadas.
Em relação aos direitos, os acionistas são titulares de direitos
essenciais que não poderão ser suprimidos nem pela Assembleia
Geral, nem pelo próprio estatuto social.
Dentre esses direitos, os acionistas deverão participar nos lucros
sociais. Os acionistas têm direito a um dividendo obrigatório,
consistente em um montante de lucro estabelecido no estatuto
social e, em sua omissão, será a de metade do lucro líquido do
exercício, com a dedução daquilo destinado às reservas sociais.
Têm direito os acionistas, ainda, de participar no acervo da
companhia em caso de liquidação. Podem fiscalizar a gestão dos
negócios sociais e, nesse ponto, poderão requerer a exibição dos
livros sociais desde que possuam ao menos 5% do capital social,
apontem violações à lei ou ao estatuto ou caso haja suspeita de
irregularidades. Terão os acionistas, ainda, direito de preferência
para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em
ações, debêntures conversíveis e bônus de subscrição.
Garante-se aos acionistas, ademais, direito de retirada.

As ações conferem, em regra, também direito de voto, o qual,


entretanto, poderá ser restrito pela companhia com a emissão de
ações preferenciais. Mesmo em relação às ações ordinárias, o
estatuto pode estabelecer restrições à quantidade de votos de cada
acionista.
As ações de cada classe conferirão iguais direitos aos seus
titulares, os quais poderão ser tutelados, inclusive judicialmente.
Nada impede que o estatuto da sociedade estabeleça que as
divergências entre os acionistas e a companhia ou entre os
acionistas não sejam submetidas ao judiciário, mas sejam
solucionadas mediante arbitragem.
A cada ação ordinária corresponde um voto nas deliberações da
Assembleia Geral. É vedado atribuir voto plural a qualquer classe de
ações, o que não significa que não poderá ocorrer o voto múltiplo
para a eleição dos membros do Conselho de Administração.
O penhor da ação não impede o voto pelo acionista, mas o
estatuto poderá exigir o consentimento do credor pignoratício. O
credor garantido por alienação fiduciária não poderá exercer o
direito de voto, apenas o devedor – e nos termos do contrato. Caso
a ação seja gravada com usufruto, o direito somente poderá ser
exercido se houver prévio acordo entre o proprietário e o
usufrutuário.
A assembleia poderá suspender o direito de voto dos acionistas,
se o acionista não realizar suas obrigações, como, por exemplo,
efetuar suas contribuições sociais.

■ 5.6.3.5. Acionista controlador


A lei atribuiu deveres diferentes ao acionista controlador, em razão
dos poderes por esse exercidos. É considerado controlador aquele
que seja titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo
permanentemente, maioria dos votos nas deliberações sociais,
desde que use efetivamente desse poder para dirigir as atividades
sociais.
Pode ser acionista totalitário, que possui todas as ações com
direito de voto da companhia. Pode ser majoritário, que possui a
maioria das ações com direito a voto. Basta, para sua definição, que
tenha a maioria efetiva das ações que compareçam à assembleia,
ou seja, ainda que minoritário, pode ser controlador desde que suas
ações sejam suficientes para predominar na assembleia, de modo
não transitório.
Ao controlador foi imposto o dever de agir para proteger os
interesses dos demais acionistas e dos interesses das demais
pessoas envolvidas com a empresa. Será responsável se orientar a
companhia para fim estranho ao objeto social ou promover a
liquidação de companhia próspera ou operação societária com o fim
de obter vantagem indevida ou de causar prejuízo aos acionistas
minoritários; eleger administrador que sabe inapto; contratar com a
companhia em condições não equitativas; aprovar contas irregulares
de administradores ou não apurar denúncia.

■ 5.6.3.6. Acordo de acionistas


Poderão ser celebrados acordos entre os acionistas para que eles
possam exercer maiores poderes na companhia.

Os acordos de acionistas serão eficazes perante a companhia


quando forem arquivados em sua sede social. Para serem eficazes
também quanto a terceiros, o que ocorre nos acordos que versam
sobre a transferência das ações, os acordos de acionistas deverão
ser averbados no livro de registro e nos certificados das ações.
Caso sejam eficazes perante a companhia, a infringência do
acordo de voto, com a votação ao contrário do convencionado,
exigirá que o presidente da Assembleia ou do órgão colegiado de
deliberação não compute o voto proferido.
O acordo de acionistas garante, outrossim, a vinculação dos
administradores eleitos nos termos do acordo à convenção. O
presidente do Conselho de Administração ou a diretoria, assim
como faz o presidente da Assembleia Geral, deverão desconsiderar
o voto proferido pelos administradores contrários aos termos do
acordo, desde que tenham sido eleitos nos termos desse. Para que
possa ser computado o voto a favor do acordo, e não haja
simplesmente a desconsideração do voto em contrário, os
contratantes do acordo poderão se valer da execução judicial
específica do acordo de acionistas.
Caso ocorra a abstenção do voto ou a ausência do acionista ou
do administrador à votação, os contratantes do acordo de acionistas
poderão exercer diretamente o voto nos termos contratados.
Desnecessária a tutela judicial nesse caso.

■ 5.6.3.7. Valores mobiliários


Valores mobiliários são títulos emitidos pelas sociedades
anônimas para captarem recursos para o desenvolvimento de suas
atividades. Define-se valor mobiliário de modo amplo como todos os
títulos ou contratos de investimento ofertados publicamente, que
gerem direito de participação ou remuneração, inclusive resultante
de prestação de serviços.
Os principais valores mobiliários emitidos pelas sociedades
anônimas são as ações, as partes beneficiárias, as debêntures, os
bônus de subscrição e o commercial paper.

■ 5.6.3.7.1. Ações
Ações são bens representativos do capital social da companhia.
Consideradas bens móveis, as ações conferem ao proprietário
direitos e deveres como acionista da companhia.
As ações poderão ter valor nominal, preço de emissão e valor
patrimonial.
O estatuto determinará se as ações possuirão valor nominal, que
é o montante representativo daquela ação em face do valor do
capital social. Caso o estatuto social não estabeleça o valor nominal,
as ações continuam a conferir os mesmos direitos e deveres,
apenas não terão um valor expresso em moeda no título.
Caso tenham expresso o valor nominal, todas as ações deverão
ter o mesmo valor. Ainda que a companhia não tenha ações com
valor nominal, o estatuto poderá criar uma ou mais classes de ações
preferenciais com valor nominal.
O preço de emissão da referida ação, contudo, não se identifica
com o seu valor nominal. O preço de emissão é o valor pago como
contribuição pelo subscritor e que será fixado pela assembleia na
constituição da companhia ou no aumento de seu capital social.
Caso o preço de emissão seja superior ao valor nominal, a diferença
não formará o capital social, mas constituirá reserva de capital.
O valor patrimonial, por seu turno, é a parcela do patrimônio da
companhia. Como o capital social não varia, mas o patrimônio sim, o
valor patrimonial da ação poderá ser superior ou inferior ao valor
nominal da ação.
Quanto à forma, as ações poderão ser nominativas ou escriturais.
Estão proibidas as ações ao portador, cujos proprietários não eram
identificados. Todas as ações devem ser nominativas.
Na primeira forma de ação nominativa, o nome do acionista
encontra-se inscrito no livro de Registro de Ações Nominativas. A
transferência nessa ocorre mediante termo no livro de transferência
de ações nominativas.
As ações escriturais são formas também de ações nominativas,
pois identificam os acionistas. Não há emissão de certificados. São
mantidas as ações escriturais em contas de depósito em nome dos
titulares, numa instituição financeira. Prescinde-se, portanto, do livro
de transferência, pois a instituição financeira fará o controle de
quem é o proprietário das ações. A propriedade é presumida pelo
registro na conta de depósito das ações.
As ações podem se diferenciar, também, quanto aos direitos
conferidos aos acionistas. Podem ser ações ordinárias, ações
preferenciais ou ações de fruição.
As ações ordinárias são as ações que conferem direitos comuns
aos acionistas. Garantem a esses o direito de voto nas deliberações
e o direito de participar dos lucros e das perdas. Apenas nas
companhias fechadas podem ser divididas em classes diversas, se
permitirem a conversão em ações preferenciais, exigirem
nacionalidade brasileira ou permitirem direito de voto em separado
para eleger membros dos órgãos de administração.

Podem garantir prioridade na distribuição de dividendo, prioridade


no reembolso do capital ou ambos. Caso as ações limitem o direito
de voto do acionista, elas precisam garantir a eles um privilégio. Se
limitar o direito de voto, a ação preferencial deve garantir o direito de
participar do dividendo a ser distribuído e que deve corresponder a,
pelo menos, 25% do lucro líquido do exercício; ou direito de
recebimento de dividendo por ação preferencial pelo menos 10%
maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou direito de serem
incluídas na oferta pública de aquisição de controle.
Se a companhia deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos,
por prazo previsto no estatuto, mas que não pode ser superior a três
exercícios consecutivos, as ações preferenciais com limitação de
voto passarão a ter esse direito.
Ações de fruição são as em que já houve a amortização do valor
que seria atribuído numa partilha. Os acionistas já foram pagos em
relação ao montante a que teriam direito em uma liquidação da
companhia. A ação de fruição garante os demais direitos com
exceção de participação no acervo por ocasião da partilha dos bens.

■ 5.6.3.7.2. Partes beneficiárias


Não representam fração do capital social e serão de um único
tipo. Somente podem ser emitidas pelas companhias fechadas e
conferem direito aos titulares para participarem nos lucros anuais. A
participação nos lucros não pode ultrapassar 10% do total dos
lucros.
Podem ser utilizadas pela companhia para captar recursos ou
entregues a fundadores, acionistas ou terceiros como remuneração
por serviços prestados.

■ 5.6.3.7.3. Debêntures
Debêntures são valores mobiliários emitidos pela companhia para
captação de recursos de longo e médio prazos. Não confere direitos
de acionista, mas apenas direitos de crédito em face da companhia.
Podem ser de quatro espécies: com garantia real (o empréstimo
tem uma garantia real de pagamento), com garantia flutuante
(garantem um crédito com privilégio geral sobre o ativo),
quirografárias (não garantem nenhum privilégio aos titulares),
debêntures subordinadas (os titulares somente têm preferência
sobre os acionistas para receber partilha do ativo, em liquidação,
mas menos privilegiada do que os demais acionistas).
O estatuto social poderá garantir que as debêntures possam ser
ou não conversíveis em ações, caso o titular prefira, em vez de
receber o que lhe fora garantido, converter seu crédito em ação da
companhia.
Os debenturistas podem se fazer representar, nas relações com a
companhia, por um agente fiduciário. Esse agente terá poderes para
proteger os interesses dos debenturistas.

■ 5.6.3.7.4. Bônus de subscrição


São valores mobiliários emitidos apenas pelas sociedades
anônimas de capital autorizado, aquelas que já têm um aumento de
capital social aprovado. Os bônus de subscrição garantem aos
titulares o direito de subscrever ações da companhia por
determinado preço. Ficam os bônus limitados ao aumento do capital
social.

■ 5.6.3.7.5. Commercial paper


São títulos emitidos para a captação de recursos de curto prazo.
São promessas de pagamento conferidas aos titulares para
pagamento entre 30 e 180 dias pelas companhias fechadas e entre
30 e 360 pelas companhias abertas.

■ 5.6.3.8. Órgãos sociais


Quatro são os órgãos sociais das sociedades anônimas: a
assembleia geral, a Diretoria, o Conselho de Administração e o
Conselho Fiscal.

■ 5.6.3.8.1. Assembleia geral de acionistas


À assembleia geral foi conferido o poder de decidir sobre as
principais decisões da companhia. Nos termos do art. 121 da Lei n.
6.404/76, a Assembleia Geral poderá deliberar sobre todos os
negócios relativos ao objeto da companhia.
A assembleia é formada por todos os credores que possuam
direito de voto e é órgão hierarquicamente superior a todos os
demais da companhia.
Compete exclusivamente à Assembleia Geral o poder de:
reformar o estatuto social; eleger ou destituir, a qualquer tempo, os
administradores e fiscais da companhia; tomar, anualmente, as
contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações
financeiras por eles apresentadas; autorizar a emissão de
debêntures; suspender o exercício dos direitos do acionista;
deliberar sobre a avaliação dos bens com que o acionista concorrer
para a formação do capital social; autorizar a emissão e partes
beneficiárias; deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e
cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir
liquidantes e julgar-lhes as contas; e autorizar os administradores a
confessar falência e pedir recuperação. Na hipótese de urgência, os
administradores poderão confessar a falência e formular pedido de
recuperação, com a concordância do controlador, convocando-se
imediatamente a assembleia geral para manifestar-se sobre a
matéria.
A assembleia poderá ser ordinária ou extraordinária, conforme a
deliberação. Nada impede que haja a cumulação de ambas em uma
mesma deliberação.
A assembleia geral ordinária é a que ocorre anualmente, até
quatro meses do término do exercício social. Compete à assembleia
geral ordinária: apreciação das contas dos administradores; exame
das demonstrações financeiras; deliberação sobre a destinação do
lucro líquido do exercício; distribuição dos dividendos; eleição dos
administradores e membros do Conselho Fiscal.
Diante da pandemia do Coronavírus e mesmo para as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e as subsidiárias das
referidas sociedades, a Lei n. 14.030/2020 permitiu que as
sociedades anônimas cujo exercício social tenha sido encerrado
entre 31 de dezembro de 2019 e 31 de março de 2020 poderá,
excepcionalmente, realizar a assembleia geral ordinária em até sete
meses do término do exercício social. Inclusive, quanto à essa
dilação do prazo, o prazo de gestão dos administradores e membros
do Conselho Fiscal e de comitês estatutários ficarão prorrogados até
a realização da AGO.
A assembleia geral extraordinária é a que pode se realizar em
qualquer época e apreciará qualquer matéria que não seja
atribuição da assembleia geral ordinária.
Poderão convocar a assembleia geral os administradores, o
Conselho Fiscal, ou qualquer acionista se os administradores
retardarem a convocação por mais de 60 dias nos casos previstos
no estatuto ou na lei. Podem ainda convocar a assembleia os
acionistas que representem ao menos 5% do capital social, se
os administradores não atenderem ao pedido feito por eles no prazo
de oito dias, ou 5% do capital votante ou 5% do capital sem direito a
voto, se os administradores não atenderem a convocação do
Conselho Fiscal.
A convocação se fará por publicação por três vezes, ao menos.
Nas companhias fechadas, a primeira publicação deverá ser de ao
menos oito dias de antecedência da assembleia e a segunda
convocação com no mínimo cinco dias. Se a companhia for aberta,
15 dias de antecedência para a primeira convocação e ao menos
oito dias para a segunda convocação.

Companhia 15 dias de antecedência para a 8 dias de antecedência para a


aberta primeira convocação segunda convocação

Companhia 8 dias de antecedência para a 5 dias de antecedência para a


fechada primeira convocação segunda convocação

Ainda que haja irregularidades na convocação, o vício será


suprido caso todos os acionistas tenham comparecido à assembleia.
A Assembleia Geral será realizada, preferencialmente, no edifício
onde a companhia tiver sede ou, por motivo de força maior, em
outro local, desde que seja no mesmo município da sede e seja
indicado com clareza nos anúncios (art. 124, § 2º, da Lei n.
6.404/76).
Em virtude da alteração promovida pela Lei n. 14.030/2020, nas
companhias, tanto fechadas quanto abertas, poderá haver
assembleia geral digital ou eletrônica. O acionista poderá participar
e votar à distância, nos termos do regulamento da Comissão de
Valores Mobiliários e do órgão competente do Poder Executivo
Federal.
Os quóruns de instalação são de um quarto do capital social com
direito a voto em primeira convocação e de qualquer número na
segunda convocação. Se a deliberação for de alteração do estatuto,
o quórum de instalação é de dois terços em primeira convocação e
a segunda convocação tem o quórum de qualquer quantidade de
acionistas com direito a voto.
Em regra, o quórum de votação é de maioria de votos dos
acionistas presentes. Nas sociedades anônimas fechadas, o
estatuto pode aumentar o quórum de algumas matérias.
Exige-se quórum qualificado de maioria absoluta do capital social
com direito a voto, se número maior não for exigido pelo estatuto
social, para as deliberações sobre: criação de ações preferenciais
ou aumento de classe dessas, alteração nas preferências, casos em
que o quórum de aprovação será de maioria absoluta de cada
classe de ações preferenciais prejudicadas; redução do dividendo
obrigatório; fusão da companhia, incorporação e cisão; participação
em grupo de sociedade; mudança de objeto da companhia;
cessação do estado de liquidação da companhia; criação de partes
beneficiárias; dissolução da companhia.

■ 5.6.3.8.2. Administradores
São administradores das sociedades anônimas os membros do
conselho de administração e os diretores, ou somente os diretores.
Aos administradores, de modo geral, foi atribuído o dever de agir
com diligência, lealdade e sem conflito de interesses.
Com base no dever de diligência, o administrador deve
empregar a diligência que todo homem ativo e probo costuma
empregar na administração de seus próprios negócios. De modo
que não pode praticar ato de liberalidade à custa da companhia,
salvo autorização da assembleia ou do conselho de administração,
tomar por empréstimo recursos ou bens da companhia, usar em
proveito próprio os bens ou serviços da sociedade, nem poderá
receber de terceiros qualquer vantagem em razão do exercício de
seu cargo.
Pelo devedor de lealdade, deve manter reserva sobre os negócios
sociais. Não poderá usar em benefício próprio oportunidades
comerciais de que tenha conhecimento em razão do cargo nem
poderá omitir-se no exercício ou proteção dos direitos da companhia
visando à obtenção de vantagens pessoais.
Terá ainda o dever de informar e de sigilo. O administrador deverá
comunicar imediatamente à bolsa de valores e divulgar pela
imprensa fatos relevantes.

Caso a informação possa comprometer a estratégia da


companhia, deverá manter sigilo sobre o fato relevante e comunicar
à Comissão de Valores Mobiliários sobre a prestação de
informações.
É o administrador responsável se violar suas atribuições ou
poderes, com culpa ou dolo ou com violação da lei ou do estatuto.
Entretanto, o administrador não responde pessoalmente pelas
obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato
regular de gestão, pois nesse caso age como órgão da companhia,
obrigando-a perante terceiros.

