"TERRITÓRIOS E SENTIDOS: ESPAÇO, CULTURA, SUBJETIVIDADE E
CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL"
RESENHA DA OBRA
A obra "Territórios e Sentidos: Espaço, Cultura, Subjetividade e
Cuidado na Atenção Psicossocial", de autoria de Eliane Maria Fleury Seidl Lima e Silvana Yasui, publicada em 2014, é um livro que busca explorar a relação entre espaço, cultura, subjetividade e cuidado na área da saúde mental, especificamente no contexto da atenção psicossocial. Uma das principais contribuições deste livro é a forma como os autores abordam a noção de território como um conceito fundamental para a compreensão e prática da atenção psicossocial. Eles enfatizam a importância de considerar não apenas os aspectos físicos do território, mas também os aspectos simbólicos e culturais que o permeiam. Essa abordagem ampliada permite uma compreensão mais completa das experiências dos indivíduos e das comunidades, levando em consideração não apenas suas condições materiais, mas também suas relações sociais, históricas e subjetivas. Além disso, os autores destacam a importância da cultura como um elemento central na construção do cuidado em saúde mental. Eles argumentam que é essencial considerar as práticas culturais, crenças e valores das pessoas envolvidas no processo de cuidado, a fim de promover uma abordagem mais sensível e efetiva. Essa perspectiva culturalmente informada permite uma maior aproximação entre profissionais de saúde e usuários dos serviços, favorecendo a construção de vínculos e a cocriação de estratégias de cuidado mais adequadas às necessidades individuais. No entanto, embora a obra apresente contribuições valiosas, também é importante mencionar algumas limitações. A linguagem utilizada pelos autores pode ser densa e teórica em alguns momentos, o que pode dificultar a compreensão para aqueles que não possuem um conhecimento prévio aprofundado no campo da saúde mental. Além disso, embora os autores mencionem a importância do contexto político e social na atenção psicossocial, eles poderiam explorar mais amplamente as questões de poder, desigualdade e determinantes sociais da saúde, que desempenham um papel fundamental na compreensão das práticas de cuidado. Apesar dessas limitações, "Territórios e Sentidos" oferece uma abordagem reflexiva e crítica sobre a atenção psicossocial, trazendo perspectivas importantes para repensar a forma como lidamos com questões de saúde mental. Os autores estimulam uma visão mais ampla e contextualizada do cuidado, que vai além da mera abordagem individual e médica, enfatizando a importância da cultura, dos territórios e das relações sociais na promoção da saúde mental. "Territórios e Sentidos: Espaço, Cultura, Subjetividade e Cuidado na Atenção Psicossocial" é uma obra que se destaca ao abordar a atenção psicossocial de uma maneira mais ampla e reflexiva. Os autores, Eliane Maria Fleury Seidl Lima e Silvana Yasui, propõem uma abordagem que considera não apenas o aspecto clínico da saúde mental, mas também os contextos sociais, culturais e políticos que envolvem o cuidado. Um dos principais pontos discutidos no livro é a compreensão do território como um espaço físico, mas também como um espaço simbólico e cultural. Os autores argumentam que o território é um elemento fundamental na atenção psicossocial, pois influencia a forma como as pessoas se relacionam e constroem suas subjetividades. Ao considerar o território de maneira ampliada, é possível compreender as experiências individuais e coletivas de forma mais completa, levando em conta as dinâmicas sociais, históricas e culturais presentes em determinado local. Nesse sentido, o livro enfatiza a importância da cultura como um componente central no cuidado em saúde mental. A cultura não é vista apenas como um conjunto de normas e práticas, mas como um sistema de significados compartilhados que influencia a forma como as pessoas vivenciam a saúde e a doença mental. Reconhecer a diversidade cultural e compreender as particularidades de cada grupo é essencial para uma abordagem mais sensível e efetiva no campo da saúde mental. Os autores enfatizam a necessidade de ouvir e respeitar as diferentes narrativas e perspectivas culturais dos usuários dos serviços de saúde, a fim de promover um cuidado mais individualizado e que respeite a autonomia e os valores de cada pessoa. Além disso, o livro também aborda a importância do contexto político e social na atenção psicossocial. Os autores destacam que as desigualdades sociais, as relações de poder e os determinantes sociais da saúde desempenham um papel crucial na compreensão e no enfrentamento dos problemas de saúde mental. A atenção psicossocial deve estar atenta às questões estruturais e promover uma abordagem que vá além do tratamento individual, buscando transformações sociais mais amplas que promovam a equidade e a justiça. Apesar de suas contribuições relevantes, o livro também possui algumas limitações. A linguagem utilizada pode ser complexa e teórica em determinados momentos, o que pode dificultar a compreensão para leitores sem conhecimento prévio no campo da saúde mental. Além disso, embora o livro mencione a importância do contexto político e social, poderia aprofundar mais as discussões sobre como esses aspectos influenciam as práticas de cuidado e como superar as barreiras estruturais que dificultam a implementação de abordagens mais inclusivas e igualitárias. No entanto, "Territórios e Sentidos" é uma obra que estimula uma reflexão crítica sobre a atenção psicossocial, destacando a necessidade de considerar os aspectos espaciais, culturais, subjetivos e políticos envolvidos no cuidado em saúde mental. Os autores ressaltam a importância de uma abordagem sensível à diversidade cultural e às condições sociais, promovendo a participação ativa dos usuários e a construção de relações de cuidado baseadas no respeito e na autonomia.
