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Modelagem & Simulação de Processos Inteligentes

Profº Túlio de Almeida

1. INTRODUÇÃO À MODELAGEM & SIMULAÇÃO

Simulação de Processos Inteligentes:


 Contínuos
 Discretos
 Combinados

por exemplo, um projetista utilizando um protótipo em


1.1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES escala reduzida de uma aeronave em um túnel de
vento. O objetivo do projetista é simular qual seria o
Banks (1998) define simulação como uma imitação comportamento da aeronave real a partir do
das operações de um processo real ao longo do comportamento exibido pelo protótipo no túnel de
tempo. Simular consiste na geração de uma “história” vento.
artificial que represente um problema real, na Portanto, quando nos referirmos à palavra “simulação”,
observação e inferência desta “história” sob condições estaremos nos referindo especificamente à simulação
específicas e por fim, na tomada de decisões a partir computacional.
dos resultados obtidos. Usualmente os textos clássicos de simulação fornecem
uma série de definições do que é simulação. Para não
1.1.1. Por que Simular? tornarmos as coisas muito repetitivas, faremos o
inverso: discutiremos o que a simulação não é,
A palavra “simulação” possui diversos significados; baseados no que o senso comum acha sobre o termo:
destes, apresentamos alguns, extraídos do Houaiss:
1. Falta de correspondência com a verdade, A Simulação Não é uma “Bola de Cristal”
dissimulação, fingimento, disfarce;
2. Imitação do funcionamento de um processo por A simulação não pode prever o futuro. Se pudesse,
meio do funcionamento de outro; provavelmente nós não estaríamos discutindo sobre ela
3. Teste, experiência, ensaio. – estaríamos simulando, por exemplo, as corridas do
Obviamente, para este livro, “simulação” tem um Jockey Club para apostarmos no cavalo vencedor do
significado mais técnico e específico do que estes próximo páreo. O que a simulação pode prever, com
relacionados. Mesmo considerando que não estamos certa confiança, é o comportamento de um sistema
discutindo o termo em se sentido lato (ou seja, amplo), baseado em dados de entradas específicos e
há ainda certo desencontro em torno dessa “palavra respeitado um conjunto de premissas.
mágica”.
Cabe aqui uma primeira classificação. O termo A Simulação Não é um Modelo Matemático
“simulação” pode ser classificado em duas grandes
categorias: a simulação computacional e a simulação Embora possamos utilizar fórmulas matemáticas em
não computacional. A simulação computacional, objeto um modelo de simulação, não existe uma “expressão
de estudo deste livro, é aquela que necessita de um analítica fechada” ou um conjunto de equações que,
computador para ser realizada. A simulação não fornecidos os valores de entrada, fornecem resultados
computacional, como o próprio nome diz, é aquela que sobre o comportamento do sistema a partir de uma
não necessita de um computador para ser realizada; forma analítica direta. Enfim, a simulação não pode ser

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reduzida a um simples cálculo ou a uma fórmula Na Figura 1 vemos um sistema que é composto por
matemática. uma queijeira (A), um queijo (B) e uma faca (C). Um
rato rodeando esse sistema faz ou não parte dele? A
A Simulação Não é uma Ferramenta Estritamente de resposta depende do que pretendemos analisar. Se
Otimização estivermos preocupados apenas com a mecânica do
sistema, ou seja, o corte do queijo sobre a queijeira,
A simulação é, na verdade, uma ferramenta de análise podemos eliminar o rato desse sistema, pois ele não
de cenários. É possível combina-la com algoritmos de afetará o corte do queijo; no entanto, se pretendemos
otimização. estudar o desenvolvimento de bactérias no queijo, tanto
a queijeira quanto a faca quanto o rato podem ser
A Simulação Não Substitui o Pensamento Inteligente igualmente importantes e devem ser considerados
como parte do sistema. Naturalmente, alguma pessoa
Segundo o princípio SINSFIT (Simulation Is No deverá fazer parte desse sistema, já que todo esse
Substitute For Intelligent Thinking ), pregado por alguns processo deve se dar de forma manual (afinal, alguém
autores renomados da área, a simulação não pode deve cortar o queijo...).
substituir o ser humano no processo de tomada de
decisão.

