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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Ação Civil Coletiva


0000996-07.2022.5.10.0007

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 18/11/2022


Valor da causa: R$ 15.000,00

Partes:
AUTOR: SINTTASB/DF - SINDICATO DOS TRABALHADORES TECNICOS E AUXILIARES
EM SAUDE BUCAL DO DISTRITO FEDERAL
ADVOGADO: Rafael Martins Rodrigues de Queiroz
ADVOGADO: RAFAELLA NERY DOS SANTOS
ADVOGADO: DIEGO MARQUES ARAUJO
RÉU: SINDICATO DOS EMP EM ESTAB DE SERV DE SAUDE DE BSB DF
ADVOGADO: GUILHERME GOMES DA SILVA
ADVOGADO: LEONARDO FARIAS DAS CHAGAS
ADVOGADO: LEIDIANE DENISE PIEROTE SILVA
RÉU: INSTITUTO DE GESTAO ESTRATEGICA DE SAUDE DO DISTRITO FEDERAL -
IGESDF
ADVOGADO: LEANDRO THOMAZ DA SILVA SOUTO MAIOR
ADVOGADO: RAQUEL CANDIDA BRAGA
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10A REGIAO
7ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA - DF
ACC 0000996-07.2022.5.10.0007
AUTOR: SINTTASB/DF - SINDICATO DOS TRABALHADORES TECNICOS E
AUXILIARES EM SAUDE BUCAL DO DISTRITO FEDERAL
RÉU: SINDICATO DOS EMP EM ESTAB DE SERV DE SAUDE DE BSB DF E
OUTROS (2)

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

O SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICOS E AUXILIARES EM


SAÚDE BUCAL DO DISTRITO FEDERAL – SINTTASB/DF propôs a presente Ação Civil
Coletiva em desfavor do SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE
SERVIÇOS DE SAÚDE DE BRASÍLIA – SINDSAÚDE e do INSTITUTO DE GESTÃO
ESTRATÉGICA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL - IGES/DF, alegando, em síntese, que:
foi criado em 04/08/2018 para representar a categoria dos Técnicos em Saúde Bucal e
Auxiliares em Saúde Bucal, quando houve assembleia extraordinária de fundação,
aprovação de estatuto social, eleição e posse da sua diretoria; em 26/12/2018,
requereu o registro sindical perante o Ministério do Trabalho, cujo processo foi
autuado sob o nº 46209.011661/2018-92, sendo certo que o pleito foi concedido
mediante decisão publicada no DOU de 26/10/2020; na época do deferimento,
informou ao primeiro réu, que passou lhe a encaminhar as demandas dos Técnicos em
Saúde Bucal e Auxiliares em Saúde Bucal; na data de 04/08/2022, encaminhou ofício ao
segundo demandado, informando a sua representatividade, inclusive anexando carta
sindical, e se colocando à disposição para as tratativas da categoria, mas não houve
resposta; os requeridos iniciaram tratativas de acordo coletivo, não respeitando os
trabalhadores técnicos em saúde bucal e tampouco a representatividade do acionante;
o primeiro réu é sindicato genérico de trabalhadores, não possuindo qualquer
conhecimento específico quanto à categoria dos Técnicos em Saúde Bucal e Auxiliares
em Saúde Bucal, assim como vem negociando direitos de seus representados,
prejudicando a vida e a saúde dos trabalhadores, os quais estão sendo mantidos em
clínicas de Radiologia Odontológica, operando aparelhos de RX, tomografias e outros
por imagens e com radiação ionizante durante 44 horas semanais; há evidente vício de
vontade e desrespeito à unicidade sindical e ao princípio da especialização; eventual

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acordo coletivo com vigência em 2022/2023 firmado pelo primeiro réu e envolvendo a
categoria específica é nulo. Formulou os pedidos elencados na peça de ingresso.
Atribuiu à causa o valor de R$ 15.000,00. Instruiu a exordial com documentos.

Por ocasião da audiência inaugural, após ter sido rejeitada a


primeira proposta conciliatória, os acionados apresentaram defesas escritas,
acompanhadas de documentos, refutando as pretensões do autor e requerendo a
improcedência dos pedidos veiculados na presente ação.

