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FATURAMENTO E

AUDITORIA EM
SAÚDE

Bárbara Foiato Hein Machado


Faturamento em saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer o conceito e a finalidade do serviço de faturamento.


 Explicar as funções pertinentes ao serviço de faturamento.
 Descrever o ciclo financeiro de faturamento.

Introdução
Devido à complexidade das instituições de saúde, a gestão adequada dos
recursos financeiros torna-se um elemento-chave para garantir o desem-
penho eficiente dos serviços. Nesse sentido, o faturamento é uma área
fundamental nas organizações e tem a importante função de, por meio de
contas e registros, verificar principalmente a produção, os gastos e os custos
realizados numa instituição. A atuação dessa área auxilia a identificar garga-
los e desperdícios, permitindo ao gestor intervir e qualificar os processos.
Neste capítulo, você vai conhecer os principais conceitos e finalidades
do serviço de faturamento no âmbito da saúde. Além disso, vai conhecer
as funções que pertencem a essa área e verificar como o ciclo financeiro
ocorre nesse contexto.

1 Serviço de faturamento: definições


e principais características
Um dos principais objetivos das organizações é otimizar e reduzir custos. Para
isso, é necessário realizar o gerenciamento adequado dos processos. Nesse
contexto, o serviço de faturamento atua, na perspectiva econômica da insti-
tuição, como um processo que fornece informações sobre a rentabilidade dos
serviços, permitindo gerir custos e receitas. Assim, o faturamento hospitalar
permite registrar e organizar as informações relacionadas à produção dos
serviços, o que se reflete na emissão de contas da instituição.
2 Faturamento em saúde

Na área da saúde, quando se fala em produção dos serviços, está em jogo o


serviço assistencial prestado ao paciente. Portanto, o faturamento necessita das
informações geradas pelas áreas assistenciais; tais informações normalmente
estão contidas nos registros do prontuário do paciente. Cabe destacar que, se
não há registro, presume-se que o procedimento não foi realizado, o que pode
prejudicar a qualidade da assistência e o cálculo dos gastos (RODRIGUES
et al., 2018; WELTON et al., 2006). Ou seja, se não houver integração de infor-
mações entre as áreas assistenciais e o faturamento, a instituição perderá receita.
De acordo com Mauriz et al. (2012, p. 39), o faturamento funciona “[...] tradu-
zindo em moeda corrente todas as operações de prestação de serviços assistenciais
em saúde, materiais e medicamentos, produzindo a conta hospitalar”. Assim,
além de o faturamento permitir maior controle financeiro, de modo a gerenciar e
reduzir os custos, ele também monitora a produção da instituição, ou seja, os tipos
de atendimentos realizados, os medicamentos utilizados, entre diversos outros
elementos que fazem parte do ciclo do paciente na instituição de saúde. Por isso,
é necessário utilizar ferramentas rigorosas e eficazes, atentando às informações
produzidas desde o início até o final da prestação do serviço, incluindo todos os
insumos que foram utilizados na assistência em saúde (MAURIZ et al., 2012).
Na Figura 1, a seguir, veja um exemplo simplificado de componentes comumente
faturados nas contas hospitalares. Gráficos e percentuais como este podem ser
construídos a partir das informações e dados dos setores.

Figura 1. Gráfico de distribuição de componentes de contas hospitalares.


Fonte: Adaptada Morais e Burmester (2017).
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Assim, a informação clara, consistente e adequada é fundamental para


o serviço de faturamento — tanto no setor público quanto no setor privado.
Veja o que afirmam Morais e Burmester (2017, p. 87):

O foco da tecnologia da informação voltada à auditoria em saúde é a obtenção


de dados e a geração de relatórios analíticos de utilização do sistema; para
tanto, é preciso que os esquemas de captura de tais informações estejam alo-
cados, preferencialmente nos locais de atendimento, ou seja, nos prestadores
de serviços de saúde. Quando o sistema de dados permite o faturamento por
parte do prestador, o registro do atendimento é mais fiel e, portanto, mais
confiável. Entretanto, quando o prestador gera seu relatório em método di-
ferente daquele no qual os elementos são analisados, a informação pode não
ter a exatidão desejada.

