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A importância da política industrial nas alterações climáticas
Em primeiro lugar, antes de se perceber que política deve ser essa, é necessário
perceber por que razão é necessária uma política industrial virada para as questões
ambientais. No geral, as empresas não têm um interesse natural na implementação de
políticas inovação e processos produtivos ambientalmente sustentáveis, apesar de o nosso
futuro coletivo, a nossa qualidade de vida e a nossa própria sobrevivência disso
dependerem. O seu verdadeiro interesse será o lucro imediato ao menor custo possível,
estando por natureza focadas no curto e médio prazo, para satisfação dos interesses dos
seus acionistas. Falamos de empresas privadas. Se as empresas de facto tivessem interesse
em fazer inovação produtiva para a construção de uma indústria verde, não seriam
necessários incentivos governamentais para que tal aconteça.
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apenas sob o ponto de vista ambiental, mas também sob uma perspetiva económica.
Grande parte dos autores do final do séc. XX, início do séc. XXI demonstram através de
estudos quantitativos e modelos econométricos, que o impacto do aquecimento global na
riqueza mundial será negativo e em quase todos os casos, atingiria mais fortemente os
continentes Africano e Asiático, tal como se pode observar pela tabela abaixo. Regiões
como Africa, que são das que menos contribuem para a existência deste problema, são
das mais afetadas pelas suas consequências. Desta forma, começa-se a notar também uma
certa injustiça e desigualdade na distribuição natural dos danos provocados pelas
alterações climáticas, que naturalmente terá, de alguma forma, de ser corrigida e/ou
compensada.
Com uma visão ainda mais enfática, Stern estima que os efeitos do aquecimento
global afetariam em 12% o PIB global, enquanto a sua mitigação teria um efeito
negativo de apenas 1%.
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migrações em massa poderão gerar mais crises de refugiados, mais crises económicas,
perda de competitividade dos países e conflitos sociais maiores.
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mesmo que pouca, influência a nível mundial. Assim, seria não só importante que
houvesse uma mediação por parte das instituições nas diferentes vontades, interesses e
perspetivas dos países no mundo no combate às alterações climáticas, como seria também
muito importante que entre as diferentes instituições internacionais houvesse uma
estratégia comum de organização e mediação, por forma a que eventuais conflitos de
interesses não fossem tratados como meros jogos de poder em que cada país terá um
conjunto de instituições do seu lado e outro terá outro conjunto de instituições do seu.
Existem várias teorias e diferentes modelos no que diz respeito aos valores em que
necessitamos de reduzir as emissões de carbono para a atmosfera. Esses valores não
variam apenas de autor para autor, de organização para organização, mas também ao
longo do tempo. Independentemente de os valores serem mais ou menos elevados, a
principal questão não será tanto saber especificamente e com a maior unanimidade
possível quanto teremos de reduzir as emissões para salvar o planeta, mas sim de que
forma conseguiremos reduzir significativamente essas emissões.
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alterar o seu modelo de desenvolvimento, adotando estratégias de desenvolvimento
industrial assentes na inovação de processo produtivo para formas de produção
ambientalmente mais sustentáveis. Essas ferramentas, ou instrumentos, como mencionei,
traduzem-se essencialmente em mecanismos de adaptação da indústria e da economia do
país. Alguns exemplos destas adaptações poderão ser, por exemplo: a substituição de
viaturas de mobilidade coletiva a gasóleo e gasolina para viaturas movidas a gás (numa
solução transitória)1 e movidas a eletricidade e a hidrogénio (numa solução mais
definitiva); a instalação massiva de painéis solares, que seria bastante importante num
país como Portugal, que é o país da Europa com mais horas de sol e o que,
simultaneamente, menos as aproveita para a produção de energia; ou a promoção, por
parte do estado, da construção ou atração de empresas que produzam maquinaria
industrial que funcione à base de energias renováveis. Estes exemplos têm consequências
positivas não apenas para o ambiente como para a própria economia, dado o grau de
inovação e eficiência que poderá ser possível criar com estes processos.
Portanto, como vimos, apesar de não ser algo que possa ser feito num curto-médio
prazo, é perfeitamente possível, com alguma vontade política, estratégia e investimento,
alterar de forma estruturada o modelo de desenvolvimento industrial de um país por forma
a torná-lo ambientalmente sustentável, numa economia já ela desenvolvida. Mais
complexo e trabalhoso será fazê-lo numa economia não desenvolvida ou muito pouco
desenvolvida.