RESUMO DO TEXTO
O texto aborda o conceito de território no contexto da saúde coletiva e
sua importância na organização das ações de cuidado, especialmente na Atenção Básica e na atenção psicossocial. O território é entendido como o espaço físico onde o cuidado é exercido e como uma lógica que orienta as práticas e parcerias entre os serviços de saúde e a comunidade. A relação entre a produção de cuidado e o território é destacada como fundamental para a atenção psicossocial, e a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é citada como uma estratégia territorializada para a organização da rede de cuidados em saúde mental. A lógica do território envolve considerar o tempo e o lugar em que as ações são elaboradas e realizadas, reconhecendo que nenhum serviço isolado pode atender a todas as necessidades de cuidado de um determinado território. No entanto, é ressaltada a necessidade de compreender os múltiplos sentidos do conceito de território, uma vez que ele é abordado em diversos campos do conhecimento, como Geografia, Biologia, Antropologia, Sociologia, Ciência Política e Filosofia. Na saúde coletiva brasileira, o conceito de território ganha destaque a partir da implementação do Sistema Único de Saúde. Além disso, o texto enfatiza a importância de considerar os processos que ocorrem no território, com suas diferentes lógicas de emancipação e dominação. Para a organização e ações dos serviços substitutivos ao manicômio, é essencial compreender as diferentes lógicas do território, seus recursos, potencialidades e formas de submissão. O ensaio propõe uma discussão aprofundada sobre o conceito de território, contextualizando-o historicamente e buscando um diálogo com os autores Milton Santos, Deleuze e Guattari. Esses autores, cada um em sua área de atuação, abordam o território em relação aos processos que o constituem e desconstroem, inseridos em jogos de força. Milton Santos descreve o território como esquizofrênico, pois, ao mesmo tempo em que é permeado pelos vetores da globalização e da imposição de uma nova ordem, também é palco de uma produção acelerada de pobreza, exclusão e marginalização. Já Deleuze e Guattari concebem o território como uma construção provisória que está sempre em relação a processos de desterritorialização e reterritorialização. O território só tem valor em relação a um movimento de saída dele, mas ao mesmo tempo requer um esforço para se reterritorializar em outro lugar. Assim, o texto explora a complexidade do conceito de território e sua relevância na saúde coletiva, incentivando a reflexão sobre como potencializar a relação entre serviço, produção do cuidado, espaço e cultura, a fim de promover ações de saúde mais efetivas e inclusivas. O texto aborda também o tema do lugar da loucura e a influência das práticas psiquiátricas na organização do espaço urbano e na manutenção da ordem social. Desde o século XIX, os hospícios brasileiros foram construídos em locais afastados dos núcleos urbanos, como forma de excluir indivíduos considerados não adaptáveis ou resistentes à ordem social, como os vagabundos e estrangeiros. A história da Liga Brasileira de Higiene Mental nas décadas de 1920 e 1930 é citada como um exemplo do discurso preventivo e eugênico da psiquiatria, que buscava o saneamento racial e ampliava sua atuação para além dos hospitais psiquiátricos, englobando a família, o trabalho e a escola. O texto discute o poder disciplinar e de controle exercido pela psiquiatria, que investe na docilização dos corpos e na produção de corpos e modos de vida úteis e ajustados à ordem social. No entanto, propõe uma ruptura com essa lógica de controle e exclusão, buscando compreender a relação entre a produção de cuidado e o território onde ele ocorre. O conceito de território é discutido a partir das contribuições do geógrafo brasileiro Milton Santos, que o entende como uma categoria dinâmica e inseparável da sociedade. O território é resultado da interação entre o substrato físico e as práticas sociais, envolvendo aspectos materiais, políticos e culturais. A compreensão do território como um todo dinâmico permite uma análise contextual do processo saúde-doença, considerando as relações sociais, econômicas, políticas e culturais que permeiam o espaço. O território usado é entendido como a interdependência entre a materialidade do espaço e seu uso social, resultado de processos históricos e base para novas ações humanas. O texto destaca a importância de considerar a dimensão cultural do território, que carrega uma dimensão simbólica e cultural, além de sua dimensão material. Nesse sentido, o território da saúde coletiva é composto por produções coletivas, com uma base material e social específica que se relaciona com a organização política, administrativa e institucional do