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CARTA AOS COLOSSENSES

A carta é o documento que celebra a reconciliação universal e cósmica operada por


Cristo por meio do sacrifício da cruz. A total doação de Cristo, depois do pecado de
Adão, possibilita o novo relacionamento entre o ser humano e Deus e realiza a derrota
de todas as potências celestes intermediárias que obstaculizam a vida humana e religiosa
nesse mundo. O fato de que nenhum outro poder celestial foi capaz de atuar nesse
maravilhoso plano de Deus chamado na carta de “mistério escondido” (1,26) significa
que Cristo é o Senhor universal que governa todas as coisas e o iniciador de uma nova
humanidade.
A carta apresenta o papel de Cristo na criação e na história e frisa a necessidade, por
parte do cristão, de participar dos sofrimentos de Jesus para alcançar, junto com ele, a
ressurreição (1,24).
A COMUNIDADE
A Igreja de Colossas, no sul da Frigia, não foi fundada por Paulo, mas por Epafras,
indicado por alguns elementos da carta.
- Paulo não é conhecido pessoalmente pela maioria dos membros da comunidade (2,1);
somente “ouve” acerca da vida de fé, esperança e caridade dos cristãos de Colossas
(1,4.9);
- Os fiéis foram instruídos na Palavra da verdade (1,5) por Epafras (1,7), “querido
companheiro” de Paulo e colossense de origem (4,12).
Trata-se de uma Igreja já embrionariamente organizada: os cristãos se reúnem na casa-
Igreja de Ninfa (4,15): entre eles está Arquipo, que tem um ministério particular (4,17).
Formada fundamentalmente por pagãos convertidos (1,27; 2,13), a comunidade tem em
suas fileiras judeus, que abraçaram a fé, entre os quais se destacam Aristarco, Marcos e
Jesus (4,10-11).
Epafras é o fundador da comunidade de Colossas e desenvolve também um papel de
liderança em relação aos fiéis das comunidades de Laodicéia e de Hierápolis
(4,13.15.16), que são pouco distantes (4,13). Paulo, que provavelmente visitou a Igreja
em sua segunda e terceira viagem (At 16,6; 18,23), pede que a carta enviada à Igreja de
Colossas seja também lida pelos cristãos de Laodicéia. Isso indica o profundo
relacionamento que existia entre os cristãos das várias comunidades, conscientes de
formar uma única Igreja.

A AUTENTICIDADE DA CARTA
A opinião comum reconhece a autoria paulina da carta. As motivações são as seguintes:
- A expressão “elementos do mundo” (Cl 2,8.20) se encontra também em Gl 4,3.9.
Nesse texto faz-se referência aos “deuses que na realidade não o são” (4,8), aos quais,
de certa forma, refere-se também a carta aos Colossenses (2,21-22).
- A epístola, que menciona Epafras (1,7; 4,12), Onésimo (4,9), Aristarco e Marcos (4,1),
Lucas e Demas (4,14), tem um parentesco estreito com a carta a Filêmon, cuja
autenticidade não pode ser colocada em dúvida.
- A situação de Paulo prisioneiro é semelhante à da carta a Filêmon, aos Efésios e
também à da carta aos Filipenses.
- Justifica-se a evidente evolução da linguagem paulina que se encontra na carta dizendo
que já em outras ocasiões Paulo se expressa com frases e termos diferentes dos
corriqueiros, como na carta aos Gálatas, em que o Apóstolo deve encarar o problema
dos judaizantes, até aquele momento desconhecido.
Estudos recentes colocam em dúvida a autenticidade da carta, frisando em particular o
estilo e a evolução dos conceitos teológicos.
O estilo
Seu estilo é diferente do das cartas anteriores e mais se assemelha ao da carta aos
Efésios:
- As frases são mais amplas.
- Há repetição de sinônimos numa mesma expressão, como indicam as frases “sabedoria
e discernimento espiritual” (1,9), “segundo a tradição dos homens, segundo os
elementos do mundo” (2,7).
- Usam-se verbos compostos com o prefixo “com”, em grego syn, isto é, cossepultados,
corressuscitados, covivificados (2,12-13), que nunca apareceram nas cartas paulinas.
- Há termos inéditos que têm um destaque particular na teologia da carta; “mistério”,
“plenitude”, “economia”, “autoridades”, “poderes”, “cabeça”, referindo-se a Cristo.
- Além disso, os autores notificam que se encontram na carta 34 neologismos e 86
termos que nunca apareceram nas outras cartas de segura autoria paulina.
- Há também um evidente influxo da literatura sapiencial e uma semelhança de estilo
com os documentos de Qumran.