■ 5.6.3.8.2.1. Conselho de administração


A lei garantiu uma estrutura administrativa dúplice facultativa. Isso
significa que o conselho de administração foi previsto como de
adoção apenas facultativa pelas sociedades anônimas.
O conselho de administração será de existência obrigatória
apenas nas sociedades anônimas abertas, nas sociedades
anônimas de capital autorizado (aquelas em que o aumento de
capital já fora aprovado) e nas sociedades anônimas de economia
mista.
Os membros do conselho de administração serão eleitos e
destituídos pela assembleia geral de acionistas. O estatuto fixará o
número de membros do conselho de administração, que deve ser
de, no mínimo, três membros, e o prazo de gestão, que não poderá
ser superior a três anos.
O estatuto poderá prever a participação de representantes dos
empregados no conselho de administração. Os membros do
conselho de administração poderão ser acionistas ou não
acionistas, desde que sejam pessoas naturais.
Para que se garanta a representação das minorias nesse órgão
administrativo, a eleição poderá ocorrer por voto múltiplo, desde que
requerido por acionistas que representem no mínimo 10% do valor
do capital social com direito a voto. Nesse caso, são atribuídos
tantos votos quantos sejam os membros do conselho de
administração. A destituição de qualquer membro do conselho de
administração eleito por voto múltiplo implica a destituição de todos
os demais eleitos por essa forma.

Se os percentuais não forem atingidos, os minoritários poderão


somar suas participações com os preferencialistas para elegerem
um membro do conselho de administração, desde que a soma
resulte em 10% ao menos de participação no capital social.
O Conselho de Administração é órgão deliberativo a quem foram
atribuídos os poderes de gestão. Não possuem poderes de
representar a companhia perante terceiros, o que cabe
exclusivamente aos diretores. Foram atribuídos poderes ao
conselho de administração para a fixação da orientação geral dos
negócios da companhia; a eleição e destituição dos diretores da
companhia e a fixação das atribuições destes, conforme dispuser o
estatuto; a fiscalização da gestão dos diretores; a manifestação
prévia sobre os atos ou contratos; e a autorização para a alienação
de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e a
prestação de garantias e obrigações de terceiros.

■ 5.6.3.8.2.2. Diretores
Os diretores são órgãos administrativos que diferem do conselho
de administração. A diretoria é sempre obrigatória, enquanto o
conselho de administração é facultativo, exceto nas hipóteses
legais. Os diretores têm poderes de atuação isolada, salvo se o
contrário for estabelecido no estatuto, enquanto o conselho de
administração é sempre órgão deliberativo. Salvo se no contrário for
estabelecido no estatuto social, a todos os diretores são atribuídos
poderes de representação da companhia, enquanto nunca os terão
os membros do conselho de administração.
O estatuto estabelecerá a quantidade de diretores, embora a lei
imponha o limite mínimo de dois, bem como o prazo de gestão, o
qual, todavia, não poderá ser superior a três anos, permitida a
reeleição. Poderá o estatuto, ainda, estabelecer quais são as
funções de cada um dos diretores.
Na existência do conselho de administração, os diretores serão
eleitos pelo Conselho. Caso não exista o conselho de
administração, os diretores serão eleitos diretamente pela
assembleia geral de acionistas.
Os diretores deverão obrigatoriamente ser pessoas naturais e ter
residência no Brasil. Podem ou não ser acionistas. Poderão ser
eleitos como diretores até um terço dos membros do conselho
de administração da companhia.

■ 5.6.3.8.3. Conselho fiscal


O conselho fiscal é de existência obrigatória nas sociedades
anônimas, embora a sua instalação seja facultativa, a depender
do que dispuser o estatuto social. Caso o estatuto determine que o
funcionamento do conselho fiscal não seja permanente, poderão
requerer seu funcionamento os acionistas que representem, ao
menos, 10% das ações com direito a voto ou 5% das ações sem
direito a voto.
Ao conselho fiscal foi atribuído o poder de: fiscalizar os
administradores; opinar sobre o relatório anual da administração;
denunciar aos demais órgãos os erros e fraudes que descobrirem;
examinar o balancete e demais demonstrações financeiras;
convocar a assembleia geral ordinária se os órgãos de
administração retardarem a convocação por mais de 30 dias ou
convocar a assembleia extraordinária sempre que houver motivos
graves e urgentes.
Os membros do conselho fiscal devem ser pessoais naturais,
residentes no Brasil, acionistas ou não acionistas, e deverão ter
curso universitário ou deverão ter exercido no mínimo por três anos
o cargo de administrador de empresa. Estão impedidos de exercer a
função os membros dos órgãos administrativos da companhia ou de
sociedade controlada, ou ainda os cônjuges ou parentes do
administrador da companhia.

■ 5.6.4. Sociedade em nome coletivo


Além das sociedades sem personalidade jurídica, das sociedades
simples, da sociedade limitada e da sociedade anônima, as diversas
outras sociedades no direito brasileiro são utilizadas de modo
menos frequente. São elas as sociedades em nome coletivo, as
sociedades em comandita simples, as sociedades em comandita por
ações, as sociedades cooperativas.
As sociedades em nome coletivo são tratadas nos arts. 1.039 e s.
Na lacuna da lei, aplicam-se às sociedades em nome coletivo as
normas da sociedade simples.
Podem ser sócios da sociedade em nome coletivo apenas as
pessoas físicas. Não são admitidas pessoas jurídicas como sócias.
Característica peculiar é que os sócios da sociedade em nome
coletivo têm responsabilidade ilimitada pelas obrigações sociais.
A responsabilidade, entretanto, é sempre subsidiária. Os sócios
respondem solidariamente entre si pelas obrigações sociais, mas
apenas após os bens da sociedade já terem sido executados e
serem insuficientes para a satisfação de toda a dívida.
Os administradores da sociedade serão eleitos pelos sócios e
deverão ser necessariamente sócios. É vedada a eleição de terceiro
estranho à sociedade.

■ 5.6.5. Sociedade em comandita simples


A sociedade em comandita simples tem como característica
marcante possuir dois tipos de sócios: os sócios comanditários e os
sócios comanditados.

Para os sócios comanditários, a limitação restringe-se ao


montante subscrito por cada qual e ainda não integralizado. A
responsabilidade desses sócios é limitada ao valor da quota
subscrita e não integralizada por eles. Podem os sócios
comanditários ser pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Apenas
contribuem para a formação do capital social, mas não poderão ser
eleitos para os cargos de administração da sociedade.
O sócio comanditário não poderá praticar nenhum ato de gestão,
ou ter nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às
responsabilidades de sócio comanditado.

Aos sócios comanditados aplicam-se as normas da sociedade em


nome coletivo no que forem compatíveis. Os sócios comanditados
são necessariamente pessoas físicas. Aos sócios comanditados fora
atribuído o direito de serem eleitos para a administração da
sociedade, exclusivamente.
Todos os sócios comanditados serão administradores da
sociedade e terão poderes para representar a sociedade perante
terceiros ou serão administradores apenas os sócios comanditados
designados pelo contrato social.
Caso os sócios comanditários e que, portanto, teriam
responsabilidade apenas limitada pelas obrigações sociais ao
valor das respectivas cotas não integralizadas, passem a
intervir na administração da sociedade, passarão a ser ilimitada
e solidariamente responsáveis perante terceiros, como os
sócios comanditados.
A falta da pluralidade dos tipos de sócios por mais de 180 dias,
ainda que exista mais do que um da outra categoria, implica a
dissolução de pleno direito da sociedade.
■ 5.6.6. Sociedade em comandita por ações
A sociedade em comandita por ações caracteriza-se por ser
disciplinada pelo Código Civil apenas nos arts. 1.090 a 1.092.
Aplicam-se supletivamente a essas sociedades as normas da
sociedade anônima.
Como sociedade de capital, as sociedades em comanditas por
ações têm a liberdade de transferência pelos acionistas de suas
respectivas ações e há liberdade de ingresso dos acionistas e
credores particulares, com a penhora das ações.
A administração da sociedade compete exclusivamente aos
acionistas. Os diretores serão nomeados no estatuto social e
somente poderão ser destituídos pelo quórum de dois terços do
capital social. Os diretores são ilimitadamente responsáveis pelas
obrigações sociais. São responsáveis, mesmo se destituídos, pelo
prazo de dois anos, desde que pelas obrigações sociais contraídas
pela sociedade sob a sua administração. Entre si, os diretores são
solidariamente responsáveis.
A responsabilidade dos demais acionistas não nomeados
diretores é limitada. O acionista responde apenas pelo valor de suas
ações subscritas e não integralizadas.
Peculiar na sociedade em comandita por ações é que a
assembleia geral somente poderá alterar o objeto da sociedade,
prorrogar seu prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital
social, criar debêntures ou partes beneficiárias se houver o
consentimento dos diretores.

■ 5.6.7. Sociedades cooperativas


Nas sociedades cooperativas, os sócios se reúnem para a
melhoria de seus membros. A Lei n. 5.764/71 define-as como as
pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito
comum, sem objetivo de lucro.
Exige-se o desenvolvimento de uma atividade econômica. Porém,
a atividade é desenvolvida sem o intuito lucrativo. Não há lucro pela
atividade da cooperativa a ser repartido entre os cooperados. O
lucro é obtido pelo cooperado diretamente pelo exercício de sua
atividade. Com a atividade da cooperativa, o cooperado se beneficia
dos serviços da cooperativa, com a redução de custos de bens ou
de serviços. A cooperativa presta serviços ao sócio.
As cooperativas são sempre sociedades não empresárias, ou
chamadas sociedades de forma simples. São também consideradas
sociedades de pessoas, em que é relevante a qualificação de cada
um dos cooperados. Por conta disso, não se admite a transferência
das quotas, seja inter vivos ou mortis causa.
Vigora o princípio das portas abertas, que permite que qualquer
pessoa ingresse na companhia, mas desde que preencha os
requisitos exigidos para tanto. O ingresso não ocorre em razão da
simples cessão da quota.

A sociedade cooperativa não possui capital social fixo. O


capital social é variável e sequer precisa ser expresso, ao contrário
dos demais tipos sociais.
Os cooperados votam em assembleia independentemente da
participação no capital social. O voto é realizado por cabeça e não
depende da participação no capital social.
Pela Lei n. 14.030/2020, permitiu-se ao associado participar e
votar à distância em reunião ou em assembleia, que poderão ser
realizadas em meio digital, desde que respeitados os direitos
legalmente previstos de participação e de manifestação dos
associados.
Aplicam-se supletivamente às cooperativas as normas das
sociedades simples.

■ 5.7. Operações societárias


As sociedades poderão se extinguir, além do encerramento da
liquidação, pela incorporação, fusão ou cisão. Poderá ainda
ocorrer a transformação da sociedade.
A incorporação, fusão ou cisão devem ser deliberadas do modo
previsto nos contratos sociais e devem constar de protocolo firmado
por órgãos de administração das sociedades.
A incorporação é a operação pela qual uma sociedade é
absorvida por outra. A sociedade incorporadora sucede a
incorporada em todos os direitos e obrigações. A sociedade
incorporada é extinta. A assembleia da incorporadora deve autorizar
o aumento de capital com o capital da incorporada. Há direito de
recesso do acionista da incorporada, se sua ação não tiver liquidez,
mas não há direito de recesso ao acionista da sociedade
incorporadora.
Na fusão, duas sociedades se unem para formar uma sociedade
nova, que sucederá as antigas em todos os direitos e obrigações.
As assembleias deverão aprovar o protocolo de fusão e a avaliação
do patrimônio da outra sociedade. Há direito de recesso aos
acionistas dissidentes, a menos que haja liquidez para as ações.
A cisão das sociedades transfere parte do patrimônio para uma ou
mais sociedades, com a extinção da sociedade cindida, se total, ou
com a redução do capital, se cisão parcial. A sociedade que receber
parcela do patrimônio sucede nas obrigações e direitos relacionados
na cisão. Responderá, entretanto, solidariamente com a cindida
perante terceiros por obrigações anteriores à cessão. Se mais de
uma sociedade recebeu patrimônio, com a extinção da cindida,
essas sociedades sucederão nos direitos e obrigações na proporção
do patrimônio recebido, mas serão solidariamente responsáveis pe-
rante terceiros pelas obrigações da cindida. Os acionistas da
cindida, dissidentes da deliberação, terão direito de recesso.
A transformação não extingue a sociedade. A transformação
altera o tipo societário e deverá observar a disciplina para a
constituição do tipo a ser adotado. Exigirá o consentimento unânime
dos sócios, exceto se previsto em contrário no contrato social, o que
garantirá direito do dissidente se retirar. Os credores não ficarão
prejudicados com a transformação. Eles continuam com as mesmas
garantias até o pagamento integral do seu crédito.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813


■ 6. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
Por ocasião do fechamento desta edição, houve a aprovação no
Congresso Nacional do Projeto de Lei n. 6.229/45, da Câmara dos
Deputados, que recebeu o número 4.458/2020 no Senado, e foi
remetido à sanção presidencial.
O projeto faz alterações em diversos pontos da Lei n.
11.101/2005. Nesse item, essas alterações serão apresentadas
conforme o texto aprovado no Congresso Nacional. Imprescindível
que se avaliem eventuais vetos presidenciais por ocasião da
realização dos exames.

■ 6.1. Histórico
O Decreto-lei n. 7.661/45 disciplinava anteriormente a falência e a
concordata do empresário.
A concordata era um benefício legal concedido
independentemente da vontade dos credores e permitia a dilação do
vencimento das obrigações do empresário ou o desconto, remissão
parcial de seus valores, conforme o tempo pretendido de
pagamento. A concordata podia ser preventiva, quando pretendia
evitar a decretação da falência, ou suspensiva, quando a falência já
tinha sido decretada e a concordata era concedida para sustar os
seus efeitos.
A concordata, entretanto, como não exigia a manifestação dos
credores, foi em grande parte desviada para beneficiar empresários
cuja crise já era irreversível, o que comprometia, inclusive, o
desenvolvimento regular do procedimento falimentar depois de
determinado tempo.
A disciplina da falência pelo Decreto-lei n. 7.661/45, por outro
lado, também não era eficiente. A lei condicionava a liquidação dos
bens à apuração do passivo, criando fases estanques no processo e
que comprometiam a celeridade no procedimento. A maior
morosidade impedia que a lei promovesse seus objetivos, pois a
alienação tardia dos bens provocava grande deterioração na prática,
com reduzida satisfação dos credores.
A Lei n. 11.101/2005 procurou tornar o instituto da falência mais
célere e eficiente, assim como procurou garantir a efetiva
possibilidade de recuperação do empresário sob crise reversível,
seja através da estruturação da recuperação judicial, seja da
possibilidade de recuperação extrajudicial. Propiciou, para tanto, a
possibilidade de intensa participação dos credores durante todo o
procedimento, de modo a garantir maior controle do empresário e o
atendimento dos interesses de toda a coletividade afetada pela
atividade.

■ 6.2. Sujeitos à lei de falência e de recuperação


A Lei de falências e de recuperação judicial apenas se aplica aos
empresários e sociedades empresárias, tal como definido nos arts.
966 e 982 do Código Civil.
Embora desenvolvam atividade econômica profissional e
organizada voltada à produção e circulação de bens ou serviços e
não sejam profissionais intelectuais, artísticos, científicos ou
literários, alguns empresários foram excluídos da possibilidade de
requererem a recuperação judicial ou extrajudicial e de terem a
falência decretada, ao menos por pedido direto de algum credor.
A lei também excluiu outros empresários, que jamais poderão
requerer a recuperação judicial ou extrajudicial, mas que poderão ter
a falência decretada após procedimento administrativo apenas. São
os empresários relativamente excluídos: as instituições financeiras
públicas ou privadas, consórcio, entidade de previdência
complementar aberta, sociedade operadora de plano de assistência
à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras
entidades legalmente equiparadas. Estas, entretanto, não estão
totalmente excluídas da falência. Podem ter a falência decretada,
mas desde que submetidas ao regime de liquidação extrajudicial ou
de intervenção determinado por agência reguladora e que autorize o
liquidante ou interventor a requerer a autofalência.

■ 6.3. Competência para o processo de falência e de recuperação


É competente para homologar o plano de recuperação
extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o
juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da
filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
A doutrina majoritária entende que o principal estabelecimento é
aquele economicamente mais importante. Local em que a maior
quantidade e o maior valor de contratos são celebrados, de modo
que a menor quantidade de credores precisará se deslocar para
longe do local em que celebraram o contrato.

■ 6.4. Falência
■ 6.4.1. Conceito de falência
A falência é uma execução coletiva dos bens do empresário
devedor. Decorre da crise econômico-financeira pela qual passa o
empresário a ponto de não mais lhe permitir a satisfação das
obrigações contraídas perante seus credores.
Diante de uma crise irreversível do empresário, esse é afastado
da condução da atividade empresarial para que não lese mais os
contratantes. Nos termos do art. 75 da Lei n. 11.101/2005, a
falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades,
visa a preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos
ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis da
empresa; permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com
vistas à realocação eficiente de recursos na economia; e fomentar o
empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno
célere do empreendedor falido à atividade econômica.
A falência permite a arrecadação dos seus bens para o
pagamento dos credores conforme a ordem legal. Pretende a lei que
os credores sejam satisfeitos de modo idêntico, conforme a classe
de preferência de cada qual, por meio da liquidação dos bens do
empresário devedor.
Para que se possa obter maior valor com a venda dos bens e,
portanto, maior satisfação dos credores, o processo de falência
atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual. A
liquidação deverá ser realizada pelo administrador judicial em até
180 dias da arrecadação dos bens e essas alienações não terão
preço vil para justamente conseguir se acelerar o procedimento de
venda. Por conta disso, os processos de falência, mas também os
de recuperação judicial e extrajudicial e os seus incidentes,
preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer
instância.

■ 6.4.2. Juízo universal e indivisível


O juízo da falência é universal e indivisível. Universal porque
todos os credores passam a concorrer em um mesmo juízo em
razão da formação da massa falida subjetiva. Indivisibilidade
significa que o juízo da falência é o competente para conhecer de
todas as ações em face do falido, de modo a permitir que todos os
bens sejam arrecadados e que os credores sejam pagos conforme a
pars conditio creditorum, a igualdade de credores da mesma
classe.
Não serão atraídas ao juízo as causas trabalhistas, fiscais, as em
que a massa falida figure como autora, as ações que demandem
quantia ilíquida se tiverem sido promovidas antes da decretação da
falência, as ações em que são partes a União Federal, entidade
autárquica ou empresa pública federal, cuja competência é da
justiça federal.

