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• Contato: https://www.editorajuspodivm.com.br/central-de-relacionamento
Formato: E-Book.
Requisitos do Sistema: Adobe Digital Editions.
Modo de Acesso: Word Wide Web.
ISBN 978-85-442-4084-7.
CDD 341.2
Bibliotecária responsável:
Ana Carolina Ribeiro Mois – CRB7 – RJ 007348/0
Sumário
Apresentação..................................................................................................................................................................... 7
Kalleo Coura
Prefácio................................................................................................................................................................................... 9
Felipe de Melo Fonte
CAPÍTULO 1
PROCESSO LEGISLATIVO
3
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
CAPÍTULO 2
PODER LEGISLATIVO, FISCALIZAÇÃO E CONTROLE PARLAMENTAR
CAPÍTULO 3
IMUNIDADES PARLAMENTARES E ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS
4
Sumário
CAPÍTULO 4
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO (CPIS)
CAPÍTULO 5
TÉCNICA LEGISLATIVA, REGULAÇÃO E TEORIA DA LEGISLAÇÃO
Qual peso devem ter as evidências científicas para tomar uma decisão
legislativa?............................................................................................................................................................................ 393
5
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
CAPÍTULO 6
ELEITORAL
CAPÍTULO 7
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
CAPÍTULO 8
TEORIA DO DIREITO
Posfácio
A Doutrina da Subestimação e os Precedentes Predatórios.................................................... 519
Samuel Sales Fonteles
6
Apresentação
Apresentação
7
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Kalleo Coura
Editor Executivo do JOTA em São Paulo
8
Prefácio
9
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
10
Prefácio
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
12
1
Ca p í tu lo
PROCESSO
LEGISLATIVO
Sobre a constitucionalidade da
‘devolução’ de medidas provisórias
Natureza de ‘medida cautelar’
legislativa justifica o expediente
1. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/06/12/davi-alcolumbre-anuncia-
-devolucao-de-mp-que-autoriza-weintraub-a-nomear-reitores
2. https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/8108
15
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.migalhas.com.br/quentes/74034/presidente-do-senado-decide-devolver-
-ao-executivo-mp-das-filantropicas
4. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Congresso/adc--mpv446.htm
5. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/03/03/renan-anuncia-devolucao-
-da-mp-que-reduz-desoneracao-da-folha-de-pagamento
16
Sobre a constitucionalidade da ‘devolução’ de medidas provisórias
6. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescon/2002/resolucao-1-8-maio-2002-497942-
normaatualizada-pl.html
7. https://www.in.gov.br/web/dou/-/ato-conjunto-das-mesas-da-camara-dos-deputadose-
-do-senado-federal-n-1-de-2020-250639870
8. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2227089
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
9. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Congresso/adc-005-mpv669.
htm
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Sobre a constitucionalidade da ‘devolução’ de medidas provisórias
10. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630103
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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O costume constitucional
da devolução in limine de
medidas provisórias
Devolução da MP nº 1.068/2021 mostra
dupla necessidade de regulamentação
1. https://www.jota.info/coberturas-especiais/liberdade-de-expressao/pacheco-devolve-m-
p-de-bolsonaro-que-alterava-marco-civil-da-internet-14092021
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/sobre-a-constitucionalidade-da-devolu-
cao-de-medidas-provisorias-29062020
3. Os primeiros quatro decretos citados foram extraídos da nota de rodapé nº 12 de RODRI-
GUES, Ana Cláudia Manso S. O. A medida provisória não convertida em Lei e a Edição de
Decreto Legislativo. Direito Público, nº 1, pp. 141-147, 2003, p. 145.
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O costume constitucional da devolução in limine de medidas provisórias
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
24
O costume constitucional da devolução in limine de medidas provisórias
4. https://www.jota.info/legislativo/redes-sociais-congresso-moderacao-08092021
25
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1909983
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O costume constitucional da devolução in limine de medidas provisórias
de mensagens apagadas pelas plataformas sponte propria (isto é, sem ordem ju-
dicial) e condenam as plataformas no pagamento de indenizações pelos even-
tuais danos materiais ou morais.
Na literatura, prevalece a interpretação de que o art. 19 do MCI não exige
que a remoção de conteúdo esteja condicionada a uma prévia ordem judicial,
ou seja, as plataformas podem agir proativamente e a moderação poderia per-
feitamente ocorrer com base nas próprias regras da plataforma. Mas há tam-
bém quem defenda que essa atuação “extrajudicial” somente seria possível em
relação a conteúdos de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, conforme
previsão do art. 21 do MCI.
A análise quanto à constitucionalidade da MP nº 1.068/2021 poderia ser
feita de modo comparado com essas discussões que já estão em andamento
no parlamento e no próprio STF. Se usado esse parâmetro, a rigor, não haveria
muito sentido na devolução da medida provisória por inconstitucionalidade
manifesta. Existem diversas indagações sobre o MCI e propostas legislativas
na mesma linha da MP, que poderia ter sido lida como uma janela de oportu-
nidade para promover e acelerar os debates.
Desaconselhar a devolução da MP, no entanto, não equivale a reputá-la
perfeita. Tanto a MP nº 1.068/2021 apresentava, quanto o PL nº 2.630/2020
apresenta diversos problemas e enfrentavam obstáculos de ordem prática (por
exemplo, como conceituar fake news?) que poderiam e deveriam ser aperfei-
çoados na tramitação legislativa.
Como já tinha sido anunciado, o destino da MP nº 1.068/2021 parecia já
estar selado: ou seria devolvida, ou seria revogada pelo próprio presidente da
República, ou seria rejeitada pelo Congresso Nacional, ou teria seus efeitos
suspensos por decisão liminar do STF (até ser declarada inconstitucional ou
ocorrer a perda de objeto).
Qualquer um desses cenários é péssimo para a dupla janela de oportuni-
dade que a edição da MP nº 1.068/2021 gerava: a disciplina da devolução de
medidas provisórias e a regulamentação da atuação das plataformas de redes
sociais quanto à exclusão de postagens e bloqueio de contas de usuários.
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São extensíveis às emendas
parlamentares os limites
materiais à edição de MPs?
O alcance do art. 62, § 1º, da CF,
será discutido na ADI 7.005
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/psdb-contesta-nova-lei-que-muda-cpc-e-prioriza-
-citacao-por-meio-eletronico-24092021?utm_source=socialcampaign&utm_medium=re-
des&utm_campaign=psdb+cpc+24/9
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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São extensíveis às emendas parlamentares os limites materiais à edição de MPs?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.gov.br/pt-br/servicos/optar-pelo-domicilio-tributario-eletronico
3. https://www.gov.br/pt-br
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São extensíveis às emendas parlamentares os limites materiais à edição de MPs?
4. https://www.conjur.com.br/2020-jul-06/roberta-nascimento-jabutis-processo-legislativo
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/tramitacao-conjunta-ini-
ciativa-legislativa-por-emprestimo-e-autonomia-do-bc-12052021?amp
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/cabe-controle-de-consti-
tucionalidade-por-ma-tecnica-legislativa-23062021?amp
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São extensíveis às emendas parlamentares os limites materiais à edição de MPs?
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Para que servem as
emendas aglutinativas?
A discussão nos MS 38.300, 38.303 e
38.304 sobre a PEC dos Precatórios
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/rosa-weber-nega-pedidos-para-suspender-vota-
cao-da-pec-dos-precatorios-09112021
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Para que servem as emendas aglutinativas?
2. FONTAINHA, Fernando de Castro; PAULA, Christiane Jalles de; SATO, Leonardo Seiichi Sa-
sada; et al (Orgs.). História oral do Supremo (1988-2013), v.9: Nelson Jobim. Rio de Janeiro:
Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas, 2015, p. 114.
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
aglutinativas, muito embora por vezes as emendas de redação nessa Casa aca-
bem tendo o mesmo papel.
No RICD, consta do artigo 118, § 3º, que “emenda aglutinativa é a que
resulta da fusão de outras emendas, ou destas com o texto, por transação ten-
dente à aproximação dos respectivos objetos.”
Como se acaba de ver do relato de Nelson Jobim, a proibição velada de
utilização das emendas aglutinativas para incluir matéria “inteiramente nova”
foi muito mais para convencer os opositores desse instrumento do que pro-
priamente para funcionar “na prática”, seja porque o controle dessa dinâmica
é dificílimo, seja porque as emendas aglutinativas acabam sendo apresentadas
de última hora, às pressas, para superar rapidamente um eventual impasse e,
assim, alcançar uma ampla maioria. As emendas aglutinativas formalizam esse
acordo. Logo será possível entender por quê.
O grande diferencial das emendas aglutinativas está na possibilidade de
que sejam apresentadas em plenário, inclusive quando já iniciado o processo
de votação, ou seja, quando já encerrada a etapa de discussões (mas desde que
até antes da votação das partes a que se referem). As emendas aglutinativas
não são cabíveis no âmbito das comissões da Câmara, conforme a Questão de
Ordem (QO) nº 176/2007.
Até antes da Resolução nº 21/2021, da Câmara dos Deputados, que pro-
moveu importantes modificações no RICD, as emendas aglutinativas podiam
ser apresentadas por 1/10 dos membros da Casa (ou seja, 52 deputados) ou por
líderes que representassem esse número. Em razão disso, as emendas agluti-
nativas também serviam como instrumento da minoria, inclusive para como
tática parlamentar obstrucionista para inserir modificações e embaralhar as
votações. Não há qualquer limite de número de emendas aglutinativas, tam-
pouco à extensão dos textos aglutinados (QO nº 62/1996).
No entanto, na atual redação do artigo 122 do RICD, dada pela Resolu-
ção nº 21/2021, as emendas aglutinativas se tornaram mais um mecanismo
para a construção de amplos consensos (majoritários), e menos uma obstru-
ção, como deve ser um instrumento dessa natureza, apresentado em fase tão
avançada do processo legislativo e que reduz o “nível informacional” durante
a votação.
Eis o atual artigo 122: “As emendas aglutinativas podem ser apresenta-
das em Plenário, para apreciação em turno único, por ocasião da votação da
parte da proposição ou do dispositivo a que elas se refiram, por Líderes que
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Para que servem as emendas aglutinativas?
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
41
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.camara.leg.br/noticias/806524-deputados-aprovam-emenda-que-preve-
-quarentena-eleitoral-para-juizes-e-policiais-acompanhe
42
Para que servem as emendas aglutinativas?
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/tramitacao-conjunta-ini-
ciativa-legislativa-por-emprestimo-e-autonomia-do-bc-12052021
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Tramitação conjunta, iniciativa
legislativa ‘por empréstimo’
e autonomia do BC
ADI nº 6.696 deve entender que ordem
dos fatores não altera o produto
1. https://www.jota.info/legislativo/camara-aprova-autonomia-do-banco-central-e-texto-
-segue-para-sancao-10022021
2. https://www.jota.info/stf/do-supremo/autonomia-do-bc-pgr-diz-que-vicios-formais-de-
vem-ser-corrigidos-29042021
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
ter sido fruto de iniciativa parlamentar (o autor do PLP nº 19/2019 foi o sena-
dor Plínio Valério), daí supostamente resultaria sua nulidade in totum.
De acordo com a argumentação dos autores, o apensamento (ocorrido na
Câmara dos Deputados) do PLP nº 112/2019, este sim de autoria do presidente
da República (versando sobre a mesma matéria), ao PLP nº 19/2019 (que já
tinha sido aprovado pelo Senado Federal e estava em tramitação na Câmara)
não seria capaz de suprir o vício, que não seria passível de convalidação.
Na lógica da petição inicial da ADI nº 6.696, era para o PLP nº 19/2019 ter
sido rejeitado na Câmara, de modo a permitir a votação do PLP nº 112/2019
de autoria do Poder Executivo que, em sendo aprovado pela Câmara, seguiria
para apreciação do Senado, na condição de Casa revisora, atendendo-se ao art.
64 da CF.
Como sabido, não foi o que aconteceu, pois o PLP nº 112/2019 de inicia-
tiva do Executivo restou prejudicado diante da aprovação do PLP nº 19/2019,
que, como já tinha sido aprovado pelo Senado, seguiu imediatamente para a
sanção.
Os autores ainda alegam que o entendimento que sustentam sobre o apen-
samento (que seria inconstitucional em relação aos projetos de iniciativa pri-
vativa) já teria sido objeto de duas questões de ordem na Câmara dos Depu-
tados (a de nº 10430/1993 e nº 658/2006, ambas rejeitadas inicialmente pelo
presidente, mas deferidas via recurso à CCJ).
A petição inicial da ADI nº 6.696 ainda avança argumentando supostas
inconstitucionalidades materiais da LC nº 179/2021, mas sem interesse para
o que se pretende tratar na coluna de hoje, concentrada na possibilidade regi-
mental de “apensação” de proposições legislativas em caso de matérias análo-
gas, conexas, idênticas ou correlatas para que tramitem em conjunto e se isso
implica ou não a chamada iniciativa legislativa “por empréstimo”.
A apensação para tramitação conjunta é medida que atende à eficiência
e economicidade do processo legislativo, além de permitir um maior grau de
racionalidade das discussões parlamentares: se as diversas proposições sobre o
mesmo assunto são “concentradas” (isto é, tramitam como se fossem uma só),
oportuniza-se um debate mais organizado.