Portanto, os dados e informações devem ser obtidos de forma segura. No


caso do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, o faturamento dos proce-
dimentos realizados nos hospitais é definido a partir dos valores e códigos da
tabela do SUS — Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses
e Materiais Especiais (OPME). Tais valores e códigos advêm do formulário
de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Esse formulário tem como
característica o pagamento de valores fixos pelos procedimentos. Ele é composto
por um conjunto de variáveis, tais como: tipo de paciente, tipo de instituição,
natureza do evento, tempo de internação, etc. (CINTRA et al., 2013). De acordo
com Mauriz et al. (2012, p. 40), compete ao faturamento do SUS prestar “[...]
informações relacionadas a atendimento e procedimentos realizados no âmbito
da internação hospitalar e ambulatorial, utilizando-se do Sistema de Informações
Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA)”.
Outra fonte de informação importante para o faturamento de uma institui-
ção é o prontuário do paciente. Ele é uma das formas de controle mais antigas
utilizadas em hospitais e clínicas médicas. Os prontuários variam conforme o
volume de produção e o tamanho do estabelecimento (MAURIZ et al., 2012;
WELTON et al., 2006). O prontuário é um instrumento que contém a identifi-
cação do paciente e informações sobre anamnese, tipo de tratamento utilizado,
laudos de exames, etc. Ele inclui informações obtidas desde a entrada até a saída
do paciente, sendo fundamental para o processamento das contas hospitalares.
No hospital, os diversos processos que compõem as atividades da instituição
são responsabilidade da gestão interna. A gestão interna busca acompanhar e
monitorar questões relacionadas ao fornecimento e à entrega de insumos, à
elaboração de manuais técnicos, à revisão de prontuários, ao monitoramento da
execução das atividades desenvolvidas, à elaboração de indicadores de avaliação,
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entre outras atividades que contam com a parceria de unidades farmacêuticas,


de enfermagem, de hotelaria, de vigilância e demais setores do hospital. De
acordo com Bonacim et al. (2011, documento on-line), a gestão interna “[...]
tem a finalidade de conferir a precisão e a confiabilidade dos dados contábeis,
promover a eficiência operacional e encorajar a aderência às políticas adminis-
trativas prescritas”. Além disso, o controle interno da instituição é importante
para a gestão eficiente dos recursos, inclusive dos recursos financeiros, visto
que abrange questões como planejamento orçamentário, custos, relatórios opera-
cionais, análises estatísticas e, principalmente, auditoria interna (ATTIE, 1998).
Uma das principais limitações no processo de auditoria interna, portanto,
trata-se dos gargalos em relação à utilização de sistemas de informação, os
quais têm a função de integrar e gerenciar os dados da instituição. É comum
observar, nos serviços de faturamento, por exemplo, a falta de tecnologia na
gestão da informação, sendo que muitos dos processos são feitos de forma
manual, ocasionando mais demora, desorganização e maior probabilidade
de informações erradas ou perdidas. Segundo Oliveira (2019), a qualificação
do processo de faturamento é importante para reduzir perdas financeiras,
otimizar prazos e melhorar os processos: “[...] excesso de burocracias, evolu-
ções médicas incompletas, como falta de assinatura e/ou dados, e delonga na
entrega do prontuário do setor de faturamento” são “[...] possíveis causas que
geram atraso ou glosas” (OLIVEIRA, 2019, p. 11).

Para conhecer melhor as características do processo de faturamento na perspectiva da


qualidade de um hospital, leia o estudo de caso “Faturamento hospitalar sob a lente
da qualidade total”, de Francisco Carlos Cobaito. Esse estudo está disponível on-line;
utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo.

2 Funções e particularidades do faturamento


Quando se estuda o faturamento, deve-se compreender alguns conceitos impor-
tantes, tais como custo, despesa, investimento e perda (MORAIS; BURMESTER,
2017). O custo é o gasto associado diretamente à produção de bens ou serviços,
por exemplo, o consumo de materiais no centro cirúrgico. Já as despesas são
valores que estão indiretamente associados ao bem ou serviço, como é o caso
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de materiais utilizados nos processos administrativos de um hospital. Por sua