■ 6.4.3. Autor do pedido de falência


A falência não pressupõe a insolvabilidade do empresário
devedor, ou seja, que os bens são insuficientes para a satisfação de
todas as suas obrigações. A insolvência necessária para a
decretação da falência é apenas a insolvência jurídica, ou seja, que
esteja presente uma das situações do art. 94 da Lei de
recuperações e falência, ou seja, a impontualidade injustificada, a
execução frustrada ou a prática de atos falimentares.
Poderão pedir a falência: o próprio devedor, na hipótese de
autofalência; o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor
ou o inventariante; o quotista ou acionista do devedor na forma da
lei ou do ato constitutivo da sociedade; ou qualquer credor.
Se o credor for empresário, deverá demonstrar que desenvolve
regularmente sua atividade para pedir a falência do devedor
empresário. A regularidade, contudo, para o pedido de falência é
apenas do autor. O devedor empresário, ainda que irregular, poderá
falir e pedir sua autofalência, embora não possa se beneficiar do
instituto da recuperação.
■ 6.4.4. Fundamentos do pedido
O pedido de falência poderá ser motivado na impontualidade
injustificada, na execução frustrada ou na prática de atos
falimentares.

■ 6.4.4.1. Impontualidade injustificada

Nessa hipótese, exige-se título executivo, o qual pode ser judicial


ou extrajudicial.
O título executivo precisa estar devidamente protestado. O
protesto demonstra a mora. Não há necessidade de que o protesto
seja para fins falimentares, basta que seja mero protesto cambial.
Exige-se, porém, que a notificação do protesto seja encaminhada
para a sede do registro do empresário e que haja a identificação de
quem a recebeu.
A obrigação constante no título deve ser de valor superior a 40
salários mínimos na data do pedido. A comparação é feita apenas
com o valor de face do título, sem atualização ou incidência de
juros, com o salário mínimo por ocasião da distribuição do pedido.
Caso o título não possua valor de 40 salários mínimos, a lei
permite que os credores se unam em litisconsórcio, a fim de, juntos,
possuírem títulos executivos protestados e não satisfeitos em valor
somado de mais de 40 salários mínimos.
Por fim, o inadimplemento deverá ter ocorrido sem relevante
razão de direito. Precisa ser injustificado. As hipóteses que
justificam o inadimplemento são a falsidade do título, a prescrição
ou a nulidade da obrigação ou dos títulos ou qualquer outro fato que
extinga ou suspenda a obrigação ou não legitime a cobrança do
título.
A falência também não será decretada caso seja demonstrado
que houve o pagamento da dívida, vício em protesto, se houver a
apresentação de pedido de recuperação judicial ou se for
demonstrada que houve a cessação das atividades empresariais há
mais de dois anos antes do pedido de falência ou se fora a
sociedade anônima liquidada e partilhado seu ativo.

■ 6.4.4.2. Execução frustrada


O segundo fundamento para se requerer a falência de empresário
devedor é a execução frustrada.
O credor já promoveu execução por quantia líquida e não fora
pago, o devedor não efetuou o depósito ou não nomeou bens à
penhora suficientes para a satisfação da dívida dentro do prazo
legal.
Diante da não satisfação, o credor requererá a suspensão do
processo de execução e, munido de uma certidão que demonstre
que os três atos não foram satisfeitos pelo devedor, requererá a
falência.
Não há qualquer valor mínimo para o requerimento falimentar.
Basta a certidão de que nenhum dos atos fora praticado pelo
devedor no processo de execução.

■ 6.4.4.3. Prática de atos falimentares


Poderá ser requerida a falência do devedor pela demonstração de
que ele está praticando atos para dificultar a satisfação ou o
recebimento dos valores por seus credores.
São atos falimentares a liquidação precipitada dos ativos ou meio
ruinosos ou fraudulentos para realizar o pagamento; prática de
negócio simulado ou alienação a terceiro para fraudar credores;
transferência de estabelecimento a terceiros sem consentimento dos
demais credores; concessão de garantia a credor por dívida anterior,
sem que restem bens para a satisfação dos demais credores;
ausentar-se sem deixar recursos para pagar os credores ou caso as
obrigações previstas no plano de recuperação judicial não sejam
cumpridas.

■ 6.4.5. Contestação e depósito elisivo


A menos que o pedido de falência seja realizado pelo próprio
devedor, autofalência, situação em que poderá ser decretada a
falência prontamente, desde que presentes todos os documentos
necessários ao pedido, o pedido feito pelos credores exigirá a
citação pelo devedor.
O empresário devedor será citado para contestar e/ou realizar
o depósito elisivo no prazo de 10 dias. No prazo da contestação
poderá formular o réu, também, pedido de recuperação judicial.
Na contestação, o devedor poderá deduzir todos os argumentos
para impedir sua decretação de falência. Poderão ser deduzidas
todas as matérias defensivas, tanto as de natureza processual como
os fatos impeditivos do direito do autor.
Faculta-se ao réu, juntamente com a contestação, ou mesmo sem
que essa tenha sido apresentada, realizar o depósito elisivo.
A realização do depósito sempre impede a decretação da falência,
ainda que a contestação não tenha sido apresentada. Caso seja
realizado o depósito elisivo, são apreciados os argumentos da
contestação. Se eles não forem acolhidos ou se sequer fora
apresentada a contestação, o depósito impedirá a decretação da
falência, e o valor será levantado pelo autor.
Caso os argumentos da contestação sejam acolhidos, também
não será decretada a falência, mas o depósito elisivo será levantado
pelo réu devedor, com a condenação do autor nas verbas de
sucumbência, diante do princípio da causalidade.
Nos termos do art. 98, parágrafo único, da LRF, o depósito elisivo
só é cabível nas hipóteses de pedido de falência baseado em
impontualidade injustificada e execução frustrada. Não cabe
depósito elisivo no caso de pedido baseado em prática de ato
falimentar.

■ 6.4.6. Sentença denegatória da falência


Caso acolhidos os argumentos da defesa ou diante do depósito
elisivo, será proferida sentença denegatória da falência, a qual será
desafiada pelo recurso de apelação.
Caso o pedido denegado tenha sido realizado por dolo, com o
intuito de causar prejuízo ao empresário devedor, o autor poderá ser
condenado, na própria sentença que julgar improcedente o pedido,
a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em
liquidação de sentença.

■ 6.4.7. Sentença declaratória de falência


A sentença de falência, apesar do nome, tem natureza
constitutiva, pois constitui o falido em um regime diverso, o
falimentar, além de declarar a situação de insolvência preexistente.
Da sentença de falência cabe recurso de agravo.
A sentença de falência inicia propriamente a fase falimentar,
impondo um regime diverso a todas as obrigações e efeitos ao
falido, aos seus sócios, eventualmente, às relações celebradas e
aos seus bens.
A sentença de falência, além de identificar o falido e seus
administradores, fixará o termo legal da falência, ordenará ao falido
a apresentação de lista de seus credores no prazo de 5 dias,
determinará a suspensão de todas as ações e execuções contra o
falido, proibirá a prática de qualquer ato de disposição de bens do
falido, ordenará a notação da falência no registro do devedor para
que conste a expressão “falido” e nomeará o administrador judicial.

■ 6.4.8. Órgãos da falência


Para o procedimento de arrecadação de todos os bens, sua
liquidação e o pagamento com o produto dos credores conforme as
referidas classes, atuam diversos órgãos em complementação. São
eles o juiz falimentar, o Ministério Público, o Administrador Judicial,
a Assembleia Geral de Credores e o Comitê de Credores.

■ 6.4.8.1. O juiz
Ao juiz compete decretar a falência ou conceder a recuperação
judicial. Deve ele ainda apreciar todas as deliberações da
Assembleia Geral de Credores, ou manifestações de Comitê de
Credores, julgar todas as impugnações de crédito, pedidos de
restituição, ações revocatórias etc.
Sua função não é apenas jurisdicional no procedimento falimentar.
O magistrado também tem função administrativa, de preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens da massa falida, fixar o valor
da remuneração do administrador judicial, substituí-lo ou destituí-lo
etc.

■ 6.4.8.2. O Ministério Público


Embora o art. 4º, que determinava a intervenção do Ministério
Público em todo o procedimento tenha sido vetado, a legislação
processual que determina a intervenção do Ministério Público nos
processos em que há interesse público permanece em vigor. O
Ministério Público poderá atuar como custos legis ao longo de todo
o procedimento. Poderá ainda figurar como parte nas hipóteses de
denúncia por crime falimentar ou propositura de ação revocatória.

■ 6.4.8.3. O administrador judicial


O administrador judicial é nomeado por ocasião da sentença de
decretação de falência ou, no processo de recuperação judicial, por
ocasião da decisão de processamento.
O administrador judicial é auxiliar da justiça. Ele atua com
independência ao falido e aos credores de modo a garantir o
interesse público de preservação da higidez da atividade
econômica.

Difere do Decreto-lei n. 7.661/45, em que o síndico deveria ser


escolhido necessariamente entre os maiores credores e somente
após a recusa seria possível a escolha de um síndico dativo. Na Lei
n. 11.101/2005, o administrador judicial deverá ser escolhido entre
os profissionais de confiança do juiz.
Não poderá ser impedido. Está impedida de exercer esse múnus
a pessoa que foi destituída nos últimos cinco anos do cargo de
administrador judicial ou de membro do comitê de credores; aquele
que deixou de prestar contas ou teve a prestação desaprovada; o
parente ou afim até o terceiro grau do devedor, de seus
administradores, controladores ou representantes legais; o amigo,
inimigo ou dependente do devedor de seus administradores,
controladores ou dos representantes legais.
Suas funções são extensas e previstas no art. 22 da LRF. Podem
ser exemplificadas como funções de administração e liquidação da
massa falida, durante a falência. Ao administrador judicial compete
comunicar os credores sobre o pedido de recuperação judicial ou
declaração da falência, proceder à verificação dos créditos;
arrecadar, avaliar e liquidar os bens do falido; representará a massa
falida em juízo e prestará contas ao final do processo.
Na recuperação judicial, por seu turno, não praticará
ordinariamente atos de administração, mas apenas a fiscalização da
atividade empresarial do devedor e da veracidade das informações
apresentadas. Isso porque, na recuperação, ao contrário da falência
em que o devedor é afastado da condução das atividades
administrativas, o devedor continua no comando de seus negócios e
apenas será fiscalizado pelo administrador judicial.
Desse modo, compete ao administrador na recuperação judicial,
principalmente, a fiscalização das atividades do devedor e a
verificação se ele está cumprindo o plano de recuperação judicial.
Cabe ao administrador requerer a falência na hipótese de
descumprimento e apresentar relatório mensal das atividades do
devedor e sobre a execução do plano de recuperação judicial.
O administrador judicial será remunerado conforme a capacidade
de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os
valores praticados no mercado para o desempenho de atividades
semelhantes. A lei estabeleceu um teto simplesmente.

Quanto à forma de pagamento, a única restrição imposta pela lei é


a determinação de que, na falência, 40% da remuneração do
administrador judicial deverá ser reservada para pagamento após o
julgamento das contas, com a apresentação do relatório final. Os
outros 60%, entretanto, poderão ser pagos conforme determinação
judicial.
Na falência, a remuneração do administrador judicial será paga
pela própria massa falida, enquanto na recuperação judicial a
remuneração é paga diretamente pelo empresário devedor.
O administrador judicial poderá ser substituído ou destituído. A
substituição não é pena e ocorre pelo reconhecimento de
impedimento ou de mera quebra de confiança. O administrador faz
jus à remuneração proporcional até o momento em que exerceu a
atividade, a menos que tenha renunciado de modo injustificado.
A destituição, por seu turno, é penalidade ao administrador
judicial, em razão de ter descumprido seus deveres no exercício de
seu encargo. Como é sanção, exigirá o prévio contraditório. O
administrador judicial destituído perderá o direito de recebimento da
remuneração e, inclusive, deverá devolver se eventualmente já
levantou algum valor em razão do desempenho da atividade. A
destituição gera o impedimento de o administrador desempenhar
essa função em qualquer outro processo durante o prazo de cinco
anos.
O administrador judicial responde com culpa ou dolo pelos
prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou os credores no
desempenho de suas funções.

■ 6.4.8.4. Assembleia geral de credores


Os credores participam da atividade do processo de falência ou
de recuperação judicial e podem fazê-lo através da assembleia geral
de credores. A assembleia geral de credores manifesta a vontade
coletiva desses sempre que eles quiserem decidir sobre questões
de seu interesse na falência ou na recuperação judicial.
Terão direito de voto todos os credores cujos créditos tenham sido
habilitados até a data da realização da assembleia. Não possuem
direito de voto os credores não submetidos à falência ou à
recuperação, como os proprietários fiduciários, o arrendador
mercantil, o promitente vendedor de imóvel com cláusula de
irrevogabilidade, ou o proprietário em contrato de venda com
reserva de domínio.
A assembleia será formada por quatro classes de credores: I –
titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou
acidentes de trabalho (sem limite de valor); II – titulares de créditos
com garantia real (até o limite do bem dado em garantia. O
remanescente é quirografário); III – titulares de créditos
quirografários ou subordinados; IV – credores microempresários ou
empresários de pequeno porte.
A assembleia geral de credores tem a função, na falência, de
constituir o Comitê de Credores, de adotar outras modalidades de
realização do ativo, desde que haja quórum de dois terços dos
créditos presentes, e de deliberar sobre qualquer matéria que possa
afetar os interesses dos credores.
Na recuperação judicial, por seu turno, a assembleia aprova ou
rejeita o plano de recuperação judicial, constitui o comitê de
credores, decide sobre o pedido de desistência do devedor após o
processamento da recuperação judicial, indica o gestor judicial e se
manifesta sobre qualquer outra matéria de interesse dos credores.
A assembleia geral de credores poderá ser substituída por termo
de adesão em que os credores suficientes para o preenchimento do
respectivo quórum aprovem a matéria sujeita à deliberação.

■ 6.4.8.5. Comitê de credores


Os credores, em vez de sempre se manifestarem através de uma
assembleia geral de credores, poderão constituir um comitê de
credores, com poderes para fiscalização da atuação do
administrador judicial durante a falência ou para o acompanhamento
da atividade pelo devedor durante o procedimento de recuperação
judicial.
A constituição do Comitê de Credores é facultativa e apenas
poderá ocorrer por manifestação dos credores em assembleia geral.
Qualquer das quatro classes da assembleia poderá deliberar pela
constituição do Comitê. A classe votará por maioria de créditos.
A classe que deliberar pela constituição poderá eleger seu
representante e dois suplentes. As demais classes não precisarão
indicar seus representantes necessariamente. Podem ser eleitos
representantes terceiros não credores e pessoas jurídicas. São
impedidos de serem eleitos os mesmos impedidos a serem
administradores judiciais.
O Comitê funciona como órgão colegiado e as deliberações serão
tomadas por maioria de votos dos representantes existentes, pois
não é obrigatório que cada classe tenha nomeado o seu
representante.

A massa falida apenas ressarcirá as despesas para a realização


das atribuições, mas não pagará qualquer remuneração aos
representantes dos credores.
O representante poderá ser substituído a qualquer momento por
deliberação da maioria dos créditos da referida classe. Também
poderá ser destituído por decisão do Juiz diante do descumprimento
de seus deveres legais.
A responsabilidade dos membros do comité é subjetiva e solidária
pelos danos que causar à massa falida, ao devedor e aos próprios
credores.

■ 6.4.9. Efeitos da falência


A decretação da falência submete o falido, seus bens e os
credores a um novo regime jurídico: o de execução concursal.

Com a decretação da quebra, todos os credores serão


submetidos a um mesmo juízo para serem pagos. Isso exige que as
obrigações de todos sejam vencidas para que possam ser
equalizadas. Ainda que sejam vincendas, as obrigações se
vencerão e serão descontados os juros remuneratórios que
incidiriam sobre a obrigação.
A falência provoca a constituição da massa falida subjetiva,
reunindo todos os credores do falido. Não integrarão a massa nem
poderão exigir o pagamento pela recuperanda, entretanto, os
credores de obrigações a título gratuito e as despesas que os
credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na
falência, solvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o
devedor.
Para que possa arrecadar todos os bens do falido e de modo a
que os credores sejam pagos de forma equitativa em cada classe,
as ações e execuções individuais em face do devedor são
suspensas. As ações promovidas pela massa falida continuam
normalmente. Apenas as contrárias à massa são suspensas, pois
poderiam reduzir os ativos em benefício de alguns poucos credores
e em detrimento de todos.
Não se suspendem, entretanto, as reclamações trabalhistas, as
execuções fiscais e as que demandam quantia ilíquida. As
reclamações trabalhistas e as ações que demandam quantia ilíquida
prosseguirão até o momento em que o crédito em face da massa for
apurado. Apurado o crédito, o credor deverá se habilitar no processo
falimentar. As execuções fiscais, por seu turno, continuarão no juízo
competente, entretanto as alienações dos bens e o pagamento do
credor fiscal apenas serão realizados pelo Juízo falimentar.
Em face do falido, a declaração de falência impõe obrigações e
submete-o a limitações pessoais.
O falido deverá assinar termo de comparecimento, em que
esclarecerá as causas da falência e onde estão seus bens. Deverá,
ainda, depositar seus livros. Não poderá ausentar-se do lugar onde
se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao
juiz. Deve comparecer a todos os atos da falência, entregar todos os
bens, livros, papéis e documentos ao administrador judicial, prestar
as informações reclamadas, auxiliar o administrador judicial com
zelo e presteza, e, dentre outros, apresentar a relação de seus
credores.

Após a falência, o administrador judicial passa a arrecadar os


bens do falido, o qual perde a administração desses. Não poderá,
sequer, continuar como representante da massa falida nos
processos em que ele figura. O administrador judicial, a partir da
falência, passa a ser o único representante dos interesses da massa
falida. O falido, se o desejar, poderá apenas ingressar no processo
como terceiro interessado.
Nesse aspecto, o art. 82-A determina que é vedada a extensão da
falência ou de seus efeitos, no todo ou em parte, aos sócios de
responsabilidade limitada, aos controladores e aos administradores
da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração da
personalidade jurídica.
Quanto aos contratos, a decretação da falência provoca o
vencimento antecipado das obrigações do falido nos contratos
unilaterais. O administrador judicial poderá dar cumprimento ao
contrato unilateral se o cumprimento puder reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à
manutenção ou preservação dos ativos.
Quanto aos contratos bilaterais, em que são imputadas
obrigações a ambos os contratantes, os contratos bilaterais não se
resolvem por ocasião da falência. O administrador judicial poderá
cumprir o contrato se for conveniente à massa falida, ou seja, se
permitir a redução do passivo ou o aumento do ativo. Para tanto, o
contratante poderá interpelar o administrador judicial em 90 dias
para que esclareça se, no prazo de 10 dias, cumprirá ou não o
contrato bilateral. O silêncio implica resolução do contrato, com a
possibilidade de o contratante pleitear indenização pelo dano
sofrido.
No tocante aos atos praticados pelo devedor antes de sua falência
ter sido decretada, a lei permitiu a consideração de alguns atos
como ineficazes se praticados pelo devedor em termo
imediatamente antes do pedido de falência: o termo legal.
O termo legal consiste no período de até 90 dias antes do pedido
de falência, do pedido de recuperação judicial ou do primeiro
protesto por falta de pagamento, o que tiver ocorrido primeiro. Ele é
determinado na sentença declaratória de falência e permite a
consideração de que alguns atos praticados nesse período são
ineficazes perante a massa falida. Não há invalidade, mas apenas
ineficácia.
São considerados ineficazes, independentemente da intenção de
lesar do devedor: o pagamento de dívidas não vencidas realizado
pelo devedor dentro do termo legal por qualquer meio extintivo do
direito de crédito; o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis
realizado dentro do termo legal, qualquer forma diversa da prevista
no contrato; a constituição de direito real de garantia, dentro do
termo legal, se a dívida tiver sido contraída anteriormente; a prática
de atos a título gratuito ou a renúncia a herança ou legado até dois
anos antes da decretação da falência; a alienação de
estabelecimento comercial feita sem o consentimento expresso e o
pagamento dos credores, a qualquer tempo, se não houver bens
suficientes para o pagamento do passivo; os registros de direitos
reais após a decretação da falência.
Independentemente do termo legal, poderá, por meio da ação
revocatória, ser considerado ineficaz o ato celebrado pelo devedor
desde que se demonstre sua integração de prejudicar os credores, o
conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele
contratou e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.

