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O Desconcerto do Mundo

O desconcerto do mundo é um tema bastante presente nas obras de Camões, tanto na lírica
quanto na épica. O poeta expressa o seu desencanto com a realidade que o cerca, marcada
pela injustiça, pela corrupção, pelo sofrimento e pela decadência. Ao mesmo tempo, contrapõe
a essa realidade o ideal de um mundo harmonioso, regido pela razão, pela virtude e pela glória.

Na lírica, Camões explora o desconcerto do mundo principalmente nos seus sonetos e nas suas
redondilhas. Em alguns poemas, este coloca-se como vítima desse desacerto, que lhe causa
dor e angústia. Por exemplo, no soneto "Sete anos de pastor Jacob servia", o sujeito lamenta o
seu amor não correspondido por uma dama ingrata, que o despreza e o engana. Ele compara o
seu sofrimento ao de Jacob, que teve que trabalhar sete anos para casar com Raquel, mas foi
enganado pelo seu sogro e recebeu Lia em troca. Assim, o poeta mostra como o amor é uma
fonte de ilusão e desilusão.

Noutros poemas critica o desconcerto do mundo como um problema social e moral, que afeta
toda a humanidade. Por exemplo, na redondilha "Ao desconcerto do mundo", denuncia a
inversão de valores que rege a sociedade, onde os bons sofrem e os maus prosperam. Ele
confessa que tentou ser mau para alcançar o bem, mas foi castigado pelo destino. Assim,
conclui que o mundo só está concertado para ele, que paga pelos seus erros, enquanto os
outros vivem impunes.

Na épica, Camões também aborda o desconcerto do mundo em vários momentos de Os


Lusíadas. Nesta obra a grandeza dos feitos dos portugueses com a pequenez da sua
recompensa. Denuncia os vícios e os defeitos dos seus contemporâneos, que não honram a
memória dos seus antepassados. Ele questiona a providência divina, que permite que os heróis
enfrentem tantos perigos e dificuldades no mar e na terra. Ele reconhece a fragilidade humana
diante das forças da natureza e do acaso.

Um exemplo emblemático do desconcerto do mundo na épica é o episódio do Velho do


Restelo, no canto IV. Nesse episódio, um ancião dirige-se aos navegantes que estão prestes a
partir para a Índia e lhes faz um discurso pessimista e profético. Ele critica a ambição e a cobiça
que motivam as viagens marítimas, que trazem mais males do que bens para Portugal e para o
mundo. Ele prevê as desgraças que os portugueses irão sofrer nas terras distantes e as
consequências terríveis da expansão colonial. Lamenta, também a perda dos valores cristãos e
humanistas que norteavam a civilização ocidental. O sujeito representa a voz da consciência
crítica de Camões, que não se deixa iludir pelo falso brilho da glória.

Assim, pode-se concluir, que o tema do desconcerto do mundo é central na poesia de Camões,
pois revela a sua visão lúcida e complexa da realidade histórica e humana. Camões não se
conforma com o desacerto do mundo, mas também não se resigna a ele. Ele busca na arte uma
forma de expressar o seu inconformismo e de propor um ideal de harmonia e de beleza.

Webgrafia:

- Obra Os Lusíadas

- Sete anos de pastor Jacob servia — Génesis, Camões e António Sardinha | vicio da poesia

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