1 Tratar-se-ia de uma solução transitória uma vez que o gás natural não é considerado uma energia
ambientalmente sustentável, no entanto, a sua emissão na atmosfera tem impactos negativos
significativamente inferiores relativamente aos gazes emitidos por combustíveis derivados do petróleo
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o menor custo que estes apresentam. Desta forma, até que seja atingido o ponto de
inflexão da relação Poluição-Crescimento, a utilização de métodos de produção deste tipo
continuará a existir e o país continuará a crescer economicamente. No entanto, a partir de
determinado momento, o país entrará numa fase de desenvolvimento diferente, na qual o
seu crescimento económico se formará com base em indústrias mais inovadoras, com
métodos de produção mais sustentáveis e com uma maior terciarização da economia.
Portanto, a teoria de Kuznets pressupõe que na fase inicial a indústria tem de ser
poluente e só depois pode ter processos de inovação para formas de produção menos
degradadoras do ambiente. Mas e se não tiver de ser assim? E se um país com uma
economia assente na agricultura, para se desenvolver (naturalmente precisa de
desenvolver indústria de raiz) não precisar de tecnologia obsoleta e ultrapassada que
polua? Se a tecnologia que já está a ser desenvolvida permite produzir de forma eficiente
e simultaneamente sustentável sob o ponto de vista ambiental, seria preferível adquiri à
priori essa tecnologia. Ora, para tal, seria necessário que esses países, que não estando
numa fase avançada de desenvolvimento poderão não ter os recursos necessários para
adquirir esses equipamentos, fossem auxiliados por países que já se encontram nesta fase.
Se essa tecnologia menos poluente for mais cara, os países desenvolvidos poderiam
auxiliar os menos desenvolvidos a adquirir essa tecnologia. Mas nem todos os países
desenvolvidos estarão disponíveis para fazer isso, portanto, entramos num impasse. Se
por um lado “deixamos” esse país adquirir tecnologia poluente para a sua industrialização,
estamos a regredir na questão ambiental, se por outro lado confiarmos na bondade dos
países desenvolvidos em ajudar esse país podemos estar a ser ingénuos. Neste ponto as
instituições internacionais teriam um papel importante a desemprenhar.
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mais sustentável, como para contribuírem assim para a redução das emissões. Estamos
perante uma falha de mercado. Desta forma, e como seria de esperar face a uma falha de
mercado, o Estado terá de intervir. Mas neste caso não se trata apenas de um Estado.
Trata-se de um conjunto de organizações internacionais com legitimidade, reconhecidas
pela esmagadora maioria dos países, que poderia intervir por forma definir regras e
estratégias comuns, organizar essa partilha de recursos, como é o caso da informação, e
definir objetivos claros e coletivos relativamente ao desenvolvimento desses países e às
metas climáticas a atingir.
Diversificação Energética
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países com menos capacidade solar instalada, apresentando-se em 19º lugar,
comparativamente com outros países Europeus com menos horas de sol. Estes dados 2
revelam um enorme desperdício de uma fonte renovável - o sol, que poderia estar a ser
utilizada para abastecer o mercado interno da energia e até para a exportar.
Conclusão
Em suma, a política industrial deverá ter um papel fundamental no combate às
alterações climáticas. Mas esse papel só poderá ser desempenhado de forma eficaz se essa
política for definida com acordos e tratados internacionais. Não é possível fazer face a
um problema que a todos diz respeito e que a todos irá influenciar, mesmo que de
diferentes formas e a diferentes escalas, sem uma união de esforços em torno de objetivos
comuns definidos conjuntamente.
Naudé, W. (2011). Climate change and industrial policy. Sustainability, 3(7), 1003-1021;
Pianta, M., & Lucchese, M. (2020). Rethinking the European Green Deal: An industrial
policy for a just transition in Europe. Review of Radical Political Economics, 52(4), 633-
641;
Anzolin, G., & Lebdioui, A. (2021). Three dimensions of green industrial policy in the
context of climate change and sustainable development. The European Journal of
Development Research, 33(2), 371-405;
Statistical Review of Wolrd Energy; BP; Solargis;
https://unric.org/pt/Objetivos-de-Desenvolvimento-Sustentavel/
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