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Lágrimas de crocodilo: comportamentos faciais, verbais e de linguagem corporal

associados ao remorso genuíno e fabricado


Autores: Leanne ten Brinke, Sarah MacDonald, Stephen Porter e Brian O’Connor (adaptado)

Abstract: O engano emocional é um comportamento comum que pode ter grandes consequências
se não for detectado. Por exemplo, a sinceridade do remorso expresso de um infrator é um fator importante
nas audiências de sentença e liberdade condicional. O presente estudo foi o primeiro a investigar a natureza
do remorso verdadeiro e falso. Examinamos comportamentos faciais, verbais e de linguagem corporal
associados ao engano emocional em relatos gravados em vídeo de verdadeiras transgressões pessoais
acompanhadas de remorso genuíno ou falsificado. Análises de quase 300.000 quadros indicaram que
descrições de remorso falsificado estavam associadas a uma maior gama de expressões emocionais. Além
disso, análises sequenciais revelaram que as emoções negativas eram mais comumente seguidas por
outras emoções – em vez de um retorno à emoção neutra – em remorso falsificado versus sincero. Os
participantes também exibiram mais hesitações na fala enquanto expressavam remorso falso em relação ao
remorso genuíno. Em geral, os resultados sugerem que o remorso falsificado pode ser concebido como uma
exibição emocionalmente turbulenta de expressões deliberadas e falsificadas e vazamento emocional
involuntário, genuíno. Essas descobertas são relevantes para juízes e membros do conselho de liberdade
condicional que consideram o remorso genuíno um fator importante nas decisões de sentença e libertação.

O engano é um aspecto comum da interação social humana. As pessoas admitem usar o engano
em 14% dos e-mails, 27% das interações face a face e 37% dos telefonemas (Hancock, 2007), e mentem
duas vezes por dia, em média (DePaulo, Kashy, Kirkendol, Wyer, & Epstein, 1996). Embora esses atos de
engano sejam tipicamente pequenas mentiras brancas e de pouca consequência (DePaulo et al., 1996),
mentiras acompanhadas de emoções poderosas e falsas demonstrações emocionais podem ter grandes
consequências em nível individual e social. Por exemplo, em audiências de sentença e liberdade
condicional, a presença de remorso é um fator importante na tomada de decisões; A credibilidade percebida
da emoção de um réu durante seu depoimento informa as decisões finais relativas ao seu futuro. Na
ausência de remorso genuíno, um agressor pode ser altamente motivado a fingir arrependimento por suas
ações, e o juiz, júri ou membro do conselho de liberdade condicional pode ser igualmente motivado a
detectar "lágrimas de crocodilo". Nas decisões de condenação, os juízes são instruídos a considerar "a
idade da vítima, a duração e a frequência dos [crimes], os antecedentes criminais do agressor, os efeitos
sobre a vítima e a presença ou ausência de (...) remorso'' (R. v. B., 1990; R. v. W.W.M., 2006). Ao avaliar o
remorso, os juízes costumam se referir ao comportamento do réu: "As respostas do recorrente às perguntas
que lhe foram feitas e seu comportamento mostraram que sua principal preocupação era consigo mesmo
(...) Eu esperaria alguma demonstração de sofrimento ou angústia por ter estuprado uma jovem
anteriormente casta. O recorrente não apresentava tais sinais" (Balkissoon v. Canada (Citizenship and
Immigration), 2001). Por outro lado, os réus que retratam remorso por suas ações são considerados bons
candidatos para tratamento e reabilitação: "O remorso, a culpa e a vergonha [do réu] devem fornecer-lhe
uma forte motivação para trabalhar em mudanças que previnam futuros atos de violência" (R. v. Struve,
2007). É claro que impressões de remorso, baseadas no comportamento, podem influenciar a duração da
pena de um infrator.

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O nível aparente de remorso também é uma importante consideração quando um infrator é elegível
para liberdade condicional. Um objetivo primário de uma entrevista de liberdade condicional é proporcionar
ao infrator a oportunidade de mostrar ao conselho de liberdade condicional que sua atitude mudou desde
que chegou à prisão (Ruback & Hopper, 1986). Se um infrator demonstrar remorso durante a entrevista, os
membros do conselho de liberdade condicional podem tomar isso como uma indicação positiva de que o
infrator está preparado para a reintegração na comunidade. No entanto, é claro que muitas decisões não
são bem-informadas e liberações arriscadas podem ocorrer quando os infratores manipulam os tomadores
de decisão em liberdade condicional. Ruback e Hopper (1986) investigaram julgamentos feitos por membros
do conselho de liberdade condicional sobre o sucesso dos infratores na liberdade condicional antes e depois
de uma entrevista com os candidatos à liberdade condicional. Antes da entrevista, os conselheiros tiveram
acesso aos prontuários dos infratores, detalhando todas as informações relevantes necessárias para tomar
uma decisão sobre a soltura dos infratores. Durante a entrevista, os membros do conselho de liberdade
condicional obtiveram informações sobre a atitude do agressor e o aparente nível de remorso. Os resultados
indicaram que as decisões tomadas pelos conselheiros se tornaram menos precisas na previsão do sucesso
dos infratores após a liberação subsequente, em relação aos seus julgamentos baseados apenas nas
informações do arquivo. Curiosamente, isso indica que o contato face a face com o infrator prejudicou os
julgamentos dos oficiais de liberdade condicional, de modo que os infratores de alto risco foram mais
frequentemente libertados. Da mesma forma, Porter, ten Brinke, e Wilson (2009) exploraram a probabilidade
de libertação dos infratores em função de seu nível de psicopatia. Os infratores psicopatas, conhecidos por
sua falta de remorso e capacidade de encantar e manipular os outros, tinham aproximadamente 2,5 vezes
mais chances de receber liberdade condicional em comparação com os não psicopatas. Assim como nas
descobertas de Ruback e Hopper (1986), uma explicação é que os tomadores de decisão foram enganados
por infratores durante suas entrevistas, persuadidos por falsas demonstrações de remorso.

