Você está na página 1de 37

AULA 1

Cursos: Engenharia Eletromecânica

Sumário:
Os materiais e a civilização.
Tabela periódica.
Classificação dos materiais.

Abílio Silva abilio@ubi.pt


O que é um Material?

De acordo com o dicionário…

Material é um...

Adjectivo relativo à matéria que se refere ao corpo, formado de matéria,


parte palpável de uma coisa, independente de seu valor.

Substantivo masculino respeitante à propriedade inerente à matéria:


-o que compõe a substância de uma coisa;
- conjunto dos objetos, ou instrumentos utilizados num serviço
ou atividade.
A materialização em objetos
“incómodos” pelas suas
associações aos materiais,
formas e de significados…

Anónimo
Os Materiais permitem o fabrico de objetos e
produtos congruentes!
Os Materiais e a Civilização
Os materiais dominantes são respon-sáveis
pelo nome das diferentes épocas da
civilização humana:
Idade da Pedra
Idade do Bronze
Idade do Ferro
As ferramentas e armas pré-históricas, à
mais de 300000 anos, eram de pedra, osso
e pele.
O ouro (Au), prata (Ag) e o cobre (Cu), os
únicos materiais disponíveis na natureza na
sua forma pura, permitiram mais tarde,
devido à sua elevada ductilidade a obtenção
de formas complexas.
Os Materiais e a Civilização 2
O cobre não tem elevada dureza (~3Mohs;
~90kg/mm3)…
…bronze (cobre + estanho)
Os óxidos de ferro começam a ser reduzidos a
1100ºC (Tf= 1600ºC) obtendo-se uma massa sólida
de ferro e escória…
O ferro revolucionou a guerra e a agricultura

Alto-forno (Sec. XVI) → Ferro Fundido


processo de Bessemer (Sec. XIX) →Aço
Indústria Aeronáutica (~1950)
Ligas metálicas leves → alumínio, titânio,
magnésio
Turbina a gás/combustão aberta
Metais em temperaturas extremas
→ superligas (ferro+níquel+crómio)
→ Barreiras térmicas e ambientais
(cermet = cerâmica + metal)
Os Materiais e a Civilização
Polímeros… têm uma história diferente!
São usados desde sempre:
Madeira, compósito polimérico
Âmbar, resina petrificada
Queratina, polímero extraído dos chifres,
carapaças, conchas
Borracha, trazida para a Europa no Séc. XVI,
assume grande importância com a vulcanização
(adição de enxofre)
A revolução dos polímeros tem o seu início no
princípio do Séc. XX:
Baquelite
Fenólica
Borracha sintética (butileno)
1940 -1960: surgem quase todos os polímeros
usados hoje (PP, PE, PVC, PMMA, PU,…)
Os Materiais e a Civilização 4

Os desafios são constantes…

Silício, descoberto em 1823, teve poucas utilizações até 1947,


quando dopado com “impurezas” funciona como “válvula
retificadora” (transístor); abriu-se um novo campo para a
eletrónica, mecatrónica, informática, comunicações, imagem,
automação, controlo em tempo real, etc…

Supercondutores, mercúrio e chumbo quando arrefecidos a


~4K (1911), foi uma curiosidade até ~1980, quando óxidos de
bário, lantânio e cobre permitem supercondutores a 30K (ainda
é uma limitação devido à exigente transição de temperatura).

Nanomateriais, surgiu a preocupação por ~1990 em controlar


o comportamento dos materiais na escala nanométrica (10-9
m): Fabrico de um material “átomo por átomo”, “molécula por
molécula”. Atualmente desenvolvem-se modelos laboratoriais,
alguns em escala macroscópica (mm), mas ainda não é uma
tecnologia de uso corrente/industrial.
Ex: Moléculas esféricas de carbono (C60); Nanotubos de
carbono; Materiais autorreparáveis…
Os Materiais e a Civilização 5
O conflitos estimulam a ciência…
Ex: Invasões Napoleónicas (1796-1815)
Segunda guerra mundial (1939-1945)
Crise do Petróleo (1973 - …79)

Há 300 anos atrás a atividade humana


baseava-se maioritariamente em materiais
renováveis: pedra, madeira, pele, ossos, fibras
naturais.

Os poucos não renováveis (ferro, cobre,


estanho, zinco) eram usados em quantidades
muito pequenas e os recursos pareciam
infinitos.

E agora?
A dependência é perigosa! Os recursos são
finitos…
Os Materiais e a Civilização 6
O desenvolvimento
tecnológico levou à
optimização dos materiais e
permitiu alcançar níveis de
resistência especifica
impensáveis.

