Você está na página 1de 4

Resenha Crítica

RANGÉ-BERNARD. Tratamento cognitivo-comportamental para o transtorno de


pânico e agorafobia: uma história de 35 anos. Estudos de Psicologia (Campinas)
Publicação de: Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade
Católica de Campinas Área: Ciências Humanas - Artigos. Volume: 25, Número: 4,
Publicado: 2008.

Bernard Rangé é psicólogo clínico, doutor em Psicologia pela Universidade Federal


do Rio de Janeiro. É professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFRJ, ativo e respeitado psicólogo clínico, pesquisador e autor de importantes livros
e artigos sobre Terapia Cognitiva e Cognitivo-Comportamental. Fundador da
ABPMC (Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental) e pioneiro
da Terapia Cognitiva e Cognitivo-Comportamental no Brasil.

O autor descreve neste artigo sua trajetória como psicólogo, seus estudos e o
desenvolvimento do conhecimento e da aplicação da terapia cognitivo-
comportamental no tratamento do transtorno de pânico e da agorafobia. Vários
pesquisadores contribuíram para elaboração deste artigo, que também descreve a
integração do tratamento farmacológico e várias intervenções cognitivas e
comportamentais no processo terapêutico. São mencionadas as técnicas utilizadas
no tratamento e são elas: reestruturação cognitiva, habituação interoceptiva,
técnicas respiratórias, técnicas de exposição situacional e reestruturação existencial.
Originalmente o tratamento foi desenvolvido para ser individualizado, entretanto
após um período foi também utilizado para atendimentos em grupo. Sua concepção
visava proporcionar aos terapeutas que trabalhassem em locais onde não existisse
uma terapia cognitivo-comportamental qualificada, um modelo de tratamento passo
a passo. Com resultados muito satisfatórios, excetuando-se algumas intervenções,
como o treinamento em assertividade e o relaxamento muscular, os ajustes
necessários para atender esses achados foram analisados e realizados.

No ano de 1972, diante do quadro de seu primeiro paciente que apresentava um


quadro de “neurose de angústia”, nomenclatura da época, que hoje seria
diagnosticado como Transtorno de Pânico com Agorafobia há uma inquietação esse
interesse em tratar esses casos. A Terapia comportamental já era objeto de estudo
de Rangé desde a época da graduação e foi estimulada pelas pesquisas em
psicologia experimental de dois de seus professores.

Depois de alguns anos ainda estudando e atendendo pacientes com transtorno de


pânico, um caso bem grave chega ao seu consultório e diante da situação surge a
“Estratégia A.C.A.L.M.E. - S.E.” Uma técnica de oito passos, de acordo com cada
letra do acróstico, para controlar a crise de ansiedade, orientando como agir em
circunstâncias que provoquem medo e algumas vezes até o pânico.

Entretanto, os estudos e as demandas mostravam que era necessário ser criado um


protocolo integrativo de atendimento para esses pacientes, pois não era em todo
lugar que havia profissionais treinados em terapia cognitivo-comportamental. Esse
protocolo inicial foi sendo aplicado no serviço de Psicologia Aplicada da UFRJ com
resultados satisfatórios e em 1998 foi aprimorado em duas versões: uma para
terapeutas não treinados em TCC e outro para pacientes. O protocolo foi
denominado “Vencendo o pânico: programa de tratamento multicomposto específico
para transtorno de pânico e a agorafobia. Esse protocolo inicialmente concebido
para ser usado em casos individuais, com sessões de uma hora e meia.

Esse protocolo é constituído de oito sessões, sendo: duas de avaliação inicial, onde
são aplicadas as entrevistas estruturadas para os transtornos da ansiedade, além de
uma variedade de testes e questionários que são preenchidos em casa pelos
pacientes. A primeira sessão tem como objetivo estabelecer uma empatia, oferecer
informações básicas sobre o problema, o tratamento, coletar informações e
estabelecer as metas. Na segunda sessão é feito o treinamento das habilidades de
manejo diante das crises que podem acontecer com metas e tarefas que são:
introduzir a estratégia A.C.A.L.M. E-S. E, fazer hiperventilação no passo quatro,
introduzir o treino respiratório, introduzir a estratégia de Situações, Pensamentos
automáticos, Emoções e Comportamentos (SPAEC), verificar se o paciente
compreendeu com clareza a instrução das sequências, treinar o preenchimento do
registro diário dos pensamentos disfuncionais e a folha SPAEC. O paciente é
orientado a aceitar as sensações, pois são apenas sinais de ansiedade ou ativação
simpática, reação primitiva de luta ou fuga necessária para sobrevivência em
situações de perigo e que as sensações parecem antecipações de “perigos”, mas na
verdade, são consequência dos pensamentos que o indivíduo tem a partir de suas
sensações. A terceira sessão tem como objetivo provocar uma conscientização
corporal e fortalecer o trino da reestruturação cognitiva, observando o registro diário
e exercícios de exposição interoceptiva para produzir uma habituação às sensações,
são feitos exercícios de relaxamento. Na sessão quatro os objetivos são fortalecer a
auto-eficácia e solicitar o preenchimento do curtograma (atividades que o cliente
gosta ou curte realizar). O objetivo da quinta sessão é favorecer uma modificação na
forma como cada cliente maneja sua existência, com discussão da crença irracional,
o hedonismo responsável e assertividade. A sessão seis tem como meta básica a
manutenção e o fortalecimento do que foi apreendido, revendo e analisando as
tarefas dadas anteriormente, exercícios de relaxamento e despedidas. Na sessão
sete é trabalhado o manejo individual, as tarefas são revistas e há um incentivo ao
planejamento de um futuro feliz e realizador. E, finalmente a sessão oito é de
encerramento e fortalecimento das estratégias de manutenção e prevenção de
recaídas.

Com constantes avaliações e estudos foi feita uma alteração no protocolo e a


introdução de um familiar na quinta sessão mostrou a importância do apoio e o
entendimento do quadro e tratamento na recuperação dos pacientes. A inclusão de
um membro da família foi justamente para tornar os ganhos mais duradouros, tornar
o cliente mais independente do terapeuta e reduzir o tempo de tratamento.

O artigo apresenta de forma didática, clara e objetiva a trajetória de estudos,


pesquisas, aplicações e a elaboração dos protocolos de atendimento aos pacientes
com agorafobia e transtorno de pânico. A sensibilidade, inquietações e investigações
por parte do autor na busca e construção de uma terapia competente e responsável,
bem como a confecção de um material eficaz no tratamento dos pacientes corrobora
com a importância do desconforto diante dos desafios e dilemas da saúde mental,
visando o aprimoramento e aperfeiçoamento dos profissionais e das técnicas
adequadas. A capacitação, sensibilização e humanização do profissional de saúde
mental diante de quadros tão sofridos mostram a importância de constantes estudos
e avaliações para a eficácia no tratamento desses transtornos que têm quadros cada
vez mais frequentes e incapacitantes na vida de centenas de indivíduos, limitando
suas atividades, realizações, relacionamentos e até perspectivas de futuro.
Lilian Pereira da Silva Alves, estudante de Psicologia, primeiro período, Centro
Universitário Celso Lisboa, Matrizes Psicológicas na Atualidade. Profª.
Verônica Carvalho de Araújo.

Você também pode gostar