Mas o que é remorso? A maioria de nós – salvo psicopatas – sente remorso por algo que fizemos a
outra pessoa (por exemplo, trair nosso parceiro, mentir para nossos pais). No entanto, quase não há
pesquisas psicológicas sobre a manifestação de expressões faciais emocionais durante essa experiência
humana comum (cf. Keltner e Buswell, 1996). O remorso, ou culpa, é definido como o sentimento negativo
resultante da violação dos padrões morais de alguém, e pode surgir de situações como mentir, negligenciar
um amigo ou membro da família, trapacear ou falhar em um determinado dever (Keltner & Buswell, 1996;
Tangney e Dearing, 2002). O sentimento de culpa ocorre particularmente em ocupações em que a ação
lamentável era controlável pelo transgressor (Tracy e Robins, 2006). Embora Izard (1977) e Keltner e
Buswell (1996) sugiram que uma única expressão universal não representa remorso, nenhuma investigação
empírica até o momento considerou examinar a combinação de expressões emocionais universais
associadas a esse estado afetivo. Além disso, nenhum estudo examinou as potenciais diferenças de
expressão emocional entre remorso genuíno e fabricado, refletindo a escassez de pesquisas em torno de
ideias coloquiais sobre engano emocional de forma mais geral (Porter & ten Brinke, 2010). A questão de
saber se as "lágrimas de crocodilo" são identificáveis não recebeu atenção empírica.

Teoria e pesquisa sugerem que existem várias pistas comportamentais associadas ao engano (ver
Porter & ten Brinke, 2010). Em teoria, a apresentação de mentirosos e contadores da verdade deve diferir
por causa da elevada excitação, carga de cognitiva e controle comportamental envolvidos na fabricação de
um relato ou sentimentos pessoais (Vrij, 2008). O mentiroso é forçado a evitar trair o engano, controlando

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seus sentimentos de culpa ou excitação, monitorando suas palavras e mantendo a história direta, enquanto
fornece detalhes suficientes para parecer crível, mas não tanto a ponto de levar a uma falha em lembrar e
manter os detalhes falsificados. Ao contar a história, o mentiroso deve monitorar suas expressões faciais (às
vezes tendo que esconder ou falsificar uma emoção) e linguagem corporal. Essa necessária "multitarefa"
deve reduzir o nível de controle consciente que o mentiroso tem sobre cada canal comportamental e
aumentar a quantidade de "vazamento" relativo a um ou outro(s), dependendo do local onde ele está
dedicando graus relativos de esforço (Porter & ten Brinke, 2010).

DICAS FACIAIS PARA ENGANAR EMOCIONALMENTE

Dado que o rosto é o foco principal durante a interação interpessoal, um mentiroso sábio pode
dedicar atenção especial ao controle de sua expressão facial. Nós "lemos" rostos para decidir se um
estranho é amigo ou inimigo, fazemos avaliações de personalidade e informamos o curso de nossas
interações (Fowler, Lilienfeld & Patrick, 2009; ten Brinke & Porter, 2009; Willis & Todorov, 2006). Assim,
indivíduos enganadores devem manter sua duplicidade, falsificando expressões emocionais concordantes
com a mentira e suprimindo o "vazamento" de suas verdadeiras emoções (Ekman & Friesen, 1975). Por
exemplo, um funcionário enganador deve expressar de forma convincente tristeza ao explicar ao seu chefe
que precisará faltar ao trabalho para comparecer ao funeral de sua tia fora da cidade, ao mesmo tempo em
que suprime a empolgação com seus planos reais de estender as férias com os amigos. Dada a
musculatura complexa da face e a pesada carga cognitiva associada a tal tarefa, não é surpreendente que a
expressão de emoções genuínas e falsificadas possa ser perceptivelmente diferente.

As falsas expressões faciais foram estudadas pela primeira vez no século XIX por Duchenne
(1862/1990), que examinou as ações musculares associadas a sorrisos reais e falsos. Usando a
estimulação elétrica dos músculos faciais, ele observou que uma expressão genuína de felicidade envolve
não apenas a contração do músculo zigomático maior, que transforma os cantos da boca em um sorriso,
mas também o orbicular dos olhos, que cria pés de galinha ao redor do olho. Essa observação foi
posteriormente validada por Ekman, Davidson e Friesen (1990). Um seguidor da obra de Duchenne, Darwin
(1872) observou mais tarde: "Um homem quando moderadamente zangado, ou mesmo quando enfurecido,
pode comandar os movimentos de seu corpo, mas... os músculos da face que são menos obedientes à
vontade, às vezes traem sozinhos uma emoção leve e passageira" (p. 79). Ele propôs que algumas ações
faciais associadas a fortes emoções não podem ser inibidas voluntariamente e que as mesmas ações
musculares não podem ser engajadas voluntariamente durante a simulação emocional. Implícita nessa
afirmação está a sugestão de que o vazamento da verdadeira emoção será proporcional à intensidade da
emoção sentida. Coletivamente, essas afirmações formam a hipótese de inibição (Ekman, 2003a). As
microexpressões – uma derivação da ideia de Darwin – são definidas como fugas de curta duração da
verdadeira emoção de alguém manifestadas como uma expressão emocional que dura de 1/25 a 1/5 de
segundo (Ekman, 1992; ver também Haggard & Isaacs, 1966). Apesar da popularidade das hipóteses de
Darwin e Ekman, poucas pesquisas foram conduzidas para fundamentar essas ideias.