O instituto, quando aplicado às propostas de emenda à Constituição em
tramitação na Câmara dos Deputados, ainda evita a formação de mais de uma
comissão especial, cujo funcionamento simultâneo acarretaria sobreposição
de trabalhos. Recorde-se que no Senado Federal a própria CCJ concentra as
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Tramitação conjunta, iniciativa legislativa ‘por empréstimo’ e autonomia do BC
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
não implique o retorno da tramitação para a Casa Alta, o que foi precisa-
mente o que ocorreu no caso da LC nº 179/2021. É dizer, houve a necessária
preponderância da Câmara enquanto Casa Baixa iniciadora dos projetos de
iniciativa do Executivo.
Como visto, o PLP nº 19/2019 já tinha sido aprovado pelo Senado e,
com a aprovação na Câmara, seguiu diretamente para a sanção, ou seja, não
foi o Senado que encerrou a tramitação ou funcionou como última instância,
de forma diversa do previsto constitucionalmente. Como se vê, não houve
qualquer afronta ao processo legislativo bicameral, já que a tramitação pas-
sou pelas duas Casas Legislativas.
Por seu turno, tampouco há que se falar em vício de iniciativa, na medi-
da em que esta foi efetivamente deflagrada pela autoridade competente ainda
na fase deliberativa do processo legislativo, nos termos do PLP nº 112/2019
de autoria do presidente da República, perante a Câmara dos Deputados,
nos exatos termos do art. 64 da CF. Nessa Casa Legislativa, o referido PLP
simplesmente foi apensado ao PLP nº 19/2019.
Como sabido, o respeito ao juízo político de conveniência e oportuni-
dade por parte da autoridade competente para desencadear o processo le-
gislativo não implica a obrigatoriedade de as Casas do Congresso Nacional
aprovarem a matéria nos exatos termos em que lhe foi apresentada.
A CF não subtraiu o direito parlamentar de propor emendas a projetos
de iniciativa reservada, tendo simplesmente colocado alguns limites a essa
possibilidade, conforme os arts. 63 e 166, §§ 3º e 4º, da CF, para evitar o au-
mento de despesa.
A rigor, não existem limites constitucionais expressos que impeçam a
apresentação de emendas parlamentares quanto ao mérito da proposta, in-
clusive para mudá-la substancialmente (a despeito dos eventuais problemas
que isso poderia acarretar na prática).
O poder de iniciativa privativa não se confunde com o poder para
emendar, daí que não seria possível limitar a atuação do Congresso Nacional
a simplesmente aprovar ou rejeitar a proposta apresentada pelo Poder Exe-
cutivo, sendo possível ainda emendá-la (embora se reconheça a existência de
literatura minoritária em sentido contrário).
Seja como for, entende-se pela possibilidade de apresentação de emen-
das parlamentares, inclusive sob a forma de um substitutivo (art. 118 do
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Tramitação conjunta, iniciativa legislativa ‘por empréstimo’ e autonomia do BC
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Tramitação conjunta, iniciativa legislativa ‘por empréstimo’ e autonomia do BC
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/direito-parlamentar-stf-
-20012021?amp
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
52
Cabe controle de constitucionalidade
do veto presidencial?
Não há diferença relevante entre as razões
do veto e as de emenda parlamentar,
mas a forma pode ser controlada
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/pt-quer-que-stf-suspenda-vetos-de-bolsonaro-
-contra-uso-de-mascaras-10072020
2. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=348389
53
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=181935&pr-
cID=2175381
4. https://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo345.htm
54
Cabe controle de constitucionalidade do veto presidencial?
5. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5290006
6. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=307440276&ext=.pdf
7. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/07/adpf-pt-vetos-presidenciais-proto-
colo.pdf?x73076
55
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
8. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=385459
56
Cabe controle de constitucionalidade do veto presidencial?
no prazo do art. 66, § 1º, da CF. Assim, uma vez exercido o veto em relação a
uma proposição, nesse ato se exauriria todo o poder.
Voltando à petição inicial da ADPF n. 714, o autor avança sustentando a
inconstitucionalidade dos vetos por violação aos preceitos fundamentais do
direito à vida (art. 5º, caput, da CF) e do direito social à saúde (art. 6º, caput,
e art. 196 da CF). Registra que o Poder Executivo viria obstando a adoção de
medidas de contenção da pandemia e que os vetos impugnados impediriam o
avanço legislativo rumo à promoção de condutas cientificamente fundamen-
tadas que visariam à contenção da disseminação do vírus e a proteção coletiva
à incolumidade física dos cidadãos.
Nesse ponto, observa-se tentativa de controlar o mérito dos vetos. No en-
tanto, como já dito, por razões de ordem técnica e constitucional, é duvidoso
que seja cabível tal controle, em razão da peculiar natureza jurídico-política do
veto presidencial (equiparável a uma emenda parlamentar), além de ser discu-
tível o cabimento de ADPF, ante a possibilidade de manejo de ADI (ou ADO)
em face do texto da lei sancionada, conforme o caso.
Seja como for, a considerar pelo teor da republicação ocorrida no dia
06/07/20209 já possível antecipar que a defesa presidencial argumentará ter
havido mera “incorreção” na publicação inicial (de 03/07/2020), e não vetos
adicionais inseridos no dia 06/07/2020 como argui o autor. E mais: ainda que
eventualmente venha a ser solicitada, a comprovação desse “erro material” se-
ria difícil, sobretudo pela prática usada nos despachos presidenciais (apresen-
tação de diversas opções de minutas para assinatura). Em caso parecido (na
ADI n. 3146)10, o STF já entendeu não demonstrado o abuso nas circunstân-
cias.
No pior cenário, todo o episódio serviu para registrar o cabimento do
controle de constitucionalidade do veto presidencial em seus aspectos formais,
mas não quanto ao mérito em si (não sendo aplicável a teoria dos motivos de-
terminantes para justificar o desacerto de seu conteúdo). Além disso, sempre
após a deliberação pelo Legislativo, nunca antes, sob pena de, na linha do voto
do min. Teori Zavascki no MS n. 32.033,11 “prematura intervenção do Judiciário
em domínio jurídico e político de formação dos atos normativos em curso no
9. http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2019-2022/2020/Msg/VEP/VEP-374-rep.doc
10. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=395714
11. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5290006
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
58
A emenda ‘supressiva de jabutis’
e o devido processo legislativo
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescon/2002/resolucao-1-8-maio-
-2002-497942-normaatualizada-pl.html
60
A emenda ‘supressiva de jabutis’ e o devido processo legislativo
2. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/questoes-de-ordem/-/q/detalhe/2714
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
sujeitar-se a maiores discussões, nem ser remetida de volta à Câmara dos De-
putados para deliberação.
A dinâmica em comento – que, enfatize-se, vem sendo adotada pelo Se-
nado Federal em obediência à ADI nº 5.127 – também pode ser assemelhada
ao chamado “fatiamento” das Propostas de Emenda à Constituição (PECs).
Trata-se da retirada da parte controvertida de uma PEC, a partir da aprovação
de um “destaque para constituição de proposição autônoma”. Com isso, a parte
sobre a qual há consenso (a não modificada, já aprovada em dois turnos em
cada casa) é promulgada e a parte modificada pela casa revisora retorna à outra
casa sob a forma de uma nova PEC, apelidada “paralela” (recebendo a mesma
numeração, acrescida de letra do alfabeto correspondente ao expediente A, B,
C etc.). Essa solução – que evita o “pingue-pongue” ad infinitum entre as duas
casas – já foi chancelada pelo STF em diversas ocasiões (ADI nº 2.031, 2.666,
3.367 e 3.472), quando se afirmou a constitucionalidade da promulgação de
PEC objeto de tal “fatiamento”.
De forma semelhante, no caso do processo de apreciação das medidas
provisórias, a matéria objeto de emenda supressiva no Senado Federal poderá
ser objeto de nova iniciativa legislativa (no entanto, chamar de MP “paralela” é
equivocado, pois nesse caso haveria uma proposição autônoma e que seguiria
o rito do processo legislativo ordinário). Registre-se que não existe qualquer
vedação constitucional a essa hipótese, pois o objeto da emenda supressiva não
será alcançado pela irrepetibilidade do artigo 62, § 10, da Constituição.
O aparente problema dessa prática do Senado Federal em não devolver
as emendas supressivas de “jabutis” à casa iniciadora é a contrariedade ao dis-
posto no artigo 7º, § 3º, da Resolução nº 1, de 2002, do Congresso Nacional,
pelo qual: “Havendo modificação no Senado Federal, ainda que decorrente de
restabelecimento de matéria ou emenda rejeitada na Câmara dos Deputados, ou
de destaque supressivo, será esta encaminhada para exame na casa iniciadora,
sob a forma de emenda, a ser apreciada em turno único, vedadas quaisquer no-
vas alterações”.
No entanto, como já argumentado, a rigor, a exclusão de matérias sem
pertinência temática deve receber o mesmo tratamento das emendas de re-
dação, conforme o decidido pelo STF na ADC nº 3. Por mais que implique
“supressão” de texto, não tem natureza de “emenda” (mas apenas leva esse
nome), o que afastaria a aplicação da referida norma. Além disso, a não obser-
vância desse tipo de norma interna corporis do Poder Legislativo não enseja
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A emenda ‘supressiva de jabutis’ e o devido processo legislativo
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O que é o devido processo legislativo?
Da leitura dos acórdãos do STF há
mais confusão do que luzes
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O que é o devido processo legislativo?
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O que é o devido processo legislativo?
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O que é o devido processo legislativo?
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3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/direito-parlamentar-stf-
-20012021?amp
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O que é o devido processo legislativo?
diversos lados da discussão, a ampla defesa dos futuros destinatários das dis-
posições, parlamentares “imparciais”,5 etc., que seriam garantias de um devido
processo legal no âmbito judicial, mas não no legislativo.
A grande vantagem de conceber o devido processo legislativo como cláu-
sula geral reside em garantir-lhe um conteúdo adaptável às circunstâncias em
concreto, sem o engessamento da atividade parlamentar. Como consequência
disso, seu exame pressupõe perscrutar a decisão legislativa como um todo, e
não só uma simples etapa de seu procedimento.
Enquanto não houver uma maior clareza quanto ao que realmente impor-
ta no devido processo legislativo, o STF continuará funcionando como Casa
revisora ad hoc da produção do Congresso Nacional, convertendo a judicia-
lização em verdadeira última etapa do chamado devido processo legislativo,
sem que se saiba o que isso realmente significa.
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/precisam-os-membros-das-cpis-ser-im-
parciais-31072020
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Até onde vai o princípio da simetria
nos processos legislativos?
O lockdown e as linhas básicas do modelo federal
de observância compulsória pelos estados e DF
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Até onde vai o princípio da simetria nos processos legislativos?
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Até onde vai o princípio da simetria nos processos legislativos?
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Como sabido, no plano federal, exigem-se 3/5 dos votos dos respectivos
membros de cada Casa do Congresso Nacional (art. 60, § 2º, da CF). Com
isso, na prática, o constituinte derivado decorrente reformador do estado do
Espírito Santo tinha elevado de 60% para 80% o quórum de aprovação para as
reformas constitucionais no plano local.
Embora tenha admitido em abstrato a possibilidade de se dificultar, ainda
mais, o processo de reforma constitucional, o ministro relator Celso de Mello
expressamente limitou esse poder ao plano federal, pelo Congresso Nacional,
jamais pelos estados-membros (p. 21).
Conforme seu voto, condicionar a reforma da Constituição estadual aos
termos da norma impugnada “além de divergir dos padrões que a CF fixou (…)
culmina por tornar virtualmente imodificável a Constituição estadual, em claro
antagonismo com o postulado que admite a revisabilidade do instrumento cons-
titucional.” (pp. 30-31).
Para reforçar seu argumento, ainda afirmou: “Se se reconhecer, ao estado-
-membro, a possibilidade de agravar, ainda mais, em tema de reforma consti-
tucional, as condições fixadas pela Carta da República, mesmo em divergência
com os padrões superiormente instituídos pelo legislador constituinte originário,
tornar-se-á inevitável admitir, então, que qualquer das unidades federadas, a
pretexto de exercer sua autonomia (mesmo em conflito frontal com o modelo
federal), possa esterilizar e neutralizar, por completo, o exercício, pela Assembleia
Legislativa local, das funções constituintes decorrentes que lhe foram outorgadas
pela Constituição Federal, bastando exigir, para efeito de emenda constitucional,
a votação favorável da unanimidade dos membros do Poder Legislativo esta-
dual…!” (p. 31).
De forma semelhante, convém mencionar outra decisão importante em
matéria de processo legislativo estadual: a ADI nº 2.872, sobre a natureza do
rol, se taxativo ou não, das matérias sujeitas à lei complementar.
No caso concreto, discutia-se se dispositivos da Constituição do estado do
Piauí poderiam exigir lei complementar quanto a situações em que, no plano
federal, impõe-se apenas lei ordinária.
Na prática, tal ampliação submete mais matérias a um quórum qualifica-
do, à formação de uma maioria absoluta, o que apresenta reflexos no processo
legislativo.