■ 6.4.10. Procedimento falimentar


Ao contrário do Decreto-lei n. 7.661/45, que estabelecia que a
apuração do passivo fosse estanque da fase de liquidação dos
bens, a Lei n. 11.101/2005 procurou garantir maior celeridade, com
a sobreposição dessas fases, que ocorrem simultaneamente.
Decretada a falência, inicia-se a verificação dos créditos para
identificar o valor e a natureza dos diversos débitos do falido.

■ 6.4.11. Verificação de créditos


O falido deverá apresentar, no prazo de cinco dias, sua lista de
credores e sua qualificação, a qual será publicada. A partir da
publicação, os credores poderão, caso discordem do valor, da
natureza ou se não estiverem incluídos na lista, apresentar
habilitações ou divergência quanto aos créditos relacionados.
Essa primeira fase será administrativa porque a habilitação é
submetida à apreciação do administrador judicial, o qual terá o
prazo de 45 dias para analisá-las e publicar sua lista de credores.
Publicada a lista de credores do administrador judicial, os
credores, o Comitê, o devedor ou o MP terão o prazo de 10 dias
para promover impugnações judiciais, caso discordem. A
impugnação será apreciada pelo Juiz da falência, mediante
contraditório de todos os envolvidos em prazos sucessivos de 5
dias.
Do julgamento de cada impugnação caberá o recurso de agravo,
na forma de instrumento, e sem efeito suspensivo.
Com o julgamento de todas as impugnações tempestivas pelo
juiz, além das habilitações e impugnações retardatárias até o
momento, o administrador judicial elaborará o quadro geral de
credores, com a reserva de todas as impugnações ainda pendentes
de apreciação, o qual deverá ser homologado pelo juiz. O quadro
pretende ser definitivo, mas poderá ser alterado, até o encerramento
da falência, mediante ação própria de retificação do crédito.
A habilitação que não ocorreu no prazo de 15 dias após a
publicação do edital com a relação dos credores apresentada pelo
devedor é considerada habilitação retardatária. Habilitação
retardatária é a que não foi feita no prazo legal. Implica que o
habilitante não poderá votar na assembleia geral de credores,
exceto se já homologado o quadro geral de credores, com exceção
dos retardatários. Também implicará que os titulares perderão
eventual direito de crédito sobre os rateios já realizados. Perderão
também o direito à correção monetária e aos juros moratórios entre
o término do prazo para a habilitação e a efetivação do pedido de
habilitação retardatária. Se forem realizadas após a homologação
do quadro geral de credores, será processada como ação de
retificação do quadro. Caso seja promovida antes, será processada
como impugnação de crédito.
Na falência, o juiz instaurará, de ofício, para cada Fazenda
Pública credora, incidente de classificação de crédito público e
determinará sua intimação para que, no prazo de 30 dias, apresente
diretamente ao administrador judicial ou ao juízo a relação de seus
créditos inscritos em dívida ativa. Sobre essa apresentação, os
falidos, demais credores e o administrador judicial terão o prazo de
15 dias para se manifestar sobre os cálculos e sua classificação.
A controvérsia sobre a existência, a exigibilidade e o valor do
crédito serão de competência do juízo da execução fiscal. A decisão
sobre os cálculos e a classificação desses serão do juízo falimentar.
Enquanto perdurar o processo falimentar, as execuções fiscais
permanecerão suspensas, embora possa prosseguir contra os
corresponsáveis.

■ 6.4.12. Arrecadação e liquidação dos bens


Enquanto se desenvolve o procedimento da verificação de crédito,
o administrador judicial deverá arrecadar todos os bens materiais e
imateriais. Arrecadam-se todos os bens na posse do falido, quer
sejam dele ou de terceiros. Também devem ser arrecadados todos
os bens do falido que estejam na posse de terceiros.
A aferição da propriedade dos bens que estão na posse do falido
será feita pelo juiz por meio do pedido de restituição.

Além dos bens arrecadados no processo de falência e


pertencentes ao terceiro, também poderão ser objeto de restituição
os bens que se encontravam em poder do devedor na data da
decretação da falência, ou da coisa vendida a crédito e entregue ao
devedor nos quinze dias anteriores ao requerimento de sua falência,
se ainda não foi alienada.
Julgado procedente o pedido, a coisa deverá ser restituída ao
proprietário. Deverá ser restituído seu valor em dinheiro, apenas se
a coisa não mais existir ao tempo de pedido de restituição, ocasião
em que o proprietário poderá receber o valor da avaliação do bem
ou, na hipótese de venda, o preço. Serão ainda restituídos em
dinheiro o valor decorrente de adiantamento a contrato de câmbio
para exportação e os valores entregues ao devedor pelo contratante
de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato.
Após a arrecadação, os bens são de responsabilidade do
administrador judicial, que deve tutelar pela sua guarda. Somente
não serão arrecadados os bens impenhoráveis.
Os bens deverão ser prontamente avaliados e serão submetidos à
liquidação em até 180 dias do auto de arrecadação, sob pena de
destituição do administrador judicial.
A lei estabeleceu formas preferenciais de liquidação dos bens,
para que se obtenha o maior valor e para que se permita que o
adquirente continue a desempenhar a atividade. Nesses termos, a
alienação será preferencialmente da empresa, com a venda de seus
estabelecimentos em bloco; alienação da empresa com a venda de
suas filiais ou unidades produtivas isoladas; alienação em bloco dos
bens que integram cada um dos estabelecimentos; alienação dos
bens individualmente considerados.
Importante destacar que o adquirente não responderá pelas
obrigações anteriores do falido.

Os bens poderão ser vendidos por leilão eletrônico, presencial ou


híbrido. A modalidade de propostas fechadas e de pregão foram
revogadas.
A despeito da revogação, permitiu a Lei qualquer processo
competitivo organizado por agente especializado e de reputação
ilibada, cujo procedimento deverá ser detalhado em relatório anexo
ao plano de realização do ativo. Poderá ser deferida qualquer outra
modalidade, desde que aprovada pelo juiz.
Poderão ainda ocorrer formas extraordinárias de venda. Desde
que haja requerimento fundamentado do administrador judicial ou do
comitê de credores, o juiz poderá autorizar sua realização. Os
credores em assembleia geral poderão decidir sobre uma
modalidade extraordinária de realização do ativo, desde que tenham
deliberado por dois terços dos créditos presentes à assembleia.

■ 6.4.13. Classificação do crédito na falência


Liquidados os bens, o produto da venda é utilizado para
pagamento dos créditos, sejam os créditos anteriores à decretação
da falência, sejam os posteriores, para que o procedimento
falimentar pudesse chegar a contento.

■ 6.4.13.1. Créditos extraconcursais


São credores extraconcursais, de primeira classe, os
credores trabalhistas, com crédito salarial, vencidos nos três
meses anteriores à decretação da falência e limitados a cinco
salários mínimos por trabalhador. É equiparado a créditos
trabalhistas o crédito do representante comercial.
Também serão pagos com prioridade as despesas indispensáveis
à administração da falência, assim como os resultantes de pedido
de restituição em dinheiro. Caso os bens pertencentes aos credores
tenham sido liquidados indevidamente e não possam, portanto, ser
restituídos pela massa falida, ou sejam decorrentes de
adiantamento de contrato de câmbio ou referentes a valores
entregues pelo credor de boa-fé na hipótese de revogação ou
ineficácia do contrato, os credores terão o direito prioritário de
receber o equivalente em dinheiro.
A segunda classe consiste nos financiadores do devedor em
recuperação judicial.
Na terceira classe, constam os créditos em dinheiro objeto de
pedido de restituição.
Em classe sucessiva, a remuneração devida ao administrador
judicial e os créditos trabalhistas por serviços prestados após a
sentença de falência.
Sucessivamente, obrigações resultantes de atos praticados
durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência; as
quantias fornecidas à massa pelos próprios credores; as despesas
com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição
do produto; custas judiciais relativas às ações e execuções em que
a massa falida tenha sido vencida; tributos relativos a fatos
geradores ocorridos após a decretação da falência.

■ 6.4.13.2. Créditos concursais


Os créditos concursais deverão ser pagos após o pagamento dos
créditos prioritários e dos extraconcursais. O pagamento é feito por
classes. Apenas se passa a classe seguinte caso a classe anterior
esteja integralmente satisfeita. Os credores de uma mesma classe
são pagos em igual proporção até que sejam integralmente
satisfeitos.
São credores concursais:
I – credores trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho.
Os créditos decorrentes da legislação de trabalho são limitados a
até 150 salários mínimos. O excedente será considerado
quirografário.
II – créditos com garantia real. São os créditos garantidos por
penhor, anticrese, hipoteca, alienação fiduciária em garantia,
caução. Os créditos pertencem a essa classe até o limite do bem
gravado. O excedente será considerado quirografário.
III – crédito tributário. Desde que sejam os relacionados a fatos
gerados anteriores à sentença de quebra. Os posteriores são
extraconcursais. A multa tributária é crédito subquirografário.
IV – (Revogado.)
V – (Revogado.)
VI – Créditos quirografários. São os créditos sem qualquer
privilégio, o remanescente dos trabalhistas além dos 150 salários
mínimos e o remanescente dos créditos que extrapolem a garantia
real.
VII – Multas contratuais e penas pecuniárias.
VIII – Créditos subordinados. São os créditos assim determinados
e os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício cuja contratação não tenha observado condições
estritamente comutativas e as práticas de mercado.
IX – os juros vencidos após a decretação da falência.
Se sobrar ainda valores, o remanescente será devolvido ao
devedor falido ou aos sócios, na proporção da participação que
detinham na sociedade.

■ 6.4.14. Encerramento
A liquidação total do ativo com o rateio entre os credores, ainda
que nem todos sejam satisfeitos, provoca o encerramento da
falência.
O administrador judicial apresentará suas contas no prazo de 30
dias e elas serão aprovadas ou rejeitadas. Dessa decisão cabe
recurso de apelação.
Após apreciação das contas, o administrador apresentará relatório
final com o valor do ativo e o produto de sua realização, o valor do
passivo e os pagamentos feitos. Com base nisso, o juiz profere
sentença de encerramento da falência.
As obrigações do devedor falido somente se extinguirão com o
pagamento de todos os créditos. Podem as obrigações ser extintas,
também, com a realização de todo o ativo e o pagamento de mais
de 25% dos credores quirografários; com o decurso do prazo de 3
(três) anos, contado da decretação da falência, ressalvada a
utilização dos bens arrecadados anteriormente e que serão
destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados
ou com pedido de reserva realizado; ou com o encerramento do
processo de falência.
VI – O encerramento da falência nos termos do arts. 114-A ou 156
desta Lei.” (NR)

■ 6.5. Recuperação judicial

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813

A recuperação judicial foi prevista como alternativa à antiga figura


da concordata nas situações de crise reversível do empresário
devedor.
Ela procura viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores. Promoveria, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.
Podem requerer a recuperação judicial o devedor empresário que
exercer atividade regular há mais de dois anos, desde que: não
seja falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; não
ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial; não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de
recuperação judicial de EPP e ME; não ter sido condenado ou não
ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes falimentar.
Pela alteração da lei, o produtor rural foi expressamente admitido
como legitimado para pedir recuperação judicial. O prazo de dois
anos de exercício da atividade poderá ser contado não apenas a
partir da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, mas
pela apresentação de documentação contábil, ainda que referente a
período anterior à inscrição. A recuperação judicial também poderá
ser realizada em litisconsórcio ativo. Na hipótese de não existir
confusão patrimonial entre as sociedades integrantes do grupo
societário, o litisconsórcio ativo implica a apresentação de listas
individuais de credores, quadros gerais de credores para cada um
dos empresários em recuperação e deliberação individual pelas
assembleias gerais de credores. É a consolidação processual, de
modo que, ainda que reunidas no mesmo processo, cada uma das
sociedades se comporta como absolutamente independente,
podendo uma falir e a outra ter a recuperação judicial concedida.
Diferente a situação da consolidação substancial. Nessa, as
sociedades integrantes de um mesmo grupo societário, com
identidade de sócios ou garantias cruzadas contra si, operam com
confusão patrimonial perante os credores. A despeito das
personalidades jurídicas individuais, o grupo opera com absoluta
confusão patrimonial, o que não permite identificar de quem são os
ativos e nem se consegue precisar em face de quem os créditos
foram contraídos. Diante da confusão patrimonial entre as diversas
pessoas do litisconsórcio ativo, os autores deverão ser tratados
como se fossem um autor único, com a apresentação de lista de
credores única em face de todos os devedores, plano de
recuperação judicial único e também uma única assembleia geral de
credores, a qual deliberará o destino de todas as sociedades em
recuperação, ou aprovando o plano de recuperação judicial de todas
ou rejeitando de todas, com a decretação da falência.
O requerimento da recuperação será sempre feito pelo
empresário devedor. Poderá ser realizado de modo autônomo ou no
prazo da contestação de um pedido de decretação da falência do
devedor.
A recuperação judicial poderá ser antecedida de um procedimento
de mediações ou conciliações prévias.
A conciliação e a mediação devem ser incentivadas em qualquer
grau de jurisdição ou momento processual. Elas não implicam a
suspensão dos prazos previstos na lei, a menos que haja consenso
entre as partes ou decisão judicial.
As conciliações e mediações podem ocorrer antes ou durante o
processo de recuperação judicial e poderão envolver conflitos entre
os sócios do devedor, ou com credores não sujeitos à recuperação
judicial. São vedadas apenas conciliações e mediação sobre a
natureza jurídica, classificação de créditos e critério de votação em
assembleia geral de credores.
Em função desses procedimentos, o empresário devedor poderá
requerer ao Juízo competente medida cautelar de urgência para que
sejam suspensas as execuções contra ele propostas pelo prazo de
até 60 dias para tentar compor com seus credores. Para tanto,
determinou-se que o procedimento de mediação ou conciliação
tenha já sido instaurado perante o CEJUSC (Centro Judiciário de
Solução de Conflitos e Cidadania) ou câmara especializada.
Se houver pedido de recuperação judicial posterior à mediação ou
conciliação, o período de 60 dias das medidas de suspensão será
descontado do período de suspensão da recuperação judicial. Se a
recuperação judicial ou extrajudicial for requerida em até 360 dias
do acordo durante o período da conciliação ou de mediação, o
credor terá reconstituído seus direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas.

■ 6.5.1. Créditos submetidos à recuperação judicial


Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes
na data do pedido, sejam eles vencidos ou vincendos. Esses
créditos serão submetidos ao plano de recuperação judicial e
poderão ter suas características alteradas pelo plano.
No caso de produtor rural, apenas se sujeitam à recuperação
judicial os créditos que decorram exclusivamente da atividade rural
e tenham sido contabilizados.

Os créditos surgidos posteriormente à recuperação não estão


submetidos a essa. Também não estão submetidos à recuperação
judicial os créditos conhecidos por travas bancárias, que consistem
nos créditos dos proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis,
do arrendador mercantil, proprietário ou promitente vendedor de
imóvel em contrato com cláusula de irrevogabilidade e o proprietário
em contrato de venda com reserva de domínio.
Esses credores são, em grande parte, proprietários dos bens que
foram contratados com o empresário devedor. Embora não se
submetam à recuperação judicial, os credores não poderão retirar
esses bens que são de sua propriedade, desde que sejam bens de
capital essenciais à atividade e durante o prazo de suspensão de
180 dias a contar do deferimento do processamento da recuperação
judicial.
Também não se submetem à recuperação judicial as obrigações a
título gratuito e as despesas que o credor fizer para tomar parte na
recuperação judicial, exceto custas judiciais em razão de litígio com
o devedor. Não são também submetidos à recuperação judicial os
créditos de natureza tributária ou as importâncias entregues ao
devedor em razão de adiantamento de contrato de câmbio para
exportação (ACC).
Quanto ao produtor rural em recuperação judicial, o crédito rural
oficial, consistente em financiamento ao produtor rural com recursos
controlados ou governamentais, não se sujeita à recuperação
judicial se tiver sido renegociado antes dessa. Tampouco se
sujeitam os créditos destinados à aquisição de propriedades rurais
nos três anos antes do pedido de recuperação judicial.

■ 6.5.2. Processamento da recuperação judicial


O pedido de recuperação deverá ser distribuído para o juiz
competente, que é o do principal estabelecimento do devedor.
O pedido deverá ser instruído com os documentos necessários
para demonstrar a crise da empresa e quais são as possibilidades
de reversão. São documentos que apresentam as demonstrações
financeiras dos últimos três exercícios sociais, a relação nominal
dos credores, relação dos empregados, certidão de regularidade do
devedor, relação dos bens particulares dos sócios, extratos das
contas bancárias, certidões de protestos e relação de ações
judiciais. Deve-se descrever todas as sociedades pertencentes
eventualmente ao grupo societário, de fato ou de direito, integrante
pela parte autora.
Se reputar necessário, antes do deferimento do processamento
da recuperação judicial, poderá o juiz determinar a realização de
constatação prévia. Será nomeado um perito para verificar as reais
condições de funcionamento da requerente e da regularidade e da
completude da documentação apresentada com a petição inicial no
prazo máximo de 5 dias. Não se aprecia a viabilidade econômica do
devedor, o que deverá ser feito apenas por ocasião da apresentação
do plano de recuperação judicial e exclusivamente pelos credores.
Caso todos os documentos sejam apresentados, o juiz deferirá o
processamento da recuperação judicial e nomeará o administrador
judicial.