Em um exame direto da hipótese de Darwin (1872), Porter e Ten Brinke (2008) investigaram a
natureza das expressões faciais que acompanham quatro tipos de emoções universais falsificadas ou
codificadas: felicidade, tristeza, medo e nojo. Os participantes visualizaram imagens emocionais poderosas,
respondendo com uma expressão genuína ou convincente, mas falsa, enquanto eram julgados por um
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observador. Expressões falsas, em resposta a imagens emocionalmente provocativas, eram simuladas
(uma emoção não sentida era expressa) ou mascaradas (uma expressão falsa substituía a da emoção
sentida). Quando as 697 expressões filmadas foram exaustivamente analisadas (cada quadro de 1/30
segundo para mais de 100.000 quadros), o vazamento involuntário foi encontrado para ser onipresente.
Nenhum participante foi capaz de falsificar cada emoção sem tais traições em pelo menos uma ocasião. O
vazamento emocional foi significativamente mais provável de ocorrer, e durou mais tempo, em expressões
mascaradas do que genuínas. No entanto, a presença e a duração do vazamento emocional não foram
significativamente diferentes entre as expressões emocionais genuínas e simuladas. Em geral, as emoções
negativas (tristeza, medo, nojo) foram mais difíceis de falsificar do que as positivas (felicidade), e resultaram
em maior vazamento emocional. Apesar da presença desses indicadores, os juízes tiveram um
desempenho apenas ligeiramente acima do acaso ao tentar discriminar expressões genuínas e falsificadas
(ver também Hess & Kleck, 1994). Estudos anteriores também encontraram diferenças na duração, início e
tempo de compensação entre expressões genuínas e falsas de felicidade e nojo (por exemplo, Frank,
Ekman, & Friesen, 2005; Hess & Kleck, 1990). Embora nenhuma pesquisa até o momento tenha examinado
possíveis diferenças sequenciais em exibições emocionais genuínas versus enganosas, pode-se inferir que
as emoções relacionadas ao ato de enganar poderiam seguir expressões falsificadas. Por exemplo, Ekman
(1992) observou que os enganadores podem não antecipar a intensidade das emoções relacionadas ao ato
de mentir, resultando em sinais de vergonha ou prazer enganador no rosto após emoções falsificadas.

DICAS PARA ENGANAR DE LINGUAGEM CORPORAL E VERBAL

Evidências empíricas sugerem que pode haver valor em atender a pistas verbais na captura de
mentiras emocionais, como narrativas de remorso (por exemplo, Porter & Yuille, 1995; Vrij, 2008). A ampla
literatura sobre engano sugere que, em relação aos contadores da verdade, os mentirosos são mais
propensos a falar mais lentamente e fornecer menos detalhes (DePaulo et al., 2003; Porter, Yuille, &
Lehman, 1999). Mentirosos também são mais propensos a hesitar, incluindo mais 'hums' e 'ers' em suas
histórias em relação a indivíduos genuínos (DePaulo et al., 2003; Vrij, 2008). Além disso, padrões
linguísticos podem fornecer indícios de fala desonesta (Hancock, Curry, Goorha, & Woodworth, 2008). A
pesquisa em que os participantes escreveram sobre seus pontos de vista sobre tópicos pessoalmente
significativos (por exemplo, aborto) indicou que narrativas enganosas e verdadeiras foram discriminadas
com uma precisão média de 67% com base apenas em características linguísticas (Newman, Pennebaker,
Berry, & Richards, 2003). Especificamente, os mentirosos tendiam a usar menos pronomes de primeira
pessoa e usavam referências a outros.

A literatura existente comprova que também existem associações entre linguagem corporal e
engano. (2003) constataram que a redução no uso de ilustradores estava entre os indicadores mais
poderosos de engano. Outros indicadores empiricamente suportados incluem um aumento nas
automanipulações e na taxa de piscar (especificamente durante o mascaramento emocional) (Porter,
Doucette, Earle, & MacNeil, 2008; Porter & dez Brinke, 2008). Embora a aversão ao olhar seja amplamente
considerada como uma pista confiável para o engano, ela não encontrou apoio empírico (Global Deception
Research Team, 2006). Na verdade, o contrário pode ser verdadeiro; mentirosos podem fazer maior contato
visual do que os contadores da verdade em uma tentativa consciente de parecer convincente (Vrij, 2008).

O PRESENTE ESTUDO
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O presente estudo investigou possíveis pistas faciais, verbais e de linguagem corporal para o
engano em descrições de verdadeiras transgressões autobiográficas associadas a remorsos genuínos e
falsificados. Esperava-se que diferenças na presença e duração das expressões emocionais ocorressem
quando os participantes descreviam seus sentimentos genuínos versus seus sentimentos enganosos de
remorso (ou seja, quando os participantes diziam: ''Eu me senti realmente culpado'', ou algo semelhante).

HIPÓTESE 1: Esperava-se que a presença de tristeza dominasse as descrições genuínas em


relação às descrições enganosas dos sentimentos. Já se esperava que descrições enganosas de emoção
sentida, fossem caracterizadas pela presença de várias expressões emocionais discordantes, como
felicidade ou raiva.

HIPÓTESE 2: Da mesma forma, esperava-se que descrições emocionais genuínas fossem


acompanhadas por durações mais longas de tristeza, enquanto descrições enganosas incluiriam durações
mais longas de felicidade e raiva.