Em réplica, o demandante rechaçou os argumentos das defesas


apresentadas pelos vindicados e reiterou os pedidos contidos na peça de ingresso.

Dispensada a prova oral.

Sem mais provas, encerrou-se a instrução processual.

Razões finais e proposta final de conciliação prejudicadas.

É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

1. CARÊNCIA DE AÇÃO

Diz-se que há carência de ação, quando ausente qualquer de


suas condições, assim elencadas: legitimidade das partes e interesse processual, nos
termos do artigo 485, VI do NCPC.

Assevere-se ainda que a análise do atendimento das condições


da ação há de ser feito com abstração da questão de fundo, consoante ensinamento
de Barbosa Moreira: “O órgão jurisdicional, ao apreciar a legitimidade das partes,
considera tal relação jurídica in statu assertionis, ou seja, à vista do que se afirmou.
Tem ele de raciocinar como quem admita, por hipótese e em caráter provisório, a
veracidade da narrativa, deixando para a ocasião própria (o juízo de mérito) a
respectiva apuração ante os elementos de convicção ministrados pela atividade
instrutória.”

Quanto ao interesse processual (ou de agir), colhem-se ainda as


lições de Dinamarco, em sua obra Instituições de Direito Processual Civil, Ed. Malheiros,
volume II, 5ª edição, como se segue:

“Há o interesse de agir quando o


provimento jurisdicional postulado for capaz de efetivamente ser

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útil ao demandante, operando uma melhora em sua situação na


vida comum - ou seja, quando for capaz de trazer-lhe uma
verdadeira tutela, a tutela jurisdicional. O interesse de agir
constitui o núcleo fundamental do direito de ação, por isso que só
se legitima o acesso ao processo e só é lícito exigir do Estado o
provimento pedido, na medida em que ele tenha essa utilidade e
essa aptidão.

(…)

Existem dois fatores sistemáticos muito


úteis para a aferição do interesse de agir, como indicadores da
presença deles: a necessidade da realização do processo e a
adequação do provimento jurisdicional postulado.

Só há o interesse-necessidade quando, sem


o processo e sem o exercício da jurisdição, o sujeito seria incapaz
de obter o bem desejado. (…)

O interesse-adequação liga-se à existência


de múltiplas espécies de provimentos instituídos pela legislação do
país, cada um deles integrando uma técnica e sendo destinado à
solução de certas situações da vida indicadas pelo legislador. Em
princípio, não é franqueada ao demandante a escolha do
provimento e portanto da espécie de tutela a receber. Ainda
quando a interferência do Estado-juiz seja necessária sob pena de
impossibilidade de obter o bem devido (interesse-necessidade),
faltar-lhe-á o interesse de agir quando pedir medida jurisdicional
que não seja adequada segundo a lei.” (págs. 303/306) – destacado.

Diante do exposto, não há falar em não-cabimento da ação.

Rejeito.

2. ATUAÇÃO DO SINDICATO-AUTOR NA REPRESENTAÇÃO DOS


TÉCNICOS E AUXILIARES EM SAÚDE BUCAL DO DISTRITO FEDERAL

Consoante alega o sindicato-autor na petição inicial, obteve


registro sindical perante o Ministério do Trabalho e atualmente representa a categoria
dos Técnicos em Saúde Bucal e Auxiliares em Saúde Bucal, no Distrito Federal.
Assevera que os réus não observam a sua representatividade e iniciaram tratativas
acerca de acordo coletivo, deixando de respeitar os trabalhadores técnicos em saúde

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bucal. Sustenta que o primeiro réu é sindicato genérico dos trabalhadores em saúde,
não possuindo qualquer conhecimento específico quanto à categoria dos Técnicos em
Saúde Bucal e Auxiliares em Saúde Bucal, assim como vem negociando direitos de seus
representados, prejudicando a vida e a saúde dos trabalhadores, os quais estão sendo
mantidos em clínicas de radiologia odontológica, operando aparelhos de RX,
tomografias e outros por imagens e com radiação ionizante durante 44 horas
semanais. Menciona vício de vontade e desrespeito à unicidade sindical e ao princípio
da especialização no tocante à prática do primeiro réu e argumenta que eventual
acordo coletivo com vigência em 2022/2023 firmado pelo primeiro demandado e
envolvendo a categoria específica é nulo.