Nesse julgamento, chama a atenção a divergência lançada pelo minis-
tro Menezes Direito, em cujo voto-vista afirmou: “Tenho que essa legislação
80
Até onde vai o princípio da simetria nos processos legislativos?
ordinária no âmbito federal, que dispensa o quórum mais rigoroso da lei com-
plementar, não impede, pelo princípio da simetria, que na competência dos esta-
dos-membros seja possível exigir lei complementar (…). A exigência que se faz na
Constituição Federal diz especificamente com a legislação federal, não com a le-
gislação estadual. Não me parece razoável que esse princípio da simetria chegue
ao ponto de inviabilizar a opção do constituinte estadual sobre uma das espécies
normativas disponíveis na Constituição Federal. Em que essa opção violentaria
a organização nacional? Em que essa opção atacaria algum princípio sensível do
estado nacional organizado sob a forma federativa? Em nada, absolutamente
nada.” (p. 14).
O posicionamento, como se vê, está assentado na pura ingenuidade sobre
a essência do processo legislativo (ou, ao menos, de parte dele) como jogo de
poderes e disputa entre as diversas estruturas do estado. O simples fato de se
exigir lei complementar equivale a uma “obstrução antecipada” do jogo.
O julgamento da ADI nº 2.872 se arrastou por vários anos (2005 a 2011),
entretanto, no final, acabou prevalecendo o entendimento do então relator mi-
nistro Eros Grau, no sentido de que não havia fundamento para a restrição, no
plano estadual, do processo legislativo modelado na CF.
Em 2019, o STF voltou a essa mesma discussão na ADI nº 5.003. No caso
concreto, discutia-se a constitucionalidade de dispositivos da Constituição do
estado de Santa Catarina que ampliavam as hipóteses de reserva de lei comple-
mentar presentes no plano federal.
Após tecer considerações sobre a ratio da reserva de lei complementar –
mitigar a influência das maiorias parlamentares circunstanciais no processo
legislativo referente a determinadas matérias – o relator Luiz Fux registrou que
essa opção “decorre de juízo de ponderação específico realizado pelo texto cons-
titucional, fruto do sopesamento entre o princípio democrático, de um lado, e a
previsibilidade e confiabilidade necessárias à adequada normatização de ques-
tões de especial relevância econômica, social ou política, de outro”.
Ainda em suas palavras: “A aprovação de leis complementares depende de
mobilização parlamentar mais intensa para a criação de maiorias consolidadas
no âmbito do Poder Legislativo, bem como do dispêndio de capital político e ins-
titucional que propicie tal articulação, processo esse que nem sempre será factível
ou mesmo desejável para a atividade legislativa ordinária, diante da realidade
que marca a sociedade brasileira – plural e dinâmica por excelência – e da ne-
cessidade de tutela das minorias, que nem sempre contam com representação
política expressiva” (p. 12).
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Até onde vai o princípio da simetria nos processos legislativos?
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O direito parlamentar e o tema
1.120 da repercussão geral do STF
Até que ponto podem ser flexíveis
os trâmites regimentais sem passar
por cima do Estado de Direito?
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
85
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120274
3. https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/informativos/2018/informativo-de
-jurisprudencia-n-382/revogacao-do-inciso-i-do-ss-2o-do-artigo-157-do-codigo-penal-
2013-erro-na-publicacao-do-ato-normativo-revogador-2013-inconstitucionalidade-for-
mal
4. https://www12.senado.leg.br/institucional/estrutura/orgaosenado?codorgao=8943
86
O direito parlamentar e o tema 1.120 da repercussão geral do STF
Tal artigo (que figurava no texto inicial do PLS n. 149, de 2015,5 como art.
3º) e foi efetivamente aprovado perante a CCJ, por um erro material, não cons-
tou da publicação do Diário do Senado Federal n. 171, de 10 de novembro de
20176 (deveria ter figurado na página 142), nos termos do que determina o art.
91, § 2º, do Regimento Interno do Senado Federal (RISF).7 A redação “correta”
foi disponibilizada no dia 20 de novembro de 2017.8
De acordo com a argumentação do TJDFT, por essa divergência entre o
texto efetivamente aprovado pela CCJ e o texto publicado no Diário do Senado
Federal, teria restado prejudicada a faculdade de deliberação dos demais parla-
mentares (sobretudo os que não participaram dos debates e da votação perante
a CCJ), notadamente quanto à possibilidade de interposição do recurso pre-
visto no art. 91, §§ 3º e 4º, do RISF (cujo fundamento é o art. 58, § 2º, inciso I,
in fine, da CF), de 1/10 dos senadores dirigido ao presidente do Senado, para
apreciação da matéria pelo plenário da Casa.
Na decisão do TJDFT, consta: “Embora se possa alegar que mesmo com a
publicação do correto texto final da CCJC não há certeza de que seria interposto
recurso pelos demais Senadores, fato é que uma fase do processo legislativo foi su-
primida, o que não se confunde com matéria interna corporis, em clara violação
aos arts. 58, § 2º, inc. I, da CF e 91 do RISF.”.
Como se vê, definitivamente, o leading case escolhido pelo STF para o
tema 1.120 da repercussão geral não é o melhor pano de fundo para discutir
a possibilidade de controle jurisdicional de constitucionalidade em relação à
interpretação de normas regimentais das Casas Legislativas.
Em primeiro lugar, porque esse não é o tema do caso concreto (não está
em questão a interpretação de normas regimentais). O acórdão do TJDFT
confunde um erro material de publicação (comum no Poder Legislativo, no
próprio Poder Judiciário ou em quaisquer órgãos da Administração Públi-
ca em geral) com a supressão de uma etapa do processo legislativo. Ou seja,
não houve problema quanto à aplicação do RISF, descumprimento de norma
5. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3599802&ts=1593918339066&-
disposition=inline
6. https://legis.senado.leg.br/diarios/ver/21167?sequencia=142
7. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
8. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7275778&ts=1593918339433&-
disposition=inline
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9. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=node0z-
42mxmjbevy0h64iq68n6x1r127983.node0?codteor=1625279&filename=PL+9160/2017
10. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7267047&ts=1593918339576&-
disposition=inline
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O direito parlamentar e o tema 1.120 da repercussão geral do STF
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
11. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
12. https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=458262&ori=1
13. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2012/03/08/supremo-volta-atras-e-deci-
de-que-mps-precisam-passar-por-comissao-mista-so-a-partir-de-agora
90
O direito parlamentar e o tema 1.120 da repercussão geral do STF
Em boa hora, tal decisão não foi referendada pelo plenário e um dos
argumentos do redator do acórdão, o ministro Teori Zavascki, foi justamente
o de que o entendimento da cautelar sujeitaria “à declaração de inconstitucio-
nalidade formal todas as deliberações do Congresso Nacional tomadas desde
que se venceu o prazo do mais antigo dos vetos pendentes de apreciação, que,
segundo informam os autos, ocorreu há cerca de 13 – treze – anos” (p. 35).
Também essa ocasião reforça a percepção de que o STF tem pouca fami-
liaridade com o dia a dia do Poder Legislativo. A falta de um conhecimento
mais aprofundado sobre as práticas parlamentares reais cobra sua fatura para
a própria Corte e gera distorções no Congresso Nacional: simplesmente não
se pode exigir do processo legislativo o mesmo grau de formalismo presente
em um processo judicial.
É impraticável determinar a observância estrita, em 100% das vezes, de
todos os requisitos regimentais do processo legislativo. Além disso, a falha em
alguns deles não necessariamente deve redundar em inconstitucionalidade da
lei produzida, ao menos não em todos e quaisquer casos.
É precisamente nesse ponto aonde se queria chegar: o caráter flexível do
Direito parlamentar, sobretudo das normas regimentais. No que diz respeito
à atividade essencialmente legislativa, os regimentos internos desempenham
uma função essencial: dirigir os procedimentos, facilitar a iniciativa e regular
os diversos trâmites até a aprovação das leis. Essas regras impulsionadoras do
processo legislativo, no entanto, por vezes são acessórias ou meramente ins-
trumentais (estão a serviço da política). O procedimento legislativo mínimo
é o que está previsto na própria CF e em algumas normas regimentais, mas
não todas.
Com isso, não se pretende afirmar que os regimentos internos das Ca-
sas Legislativas sejam meras recomendações, orientações ou diretrizes não
vinculantes. Mas não se pode negar que algumas de suas disposições são ma-
nifestação do chamado “direito flexível”. Por mais que pareça um disparate, é
essa natureza dispositiva dos regimentos internos o que garante as condições
para o exercício da atividade parlamentar. Daí a constitucionalidade e legiti-
midade do acordo de líderes (RISF, art. 412, inciso III), por exemplo.
A autonomia do Poder Legislativo se traduz na competência para aprovar
suas próprias normas regimentais, e também para modificá-las, tendo como
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
14. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
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O direito parlamentar e o tema 1.120 da repercussão geral do STF
uma questão de interpretação de normas regimentais, mas sim qual deve ser a
magnitude de uma falha na publicação interna (corrigida rapidamente) para a
higidez do processo legislativo constitucional.
Esclarecido tudo isso, espera-se que a Corte – independentemente do
provimento ou não do RE n. 1.297.884 – mantenha sua firme jurisprudên-
cia no sentido de não aceitar a inconstitucionalidade indireta, por violação
de normas regimentais interpostas (que não reproduzem o texto da CF), e de
entender que a interpretação e aplicação dos regimentos internos das Casas
Legislativas é matéria interna corporis. Do contrário, em sendo admitido de
forma indiscriminada, o controle da regimentalidade das leis causará enorme
insegurança jurídica e tem tudo para não dar certo.
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Enrolled Bill Doctrine (EBD)
O controle judicial das normas regimentais
no processo legislativo nos Estados
Unidos e suas lições para o Brasil
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/direito-parlamentar-
-stf-20012021
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
ampliar o controle judicial (que já foi uma criação jurisprudencial, como res-
saltado aqui)2 para alcançar a regimentalidade do processo de elaboração das
leis no Brasil.
Reafirmou-se, assim, a tradicional jurisprudência do STF que admite o
controle do processo legislativo somente nas situações em que se alega viola-
ção de normas constitucionais.
Nesse sentido, o sistema brasileiro se assemelha ao entendimento adotado
pela Suprema Corte dos Estados Unidos (SCOTUS, na sigla em inglês), em que
prevalece a chamada Enrolled Bill Doctrine (EBD), pela qual a assinatura do
projeto de lei pelos presidentes da House of Representatives (HR) e do Senado
representa um atestado oficial de que a proposição atendeu regularmente a
todas as exigências procedimentais.
De acordo com a Constituição dos Estados Unidos (Artigo I, Seção 7):
“Todo projeto de lei que tiver sido aprovado na Câmara dos Representantes e no
Senado, deverá, antes de se tornar uma Lei, ser apresentado ao Presidente dos
Estados Unidos (…)”.
No processo legislativo norte-americano, aprovado um projeto de lei na
primeira Casa Legislativa, o clerk (que equivaleria a um servidor da carreira
legislativa) prepara o engrossed bill, que representa a versão oficial do projeto
de lei aprovado pela respectiva Casa para ser enviado à Casa seguinte.
Deve-se registrar que lá vige o bicameralismo puro ou simétrico no pro-
cesso legislativo ordinário, ou seja, as duas Casas precisam aprovar exatamente
o mesmo texto, sem a prevalência da Casa iniciadora (no Brasil, essa dinâmica
só é aplicável para a reforma constitucional, nos termos do art. 60, § 2º, da CF).
Assim, após aprovação nas duas Casas do Congresso americano, o clerk
prepara o enrolled bill, que é a versão final do projeto de lei aprovado pelas
duas Casas Legislativas. No Brasil, tais documentos (o engrossed bill e o enrol-
led bill) se intitulam indistintamente como “autógrafo”.
O enrolled bill é assinado pelos presidentes da Câmara dos Representantes
(HR) e do Senado para, na sequência, ser enviado ao chefe do Poder Executivo.
Pela EBD, em sendo aceitas como autênticas pelos tribunais, tais assina-
turas conferem uma presunção absoluta de constitucionalidade do processo
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
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Enrolled Bill Doctrine (EBD)
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Enrolled Bill Doctrine (EBD)
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Qual é o alcance do princípio
da irrepetibilidade de PECs?
Inexistência de uma solução para o
impasse é o pior dos cenários
101
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Senado Federal? No caso em que tal PEC “B” já tivesse sido objeto de delibera-
ção na Câmara dos Deputados anteriormente à rejeição da PEC “A”?
A resposta não é óbvia, nem trivial. Na literatura constitucional, não se
encontram comentários específicos que respondam a essa indagação. (Se al-
gum leitor encontrar, favor entrar em contato com esta colunista). Durante
a tramitação na Assembleia Constituinte, o dispositivo do art. 60, § 5º, não
recebeu sequer uma só emenda.
A depender da interpretação que se adote sobre o seu alcance, haverá pro-
fundas consequências para a autonomia das Casas Legislativas.
Em coluna passada,1 já se explicou que a ratio dessa norma constitucional
é voltada para conter os perdedores de uma deliberação legislativa e permitir
que se avance na discussão dos demais temas da pauta legislativa. Na mes-
ma ocasião, explicou-se o entendimento sumamente importante que consta
do MS nº 22.503, pelo qual o STF entendeu que a rejeição do substitutivo não
atrai a incidência do referido art. 60, § 5º.
