Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESENHA MÓDULO I
Curitiba
2022
No início da década de 50, Jacques Lacan lança o seu seminário “Écrist” com um texto,
com tema inusitado “O retorno a Freud”, ocasionando questionamentos. O objetivo do trabalho
era de alertar os psicanalistas da época, onde a teoria e prática fundadas por Sigmund Freud
tinham sido profundamente deturpadas pelos seus seguidores, perdendo a sua essência por
influências da Psicologia do Ego, movimento que surgiu em torno de 1920, nos Estados
Unidos, desenvolvida pelos pós freudianos, dando inicio a uma concepção particular da
psicanálise (LEITÃO; MENDES, 2018).
“o que eu tento fazer é restituir aos termos freudianos sua função. Do que se trata nestes
termos é de uma perturbação dos próprios princípios de questionamento. Dito de outra
forma, o que não quer dizer: dizer a mesma coisa – dito de outra forma, o que aí está
penhorado é a exigência mínima de passagem a este questionamento renovado. A
exigência mínima é esta: Trata-se de fazer psicanalistas.” (Lacan citado por Coimbra,
2007, p. 32).
“ Pois nesta [a fala] a função da linguagem não é informar, mas evocar. O que busco na
fala é a resposta do outro. O que me constitui como sujeito é a minha pergunta. Para me
fazer reconhecer pelo outro, só profiro aquilo que foi com vistas ao que será. Para
encontrá-lo, chamo-o por um nome que ele deve assumir ou recusar para me
responder.” (E., p.300)
Lacan (1953/1998) observa que a técnica psicanalítica não pode ser corretamente
aplicada quando existem um desconhecimento e/ou um descumprimento dos conceitos que
fundamentam a psicanalise, se referindo aos sentido freudiano. O autor propõe uma leitura
destes conceitos, afirmando: "Nossa tarefa será demonstrar que esses conceitos só adquirem
pleno sentido ao se orientarem num campo de linguagem, ao se ordenarem na função da fala"
(Lacan, 1953/1998, p. 247).
A época que Lacan escrevera o seminário - década de 50, 60 e 70 – coincide com o
movimento de ouro estruturalismo, onde utilizou de certos conceitos para originar um
diagnóstico diferencial, passou a ser qualificado como “estrutural” ao destacar a distinção das
três grandes estruturas: neurose, perversão e psicose (PONTES; CALAZANS, 2017). Segundo
Pontes e Calazans (2017), Lacan encontra no método estrutural, a possibilidade da utilização do
seu aforismo para expor suas ideias, “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”,
discurso que reescreve o inconsciente em estrutura, condição essa que possibilita a utilização de
símbolos matemáticos em estudos e apropriações científicas.
Lacan utiliza de referências teóricos como os de Kojève, Lévi-Strauss e Saussure para
extrai suas ideias, possibilitando um releitura do inconsciente freudiano como efeito de
linguagem, complementando a teoria da relação ao Outro. Pensado no contexto social e
estrutural, o inconsciente deixa de ser o campo da ausência da consciência para ser lido como
estrutura de linguagem, no campo dos sonhos; pode ser decompostos/decifrados em palavras os
sintomas, como representações simbólicas, enquanto aquilo que escapa no domínio da razão,
seja por meio de atos falhos, contém dizeres endereçado ao Outro (PONTES; CALAZANS,
2017)
Se o inconsciente é estruturado como uma linguagem e o inconsciente está no
significante, e não no instinto, Lacan está a dizer que o inconsciente é um objeto de
possibilidades científicas. O estruturalismo propiciou as condições que permitiram a volta da
racionalidade científica que antes fora deturpada pelos psicanalistas da época (ALTOE;
MARTINHO, 2012)
Referencias:
ALTOE, Sônia; MARTINHO, Maria Helena. A noção de estrutura em psicanálise. Estilos clin., São Paulo , v.
17, n. 1, p. 14-25, jun. 2012. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
71282012000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 out. 2022.
COIMBRA, Maria Lúcia Salvo de. O retorno a Freud de Lacan. Reverso, Belo Horizonte , v. 29, n. 54, p. 29-36,
set. 2007. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
73952007000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 out. 2022.
Lacan, J. (1998). Função e campo da fala e da linguagem. In: J. Lacan, Escritos (pp. 238-324). Rio de Janeiro, RJ:
Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1953).
LEITAO, Iagor Brum; MENDES, Flávio Martins de Souza. De que se trata ser freudiano pela psicanálise
lacaniana? Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise em Freud e Lacan. Estilos clin., São Paulo , v. 23, n.
2, p. 381-405, ago. 2018 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
71282018000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 14 out. 2022. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-
1624.v23i2p381-405.
PONTES, Samira; CALAZANS, Roberto. O Legado Estruturalista em Lacan: clínica e diagnóstico da psicose.
Psicologia: Ciência e Profissão, [S.L.], v. 37, n. 3, p. 738-752, set. 2017. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703002952016.