O período de 180 dias de suspensão, chamado de stay period,


será contado do deferimento do processamento da recuperação
judicial. O período é prorrogável por mais 180 dias, uma única vez,
em caráter excepcional, desde que o devedor não haja concorrido
para a demora.
Não são suspensas as ações que demandem quantia ilíquida, as
execuções fiscais, as ações dos credores proprietários, como
aquele que detém a propriedade fiduciária, ou o vendedor com
reserva de domínio etc. Nessa última hipótese, ainda que as ações
prossigam, os bens não poderão ser retirados ou vendidos do
estabelecimento no prazo de 180 dias, se forem considerados bens
de capital essenciais à recuperação. Por conta da suspensão das
ações, suspende-se também o prazo de prescrição.
Tratando-se de crédito garantido por penhor sobre títulos de
crédito, direitos creditórios, aplicações financeiras ou valores
mobiliários, poderão ser substituídas ou renovadas as garantias
liquidadas ou vencidas durante a recuperação judicial e, enquanto
não renovadas ou substituídas, o valor eventualmente recebido em
pagamento das garantias permanecerá em conta vinculada durante
o período de suspensão de 180 dias.
Após a decisão de processamento, o devedor somente poderá
desistir da recuperação judicial com a anuência dos credores, por
decisão de maioria em assembleia geral.
Com o processamento da recuperação judicial, será iniciada a
fase de verificação de créditos, que é idêntica ao que ocorre no
procedimento falimentar.

■ 6.5.3. Plano de recuperação judicial

Deverão constar no plano de recuperação os meios pelos quais o


empresário devedor pretende se recuperar, bem como
demonstração de sua viabilidade econômica e laudo econômico
financeiro com a avaliação de seus bens. Como meio de
recuperação, a Lei n. 11.101/2005 apenas os estabelece
exemplificativamente no art. 50, o qual poderá versar sobre a
concessão de prazos de pagamento, operações societárias,
aumento de capital, venda parcial de bens, conversão de dívida em
capital social, venda integral da devedora etc.
O plano poderá prever a alienação de unidade produtivas isoladas
pelo empresário devedor. Caso aprovado o plano, as UPIs poderão
ser vendidas livres de ônus para o arrematante dos bens, o qual não
ficará responsável pelas obrigações anteriores do empresário,
independentemente de sua natureza (trabalhistas, tributárias etc.).
Quanto à alienação de bens, após a distribuição do pedido de
recuperação judicial, o devedor apenas poderá alienar ou onerar
bens ou direitos de seu ativo permanente se estiverem incluídos no
plano de recuperação judicial, e com a aprovação dos credores em
Assembleia Geral.
Exceção reconhecida à necessidade de aprovação por
assembleia geral de credores é a possibilidade de o juiz, diante da
evidente utilidade da alienação ou oneração para a recuperação
judicial da empresa, permitir que a alienação e a oneração sejam
realizadas (art. 66 da Lei n. 11.101/2005). Entretanto, os credores
que corresponderem a mais de 15% do valor total de créditos
sujeitos à recuperação judicial, desde que prestem caução, poderão
requerer a convocação de AGC para deliberar sobre a venda.
Se houver previsão de venda integral da devedora, esse meio de
recuperação exige que o plano garanta condições aos credores não
submetidos ou aos não aderentes no mínimo equivalentes àquelas
que teriam na falência.

■ 6.5.4. Decisão sobre o plano de recuperação judicial


Apresentado o plano de recuperação judicial em até 60 dias da
decisão de processamento da recuperação judicial, será publicado
edital para que os credores, se o desejarem, oponham suas
objeções no prazo de 30 dias. Caso a relação de credores do
administrador judicial ainda não tenha sido apresentada, o prazo de
objeção ao plano pelos credores conta-se a partir da publicação do
edital com a referida lista.
Caso não haja objeções pelos credores, o juiz homologará o plano
e concederá a recuperação judicial ao devedor.
Caso tenha ocorrido objeções, deverá ser convocada a
assembleia geral dos credores. A Assembleia Geral de Credores
deve se realizar em até 150 dias da data do processamento da
recuperação judicial. Referida data foi determinada para que as
deliberações ocorram ainda dentro do período de 180 dias, em que
as ações e execuções contra o empresário devedor estão
suspensas. Esse prazo de 180 dias é prorrogável, se a demora na
deliberação não puder ser imputada à desídia do empresário em
recuperação.
A Assembleia será composta por todos os credores sujeitos à
recuperação judicial e ela apreciará o plano de recuperação do
devedor. A Assembleia Geral dos Credores não poderá alterar o
plano do devedor. Apenas o devedor poderá alterar seu plano de
recuperação, ainda que possa aceitar as sugestões feitas pelos
credores em assembleia e desde que não impliquem diminuição dos
direitos exclusivamente dos credores ausentes.
Os credores serão divididos em assembleia em quatro classes:
titulares de créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente de
trabalho; créditos com garantia real até o valor do bem dado em
garantia; titulares de créditos quirografários e subordinados;
credores Microempresários e Empresários de Pequeno Porte.
Apenas votam na deliberação de apreciação do plano de
recuperação judicial os credores submetidos à recuperação e que
terão seus créditos alterados pelo plano.
Também não votam os credores impedidos, ou seja, aqueles que
possuem relação com o devedor e que, portanto, poderiam ter
conflito de interesse ao exercerem seu direito de voto.
São impedidos os sócios do devedor, bem como as sociedades
coligadas, controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou
acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital
social do devedor ou em que o devedor ou algum de seus sócios
detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital
social.
Também são considerados impedidos o cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim, colateral até o 2º (segundo) grau,
ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio
controlador, de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou
semelhantes da sociedade devedora e a sociedade em que
quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções.
Os credores impedidos poderão participar da assembleia geral de
credores, sem ter direito a voto, e não serão considerados para fins
de verificação do quórum de instalação e de deliberação.

Em regra, a assembleia geral de credores delibera com quórum


de maioria relativa, ou seja, metade do valor total dos créditos
presentes à assembleia. Na hipótese de apreciação do plano de
recuperação judicial, entretanto, o quórum de aprovação é
qualificado.
Para que o plano seja aprovado, todas as classes existentes
devem aprovar o plano. A classe I, dos credores trabalhistas, e a
classe IV, dos credores Microempresários ou Empresários de
Pequeno porte, votam por cabeça, independentemente do valor do
crédito. A aprovação de ambas as classes exige apenas o quórum
de maioria relativa dos presentes por cabeça.
A classe II, credores com garantia real na medida da garantia, e a
classe III, credores quirografários e subordinados, votam tanto por
valor de crédito quanto por cabeça. Para que aprovem o plano, deve
ocorrer aprovação por maioria dos créditos presentes em cada
classe, e por maioria dos credores presentes em cada classe,
independentemente do valor dos créditos.
Atingido o quórum, o juiz concederá a recuperação judicial.
Caso não seja atingido, a lei previu um quórum alternativo,
conhecido por cram down (goela abaixo).
O quórum alternativo requer: voto favorável de mais da metade do
valor de todos os créditos presentes à assembleia,
independentemente da divisão em classes; aprovação de pelo
menos mais da metade das classes de credores (maioria relativa de
credores e de créditos na classe dos credores com garantia real e
na classe dos quirografários e apenas maioria relativa de credores
nas classes de microempresários e empresários de pequeno porte e
na classe dos credores trabalhistas); na classe que tiver rejeitado o
plano de recuperação, pelo menos aprovação de um terço dos
credores (se classe trabalhista ou EPP e ME) ou de um terço dos
credores e um terço dos créditos (se classe dos credores com
garantia real ou quirografários).
Aprovado o plano, o juiz concederá a recuperação. A decisão faz
título executivo judicial e poderá ser desafiada pelo recurso de
agravo.
Não aprovado o plano de recuperação judicial apresentado pelo
devedor, não será decretada mais a falência imediatamente.
Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial
submeterá à votação da assembleia geral de credores a concessão
de prazo de 30 dias para que seja apresentado plano de
recuperação judicial pelos credores. Se for aprovado, os credores
deverão apresentar o referido plano com apoio de 25% do total dos
créditos sujeitos à recuperação judicial ou 35% dos credores
presentes à assembleia geral de credores.
O plano não poderá imputar obrigações novas ao devedor e
implica a isenção das garantias pessoais, aval e fiança, prestadas
por pessoas naturais em relação aos créditos a serem novados e
que sejam de titularidade dos credores que apoiaram o plano e de
todos os que o aprovarem.
Caso aprovada sua apresentação no prazo de 30 dias pela
Assembleia Geral de Credores, será conferido no prazo de 180 dias
de suspensão das execuções em face do devedor para que haja a
negociação e nova deliberação dos credores, agora sobre o novo
plano de recuperação judicial por eles próprios apresentados.
O quórum de votação do plano de recuperação judicial
apresentado pelos credores será idêntico ao quórum de votação do
plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor. Ressalta-
se, nesse ponto, que a assembleia geral de credores, presencial ou
eletrônica, ainda que possa ser suspensa, deve ser encerrada no
prazo de até 90 dias da sua instalação.
Ela pode ser também substituída por termo de adesão, em que
são apresentadas as assinaturas dos credores necessários à
deliberação, desde que apresentado a até cinco dias da sua
realização.
Se houver o preenchimento do quórum de aprovação, será
concedida a recuperação judicial. Do contrário, a recuperação
judicial será convolada em falência.
A recuperação implica a novação dos créditos conforme o
estabelecido no plano e é imposta à minoria discordante em razão
da aprovação pela maioria. Na recuperação judicial, contudo, a
novação não extingue as garantias, que apenas poderão ser
extintas se houver aprovação expressa pelo titular. Nem extingue as
obrigações dos coobrigados, fiadores e obrigados de regresso, a
menos que aprovado o plano de recuperação judicial apresentado
pelos credores. Por seu turno, se houver descumprimento, com a
convolação da recuperação judicial em falência, haverá a
reconstituição dos direitos e garantias nas condições originalmente
contratadas.

■ 6.5.5. Período de fiscalização


Concedida a recuperação judicial, as obrigações previstas devem
ser cumpridas pelo devedor no prazo estabelecido. A recuperação
judicial, ainda que haja dívidas a se vencerem muito depois, pode
perdurar por até dois anos, independentemente do eventual período
de carência imposto para o início do cumprimento das obrigações
após sua concessão. Cumpre ao juiz determinar o período de
fiscalização, que poderá perdurar por até dois anos.
No período de até dois anos, o cumprimento das obrigações
previstas no plano de recuperação judicial será acompanhado pelo
administrador judicial. Caso tenham sido cumpridas as obrigações
vencidas dentro desse período, a recuperação judicial poderá ser
encerrada.

■ 6.5.6. Convolação em falência


Durante o período de fiscalização, caso haja o descumprimento
de qualquer obrigação pelo devedor prevista no plano, a
recuperação judicial será convolada em falência, com o retorno das
obrigações dos credores às condições originalmente contratadas.
Caso o descumprimento das obrigações ocorra posteriormente ao
encerramento da recuperação judicial, ainda que não haja mais a
fiscalização do cumprimento pelo administrador judicial ou pelo
Comitê de credores, não ocorrerá a convolação em falência. O
credor poderá pleitear a execução individual da obrigação com base
no título executivo judicial que detém ou poderá requerer a falência
do devedor, com base em ato falimentar, pois o inadimplemento da
obrigação assumida pelo plano de recuperação judicial o
caracteriza, nos termos do art. 94, III, g, da Lei de Falências.
A convolação em falência ocorrerá, além do descumprimento das
obrigações vencidas durante o período de fiscalização de dois anos,
caso a assembleia geral de credores não aprovar o plano de
recuperação do devedor e se deliberar por não apresentar o plano
alternativo pelos credores ou se esse plano de recuperação judicial
dos credores for rejeitado em assembleia; pela não apresentação
pelo devedor do plano de recuperação judicial no prazo de 60 dias
da decisão que deferir o processamento; por descumprimento dos
parcelamentos tributários ou da transação tributária; quando
identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que implique
liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não
sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas.

■ 6.5.7. Plano especial de recuperação de EPP e ME


A Lei procurou garantir tratamento favorecido à Microempresa e à
Empresa de Pequeno Porte, inclusive para que tenham condições
menos onerosas para requerer a recuperação judicial.
Desta forma, referidas empresas poderão requerer, por ocasião
do pedido de recuperação, a apresentação de plano especial. A
recuperação especial para ME e EPPs assegura que os credores
não atingidos pelo plano especial não terão seus créditos habilitados
na recuperação judicial.
O plano de recuperação especial deverá ser apresentado em 60
dias da decisão de processamento da recuperação. O plano
abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que
não vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos
oficiais, os fiscais e os dos credores proprietários dos bens.
O pedido de recuperação judicial com base em plano especial
acarreta suspensão apenas das ações e execuções, bem como das
prescrições, dos créditos abrangidos pelo plano.

Para que o devedor possa aumentar despesas ou contratar


empregados, é imprescindível autorização judicial.
Peculiar na recuperação judicial especial da ME e EPP também é
a não convocação da assembleia geral de credores. Sua não
convocação reduz os custos para o Micro e Pequeno empresário, o
que é auxiliado pela limitação máxima dos honorários do
administrador judicial em até 2% do valor dos créditos submetidos à
recuperação.
Se houver objeções de credores titulares de mais da metade de
qualquer uma das classes de credores, o juiz decretará a falência.
Do contrário, concederá a recuperação judicial.

■ 6.6. Recuperação extrajudicial


A lei permite que o empresário devedor celebre contratos com os
seus credores para compor as suas dívidas. A recuperação
extrajudicial é o acordo firmado com os credores, extrajudicialmente,
para a resolução da crise pela qual passa a empresa.
Para realizar a recuperação extrajudicial, o devedor deverá
possuir os mesmos requisitos do empresário sujeito à recuperação
judicial. Além dos requisitos legais, o devedor não poderá requerer a
homologação de plano extrajudicial, se estiver pendente pedido de
recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou
homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos
de dois anos.

Na recuperação extrajudicial, a homologação da composição


entre os devedores e os credores pode ser facultativa ou obrigatória.
Facultativa é a homologação do plano de recuperação em que
todos os credores já foram anuentes às condições. O consentimento
já é suficiente para que os credores fiquem vinculados à alteração
de seus créditos. A homologação judicial torna o acordo título
executivo judicial e facilita a execução da obrigação.
A homologação, entretanto, poderá ser obrigatória. É obrigatória a
homologação nas hipóteses em que o credor não concordou com a
alteração de suas obrigações.
O devedor precisa obter o consentimento de mais da metade
dos credores de cada espécie pelo plano atingido. O plano poderá
abranger uma ou mais classes. Pode, ainda, abranger apenas grupo
de credores de uma mesma classe e que se submete às mesmas
condições de pagamento.
O percentual de mais da metade é composto apenas pelos
credores de cada classe abrangidos pelo plano. Os créditos não
abrangidos pelo plano não poderão ter suas condições alteradas.
Não serão computados os créditos de sócios do devedor,
sociedades coligadas, controladores, controladas, as com sócios
com participação superior a 10% do capital social do devedor ou em
que o devedor ou algum sócio detenha participação superior a 10%
do capital social. Não serão computados, ainda, os créditos de
parentes ou afins do devedor ou de órgão da administração desse.
Caso esse percentual seja obtido, a homologação judicial poderá
estender as alterações previstas no plano aos demais credores,
ainda que sejam discordantes.
O devedor poderá, contudo, apresentar o pedido de recuperação
extrajudicial com a anuência de credores que representem pelo
menos 1/3 de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos
e com o compromisso de, no prazo improrrogável de 90 dias,
contado da data do pedido, atingir o quórum de mais da metade dos
credores por meio da adesão expressa. Faculta-se a conversão do
procedimento em recuperação judicial a pedido do devedor.
O plano, entretanto, não poderá estabelecer tratamento
privilegiado a determinado credor em detrimento dos demais nem o
pagamento antecipado de dívidas; os credores não sujeitos não
poderão sofrer tratamento desfavorável; se crédito em moeda
estrangeira, a alteração cambial só poderá ser alterada com a
concordância expressa do credor, o que também ocorrer ser for
pretendida a alienação do bem objeto de garantia real.
O pedido de homologação do plano de recuperação não
suspende as ações e execuções. A distribuição do pedido impede
que os credores desistam da adesão ao plano, a menos que haja
anuência dos demais signatários.
Feito o pedido, publica-se edital para que os credores impugnem
no prazo de 30 dias. A impugnação versará apenas sobre a
alegação de que não foi atingido o quórum, o devedor praticou atos
falimentares ou qualquer descumprimento de exigência legal. Caso
não haja impugnação ou ela seja afastada, o juiz homologa, por
sentença, o pedido de recuperação extrajudicial e as obrigações são
novadas.
Caso se decrete a falência posteriormente, na hipótese de
recuperação extrajudicial, os créditos submetidos ao plano não
voltarão às condições originárias.