Tais diferenças não eram esperadas quando a presença emocional e a duração foram agrupadas
ao longo de toda a descrição de cada evento, porque a maior parte de cada narrativa de remorso falsificada
era composta por detalhes verdadeiros do evento. Além disso, examinamos a presença de microexpressões
(Ekman, 1992) como uma pista potencial para o engano emocional, mas nos abstivemos de levantar uma
hipótese.

Também suspeitamos que as sequências de expressões faciais que os indivíduos exibem quando
estão sendo enganados podem diferir das sequências naturais de expressões faciais que ocorrem durante o
remorso genuíno. O prazer enganador, o constrangimento ou a vontade de expressar suas emoções
genuínas podem resultar em emoções discordantes (genuínas) após expressões de tristeza (falsificadas).
Até onde sabemos, essa possibilidade não foi examinada em pesquisas anteriores. Para tanto, foram
realizadas análises sequenciais dos dados de expressões faciais.

HIPÓTESE 3: Esperava-se que expressões negativas (falsificadas) fossem mais frequentemente


seguidas de expressões positivas (vazamento emocional) durante o falso remorso, em comparação com o
arrependimento genuíno.

Além das variáveis faciais emocionais, foram examinadas pistas verbais e não verbais para o
engano.

HIPÓTESE 4: Esperava-se que indicadores verbais, incluindo lentidão na velocidade de fala,


aumento das hesitações na fala e menos referências pessoais e outras, estivessem associados ao remorso
enganoso.

HIPÓTESE 5: Vários comportamentos de linguagem corporal (diminuição do uso de ilustradores,


aumento do uso de automanipuladores, aumento da taxa de piscar e, potencialmente, diminuição da
aversão ao olhar) foram examinados como pistas para remorso falsificado.

MÉTODO

PARTICIPANTES:
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Estudantes de graduação (N = 31) de uma universidade canadense participaram em troca de
pontos de crédito do curso. Participaram 20 mulheres e 11 homens e média de idade de 21,67 anos (DP =
4,34). Três assistentes de iniciação científica adicionais julgaram a veracidade das diferenças de remorso
dos participantes. A presença de um observador teve como principal objetivo aumentar o realismo da tarefa
e a motivação do participante.

APARELHO:

A sala de testes foi organizada de forma que o participante ficasse sentado em uma cadeira voltada
para o equipamento de videogravação. Duas câmeras de vídeo digitais, gravadas a uma taxa de 30 quadros
por segundo, foram usadas para filmar o participante, capturando imagens de todo o corpo do participante e
um close-up do rosto do participante, respectivamente. O pesquisador e um juiz estavam sentados em
ambos os lados (esquerdo e direito) da câmera de vídeo, de frente para o participante.

PROCEDIMENTO:

Ao chegarem para o estudo, todos os participantes e juízes preencheram um termo de


consentimento livre e esclarecido e receberam uma definição de remorso, bem como situações comuns
associadas a essa emoção, conforme delineado por Keltner e Buswell (1996). Solicitou-se aos participantes
que contassem ao pesquisador sobre um verdadeiro evento não criminoso em sua vida que os fizesse sentir
intensa e genuinamente remorso, com o máximo de detalhes possível. Posteriormente, os participantes
foram solicitados a preencher um questionário de preenchimento e um breve questionário demográfico
(idade, sexo, etnia e nível educacional). Os participantes também foram solicitados a descrever um evento
verdadeiro semelhante (ordem contrabalanceada) pelo qual sentiam nenhum ou pouco remorso, mas foram
solicitados a fingir convincentemente remorso por suas ações. Por exemplo, se o participante descreveu um
caso de traição pelo qual ele realmente sentiu remorso, ele / ela era solicitado a pensar em outra vez que
ele / ela traiu, mas não sentiu remorso para descrever com remorso falsificado. Os participantes foram
instruídos a escolher eventos que ocorreram dentro de 6 meses um do outro para reduzir os efeitos
diferenciais de decaimento da memória ou intensidade emocional nas narrativas. Posteriormente, os
participantes foram solicitados a indicar seu nível de remorso para cada transgressão em uma escala de 1
(nada arrependido) a 7 (altamente arrependido). Isso serviu como uma verificação de manipulação para
garantir que os dois eventos autobiográficos fossem de fato associados a diferentes níveis de remorso
sentido. Os juízes avaliaram a veracidade do remorso em cada descrição (genuína ou falsificada) e
avaliaram sua confiança nessa decisão. A presença de um juiz durante a gravação atuou como motivação
social, encorajando os participantes a agirem de forma convincente e arrependidos. Ao final do estudo,
todos os participantes foram totalmente informados sobre seus propósitos.

PROCEDIMENTO DE CODIFICAÇÃO:

Foi realizada codificação cega (para veracidade) para todas as variáveis faciais, verbais e de
linguagem corporal. As expressões faciais emocionais ocorridas durante cada narrativa foram codificadas
utilizando-se o procedimento desenvolvido por Porter e Ten Brinke (2008). O treinamento envolve
reconhecimento da musculatura facial, memorização de unidades de ação facial associadas a emoções
universais e identificação de emoções universais. Este treinamento é baseado nas Figuras de Afeto Facial

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(emoções universais retratadas em fotografias; Ekman & Friesen, 1976) e o Sistema de Codificação de
Ação Facial (Ekman, Friesen, & Hagar, 2002). Ver Porter e ten Brinke (2008) para mais informações sobre
procedimentos de codificação e treinamento. Cada quadro (1/30 de segundo) dos narrativos foi codificado
para a presença, duração e sequência de expressões emocionais universais na porção superior e inferior da
face de forma independente. As emoções universais incluem felicidade, tristeza, medo, nojo, raiva, surpresa
e a adição relativamente recente de desprezo (Ekman & Friesen, 1975; Ekman et al., 1987). Um codificador
primário (estudante de pós-graduação), cego para a condição de veracidade, examinou todas as narrativas.
Para examinar a emoção na face superior e inferior separadamente, todos os 149.331 quadros foram
codificados duas vezes (uma com atenção para a face superior e outra para a inferior), totalizando 298.662
quadros analisados.

