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ARTIGO CIENTÍFICO
GOIÂNIA-GO
2022
BEATRIZ FERREIRA DO COUTO XAVIER
GOIÂNIA-GO
2022
BEATRIZ FERREIRA DO COUTO XAVIER
BANCA EXAMINADORA
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Orientadora Profª: Ms. Nuria Micheline Meneses Cabral Nota
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Examinadora Profª: Ms. Karla Beatriz Nascimento Pires Nota
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSECCIONALIDADE
PORQUE AS MULHERES NEGRAS SÃO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DE
HOMICÍDIO POR RAZÕES DE GÊNERO NO BRASIL?
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do 9º período do curso de Direito da Escola de Direito, Negócios e Comunicação da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás (PUCGO). bbeatrizcouto@gmail.com.
negroafricana, rejeitando a deturpação histórica dos colonizadores europeus, que é
imposta, como a história oficial do Brasil, nos livros didáticos e nas escolas brasileiras.
A filósofa Djamila Ribeiro (2019) afirma que Freyre ao dizer que a mulher negra
facilitou “a depravação com a sua docilidade de escrava, abrindo as pernas ao
primeiro desejo do sinhô-moço”, reforça diversos estereótipos associados às mulheres
negras, como a ideia de que são ‘quentes’, ‘lascivas’ ou ‘naturalmente sensuais’,
contribuindo com a desumanização e ultrassexualização dessas mulheres, que
passam a ser vistas como violáveis, tornando-as mais vulneráveis à violência de
gênero, em especial à violência sexual.
As mulheres negras não tinham domínio e nem direito sobre seus próprios
corpos, elas sequer eram vistas como mulheres, mas reduzidas à condição de
fêmeas, uma vez que os negros não eram seres humanos no contexto da escravidão,
pois juridicamente eram considerados semoventes, bens móveis que integravam o
patrimônio de seus senhores, estes por sua vez podiam fazer o que bem quisessem
com os corpos das escravizadas, até mesmo violentá-las sexualmente, logo não se
tratava de interações sexuais, mas de estupros.
Djamila Ribeiro afirma que a seletividade racial das vítimas de homicídio por
razões de gênero no Brasil, se deve à intersecção da opressão de gênero com outras
subordinações, como a opressão de raça e de classe, que desde a invasão europeia,
condicionam as mulheres negras a uma situação de maior vulnerabilidade social,
tornando-as mais suscetíveis à violência.
A Lei 11.340, foi promulgada em 2006, mais conhecida como Lei Maria da
Penha, em homenagem à Maria da Penha Fernandes, farmacêutica que era vítima de
violência doméstica e sofreu duas tentativas de homicídio por parte de seu marido,
sobrevivendo com sequelas que a deixaram paraplégica.
Antes de 2006, o Brasil não possuía uma legislação específica sobre a violência
doméstica e as agressões contra mulheres no ambiente intrafamiliar eram tratadas
como querelas bobas de casal ou como infrações de menor potencial ofensivo,
punidas com penas mais brandas, o que gerava não só a impunidade dos infratores,
como também a naturalização da violência de gênero pela sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da análise dos indicadores sociais é possível perceber que apesar do
Brasil se autoproclamar como um país pós-colonial, todas as hierarquias de poder,
impostas pelos portugueses desde a invasão europeia, bem como as opressões que
decorrem dessas hierarquias, permanecem inalteradas na sociedade brasileira até os
dias atuais, portanto, a Lei Áurea não concedeu de fato a liberdade para a população
negra, houve apenas uma pseudo-abolição, que continuou concentrando riquezas e
outros privilégios nas mãos de uma minoria branca.
Por fim, é imperioso que o poder executivo invista mais fortemente em políticas
de combate à violência de gênero, principalmente em políticas que incluam as
necessidades específicas de mulheres mais marginalizadas, como as mulheres
negras, pois como diz a promotora de Justiça, Fabiana Dal’Mas, proteger as mulheres
não é um mero favor, mas sim um dever do Estado brasileiro.
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