■ 6.7. Insolvência transnacional


A lei criou procedimento para disciplinar a insolvência
transnacional.
Para disciplinar o procedimento, estabeleceu a lei que o
procedimento de insolvência transnacional terá como objetivos a
cooperação entre juízes e outras autoridades competentes do Brasil
e de outros países em casos de insolvência transnacional; aumento
de segurança jurídica para a atividade econômica e para o
investimento; administração justa e eficiente de processos de
insolvência transnacional, de modo a proteger os interesses de
todos os credores e dos demais interessados, inclusive do devedor;
proteção e maximização do valor dos ativos do devedor; promoção
da recuperação de empresas em crise econômico-financeira, com a
proteção de investimentos e a preservação de empregos; e
promoção da liquidação dos ativos da empresa em crise econômico-
financeira, com a preservação e a otimização da utilização produtiva
dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos da empresa,
inclusive os intangíveis.
O juiz somente poderá deixar de aplicar as disposições se a sua
aplicação for manifestamente contrária à ordem pública.
A disciplina da insolvência transnacional aplica-se nos casos em
que uma autoridade estrangeira ou representante estrangeiro
solicita assistência no Brasil ou se uma autoridade brasileira requer
assistência no estrangeiro.
Para tanto, a autoridade ou o representante estrangeiro pedirá o
reconhecimento do processo estrangeiro perante o juízo do local do
principal estabelecimento do devedor no Brasil, o que previne a
jurisdição. Se reconhecido o processo estrangeiro, o representante
está autorizado a ajuizar pedido de falência do devedor, participar
do processo de insolvência que aqui esteja em trâmite ou intervir em
qualquer processo em que o devedor seja parte.
No reconhecimento do processo estrangeiro, o juiz deverá
reconhecê-lo como processo principal, se tiver sido aberto no local
em que o devedor tenha o seu centro de interesses principais; ou
processo estrangeiro não principal, caso tenha sido aberto em um
local em que o devedor tenha bens ou estabelecimentos.
O juiz deverá determinar as medidas apropriadas para que os
credores que não tiverem domicílio ou estabelecimento no Brasil
tenham acesso às notificações e às informações dos processos de
recuperação judicial, de recuperação extrajudicial ou de falência.
Poderão ser concedidas medidas de natureza provisória após o
pedido de reconhecimento do processo estrangeiro. Com o seu
reconhecimento como principal, serão suspensas todas as
execuções contra o devedor, a prescrição e ocorrerá a ineficácia de
transferência de bens sem prévia autorização judicial.
Com o reconhecimento do processo estrangeiro, principal ou não
principal, o juiz poderá autorizá-lo a promover a destinação do ativo
do devedor, no todo ou em parte, localizado no Brasil, desde que os
interesses dos credores domiciliados aqui estejam adequadamente
protegidos.
O juízo falimentar responsável por processo não-principal deve
prestar ao juízo principal as seguintes informações: valor dos bens
arrecadados e do passivo; valor dos créditos admitidos e sua
classificação; classificação, segundo a lei nacional, dos credores
não domiciliados ou sediados nos países titulares de créditos
sujeitos à lei estrangeira; relação de ações judiciais em curso de que
seja parte o falido, como autor, réu ou interessado; ocorrência do
término da liquidação e o saldo, credor ou devedor, bem como
eventual ativo remanescente.
Na hipótese de processos concorrentes no Brasil e no estrangeiro,
o juiz deverá coordenar com a autorizada estrangeira os atos, mas
somente prestará a esse assistência se a medida não for
incompatível com o processo brasileiro.
■ 7. PROPRIEDADE INDUSTRIAL
O art. 5º, XXIX, da Constituição Federal estabeleceu a proteção
aos autores de inventos industriais o privilégio temporário para a
utilização, bem como a proteção às criações industriais, às
propriedades das marcas, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
Ramos da propriedade intelectual, a propriedade industrial exige
que a obra possa ser produzida em escala industrial. Os direitos de
propriedade industrial são concedidos e assegurados pelo Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI), autarquia federal a
quem compete a concessão de patentes e de registros. Sua
disciplina é regulada pela Lei n. 9.279/96.
Quatro são os bens da propriedade industrial: a concessão de
patentes de invenção e de modelo de utilidade; a concessão de
registro de desenho industrial; a concessão de registro de marca; a
repressão às falsas indicações geográficas.

■ 7.1. Patente
Direito atribuído pelo Estado que garante a utilização exclusiva de
uma invenção ou de um modelo de utilidade. Após a concessão
da patente, os terceiros não poderão explorar a invenção ou o
modelo de utilidade sem autorização e, caso o façam, poderão ser
condenados à indenização por perdas e danos.
A violação à patente não ocorrerá se for realizada em caráter
privado e sem finalidade comercial; com finalidade experimental;
preparação de medicamentos para casos individuais; atos
destinados exclusivamente à produção de informações etc.
São requisitos tanto da invenção quanto do modelo de utilidade: a
novidade, que exige que a obra não esteja no estado da técnica,
ou seja, não seja de conhecimento do público; atividade inventiva;
aplicação industrial; e licitude.
Não é patenteável o que é contrário à moral, aos bons costumes,
à segurança, à ordem e à saúde pública. Não podem ser
patenteáveis qualquer alteração do núcleo atômico, ou todo ou parte
dos seres vivos, com exceção dos micro-organismos transgênicos.
Não podem também as descobertas, teorias científicas, métodos
matemáticos, concepções abstratas, métodos comerciais; obras
literárias, arquitetônicas, artísticas, científicas, criação estética;
programas de computador; regras de jogo; métodos operatórios; os
processos biológicos naturais.
Terá direito de pedir a patente o autor da invenção ou do modelo
de utilidade. A invenção será exclusivamente do empregador, se ela
for feita pelo empregado em razão do contrato de trabalho.
Considera-se feita na vigência do contrato a invenção ou modelo de
utilidade cuja patente seja requerida em até um ano após a extinção
do contrato de trabalho.
Se não houver contrato para inventar, mas o empregado inventou
com a utilização dos recursos do empregador, exceto se
estabelecido em contrário, a titularidade do direito de patente será
50% do empregado e 50% do empregador. O direito de exploração
da patente, contudo, é atribuído exclusivamente ao empregador,
embora a remuneração pela exploração seja dividida.
Se a invenção ou modelo de utilidade foram feitos por duas
pessoas, mas de forma independente, terá o direito de explorar a
patente aquele que realizar o primeiro depósito do pedido no INPI,
ainda que a invenção tenha ocorrido posteriormente à do outro.
Garante-se o direito de prioridade ao pedido de patente
depositado em país que mantenha acordo com o Brasil.

Como o INPI poderá demorar a apreciar o pedido, garante-se


prazo nunca inferior a 10 anos para a invenção e 7 anos para o
modelo de utilidade a partir da data da concessão.
A patente e o modelo de utilidade podem ser cedidos. Poderá a
patente ser voluntariamente licenciada, quando se transfere o direito
de explorar a patente a terceiro, mas não sua propriedade.
A licença poderá também ser compulsória. Por essa, transfere-se
a exploração da patente por decisão administrativa ou judicial se o
titular exercer seu direito contra os fins previstos, para prejudicar a
livre concorrência e a livre-iniciativa; se não houver exploração ou a
oferta não satisfaça as necessidades do mercado; se houver
patente dependente de outra, mas que constitua progresso técnico,
e não haja acordo entre os titulares para a exploração da patente
anterior; emergência nacional ou interesse público.

■ 7.2. Desenho industrial


A proteção do desenho industrial é feita através de seu registro.
Desenho industrial é a forma plástica ornamental de um objeto
ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a
um produtor, proporcionando resultado visual novo e original, desde
que possa servir à fabricação industrial.
A criação é apenas de uma forma nova ao produto. Não é
registrável a forma necessária comum do objeto, nem a que afronte
a moralidade, os bons costumes, a honra ou imagem das pessoas.
O registro terá vigência de 10 anos, contados da data do depósito,
prorrogável por três períodos sucessivos de cinco anos cada. Ele
confere o direito de utilização exclusiva daquela forma.

■ 7.3. Marca
É o sinal distintivo de determinado produto ou serviço para que
possa ser reconhecido pelos consumidores, ou para que permita o
conhecimento de que ele fora produzido de determinada forma, ou
por alguém.
Podem ser:

a) Marcas de produto ou serviço: identificam o produto ou


serviço;
b) Marca de certificação: identifica o modo de produção do
produto ou que o método é conforme determinadas
especificações técnicas. Somente pode ser requerida por pessoa
que não tenha interesse comercial no produto;
c) Marca coletiva: permite a identificação de produtos de uma
determinada coletividade. Apenas pode ser requerida por pessoa
jurídica representativa da coletividade;
d) Marca notoriamente conhecida: sinais designativos de
produtos ou serviços muito conhecidos em determinado ramo de
atividade. Ainda que não registrada, goza de notoriedade, a
ponto de o INPI indeferir pedido de marca que a reproduza
naquele ramo de atividade;
e) Marca de alto renome: é reconhecida no mercado, mas
precisa estar registrada. O INPI confere proteção em razão do
registro, mas não apenas em relação ao seu ramo de atividade,
mas em face de todos os demais ramos.
A marca poderá ser nominativa, figurativa ou mista. Nominativa é
a marca formada apenas por letras ou algarismos. Figurativa é a
que possui apenas desenhos ou símbolos. Mista é a que possui
ambas.
Como requisito, a marca precisa ser original, de modo que não
poderá reproduzir sinais distintivos de outra na mesma classe de
atividade, com exceção da marca de alto renome, cuja proteção é
realizada em todos os ramos de atividade a ponto de impedir a
utilização por qualquer outro agente.
O registro assegura o direito de utilização exclusiva da marca em
todo o país a partir dele. Garante-se a precedência de terceiros,
entretanto, desde que de boa-fé e desde que se utilize, há pelo
menos seis meses antes da prioridade ou do pedido de registro, da
marca. A prioridade é o direito assegurado pela lei daquele que fez
o pedido de registro da marca em país que mantenha acordo com o
Brasil.
O registro da marca vige por 10 anos a contar da concessão
do registro e o prazo é prorrogável indefinidamente.

■ 7.4. Indicação geográfica


É o sinal designativo de procedência ou de origem do produto.
Indica a área geográfica que se tornou conhecida pela produção de
determinado produto ou serviço.
Essa indicação é protegida pelo ordenamento jurídico para
garantir a identificação do produto e de suas características pelos
consumidores.

Acesse a videoaula pelo link: somos.in/OABE1813


■ 8. TÍTULOS DE CRÉDITO
É definido como o documento necessário para o exercício do
direito literal e autônomo nele incorporado. O título representa um
crédito em face de determinada pessoa.
São atributos do título a negociabilidade, que permite ao titular
transferir o crédito para obter seus valores, e a executividade, pois a
cobrança do título poderá ocorrer diretamente pela via da execução
judicial em face do devedor principal ou dos coobrigados.
Suas características são:
a) Literalidade: o título confere exatamente o valor expresso no
documento.
b) Cartularidade: o título se materializa numa cártula. O titular é
aquele que detém o documento. Exceção: o Código Civil
permitiu a emissão de título de crédito com base em caracteres
criados por computador e que prescindem de cártula. A duplicata
também poderá ser eletrônica, virtual ou escritural, não exigindo
a cártula (Lei n. 13.775/2018).
c) Autonomia: as obrigações do título são independentes entre
si. O vício de uma das obrigações não contamina a outra.
d) Abstração: o título se desvincula do negócio que motivou sua
emissão. A abstração não é característica de todos os títulos de
crédito. Há títulos causais, que somente podem ser emitidos a
partir de determinado negócio jurídico. A duplicata é um título
causal, que só pode ser emitido em razão da compra e venda de
mercadorias ou de um contrato de prestação de serviços. A letra
de câmbio, o cheque e a nota promissória são títulos abstratos,
que independem da causa que os originou.
e) Inoponibilidade das exceções pessoais: as exceções
pessoais dos contratantes entre si não podem ser opostas ao
terceiro. O devedor ou os coobrigados não podem recusar o
pagamento do título em razão de exceções pessoais que tinham
em face de um terceiro.

■ 8.1. Classificação
Os títulos de crédito podem ser classificados de diversas formas.

■ 8.1.1. Quanto à natureza


Os títulos podem ser causais ou abstratos. Causal é o que
somente pode ser emitido em razão de determinado negócio.
Abstrato é aquele cujo negócio subjacente é irrelevante. É causal a
duplicata mercantil. É abstrato a letra de câmbio, a nota promissória
e o cheque.

■ 8.1.2. Quanto à tipicidade


Podem ser os títulos de crédito típicos ou atípicos. Típicos são os
definidos em lei, como a nota promissória, o cheque, a duplicata, a
letra de câmbio, o conhecimento de depósito etc. O Código Civil
permitiu a criação de títulos de crédito atípicos.

■ 8.1.3. Quanto ao modo de circulação


Podem ser ao portador, nominativos ou à ordem.
Os títulos ao portador são transferidos pela mera tradição ou
entrega da cártula. Foram proibidos no Brasil porque não permitiam
a identificação de todos os que transferiam os títulos. Única exceção
é o cheque emitido com valores de até R$ 100,00.
Nominativo é o título que identifique o credor beneficiário, cujo
nome conste no registro do emitente. A transferência ocorre
mediante termo no registro do emitente. Não basta apenas o
endosso.
O título pode ser à ordem. Nesse, não se exige termo de
transferência. O título é emitido em benefício de determinada
pessoa, que poderá endossá-lo a terceiro. A transferência faz-se por
mero endosso.
O título pode ser não à ordem. Essa cláusula inserida no título de
crédito impede a transmissão por endosso. O título é transferido
apenas por cessão civil. O Código Civil proíbe a cláusula “não à
ordem”, de modo que ela é inaplicável aos títulos de crédito atípicos.
Os títulos de crédito típicos, como a letra de câmbio, nota
promissória, cheque, duplicata são regidos por leis especiais que
admitem a cláusula.

■ 8.1.4. Quanto ao emissor


Os títulos podem ser públicos ou privados, caso o Emissor seja
pessoa jurídica de direito público ou por qualquer pessoa de direito
privado.

■ 8.1.5. Quanto à estrutura jurídica


Podem ser ordens de pagamento, em que o título é emitido pelo
sacador para pagamento pelo sacado ao beneficiário. São exemplos
a letra de câmbio, a duplicata e o cheque. Podem ser promessas de
pagamento, em que o sacado é o próprio emitente ou sacador do
título. É exemplo a nota promissória.

■ 8.2. Letra de câmbio


A letra de câmbio é ordem de pagamento, à vista ou a prazo. O
sacador emite letra de câmbio para que o sacado pague ao
beneficiário o valor de uma determinada obrigação. É título abstrato
e consiste em ordem de pagamento.
Sua disciplina é feita pelo Decreto n. 57.663/66, que internalizou a
Lei Uniforme das Letras de Câmbio e Notas Promissórias
estabelecida na Convenção de Genebra.
A letra se forma a partir do saque, que é o ato de emitir a ordem
de pagamento a uma pessoa, o sacado. Pelo saque, o sacador se
obriga do pagamento da letra caso o sacado não pague. O sacado,
por seu turno, tem de concordar em se vincular à obrigação de
pagar. Ele concorda com a obrigação ao pôr o aceite na cártula,
de modo que se torna o devedor principal a partir de então.
Nada impede que o sacador saque o título contra si mesmo, de
modo que seja o próprio sacado da cártula.
São requisitos da letra: a palavra letra de câmbio, a ordem de
pagamento incondicionada, o nome do sacado, o nome do
beneficiário ou tomador, a indicação da data em que a letra é
sacada, a assinatura do sacador. Toda cláusula que exonere o
sacador da garantia do pagamento da obrigação é considerada não
escrita. Na falta de algum dos requisitos, nada impede que a
cambial seja completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança
ou do protesto.
Não são requisitos essenciais à época do pagamento, pois na
omissão o título é a vista; o local de pagamento, pois será o lugar
designado ao lado do nome do sacado ou o domicílio desse; o local
em que a letra foi sacada, pois na ausência se presume que seja ao
lado do nome do sacador ou no domicílio do emitente.
Caso nada seja indicado na letra de câmbio, ela é considerada à
vista. Deverá ser paga por ocasião de sua apresentação ao sacado,
o que deve ocorrer no prazo de um ano da data da emissão.
O aceite não é obrigatório na letra de câmbio. O sacado
somente se obriga se quiser e, caso aponha o aceite, torna-se
devedor principal. A mera assinatura do sacado vale como aceite. O
aceite é irretratável após a devolução da letra.
A letra poderá ser apresentada para aceite até a data do
vencimento. Se a letra de câmbio for à vista, ela não precisa ser
apresentada ao sacado para o aceite. A apresentação já provoca o
vencimento da obrigação e a necessidade de pagamento.
Caso haja recusa no aceite, ocorre o vencimento antecipado das
obrigações. O beneficiário poderá cobrar o sacador.

O endosso é forma de transferência do título de crédito à ordem.


Presume-se, na omissão do título, que esse possa ser transmissível
por endosso ou, de outra forma, que possui cláusula à ordem, o que
significa que poderá ser transmitido por endosso.
O endosso não pode ser condicionado e o endosso parcial é
nulo. O endosso é aposto no verso do título mediante a assinatura.
Caso seja feito no anverso, exige que conste “endosso”. O endosso
implica a transmissão do título e que o endossante se responsabiliza
pelo pagamento em face do endossatário, caso o devedor principal
(sacado) não satisfaça sua obrigação.
Poderá estipular o endossante que não se obriga nem pelo aceite
nem pelo pagamento. Trata-se de cláusula de “endosso sem
garantia”. Pela referida cláusula, o endossante apenas transfere a
propriedade do título, mas não se responsabiliza pelo pagamento da
cártula pelo devedor principal ou pelo aceite.
A responsabilidade também não ocorrerá se o endosso for
efetuado após o protesto por falta de pagamento da letra ou após o
prazo para a realização do protesto. É o conhecido como endosso
póstumo. O endosso póstumo tem os efeitos apenas de uma
cessão de crédito, em que não há autonomia das obrigações e o
cessionário apenas poderá exigir a satisfação da obrigação do
devedor principal. O cedente apenas se obriga pela existência da
obrigação, mas não pelo adimplemento.
O endosso poderá ser em branco, em que o beneficiário não é
identificado, ou em preto, em que ele o é.
Poderá ser próprio, em que é transmitida a titularidade do crédito,
ou impróprio. São impróprios o endosso-mandato, em que são
transmitidos poderes apenas de cobrança (o endossatário é
mandatário do endossante), e o endosso-caução, que transfere a
titularidade apenas para garantir uma obrigação.
Possível a aposição de cláusula de proibição de novo endosso na
letra de câmbio. A cláusula de proibição de novo endosso impede
que o endossante que apôs a cláusula seja responsabilizado em
face de outras pessoas diversas daquele endossatário imediato a
quem transferiu a cártula.
A cláusula de proibição de endosso não impede,
propriamente, novos endossos na letra de câmbio. Os novos
endossatários do título, entretanto, apenas não poderão cobrar o
endossante que apôs a cláusula de proibição de endosso na cártula.
A cláusula de proibição de endosso é diferente da inserção de
uma cláusula não à ordem. Essa última determina que o título de
crédito apenas poderá ser transferido por cessão de crédito, e não
endosso, de modo que o cedente apenas se responsabiliza perante
o cessionário pela existência da obrigação do sacado, mas não por
seu adimplemento.
As obrigações poderão ser garantidas por aval. O aval deverá ser
incluído no anverso da letra pela mera assinatura do avalista. Se no
verso, deverá constar a palavra aval. Deve indicar o avalizado, sob
pena de, no silêncio, ser em benefício do sacador. É o chamado
aval em branco.
O aval poderá ser concedido antes ou depois do vencimento do
título. Nos termos do art. 900 do Código Civil, o aval posterior ao
vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado.
A obrigação do avalista é a mesma do avalizado. É autônoma em
relação às obrigações dos demais e, inclusive, em face do
avalizado. Subsiste a responsabilidade do avalista ainda que nula a
obrigação daquele a quem se equipara.
O Código Civil, no art. 897, parágrafo único, proibiu o aval parcial.
Nas letras de câmbio, contudo, prevalece a norma especial, uma
vez que a Lei Uniforme de Genebra permite o aval parcial do título.
Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu
avalizado e demais coobrigados anteriores.
O pagamento poderá ser total ou parcial. Feito pelo sacado,
extingue a obrigação dos demais. Feito pelos coobrigados, extingue
as obrigações dos coobrigados posteriores da relação cambial, mas
permite a ação de regresso em face dos anteriores.
Para que possa executar os devedores, o beneficiário terá o prazo
prescricional de três anos a contar do vencimento do título para
cobrar o aceitante e seus avalistas; um ano a contar do protesto,
para cobrar os endossantes, sacador e seus avalistas; seis meses a
contar do dia em que o endossante pagou a letra para a ação de
regresso em face dos demais endossantes ou do sacador.