A Simulação Não é uma Técnica de Último Recurso

No passado, a simulação era considerada uma técnica


de último recurso, que deveria ser utilizada quando
“todas as técnicas possíveis falhassem”. Atualmente,
no entanto, a simulação é uma das técnicas mais
utilizadas na Pesquisa Operacional e na Ciência da
Administração, como podem comprovar várias
pesquisas realizadas em campo (LAW e KELTON, Figura 1 - Sistema Prato-Queijo-Faca
1991).
Usualmente, quando imaginamos um sistema, quase
A Simulação Não é uma Panaceia sempre associamos nosso pensamento a um sistema
real, que existe fisicamente. Ora, poderíamos também
Corroborada pelo pensamento de Harrel e Tumay simular um sistema hipotético, que não existe na
(1995), a simulação se aplica a uma classe de realidade. Embora o processo de validação seja mais
problemas bem específicos aos quais se adapta bem. difícil para um sistema não existente, é viável e comum,
na prática, a construção de modelos de simulação de
1.1.2. Simulação de Sistemas sistemas hipotéticos ou imaginários.

O Que É Sistema? O Que É Modelo?

Existem ainda vários termos relacionados à simulação, Mas o que é um modelo? E, mais especificamente, o
e, para complicar um pouco mais, vários tipos de que é um modelo de simulação?
simulação. Quando pensamos na simulação ou em Dado um sistema (ou pelo menos como nós
simular algo, queremos obviamente simular algum entendemos esse sistema), podemos construir uma
sistema. Mas o que é um sistema? Segundo Forrester representação simplificada das diversas interações
(1968), sistema é um agrupamento de partes que entre as partes desse sistema.
operam juntas, visando um objetivo em comum. Um modelo é, assim, uma abstração da realidade, que
Conforme a definição de Forrester, um sistema sempre se aproxima do verdadeiro comportamento do sistema,
pressupõe uma interação causa e feito entre as partes mas sempre mais simples do que o sistema real. Por
que o compõem. Para que tais partes e, principalmente, outro lado, se o modelo construído apresenta uma
para que as interações entre essas partes sejam complexidade maior do que a do próprio sistema, não
identificadas, o objetivo do sistema deve ser conhecido temos um modelo, mas sim um problema. Isso porque
com clareza. a intenção principal da modelagem é capturar o que
realmente é importante no sistema para a finalidade em
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questão. Se o modelo for tão ou mais complicado do


que a realidade, para que um modelo?
Por exemplo, em um sistema formado por uma linha de
montagem de automóveis, com máquinas e
operadores, é irrelevante saber a cor do sapato do
operário se estamos preocupados com a quantidade de
automóveis produzida no mês.

Figura 3 – Fluxograma para Atendimento de Chamada dos


Bombeiros
Modelos Matemáticos ou Analíticos
Figura 2 – Modelos de Simulação
Os modelos matemáticos (ou analíticos) podem ser
1.1.3. Modelos Simbólicos vs Modelos identificados como um conjunto de fórmulas
Matemáticos matemáticas, como os modelos de programação linear
ou os modelos analíticos da Teoria das Filas. Na sua
Modelos Simbólicos, Icônicos ou Diagramáticos maioria, esses modelos são de natureza estática (o que
não é o caso da Teoria das Filas) e não apresentam
Um modelo denominado simbólico (ou icônico ou soluções analíticas para sistemas complexos, devendo-
diagramático) é composto por símbolos gráficos que se utilizar hipóteses simplificadoras. Por outro lado,
representam um sistema de maneira estática, por devido à sua natureza, a solução é rápida e exata
exemplo, uma “foto” (sem se considerar o seu (quando existe solução analítica). Considere, por
comportamento no tempo). Um fluxograma de processo exemplo, um sistema de fila única, com disciplina FIFO
pode ser considerado como um modelo simbólico. As (First In, First Out), como o representado na Figura 4.
grandes limitações desse tipo de modelo, além de sua Os tempos entre chegadas sucessivas de pessoas no
representação estática do sistema, são a falta de sistema são exponencialmente distribuídos, e os
elementos quantitativos (medidas de desempenho do tempos de atendimento na mesa (ou servidor) também
sistema, por exemplo) e a dificuldade de se seguem uma distribuição exponencial. Sendo ρ a razão
representarem muitos detalhes de um mesmo sistema. entre a taxa média de pessoas que chegam ao sistema
O modelo simbólico é utilizado principalmente na e a taxa média de pessoas atendidas no servidor, sabe-
documentação de projetos e como ferramenta de se, pela Teoria das Filas, que o número médio de
comunicação. A Figura 3 ilustra o modelo simbólico pessoas aguardando em fila,Lf, pode ser estimado pela
representado por um fluxograma do processo de seguinte expressão:
atendimento de chamadas telefônicas realizado pelas
unidades de resgate do Corpo de Bombeiros. 2
Lf  (1)
1 
Onde:

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 Lf – número de indivíduos na fila Note que a lista de alternativas para esse tipo de
 ρ – taxa de ocupação do sistema de fila pergunta pode ser infinita, o que leva à conclusão de
que um modelo de simulação pode ser capaz de
analisar diversos aspectos do sistema, ou melhor,
todos os aspectos do sistema de interesse. Por outro
lado, nem tudo é um mar de rosas: construir modelos
de simulação pode se tornar uma tarefa difícil, pela
própria natureza do processo; consequentemente,
leva-se mais tempo para a obtenção do resultado
desejado.

Simulação de Monte Carlo

A Simulação de Monte Carlo utiliza geradores de


números aleatórios para simular sistemas físicos ou
matemáticos, nos quais não se considera o tempo
explicitamente como uma variável. Essa simulação é
Figura 4 – Modelo Analítico de um Sistema de Filas particularmente útil para a solução de problemas
matemáticos complexos que surgem no Cálculo
Para o sistema da Figura 4, portanto, representamos o Integral, por exemplo.
comportamento de um parâmetro importante do
sistema, o número médio de pessoas em fila, através Simulação Contínua de Eventos Discretos
de um modelo matemático. O que ocorreria com o
número médio de pessoas na fila, por exemplo, se a A Simulação Contínua e a Simulação de Eventos
disciplina de atendimento não fosse mais FIFO, e sim, Discretos levam em consideração as mudanças de
ao contrário, uma disciplina que priorizasse a idade das estado do sistema ao longo do tempo. A Simulação
pessoas (os mais velhos são atendidos primeiro)? Contínua é utilizada para modelar sistemas cujo estado
Neste caso, a Teoria de Filas não fornece um modelo varia continuamente no tempo. Considere, por
matemático pronto, e, muito provavelmente, teremos exemplo, uma xícara de chá quente colocada à
que construir um modelo de simulação. temperatura ambiente (Fig. 5). O fenômeno do
resfriamento do chá é contínuo no tempo, e o seu
1.1.4. Modelos de Simulação estudo pode ser mais bem conduzido por uma
Simulação Contínua. A Simulação Contínua utiliza-se
Os sistemas reais geralmente apresentam uma maior de equações diferenciais para o cálculo das mudanças
complexidade, devido, principalmente, à sua natureza das variáveis de estado ao longo do tempo. Por outro
dinâmica (que muda seu estado ao longo do tempo) e lado, a Simulação de Eventos Discretos é utilizada para
à sua natureza aleatória (que é regida por variáveis modelar sistemas que mudam o seu estado em
aleatórias). Um modelo de simulação consegue momentos discretos no tempo, a partir da ocorrência de
capturar com mais fidelidade essas características, eventos. A preparação da xícara de chá do exemplo
procurando repetir em um computador o mesmo anterior envolve três eventos (Fig. 5): (A) colocação da
comportamento que o sistema apresentaria quando água quente na xícara, (B) colocação do chá na água
submetido às mesmas condições de contorno. quente e (C) disponibilização do chá. Note que cada
O modelo de simulação é utilizado particularmente evento ocorre em instantes determinados no tempo. A
como uma ferramenta para se obter respostas a Simulação de Eventos Discretos, como o próprio nome
sentenças do tipo: “O que ocorre se...”, por exemplo: diz, é orientada por eventos: o relógio de simulação
 O que ocorre se adicionarmos um terceiro sempre indica um instante em que um evento acontece
turno de produção? (colocação da água, colocação do chá e
 O que ocorre se houver um “pico de disponibilização do chá).
demanda de 30%”?
 O que ocorre se reduzirmos nossa equipe
de manutenção em duas pessoas?
 O que ocorre se adquirirmos um novo
equipamento?
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Posto 1 Posto 2 Posto 3

Posto 4 Posto 5

Figura 6 – Diagrama de Blocos para um Linha de Montagem

As setas podem ser entendidas como esteiras rolantes,


que permitem que o sistema seja balanceado ajustando
a velocidade de cada uma delas.