As variáveis de linguagem corporal examinadas incluíram: taxa de ilustradores, taxa de


automanipulações, proporção de tempo gasto desviando o olhar e taxa de piscar. Ilustradores foram
definidos como qualquer movimento/gesto dos braços e/ou mãos, destinado a ilustrar o que o participante
estava dizendo. Automanipulação foi qualquer caso em que o participante tocasse/coçasse a mão, a cabeça
ou o corpo (Porter et al., 2008). As variáveis verbais codificadas incluíram: velocidade de fala, taxa de
hesitações na fala (por exemplo, o uso de ''um'' ou ''uh'', etc.), proporção de auto referências (por exemplo,
''eu'', ''nós'', ''meu'') e proporção de referência a outros (por exemplo, ''ele'', ''ela'', ''eles'').

CONFIABILIDADE DE CODIFICAÇÃO:

Variáveis Emocionais Faciais: 16 (26%) das narrativas foram codificadas de forma independente
por um segundo indivíduo (um estudante treinado e cego para veracidade e hipóteses) para avaliar a
confiabilidade inter observadores. Os avaliadores concordaram com códigos de emoção para 84,07% dos
48.071 quadros que foram codificados para fins de confiabilidade. A duração (medida em número de
quadros) das expressões emocionais, codificadas pelos dois indivíduos, foram correlacionadas em r (248)
= .99, p<,001. Além disso, nenhuma diferença média entre os avaliadores foi revelada, p>,05. A
confiabilidade inter examinadores na variável duração foi "excelente", conforme definido por Cicchetti e
Sparrow (1981) e Fleiss (1981). A concordância na presença/ausência de expressões emocionais codificada
dicotômicamente também foi alta, Kappa = .70, p<,001, com concordância em 87,90% de todos os códigos.

Variáveis Verbais e Não Verbais: Um codificador secundário reexaminou 14 (23%) das narrativas
em busca de pistas verbais e não verbais para avaliar a confiabilidade inter observadores. As variáveis
verbais e não verbais codificadas pelo codificador primário e secundário foram altamente correlacionadas, r
= 0,60–0,99, ps<,05. Além disso, as médias não foram significativamente diferentes entre os codificadores,
todos ps>,05. A confiabilidade inter examinadores foi pelo menos "boa" e, mais frequentemente, "excelente"
(conforme definido por Cicchetti e Sparrow (1981) e Fleiss (1981)) em todos os índices.

RESULTADOS

VERIFICAÇÃO DE MANIPULAÇÃO:

Para garantir que cada narrativa estivesse associada a diferentes níveis de remorso (por exemplo,
alto remorso na condição genuína e baixo remorso na condição fabricada), um teste “T” para amostras
pareadas foi realizado para as classificações dos participantes de cada narrativa. Como esperado, os
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participantes relataram significativamente mais remorso por seu evento de remorso genuíno (M = 6,09, DP =
0,65) do que fabricado (M = 2,06, DP = 0,77), T (30) = 24,61, p<,001, d = 6,29, 95% CI[3,70, 4,37].

DICAS FACIAIS PARA REMORSO FALSIFICADO:

Descrições das Emoções Sentidas: Embora as narrativas não fossem estruturadas, a maioria dos
participantes incluiu uma descrição das emoções sentidas associadas ao evento (por exemplo, ''Eu me senti
tão mal''; ''Eu me senti muito culpada''). Dos 31 participantes, n = 23 incluíram tal afirmação em ambas as
descrições (genuínas e falsificadas) de remorso. Para testar as hipóteses 1 e 2, os horários de início e
término dessas descrições foram anotados e as variáveis faciais emocionais que ocorrem dentro dessas
seções foram calculadas. Especificamente, a presença/ausência, bem como a duração total, de cada
emoção universal serviram como variáveis dependentes em análises subsequentes.

Hipótese 1: O procedimento de Equações Lineares Generalizadas no SPSS foi utilizado para


realizar uma regressão logística de medidas repetidas para a predição da presença/ausência de emoções.
As durações das descrições e as classificações dos participantes de remorso serviram como covariáveis.
Houve efeito significativo para veracidade (remorso genuíno vs. falsificado), Qui-quadrado de Wald = 117,1,
p<,001. Mais que as sete emoções universais provavelmente estavam presentes durante as descrições de
remorso falsificado (M = ,95, SE = ,02), em relação ao remorso genuíno (M = ,73, SE = ,06). Também houve
efeitos para o hemisfério facial (face superior vs. inferior) e emoção (alegria, tristeza, medo, nojo, raiva,
surpresa e desprezo), incluindo interações. No entanto, esses efeitos não são relevantes para nossas
hipóteses e, portanto, não são relatados aqui.

Hipótese 2: O procedimento MIXED no SPSS foi utilizado para examinar os efeitos da credibilidade
sobre a duração das expressões emocionais universais durante a descrição de remorso. As durações das
descrições e as classificações dos participantes de remorso mais uma vez serviram como covariáveis. No
entanto, não houve efeitos significativos envolvendo credibilidade, ps<,05.