Em outra oportunidade,2 igualmente se aproveitou para apresentar a con-
firmação do bicameralismo no Brasil, segundo o desenho institucional adota-
do na Constituição. Restou esclarecido que, especificamente em se tratando
do processo de reforma da Constituição, por força do art. 60, § 2º, adotou-se o
chamado bicameralismo puro ou simétrico, pelo qual as duas Casas Legislati-
vas precisam estar de acordo, sem a preponderância da Casa iniciadora sobre a
Casa revisora (como acontece no processo legislativo ordinário).
A lógica do sistema bicameral obedece à clássica preocupação da limita-
ção do poder pelo poder como meio para evitar o arbítrio e proteger a liberda-
de. A existência de uma segunda Casa Legislativa na arquitetura constitucional
acrescenta um ingrediente de complicação no equilíbrio entre os Poderes, de
modo a proporcionar a desejável moderação dos Parlamentos.
Nesse sentido, o Poder Legislativo, embora uno, é o único poder que surge
como expressão de dois órgãos diferentes, já que toma suas decisões a partir de
dois corpos representativos distintos, absolutamente separados, o que significa
a existência de pontos de vista e interesses completamente diferentes.
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/para-onde-foi-o-bicame-
ralismo-no-congresso-nacional-02092020
102
Qual é o alcance do princípio da irrepetibilidade de PECs?
3. https://www.jota.info/legislativo/emenda-salva-o-governo-em-pec-aprovada-no-senado-
-que-muda-tramitacao-de-mps-12062019
103
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
aprovadas pelo Senado Federal na referida PEC e entende que a matéria deve-
ria ser devolvida para a apreciação da Câmara, conforme o art. 203, caput, do
RICD, que determina que as emendas do Senado à PEC oriunda da Câmara
dos Deputados devem seguir a mesma tramitação para a aprovação (com pri-
meiro e segundo turnos).
Essa é a lógica do art. 60, § 2º, da CF, o qual somente não se aplica às
emendas de redação, conforme o entendimento adotado no âmbito da ADC
nº 3, em que o STF assentou que:
“O retorno do projeto emendado à casa iniciadora não decorre
do fato de ter sido simplesmente emendado. Só retornará se, e so-
mente se, a emenda tenha produzido modificação de sentido na
proposição jurídica. Ou seja, se a emenda produzir proposição
jurídica diversa da proposição emendada. Tal ocorrerá quando
a modificação produzir alterações em qualquer um dos âmbitos
de aplicação do texto emendado: material, pessoal, temporal ou
espacial. Não basta a simples modificação do enunciado pela qual
se expressa a proposição jurídica”.
104
Qual é o alcance do princípio da irrepetibilidade de PECs?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
106
Qual é o alcance do princípio da irrepetibilidade de PECs?
4. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1372703&fi-
lename=Tramitacao-PEC+182/2007
5. https://www.camara.leg.br/noticias/550104-projetos-terao-numeracao-unica-na-cama-
ra-e-no-senado-a-partir-de-2019/
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
108
É possível emendar a Constituição
via deliberação remota durante
a calamidade pública?
Em meio à pandemia, questão de fundo
do MS n. 37.059 passou despercebida
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/lewandowski-nega-mandado-de-seguranca-con-
tra-tramitacao-da-pec-da-guerra-13042020
2. https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2242583
3. https://www.jota.info/legislativo/aprovada-pela-camara-pec-da-guerra-segue-para-vota-
cao-no-senado-03042020
4. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/04/ms-37059.pdf?x73076
109
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.jota.info/stf/supra/sistema-de-deliberacao-remota-deve-vir-acompanhado-
-do-estimulo-a-participacao-social-06042020
6. https://www.jota.info/coberturas-especiais/inova-e-acao/entenda-como-o-congresso-
-tem-mantido-atividades-durante-pandemia-de-covid-19-21042020
7. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141443
110
É possível emendar a Constituição via deliberação remota durante a calamidade pública?
111
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
intervenção federal (art. 34), o estado de defesa (art. 136) e o estado de sítio
(art. 137), o mais grave de todos na escala da crise.
Seguindo por essa linha de raciocínio, as medidas constitucionais mais
extremas (com todas as consequências nelas implicadas) somente podem inci-
dir diante de situações fáticas de ainda maior excepcionalidade que a situação
de calamidade pública. E a avaliação do presente contexto – que culminou na
decisão de, ao menos por enquanto, não decretar ou solicitar as medidas cita-
das no art. 60, § 1º – é privativa do Presidente da República.
Assim, a partir do momento em que a própria Constituição disciplinou de
forma diferente os diversos níveis de intensidade das crises, não cabe atribuir
as consequências normativas da intervenção, estado de defesa e estado de sítio
ao estado de calamidade pública, que é um minus em relação às primeiras. Não
se pode subverter a ordem constitucional posta, sustentando impedimentos
inexistentes à reforma constitucional, pois, longe de salvaguardar os direitos,
isso os prejudicaria ainda mais.
No writ, o impetrante ainda argumentou que faltaria justificação à PEC
n. 10, de 2020.8 No entanto, a PEC n. 10, de 2020, conta com justificação
suficiente. O próprio CPC, art. 374, inciso I, positivou que não dependem de
prova os fatos notórios. De forma inquestionável, vive-se uma crise e a matéria
trazida na PEC é necessária para enfrentar a pandemia, facilitando os atos de
gestão e conferindo salvaguarda jurídica aos envolvidos.
Além disso, a PEC trouxe uma cláusula expressa de vigência temporária,
prevendo sua revogação automática com o encerramento do estado de calami-
dade pública, de modo que não afeta o núcleo dos compromissos constitucio-
nais de forma permanente.
A mera circunstância de a motivação não ter sido registrada formalmente
nos documentos que instruem a tramitação (processado) perante a Câmara
dos Deputados não quer dizer que a medida careça de motivação. Em primeiro
lugar, porque os modos de fundamentar decisões judiciais e decisões legislati-
vas são diferentes, e não é possível exigir dessas últimas o grau de formalização
necessária para a validade das primeiras.
8. https://www.jota.info/stf/do-supremo/lewandowski-nega-mandado-de-seguranca-con-
tra-tramitacao-da-pec-da-guerra-13042020
112
É possível emendar a Constituição via deliberação remota durante a calamidade pública?
9. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5891080
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Juízes lobistas?
Ministros do STF são atores políticos, mas
não deixam de ser magistrados só porque
estão sem a toga ou fora do tribunal
1. https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,voto-impresso-tem-apoio-de-maioria-em-
-comissao-e-deve-avancar-na-camara,70003742299
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.youtube.com/watch?v=lxb60sv5Kcg
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Juízes lobistas?
3. BARROSO, Luís Roberto. Sem Data Venia: Um Olhar Sobre o Brasil e o Mundo. Rio de Janeiro:
História Real, 2020, p. 197.
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/para-que-serve-o-quo-
rum-nos-orgaos-colegiados-14042021
5. https://www.conjur.com.br/2020-jun-24/nascimento-quem-controla-ministros-stf
117
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
que fora dos autos de um processo judicial, chamam a atenção e têm um peso
diferente das falas e razões apresentadas por outros juristas.
Em se tratando de debates legislativos, um dos problemas dessas opiniões
emitidas por ministros do STF é a violação ao art. 36, inciso III, da LC nº 35/79
(a Lei Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN), que a rigor impediria
a manifestação sobre temas que fatalmente serão objeto de julgamento pela
corte. A menção a esse dever, inclusive, vem sendo reiteradamente suscitado
nas sabatinas dos candidatos a ministro do STF para se evadir de responder
perguntas sobre determinados assuntos.
Daí a dúvida: até que ponto é legítima essa atuação dos juízes como lobis-
tas? Mesmo em se reconhecendo o novo papel do STF na política, possuiriam
os ministros poder para intervir na agenda antes mesmo que a decisão legis-
lativa tenha sido tomada e independentemente da judicialização da questão?
Seja qual for a resposta, isso foge ao conceito de revisão judicial e significa
que, em lugar de arbitrar, os ministros tomaram parte no conflito político.
Sequer há decisões políticas com roupagem de jurídicas. Sai o direito, fica só
política pura. Ao saltar instituições, cresce o risco de populismo judicial.
A rigor, não há ilicitude na atividade de lobby em geral e a tentativa de
persuadir os legisladores pode contribuir para o debate público, o pluralismo
de ideias e a melhor equalização dos interesses em questão. A despeito de sua
má fama, o lobby também pode ser bom, trazer contribuições positivas e ser
salutar para a aprovação de leis melhores.
Um dos problemas do lobby em geral ocorre quando existe um desequi-
líbrio na representação dos interesses (quase sempre associado a uma atuação
opaca dos grupos que os representam) e disso resulta a concessão de vantagens
ou privilégios injustificados. Daí porque alguns defendem a regulação do lob-
by, com medidas que promovam transparência e accountability, apostando na
exposição pública e monitoramento do lobby.
Atualmente, não estando regulamentado, o lobby pode partir de qualquer
lado: grupos de interesses, organizações não governamentais, entidades de
classe, da própria Administração Pública, dos entes federados, assessorias par-
lamentares dos ministérios, profissionais das relações governamentais, escri-
tórios especializados nessa atividade, incluindo quaisquer agentes que tenham
poder de barganha, ou seja, também membros da cúpula do próprio Poder
Judiciário.
118
Juízes lobistas?
6. https://www.jota.info/justica/fux-revoga-liminares-que-autorizavam-pagamento-de-au-
xilio-moradia-para-juiz-e-mp-26112018
7. https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/05/lobby-incansavel.shtml
8. https://www.jota.info/eleicoes/voto-impresso-nao-e-adequado-como-auditoria-dizem-
-ex-presidentes-do-tse-desde-88-02082021
119
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
9. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2021/06/uniao-de-11-partidos-contra-vo-
to-impresso-teve-atuacao-de-alexandre-de-moraes-nos-bastidores.shtml
10. https://oglobo.globo.com/brasil/partidos-contrarios-ao-voto-impresso-trocam-deputa-
dos-na-comissao-especial-1-25085786
11. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/que-falta-fazem-as-co-
missoes-no-poder-legislativo-25112020
120
Juízes lobistas?
12. BARROSO, Luís Roberto. Sem Data Venia: Um Olhar Sobre o Brasil e o Mundo. Rio de Janeiro:
História Real, 2020, p. 202.
13. BARROSO, Luís Roberto. Sem Data Venia: Um Olhar Sobre o Brasil e o Mundo. Rio de Janeiro:
História Real, 2020, p. 201.
121
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
122
Comentários à tramitação da
PEC do Estado de Emergência
Uso estratégico do Sistema de Deliberação Remota,
apensação e quebra de interstício entre turnos
1. https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-bicamerais/-/ver/pec-1-2022
2. https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-bicamerais/-/ver/pec-15-2022
123
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/tramitacao-conjunta-ini-
ciativa-legislativa-por-emprestimo-e-autonomia-do-bc-12052021
124
Comentários à tramitação da PEC do Estado de Emergência
4. https://www2.camara.leg.br/infoleg/aplicativo/
5. https://static.poder360.com.br/2022/07/nota-Arthur-Lira-13.jul_.2022.docx.pdf
6. https://www.academia.edu/49088957/13_TÁTICAS_PARLAMENTARES_PARA_APROVA-
ÇÃO_DAS_LEIS
7. https://www2.camara.leg.br/legin/int/atomes/2022/atodamesa-235-12-abril-
-2022-792507-publicacaooriginal-164968-cd-mesa.html
8. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/para-que-serve-o-quo-
rum-nos-orgaos-colegiados-14042021
125
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
9. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
126
Comentários à tramitação da PEC do Estado de Emergência
127
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
interstício entre turnos, a partir dele, é possível entrever que o processo legis-
lativo real, como foi o da PEC 1/2022, é bastante diferente do ideal.
128
Não há prática espúria
ou inconstitucional nas
emendas de relator
É descabida a conotação dada pelas
expressões ‘orçamento secreto’ ou
‘orçamento paralelo’ às emendas RP 91
1. Artigo escrito em coautoria com MATEUS FERNANDES VILELA LIMA (Advogado do Sena-
do Federal, Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de
São Paulo) e HUGO SOUTO KALIL (Advogado do Senado Federal, Mestre em Direito pelo
Instituto Brasiliense de Direito Público).
129
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
130
Não há prática espúria ou inconstitucional nas emendas de relator
131
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescon/2006/resolucao-1-22-dezembro-
-2006-548706-normaatualizada-pl.html
3. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-interministerial-me/segov-pr-n-6.145-de-
-24-de-maio-de-2021-321788756
132
Não há prática espúria ou inconstitucional nas emendas de relator
Com isso, vê-se que tal sistemática não significa um cheque em branco
para o gasto da verba pública, uma vez que a realização da despesa deverá
seguir as normas constitucionais e infraconstitucionais próprias da execução
orçamentária do Poder Executivo, bem como a necessária fiscalização pelos
órgãos de controle.