Similiaridade com a carta aos Efésios


Dos 115 versículos de Efésios, 73 possuem paralelo exato em Colossenses. Um terço
das palavras de Colossenses estão em Efésios. Apenas três perícopes de Efésios não
possuem nenhum paralelo em Colossenses (Ef 2,6-9; 4,5-13; 5,29-33).
Os paralelos mais evidentes são:
Efésios Colossenses
1,6-7 = 1,13-14
1,15 = 1,9
2,1.5 = 2,13
2,15 = 2,14
3,1-13 = 1,14-29
4,15-19 = 2,19
4,22-24 = 3,9-10
5,6 = 3,6
Etc...

Evolução de conceitos teológicos


- Nunca se fala em “lei”, “justificação”, “pecado”, “libertação”, que são os clássicos
temas da teologia paulina.
- Desde já, Cristo é considerado Senhor universal, não sendo necessário aguardar a
Parusia (1Cor 15,24-28). Ele é o chefe não só da Igreja, mas também das potências
cósmicas e do universo.
- Destaca-se que a Igreja não é só o “corpo” de Cristo, mas “corpo” em relação à
“cabeça”, que é Cristo.
- O acento da carta recai sobre a salvação já realizada (3,1).
- Há uma certa idealização de Paulo indicada na frase de 1,24: “agora eu me regozijo
em meus sofrimentos por vós”, e que poderia ser atribuída aos discípulos do Apóstolo
numa época posterior.
- Em 4,18, frisa-se que aquele que escreveu não é Paulo, que só envia sua saudação.
Esse elemento, porém, não é muito significativo, porque se encontra também em 1Cor
16,21; Gl 6,11; 2Ts 3,17.
Todos esses motivos levam muitos autores modernos a pensar que é mais plausível que
a carta seja da escola paulina e não de autoria do Apóstolo. Optam, portanto, por sua
inautenticidade. Outros poucos tomam uma posição intermediária, aceitando uma
autenticidade parcial da carta.

Composição
Se a consideramos autêntica
Foi provavelmente escrita no cativeiro de Cesaréia (58-60 d.C.), onde Paulo estava
preso, esperando ser enviado para Roma para ser julgado pelo imperador (At 23.23-
26.33).
Exclui-se o cativeiro de Roma (61-64 d.C.), porque a cidade de Colossas, onde se
encontra a comunidade à qual Paulo se dirige, segundo as afirmações de Plínio, o
jovem, já havia sido destruída por um terremoto no ano 61 d.C. Com efeito, Colossas
não aparece na lista das cidades de Ap 2-3, em que se cita, ao contrário, a cidade pouco
distante de Laodicéia (Cl 4,13.15.16)
O cativeiro de Éfeso (55-57 d.C.), durante o qual Paulo provavelmente escreve a carta
aos Filipenses, não parece apto para a data da carta aos Colossenses. Não se deixa um
prazo de tempo suficiente para explicar o desenvolvimento do pensamento de Paulo,
embora a cidade, sendo mais próxima de Colossas, poderia ser mais facilmente
identificada como o lugar para onde Onésimo fugiu (4,9). Essa observação, porém, não
é decisiva, levando cm conta as alusões bastante vagas às doutrinas que perturbam os
colossenses. De longe. Paulo pode ter lido só uma ideia genérica dos acontecimentos.
Se não a consideramos autêntica
Foi provavelmente escrita por um discípulo nos anos 80-85 d.C

