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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FARMÁCIA
INSTITUTO DE FARMÁCIA

MATHEUS PITON DE ABREU

A IMPORTÂNCIA DA FARMÁCIA CLÍNICA DENTRO


DO AMBIENTE DA FARMÁCIA COMUNITÁRIA

Salvador, BA
2022
MATHEUS PITON DE ABREU

A IMPORTÂNCIA DA FARMÁCIA CLÍNICA DENTRO


DO AMBIENTE DA FARMÁCIA COMUNITÁRIA

Paper apresentado à Universidade Federal da Bahia, como


requisito de avaliação da componente curricular Metodologia
Científica do curso de Farmácia, orientado pela docente Profª
MSc. Edimar Caetité.

Salvador, BA
2022

1. Introdução
Define-se farmácia comunitária como estabelecimentos de atendimento ao público
geral oferecendo não somente medicamentos e outros produtos, mas também serviços da
saúde, dando atendimento primário a população, sob a responsabilidade técnica do
farmacêutico. Ademais, dentro da prática farmacêutica destaca-se uma área de valiosa
atribuição quando se pensa em saúde pública: a farmácia clínica. Entende-se como
farmacêutico clínico o profissional habilitado que objetiva prover cuidados a comunidade,
família e pacientes, otimizando a farmacoterapia.

Dentre as problemáticas encontradas no Brasil contemporâneo é possível de citação a


pouca atuação clínica do farmacêutico no estabelecimento da farmácia comunitária,
muitas vezes atuando como mero dispensador de medicamentos, devido sobretudo a
fatores estruturais e culturais, a atuação do farmacêutico no que tange a orientação tende a
ser infelizmente, passiva, sendo um orientador apenas quando solicitado.

Ademais, percebe-se como colaborador desse processo de pouca atuação na


assistência farmacêutica por parte do profissional farmacêutico a cultura da
automedicação, que por muitas vezes fazem com que muitos pacientes se enxerguem
como meros clientes de uma farmácia comunitária e não como alguém que deva buscar
ajuda, sempre quando necessário, ao profissional responsável pela farmácia, buscando um
uso mais racional dos medicamentos e uma farmacoterapia mais eficiente.

Deste modo, esse estudo tem como objetivo mostrar a importância do farmacêutico
clínico no ambiente da farmácia comunitária, sempre combatendo as más práticas
farmacoterápicas, orientando os pacientes quando necessário, sendo um agente de
transformação na saúde pública brasileira, reduzindo danos ao paciente e custos ao
estado, ao evitar as buscas por unidades públicas de assistência primária para problemas
saúde autolimitados, além de auxiliar no rastreamento de problemas de saúde como
diabetes e hipertensão por meio de testes disponíveis no ambiente da farmácia.

2. Desenvolvimento

A origem das atividades farmacêuticas data-se a partir do século X com as boticas ou