■ 8.3. Nota promissória


A nota promissória consiste em uma promessa de pagamento
pelo sacador ou promitente de quantia determinada ao beneficiário.
O sacador é o próprio devedor principal do título, de modo que não
há aceite por inexistir ordem de pagamento.
A nota promissória é disciplinada pelos arts. 75 a 78 do Decreto n.
57.663/66 e, em sua omissão, aplicar-se-á a disciplina da letra de
câmbio.
Dentre os seus requisitos, precisa constar a expressão nota
promissória, a promessa pura e simples de pagar quantia
determinada; o nome do beneficiário; a data de emissão e a
assinatura do sacador. Caso não seja indicada a data do
pagamento, o título será considerado à vista.
Aplicam-se às notas promissórias as mesmas disposições da letra
de câmbio quanto ao endosso, aval, pagamento, ressaque, ação
cambial e prescrição.

■ 8.4. Cheque
O cheque é título de crédito disciplinado pela Lei n. 7.357/85.
Consiste em ordem de pagamento à vista.
Consiste na ordem emitida pelo sacador, correntista de uma
instituição financeira, para que ela, sacada, pague uma determinada
quantia em benefício de terceiro ou dele próprio.
É título de forma vinculada, pois a cártula é fornecida pela própria
instituição financeira. Exige também a celebração de um contrato
prévio entre o emitente e a instituição financeira de modo que sejam
depositados fundos. Diante do requisito do prévio depósito, não há
propriamente um crédito a ser realizado pela instituição financeira,
pois ela simplesmente paga o montante com os recursos do
emitente, o que torna o cheque um título de crédito impróprio.
Não há aceite e considera-se não escrita qualquer declaração em
contrário. A instituição financeira não precisa aceitar a ordem. Ela é
obrigada a pagar desde que haja recursos disponíveis.
A falta de recursos não prejudica a validade do cheque, mas o
pagamento não se efetuará se não houver créditos na conta
corrente, saldo exigível de conta-corrente ou soma proveniente de
abertura de crédito.
São requisitos essenciais ao cheque: a denominação “cheque”; a
ordem incondicional de pagar quantia determinada; o nome do
sacado e a instituição financeira; a data da emissão e a assinatura
do emitente. Caso a instituição financeira não pague a cártula, o
emitente é responsável pelo pagamento.
Não são requisitos essenciais o local de pagamento e o local
de emissão. Caso não seja indicado, o local de pagamento é o local
junto ao nome do sacado. Caso não haja menção do local em que
emitido, considera-se que o cheque foi emitido no local junto ao
nome do emitente.

■ 8.4.1. Endosso e cessão de crédito


Pode ser ao portador, se até R$ 100,00, e circula por mera
tradição. O cheque também poderá ser com cláusula à ordem ou
não à ordem.
A cláusula à ordem é presumida no cheque e implica que o título
será transmitido mediante endosso. Apenas o sacado não pode
endossar o título, sob pena de ser nulo. O endosso deve ser feito no
cheque, no verso, ou na folha de alongamento.
O endosso poderá ser feito em preto, quando o endossatário é
identificado pelo endossante, ou em branco. No caso de endosso
em branco, o endossante apenas assina a cártula e não identifica o
endossatário. Nesse caso, o título circula da mesma forma que o
cheque ao portador, mas poderá ser completado a qualquer
momento.
O endosso não poderá ser condicionado, nem poderá ser parcial.
O endosso parcial é nulo.
O endossante garante o pagamento do título ao endossá-lo.
Apenas não garantirá o pagamento se endossar com a cláusula
“sem garantia”.
Endosso póstumo é o realizado após o protesto ou após o prazo
de apresentação. Tem efeitos da cessão civil, de modo que não
garante a autonomia das obrigações ou o pagamento da cártula ao
cessionário. O cedente é responsável apenas pela existência do
crédito, mas não se torna coobrigado.
O endosso próprio transfere o crédito ao beneficiário. O endosso
impróprio, que não transfere o crédito simplesmente, poderá ser
classificado em endosso-mandato, em que o endossatário deve
cobrar o valor da cártula, mas não recebe a titularidade do crédito; o
endosso-caução, em que o título é transferido como penhor,
garantia ou caução de uma obrigação, não é admitido no
cheque, pois o cheque é ordem de pagamento à vista.
Não há limitação para a qualidade de endossos.
A cláusula não à ordem impõe que o crédito somente será
transmitido por cessão civil.

■ 8.4.2. Aval
O aval é garantia cambiária fornecida pelo avalista ao avalizado.
Pode ser total ou parcial e é feito no anverso do cheque. Apenas o
sacado não pode ser considerado avalista.
O avalista é coobrigado e possui a mesma obrigação do
avalizado. Como obrigação cambial, sua obrigação é autônoma,
inclusive em relação a esse.

■ 8.4.3. Pagamento
O cheque é ordem de pagamento à vista. Qualquer cláusula que
exige sua apresentação em momento posterior é considerada não
escrita. O cheque pós-datado, ou conhecido como pré-datado, é
pagável antes da data convencionada. Entretanto, por
descumprimento de convenção, o contratante poderá ser
condenado a indenizar o emitente se na data apresentada não
houver fundos e o pagamento tiver sido recusado pelo banco
sacado.
O prazo de apresentação é de 30 dias, se tiver sido emitido no
mesmo lugar em que houver de ser pago, e de 60 dias, se emitido
em local diverso. Decorrido o prazo de apresentação sem que tenha
sido feita, o cheque não poderá ser cobrado dos endossantes e
avalistas, mas continua a ser exigido do sacado até a prescrição.
Caso tenha sido apresentado na data de apresentação e não
pago, o beneficiário poderá executar os coobrigados, os quais
respondem solidariamente pela obrigação da cártula.
São coobrigados o emitente e seus avalistas e os endossantes e
seus avalistas. Contra os endossantes e avalistas, o tomador deverá
demonstrar que o cheque foi apresentado no prazo de apresentação
e que não fora pago. A prova é feita com o protesto do título ou pela
declaração escrita por câmara de compensação. O protesto poderá
ser dispensado para a cobrança desses apenas se houver o
endossante aposto cláusula sem despesa ou sem protesto.
Em face do emitente e seus avalistas, o protesto é dispensado,
mas o tomador poderá perder o direito de executar se o emitente
não tiver mais fundos disponíveis em razão de fato que não lhe
possa ser imputável.

■ 8.4.4. Prescrição
Para a execução do emitente e dos avalistas, o cheque prescreve
em 6 meses do término de sua data de apresentação, ou seja, 6
meses do decurso do prazo de 30 dias, se emitido na mesma praça,
e de 60 dias, se emitido em praça diversa. O prazo de regresso para
os coobrigados exigirem o pagamento dos demais coobrigados
anteriores prescreve em 6 meses da data do pagamento.
Caso o prazo decorra, não mais haverá a possibilidade da
execução. Entretanto, poderá ser promovida ação de
locupletamento indevido contra o emitente no prazo de dois anos da
data em que se consumou a prescrição executiva.

■ 8.4.5. Tipos de cheque


Cheque pós-datado: cheque que possui data futura de
apresentação. A cláusula é considerada não escrita e o cheque
poderá ser apresentado, pois ordem de pagamento à vista. Embora
deva ser pago se apresentado antes da data, o descumprimento da
convenção entre o emitente e o beneficiário caracteriza dano moral.
Cheque cruzado: possui duas linhas paralelas na transversal do
anverso do cheque. Implica que o cheque somente será pago a um
banco ou a um cliente do sacado, mediante depósito em conta.
O cruzamento poderá ser especial ou geral. No cruzamento
especial, inclui-se o nome do banco entre os dois traços. O
pagamento pelo sacado somente poderá ocorrer ao banco indicado
ou, se esse banco for o próprio sacado, a cliente seu mediante
crédito em conta.
No cruzamento geral, nada é incluído, de modo que o sacado
somente poderá pagar a banco ou a cliente do sacado mediante
crédito em conta.

Caso sejam vários os cruzamentos especiais, o cheque apenas


poderá ser pago pelo sacado no caso de dois cruzamentos, um dos
quais para cobrança por câmara de compensação.
Cheque visado: o sacado assegura a disponibilidade de fundos
do emitente e garante o pagamento do título. O banco lança visto no
cheque para tanto.
Cheque administrativo: é o cheque emitido pelo próprio banco
contra ele mesmo em benefício do tomador. É um autossaque.

■ 8.5. Duplicata
A duplicata é título de crédito causal disciplinado pela Lei n.
5.474/68 e pela Lei n. 13.774/2018 e consiste em ordem de
pagamento. Poderá ser emitida na forma cartular, materializada em
documento, ou poderá ser emitida na forma escritural, eletrônica ou
virtual.

Ela é sacada a partir da fatura ou notas fiscais faturas. A emissão


de duplicata que não corresponda à fatura é crime de emissão de
duplicata simulada. O vendedor da mercadoria ou o prestador do
serviço sacam a duplicata em face do sacado, que é o adquirente da
mercadoria ou dos serviços, para que esse pague o beneficiário, o
qual é o próprio vendedor.
São seus requisitos a denominação duplicata, a data de sua
emissão e o número de ordem, o número da fatura, a data do
vencimento, o nome do vendedor e do comprador, o montante a ser
pago e o local, a cláusula à ordem e a assinatura do emitente.
O aceite na duplicata é obrigatório. O sacado somente poderá
recusar o aceite se não recebeu a mercadoria, se há vícios na
mercadoria ou divergência de prazo e preço. Recebida a duplicata,
o sacado deverá devolvê-la em 10 dias com o aceite ou sem o
aceite e com a justificativa da razão do não aceite.
Se a duplicata não for devolvida, o sacador poderá extrair a
triplicata.

■ 8.5.1. Aval e endosso


A duplicata pode ser garantida por aval. O aval deverá identificar o
avalizado e, caso não o faça, será considerado como avalizado o
sacado. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos
efeitos do anterior.
Poderá a duplicata ser endossada a terceiro e os endossantes se
tornam coobrigados pelo título, conforme a disciplina análoga da
letra de câmbio.

■ 8.5.2. Protesto
O protesto pode ser por falta de aceite, por falta de devolução
da cártula e por falta de pagamento.
O protesto deverá ser realizado no prazo de 30 dias do
vencimento. O protesto por falta de devolução da cártula e o
protesto por falta de aceite são facultados ao beneficiário, pois a
ausência não impedirá o protesto por falta de pagamento.
Se a duplicata não tiver sido aceita, o protesto é obrigatório
inclusive para a cobrança do devedor principal, além dos
coobrigados.
A ação poderá ser proposta em face desses com a demonstração
de que a duplicata ou triplicata foram protestadas, de que há
documento hábil comprobatório da entrega e recebimento das
mercadorias, e deverá ser demonstrado que o sacado não recusou
de modo legítimo o aceite.
Se a duplicata tiver sido aceita, o protesto é imprescindível
apenas para a execução dos coobrigados. Na sua ausência,
permite-se a execução apenas do sacado e dos avalistas, pois já se
obrigaram pela assinatura como devedores principais.

■ 8.5.3. Prescrição
Prescreve em 3 anos, do vencimento do título, a ação contra o
sacado e os avalistas; 1 ano, contado do protesto, a ação contra os
endossantes e seus avalistas; em 1 ano, contado da data do
pagamento, a ação promovida pelo coobrigado contra o sacador ou
os endossantes anteriores e avalistas.

■ 8.5.4. Duplicata escritural, eletrônica ou virtual


A duplicata poderá ter a forma escritural, eletrônica ou virtual,
conforme disciplina a Lei n. 13.775/2018.
A emissão dessa forma de duplicata será feita mediante
lançamento em sistema eletrônico de escrituração, administrado por
qualquer entidade que exerça a atividade de escrituração de
duplicata escritural.
Para a constituição da duplicata escritural, no sistema deverão ser
escriturados, pelo menos, apresentação, aceite, devolução e
formalização da prova do pagamento; controle e transferência
da titularidade; prática de atos cambiais sob a forma escritural,
tais como endosso e aval; inclusão de indicações, informações
ou declarações referentes à operação com base na qual a
duplicata foi emitida ou ao próprio título; e inclusão de
informações a respeito de ônus e gravames constituídos sobre
as duplicatas. A prova de pagamento também deverá ser
informada no sistema eletrônico de escrituração.
Do sistema eletrônico, os gestores deverão expedir extratos do
registro eletrônico da duplicata a pedido de qualquer solicitante. A
duplicata sob a forma escritural e seu extrato serão considerados
títulos executivos extrajudiciais e também poderão ser protestados.
Às duplicatas escriturais aplicam-se subsidiariamente as normas
para a duplicata cartular. Para a duplicata escritural, de forma
especial em relação à cartular, exige-se a apresentação de forma
eletrônica no prazo de dois dias úteis contados de sua emissão,
caso não tenha sido determinado prazo diverso pela entidade da
administração federal competente. A recusa de sua aceitação,
entretanto, deverá também ser realizada por meio eletrônico, no
prazo e pelos motivos da recusa da duplicata cartular, ou seja,
apenas nas hipóteses de avaria ou não recebimento das
mercadorias, vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou
quantidade ou divergência nos prazos ou preços, desde que a
recusa ocorra no prazo de dez dias. Poderá, entretanto, no prazo de
15 dias aceita-la.
Por fim, nos termos do art. 10 da Lei n. 13.775/2018, são nulas
de pleno direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou
oneram, de forma direta ou indireta, a emissão ou a circulação
de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural.
■ QUESTÕES
(XXIX Exame de Ordem Unificado / FGV) Luzia Betim pretende iniciar uma
sociedade empresária em nome próprio. Para tanto, procura assessoria jurídica
quanto à necessidade de inscrição no Registro Empresarial para regularidade de
exercício da empresa.

Na condição de consultor(a), você responderá que a inscrição do empresário


individual é
A) dispensada até o primeiro ano de início da atividade, sendo obrigatória a partir
de então.
B) obrigatória antes do início da atividade.
C) dispensada, caso haja opção pelo enquadramento como microempreendedor
individual.
D) obrigatória, se não houver enquadramento como microempresa ou empresa de
pequeno porte.

RESPOSTA:
A) Não há qualquer dispensa do registro ao empresário. O art. 967 do Código
Civil determina: “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início da atividade”.
Alternativa conforme o art. 967 do Código Civil.
C) O microempreendedor individual não está dispensado do registro, pois se
enquadra como empresário individual.
D) A microempresa e a empresa de pequeno porte não estão dispensadas do
registro, conforme o art. 3º da Lei Complementar n. 123/2006.

(XXIX Exame de Ordem Unificado / FGV) Madeireira Juína Ltda. requereu a


homologação de plano de recuperação extrajudicial em Juara/MT, lugar de seu
principal estabelecimento. Após o pedido de homologação e antes da publicação
do edital para apresentação de impugnação ao plano, um dos credores com
privilégio geral que haviam assinado o plano pretende desistir unilateralmente da
adesão. Tal credor possui um terço dos créditos de sua classe submetidos ao
plano. Com relação ao credor com privilégio geral, após a distribuição do pedido
de homologação, assinale a afirmativa correta.
A) Não poderá desistir da adesão ao plano, mesmo com a anuência expressa dos
demais signatários.
B) Poderá desistir da adesão em razão da natureza contratual do plano, que
permite, a qualquer tempo, sua denúncia.
C) Não poderá desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos
demais signatários.
D) Poderá desistir da adesão ao plano, desde que seja titular de mais de 1/4 do
total dos créditos de sua classe

RESPOSTA
A) Na recuperação extrajudicial, somente poderá ocorrer desistência dos credores
signatários após a distribuição do pedido de homologação, a menos que haja
concordância dos demais credores signatários.
B) Esta alternativa contraria o art. 161, § 5º, da Lei n. 11.101/2005.
Alternativa conforme a redação do art. 161, § 5º, da Lei n. 11.101/2005.
D) Não há qualquer exigência de quórum para a desistência. Exige-se a
concordância de todos os demais.

(XXIX Exame de Ordem Unificado / FGV) Ribamar é sócio da sociedade


empresária Junco, Fiquene & Cia. Ltda. Após uma infrutífera negociação de plano
de recuperação judicial, a assembleia de credores rejeitou o plano, acarretando a
decretação de falência da sociedade. O desgaste, que já existia entre Ribamar e
os demais sócios, intensificou-se com a decretação da falência, ensejando pedido
de retirada da sociedade, com base nas disposições reguladoras da sociedade
limitada.

Diante dos fatos narrados, assinale a afirmativa correta.


A) A decretação da falência suspende o exercício do direito de retirada do sócio
Ribamar.
B) A sociedade deverá apurar os haveres do sócio dissidente Ribamar, que serão
pagos como créditos extraconcursais.
C) O juiz da falência deverá avaliar o pedido de retirada do sócio Ribamar e,
eventualmente, deferi-lo na ação de dissolução parcial.
D) A decretação de falência não suspende o direito de retirada do sócio Ribamar,
mas o pagamento de seus haveres deverá ser incluído como crédito
subordinado.

RESPOSTA
Conforme o art. 116 da Lei n. 11.101, a decretação da falência suspende o
exercício do direito de retirada por parte dos sócios da sociedade falida.
B) Nos termos do art. 116 da Lei n. 11.101/2005, é suspenso o direito de retirada
por ocasião da falência.
C) O direito de retirada é suspenso por ocasião da decretação.
D) A alternativa contraria o art. 116 da Lei n. 11.101/2005.

(XXIX Exame de Ordem Unificado / FGV) Álvares Florence tem um filho


relativamente incapaz e consulta você, como advogado(a), para saber da
possibilidade de transferir para o filho parte das quotas que possui na sociedade
empresária Redenção da Serra Alimentos Ltda., cujo capital social se encontra
integralizado. Apoiado na disposição do Código Civil sobre o assunto, você
respondeu que
A) é permitido o ingresso do relativamente incapaz na sociedade, bastando que
esteja assistido por seu pai no instrumento de alteração contratual.
B) não é permitida a participação de menor, absoluta ou relativamente incapaz,
em sociedade, exceto nos tipos de sociedades por ações.
C) não é permitida a participação de incapaz em sociedade, mesmo que esteja
representado ou assistido, salvo se a transmissão das quotas se der em razão
de sucessão causa mortis.
D) é permitido o ingresso do relativamente incapaz na sociedade, desde que
esteja assistido no instrumento de alteração contratual, devendo constar a
vedação do exercício da administração da sociedade por ele.