Descrição completa do evento: Uma série de análises do modelo SPSS MIXED foi então
conduzida, para revelar possíveis diferenças no comportamento emocional facial ao longo de todas as
narrativas. Veracidade (remorso genuíno vs. falsificado), hemisfério facial (face superior vs. inferior) e
emoção (cada uma das sete emoções universais) foram os fatores internos. As durações da narrativa e as
classificações de remorso dos participantes serviram como covariáveis. Em análises separadas, a
presença/ausência e a duração total (número de quadros de 1/30 segundo) de cada uma das sete emoções
universais serviram como variáveis dependentes. Não surgiram efeitos principais significativos ou interações
envolvendo veracidade, ps>,05, sugerindo que o engano emocional estava restrito a descrições de emoção,
especificamente, como hipotetizamos.

Microexpressões: Com base na definição de microexpressões oferecida por Ekman (1992),


expressões emocionais com duração de 1/5 de segundo ou menos que ocorrem na face superior ou inferior
foram isoladas para análise posterior. Um total de 23 microexpressões foram detectadas, incluindo 12
expressões faciais superiores e 11 faciais inferiores. Essas manifestações afetivas foram produzidas por 10
(32,3%) participantes e ocorreram em 12 (19,4%) das 62 narrativas. As microexpressões da face superior

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na condição fabricada foram predominantemente de raiva (5 de 9 microexpressões), enquanto a maioria das
microexpressões da face inferior foram de tristeza (6 de 8 microexpressões).

Análises Sequenciais de Expressões Faciais: Análises sequenciais e análises filológicas de


acompanhamento foram realizadas para testar a hipótese 3 e obter uma compreensão mais detalhada dos
processos emocionais envolvidos no remorso falsificado. Na análise sequencial, um fluxo de códigos (neste
caso, a série de 905 códigos para expressões faciais) é lido para produzir uma matriz de frequência de
transição, que é simplesmente uma tabela de contagens de frequência para o número de vezes que cada
código foi seguido por outros códigos no sistema de codificação. Para simplificar as análises e evitar lidar
com grandes matrizes de frequência transicionais, os códigos de emoções faciais foram agrupados em três
grupos com base na valência emocional: positiva (felicidade), negativa (tristeza, medo, raiva, desprezo) ou
neutra (neutra, surpresa). A surpresa foi incluída na categoria de valência ''neutra'' por não ser facilmente
caracterizada como positiva ou negativa. Deve-se notar, no entanto, que, embora a surpresa tenha ocorrido
(raramente) na face superior, ela nunca apareceu na face inferior. Assim, a categoria ''neutro'' nas análises
sequenciais e longlineares da face inferior é composta por expressões puramente neutras, apesar da
inclusão de surpresa nessa categoria. O software fornecido por O'Connor (1999) foi utilizado para obter
quatro matrizes de frequência transicionais separadas: (1) para a face superior genuína, (2) para a face
inferior genuína, (3) para a face superior enganosa e (4) para a face inferior enganosa. Análises longlineares
foram então conduzidas para determinar se as frequências de transição variavam entre as condições
genuínas e enganosas.

Para os dados da face superior, uma análise loglinear hierárquica com eliminação para trás resultou
em um modelo no qual apenas o termo Lag 0 a Lag 1 (antecedente a consequente) permaneceu
significativo, x² (4) = 16,5, p<,001. Nenhum dos termos envolvendo veracidade foi preditor significativo das
frequências de transição. Esses achados indicam que, embora tenha havido transições antecedentes a
consequentes significativas, os padrões de frequências transicionais para emoções faciais superiores foram
os mesmos (ou seja, não significativamente diferentes) entre as condições genuínas e enganosas.

Para os dados da face inferior, uma análise loglinear hierárquica revelou que a eliminação do termo
de interação de três vias (veracidade 9 antecedente 9 consequente) resultou em uma redução significativa
no ajuste em relação ao modelo saturado, x² (4) = 16,8, p = ,002. Isso significa que as frequências de
transição variaram de acordo com a veracidade.

Os padrões nos resíduos padronizados são facilmente resumidos. Quase todas as transições da
face inferior foram significativas, enquanto poucas transições da face superior alcançaram significância. As
mesmas tendências básicas, no entanto, existiam nas transições para a face superior e inferior. As direções
das transições da face inferior eram simplesmente mais fortes, ou amplificadas. Há também um padrão
distinto nas transições, que são os resíduos padronizados para a condição genuína. O padrão tem três
componentes: (1) transições de emoções faciais positivas para negativas, e de emoções faciais negativas
para positivas, são notavelmente raras; (2) transições de emoções neutras para emoções positivas e
negativas são comuns e (3) transições de emoções positivas para neutras, e de emoções negativas para
neutras, também são comuns. Em outras palavras, os participantes genuínos não exibiram transições
rápidas ou imediatas entre emoções positivas e negativas, e suas transições dentro e fora de emoções
positivas e negativas envolveram, ou ocorreram através de, emoções neutras. Esse mesmo padrão de três
9
componentes também ocorreu no remorso enganoso, mas foi menos pronunciado. O engano envolveu
transições diretas relativamente mais frequentes entre emoções positivas e negativas, e relativamente
menos sequências indiretas via emoções neutras.

DICAS DE LINGUAGEM VERBAL E CORPORAL PARA REMORSO FALSIFICADO:

Hipótese 4: Uma MANOVA de medidas repetidas com veracidade (remorso genuíno vs. falsificado)
como fator intraparticipante foi conduzida com taxa de fala, taxa de hesitações de fala, proporção de auto
referências e porção de outras referências como variáveis dependentes. Esta análise revelou um efeito
multivariado significativo de veracidade, F(4, 26) = 2,84, p = ,045, n² = 0,10. As análises univariadas de
seguimento revelaram que os participantes exibiram uma taxa significativamente maior de hesitações na
fala durante o remorso (M = 0,06, DP = 0,05) em comparação com o remorso genuíno (M = 0,04, DP =
0,04), F(1, 29) = 5,21, p = 0,03, n² = 0,15, 95% CI [0,002, 0,029]. Destaca-se, ainda, que uma segunda
variável se aproximou da significância. Os participantes mencionaram mais referências a outras pessoas
enquanto exibiam remorso fabricado (M = 0,07, DP = 0,03) em relação ao remorso genuíno (M = 0,05, DP =
0,02), F(1, 29) = 3,53, p = 0,07, n² = 0,11, 95% CI [-0,001, 0,029].

