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A ARTE NO ANTIGO EGIPTO

Aula n.º4
1.ºano – 1.º semestre, 2007/2008
Cursos DIE – AI - DMT Prof. Ricardo J. Nunes da Silva
Resumo:
As mastabas e as Pirâmides do Antigo Egipto: A evolução e
rupturas na arte egípcia. As representações escultóricas
no mundo egípcio. A estilo amarniano.

Bibliografia:

ARAÚJO, Luís Manuel de, Egipto : as pirâmides do Império Antigo, Lisboa, Colibri, 1992.
ARAÚJO, Luís Manuel de (dir.), Dicionário do Antigo Egipto, Lisboa, Caminho, 2001.
DAUMAS, François, La Civilisation de l’Égypte Pharaonique, Paris, Arthaud, 1965.
GRIMAL, Nicolas, Histoire de l’Égypte Ancienne, Paris, Fayard, 1988.
Timeline Egipto

Unificação do Egipto (3100-3050)

Época Tinita (3050 – 2675)

Império Antigo (2675-2350)

1º período Intermediário (2350-2008)

Império Médio (2008-1630) ca. 130-60 A.C.

2º período Intermediário (1630-1539)

Império Novo (1539-1075)

2º período Intermediário (1075-664)

Época tardia (664-332)


O Egipto Pré-Dinástico

Centros
de
poder

Hierarquização
sócio-económica e
Formação de elites

Disputa pela terra,


recursos económicos e rotas
comerciais

Concentração demográfica
no delta e no vale
O Egipto Pré-Dinástico
• Período protodinástico (3200-3150 / 3050-3000 a.C.)
• Alguns dos nomes são conhecidos:
- Escorpião; - Narmer
• Egipto em contacto com Síria e Palestina e directa ou
indirectamente com Mesopotâmia

• Influências asiáticas sobre o Egipto

• Exportações egípcias para a Ásia Influências siro-palestinenses

•Arquitectura
•Iconografia / arte
•cerâmica
A paleta de Narmer
O Egipto Pré-Dinástico
• No imaginário histórico ficou o arquétipo
político de um dualismo
• Das duas terras ou das várias chefaturas, o
Egipto evolui para:
- unificação do país
- centralização do poder
• Tendência para a unificação tem origem
essencialmente no sul; o norte é atractivo pelo
seu interesse comercial e estratégico
O Egipto Pré-Dinástico
Dualismo

Mito de Hórus e
As duas terras As coroas
de Set

Dois reinos antes Vitória do Alto


A religião A simbologia
da unificação sobre o Baixo Egipto
O Egipto Pré-Dinástico
• A unificação dá origem às duas primeiras
dinastias: as dinastias tinitas (I e II)

• Capital em Tinis (perto de Abidos)

• A unificação não está ainda segura


durante este período
REFLEXO DO HOMEM EGÍPCIO NA ARTE

A arte egípcia é profundamente simbólica. Todas as representações


estão repletas de significados que ajudam a caracterizar figuras, a
estabelecer níveis hierárquicos e a descrever situações.

Do mesmo modo a simbologia serve à estruturação, à simplificação e


clarificação da mensagem transmitida criando um forte sentido de
ordem e racionalidade extremamente importantes.

A harmonia e o equilíbrio devem ser mantidos, qualquer perturbação


neste sistema é, consequentemente, um distúrbio na vida após a
morte.

Para atingir este objectivo de harmonia são utilizadas linhas simples,


formas estilizadas, níveis rectilíneos de estruturação de espaços,
manchas de cores uniformes que transmitem limpidez e às quais se
atribuem significados próprios.
REFLEXO DO HOMEM EGÍPCIO NA ARTE

A hierarquia social e religiosa traduz-se, na representação artística, na


atribuição de diferentes tamanhos às diferentes personagens, consoante a
sua importância.

Como exemplo, o faraó será sempre a maior figura numa representação


bidimensional e a que possui estátuas e espaços arquitectónicos
monumentais.

Reforça-se assim o sentido simbólico, em que não é a noção de


perspectiva (dos diferentes níveis de profundidade física), mas o poder e a
importância que determinam a dimensão.
Dualismo

Paleta de Narmer (c. 3000 a C), Xisto, M. E. do Cairo


Enquadramento do Mundo Egípcio

A arte é uma manifestação do modo de “Estar”, “Sentir” e de “Pensar” de


um Povo.