As ligas de alumínio e de
titânio foram responsáveis
pela mudança de
paradigma
(pesado = resistente) mas
foi o desenvolvimento dos
compósitos que permitiu
estabelecer novas metas.
Os Materiais e a Civilização 7
A atividade
humana tem
impacto no
ambiente, e
consequentemente
na nossa vida.
O impacto deriva
da obtenção
(extração, síntese),
manufatura
(recursos,
energia),
disponibilidade
(transporte,
marketing) e uso
dos produtos.
Evolução do consumo de materiais
A atividade humana tem impacto no ambiente,
e consequentemente na nossa vida. O impacto
deriva da obtenção (extração, síntese),
fabrico (manufatura de recursos, energia),
disponibilidade (transporte, marketing) e uso
dos produtos.
Em Portugal consome-se ~17,5 toneladas de
materiais por ano por habitante.

O consumo de
materiais está
relacionado com
a sensação de
“felicidade”.
Evolução do consumo de materiais

Nós não usamos apenas os materiais…


estamos totalmente dependentes deles!
Os Materiais e a Civilização

Produção anual de 23 materiais de que


a sociedade depende fortemente

Materiais mais
usados
Materiais críticos para UE
Materiais críticos – materiais que não existem em quantidade suficiente para a
indústria europeia.

REPORT ON CRITICAL RAW MATERIALS FOR THE EU, Setembro, 2020


Os materiais em engenharia
Nós não usamos apenas os materiais…

estamos totalmente dependentes deles!


Noções fundamentais de química
Tabela Periódica
A Tabela Periódica dos elementos permite ordenar de forma sistemática os elementos
químicos, pois as suas propriedades repetem-se de forma periódica devido à existência de
regularidades nas propriedades físicas e químicas
(a sua organização deve-se a Dmitri Mendeleiev, 1834-1907).
Tabela Periódica
Os elementos encontram-se ordenados pelo seu número atómico em sequências
horizontais que se chamam períodos, e ao mesmo tempo em sequências verticais
que se chamam grupos ou famílias. Alguns grupos mantêm nomes próprios:

Período

1º período é formado por dois elementos: Hidrogénio (H) e Hélio (He)


2º e 3º períodos contêm oito elementos cada
4º e 5º períodos contêm dezoito elementos cada
6º período contém trinta e dois elementos
7º período é constituído por 31 elementos (incompleto, porque ainda não se sintetizaram todos os
elementos).

Os elementos do mesmo período têm os eletrões de valência no mesmo nível de


energia.
Tabela Periódica
1º grupo é designado por grupo dos metais alcalinos (exceção do H).
2º grupo denomina-se grupo dos metais alcalino-terrosos.
do grupo 3 ao grupo 12 chamam-se metais de transição.
grupo 13 é designado por família do Boro.
grupo 14 é designado por família do Carbono.
grupo 15 chamam-se por família do Azoto.
grupo 16 denominam-se por família dos Calcogéneos.
grupo 17 é designado por família dos Halogéneos.
grupo 18 apresenta a família dos gases raros, gases inertes ou ainda gases nobres.

Grupo

As duas últimas linhas são designadas por família dos lantanídeos e dos actinídeos.
Tabela Periódica
Os elementos químicos podem classificar-se como:
- Metais
- Semi-Metais
- Não Metais
Elementos Químicos - Exemplos

Metais Alcalinos ( Ex: Lítio - Li, Sódio - Na, Potássio - K)


São muito reativos, não existem livres na natureza, reagem em contacto
com o oxigénio do ar e com a água. Ao reagir com a água, formando
hidróxidos e libertando-se hidrogénio. Devem ser guardados em parafina
líquida ou petróleo.

Halogéneos (Ex: Flúor - F, Cloro - Cl, iodo - I)


Aparecem na natureza sob a forma de moléculas diatómicas (F2, Cl2, Br2, I2).
Reagem facilmente com os metais alcalinos, formando halogenetos.
São mais solúveis no éter ou no óleo alimentar do que em água.

Gases nobres, raros ou inertes (Ex: Hélio – He; Argon – Ar; Xenon - Xe)
São gases à temperatura ambiente e encontram-se na natureza como
átomos isolados, em quantidades relativamente pequenas (são raros).
Os Grupos e os Átomos

Os átomos dos elementos do 1º grupo (metais alcalinos) têm um eletrão de


valência (isto é, há um eletrão no último nível de energia preenchido). Por isso, têm
tendência a formar iões mono positivos.

No 2º grupo possuem dois eletrões de valência, pelo que, originam iões


dipositivos.