Portanto, a execução das emendas do relator observa a legislação de re-
gência e que é aplicável para toda e qualquer dotação constante do orçamento
da União, ou seja, obedece às regras que o próprio Poder Executivo observa
para executar as demais despesas discricionárias, inexistindo inconstituciona-
lidade ou ilegalidade nos procedimentos que vêm sendo adotados, a deman-
dar – também por essa razão – a modificação ou o não referendo da decisão
cautelar.
Em quinto lugar, esclarece-se que é descabida a conotação dada pela ex-
pressão “orçamento secreto”, ou “paralelo”, uma vez que quaisquer programas,
ou projetos, bem assim a realização de despesas ou a assunção de obrigações
pela administração pública, devem ser sempre precedidas de autorização orça-
mentária (art. 167, incisos I e II, da CF). E, como se acaba de ver, as emendas,
inclusive as de relator, somente podem ser aprovadas depois de atendidas to-
das as condições de admissibilidade previstas na legislação fiscal (teto, resulta-
do fiscal, regra de ouro, mínimos constitucionais, etc.) e o consenso necessário
para a aprovação da própria LOA.
A própria Resolução do Congresso Nacional nº 1/2006, art. 144, expres-
samente determina que é vedada a apresentação de emendas que tenham por
objetivo a inclusão de programação nova, bem como o acréscimo de valores a
programações constantes dos projetos, ressalvada a finalidade de corrigir erros
e omissões de ordem técnica ou legal.
Após todas as considerações, o que fica, em resumo, é a impressão de que
continua existindo um grande desconhecimento sobre os meandros do direito
financeiro – que em boa hora passa a ser inserido como matéria obrigatória na
graduação em Direito – e a suspeita de que em várias decisões judiciais ainda
predomina a ideia de criminalização da política, o que não deixa de ser uma
faceta da politização dos órgãos da justiça.
133
Limites são mero detalhe
quando o STF decide substituir
o Congresso Nacional
Decisão do Supremo sobre as emendas
de relator não é ‘tão correta’ quanto
pareceria superficialmente
135
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/medidas-provisorias-e-estrategias-anti-
-democraticas-em-tempos-de-covid-19-14042020
2. https://www.jota.info/justica/stf-declara-que-contrabando-em-mps-e-costume-inconsti-
tucional-15102015
3. https://www.jota.info/stf/do-supremo/emendas-de-relator-maioria-no-stf-vota-para-
-manter-liminar-de-rosa-weber-09112021
136
Limites são mero detalhe quando o STF decide substituir o Congresso Nacional
137
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
138
Limites são mero detalhe quando o STF decide substituir o Congresso Nacional
139
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
140
Limites são mero detalhe quando o STF decide substituir o Congresso Nacional
Enfim, tudo isso para mostrar que a decisão tomada nas ADPFs nº 850,
851 e 854 não é “tão correta” quanto pareceria superficialmente, sobretudo
quando se investiga mais a fundo o direito de regência e as consequências.
Assim, eventual resposta do Congresso Nacional estaria longe de repre-
sentar uma reação injustificada ao decidido pelo STF, seja a constitucionali-
zação da dinâmica dos recursos RP-9 (ou eventual mecanismo substitutivo),
seja a tentativa de restrição dos poderes do STF, que, como se vê, não vêm
encontrando muitos limites.
141
2 Ca p í tu lo
PODER LEGISLATIVO,
FISCALIZAÇÃO E CONTROLE
PARLAMENTAR
Que falta fazem as comissões
no Poder Legislativo?
Processo legislativo das crises até justifica
suspensão dos colegiados por um
tempo. A questão é: até quando?
1. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/questoes-de-ordem/-/q/detalhe/2866
145
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2342
3. https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?codcol=2334
146
Que falta fazem as comissões no Poder Legislativo?
4. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/regimento-interno-da-cama-
ra-dos-deputados
5. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
147
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
148
Que falta fazem as comissões no Poder Legislativo?
6. https://www.governo.it/it/costituzione-italiana/parte-seconda-ordinamento-della-repub-
blica/titolo-i-il-parlamento/2852
7. https://www.boe.es/legislacion/documentos/ConstitucionCASTELLANO.pdf
8. https://www.parliament.uk/about/how/committees/
9. https://www.btg-bestellservice.de/pdf/80060000.pdf
10. https://www.house.gov/committees
149
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
11. https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/wDtxXwxzJzwMcr39ZmjD86m/?format=pdf&lang=pt
12. https://www.jstor.org/stable/1952367
150
Que falta fazem as comissões no Poder Legislativo?
13. https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/04/coronavirus-propostas-de-
-enfrentamentro-aprovadas-no-senado
151
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
14. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/142075
15. https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADO25QOVotoMGM3.pdf
16. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sabatina-senado-noto-
rio-conhecimento-especialidade-30092020
152
Para onde foi o bicameralismo
no Congresso Nacional?
SDR determinou que sessões conjuntas
ocorrem em separado, com impactos na
apreciação dos vetos presidenciais
153
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
que também se torna mais variada, com a segunda Casa mais voltada para os
interesses de entes regionais, socioculturais ou de contestação democrática,
proporcionando um equilíbrio no sentido contramajoritário e em detrimento
de maiorias de ocasião (se adotado o fator de incongruência eleitoral).
A divisão do Poder Legislativo em duas Casas é mais frequentemente en-
contrada em Estados federais, com maior dimensão territorial e que adotam o
sistema de governo presidencial.
No entanto, o que realmente importa é desvelar quais são os incentivos
que tais desenhos institucionais acarretam no comportamento de seus mem-
bros e nos demais atores políticos. Em outras palavras, interessa saber que es-
tratégicas emergem a partir da arquitetura constitucional do Poder Legislati-
vo – sobretudo no sistema bicameral, em que também há uma interação das
próprias Casas Legislativas entre si – e quais são seus impactos na performance
do governo. Trata-se da ótica desde uma análise econômica do processo legis-
lativo ou teoria da escolha pública (public choice theory).
Antes de avançar nesse ponto, convém explicar o modelo brasileiro. O
Congresso Nacional é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal (art. 44 da CF). Aqui, o bicameralismo é do tipo federativo, pois veio
atender, de modo especial, à forma federal do Estado, na medida em que na
Câmara estão os representantes do povo (art. 45 da CF), ao passo que no Se-
nado estão os representantes dos Estados e do Distrito Federal (art. 46 da CF).
Em contraste, por exemplo, com o bicameralismo aristocrático inglês, em que
uma das Casas representa a nobreza (Câmara dos Lordes) e a outra os plebeus
(Câmara dos Comuns). Nos dois casos, resta evidenciado que são duas forças
de natureza bastante distintas que “moldam” as decisões legislativas.
Pode-se dizer que o bicameralismo brasileiro adotou, ao mesmo tempo,
três formatos. Em primeiro lugar, para a aprovação de emendas à Constituição,
tem-se um bicameralismo “puro” ou simétrico, com perfeito equilíbrio entre
as duas Casas Legislativas, como instituído no art. 60, § 2º, da CF (para ser
aprovada, a PEC precisa ser discutida e votada em cada Casa, em dois turnos,
devendo obter três quintos dos votos dos respectivos membros).
Em segundo lugar, para a aprovação das demais espécies legislativas do
art. 59 da CF (com exceção das emendas à Constituição já referidas acima),
o bicameralismo é “mitigado” ou assimétrico, porquanto o constituinte tenha
previsto as figuras da Casa iniciadora e da Casa revisora (art. 65 da CF), com
a preponderância da primeira sobre a segunda. Além disso, especificamente
154
Para onde foi o bicameralismo no Congresso Nacional?
1. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/ECR/quadro_ecr.htm
2. https://www25.senado.leg.br/documents/59501/97171143/RCCN.pdf/
155
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www2.camara.leg.br/legin/int/atomes/2020/atodamesa-123-20-marco-
-2020-789867-norma-cd-mesa.html
4. https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2020/03/17/ato-da-comissao-diretora-
-no-7-de-2020
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/e-possivel-emendar-a-constituicao-via-
-deliberacao-remota-durante-a-calamidade-publica-29042020
6. https://www12.senado.leg.br/institucional/covid/gestao-administrativa/o-que-funciona-
-na-area-legislativa-do-senado
156
Para onde foi o bicameralismo no Congresso Nacional?
7. https://www.congressonacional.leg.br/sessoes/agenda-do-congresso-senado-e-cama-
ra/-/agenda/2020-08-19
8. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=595365
9. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/19/senado-derruba-veto-a-rea-
justes-a-policiais-medicos-e-professores-na-pandemia-texto-depende-da-camara
10. https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,camara-mantem-veto-de-bolsonaro-a-
-reajustes-de-servidores-publicos-ate-fim-de-2021,70003407088
157
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
pauta previsto na CF, art. 66, § 6º.11 O argumento apresentado nesse senti-
do foi o de que, como as sessões não são simultâneas, não se caracterizariam
como “sessão conjunta” para fins do trancamento previsto na CF. Além disso,
insistiu-se na justificativa apresentada quanto à impossibilidade das sessões
síncronas, em razão de dificuldades técnicas na autenticação necessária para a
contagem dos votos dos parlamentares em separado. Ainda assim, é duvidosa
a implicação disso sobre o trancamento da pauta do Congresso Nacional.
No entanto, o fato é que tal “flexibilização” do trancamento também se
justifica no presente momento e contexto, pois atende às necessidades de-
correntes da pandemia, na medida em que tem permitido que os projetos de
matéria orçamentária (tão necessários nesse momento) sejam aprovados mais
rapidamente,12 pois não ficam retidos pelo sobrestamento das deliberações.
Assim, a leitura estrita da CF nesse ponto, em lugar de proteger direitos, tende-
ria a prejudicá-los, o que legitima a interpretação parlamentar adotada.
A mesma reflexão vale para o funcionamento do Congresso Nacional, de
modo geral, ante as atuais recomendações de distanciamento social. Sem dú-
vidas, é melhor, mais legítimo e democrático ter um Parlamento funcionando,
ainda que remotamente, do que o contrário, especialmente ante a notícia de
que vários Parlamentos ao redor do mundo fecharam em razão da pandemia.13
O Poder Legislativo teve que lidar com inúmeros desafios, ainda em cur-
so, o que exige um chamado à compreensão para com a presente conjuntura,
pois importa mais que os debates legislativos continuem ocorrendo, e refletin-
do as preferências das maiorias quanto às soluções para enfrentar a crise.
Do ponto de vista interno, tais medidas adotadas pelo Congresso Nacional
vêm sendo elogiadas, com indicadores apontando para uma maior eficiência
nas deliberações. De fato, as sessões conjuntas tradicionalmente são palco das
diversas táticas parlamentares obstrucionistas, com diversas protelações e com
frequência são derrubadas por falta de quórum, o que foi reduzido com o SDR.
Os parlamentares, especialmente os senadores, estão muito satisfeitos (alguns
11. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/05/13/vetos-nao-trancam-pauta-
-de-sessoes-remotas-do-congresso-nacional
12. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/06/23/davi-alcolumbre-anuncia-
-que-vetos-presidenciais-serao-examinados-em-1o-de-julho
13. https://ial-online.org/wp-content/uploads/2020/07/Covid-19Legislatures-26-6-20-FW1.
pdf
158
Para onde foi o bicameralismo no Congresso Nacional?
14. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=8054544&ts=1594008755330&-
disposition=inline
159
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
15. https://www25.senado.leg.br/documents/59501/97171143/RCCN.pdf/
16. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/28/congresso-define-vetos-de-
-bolsonaro-que-serao-votados-em-setembro
160
Para que serve o quórum
nos órgãos colegiados?
Se um parlamentar sozinho não pode
tomar decisões políticas, tampouco
deveria podê-lo um ministro do STF
161
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
162
Para que serve o quórum nos órgãos colegiados?
163
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
164
Para que serve o quórum nos órgãos colegiados?
165
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
166
Para que serve o quórum nos órgãos colegiados?
167
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
168
Para que serve o quórum nos órgãos colegiados?
169
A votação secreta nas deliberações
do Poder Legislativo
A retirada da obrigação constitucional
implica na sua proibição?
1. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=28376
171
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://epoca.oglobo.globo.com/tempo/noticia/2013/08/camara-mantem-mandato-de-
-bnatan-donadonb.html
3. https://www.camara.leg.br/noticias/413103-camara-mantem-mandato-do-deputado-na-
tan-donadon-preso-ha-dois-meses/
4. https://www.camara.leg.br/noticias/426555-em-votacao-aberta-camara-cassa-mandato-
-de-natan-donadon/
172
A votação secreta nas deliberações do Poder Legislativo
5. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/regimento-interno-da-cama-
ra-dos-deputados
6. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
7. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/11/25/modalidade-de-voto-sobre-
-prisao-de-delcidio-provoca-discussao-em-plenario/
8. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/questoes-de-ordem/-/q/detalhe/2715
9. https://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?https://www1.folha.uol.com.br/po-
der/2015/11/1711143-plenario-estabelece-o-voto-aberto-em-analise-de-prisao-de-delci-
dio.shtml
173
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
174
A votação secreta nas deliberações do Poder Legislativo
175
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
10. https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoRegimentoInterno/anexo/RISTF.pdf
176
A votação secreta nas deliberações do Poder Legislativo
11. https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=495569
12. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/02/01/senado-divulga-edital-com-
-regras-para-as-reunioes-de-posse-e-de-eleicao-de-presidente-da-casa
13. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/02/01/alcolumbre-revoga-regula-
mento-da-eleicao-da-mesa-e-propora-novas-regras
14. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/questoes-de-ordem/-/q/detalhe/2841
15. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15339450530&ext=.pdf
16. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/02/02/davi-alcolumbre-e-eleito-
-novo-presidente-do-senado-federal
177
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
17. https://www.metropoles.com/brasil/veja-o-1o-discurso-de-david-alcolumbre-como-pre-
sidente-do-senado
18. https://oglobo.globo.com/epoca/guilherme-amado/davi-alcolumbre-cobrado-por-pro-
messa-para-acabar-com-votacoes-secretas-do-senado-24635276
19. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/134659
178
A votação secreta nas deliberações do Poder Legislativo
179
O que podem fazer, afinal,
os Conselhos de Ética e
Decoro Parlamentar?