A geografia Egípcia condicionou fortemente a arte – expressão através da


pedra -.

O Nilo está fortemente relacionado como o pensamento egípcio e a sua


visão dual do mundo. Factor de unificação.

Túmulos na margem Ocidental do Nilo, onde o sol se põem. Nilo entre a


vida e a morte.

(Dualismo) Maet – tão importante como o Nilo. Equilíbrio, Justiça,


Ponderação... Só os seguidores da Maet podem aceder ao paraíso. O
implica o um comportamento justo na vida terrena.

Domínio da Pedra. Não existe palavra para Arte ou Artista.


Arte produzida para Eternidade por artesãos com estatuto
idêntico aos de produzem qualquer coisa.

Os Egípcios realizavam as suas representações de


acordo comas imagens mentais.
Heinrich Schäfer

Existe, de modo geral, uma preocupação quanto ao rosto. Contudo, o


restante partia de uma imagem mental.

Pintura
Imagem Projectiva – procuram com uma imagem Bidimensional abarcar
a totalidade do corpo

Escultura
– vigora a lei da Frontalidade.(mais no material Pétreo que em madeira).

A estátua é um “Contentor” que recebe que não tem vida o KÁ e o BÁ.


Tem de ter sempre o nome do proprietário.
Lei da Frontalidade
o Tempo das Pirâmides – c. 2700-2180
Pirâmide, além de túmulo, também é uma petrificação dos
raios solares, um hino da pedra a Ré. Um veiculo de ascensão.

3 dinastia
Djoser (Faraó) e o Imhotep (arquitecto). Sakkara. Pirâmide
escalonada.
Imhotep (arquitecto)
Pirâmide e Casa Mortuária de Djoser
Saqqara,
c. 2,630-2,611 AC
Imhotep
Fachada Norte do Palacio
e Casa Mortuária Djoser
Imhotep
Colunata de entrada: Casa Mortuária
de Djoser
Mastaba Perneb
ca. 2,350-2,323 AC
4 dinastia
Pirâmide romboidal. Uma das que procura as linhas perfeitas.

Khufu (queóps)
Kafre Complexo de Guiza
Menkaure

5 dinastia
É a clara vitória do Deus Ré. Como sendo os faraós filhos do próprio Deus.
Nesta época temos a diminuição da altura das Pirâmides. Devido ao
funcionalismo. Funcionalismo é poderoso, constrói enormes Mastabas que
desviam recursos e mão de obra, quer para a construção quer para a
manutenção do culto funerário. Paralelamente Grandes templos Solares
Mastaba = Túmulo (ex. túmulo de Khasenhemi)
Paredes descontinuas, tem em seu redor pequenas mastabas em
seu redor para os seus servidores no além.

poço que leva à cripta

porta de acesso à zona de culto


Os funcionários nunca construíram pirâmides, facto de estas serem um
símbolo real, mas não deixaram de construir nas proximidades das grandes
pirâmides. As mastabas chegam a ser autênticos palácios.

Os túmulos tem uma parte acessível e uma outra inacessível (excepto ao KÁ


e ao BÁ (só os faraós têm este elemento), o Serdab.
KÁ- FORÇA VITAL E SEXUAL
BÁ- CAPACIDADE DE MOVIMENTO E DE VIDA
Tem de existir sempre culto funerário.

Pirâmide
O Faraó é sepultado no sub solo (culto de Osíris), virado para norte (culto da
estrela Polar), numa pirâmide (culto Solar). Ao sul temos o cenotáfio. O
calcário é a material pétreo mais utilizado.
Esfinge – o faraó tem o poder de leão e o rosto de Queóps
Escultura império Antigo

Diferenças de concepção entre a


estatuária real e a estatuária de
particulares.