A CRISE
É apresentada principalmente em Cl 2,4-23. Os colossenses são enganados por
“argumentos capciosos” (2,4), escravizados “por vãs e enganosas especulações da
filosofia” (2,8). Circulam entre eles doutrinas humanas erradas, qualificadas como
“elementos do mundo” (2,8.20); não se trata de um pensamento específico e bem
organizado, próprio de um movimento religioso particular.
A prática básica difundida por essas doutrinas é o “culto dos anjos” (2,18), a veneração
de entidades cósmicas que controlam o curso dos astros e determinam o destino dos
homens. Elas ameaçam a vida humana, incutem medo, exigindo o respeito de
observâncias particulares. O texto usa vários nomes para indicar essas potências
espirituais: “tronos, soberanias, principados, autoridades” (1,16b; 2,15).
Como consequência dessa situação, os membros da comunidade de Colossas vivem na
alienação, apavorados e tristes, só preocupados em serem fiéis quer às prescrições
alimentícias e aos jejuns cobrados por estes seres celestes (***), quer às celebrações de
festas particulares, dando atenção às fases da lua e ao sábado (2,16), fazendo
mortificações exageradas (2,23), talvez até se abstendo do casamento. Paulo condena
essas práticas, destacando que elas têm só uma aparência de sabedoria: na realidade,
favorecem o orgulho humano e a satisfação carnal, desviando a atenção do próprio
Cristo.
Como se pode perceber, o erro da Igreja de Colossas é, com toda probabilidade, o do
sincretismo religioso. Os cristãos da comunidade procuram experiências religiosas
extravagantes e excêntricas, com variadas práticas ascéticas. A verdade do evangelho
parece coisa marginal. Desejando um conhecimento superior que vai além da própria
sabedoria do evangelho (2,3), buscando uma “plenitude” misteriosa (1,19), sem recorrer
a Cristo, provavelmente questionam também a eficácia salvífica do mistério da cruz
(2,9.13; 3,13). Tendo perdido o sentido profundo da verdade do evangelho, multiplicam
os ritos religiosos, sem conseguir preencher o vazio do coração. A carta está toda
voltada a resolver essa questão do culto aos seres celestiais, sem apresentar nenhum
problema pessoal dos membros da comunidade nem rivalidades internas, como
normalmente acontece nas outras cartas.
A situação que se verifica em Colossas é determinada por várias influências culturais
misturadas entre si. Em primeiro lugar, há o influxo dos cultos pagãos da natureza,
como o de Cibele, o de Iside, o de Dioniso, o de Apoio, o de Esculápio, bastante
difundidos na época cristã. No desvio de Colossas não se pode, porém, excluir uma
influência judaica. Com efeito, na carta frisa-se a importância do sábado (2,16), da
circuncisão (2,13), dos anjos, que no desenvolvimento da angelologia extrabíblica
ocupam um lugar intermédio entre Deus, inacessível, e o homem. Também a pré-gnose,
que atua no Oriente Médio, como indicam os textos da comunidade de Qumran, pode
ter influído na Igreja de Colossas, em que se faz uso frequente da linguagem sapiencial.
frisando a importância da “sabedoria” (1,28: 2,3), do “conhecimento” (1,9.10; 2,2). da
“compreensão” (1,28; 2,2).