Direito e política se misturam na punição
disciplinar dos congressistas
1. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/conselhos/-/conselho/cedp/legislacao
2. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescad/2001/resolucaodacamaradosdeputados-
-25-10-outubro-2001-320496-publicacaooriginal-1-pl.html
181
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2108200906.htm
182
O que podem fazer, afinal, os Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar?
183
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
184
O que podem fazer, afinal, os Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar?
4. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/140778
185
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141192
6. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/144577
7. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/144962
8. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/145152
9. https://www12.senado.leg.br/tv/programas/noticias-1/2020/10/jayme-campos-diz-que-
-nao-havera-omissao-do-conselho-de-etica-sobre-peticao-contra-chico-rodrigues
10. https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2020/04/23/senado-suspende-prazos-de-
-comissoes-mistas-e-cpi-das-fake-news-e-prorrogada-por-tempo-indeterminado
11. https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/eticaedecoro/processos.html
12. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2261310
13. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/10/22/ato-da-mesa-nao-permite-
-reuniao-diz-presidente-do-conselho-de-etica
186
O que podem fazer, afinal, os Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar?
187
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
188
Supressão do debate
parlamentar como instrumento
de ‘checks and balances’
O art. 49.3 da Constituição francesa e a garantia
da aprovação das leis essenciais ao governo
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/emendas-de-relator-nao-ha-pratica-es-
puria-ou-inconstitucional-09112021
189
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.scielo.br/j/ln/a/7P5HPND88kMJCYSmX3hgrZr/?format=pdf&lang=pt
3. https://www.conseil-constitutionnel.fr/le-bloc-de-constitutionnalite/texte-integral-de-la-
-constitution-du-4-octobre-1958-en-vigueur
190
Supressão do debate parlamentar como instrumento de ‘checks and balances’
4. https://www.lemonde.fr/politique/article/2020/02/29/reforme-des-retraites-le-
-gouvernement-annonce-recourir-a-l-article-49-3-pour-faire-adopter-son-pro-
jet_6031362_823448.html
5. https://mjp.univ-perp.fr/textes/debre1958.htm
6. https://www.lemonde.fr/idees/article/2020/03/03/le-mauvais-usage-de-l-article-49-3-de-
-la-constitution_6031659_3232.html
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-exe-
cutivo-e-do-legislativo-03022021
191
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
8. https://www.academia.edu/49088957/13_TÁTICAS_PARLAMENTARES_PARA_APROVA-
ÇÃO_DAS_LEIS
9. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/as-licoes-da-sabatina-de-
-andre-mendonca-08122021
192
Supressão do debate parlamentar como instrumento de ‘checks and balances’
não existem tais mecanismos institucionais, nem nada sequer parecido ao art.
49.3 da Constituição francesa.
Olhando para a realidade brasileira, fica a impressão de que a Constitui-
ção de 1988, na raiz da preocupação com o fechamento do Congresso Nacio-
nal no regime anterior, quis mais “fortalecê-lo” do que “enquadrá-lo”. Basta
uma leitura das atribuições do Congresso Nacional, notadamente os arts. 48 e
49 da Constituição Federal, para ver que não há “compromissos” voltados para
a criação de boas relações entre o Executivo e o Legislativo.
A Constituição não trouxe quaisquer instrumentos voltados para chamar
o Parlamento à responsabilidade nas situações em que as medidas considera-
das importantes para o governo ficam dormitando “nas gavetas” do Congresso
Nacional. Nessa situação, o presidente fica refém, não existe nada que o jurí-
dico possa fazer e resolver essa equação de engenharia política e institucional
não é simples. Existe o poder de agenda do Legislativo, mas até mesmo esse
poder encontra limites.
Independentemente do governo, convém que o Congresso Nacional co-
mece, quanto antes, a discutir os objetivos permanentes do país (como a ma-
nutenção da integridade territorial, soberania, inclusive energética e alimen-
tar, independência, etc.) e circunstanciais (voltados para atender às demandas
mais urgentes à maioria da população, que assim sinalizou ao eleger determi-
nado partido ou candidato com seu programa de governo). Assim se previne o
pior e se superam crises político-institucionais.
193
Quem controla os ministros do STF?
1. https://www.conjur.com.br/2020-mai-02/ives-gandra-harmonia-independencia-poderes
2. https://www.conjur.com.br/2020-mai-28/ives-gandra-artigo-142-constituicao-brasileira
195
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.
15. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p.1155.
196
Quem controla os ministros do STF?
não à modalidade de inatividade a que se refere o artigo 40, inciso II, da CF,
aos 75 anos de idade, embora ambas tenham o mesmo nomen juris). Pelo pa-
rágrafo único do artigo 42, desembargadores e ministros não estão sujeitos às
penas de advertência e de censura. Já a pena de remoção compulsória (de uma
turma para a outra) se mostra inviável no STF, pois, na prática, implicaria uma
permuta.
Como sabido, a diferença entre as penas de disponibilidade e de aposen-
tadoria compulsória se refere à possibilidade de retorno ou não para o cargo,
já que a disponibilidade implica um afastamento temporário (por pelo menos
dois anos), ao passo que a aposentadoria compulsória é definitiva.
Normalmente, as penas disciplinares são aplicadas pelo próprio tribunal
a que está vinculado o juiz ou pelo Conselho Nacional de Justiça. Conforme a
decisão na ADI nº 3367, contudo, o CNJ não tem qualquer competência sobre
o STF e seus ministros, sendo este o órgão máximo do Poder Judiciário nacio-
nal, a que aquele está sujeito.
Assim, embora não atue o CNJ, o próprio Pleno do STF pode fazer as
vezes de órgão corregedor – atuando de ofício ou mediante representação fun-
damentada do Poder Executivo ou do Legislativo, do Ministério Público ou
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – com vistas à im-
posição das penas disciplinares, aplicando, no que couber, o rito do artigo 27
da Loman. A representação poderá ser rejeitada liminarmente por manifesta
improcedência.
Em sendo aceita, inicia-se o processo administrativo, assegurada a ampla
defesa, sendo possível, a partir da instauração do processo, ou no curso dele,
determinar-se o afastamento do ministro do exercício das suas funções, sem
prejuízo dos vencimentos e das vantagens, até a decisão final (artigo 27, § 3º,
da Loman), que deverá ser tomada pelo voto da maioria absoluta dos membros
do tribunal (artigo 93, inciso X, da CF).
Para infrações disciplinares graves, ainda seria possível a demissão ou
perda do cargo. A vitaliciedade do artigo 95, inciso I, da CF – também apli-
cável aos ministros do STF, inclusive desde a posse – garante que a perda do
cargo só possa se dar por sentença judicial transitada em julgado. Para isso,
seria necessário o ajuizamento de uma ação civil própria, cuja iniciativa, em
se tratando de um ministros do STF, cabe ao procurador-geral da República.
Embora não haja previsão expressa no artigo 102 da CF, não há dúvida de que
a competência para processar e julgar originariamente essa ação será também
do próprio STF.
197
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
4. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 60.
198
Quem controla os ministros do STF?
199
A ‘morte cruzada’ do
Executivo e do Legislativo
Seria o curioso instituto do Equador uma
alternativa melhor do que o impeachment?
201
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
202
A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo
5. TALEB, Nassim Nicholas. Arriscando a própria pele: assimetrias ocultas no cotidiano. Rio de
Janeiro, Objetiva, 2018, p. 66.
203
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. http://www.cieplan.org/wp-content/uploads/2019/12/Reforma-partidos-politicos_Capi-
tulo_1_P1.pdf
204
A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo
205
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
206
A ‘morte cruzada’ do Executivo e do Legislativo
207
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
208
A ‘incapacidade moral’ do presidente da República
A ‘incapacidade moral’ do
presidente da República
Seria o instituto do Peru um dos rumos
para o impeachment no Brasil?
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-exe-
cutivo-e-do-legislativo-03022021
209
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
210
A ‘incapacidade moral’ do presidente da República
211
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
212
A ‘incapacidade moral’ do presidente da República
213
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/stf/do-supremo/fux-deixa-para-nunes-marques-decisao-sobre-an-
damento-de-impeachment-na-camara-19072021
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/pode-o-stf-determinar-a-
-criacao-da-cpi-da-pandemia-31032021?amp=1
214
A ‘incapacidade moral’ do presidente da República
215
Existe hora marcada para se
tornar ministro do STF?
A dificuldade com a competência
do art. 52, inciso III, da CF
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/lewandowski-nega-pedido-para-forcar-realizacao-
-de-sabatina-de-mendonca-pela-ccj-11102021
2. https://www.jota.info/legislativo/alcolumbre-ao-stf-data-de-sabatina-de-mendonca-de-
pende-de-amadurecimento-politico-06102021
217
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sabatina-senado-noto-
rio-conhecimento-especialidade-30092020
218
Existe hora marcada para se tornar ministro do STF?
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-morte-cruzada-do-exe-
cutivo-e-do-legislativo-03022021
219
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
momento da escolha quem designa ou nomeia o faz com base em uma avaliação
sobre a pessoa, uma avaliação de diversos aspectos, inclusive os relativos a ati-
vidades anteriores. Mas essa avaliação não estabelece uma relação bilateral: o
indicado ou nomeado não tem nada a “devolver” e, se necessário, é bom que ele
ou ela o diga imediatamente. Nos Estados Unidos, falou-se de “ingratidão força-
da”: o juiz recém-nomeado demonstrava sua independência ao dar uma opinião
diferente daquela esperada pelo presidente que o havia nomeado.”.5
Dito de outra maneira, a legitimidade da origem que espelha uma indica-
ção chancelada pela maioria parlamentar não se confunde com a legitimidade
que só o exercício no cargo com independência poderá conferir, essa, sim, a
que verdadeiramente importa.
É claro que determinados candidatos podem, de antemão, gozar de um
prestígio suficiente a ponto de reunirem em torno de si um apoio generalizado
entre os senadores. No entanto, quando o bloqueio de um nome se dá por ra-
zões políticas, é nesse mesmo terreno que a questão deve ser resolvida.
Por isso, considerações estritamente jurídicas têm pouco a oferecer na
problemática senatorial. Por outro lado, o “jurídico” poderia, sim, jogar luzes
sobre os impactos que a vacância do cargo de ministro do STF gera no funcio-
namento da corte.
Em primeiro lugar, tem-se a paralisação dos processos que compunham
o acervo do ministro Marco Aurélio, cuja aposentadoria gerou a vaga. Pedi-
dos urgentes podem ser conhecidos pelo presidente ou distribuídos a outros
ministros, mas, ainda assim, há um desfalque e um prejuízo às ações paradas.
Em segundo lugar, tem-se o prejuízo na distribuição de novos processos,
que ainda não podem contar com o futuro ministro, de modo que as ações
recém-ajuizadas são divididas só entre os ministros que já estão na corte, o que
acarreta uma sobrecarga no trabalho dos atuais ministros.
220
Existe hora marcada para se tornar ministro do STF?
221
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://www.jota.info/justica/stj-aguardara-retorno-presencial-para-indicar-novos-minis-
tros-09082021
222
Existe hora marcada para se tornar ministro do STF?
223
As lições da sabatina de
André Mendonça
Quais são os limites da obstrução parlamentar?
1. https://www.jota.info/legislativo/andre-mendonca-aprovado-ccj-stf-01122021
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/existe-hora-marcada-pa-
ra-se-tornar-ministro-do-stf-13102021
225
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sabatina-senado-noto-
rio-conhecimento-especialidade-30092020
226
As lições da sabatina de André Mendonça
227
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
228
As lições da sabatina de André Mendonça
229
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
senadores que não são da CCJ façam perguntas (inclusive, é o que acontece
em alguma medida). Apenas há regras de preferência para os membros da
própria comissão. Seja como for, é indiscutível que a realização das arguições
nas comissões oportuniza um debate mais especializado e de maior qualidade.
Na eventualidade de a sabatina ser realizada no plenário, pergunta-se: to-
dos os senadores poderiam fazer perguntas? Em caso positivo, essa possibili-
dade não implicaria submeter o candidato a um constrangimento adicional
em relação aos que lhe antecederam nessa etapa de arguição senatorial? Quais
seriam os procedimentos de organização? Considerando a arquitetura do ple-
nário, onde o candidato inquirido ia ficar: sentado na mesa que preside os
trabalhos ou no parlatório? Tudo isso provocaria interferências na dinâmica
prática da sabatina.