Hipótese 5: Uma MANOVA de medidas repetidas com veracidade (remorso genuíno vs. falsificado)
como fator intraparticipante foi conduzida com taxa de ilustradores, proporção de tempo gasto desviando o
olhar e taxa de piscar como variáveis dependentes. O efeito multivariado de veracidade não foi significativo,
F(3, 27) = 0,47, p = ,71.

DISCUSSÃO

Sentir remorso é uma experiência afetiva humana básica e comum, muitas vezes ocorrendo em
resposta a uma falha ou transgressão pessoal (Keltner e Buswell, 1996). Apesar das implicações potenciais
da falsificação desses sentimentos em ambientes forenses, quase não há pesquisas sobre o assunto. Até
onde sabemos, o presente estudo foi o primeiro a investigar remorsos genuínos e falsificados em busca de
pistas comportamentais que pudessem ser indicativas de tal engano. Esperava-se que as apresentações
emocionais diferissem entre os níveis de credibilidade, especificamente quando os participantes
descrevessem seus sentimentos associados a cada transgressão.

SINAIS FACIAIS E EMOCIONAIS PARA REMORSO FALSIFICADO:

Descrição de Emoção Sentida: Um achado importante foi que houve diferenças significativas na
presença de expressões faciais emocionais universais entre remorso real e falso. Descrições falsificadas de
sentimentos de remorso (por exemplo, "Eu me senti tão culpado") foram associadas à presença de uma
maior gama de emoções, em relação a descrições genuínas. Descrições enganosas de emoções
arrependidas foram comumente associadas à presença de felicidade e surpresa. Isso pode refletir a
fabricação incompleta de emoções enganosas e negativas e o vazamento de emoções genuínas e positivas
em relatos falsificados. As tentativas de expressar tristeza falsificada envolvem músculos complexos e
involuntários na testa. Enquanto a maioria das pessoas pode facilmente levantar as sobrancelhas (músculo
frontal, Unidades de Ação 1 e 2; Ekman et al., 2002), é difícil para o indivíduo não treinado engajar o
músculo corrugador (Unidade de Ação 4; Ekman et al., 2002) simultaneamente, que sulca as sobrancelhas
para mimetizar a ativação da face superior associada a uma face genuinamente triste (Ekman, 2003b).
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Assim, o mentiroso ativa apenas o músculo frontal, e aparece surpreso. Talvez percebendo que sua
tentativa de tristeza é, na melhor das hipóteses, escassa, a felicidade genuína associada à sua exibição
embaraçosa pode ser vazada por meio de um sorriso com a parte inferior do rosto. Além disso, como os
relatos genuínos foram acompanhados por menos emoções, a apresentação emocional do mentiroso
também pode refletir uma estratégia excessivamente compensatória para a tarefa, resultando em uma
performance emocional melodramática sobre uma transgressão passada relativamente menor e não
criminosa que não justifica tal exibição.

Descrição completa do evento: Dado que ambas as experiências descritas realmente ocorreram
(ou seja, todos os detalhes do evento eram genuínos) e que não exercemos nenhum controle sobre a
extensão ou o conteúdo específico das narrativas de cada participante, não foi surpreendente que
diferenças na apresentação facial emocional não tenham sido encontradas quando a totalidade da narrativa
foi examinada. Quaisquer diferenças potenciais na presença ou duração de cada emoção podem ter sido
diminuídas por diferenças individuais no conteúdo narrativo (ou seja, nível de detalhe, descrição da
emoção).

Microexpressões: As microexpressões também foram examinadas como um potencial indício para


o engano emocional e as frequências relativas sugeriram que elas podem revelar o verdadeiro estado
afetivo de alguém. Microexpressões muitas vezes sinalizavam tristeza durante o remorso genuíno e raiva
durante a culpa fabricada. Enquanto a tristeza é um componente do remorso, a raiva é geralmente
considerada discordante com sentimentos de arrependimento (Smith, 2008). Assim, essas brevíssimas
expressões podem, sim, revelar sentimentos encobertos (e indisfarçáveis), como propõem Ekman e Friesen
(1975). A constatação de que as microexpressões (em geral) foram igualmente comuns entre expressões
genuínas e enganosas destaca a importância de considerar a emoção expressa no contexto, em vez de
simplesmente interpretar a presença de uma microexpressão como um sinal de engano. Também é
interessante notar que a raiva – uma emoção destacada por Darwin (1872) – foi revelada pela face superior
(envolvendo as Unidades de Ação 4, 5 e 7; Ekman et al., 2002). Os músculos subjacentes a essas unidades
de ação devem ser de interesse específico em investigações futuras, pois podem ser aqueles que Darwin
(1872) descreveu como sendo "menos obedientes à vontade" (p. 79). Apesar do (tênue) apoio às
microexpressões como pista para o engano aqui relatado, deve-se notar que as microexpressões ocorreram
em menos de 20% de todas as narrativas e não foram um indício infalível para o engano (ou verdade) em
todos os casos. Embora mais pesquisas sobre esse fenômeno certamente sejam necessárias, a pesquisa
empírica até o momento sugere que a dependência excessiva de microexpressões (por exemplo, em
configurações de segurança; Ekman, 2006) como indicador de credibilidade é passível de ineficácia
(Weinberger, 2010).