Os átomos dos elementos do grupo 16, apresentam seis eletrões de valência, pelo
que dão origem a iões dinegativos (iões com duas cargas negativas).

Os átomos que pertencem ao grupo 17 (halogéneos) têm sete eletrões de


valência, pelo que originam iões mono negativos.

Os átomos que pertencem ao grupo 18, denominados gases nobres, são átomos
estáveis, possuem todos os seus níveis de energia completamente preenchidos
(oito eletrões de valência), e por isso não originam iões.
Estrutura atómica

átomo – eletrões (m= 9,109 x 10-31kg)


protões (m= 1,673 x 10-27kg)
neutrões (m= 1,675 x 10-27kg) Núcleo

Número Atómico = nº de protões no núcleo do átomo


= nº de eletrões
Exemplos: H: 1; Na: 11; Fe: 26; Al: 13; C: 6; Cl: 17

Massa molar: é a massa em gramas de uma mole, 6,022x1023


moléculas ou átomos de um elemento (nº de Avogadro) .
Exemplos: Mcu= 63,54g/mol; MAu= 196,97g/mol; MZn= 65,37g/mol

Nº de Avogadro: nº número de átomos em 12g de carbono-12, o que é


aproximadamente igual a 6,022 x 1023
Noções elementares

Raio Atómico
O raio atómico depende da dimensão da nuvem
eletrónica de um átomo, influência a força com que os
eletrões exteriores são atraídos pelo núcleo.
Exemplos: RCa= 0,180nm; RFe= 0,126nm; RC= 0,070nm

O raio atómico:
- aumenta ao longo de um grupo, porque como aumenta o número de níveis de
energia preenchidos, há um maior afastamento dos eletrões de valência ao
núcleo, o que provoca um aumento no tamanho do átomo;
- diminui ao longo de um período, porque, embora o número quântico principal
das orbitais de valência se mantenha constante, a carga nuclear aumenta e
prevalece em relação às forças de repulsão que se fazem sentir entre os
eletrões; assim, as forças de atracão núcleo - eletrões de valência são mais
intensas, há contração da nuvem eletrónica e, consequentemente, o tamanho
do átomo é menor..
Configuração electrónica dos elementos

Distribuição dos eletrões pelos níveis de energia (diagrama de Pauli)

eletrões
2p6
orbital
nível de energia

Principio de construção:
1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d104p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f14 5d10
Configuração electrónica dos elementos

• a maioria dos elementos têm configuração electrónica não estável.

Elemento Nº Atómico Configuração Electronica


1s 1
Hidrogénio 1
Hélio 2 1s 2 (estável)
Lítio 3 1s 2 2s 1
Berílio 4 1s 2 2s 2
Boro 5 1s 2 2s 2 2p 1
Carbono 6 1s 2 2s 2 2p 2
... ...
Néon 10 1s 2 2s 2 2p 6 (estável)
Sódio 11 1s 2 2s 2 2p 6 3s 1
Magnésio 12 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2
Alumínio 13 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 1
... ...
Árgon 18 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 6 (estável)
... ... ...
Kriptom 36 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 6 3d 10 4s 2 4p 6 (estável)
EXEMPLO: CONFIGURAÇÃO ELECTRÓNICA DO FERRO
O ferro tem um número atómico de 26 (isto é tem 26 protões ou então 26 eletrões
quando está em equilíbrio), assim a sua configuração eletrónica é:

Fe= 1s 2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6


26
Subnível mais energético

subnível de valência (camada exterior)

Se considerarmos um ião de ferro com 3 eletrões em falta para o equilíbrio, tem-se:


3+ 2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6
26 Fe = 1s

-1 eletrão do nível mais energético

Isto é, obtém-se: - 2 eletrões da camada de valência


3+ 2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d5
26 Fe = 1s
Electronegatividade
A eletronegatividade mede a tendência de um átomo para atrair os eletrões
quando está ligado quimicamente a outro átomo.

inerte gas
doam 1e

aceitam 1e
aceitam 2e
doam 2e
doam 3e

H He
Li Be O F Ne
Na Mg S Cl Ar
K Ca Sc Se Br Kr
Rb Sr Y Te I Xe
Cs Ba Po At Rn
Fr Ra

Elementos Electropositivos: Elementos Eletronegativos:


Prontos a darem electrões Prontos a receberem eletrões
obtém-se iões positivos. Obtém-se iões negativos.
LIGAÇÃO IÓNICA

LIGAÇÃO IÓNICA – metal + não-metal

doam aceitam
eletrões eletrões

• Requer transferência de eletrões


• Exige grande diferença de eletronegatividade

• Exemplo: NaCl
Na (metal) Cl (não-metal)
instável instável
electrão

Na+ (catião) + -
Cl- (anião)
estável estável
Coulombic
Atracção
LIGAÇÕES IÓNICAS - EXEMPLOS

