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Formação do epistolário paulino

Formação
do epistolário
paulino
Coleções neotestamentárias

Na antiguidade era costume fazer coleções de cartas:


cf. as coletâneas de cartas de Platão, Aristóteles, Isócrates
Cícero, César, Plínio o jovem, Epicuro, Sêneca etc.
e provavelmente os primeiros documentos neotestamentários
a ser postos juntos, foram extamente as cartas de Paulo
Certamente o martírio de Paulo contribuiu para tornar veneráveis
aos olhos das comunidades paulinas (Schelkle)
mas foi provavelmente Paulo mesmo a pôr as bases
para a sucessiva conservação e coletânea das suas cartas
Em 1Ts 5,27 (na carta mais antiga!) Paulo mostra
como ele pedia de fazer leitura pública
das suas cartas
assim como na sinagoga se fazia com as Escrituras
«26Saudai todos os irmãos com o bejo santo
27Vos esconjuro, pelo Senhor,

que esta carta seja lida a todos os irmãos»


No NT o uso da leitura pública é atestado
também em Ef 3,4, Ap 1,3 e, sobretudo em Cl 4,16
(o verbo avnaginw,skw recorre 3 vezes num só versículo!)
onde Paulo ordena, até mesmo, um troca de cartas
entre as duas Igrejas de Colossas e de Laodiceia
A partir de Cl 4,16 se pode fazer também a hipótese
que para o intercâmbio se fizesse uma segunda cópia
E em todo caso aquele versículo diz que as cartas de Paulo,
mesmo se ocasionais e ligadas a circunstâncias únicas e irrepetíveis,
tinham valor também fora daquela situação
De ‘carta’ tendem portanto
a se tornar ‘epístolas’
«Cl 4,16 é uma primeira indicação que um carta a uma igreja
se tornaria uma carta-para-as-igrejas» (R.F. Collins)

Cl 4,15-16:
«15SSaudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja
que ela hospeda em sua casa.
16 E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai

por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos


de Laodicéia, lede-a igualmente perante vós»
A coletânea das cartas paulinas

A mais antiga menção de uma coletânea


(provavelmente não ainda completa)
de cartas paulinas se encontra em 2Pt 3,15-16:
«Como também o nosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu…
Assim ele faz em todas as cartas nas quais trata destas coisas»

Além disso, apresentando-se como segunda carta


(«Esta, ó caríssimos,
é já a segunda carta que vos escrevo…» 3,1)
a 2Pd fornece a prova também
para a coletânea de 2 cartas petrinas
Aprox. em 100 d.C., poranto, o autor de 2Pd
- chama Paulo ‘caro irmáo [= de Pedro]’
- atribui a ele uma particular sabdoria
- pressupõe que uma carta tenha sido escrita
aos mesmos destinatários de 2Pd
e que sejam conhecidas outras cartas recolhidas em coleção
- reconhece naquelas cartas textos difíceis de interpretar
e fácesi de ser deturpadas
- mas as coloca no mesmo plano das Escrituras (do AT)
A 1Clem em 95-96 d.C. apr. cita Rm, 1Cor, Hb
por um total de 3 cartas
Ignácio de Antioquia em 110 d.C. apr.
cita Rm, 1Cor, Ef, Cl, 1Ts
para um total de cinco cartas
Policarpo de Esmirna em 135 apr. cita Rm, 1-2Cor
Gl, Ef, Fl, 2Ts (e 1Ts?) talvez 1-2Tm
para um total de 10 cartas paulinas aproximadamente
Marcião em 140 apr. considera só 10 cartas paulinas
e portanto conhecia um número maior
e em 180 apr. o Cânon Muratoriano
elenca 13 das 14 cartas paulinas
faltando ao elenco somente Hb
A iniciativa de colecionar as cartas de Paulo

A iniciativa de recolher em coletânea os escritos de Paulo


deve ter sido iniciada numa das grande Igrejas paulinas
como Éfeso, Roma ou Corinto
Como no elenco do Cânon Muratoriano
as duas cartas aos Coríntios estão em primeiro lugar
alguns autores concluíram que a coletânea fora feita,
ou ao menos tivesse iniciado em em Corinto
J. Murphy-O’Connor fez a hipótese que a coletânea
remontasse ao próprio Paulo, o qual,
no momento de enviar uma carta,
Conservava junto a si uma cópia:
«Era habitual que o remetente
conservasse uma cópia da sua carta ...»
«... O autor podia ele mesmo escrever a cópia
(Ad familiares X, 26,1)
Mas normalemente ele incumbia ao secretário
de fazer a cópia
É exatamente isso que supõe Cícero quando ele repreende a um amigo
de fazer ele mesmo suas cópias (Ad familiares vii, 18,2)
Cópiass de toda a correspondência de Cícero
forma conservadas por Tiron
como se sabe a partir de uma carta a Atticus:
“Tu réclames ma lettre à Brutus
mais je n’en ai pas le double sous la main
Pourtant, il a bien été conservé
et Tiron affirme qu’il faut que tu l’aies”
(Ad Atticum xiii 6,3)»
Cartas perdidas

É certo que algumas cartas de Paulo se perderam


Deixam-no entender as cartas que sobreviveram:
«Vos escrevi na carta precedente
de não misturar-vos com os impudicos» (1Cor 5,9)
«Vos escrevi num momento de grande aflição
entre muitas lágrimas» (2Cor 2,4)
Cf. também 2Cor 7,8-13; 2Ts 2,1-2; 3,17; Cl 4,16
e, para a literatura joanina, 3Jo 9
FUSIÃO DE CARTAS

Não é impossível que,


com a finalidade de não se perderem,
cartas breves de Paulo
fossem incorporadas naquelas maiores
«No caso da 2Cor é difícil não supor um processo
redacional do tipo» (Schelkle)
O. Kuss define “digna de consideração”
a hipótese de 2Cor 10-13 como carta escrita por Paulo
depois de 1Cor e antes de 2Cor 1-9

A hipótese é frequentemente aplicata também a Fl.


Nestes casos é preciso concluir
que as cartas incorporadas foram ‘mutiladas’
ao menos no prescripto e na parte conclusiva com as saudações
À parte as considerações em contrário
feitas pelos que apoiam a análise retórica
também aqui as hipóteses ultrapassam toda medida:

W. Schmithals decompõe 7 cartas paulinas em outras 16

A este propósito O. Kuss ironizando escreve:


«Não é possível pensar que estas propostas
regidas por uma fé muito forte
se imponham»
CARTAS APÓCRIFAS

A menção de uma carta escrita a Laodiceia em Cl 4,16


deu origem à apócrifa “Carta a Laodiceia”
(M. Erbetta a coloca entre 160 e 190 d.C.)

E 1Cor 5,9 deu origem à apócrifa “3Cor”


que se encontra nos apócrifos Atos de Paulo vii, 3,1-40
(entre 100 e 200 d.C. segundo M. Erbetta)
No Cânon Muratoriano se menciona
uma carta “aos Alexandrinos”
No século IV foram compostas 14 cartas
que teriam sido trocadas entre
Sêneca (8 cartas) e Paulo (6 cartas)
Formação
do epistolário paulino

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