Estatuária real
desejo de imponência

Estatuária de particulares
maior realismo
IMP. ANTIGO

-Grande parte rostos sem expressão


-Porte de Deuses
-Atlético e viril
-Rosto sem rugas
-Perna esquerda avançada
-Regra da frontalidade

Roupa colada ao corpo

Uma tríade de Menkauré


Do rei Menkauré chegaram até aos dias de hoje as chamadas díades e tríades.
As primeiras consistem em estátuas do rei com a sua esposa, a rainha
Khamerernebti II. Quanto às tríades, o rei surge representado com a deusa
Hathor e uma personificação de um nomo.

Do tempo da V dinastia são escassas as estátuas de reis, mas em compensação


abundam as estátuas de particulares.

Memi e Sabu,
Vizir Hem-iu-nu Império antigo, 4 Dinastia
Escriba sentado
Saqqara, Egipto
ca. 2,450-2,350 aC
ESCULTURA – aspecto coeso e compacto

O rosto sem rugas e corpo perfeito, com toques de naturalismo (mamilos,


músculos, abdominais).

Mulheres (grande parte) usa vestidos de linho, revelando linhas do Corpo –


peito firme e arredondado. Reflecte o conceito de beleza do Império Antigo.
Escultura também reflecte o estatuto da mulher, igualdade e respeito.

O escriba do Louvré quebra a realidade a Lei da Frontalidade


Império Médio

Após o período de decadência do poder central e de instabilidade política que foi o


Primeiro Período Intermediário (e que se reflectiu na arte com o abandono dos
"cânones” estabelecidos) inicia-se o Império Médio que corresponde à XI e XII
dinastias.

conjugação do realismo menfita com o idealismo tebano


maior reflexo da Maet

Funcionalismo no poder.

Túmulos desta dinastia são em pirâmides, afirmam-se como continuadores do Império


Antigo

Estatuária surge agora nas ruas, em locais bem visíveis, como na entrada dos templos.
Sintonia com a literatura apologética, é um esforço de divinizar o monarca e de
combater as origens funcionalistas.

No baixo relevo a figura humana é representada com base numa quadrícula


de dezoito módulos.
Escultura

A expressão humana na escultura vai ganhar uma nova dimensão e realismo


nesta época, passando-se a representar nas estátuas reais o envelhecimento.
Mesmo a representação bidimensional perde a sua dependência dos cânones
adoptando uma maior naturalidade e mesmo noções de profundidade
tridimensional.

Nesta época criam-se esfinges reais nas quais o rosto do monarca surge
emoldurado por uma juba, como é o caso de uma esfinge de Amenemhat III.

Túmulos de Mentuhotep e de Hatchepsut

Estatuária infantil – marcas iconográficas

Podemos visualizar faraós com rugas com traços faciais mais vincados, algo
que não acontecia anteriormente. Humanização faraónica, olhos encovados,
orelhas grandes, ossos faciais...
Escultura de Amenemhet III
Arquitectura

Na arquitectura adoptam-se os padrões estilísticos anteriores ao nível da


construção, procurando-se retomar a construção de pirâmides. Contudo, estas
pirâmides não atingem a grandeza das pirâmides do Império Antigo. Construídas
com materiais de baixa qualidade e com técnicas deficientes, o que resta hoje
destas construções é praticamente um monte de escombros. As mais altas
pirâmides construídas nesta época foram a de Senuseret III e a de Amenemhat III.

Mentuhotep, monarca que reunificou o Egipto após o Primeiro Período


Intermediário, manda construir nas região de Tebas Ocidental o seu complexo
funerário, no qual se detectam elementos da arquitectura do Império Antigo, como
um templo do vale que conduz através de um caminho processional ao templo
funerário junto à rocha.
Império Novo – 1550 – 1070 a.C
Há linhas de continuidade entre o Imp. Médio e o Imp. Novo, neste último não
se cria a exaltação do clero de Amon.
Predominância Solar de Ré. Ocorre também o Período de Amarna

Templo de Karnac cresce ao longo do Imp. Novo (80.000 trabalhadores)


Os monarcas do Imp. Novo são construtores – templos aos Deuses, templos
funerários para o culto do faraó morto, templos cavados na rocha.
Templo – pilone (ladear a entrada), pátio hipóstilo, sala hipóstila, sala da barca,
santuário – onde está a estátua do deus.
Amentohotep IV justifica-se como uma oposição aos cânones amonianos da
escultura e relevos e que são impostos desde o imp. Antigo.
Período de Amarna
Império Novo
Arquitectura

Reavivar as tradições do passado e em que as forças criadoras vão erguer vários


edifícios de pedra de construção arrojada e que ainda hoje podem ser admirados.