vez, o investimento trata-se de um valor pago que gera ou incrementa a pro-
dução, aumentando o patrimônio, como a aquisição de sistemas de inteligência
artificial que visam a otimizar os processos. Por fim, a perda ocorre quando
o bem ou serviço é consumido de forma inadequada, sem gerar valor, como
quando determinado medicamento é comprado em excesso, não é utilizado
em totalidade e acaba tendo sua validade ultrapassada, gerando desperdícios.
Nesse contexto, uma das maiores metas do setor de faturamento é combater o
desperdício na instituição de saúde. O desperdício ocorre muitas vezes por meio
da utilização inadequada de materiais, como no caso de fio cirúrgico aberto e não
utilizado, e da inadequação nas compras, como no caso de estoques excessivos
que possuem validade curta. Assim, cabe ao gestor analisar, por meio das contas
hospitalares, o que é realmente necessário (MORAIS; BURMESTER, 2017).
Algumas perguntas pertinentes a se fazer são: o serviço de faturamento
tem produzido informações corretas e confiáveis? Quais são os desperdícios
que ocorrem na instituição? E quais os padrões de procedimentos? (MORAIS;
BURMESTER, 2017). Para responder a essas perguntas, é necessário entender
que o faturamento das instituições depende muito da estrutura institucional.
Em síntese, é importante avaliar os seguintes itens nas contas hospitalares
(MORAIS; BURMESTER, 2017):

 serviços básicos;
 serviços diferenciados;
 especialidades médicas disponíveis;
 serviços complementares (diagnóstico por imagem, patologia clínica, etc.);
 recursos físicos;
 recursos humanos;
 organização e funcionamento.

Assim, de forma geral, tais itens compõem as diárias hospitalares, conside-


rando honorários médicos, materiais, medicamentos, exames, etc. Com base nisso,
verifica-se que o faturamento é um serviço que envolve diversas atividades de uma
instituição, sendo necessária a articulação entre as informações dos diferentes setores.
Destaca-se, ainda, que a conta hospitalar se inicia a partir do momento em
que o paciente entra na recepção do hospital, considerando cada atendimento,
cada tratamento e cada prescrição prestada a ele, informações especialmente
necessárias ao faturamento e cujo acompanhamento é papel do gestor. Nesse
contexto, Mauriz et al. (2012, p. 43) apresentam as seguintes sugestões para
qualificar o processo de faturamento:
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[...] verificar a justificativa e prescrição dos serviços, assinaturas e carimbos da


equipe multiprofissional; prescrição médica; verificar e manter a integridade
do prontuário; evitar glosas e suas causas; implantar planilhas: de controle
de fluxo financeiro; evitar evasão de receitas; implementar sistemas de in-
formação gerencial capazes, após análise de dados e informações; agregar
eficiência no processo de faturamento.

Assim, a análise crítica e a avaliação das informações utilizadas em prontu-


ários, relatórios e outros documentos são fundamentais para que o faturamento
dos serviços seja adequado e eficaz (MAURIZ et al., 2012). Além disso, o
acompanhamento de alguns indicadores, tais como o indicador de determinação
do Tempo Médio de Permanência (TMP) e o indicador de Taxa de Ocupação
(TO), também auxilia na qualificação do serviço de faturamento (MORAIS;
BURMESTER, 2017). O TMP, por exemplo, permite visualizar a média de
tempo de ocupação de um leito, o que varia conforme o tipo de tratamento/
procedimento, a resposta do paciente (recuperação) e o nível de resolubilidade.
Já a TO diz respeito ao cálculo da utilização (total ou parcial) dos recursos
disponíveis de um setor ou instituição.
Ainda em relação aos indicadores que auxiliam na gestão do faturamento,
também é importante avaliar o Valor Médio da Conta (VMC), subdividido
em SUS, convênios (operadoras de planos de saúde) e particulares. Esse indi-
cador tem diversas finalidades, podendo auxiliar na indicação de melhorias
de processos. O Tempo Médio de Faturamento (TMF) e o Tempo Médio de
Recebimento (TMR) também são indicadores que apontam gargalos nos
processos e, com isso, podem conduzir a melhorias.
O TMF mede, em dias, o tempo transcorrido entre a alta do paciente e o
fechamento da conta. Um TMF muito elevado pode indicar problemas nos
registros dos prontuários, fazendo com que essa conta fique “pendente”,
aguardando alguma informação faltante. Já o TMR mede, também em dias, o
tempo entre o encerramento da conta (e respectivo envio à fonte pagadora) e o
efetivo recebimento dos valores faturados. Um TMR baixo é o que se almeja
e pode indicar que a fonte pagadora cumpre os prazos acordados e é uma boa
parceira para a instituição.
A relevância e a utilização dos indicadores podem variar conforme a
estrutura interna e a quantidade de funcionários do setor de faturamento.
Esses fatores dependem do tipo de clientela atendida, ou seja, se a instituição
atende pacientes do SUS, de operadoras de planos de saúde e/ou particulares.
Além disso, é necessário verificar o volume de atendimentos em termos de
internações, procedimentos ambulatoriais e serviços de diagnóstico. Em fun-
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ção do volume e do tipo de atendimento, muitos hospitais estruturam o setor