CONTEÚDO DA CARTA
O elemento central da carta é a afirmação do primado de Cristo na criação e na história.
Ele é o primogênito da criação e o primogênito dos mortos, a primeira e a última letra
do alfabeto, o alfa e o ômega de todas as coisas. E o único Senhor que reconcilia com
Deus todos os seres da terra e do céu pelo sangue derramado na cruz (1,15-20). E o
triunfador que denota todas as entidades intermediárias que governam o universo e o
mundo religioso antigo, “expondo-as cm espetáculo e levando-as em cortejo triunfal”
(2,15).
Como vencedor, Cristo prega na cruz o “quirógrafo”, imposto ao ser humano por essas
potências angélicas e astrais (2,14). Trata-se do “título de dívida” referente às
pretensões legais e às observâncias que devem ser obrigatoriamente cumpridas pelos
homens. Esse comprovante da dívida, que condena o ser humano inadimplente, pode se
identificar também com os preceitos da lei mosaica. Cristo, no evento pascal, determina
o fim dessa escravidão suprimindo tal documento, despojando assim as forças angelicais
interpostas de seu poder sobre os homens. E por isso que o acontecimento pascal é
apresentado como o triunfo do rei e de seus aliados sobre os inimigos.
A carta torna-se, portanto, uma mensagem de libertação de todos os falsos senhores que
imperam neste mundo, que ocupam (ou parecem ocupar) uma posição intermediária
entre os homens e Deus, comprometendo a qualidade da existência humana, obrigando a
viver na alienação. Derrotando as potências celestiais, Cristo desmascara e vence
também todos os falsos poderes mundanos que criam estruturas opressoras que
instrumentalizam o ser humano.
A carta celebra, assim, o otimismo cristão, alicerçado na convicção do senhorio
universal do Cristo, que tira o homem de toda escravidão, restituindo-lhe dignidade e
paz verdadeira. O cristão, unido ao Cristo pelo batismo (3,9), já participa da vitória da
cruz e assim é arrancado de toda falsa dependência. Com a declaração do papel cósmico
de Cristo, a carta também ajuda o cristão a viver como pessoa responsável, sem se
deixar influenciar por falsas idéias e crenças contrárias à fé, livre de qualquer medo ou
insegurança em relação ao futuro.
DIVISÃO DA CARTA
4 ESQUEMA da carta
• Endereço (1,1-2)
• Agradecimento (1.3-12)
• Introdução ao hino (v. 12-14)
• Parti-: dogmática (1.15-2,23)
— Hino (1.15-20): Cristo, princípio da criação e da redenção.
— A situação da Igreja de Colossas e as provações de Paulo no serviço dos gentios
(1.21-2,3).
— Os erros dos colossenses (2.4-23).
• Parte parenética (3,1-4,6)
— A união do cristão com Cristo ressuscitado (3,1-4).
— Do homem velho para o homem novo (3.5-17).
— A moral doméstica (3.18-4,1).
— Exortações várias (4,2-6).
• Notícias pessoais (4.7-9)
• Saudações e votos finais (4.10-18)

TEMAS
O primado de Cristo na criação e na história
O hino (1,15-20) que celebra o primado universal e definitivo de Cristo divide-se em
duas estrofes (15a-18a; 18b-20). Seu contexto original é litúrgico, sem poder precisar
ser batismal ou eucarístico.
Cristo é qualificado como:
- “imagem do Deus invisível” (manifestação do próprio Deus). No pensamento dos
antigos, a imagem, embora distinta, participa da realidade de seu arquétipo. Cristo tem,
portanto, uma função reveladora, sendo o “rosto histórico” de Deus e participando ao
mesmo tempo da dimensão transcendente do Altíssimo.
- Como “primogênito de toda criatura”, desenvolve uma função mediadora na criação.
O termo “primogênito” indica sua primazia a respeito de todos os seres visíveis e
invisíveis (Sir 1,4; 24,9), sua dignidade, seu influxo e senhorio sobre toda a realidade.
Esta leva em si o vestígio do Cristo, assim como no Antigo Testamento a Sabedoria
deixa seu selo em toda a realidade criada (Pr 8,22-31). Tudo é criado por Cristo e tudo
“subsiste” nele. Cristo tem, pois, um papel também na obra de conservação da criação,
desempenhando a atividade pertencente a Deus (Hb 1,3). O texto frisa sua preeminência
absoluta sobre todas as coisas e sua igualdade com Deus.
- Como “primogênito dos mortos”, Cristo é o primeiro ressuscitado de uma série que
vem depois dele, tornando-se o princípio de toda redenção. Destaca-se, assim, que, com
sua ressurreição, começa a glorificação de toda a realidade, quer da humanidade quer da
natureza criada. Nas duas seções do hino, junto com o termo “primogênito”, que
aparece duas vezes (v. 16.18), se encontram também outros termos que se repetem,
estabelecendo-se entre eles certo paralelismo. Quer no âmbito da criação, quer no da
redenção, tudo se realiza “nele”, “por ele” e “para ele” (1,16.19-20). Isso significa que
Cristo é o alicerce de todas as coisas, o suporte que sustenta toda a realidade (“nele”),
“pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude” (v. 19). É também a causa e a
fonte da criação e da redenção, o instrumento por meio do qual Deus atua no universo
(“por ele”), assim como é a meta final para a qual aponta toda a realidade (“para ele”).
Cristo é o salvador cósmico, aquele que reconcilia em seu sangue todas as coisas (1,20),
o ponto de início e de chegada de toda a história e de toda a criação. Com uma só
palavra, poder-se-ia dizer que Cristo dá unidade e sentido a todo o universo, sobre o
qual detém um domínio universal, sendo o princípio e o gerador da reconciliação e da
paz universal.
O mesmo se lê em Efésios quando se reza para que os cristãos compreendam “qual é a
largura e o comprimento e a altura e a profundidade e conheçam o amor de Cristo, que
excede todo conhecimento”, para serem “plenificados com toda a plenitude de Deus”
(Ef 3,18-19).
- Jesus é aquele no qual “se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento” (2,3). Utilizando um tema sapiencial, o texto lembra que Cristo é a
sabedoria infinita e inesgotável de Deus que sempre mais deve ser conhecida e amada
pelos cristãos, representando o próprio “mistério de Deus” entre nós. que vai além de
nosso entendimento e de nossa compreensão.
- Jesus é aquele no qual “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (2,9).
Essa expressão, já de certo modo antecipada em 1,19, onde se salienta que “nele
aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude”, refere-se ao corpo ressuscitado de Cristo
e significa que este é, por excelência, o sacrário onde habita toda a riqueza da vida
divina, que santifica todos os seres.
Na carta encontram duas novas categorias paulinas que têm clara relação com a
cristologia:
- a de “mistério” (1,26.27; 2,2), isto é, do projeto salvífico universal de Deus, que se
realiza por meio do Cristo c que atinge cada homem que se abre à fé.
- a de “cabeça da Igreja, que é o seu corpo” (1,18; 2,10.19). O termo “cabeça” refere-se
a Cristo; significa não uma parte do corpo em relação a outra, mas o centro motor de
todo o organismo vivente, o cérebro. O Cristo cm relação à Igreja é, pois, aquele que
exercita o seu influxo vital em todos os membros. Sua pessoa, unida à Igreja, forma o
Cristo total, a comunhão dos santos. A relação especial que Cristo tem com sua Igreja
não se limita a ela; abrange o universo todo. ao qual pertencem “tronos, soberanias,
principados e autoridades”, o que significa que também o universo redimido faz parte
do Cristo total.