Foi na capital do Império Novo, a cidade de Tebas, erguem-se os grandes edifícios


desta época. A divindade da cidade era Amon e seu principal centro de culto era o
Templo de Karnak, ao qual praticamente todos os monarcas do Império Novo
procuram acrescentar estruturas como pilones.
No Império Novo os reis abandonaram a tradição de serem sepultado em pirâmides,
optando por mandar escavar os seus túmulos nos rochedos próximos, num local hoje
são designado como Vale dos Reis.

A principal razão para esta mudança estaria relacionada com uma tentativa de evitar
os saques.

Num local conhecido como Deir el-Bahari encontra-se o templo funerário da rainha
Hatchepsut, mandando construir pelo seu arquitecto Senemut. O templo enquadra-se
perfeitamente na falésia de calcário em que se encontra, situando-se junto ao vizinho
templo de Mentuhotep II, construído quinhentos anos antes.
Senmut
Templo de Hatshepsut
Deir el-Bahri,
1,473-1,458 a C.
Aquitecto Senmut
Templo de Hatshepsut
Deir el-Bahri,
1,473-1,458 a C.
Templo de Ramses II
Abu Simbel,
ca. 1290-1224 aC
Período de Amarna

Akhenaton
Templo de Amon-Rá, Karnak, ca. 1,353-1,335 aC
Akhenaton e Néfertiti apresentado
A Mudança Amarniana
oferendas a Aton
Akhenaton, faraó da XVIII Dinastia
egípcia, decidiu pouco tempo depois de
subir ao trono, introduzir mudanças
religiosas que faziam do deus Aton a
única divindade digna de receber culto.
Para alguns, ele teria sido foi o primeiro
a professar o monoteísmo, embora
alguns investigadores considerem que
este culto a Aton seria mais uma forma
de henoteísmo. Após instituir o culto à
Aton como sendo o único culto
permitido em todo seu reino, Akhenaton
ordenou sistemática destruição aos
templos dos demais deuses egípcios, em
especial Amon, já que seus sacerdotes e
preceptores eram seus maiores rivais, ao
nível político e religioso.
O faraó decidiu fundar uma nova cidade que funcionasse como sede para o novo
culto religioso, tendo escolhido uma região entre Mênfis e Tebas, duas importantes
cidades do Antigo Egipto. Akhenaton declarou que tinha sido o próprio deus Aton a
informar-lhe o local onde deveria ser construída a nova cidade.
Sabe-se que a cidade abarcou uma extensão de catorze quilómetros ao longo da
margem do Nilo com treze quilómetros de largura. A cidade estava limitada por
várias estelas (catorze) que simbolicamente limitavam o espaço da cidade
sagrada.
Com a morte de Akhenaton, a cidade deixou de ser capital, sendo essa novamente
Tebas.

Akhenaton
Grande Templo de Aton
Reconstrução do Grande Templo de Atón em Amarna

Fonte EGIPTO. El mundo de los faraones. KÖNEMANN, 2004


Estilo Amarniano caracteriza-se por:

- vanguarda artística.

- muito naturalista - quebra com as regras anteriores da

solidez e imobilidade.

- as obras deste período têm maior fluidez e flexibilidade.

- escultura assume formas orgânicas e pouco

geométricas, que atingem por vezes aspectos de caricatura.

- os membros da família real são representados em cenas

da vida familiar.

- crânios alongados.
A escultura, nesta época, é colossal em relação directa com a arquitectura.
A escultura compacta dá lugar às estátuas cubo

Revoluciona o cânone e utiliza uma quadrícula de 22, alongando as figuras

Época de Amarna

Gosto pelas curvas nas figuras


Humanas.

Barrigas flácidas

Poses femininas também nos


homens

Humanas e naturalistas

Roupas transparentes e
plissadas
Na época de Tutankamon

Os cânones amarnianos na arte

-pescoço alongado
-barriga flácida
-colocação do saiote
-nariz direito
-pernas grandes
-rugas no pescoço e na barriga

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