Células automatizadas;

As células de trabalho também possuem um sistema de


Figura 5 – Diferença entre Simulação de Eventos Discretos e fila, porém simples. Neste caso, há uma fila de
Simulação Contínua
trabalhos que podem apresentar diferenças entre si.
O problema não se refere às múltiplas filas, mas
1.2. APLICAÇÕES DA SIMULAÇÃO
principalmente ao setup e a diversificação dos
trabalhos.
O campo de aplicação da simulação é muito amplo.
Simplificadamente, podemos dividir as áreas de
Problemas de programação da produção;
aplicação em dois grandes setores: manufatura e
serviços.
O Planejamento, Programação e Controle da Produção
(PPCP) é um processo dinâmico que deve se adequar
1.2.1. Manufatura
a quaisquer alterações na demanda do mercado.
Como o Planejamento da Capacidade, o Planejamento
A área de manufatura, depois da área militar, é o
Agregado, o Plano-Mestre de Produção e o MRP
segundo maior campo de aplicação da simulação. A
dependem da demanda, pode-se simular cenários para
simulação pode ser aplicada em vários segmentos da
diferentes comportamentos da demanda.
manufatura, tais como:

Análise de estoques e “Kanban”


Sistemas de movimentação e armazenagem de
materiais
A produção puxada faz uso de métodos e técnicas
dinâmicas no que tange a gestão da produção. Os
Esteiras transportadoras, AGVS, AS/RS, power and
cartões “kanban” permitem que os recursos de
free conveyors (para um mais detalhes sobre sistemas
produção fluam ao longo da cadeia produtiva de forma
de movimentação de materiais, ver Groover, 2000,
segura e na quantidade exata evitando desperdícios.
Capítulos 9, 10 e 11);
A simulação pode ser aplicada, ainda, num
subsegmento da manufatura denominado “logística
Linhas de montagem;
interna”, como os projetos de sistemas de expedição,
cross-docking e movimentação interna de armazéns.
As linhas de montagem funcionam como um sistema de
filas em série, onde λ é a taxa de chegada ao sistema
1.2.2. Serviços
e μ é a taxa de atendimento do sistema.
No caso de vários postos de atendimento em linha, a
Alguns bons exemplos de aplicações da simulação na
taxa de atendimento de um posto tende a ser a taxa de
área de serviços estão em:
chegada do posto sucessor.
Caso haja um posto gargalo, este limitará a produção
Aeroportos e Portos
de toda a linha.
É um campo que possibilita alta aplicabilidade da
simulação. A título de ilustração, em um aeroporto é

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possível fazer uma simulação para dimensionar o


número de postos de check-in necessários ou mesmo Parques de Diversões
para dimensionar um sistema completo de transporte
de bagagens. Em uma operação portuária, por Outro segmento de serviços ligado ao entretenimento.
exemplo, é possível verificar se o número de Nesse caso, uma simulação pode ser útil na verificação
equipamentos de movimentação de materiais e dos tempos de espera em atrações, na distribuição
homens é suficiente para carregar e descarregar um física das atrações no parque etc.;
determinado número de navios em um certo tempo
estipulado; Restaurantes e Cadeias de Fast-Food.

Bancos O segmento de bares e restaurantes também pode se


beneficiar da tecnologia de simulação, utilizando-a para
Nesse caso, a simulação pode ser utilizada para verificar seus tempos de espera, de utilização de
verificar qual é a melhor política de abertura e mesas, capacidade da cozinha etc.;
fechamento de caixas, o número de caixas automáticos
necessários, estudar problemas de layout, determinar o Supermercados
tempo máximo de espera em fila etc.;
Os supermercados são um segmento interessante para
Cadeias Logísticas. aplicar a simulação, pois é possível decidir qual a
melhor política de abertura de caixas, a relação entre
Nesse segmento, a simulação pode ser utilizada para caixas rápidos e normais, o tamanho ideal do
determinar qual deve ser a melhor política de estacionamento etc.;
estocagem, transporte e distribuição, desde a origem
das matérias-primas, passando pela fabricação até o 1.3. SOFTWARES DE SIMULAÇÃO
consumidor final;
1.3.1. Softwares de Linguagem de Programação
Call Centers ou Centrais de Atendimento.
Linguagem de Programação é uma linguagem escrita e
Esse é outro segmento em que a simulação pode ser formal que especifica um conjunto de instruções e
plenamente aplicada. A simulação em um call center regras usadas para gerar programas (software). Um
poderá determinar qual a melhor configuração de uma software pode ser desenvolvido para rodar em um
ilha de atendimento, qual o número ideal de postos de computador, dispositivo móvel ou em qualquer
atendimento necessários em uma determinada hora do equipamento que permita sua execução. Existem
dia para garantir um certo nível de serviço, quais várias linguagens e elas servem para muitos
equipamentos de automação de call centers devem ser propósitos. Alguns óbvios, como criar um software,
utilizados etc.; outros menos, como controlar um carro ou uma
torradeira.
Escritórios ou BPR (Business Process Reengineering).