Eclesiologia
Embora o autor use também a imagem do “corpo” que se encontra cm 1Cor 12,27 para
indicar a realidade da Igreja, ele a entende de maneira diferente (1,18; 2,19). Frisa a
relação do “corpo” com a “cabeça” não mais considerando o “corpo” em si mesmo.
Predomina, assim, a dimensão “alto/baixo”: Cristo, situado “acima” da Igreja, atua
constantemente nela. Quase desaparece a temática do corpo eclesial que amadurece no
tempo até o momento escatológico.
No texto nomeia-se explicitamente o batismo (2,12) como o sacramento que une o fiel a
Cristo, implicando a sepultura, a ressurreição e a vivificação com ele (v. 12-13). No
sacramento realiza-se, portanto, uma solidariedade pessoal do batizado com Jesus
salvador. Assim, as realidades escatológicas se tornam presentes na Igreja desde já e o
cristão já é ressuscitado com Cristo, já está assentado no trono de glória: “Se, pois,
ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita
de Deus” (2,12; 3,1). Isso indica um aprofundamento do pensamento paulino, que, até o
tempo da redação da carta aos Colossenses, considera a ressurreição como um evento
futuro (1Cor 15,52; F1 3,20), realçando só em Fl 1,23, sem utilizar a categoria da
ressurreição, que o “estar com Cristo” começa com a própria morte.
Se na carta predomina a imagem de Igreja universal, está também presente a realidade
das Igrejas particulares. Fala-se em 4,15 da “Igreja que se reúne em casa de Ninfas”, da
“Igreja da Laodicéia”, assim como a expressão “os santos que estão em Colossas”
refere-se à Igreja particular (1,2). Na carta realiza-se. assim, um bom equilíbrio entre a
consideração da Igreja como um todo c suas realizações particulares. A Igreja universal
se realiza e se manifesta, portanto, nas Igrejas particulares.

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