com colaboradores especializados em determinadas funções. Por exemplo,
um hospital que atende 70% de pacientes do SUS para internações terá uma
equipe especializada em faturar as contas de internação do SUS.
Ante as particularidades dos sistemas de saúde e as limitações co-
mumente encontradas nos serviços de faturamento, é necessário investir
na qualificação desses serviços. Esse investimento deve estar focado na
incorporação de tecnologia para otimizar o fluxo de informações (por meio
de prontuários eletrônicos, por exemplo) e na capacitação das equipes e
gestores que atuam no setor, tendo em vista a importância do faturamento
para a instituição de saúde.

Para conhecer melhor as implicações do treinamento das equipes responsáveis pelo


faturamento assistencial e comparar resultados, leia o artigo “Treinamento com foco
no faturamento assistencial: uma inovação no serviço de educação continuada”, de
Raquel Silva Bicalho Zunta et al.. Esse artigo está disponível on-line; utilize o seu site
de buscas preferido para encontrá-lo.

3 O ciclo financeiro do faturamento


Como você viu anteriormente, o processo de faturamento varia conforme o
tipo de instituição e de serviço prestado. No SUS, todos os serviços realizados
(tais como ambulatório, internações, cirurgias e emergência) são contabilizados
de acordo com a tabela do SUS, que é autorizada por secretarias municipais.
Assim, os procedimentos e serviços são registrados no prontuário do
paciente, junto aos códigos da tabela do SUS. Esse procedimento é realizado
por meio do sistema de gestão da instituição. É importante destacar que o
faturamento do SUS é realizado por “pacotes”, as AIHs, o que simplifica o
processo de faturamento, visto que não é necessário faturar cada item, pois
consultas, medicamentos, alguns exames e procedimentos já estão conta-
bilizados nesse pacote (OLIVEIRA, 2019). A seguir, veja um exemplo de
processo de faturamento que ocorre no SUS, num hospital de Minas Gerais
(OLIVEIRA, 2019):
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1. envio dos prontuários para o setor pelas secretarias;


2. baixa;
3. anexação de documentos;
4. filtro;
5. codificação;
6. digitação de conta;
7. auditoria/autorização;
8. arquivo.

De acordo com Oliveira (2019), de forma geral, os funcionários da institui-


ção responsáveis por encaminhamentos ao setor de faturamento, muitas vezes
secretárias, enviam o prontuário do paciente dentro de um prazo de sete dias
após a alta hospitalar. Quando o paciente fica internado por mais tempo, os
prontuários são enviados até 30 dias depois da internação. Nesse contexto,
problemas tais como perda, falta de assinaturas e falha na impressão podem
atrapalhar a eficiência do prontuário.
A partir disso, ocorre a “baixa” do prontuário no sistema e a anexação dos
documentos, ou seja, as informações do prontuário físico são transferidas
para o sistema de gestão da instituição. Nessa etapa, informações escritas de
forma ilegível e demora na entrega dos prontuários são problemas comuns nos
serviços de faturamento. Na etapa de filtro, ocorre a leitura do prontuário e a
identificação dos procedimentos a serem cobrados. Em seguida, é realizada
a codificação, geralmente por médicos auditores, os quais fazem a leitura do
prontuário e utilizam os códigos dos procedimentos e da Classificação Inter-
nacional de Doenças (CID) para a cobrança nas contas hospitalares. Assim
como outras etapas, esta última também é sujeita a erros, como a seleção de
um código que não condiz com o procedimento.
Após a codificação, ocorre a etapa de digitação, em que são transferidos
os códigos e procedimentos ao sistema do SUS, sendo comum haver erros
de digitação. Depois da digitação, as informações são revisadas por médicos
auditores, os quais assinam o documento e o encaminham para a Secretaria
Municipal de Saúde. Quando o processo é finalmente autorizado, o prontuá-
rio é direcionado ao setor de arquivo; quando ele não é autorizado (situação
chamada de “glosa”), o prontuário volta para as etapas anteriores.
O faturamento realizado no setor privado possui algumas peculiaridades.
Zunta e Lima (2017) estudaram o ciclo de faturamento de um hospital privado
em São Paulo. Os autores discutem que “[...] as instituições hospitalares, públicas
e privadas, que prestam serviços às operadoras de planos de saúde (OPS) têm
investido na auditoria de contas visando à adequada remuneração do atendimento
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prestado” (ZUNTA; LIMA, 2017, p. 2). De acordo com o mapeamento realizado