RESPOSTA
A) Conforme o art. 974, § 3º, I e III, do Código Civil, o sócio poderá ser incapaz.
Contudo, não poderá exercer a administração da sociedade e deve ser
assistido ou representado por seus representantes legais.
B) Desde que a sociedade tenha capital integralizado, é possível a participação
de incapaz na sociedade, nos termos do art. 974, § 3º, II, do Código Civil.
C) É possível a participação de incapaz na sociedade, nos termos do art. 974 do
Código Civil.
O incapaz poderá ingressar na sociedade, desde que assistido e que não
possa exercer atos de administração.

(XXIX Exame de Ordem Unificado / FGV) André de Barros foi desapossado de


nota promissória com vencimento à vista no valor de R$ 34.000,00 pagável em
Lagoa Vermelha/RS, que lhe foi endossada em branco pela sociedade empresária
Arvorezinha Materiais de Limpeza Ltda. Em relação aos direitos cambiários
decorrentes da nota promissória, assinale a afirmativa correta:
A) A sociedade empresária endossante ficará desonerada se o título não for
restituído a André de Barros no prazo de 30 dias da data do desapossamento.
B) André de Barros poderá obter a anulação do título desapossado e um novo
título em juízo, bem como impedir que seu valor seja pago a outrem.
C) A sociedade empresária endossante não poderá opor ao portador atual
exceção fundada em direito pessoal ou em nulidade de sua obrigação.
D) O subscritor da nota promissória ficará desonerado perante o portador atual se
provar que o título foi desapossado de André de Barros involuntariamente.

RESPOSTA
A) Não há desoneração. Para evitar que o título seja pago pelo devedor e por
seus coobrigados, André poderá realizar a oposição ao pagamento, que
constitui um meio para comunicar ao devedor a ocorrência de um
acontecimento prejudicial aos interessados na nota promissória (art. 40, § 3º,
da LUG).
Alternativa conforme o art. 40, § 3º, da LUG.
C) Deverá a sociedade endossante se recusar ao pagamento após a oposição ao
pagamento realizado pelo antigo beneficiário desapossado. Outrossim, deverá
verificar a regularidade da sucessão dos endossos.
D) Para a não obrigação em face do portador atual da cártula, o devedor deverá
demonstrar que não há regularidade da sucessão dos endossos.

(XXX Exame de Ordem Unificado / FGV) Determinadas pessoas naturais, em


razão de sua atividade profissional, e certas espécies de pessoas jurídicas, todas
devidamente registradas no órgão competente, gozam de tratamento simplificado,
favorecido e diferenciado em relação aos demais agentes econômicos –
microempresas e empresas de pequeno porte.

De acordo com a Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, as


microempresas e as empresas de pequeno porte, quanto à forma jurídica, são
A) cooperativa de produção, empresário individual, empresa pública e sociedade
limitada.
B) empresário individual, empresa individual de responsabilidade limitada,
sociedade simples e sociedade empresária, exceto por ações.
C) cooperativa de crédito, empresário individual, empresa individual de
responsabilidade limitada e sociedade simples.
D) empresário individual, profissional liberal, empresa individual de
responsabilidade limitada e sociedade por ações.

RESPOSTA
A) Segundo a Lei Complementar n. 123/2005, em seu art. 3º, são MEs e EPPs as
sociedades empresárias, a sociedade simples, a empresa individual de
responsabilidade limitada e o empresário individual. Não podem ser
microempresas ou empresas de pequeno porte as cooperativas ou sociedade
por ações.
Alternativa conforme o art. 3º da Lei Complementar n. 123/2005.
C) As cooperativas não podem ser microempresas ou empresas de pequeno
porte.
D) Sociedade por ações não pode ser microempresa ou empresa de pequeno
porte.

(XXX Exame de Ordem Unificado / FGV) Nos contratos de comissão, corretagem


e agência, é dever do corretor, do comissário e do agente atuar com toda
diligência, atendo-se às instruções recebidas da parte interessada. Apesar dessa
característica comum, cada contrato conserva sua tipicidade em razão de seu
modus operandi. A esse respeito, assinale a afirmativa correta.
A) O agente pratica, em nome próprio, os atos a ele incumbidos à conta do
proponente; o comissário não pode tomar parte – sequer como mandatário –
nos negócios que vierem a ser celebrados em razão de sua intermediação; o
corretor pode receber poderes do cliente para representá-lo na conclusão dos
contratos.
B) O comissário pratica, em nome próprio, os atos a ele incumbidos à conta do
comitente; o corretor não pode tomar parte – sequer como mandatário – nos
negócios que vierem a ser celebrados em razão de sua mediação; o agente
pode receber poderes do proponente para representá-lo na conclusão dos
contratos.
C) O corretor pratica, em nome próprio, os atos a ele incumbidos à conta do
cliente; o agente não pode tomar parte – sequer como mandatário – nos
negócios que vierem a ser celebrados no interesse do proponente; o
comissário pode receber poderes do comitente para representá-lo na
conclusão dos contratos.
D) Tanto o comissário quanto o corretor praticam, em nome próprio, os atos a eles
incumbidos pelo comitente ou cliente, mas o primeiro tem sua atuação restrita
à zona geográfica fixada no contrato; o agente deve atuar com exclusividade
tão somente na mediação para realização de negócios em favor do
proponente.

RESPOSTA
A) Como regra, o agente apenas aproxima negócios jurídicos. O comissário
pratica os atos em nome próprio e o corretor não pode atuar como mandatário.
O comissário pratica, em nome próprio, os atos a ele incumbidos à conta do
comitente.
C) O corretor apenas aproxima os negócios, e não pode ser considerado
mandatário.
D) O corretor apenas aproxima os negócios a serem celebrados entre as partes.

(XXX Exame de Ordem Unificado / FGV) Além da impontualidade, a falência pode


ser decretada pela prática de atos de falência por parte do devedor empresário
individual ou dos administradores da sociedade empresária.

Assinale a opção que constitui um ato de falência por parte do devedor.


A) Deixar de pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título
executivo protestado por falta de pagamento, cuja soma ultrapasse o
equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos na data do pedido de falência.
B) Transferir, durante a recuperação judicial, estabelecimento a terceiro sem o
consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para
solver seu passivo, em cumprimento à disposição de plano de recuperação.
C) Não pagar, depositar ou nomear à penhora, no prazo de 3 (três) dias, contados
da citação, bens suficientes para garantir a execução.
D) Deixar de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial, após o cumprimento de todas as obrigações previstas no
plano que vencerem até dois anos depois da concessão da recuperação
judicial.

RESPOSTA
A) Prática de ato de falência é disciplinada pelo art. 94, III, da Lei n. 11.101/2005.
Na alternativa “A” está descrita a impontualidade injustificada e não o ato de
falência.
B) Os atos falimentares exigem, pelo art. 94, III, que não haja previsão no plano
de recuperação judicial para a sua realização.
C) A execução frustrada é hipótese diversa dos atos falimentares.
A prática de ato falimentar é considerada o aumento do risco aos credores,
desde que não prevista em plano de recuperação judicial. Entre eles, deixar de
cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação
judicial e posteriores a dois anos da concessão da recuperação, haja vista
que, se anterior, provocará a convolação em falência.

(XXX Exame de Ordem Unificado / FGV) Amambaí Inovação e Engenharia S/A


obteve, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), patente de
invenção no ano de 2013. Dois anos após, chegou ao conhecimento dos
administradores a prática de atos violadores de direitos de patente. No entanto, a
ação para reparação de dano causado ao direito de propriedade industrial só foi
intentada no ano de 2019. Você é consultado(a), como advogado(a), sobre o
caso.

Assinale a opção que apresenta seu parecer.


A) A reparação do dano causado pode ser pleiteada, porque o direito de patente é
protegido por 20 (vinte) anos, a contar da data do depósito.
B) A pretensão indenizatória, na data da propositura da ação, encontrava-se
prescrita, em razão do decurso de mais de 3 (três) anos.
C) A pretensão indenizatória, na data da propositura da ação, não se encontrava
prescrita porque o prazo de 5 (cinco) anos não havia se esgotado.
D) A reparação do dano causado não pode ser pleiteada, porque a patente
concedida não foi objeto de licenciamento pelo seu titular.

RESPOSTA
A) A Lei n. 9.279/96 determina que o prazo para a ação para reparação de dano
causado ao direito de propriedade industrial é de 5 anos, conforme o art. 225.
Logo, a partir do conhecimento dos administradores da prática de atos
violadores da patente, em 2015, haveria mais cinco anos de prescrição para a
ação.
B) A pretensão não estava prescrita.
A pretensão indenizatória não se encontrava prescrita.
D) A licença da patente é irrelevante à pretensão.
(XXX Exame de Ordem Unificado / FGV) Rolim Crespo, administrador da
sociedade Indústrias Reunidas Novo Horizonte do Oeste Ltda., consultou sua
advogada para lhe prestar orientação quanto à inserção de cláusula
compromissória em um contrato que a pessoa jurídica pretende celebrar com uma
operadora de planos de saúde empresariais. Pela leitura da proposta, verifica-se
que não há margem para a negociação das cláusulas, por tratar-se de contrato
padronizado, aplicado a todos os aderentes. Quanto à cláusula compromissória
inserida nesse contrato, assinale a opção que apresenta a orientação dada pela
advogada.
A) É necessária a concordância expressa e por escrito do aderente com a sua
instituição, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou o visto
para essa cláusula.
B) É nula de pleno direito, por subtrair do aderente o direito fundamental de
acesso à justiça, e o contrato não deve ser assinado.
C) Somente será eficaz se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem,
e, como a iniciativa foi do proponente e unilateral, ela é nula.
D) Somente será eficaz se houver a assinatura do aderente no contrato, vedada
qualquer forma de manifestação da vontade em documento anexo ou,
simplesmente, com o visto para essa cláusula.

RESPOSTA
Na Lei de Arbitragem, Lei n. 9.307/96, o art. 4º, § 2º, determinou que, nos
contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a
sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito,
com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
B) A cláusula é válida. Sua eficácia somente poderá ocorrer se os demais
requisitos forem preenchidos.
C) Se houver a concordância do aderente, preenchidos os demais requisitos para
essa concordância, a cláusula será eficaz.
D) A manifestação de vontade em documento anexo é possível.

(XXXI Exame de Ordem Unificado / FGV) No contrato da sociedade empresária


Arealva Calçados Finos Ltda., não consta cláusula de regência supletiva pelas
disposições de outro tipo societário. Ademais, tanto no contrato social quanto nas
disposições legais relativas ao tipo adotado pela sociedade não há norma
regulando a sucessão por morte de sócio.
Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) Haverá resolução da sociedade em relação ao sócio em caso de morte.
B) Haverá transmissão causa mortis da quota social.
C) Caberá aos sócios remanescentes regular a substituição do sócio falecido.
D) Os sócios serão obrigados a incluir, no contrato, cláusula dispondo sobre a
sucessão por morte de sócio.

RESPOSTA
Nos termos do art. 1.053 do Código Civil, a sociedade limitada será regida, nas
omissões do capítulo da sociedade limitada, pelas normas da sociedades
simples. O art. 1.028 nesses termos, determina que apenas a quota será
liquidada no caso de morte de sócio, a menos que o contrato disponha de
forma diferente ou os sócios optarem pela dissolução da sociedade ou acordo
com os herdeiros.
B) A transmissão da quota apenas ocorrerá, nos termos do art. 1.028 do Código
Civil, se houver acordo com os herdeiros.
C) Os sócios remanescentes poderão regular a substituição do sócio falecido, ora
aceitando os herdeiros, caso esses concordem, ora dissolvendo toda a
companhia. Não há obrigatoriedade.
D) Se não houver cláusula específica no contrato, o art. 1.028 será aplicável.

(XXXI Exame de Ordem Unificado / FGV) Anadia e Deodoro são condôminos de


uma quota de sociedade limitada no valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais). Nem
a quota nem o capital da sociedade – fixado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais) – se encontram integralizados. Você é consultado(a), como advogado(a),
sobre a possibilidade de a sociedade demandar os condôminos para que
integralizem a referida quota. Assinale a opção que apresenta a resposta correta.
A) Eles são obrigados à integralização apenas a partir da decretação de falência
da sociedade.
B) Eles não são obrigados à integralização, pelo fato de serem condôminos de
quota indivisa.
C) Eles são obrigados à integralização, porque todos os sócios, mesmo os
condôminos, devem integralizar o capital.
D) Eles não são obrigados à integralização, porque o capital da sociedade é
inferior a 100 salários mínimos.
RESPOSTA
A) No art. 1.052 do CC determina-se a obrigação dos sócios de integralizarem o
capital social. Ademais, no art. 1.004 do CC estabelece-se que as quotas
devem ser integralizadas nos prazos previstos no contrato social.
B) No art. 1.056, § 2º, do CC determina-se que os condôminos respondem
solidariamente pelas prestações necessárias à integralização da quota.
Todos os sócios são obrigados a integralizar, mesmo os condôminos.
D) A obrigação de integralização ocorre independentemente do valor do capital
social.

(XXXI Exame de Ordem Unificado / FGV) As sociedades empresárias Y e J


celebraram contrato tendo por objeto a alienação do estabelecimento da primeira,
situado em Antônio Dias/MG. Na data da assinatura do contrato, dentre outros
débitos regularmente contabilizados, constava uma nota promissória vencida
havia três meses no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). O contrato
não tem nenhuma cláusula quanto à existência de solidariedade entre as partes,
tanto pelos débitos vencidos quanto pelos vincendos.

Sabendo-se que, em 15/10/2018, após averbação na Junta Comercial


competente, houve publicação do contrato na imprensa oficial e, tomando por
base comparativa o dia 15/01/2020, o alienante
A) responderá pelo débito vencido com o adquirente por não terem decorrido
cinco anos da publicação do contrato na imprensa oficial.
B) não responderá pelo débito vencido com o adquirente em razão de não ter sido
estipulada tal solidariedade no contrato.
C) responderá pelo débito vencido com o adquirente até a ocorrência da
prescrição relativa à cobrança da nota promissória.
D) não responderá pelo débito vencido com o adquirente diante do decurso de
mais de 1 (um) ano da publicação do contrato na imprensa oficial.

RESPOSTA
A) Nos termos do art. 1.146 do Código Civil, o alienante será solidariamente
obrigado apenas pelo prazo de um ano a partir da publicação.
B) A responsabilidade é decorrente da própria lei quanto ao prazo e a
determinação de solidariedade.
C) Conforme o art. 1.146 do Código Civil, o alienante tem responsabilidade
limitada a um ano.
A alternativa reproduz a redação expressa do art. 1.146 do Código Civil.

(XXXI Exame de Ordem Unificado / FGV) Duas sociedades empresárias


celebraram contrato de agência com uma terceira sociedade empresária, que
assumiu a obrigação de, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência
com as proponentes, promover, à conta das primeiras, mediante retribuição, a
realização de certos negócios com exclusividade, nos municípios integrantes da
região metropolitana de Curitiba/PR. Ficou pactuado que as proponentes
conferirão poderes à agente para que esta as represente, como mandatária, na
conclusão dos contratos. Antônio Prado, sócio de uma das sociedades
empresárias contratantes, consulta seu advogado quanto à legalidade do
contrato, notadamente da delimitação de zona geográfica e da concessão de
mandato ao agente.

Sobre a hipótese apresentada, considerando as disposições legais relativas ao


contrato de agência, assinale a afirmativa correta.
A) Não há ilegalidade quanto à delimitação de zona geográfica para atuação
exclusiva do agente, bem como em relação à possibilidade de ser o agente
mandatário das proponentes, por serem características do contrato de
agência.
B) Há ilegalidade na fixação de zona determinada para atuação exclusiva do
agente, por ferir a livre concorrência entre agentes, mas não há ilegalidade na
outorga de mandato ao agente para representação das proponentes.
C) Há ilegalidade tanto na outorga de mandato ao agente para representação dos
proponentes, por ser vedada qualquer relação de dependência entre agente e
proponente, e também quanto à fixação de zona determinada para atuação
exclusiva do agente.
D) Não há ilegalidade quanto à fixação de zona determinada para atuação
exclusiva do agente, mas há ilegalidade quanto à concessão de mandato do
agente, porque é obrigatório por lei que o agente apenas faça a mediação dos
negócios no interesse do proponente.

RESPOSTA
Nos termos do art. 710 do CC, foi caracterizado o contrato de agência na
assunção de caráter não eventual e sem vínculo de dependência de uma
obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de
certos negócios, em zona determinada. A concessão de poderes poderá ser
feita para que o agente o represente na conclusão do contrato.
B) Há expressa permissão na fixação da zona determinada e para garantia de
atuação do agente.
C) O Código Civil, nos termos do art. 710, permite ambas as atribuições.
D) O agente poderá promover o próprio negócio em nome do representado.

(XXXI Exame de Ordem Unificado / FGV) José da Silva, credor de sociedade


empresária, consulta você, como advo-gado(a), para obter orientação quanto aos
efeitos de uma provável convolação de recuperação judicial em falência.

Em relação à hipótese apresentada, analise as afirmativas a seguir e assinale a


única correta.
A) Os créditos remanescentes da recuperação judicial serão considerados
habilitados quando definitivamente incluídos no quadro-geral de credores,
tendo prosseguimento as habilitações que estiverem em curso.
B) As ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas à
distribuição por dependência, exceto a ação revocatória e a ação revisional de
crédito admitido ao quadro geral de credores.
C) A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do
devedor quanto aos créditos excluídos dos efeitos da recuperação judicial;
quanto aos créditos submetidos ao plano de recuperação, são mantidos os
prazos nele estabelecidos e homologados pelo juiz.
D) As ações intentadas pelo devedor durante a recuperação judicial serão
encerradas, devendo ser intimado o administrador judicial da extinção dos
feitos, sob pena de nulidade do processo.

RESPOSTA
O art. 80 da Lei 11.101/2005 determina que serão considerados habilitados os
créditos remanescentes da recuperação judicial, quando definitivamente
incluídos no quadro geral de credores, tendo prosseguimento as habilitações
que estejam em curso.
B) A ação revocatória será promovida perante o Juízo da falência, nos termos do
art. 134 da Lei 11.101/2005.
C) A convolação em falência implica a reconstituição dos direitos anteriores ao
plano, nos termos do art. 61, § 2º, da Lei 11.101/2005.
D) O procedimento de recuperação judicial não altera os poderes nem para a
condução regular da atividade do devedor, nem para a manutenção de suas
ações.

Você também pode gostar