apotecas, nessa época, medicina e farmácia eram a mesma profissão, sendo somente no
século XVIII a sua separação. Com isso, iniciou-se a divisão de quem faz o diagnóstico e
quem produz a cura, entretanto, em meados do século XX, com a expansão da indústria dos
medicamentos que o profissional farmacêutico acaba por perder seu papel de protagonista na
elaboração de medicamentos entrando em um período histórico chamado de “apagão
farmacêutico”, onde o profissional acaba por se ver perdido em suas atribuições, passando de
um agente ativo, para um dispensador com poucas atribuições.
Foi então, nos anos 60, nos EUA, que surge a farmácia clínica, onde volta-se a colocar o
farmacêutico como protagonista na atuação de profissional de saúde, agregando-se funções
que hoje são consideradas chaves no processo de cuidado do paciente, como por exemplo o
acompanhamento farmacoterapêutico.
Entretanto, mesmo depois de décadas da existência da área da farmácia clínica, pouco se
vê no Brasil uma atuação ativa do profissional farmacêutico em farmácias comunitárias,
sendo essas cada vez mais descaracterizadas, seguindo um padrão lógico estritamente
econômico, onde se coloca o lucro a frente da saúde, a venda a frente da atenção
farmacêutica, muitas vezes subvertendo o que diz a lei 13.021(BRASIL, 2014). que define
farmácia como:
unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica,
assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processe a
manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais,
farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos
farmacêuticos e correlatos.
Colocando assim a farmácia como estabelecimento de saúde, portanto, não sendo a
mesma apenas um estabelecimento comercial, mas um lugar de grande relevância e passível
de papel transformador na saúde de todos os pacientes atendidos.
Outrossim, define-se assistência farmacêutica, de acordo com RDC de 2006 da ANVISA
Nº80 como conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto
individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial, visando o acesso e o
seu uso racional, envolvendo aquelas referentes à atenção farmacêutica (BRASIL, 2006).
Tendo isso em vista, percebe-se que um dos principais problemas que se relacionam a
atenção farmacêutica tem um nome: automedicação.
Desse modo, entende-se automedicação segundo ARRAIS (1997, p. 3), “como um
procedimento caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu
responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita que lhe trará benefícios
no tratamento de doenças ou alívio de sintomas.”. Entretanto, tal prática é um fenômeno
bastante preocupante quando se pensa em saúde pública, tendo em vista os danos causados
por essa prática, que vão desde uma farmacoterapia ruim, com posologia mal elaborada por
exemplo, podendo gerar intoxicações e em casos mais graves, morte.
Para ter noção da magnitude do problema supracitado no Brasil onde, de acordo com a
Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de
pessoas são adeptas da automedicação, a má qualidade da oferta de medicamentos, o não-
cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica e a carência de
informação e instrução na população em geral justificam a preocupação com a qualidade da
automedicação praticada no País (ARRAIS et al., 1997 apud ABIFARMA, s.d.).
Tendo conhecimento do panorama do caos que é a automedicação no Brasil, dados como
o da ANVISA(2009) que mostram que 18% das mortes por intoxicação no país se devem a
esse problema demonstram o tamanho da infeliz situação que a saúde pública brasileira
convive, problema esse possível de solução com a atuação do farmacêutico, em especial do
farmacêutico clínico, que vem como agente ativo de um processo orientação acerca do uso
correto dos medicamentos, possuindo também autonomia para participar do processo
farmacoterápico.
Como uma das principais ferramentas que o farmacêutico possui que são de grande valor
para saúde pública como um todo e podem ser agregadas a farmácia comunitária são os
chamados procedimentos de rastreamento, que são definidos como:
Identificação provável de doença ou condição de saúde não identificada, pela
aplicação de testes, exames ou outros procedimentos que possam ser realizados
rapidamente, com subsequente orientação e encaminhamento do paciente a outro
profissional ou serviço de saúde para diagnóstico e tratamento (BRASIL, 2013).
Desse modo, a partir de procedimentos como aferição de pressão arterial, testes de
glicemia, colesterol ou triglicérides, ou até de capacidade respiratória e avaliação de medidas
antropométricas como índice de massa corporal e circunferência abdominal, o farmacêutico é
capaz ajudar nos rastreamentos de doenças comuns que, se previamente diagnosticadas e
subsequentemente tratadas são de extrema importância para a saúde dos pacientes que
utilizam dos serviços das farmácias comunitárias.
Ademais, fica sobre responsabilidade do farmacêutico no estabelecimento da farmácia
comunitária,
manejo de transtornos menores, podendo ser solicitado pelo paciente outros
serviços como a administração de medicamentos, por exemplo aplicação de
injetáveis e nebulização, como também a realização de curativos (SARMENTO et
al., 2020 apud BRASIL, 2001; BRASIL, 2013; BRASIL, 2016).
Destarte, como outra atribuição de extrema importância para saúde pública como um todo
está a atuação do farmacêutica na prescrição de medicamentos que sejam isentos de
prescrição médicas, chamados de MIP’s, possibilitando assim o tratamento de enfermidades
autolimitadas e evitando a ida desnecessária a unidades públicas de assistência primária,
diminuindo assim a probabilidade de superlotação.
3. Considerações finais
Durante esse estudo foi abordado a importância da farmácia comunitária e do
profissional responsável, o farmacêutico, seus respectivos contextos históricos passando
desde uma superficial abordagem da origem tanto da profissão quanto do estabelecimento
farmácia. Foi mencionado também a reinvenção do farmacêutico, devido ao surgimento da
farmácia clínica, com a expansão de atribuições do profissional, que agregam muito a vida
dos pacientes assistidos, com o melhoramento da farmacoterapia e a melhor adesão ao
tratamento, seguindo a um uso mais racional dos medicamentos.