setor. A visão do território como um espaço vivo e dinâmico, onde se entrelaçam diferentes forças, é ressaltada. O território é tanto influenciado pela racionalidade dominante quanto propicia a emergência de outras formas de vida. Ele desempenha um papel ativo na formação da consciência e é capaz de abrigar resistências e produzir modos de vida que escapam ao controle. O texto conclui enfatizando a importância de compreender as relações entre a produção de cuidado e o território, reconhecendo as histórias sociais, políticas e econômicas que moldam os lugares e as formas de acesso aos serviços de saúde. A organização de serviços substitutivos territoriais requer uma compreensão profunda do território e de sua relação com a vida cotidiana, as práticas sociais e as subjetividades que o habitam. A clínica e os territórios existenciais são conceitos que se relacionam com a prática de cuidado em saúde mental e com a forma como os espaços físicos e subjetivos influenciam o processo terapêutico. Esse texto destaca a importância de compreender o território não apenas como um espaço geográfico delimitado, mas também como um lugar onde se produzem modos de vida, relações sociais e subjetividades. Inicialmente, é ressaltado que a mudança do enfoque clínico do asilo para o território não garante uma prática em ruptura com as formas de poder que se exercem sobre a vida. A desinstitucionalização da saúde mental, com a substituição dos hospitais psiquiátricos por novos serviços comunitários, pode acabar reproduzindo mecanismos de controle e disciplina. No entanto, é apontado que a crise do modelo hospitalar abriu caminho para a reforma psiquiátrica e para a construção de uma atenção em saúde mental que enfrente as tensões entre as práticas de resistência e os mecanismos de vigilância e controle. A reinvenção da clínica é fundamental nesse processo, buscando um engajamento efetivo e responsável com o sofrimento humano, a construção de possibilidades de vida e a produção de subjetividades. A clínica deve se desvincular do hospital e criar novas instituições que atuem na lógica da heterogeneidade, da implicação e da circulação social. O paciente deixa de ser apenas objeto de um saber ou de uma prática e passa a ser um sujeito em construção, em um processo complexo de individuação que ocorre nos encontros e nas relações. A clínica deixa de focar apenas na personalidade e nos sintomas individuais, abrindo espaço para processos de produção de saúde e subjetividade. Nesse contexto, surgem os territórios existenciais, que são espaços construídos com elementos materiais e afetivos do meio, onde as pessoas vivem suas vidas. Esses territórios são compostos por diferentes agenciamentos entre seres, fluxos e matérias, e podem passar por processos de desterritorialização e reterritorialização. A experiência da loucura, por exemplo, é marcada por um forte movimento de desterritorialização, mas também pode resultar na construção de novos territórios. São apresentadas duas situações clínicas para exemplificar essas ideias. Em uma delas, um jovem enclausurado em sua casa é acompanhado terapeuticamente para explorar o entorno e ampliar seu território existencial. Esse processo implica desterritorializar o jovem e seu ambiente, desafiando as forças de exclusão presentes. Na outra situação, um usuário de um centro de saúde mental cria territórios próprios colando figuras e palavras em seu corpo e em sua casa, buscando estabelecer um lugar de pertencimento e proteção contra o caos. A clínica, nessa perspectiva, busca acompanhar e cuidar dos movimentos de reterritorialização, promovendo a criação de novas terras onde seja possível traçar linhas de vida. Ela requer sensibilidade e atenção para não homogeneizar ou domesticar a loucura, mas sim criar espaços de convivência com a diferença, possibilitando a construção de novos territórios existenciais. A construção de uma clínica voltada para os territórios existenciais implica reinventar-se na relação com a experiência da desrazão, pensar, sentir e viver de forma intensamente diferente. É um desafio evitar a anulação das diferenças, a homogeneização e a domesticação da loucura, ao mesmo tempo em que se acolhe o sofrimento psíquico e se promove a construção de novos sentidos e modos de existência. Concluindo, a clínica e os territórios existenciais estão intrinsecamente relacionados à reforma psiquiátrica e à atenção em saúde mental. A organização de serviços de saúde mental baseados na lógica do território requer o entendimento do território como espaço de vida e produção de subjetividades. A clínica deve buscar a reinvenção, promovendo processos de desterritorialização e reterritorialização, construindo novos territórios existenciais e criando espaços de cuidado para além dos serviços convencionais.