A simulação pode ser aplicada para determinar qual


seria o melhor fluxo de processo em um escritório, uma
repartição pública ou um cartório. Muitas vezes, esse
segmento é também denominado Business Process ou
BP, em analogia aos processos de manufatura
aplicados aos negócios;

Hospitais

A área da saúde é um segmento em que a simulação


pode e vem sendo frequentemente aplicada, para
estudar o comportamento de UTIs, o dimensionamento
de ambulâncias, testes de políticas de transplantes de Figura 7 – Linguagens de Programação: C, Javascript, R e Phyton
órgãos etc.;
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Compiladores de Linguagem

Na computação, a compilação é o processo que reúne


o código fonte e o transforma em algo que faça mais
sentido para o computador. Do ponto de vista do código
fonte, toda linguagem de programação é compilada.
O produto final do processo de compilação de uma
linguagem diz muito sobre seu design. Linguagens
como C e C++ são compiladas estaticamente, e seus
códigos fontes são transformados diretamente em
linguagem de máquina.

Interpretadores de Linguagem

Enquanto as linguagens mais modernas como Java, C#


e Python têm seus códigos fontes transformados em
uma linguagem intermediária (específica de cada Figura 8 – Linguagens de Simulação: Dynamo – para eventos
contínuos; Simula – para eventos discretos e Simscript – para
linguagem), que será interpretada pela máquina virtual eventos combinados (contínuos e discretos)
da linguagem quando o programa for executado.
Este processo de interpretação da linguagem 1.3.3. Softwares de Simulação
intermediária durante a execução do programa,
consiste na tradução dos comandos da linguagem É possível encontrar no mercado softwares específicos
intermediária para linguagem de máquina. Sendo para a simulação de processos.
assim, em tempo de execução, o código intermediário Os mesmos reúnem uma gama de funções capazes de
pode ser encarado como um “código fonte” que será facilitar todo o processo de simulação, indo desde de a
compilado dinamicamente pelo interpretador da modelagem do problema até a interface gráfica dos
linguagem em código de máquina. resultados.

1.3.2. Softwares de Linguagem de Simulação

Modelos de simulação são geralmente muito


complicados, tendo várias interações dentro de
elementos de sistema e muitas destas alterações
transformam dinamicamente durante a execução do
programa. Assim, começou a se desenvolver
linguagens especiais que promovem a tradução mais
fácil do que as linguagens genéricas.
A simulação de sistemas pode envolver vários níveis de
complexidade e assim softwares específicos têm sido
desenvolvidos para diferentes casos.
As linguagens de simulação e os pacotes de simulação
discreta são ferramentas muito úteis para a simulação
de sistemas discretos. Alguns pacotes também incluem
recursos para modelar sistemas de variáveis contínuas
ou com um mix de variáveis contínuas e discretas.
As linguagens de simulação economizam tempo de
desenvolvimento, utilizam-se de recursos para avançar
o tempo, programar eventos, manipular entidades,
Figura 9 – 3 Softwares Importantes na Simulação de Processos
gerar valores aleatórios coletar dados estatísticos e Inteligentes
gerar relatórios.

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etapa de concepção, o modelo que está na mente do