pelos autores, o processo se assemelha ao faturamento descrito anteriormente,
porém apresenta particularidades em relação às OPS, como você pode ver nas
etapas do ciclo de faturamento elencadas a seguir (ZUNTA; LIMA, 2017):

1. a unidade de prestação de serviços de saúde ao paciente realiza lança-


mento de informações sobre a alta no sistema de gestão da instituição;
2. o prontuário é organizado e encaminhado ao Serviço de Arquivo Médico
e Estatística (Same);
3. após análise do Same, o prontuário é encaminhado ao serviço de
pré-faturamento;
4. no setor de pré-faturamento, o prontuário do paciente é confrontado com
o prontuário financeiro (documento em que são descritas as guias de
solicitação de internação, os documentos administrativos da instituição
e o contrato do paciente);
5. se as informações do prontuário do paciente e do prontuário financeiro
estiverem de acordo, ambos são encaminhados ao setor de auditoria
interna, ou são subsidiadas as emissões de Notas Fiscais (NF) que serão
encaminhadas às OPS;
6. ambos os prontuários são encaminhados ao setor de coordenação de
guias, no qual são verificadas possíveis pendências no prontuário
financeiro;
7. após a avaliação de ambos os prontuários, eles são encaminhados
novamente para a auditoria interna, em que o profissional, geralmente
enfermeiro, compara as informações dos prontuários com a conta
hospitalar;
8. o prontuário do paciente, o prontuário financeiro e a conta hospitalar
são encaminhados para a auditoria da OPS, também chamada de “au-
ditoria externa”;
9. a partir da autorização da auditoria externa, os prontuários retornam
para a auditoria interna, a qual realiza o faturamento, no qual as notas
fiscais são emitidas e encaminhadas às OPS;
10. as OPS autorizam os documentos, processo em que ocorre a cobrança
e o faturamento dos serviços.

O ciclo de faturamento, portanto, está relacionado ao ciclo de recebimento


e de pagamento. O tempo de duração de cada ciclo varia conforme a institui-
ção, as atividades e diversos outros aspectos que podem atrasar ou adiantar
os processos relacionados ao recebimento e ao pagamento. Um exemplo é
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quando o hospital investe mais tempo no ciclo de recebimento do que no


ciclo de pagamento, o que ocorre se o paciente fica muito tempo internado,
ocasionando mais gastos e atrasos na remuneração dos serviços. A seguir,
observe o fluxo de faturamento e note como ambos os ciclos se desenvolvem
e interagem. Primeiro, veja o ciclo de recebimento:

1. internação/atendimento do paciente;
2. consumo de materiais, medicamentos e OPME, prestação de serviço
dos profissionais, consumo de alimentos, utilização de equipamentos,
utilização de hotelaria;
3. alta/saída do paciente;
4. faturamento da conta;
5. auditoria interna da conta;
6. envio da fatura para o financiador (SUS e OPS);
7. auditoria externa;
8. glosa;
9. contestação da glosa;
10. pagamento.

Agora veja como se dá o ciclo de pagamentos:

1. compra de materiais, medicamentos e OPME;


2. contratação de profissionais;
3. compra de insumos para alimentação;
4. compra e manutenção de equipamentos;
5. manutenção da estrutura de hotelaria;
6. pagamento de todos os itens (pagamento de fornecedores, pagamento
de terceirizados, pagamento de contratos).