Sequências Emocionais: Além da presença de emoção expressa, também encontramos que as


sequências de expressões emocionais para remorso genuíno foram diferentes daquelas para remorso
falsificado, mas apenas na face inferior. Os participantes genuínos raramente exibiram transições imediatas
entre emoções positivas e negativas, e suas transições dentro e fora de emoções positivas e negativas
ocorreram por meio de emoções neutras. Esse mesmo padrão ocorreu no remorso enganoso, mas com
menos força. Na verdade, o engano envolvia transições diretas relativamente mais frequentes entre
emoções positivas e negativas, e relativamente menos sequências indiretas via emoções neutras. Os

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estados internos e as preocupações que estão envolvidos no engano aparentemente fazem com que os
mentirosos façam transições mais frequentes e abruptas entre emoções faciais positivas e negativas. Até
onde sabemos, esses padrões sequenciais não foram relatados anteriormente.

O fato de que o engano emocional foi revelado pela parte inferior da face (ou seja, músculos ao
redor da boca) replica achados de Porter e dez Brinke (2008), que descobriram que as emoções
mascaradas eram mais frequentemente traídas pelo vazamento de expressões inconsistentes na mesma
área. Este exame de sequências emocionais, no entanto, é uma nova abordagem para a detecção de
engano e oferece novos insights sobre os excessos envolvidos no engano emocional. Emoções negativas
genuínas expressas na face inferior quase sempre foram seguidas por uma expressão neutra. Assim, pode-
se concluir que expressões genuínas de remorso são experimentadas como uma "série linear" de emoções
universais, separadas por retornos a um estado de base neutro. Em contraste, expressões negativas (ou
seja, tristeza) no remorso fabricado são mais frequentemente seguidas por outras emoções, positivas e
negativas. Essa turbulência emocional pode fornecer alguma indicação quanto ao real estado afetivo do
mentiroso. Por exemplo, depois de uma tentativa de parecer triste, o mentiroso – sabendo que sua
expressão não parece crível – pode sorrir em genuíno prazer ou constrangimento. Em geral, esses achados
são consistentes com a noção de que o engano emocional pode ser traído pelo vazamento da verdadeira
emoção do mentiroso e/ou pelo desempenho exagerado do enganador, resultando em uma exibição
emocional diversificada.

SINAIS DE LINGUAGEM VERBAL E CORPORAL PARA REMORSO FALSIFICADO:

Apesar de exibirem diferenças médias não significativas para a maioria da linguagem corporal e
comportamentos verbais, os participantes mostraram significativamente mais hesitações de fala (por
exemplo, um, uh, er) ao contar uma história acompanhada de remorso fabricado em comparação com sua
história genuína de remorso. Um aumento nas hesitações de fala geralmente está associado a um aumento
na complexidade cognitiva (DePaulo et al., 2003; Vrij & Céu, 1999). Dado que o aumento da complexidade
cognitiva na condição de remorso fabricado foi mínimo (ou seja, apenas emoção), as hesitações na fala
podem ser uma medida particularmente sensível dos recursos cognitivos utilizados.

DIREÇÕES E IMPLICAÇÕES FUTURAS

O contato cara a cara com um infrator durante uma entrevista de liberdade condicional tem um
grande impacto nas decisões relativas à libertação (por exemplo, Ruback & Hopper, 1986). Como tal,
identificar pistas comportamentais confiáveis que possam diferenciar remorsos genuínos e fabricados pode
ter implicações práticas consideráveis. As descobertas atuais podem ser de relação prática com psicólogos
forenses, oficiais de liberdade condicional e tomadores de decisão legais ao avaliar a veracidade de
exibições de remorso. Embora mais pesquisas sejam necessárias antes que tais pistas informem fatores
agravantes ou atenuantes no tribunal, os clínicos podem achar essa pesquisa útil para detectar e confrontar
"lágrimas de crocodilo", potencialmente resultando em um tratamento mais honesto e eficaz dos infratores.

Pesquisas futuras devem examinar indicadores comportamentais de remorso falsificado em uma


amostra de infratores criminais e para transgressões mais graves. Para fortalecer o paradigma empregado
aqui, futuros pesquisadores devem confirmar a veracidade de cada evento descrito pelos participantes para

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garantir que os achados sejam realmente resultado de uma descrição emocional, e não de um evento. Além
de replicar os achados atuais em uma amostra forense, seria interessante examinar o poder preditivo de tais
pistas. Por exemplo, pode-se avaliar pistas faciais, verbais e de linguagem corporal para enganar e
examinar a correlação entre a presença de tais indicadores e o número de dias de sucesso na liberação. É
concebível que pistas faciais sutis associadas ao engano possam ser potentes preditores de reincidência.
Em uma linha de pesquisa semelhante, Gottman e Levenson (2000) descobriram que um exame detalhado
das expressões emocionais durante breves interações recém-casadas poderia prever a longevidade do
casamento com 93% de precisão. Especificamente, as expressões de desprezo foram preditivas de divórcio
precoce, enquanto a falta de afeto positivo previu o divórcio posterior e as demonstrações genuínas de
felicidade foram um forte indicador da estabilidade do casamento. Se relações semelhantes fossem
encontradas entre a expressão emocional dos infratores em audiências de liberdade condicional e o
sucesso após a libertação, as decisões de libertação certamente poderiam ser aprimoradas para a
segurança da sociedade. Em geral, mais pesquisas são necessárias para obter uma maior compreensão
dessa experiência afetiva humana comum e consequente.

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