Diante de tais fatos, requer que o primeiro réu se abstenha de


se apresentar para a sociedade como representante dos técnicos em saúde bucal e
auxiliares em saúde bucal, bem como os requeridos se abstenham de realizar
negociações coletivas e firmarem acordo coletivo em nome dos técnicos em saúde
bucal e auxiliares em saúde bucal, sob pena de aplicação de multa de R$ 15.000,00
(quinze mil reais) em seu favor por ato invasivo.

O primeiro réu aduz que o mero registro da carta sindical do


sindicato-autor não impõe modificação da base de representados do SINDSAÚDE, cuja
carta sindical garante, desde 1979, a representação indiscriminada dos empregados
em estabelecimentos de serviços de saúde, ou seja, todos os profissionais vinculados a
estes tipos de estabelecimentos. Defende a tese de que nada impede a sindicalização
dos profissionais na entidade que melhor lhes representa, que goza de prestígio para a
celebração de acordos e convenções coletivas e mais, já representa milhares de
empregados e servidores da saúde em todo o Distrito Federal. Aduz que a minúscula
representatividade do sindicato-autor impede que se credencie para negociar
convenção coletiva – conta com pouco menos de 6 associados -, quando, por outro
lado, a ampla representatividade do SINDSAÚDE garante a sua intervenção, melhores
condições e o necessário prestígio para alçar constantes melhorias para a categoria –
signatário de dezenas de convenções e acordos coletivos todos os anos.

Por sua vez, o segundo réu afirma reconhecer a


representatividade do sindicato-autor e inclusive lhe oficiou para as devidas tratativas.
Afirma estar disponível para reuniões com a entidade sindical e observa a
especificidade das categorias de trabalhadores que integram seus quadros.

Analiso.

Incontroverso nos autos que foi concedido ao autor o registro


sindical pelo Ministério do Trabalho e este detém a representação dos Técnicos em
Saúde Bucal e Auxiliares em Saúde Bucal, no Distrito Federal.

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A tese levantada pelo primeiro réu em sua defesa não se


sustenta, haja vista que a legitimidade para tratar dos interesses dos trabalhadores em
saúde bucal e firmar acordos ou convenções coletivas é do sindicato-autor,
devidamente constituído e atuante neste intento.

Não se olvida que, no ordenamento jurídico pátrio, é prevista a


unicidade sindical, princípio por intermédio do qual apenas um sindicato deve
representar a respectiva categoria profissional ou econômica dentro de sua base
territorial, consoante dispõe o artigo 8º, II, da Constituição Federal.

Porém, não há óbice para o desmembramento ou dissociação


de categoria profissional, inclusive no que concerne a categorias de servidores
públicos, ante os termos dos artigos 570 e 571 da CLT.

Nesse sentido é a jurisprudência do TST, in verbis:

“REPRESENTATIVIDADE SINDICAL –
SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS – CONSTITUIÇÃO DE
SINDICATO ESPECÍFICO MEDIANTE DESMEMBRAMENTO DE
CATEGORIA PROFISSIONAL – PRINCÍPIO DA UNICIDADE SINDICAL.
Partindo-se da premissa de que o princípio da unicidade sindical é
aplicável ao setor público, não há como se negar a existência da
divisão desse setor em categorias profissionais. Dessa forma, é
válida a constituição de sindicato por desmembramento de
categoria no setor público, caso em que um sindicato preexistente,
que representa mais de uma atividade ou profissão, uma delas se
destaque com o objetivo de constituir um sindicato específico para
aquela atividade ou profissão diferenciada. Recurso de revista
provido.” (TST – RR 1855-2006-009-12-00-3; 7ª Turma; Relator:
Maria Doralice Novaes; Julgamento: 07/10/2009; Publicação: 09/10
/2009).