1.4. ETAPAS DO PROCESSO DE SIMULAÇÃO analista (modelo abstrato) deve ser representado de
acordo com alguma técnica de representação de
Após definirmos que para a análise de um dado sistema modelos de simulação, a fim de torná-lo um modelo
a simulação é mais adequada, deve-se seguir certos conceitual, de modo que outras pessoas envolvidas no
passos, a fim de que o estudo de simulação seja bem- projeto possam entendê-lo.
sucedido. Esses passos ou processos são conhecidos
na literatura como “metodologias de simulação” ou 1.4.2. Etapa 2 – Implementação
“ciclos de vida de um modelo de simulação” (LAW;
MCCOMAS, 1991). Na segunda etapa, “implementação”, o modelo
A construção de um programa de computador, que, conceitual é convertido em um modelo computacional
para muitos leigos, é a própria simulação, é apenas através da utilização de alguma linguagem de
uma dentre as inúmeras atividades de um estudo de simulação ou de um simulador comercial. Pode-se,
simulação. ainda, codificar o modelo de simulação em uma
Basicamente, o desenvolvimento de um modelo de linguagem de programação geral, como C ou Pascal,
simulação compõe-se de três grandes etapas: mas isso é altamente desaconselhável, devido ao
1. Concepção ou formulação do modelo; tempo que será despendido na programação de
2. Implementação do modelo; diversas rotinas, já existentes em simuladores
3. Análise dos resultados do modelo. comerciais. Com o avanço tecnológico dos simuladores
atuais, a etapa de implementação (ou codificação) já
não consome tanto tempo quanto no passado (alguns
autores sugerem que a implementação é responsável
pelo consumo de 20% a 30% do tempo total de um
estudo típico de simulação). O modelo computacional
implementado deve ser comparado com o modelo
conceitual, com a finalidade de avaliar se a sua
operação atende ao que foi estabelecido na etapa de
concepção. Para a validação computacional, alguns
resultados devem ser gerados, observando se o
modelo é uma representação precisa da realidade
(dentro dos objetivos já estipulados). O assunto
Figura 10 – Etapas do Processo de Simulação “verificação e validação” de modelos de simulação é
bastante extenso.
1.4.1. Etapa 1 – Concepção
1.4.3. Etapa 3 – Análise
Na primeira etapa (ou fase), “concepção”, o analista de
simulação deve entender claramente o sistema a ser
Na terceira etapa, “análise”, o modelo computacional
simulado e os seus objetivos, através da discussão do está pronto para a realização dos experimentos, dando
problema com especialistas. Deve-se decidir com origem ao modelo experimental ou modelo operacional.
clareza qual será o escopo do modelo, suas hipóteses Nesta etapa, são efetuadas várias “rodadas” do
e o seu nível de detalhamento. Os dados de entrada
modelo, e os resultados da simulação são analisados e
também são coletados nesta fase. Não se pode negar
documentados. A partir dos resultados, conclusões e
a importância de se ter dados adequados para
recomendações sobre o sistema podem ser geradas.
alimentar o modelo, sendo que a expressão GIGO Caso necessário (se o resultado da simulação não for
(garbage-in, garbage-out), muito aplicada na
satisfatório), o modelo pode ser modificado, e esse ciclo
Engenharia de Software, também é aplicável aos
é reiniciado
modelos de simulação. No entanto, é importante
ressaltar que o modelo é que deve dirigir a coleta de
Modelo Detalhado de Simulação
dados, e não o contrário (PIDD, 2000). Finalizada a

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Determinação
dos Objetivos
Concepção ou
e Construção do Coleta de
Formulação do
Planejamento Modelo Dados
Modelo
Global do
Projeto

Análise dos
Codificação do Validação do Implementação
Resultados do
Modelo Modelo do Modelo
Modelo

Figura 11 – Etapas do Processo de Simulação. Adaptado de Santos, 1999.

Importante salientar que dependendo do sistema a ser


simulado, algumas etapas podem mudar de posição e
até mesmo serem suprimidas do modelo.

1.5. BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS

[1] CHWIF & MEDINA – Modelagem e Simulação


de Eventos Discretos – Teoria e Aplicações. 4ª
Edição. Elsevier: Rio de Janeiro, 2015.
[2] BANKS, Jerry – Handbook of Simulation.
Principles, Methodology, Advances, Applications and
Practice. John Wiley & Sons, 1998
[3] SANTOS, M.P. Introdução à Simulação
Discreta. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
1999. Disponível em:
<http://www.mpsantos.com.br/simul/arquivos/simul.pdf
>. Acesso em:19/10/2015.
[4] SILVA, L. C. Simulação de Processos.
Universidade Estadual do Espírito Santo. 2005.
Disponível em:http://www.agais.com/simula.htm.
Acesso em: 19/10/2015.
[5] GROOVER, Mikell P. Automation, production
systems and computer integrate Manufacturing. 2.
ed. Upple Saddle River: Prentice-Hall, 2000.
[6] LAW, Averill M.; KELTON, David W -
Simulation, modeling & analysis. 2. ed. Nova York:
McGraw-Hill, 1991.
[7] LAW, Averill; MCCOMAS, Michael. Secrets of
successful simulation studies. Proceedings of 1991
Winter Simulation Conference, p. 21-27, 1991.
[8] PIDD, Michael. Tools for thinking: modelling
in management science. 4. ed. Chichester: John Wiley
& Sons, 2000.
[9] HARREL, Charles R.; TUMAY, Kerim -
Simulation made easy: a manager’s guide. Norcross:
Engineering and Management Press, 1995.

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