Ao desenrolar do desenvolvimento foi-se criticado o modelo estritamente econômico


que muitos estabelecimentos das farmácias comunitárias seguem. Assim sendo, “as farmácias
comunitárias não devem mais ser tratadas somente como estabelecimentos comerciais, mas
sim, como um local de prestação de assistência farmacêutica” (SARMENTO et al., 2020,
p.13). Por muitas vezes esses estabelecimentos tendem a ver o indivíduo como um mero
cliente, não como um paciente no qual deve ser assistido e orientado.

Abordou-se a importância do farmacêutico não apenas como mero dispensador de


medicamentos, passivo, de poucas atribuições, mas como um profissional de saúde
transformador na saúde de quem frequenta a farmácia comunitária.

Destarte, cabe ao farmacêutico sempre se atualizar sobre as novas práticas, legislações


e avanços científicos, de maneira a agregar cada vez mais, por meio sobre tudo da área da
farmácia clinica dentro dos estabelecimentos das farmácias comunitárias, desempenhando um
papel protagonista e ativo na saúde pública brasileira.
Referências
SARMENTO, D. et al. O farmacêutico clinico na farmácia comunitária, Revista Eletrônica
Gestão e Saúde, Volume I. Número 1, p. (1-16), março, 2020. Disponível em:
<https://administradoresdevalor.com.br/images/revista/4-o-farmaceutico-clinico-na-farmacia-
comunitaria.pdf> Acesso em: 18 de setembro de 2022.

HISTÓRIA DA FARMÁCIA, CRFMG, s. d. Disponível em:


<https://www.crfmg.org.br/externo/institucional/historia_historia.php#:~:text=Surgimento
%20das%20boticas,foram%20criadas%20as%20primeiras%20boticas> Acesso em: 18 de
setembro de 2022.

HISTÓRICO, Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, s. d.


Disponível em: <http://www.hu.ufsc.br/setores/farmacia/historico/#:~:text=Em
%201965%20surgiu%20nos%20EUA,cl%C3%ADnicas%20voltadas%20para%20o
%20paciente> Acesso em: 18 de setembro de 2022.

ARRAIS, P. Et al. Perfil da automedicação no Brasil, Revista de Saúde Pública, São Paulo
– SP, v. 31, n. 1, fev. 1997. Disponível em:
<https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/rsp/
v31n1/2212.pdf> Acesso em: 18 de setembro de 2022.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. RDC n° 80, de 11 de maio de


2006. Dispõe sobre o fracionamento de medicamentos, dá nova redação aos arts. 2º e 9º do
Decreto no 74.170, de 10 de junho de 1974, e dá outras providências. Publicado no D.O.U. de
12 de maio de 2006. Brasília, DF, 2006.

BRASIL. Conselho Federal de Farmácia - CFF. RDC Nº 585, de 29 de agosto de 2013.


Regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências. Publicada no
D.O.U. de 25 de setembro de 2013. Brasília, DF, 2013.

BRASIL. Lei nº 13021, de 08 de agosto de 2014. Dispões sobre o exercício e a fiscalização


das atividades farmacêuticas. Publicada no D.O.U. de 11 de agosto de 2014. Subchefia para
Assuntos Jurídicos, Brasília, DF, 2014.

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