Como você pode notar, o ciclo de recebimento se inicia com a internação


e o atendimento do paciente, que ocorrem na etapa de primeiro contato dele
com o serviço de saúde. Nesse momento, são registradas as condições, ne-
cessidades e demais informações relacionadas ao perfil do paciente e à sua
situação. Em seguida, conforme as abordagens e tratamentos utilizados, há
o consumo de materiais e medicamentos, além da prestação de serviços das
equipes envolvidas no atendimento e no tratamento do paciente. Também
deve-se considerar a estrutura física que o paciente utiliza, como leito, equi-
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pamentos, utensílios do quarto, etc. Nessa etapa, também se inicia o ciclo de


pagamento, por meio da compra de materiais, medicamentos, contratação de
profissionais e pagamentos de diversos itens utilizados pelo paciente. Então,
quando o tratamento e a internação são bem-sucedidos, o paciente recebe alta,
concluindo, portanto, a sua conta hospitalar.
Por meio da conta hospitalar, ocorre o faturamento, processo realizado
a partir da revisão e da contabilização de cada item e serviço utilizado pelo
paciente durante sua estadia no hospital. A conta finalizada é encaminhada,
então, ao serviço de auditoria interna, realizado pela própria equipe do
hospital. A ideia é que as informações contidas na conta sejam analisadas
e avaliadas; busca-se principalmente verificar a compatibilidade entre o
que foi gasto e o que está sendo cobrado. Quando tudo estiver de acordo, a
fatura da conta hospitalar é enviada ao financiador, ou seja, a quem paga,
que pode ser tanto o SUS (no caso dos serviços públicos) quanto as OPS (no
caso dos serviços privados).
Assim que os financiadores recebem as contas, é realizada uma nova
auditoria, dessa vez externa. Nessa etapa, um dos principais objetivos é a
identificação de glosas, ou seja, de erros ou inconsistências nas informações
recebidas, os quais resultam em rejeição de pagamento — devido a algum
procedimento inadequado, algum valor equivocado, etc. Conforme a identifi-
cação de glosas, é estipulado um prazo para contestação, ou seja, os hospitais
podem se opor a determinada glosa identificada pelo financiador, mediante
uma justificativa dentro de um período preestabelecido. Após o processo de
contestação, o pagamento pode ser finalmente realizado.
Observa-se, portanto, que o faturamento nas instituições de saúde é um
processo complexo, que envolve informações detalhadas e exige organização,
clareza e rapidez. É necessário que o gestor tenha conhecimento do fluxo
de faturamento da instituição, acompanhando os indicadores adequados ao
cumprimento dos objetivos de cada área envolvida e buscando sempre otimizar
o processo. Tal otimização pode ocorrer tanto por meio da incorporação de
tecnologia (a qual pode auxiliar na organização e na gestão das informações
dos prontuários, por exemplo) quanto por meio do treinamento das equipes
envolvidas (as quais precisam estar aptas a desempenhar suas funções) e da
adequação da estrutura (o que permite obter mais organização e condições
favoráveis para as equipes atuarem), entre outras estratégias que variam con-
forme as necessidades da instituição.
12 Faturamento em saúde

Para compreender melhor o processo de faturamento do SUS em setores de urgência/


emergência, leia o estudo de caso “Monitoramento do Faturamento nos Setores
de Urgência/Emergência no Sistema Único de Saúde: Proposta de um Roteiro para
Auxiliar o Gestor”, de Chennyfer Dobbins Abi Rached e Denise Mathias. Esse estudo
está disponível on-line; utilize o seu site de buscas preferido para encontrá-lo.

ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998.


BONACIM, C. A. G. et al. A influência da estrutura organizacional nos controles internos
de uma fundação para pesquisa, prevenção e assistência do câncer do interior paulista.
Ciênc. Saúde Coletiva, v. 16, n. 5, p. 2635-2642, 2011. Disponível em: https://www.scielo.
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CINTRA, R. F. et al. A informação do setor de faturamento como suporte à tomada de
decisão: um estudo de caso no Hospital Universitário da UFGD. Ciênc. Saúde Coletiva,
v. 18, n. 10, p. 3043-3053, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v18n10/
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MAURIZ, C. et al. Faturamento hospitalar: um passo a mais. Inova Ação, v. 1, n. 1, p.
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MORAIS, M. V.; BURMESTER, H. Auditoria em saúde. São Paulo: Saraiva, 2017.
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Faturamento em saúde 13

Leituras recomendadas
COBAITO, F. C. Faturamento hospitalar sob a lente da qualidade total. Rev. Gestão em
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