Por todo o exposto, julgo procedente o pedido para:

(i) condenar o primeiro réu a se abster de se apresentar para a


sociedade como representante dos técnicos em saúde bucal e auxiliares em saúde
bucal no Distrito Federal, sob pena de aplicação de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) em favor do autor;

(ii) condenar os requeridos a se absterem de realizar


negociações coletivas e firmarem acordo coletivo em nome dos técnicos em saúde
bucal e auxiliares em saúde bucal, sem a participação do sindicato-autor, sob pena de
aplicação de multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) em seu favor.

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3. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA AO SINDICATO-AUTOR

O sindicato-autor requereu a concessão das benesses da


gratuidade de justiça.

Os artigos 14 e 16 da Lei nº 5.584/70, bem como o artigo 790 da


Consolidação Trabalhista referem-se apenas aos empregados, às pessoas jurídicas de
direito público interno e ao Ministério Público do Trabalho.

O artigo 2º da Lei nº 1.060/50 dispõe que os benefícios serão


concedidos aos que estejam em situação econômica que os impeçam de pagar as
custas sem prejuízo do sustento próprio ou da família. Diante de tal leitura, vê-se que
as pessoas jurídicas não se incluem no preceito legal.

O STF tem entendido que as custas possuem natureza jurídica


de taxa, vale dizer tributo devido em razão da efetiva prestação dos serviços
específicos e divisíveis pelo Judiciário. Assim, as custas têm objetivo de arrecadação de
recursos pelo Estado, sendo devida em razão do disposto nos artigos 3º, I e 145, II,
ambos da Constituição da República.

Instituídas por lei (artigos 789 e 789-A da CLT), na forma do


artigo 150, I da Carta Magna, as custas devem ser obrigatoriamente cobradas sempre
que se verifique a ocorrência de seu fato gerador, ressalvadas as hipóteses de
imunidade ou isenção.

Destarte, à falta de legislação que conceda isenção aos


sindicatos e associações, fenece o direito do sindicato autor aos benefícios da justiça
gratuita, nos termos do disposto nos artigos 2º, 3º, I, 145, II e 150, I, II e § 6º, todos da
Constituição Federal.

Indefiro a concessão da justiça gratuita ao sindicato-autor.

4. BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA AO SEGUNDO RÉU

Quanto ao pleito formulado pelo segundo réu, tem-se que


houve a juntada de sentença que lhe deferiu a concessão de Certificado de Entidade
Beneficente de Assistente Social (id. ef404de), expedientes e balancetes contábeis
atestando saldo negativo.

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Sendo efetivamente demonstrada a condição de entidade


beneficente e a insuficiência de recursos, defiro a concessão da justiça gratuita ao 2º
demandado.

5. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Fixo honorários advocatícios pelos réus, no importe de 5% sobre


o valor atualizado da causa, ante a pequena complexidade da demanda e
considerando a pretensão sem o objetivo de proveito econômico, com fulcro no art.
791-A da CLT.

III – DISPOSITIVO

Ex positis, rejeito a preliminar arguida e julgo PROCEDENTES os


pedidos formulados pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICOS E AUXILIARES
EM SAÚDE BUCAL DO DISTRITO FEDERAL – SINTTASB/DF, condenando o SINDICATO
DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE BRASÍLIA –
SINDSAÚDE e o INSTITUTO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
- IGES/DF a cumprirem obrigações de não-fazer insculpidas no curso da
fundamentação, parte integrante deste dispositivo, inclusive sob pena de pagamento
de multa.

Caso seja necessária, a liquidação se fará por cálculos.

Honorários advocatícios pelos acionados, nos termos da


fundamentação.

Custas devidas pelo primeiro acionado no valor de R$ 300,00,


calculadas sobre R$ 15.000,00, valor provisoriamente arbitrado à condenação.

O segundo réu é dispensado do recolhimento de custas e


depósito recursal (artigo 899, § 10, da CLT).

Publique-se.

BRASILIA/DF, 18 de março de 2023.

Assinado eletronicamente por: ERICA DE OLIVEIRA ANGOTI - Juntado em: 18/03/2023 15:01:34 - 6b35f50
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ERICA DE OLIVEIRA ANGOTI


Juíza do Trabalho Substituta

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https://pje.trt10.jus.br/pjekz/validacao/23030315302738700000034210484?instancia=1
Número do processo: 0000996-07.2022.5.10.0007
Número do documento: 23030315302738700000034210484

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