• Predominante em Cerâmicas

NaCl
MgO
CaF 2
CsCl

Doam electrões Adquirem electrões


LIGAÇÕES COVALENTES

Eletronegatividade similar
partilha de eletrões
ligações determinadas pela valência – s e p
orbitas são dominantes

Exemplo: CH4

eletrões partilhados
C: tem 4 e- de
valência H do átomo de carbono
precisa de + 4 CH 4

H: tem 1 e- de valência H C H
precisa de + 1
Eletrões partilhados
H do átomo de hidrogénio
Eletronegatividade é compatível
LIGAÇÕES METÁLICAS

São as ligações predominantes nos metais.

Os eletrões são partilhados por diferentes núcleos de átomos vizinhos.

Permitem a deslocalização de eletrões entre sucessivos núcleos.

Nessa ligação todos os átomos envolvidos perdem eletrões das suas


camadas mais externas, que se deslocam mais ou menos livremente
entre eles, formando uma nuvem eletrónica.

São responsáveis pela boa condutividade elétrica dos metais.


LIGAÇÕES SECUNDÁRIAS

Surge da interacção entre dois dipolos


• Dipolos flutuantes
ex: H liquido 2
Electrões assimétricos
H2 H2

+ - + - H H H H
ligações ligações
secundárias secundárias

• Dipolos permanentes - moléculas

+ - ligações + -
secundárias

-caso geral: H Cl ligações H Cl


secundárias
-ex: liquido HCl

-ex: polímeros
CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS - síntese
Metais e ligas:
Aços, alumínio, magnésio, cobre, etc.
Elevada condutividade térmica e elétrica; Boa resistência mecânica
(tensão, rigidez e resistência ao choque); Boa capacidade de deformação
elástica e plástica (ductilidade); Opacos; Refletivos.

Polímeros/plásticos:
Polietileno, polipropileno, polimetilmetacrilato, butadieno-estireno, poliéster.
Tipicamente são materiais orgânicos (incluem os elásticos e os adesivos);
Boa resistência térmica e elétrica; São leves (boa razão entre a resistência
mecânica e a densidade); Sensíveis à temperatura; Muitos polímeros tem
bom comportamento à corrosão; Muitos polímeros são opticamente
translúcidos; Conseguem “imitar” outros materiais.

Cerâmicas:
Argila, caulino, feldspato, SiC, Si3N4, Al2O3, ZrO2, SiO2
Materiais inorgânicos cristalinos (compostos por elementos metálicos e
não-metálicos); Tipicamente são não condutores; suportam temperaturas
muito elevadas; resistentes à corrosão (quimicamente estáveis), são duras
e resistentes mas frágeis. Tem uma resistência excecional à compressão.
As propriedades de um material dependem:
• Das propriedades intrínsecas dos elementos químicos da composição (número
atómico, massa atómica, raio atómico, etc);

• Do tipo de ligação química (covalente, iónica, metálica, van der waals, dipolos,
etc);

• Da organização atómica dos materiais (cadeia atómica/molecular 2D, estrutura


cristalina 3D, etc).

Um material é um conjunto de elementos químicos que estão em equilíbrio no seu


sistema e com a vizinhança.

Por exemplo:
o elemento químico: Al (alumínio) faz parte da composição
da liga metálica (solução sólida) de alumínio, organizando
os átomos de alumínio em estruturas cristalinas 3D Cúbica
de Faces Centradas através de ligações metálicas.

o “alumínio, Al” também faz parte da composição da


cerâmica (corundo ou alumina, Al2O3) formando estruturas
cristalinas 3D Romboédrica com o oxigénio através de
ligações covalentes.
Exercícios de revisão:
1. Qual a semelhança entre elementos do mesmo grupo da tabela periódica?
Apresente exemplos.

2. Qual a semelhança entre elementos do mesmo período da tabela periódica?


Apresente exemplos.

3. Escreva a configuração eletrónica (usando o diagrama de Pauli) para os


seguintes elementos: potássio magnésio, cloro e árgon.

4. Qual o número atómico dos seguintes elementos:


cálcio, oxigénio, carbono?
4.1 Escreva a sua configuração eletrónica.
4.2 Qual o número de eletrões de valência?
4.3 Qual o tipo de ião que tendencialmente forma?

5. Calcule a massa molar das substâncias:


glicose (C6H12O6)
sulfato de sódio (Na2SO4)

Você também pode gostar