Em segundo lugar, as arguições nas comissões funcionam como um dou-
ble check, somando-se à votação em plenário. Trata-se de um procedimento de
escolha em duas etapas. Assim, na eventualidade de a matéria ser levada dire-
tamente ao Plenário, estaria sendo feita uma modificação no desenho institu-
cional do procedimento. É duvidoso que um eventual by-pass das comissões,
afetando tal competência diretamente para o Plenário, seja uma providência
neutra em termos de procedimento deliberativo.
No rito normal, o relator indicado na CCJ apresenta um “relatório” à co-
missão (artigo 383, inciso II, alínea a, do Regimento) e, após a arguição do
indicado, o referido relatório é votado pelo colegiado (alínea g). Na sequência,
a matéria segue para o Plenário, onde a votação se dá já sobre o nome do in-
dicado. Por seu turno, na eventual hipótese de a arguição ser realizada direta-
mente no plenário, pergunta-se: seria designado relator para ler o “parecer”
em plenário, antes ou depois da arguição pública?
Em terceiro lugar, por mais que o Regimento, artigo 406, retire a força
obrigatória das questões de ordem (só a adquirem se incorporadas ao próprio
Regimento), caso, pela primeira vez na história, a sabatina de autoridades seja
realizada diretamente pelo plenário, esse simples fato gerará, sim, um “prece-
dente” com vistas a casos futuros, e não só quanto aos indicados para o cargo
de ministro do STF. O episódio tenderia a ser suscitado dentro de um lapso
temporal cada vez mais reduzido, com risco de enfraquecimento e esvazia-
mento da atuação das comissões.
Em resumo, embora não haja exclusividade na Constituição Federal ou
no Regimento Interno do Senado, do ponto de vista prático, existe, sim, uma
preferência no sentido de que as sabatinas sejam realizadas no âmbito das
230
As lições da sabatina de André Mendonça
231
O controle parlamentar
via requerimentos de
informação na Câmara
RICs foram o terceiro tipo de proposição
legislativa mais protocolada em 2021
233
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Quantidade
Instrumento (2011-2021)
Objetivo Fundamento legal
legislativo
(n) (%)
234
O controle parlamentar via requerimentos de informação na Câmara
Quantidade
Instrumento (2011-2021)
Objetivo Fundamento legal
legislativo
(n) (%)
235
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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O controle parlamentar via requerimentos de informação na Câmara
237
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
238
O controle parlamentar via requerimentos de informação na Câmara
239
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
240
Quem tem ‘notório conhecimento
no campo de sua especialidade’?
Algumas particularidades nas sabatinas
de autoridades pelo Senado Federal1
“Faça da sua ausência o bastante para que alguém sinta sua falta, mas não
a prolongue demais para que esse alguém não aprenda a viver sem ti”. De auto-
ria desconhecida, a frase poderia funcionar de alerta para uma reflexão sobre
o papel da competência insculpida no art. 52, incisos III e IV, da CF.
Segundo tais dispositivos constitucionais, compete privativamente ao Se-
nado Federal aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a
escolha de magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; ministros
do Tribunal de Contas da União indicados pelo presidente da República; go-
vernador de Território; presidente e diretores do Banco Central; procurador-
-geral da República; titulares de outros cargos que a lei determinar; e os chefes
de missão diplomática de caráter permanente.
Quanto a esses últimos, vale registrar o desuso do caráter sigiloso das ar-
guições, tendo-se equiparando o rito do inciso IV ao estabelecido para o inciso
241
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/autoridades
242
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www12.senado.leg.br/noticias/arquivos/2020/03/17/ato-da-comissao-diretora-
-no-7-de-2020
4. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/27/senadores-terao-esquema-
-seguro-para-votacoes-secretas-durante-a-pandemia
5. https://adm.senado.leg.br/normas/ui/pub/normaConsultada;jsessionid=BE96CA51EE-
0B2E8EF64CDBA83B5B72DD.tomcat-1?0&idNorma=288567
6. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
7. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/09/16/senado-toma-medidas-pa-
ra-garantir-seguranca-sanitaria-durante-as-sessoes-semipresenciais
243
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
8. https://www12.senado.leg.br/ecidadania/principalaudiencia
9. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/09/23/senado-conclui-esforco-
-concentrado-para-votar-autoridades
244
Quem tem ‘notório conhecimento no campo de sua especialidade’?
10. https://www.gov.br/anvisa/pt-br
11. https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/24851
245
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
12. https://www.jota.info/tributos-e-empresas/saude/agu-ans-anvisa-agencias-29052020
246
Quem tem ‘notório conhecimento no campo de sua especialidade’?
13. https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/556152/TCC_Rodrigo%20de%20
Camargo%20Rodrigues.pdf?sequence=1&isAllowed=y
247
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Essas perguntas devem ser respondidas antes que seja tarde demais, e já
tenha se consolidado o esvaziamento da competência senatorial quanto ao
controle das autoridades indicadas pelo Poder Executivo.
248
Que tipo de controle cabe
em relação às sabatinas?
Arguições de dirigentes das agências
reguladoras são foco de mais atenção
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sabatina-senado-noto-
rio-conhecimento-especialidade-30092020
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/existe-hora-marcada-pa-
ra-se-tornar-ministro-do-stf-13102021
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/as-licoes-da-sabatina-de-
-andre-mendonca-08122021
249
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
250
Que tipo de controle cabe em relação às sabatinas?
permitindo maior concorrência e que a escolha recaia sobre aquele que de-
tenha os maiores méritos, concretizando o interesse público e o princípio da
eficiência vazado no art. 37, caput, da CF.
Eventuais condições de acesso ao cargo público até podem ser feitas, mas
apenas se legitimam quando instituídas para serem aferidas quando do instan-
te do provimento do cargo, é dizer, no momento da posse.
Dessa forma, o mesmo raciocínio da Súmula nº 266 do STJ seria aplicável
por analogia à sabatina, notadamente as regras de impedimento do art. 8º-A
acima mencionado, ante a semelhança que a indicação e sabatina da autori-
dade guardam com o concurso público como requisito de acesso aos cargos
públicos e, especialmente, quando inexistente norma constitucional expressa
nesse sentido, o que, sim, poderia mudar a lógica do raciocínio.
Inclusive, é por isso que excepcionalmente o enunciado nº 266 não se apli-
ca aos concursos para a magistratura e para membro do Ministério Público,
pois a matéria é regulada no art. 93, inciso I, e no art. 129, § 3º, da CF, ambos
com redação dada pela EC nº 45/04, que constitucionalizou a exigência de
experiência mínima de 3 anos de atividade jurídica, passando esse requisito a
ser exigido ainda antes da posse conforme a Resolução nº 75/2009 do CNJ e
Resolução nº 14/2006 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Portanto, as eventuais restrições para o acesso de cargos públicos, mesmo
quando legalmente previstas e dotadas de razoabilidade, podem ser conside-
radas pelo Senado Federal como obrigatórias somente para o exercício das
atribuições do cargo.
Dito em outras palavras, o preenchimento dos requisitos legais (bem
como a ausência de impedimentos) não precisa se fazer presente já no mo-
mento da indicação da autoridade ou mesmo no instante da sabatina sena-
torial, pela mesma razão pela qual não seria possível exigir que o candidato a
concurso público já preenchesse todos os requisitos legais de provimento do
cargo almejado no momento da inscrição e participação no certame.
Naturalmente, pode o Senado Federal com base no art. 52, inciso III, alí-
nea f, da CF entender como suficiente, portanto, a apresentação pelo sabatina-
do dos respectivos comprovantes de habilitação e de não impedimento apenas
no momento da futura posse.
As indicações e as respectivas arguições são políticas. Os requisitos do art.
5º da Lei 9.986/2000, com redação dada pela Lei 13.838/2019, não retiram esse
caráter. Assim, o simples fato de o nome indicado pelo presidente da República
251
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
e aprovado pelo Senado Federal não ser do agrado de alguns atores não se
presta à movimentação de um suposto controle de legalidade da arguição e de
aprovação de autoridades.
Nos últimos tempos, no entanto, aumentam o número de notícias de fatos
ou inquéritos civis no âmbito do Ministério Público pretendendo a anulação de
sabatinas (por exemplo, os que tiveram por objeto as Mensagens SF nº 96/2020
e nº 31/2021), ações populares sustentando violação aos princípios da mora-
lidade e da impessoalidade (por exemplo, a de nº 1070666-28.2020.4.01.3400)
e agora até mesmo decisões cautelares proferidas pelo TCU determinando a
suspensão de arguição no Senado, mesmo a unidade jurisdicionada sendo
“Presidência da República” (Processo nº 001.016/2022-9).
Ora, as sabatinas fazem parte de um processo legislativo, não administra-
tivo. Por consequência, deve ser aplicada a mesma jurisprudência do STF que
afasta o controle jurisdicional prévio do processo legislativo fora das hipóteses
de violação de normas constitucionais que fixam procedimentos, na linha do
MS nº 32.033.
Recorde-se a própria tese aprovada para o tema 1.120 da repercussão ge-
ral do STF: “Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no art.
2º da Constituição Federal, quando não caracterizado o desrespeito às normas
constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é defeso ao Poder Judiciário
exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do al-
cance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar de
matéria interna corporis”.
Assim, as sabatinas sujeitam-se unicamente ao controle quanto às normas
constitucionais de regência e ao controle de natureza política, esse último rea-
lizado exclusivamente pelos próprios parlamentares, sobretudo nos casos em
que são exigidas maiorias qualificadas, dado que tal quórum pressupõe um
consenso pluripartidário, exigindo uma ampla participação das legendas no
processo.
Fora dessas hipóteses, qualquer outro tipo de controle de legalidade pre-
ventivo representa subtração ou embaraço da livre formação da vontade sena-
torial.
Sobretudo no caso do controle pretendido pelo TCU, não tem cabida
perguntar se esse novo “arranjo institucional” é bom ou desejável para uma
eventual melhoraria da qualidade da regulação e da governança nas agências
252
Que tipo de controle cabe em relação às sabatinas?
4. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2003/06/24/senado-rejeita-indicacao-
-para-agencia-nacional-do-petroleo
5. https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,termo-pizzaiolos-usado-por-lula-irrita-se-
nadores,403332
6. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2009/12/17/interna_politi-
ca,161472/candidato-indicado-por-partido-para-uma-das-diretorias-da-ana-acaba-veta-
do-por-senadores.shtml
7. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/103776
8. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/05/19/senado-rejeita-indicacao-
-de-guilherme-patriota-para-a-oea
253
3 Ca p í tu lo
IMUNIDADES
PARLAMENTARES E ESTATUTO
DOS CONGRESSISTAS
Podem ser reeleitos os presidentes
da Câmara e do Senado?
ADI 6.524 poderá definir se houve mutação
constitucional do art. 57, § 4º, da CF
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/ptb-aciona-stf-para-impedir-reeleicao-dos-presi-
dentes-do-senado-e-da-camara-05082020
2. https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/02/24/interna_politi-
ca,830143/mesmo-vetada-reeleicao-de-maia-e-alcolumbre-e-considerada-opcao.shtml
257
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
A norma constitucional referida é a que consta do art. 57, § 4º, pelo qual
“Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de
fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição
das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para
o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.”.
A atual redação desse dispositivo foi dada pela EC n. 50/2006, cujo propó-
sito foi o de promover mera alteração de redação para que o período do man-
dato fosse grafado também por algarismo arábico e não apenas por extenso.
Assim, conforme os documentos legislativos,3 não se pretendeu alterar quais-
quer dos âmbitos de validade da norma jurídica, que permaneceu a mesma, ou
seja, a rigor, trata-se de norma constitucional originária.
Já entendeu o STF que o art. 57, § 4º, da CF, não é de reprodução obri-
gatória nas Constituições dos Estados-membros, conforme a ADI n. 793,4
reiterada em outras ocasiões (ADI n. 792, 1.528, 2.371). Assim, fora do plano
federal, há margem para decisão em sentido diverso do estabelecido na CF.
Dentro das Casas Legislativas do Congresso Nacional, consolidou-se a
interpretação de que a vedação desse art. 57, § 4º, da CF, só alcança a eleição
realizada dentro da mesma legislatura, ou seja, não se considera recondução
a eleição para o mesmo cargo em legislaturas diferentes, ainda que sucessivas.
Assim, a norma constitucional não vedaria a eleição para o 3º e 4º anos da le-
gislatura X e, na sequência, a eleição para o 1º e 2º anos da legislatura X+1. In-
clusive, essa interpretação foi expressamente consignada no regimento interno
da Câmara dos Deputados,5 art. 5º, § 1º, cuja aprovação ocorreu em 1989.
Em outras palavras, a interpretação constitucional legislativa – isto é, leva-
da a cabo pelo Poder Legislativo – da citada norma constitucional entende que
o sentido da proibição do art. 57, § 4º, da CF, seria o de impedir que o eleito
no 1º ano da legislatura venha a ser reeleito no 3º ano dessa mesma legislatu-
ra, além de, naturalmente, vedar a reeleição para além de um único período
subsequente.
3. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4787029&ts=1594016407583&-
disposition=inline
4. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266538
5. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/regimento-interno-da-cama-
ra-dos-deputados
258
Podem ser reeleitos os presidentes da Câmara e do Senado?
6. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753396255&pr-
cID=5972250
7. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
8. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz14129809.htm
9. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz05129810.htm
10. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753396247&pr-
cID=5972250
259
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
11. https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoRegimentoInterno/anexo/RISTF.pdf
12. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1312200714.htm
13. https://www.migalhas.com.br/arquivos/2016/11/art20161114-05.pdf
260
Podem ser reeleitos os presidentes da Câmara e do Senado?
14. https://static.poder360.com.br/2017/02/HelenoTorres-parecerRodrigoMaia-31jan2017.
pdf
15. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314980224&ext=.pdf
16. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311141842&ext=.pdf
261
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
para o biênio 1999-2000), José Sarney (eleito para o biênio 2009-2010 e reelei-
to para o biênio 2011-2012) e Renan Calheiros (eleito para o biênio 2013-2014
e reeleito para o biênio 2015-2016); e b) na Câmara dos Deputados: Michel Te-
mer (eleito para o biênio 1997-1998 e reeleito para o biênio 1999-2000), Marco
Maia (eleito para o biênio 2010-2011 e reeleito para o biênio 2012-2013) e
Rodrigo Maia (eleito em 2016 para mandato-tampão, reeleito para o biênio
2017-2018 e, depois, para o biênio 2019-2020).
Nesse contexto, parece estar-se diante de uma tensão entre a Constitui-
ção formal escrita de 1998 e os fatos sobre os quais seu texto se projeta, isto é,
a Constituição da realidade em 2020. As práticas parlamentares parecem ter
mudado o sentido do texto constitucional do art. 57, § 4º, da CF, e resta saber
se, na substância, essa mutação é constitucional ou não.
Não é novidade que a Constituição não se esgota em seu texto e que os
órgãos legislativos estão autorizados a interpretá-la, fixando seu significado
e alcance, pela aprovação de emendas à Constituição e de leis que a comple-
tam. Contudo, a interpretação constitucional legislativa não se dá somente por
meios formais ou por intermédio do processo legislativo. O costume parla-
mentar – ainda de modo sub-reptício – também pode, pouco a pouco, conferir
nova aplicação às normas constitucionais, inclusive por exigências de ordem
prática (como ilustram as vacâncias acima mencionadas). Disso, resultariam
mutações constitucionais, cujo lastro democrático em concreto adviria da
qualidade, detida pelos legisladores, de representantes da sociedade.
Nesse sentido, outro exemplo de costume constitucional parlamentar é
o desuso do caráter sigiloso das arguições do art. 52, inciso IV, da CF, pois as
reuniões da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal (encarregada
de sabatinar os candidatos a chefe de missão diplomática de caráter perma-
nente) são públicas, transmitidas em tempo real e interativas.17 Na prática,
houve uma aproximação do rito do inciso IV ao estabelecido para o inciso III
do citado art. 52 da CF. Como tal desuso (mesmo sendo contra legem) atende
a exigências de transparência, moralidade e impessoalidade – as quais desa-
conselhariam o cumprimento da referida norma nos tempos atuais –, seria
admissível como processo de mudança constitucional.
Como se vê, o desenvolvimento do processo político é um campo fér-
til para o surgimento de mutações constitucionais. É verdade que, a rigor, a
17. https://www12.senado.leg.br/ecidadania/principalaudiencia
262
Podem ser reeleitos os presidentes da Câmara e do Senado?
18. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635
263
Será tão absurdo assim?
Parlamentar eleito para Legislativo diverso
não pode ter proteção menor do que de
mandatário reeleito para a mesma Casa1
1. Artigo escrito em coautoria com ANTÔNIO FELIPE DE AMORIM CADETE (Juiz Federal Subs-
tituto junto ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região).
2. https://www.jota.info/stf/supra/caso-queiroz-foro-privilegiado-23062020
3. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748842078
4. “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por
prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a
cessação daquele exercício.” (cancelada).
265
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2797,5 em 2005, que declarou inconstitucional o art. 84, § 1º, do CPP, que
havia sido inserido pela Lei nº 10.628/2002.
Aqui, propõe-se um novo olhar, enfrentando a questão sob a ótica exclu-
siva das normas e princípios constitucionais e do que foi debatido na questão
de ordem na AP nº 937, já que, se esse julgamento está sendo tomado como
precedente, deve representar – defende-se aqui – verdadeiro overruling (su-
peração) em relação aos outros que o antecederam em matéria de foro por
prerrogativa de função.
Nesta perspectiva, o último entendimento do STF deve ser analisado de
forma separada, e não somado, nem conjugado aos anteriores, sob pena de, aí
sim, conduzir a resultados absurdos.
O caso fático da AP nº 937 envolvia a situação de um deputado federal
que, concorrendo nas eleições para a Prefeitura de Cabo Frio (RJ) em 2008, foi
acusado de captação ilícita de sufrágio. Como foi eleito prefeito, o réu teve sua
denúncia recebida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro – TRE-
-RJ em 2013.
Com o fim de seu mandato, o caso foi enviado para a primeira instân-
cia em 2014, ali tendo permanecido enquanto o réu esteve sem mandato. Em
2015, no entanto, o réu (que figurava como suplente) assumiu como deputado
federal, e os autos foram remetidos ao STF.
Ocorre que, em 2016, o réu novamente se afastou do mandato (diante do
retorno do titular), tendo ficado nessa situação sem foro por alguns meses até
reassumir outra vez como suplente e, pouco depois, ser efetivado no mandato,
em virtude da perda do cargo pelo eleito.
Como se não bastassem todas as intercorrências já citadas, o réu ainda
veio a ser eleito prefeito de Cabo Frio mais uma vez, assumindo em 2017. O
caso, nas palavras do min. Luís Roberto Barroso, “revela a disfuncionalidade
prática do regime de foro”.6
Entender bem a circunstância fática da AP nº 937 é importante, pois per-
mite a clareza necessária para separar os diferentes tipos de situação que po-
dem surgir. De um lado, está o caso daqueles cujas sucessivas mudanças de
cargos resultaram no “sobe e desce de autos”, em atenção às regras de foro do
5. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=395710
6. https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ap937QO.pdf
266
Será tão absurdo assim?
7. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314282324&ext=.pdf
267
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
268
Será tão absurdo assim?
269
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Com essa solução, não se está estendendo o foro a quem não mais o tem,
mas simplesmente se estabelecendo que, para os que “mudaram de foro”, a
fixação da competência é determinada pelo cargo ocupado na data do cometi-
mento da suposta prática criminosa.
Assim, sem ampliar o foro de prerrogativa de função, nem implicar dis-
funcionalidades práticas, a tese acolhida pelo TJRJ evita o sobe e desce de pro-
cessos e não esvazia a garantia constitucional dos congressistas.
270
Sobre as medidas de busca e
apreensão no Congresso Nacional
Urge o entendimento quanto ao protocolo
para a execução dessas ordens, com
requisitos, limites e competência
271
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Legislativas como um todo, pelo que estaria proibido, por exemplo, sua reali-
zação nos dias de sessões deliberativas.
Aqui, não custa recordar que as dependências do Congresso Nacional,
como sede do Poder Legislativo, gozam da mesma garantia de inviolabilidade
de domicílio, nos termos do art. 5º, inciso XI, cuja extensão alcança qualquer
recinto onde se exerce atividade profissional.1
A perplexidade tampouco é somente porque tais ordens de busca e
apreensão têm potencial para obstaculizar, direta ou indiretamente, o pleno e
regular exercício do mandato parlamentar e de suas funções legislativas, o que
também per se implica dificuldades para sua operacionalização.
É que, em se tratando de congressista, essa situação deve provocar a re-
messa dos autos em 24h para que a Casa Legislativa respectiva, com base no
art. 53, § 2º, da CF, resolva sobre a medida cautelar, pelo voto da maioria de
seus membros.
Esse deve ser o procedimento em razão do decidido na ADI nº 5526,2
quando se admitiu a possibilidade de aplicação, aos membros do Poder Legis-
lativo, das medidas cautelares diversas da prisão do art. 319 do CPP, aplicando-
-se por analogia as disposições do art. 53, § 2º, quanto à deliberação legislativa.
A despeito de tal julgado ter se referido a medidas cautelares pessoais não
detentivas, o raciocínio também deve ser aplicável às cautelares de busca e
apreensão de objetos, porquanto presente o mesmo cerceamento direto ou
indireto ao mandato, já que onde existe a mesma razão, deve ser aplicado o
mesmo direito (ubi eadem ratio ibi idem jus).
Assim, em respeito à lógica consubstanciada na ADI nº 5526, a diligência
nas dependências do Congresso Nacional geraria a obrigação de armazena-
mento do material retido até tal decisão por parte da Câmara ou do Senado.
Do contrário, o controle legislativo ex post não seria capaz de restaurar o status
quo ante.
Eis, assim, um segundo limite: uma vez apreendidos objetos ou docu-
mentos dentro do Congresso Nacional, seria necessário lacrá-los a fim de que,
nem a autoridade policial, nem a judicial possam acessá-los até a deliberação
1. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=539135&p-
gI=1&pgF=100000
2. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=747870228
272
Sobre as medidas de busca e apreensão no Congresso Nacional
3. https://www.jota.info/stf/do-supremo/toffoli-suspende-busca-e-apreensao-no-gabinete-
-de-jose-serra-no-senado-21072020
4. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/07/rcl-42335-mc.pdf?x73076
273
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
que juízes de primeira instância possam determiná-las sem gerar ruídos: a sis-
temática tem tudo para não funcionar bem.
Vale registrar que a mesma linha de raciocínio fundamenta decisões no
direito comparado, de que é exemplo o caso Brown Williamson Tobacco Corp v.
Williams,5 julgado em 1995 pela Corte de Apelações do Distrito de Columbia
(Estados Unidos), e reiterado em 2007 quando do caso US v. Rayburn House
Office Building.6
Nessas ocasiões, entendeu-se que a execução de mandados de busca e
apreensão no gabinete parlamentar não pode apreender materiais “protegidos
pela imunidade parlamentar” ou implicar intromissão no processo legislativo.
Assim, as três limitações propostas acima não devem ser entendidas como
ampliação indevida da imunidade parlamentar, blindagem institucional, nem
artifícios para impedir ou postergar investigações contra parlamentares.
Trata-se apenas de zelar pelas prerrogativas dos congressistas, garantir a
efetividade das proteções constitucionais asseguradas aos legisladores brasilei-
ros, fechando brechas para a intervenção nas atividades do Congresso Nacio-
nal ou para a intimidação de parlamentares.
Nesse contexto, é grave que o entendimento da referida Rcl nº 42.335 não
tenha prevalecido para o deputado Paulinho da Força,7 cujo gabinete tam-
bém fora alvo de buscas no último dia 14 de julho.
A Mesa da Câmara dos Deputados chegou a apresentar a Rcl nº 42.446,
mas o min. Marco Aurélio negou seguimento ao pedido8 em 29 de julho,
em decisão que sequer justificou o afastamento da ratio decidendi da Rcl nº
42.335. Já a Rcl nº 42.448 ajuizada em favor da deputada Rejane Dias, que tam-
bém teve mandados cumpridos em seu gabinete na Câmara dos Deputados no
passado dia 27 de julho, sequer foi apreciada ainda9 (no momento em que se
escreve este texto, no dia 02 de agosto de 2020).
5. https://caselaw.findlaw.com/us-dc-circuit/1300512.html
6. https://caselaw.findlaw.com/us-dc-circuit/1247862.html
7. https://www.jota.info/stf/do-supremo/marco-aurelio-nega-pedido-para-suspender-bus-
cas-no-gabinete-de-paulinho-da-forca-29072020
8. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/07/rcl-42446.pdf?x73076
9. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5967925
274
Sobre as medidas de busca e apreensão no Congresso Nacional
10. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=753092745
11. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752198218
12. https://www.jota.info/docs/veja-integra-inquerito-que-apura-se-policiais-senado-obs-
truiram-lava-jato-21102016
13. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=597248225&pr-
cID=5082248
275
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
14. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/sera-tao-absurdo-assim-09072020
276
Sobre as medidas de busca e apreensão no Congresso Nacional
dinâmica, já que também caberia ao próprio STF a remessa dos autos à Casa
Legislativa para fins do art. 53, § 2º, da CF.
Adicionalmente, e sem que implique exclusão das alternativas anteriores
para preservar as garantias constitucionais dos legisladores, apresenta-se como
alternativa possível a adoção de um protocolo para a execução das ordens de
busca e apreensão no Parlamento, de forma análoga ao que se fez na Austrá-
lia15 – onde tal documento foi assinado desde 2005 pelas autoridades equiva-
lentes aos presidentes do Senado, da Câmara, procurador-geral da República
e ministro da Justiça.
Diferentemente da opção do Parlamento do Canadá,16 cujo presidente
pode negar o acesso da polícia, a solução australiana parece acertada, pois es-
tabelece rito prévio, bem como procedimento a ser assegurando na execução,
que garante ao parlamentar a oportunidade de copiar os documentos a serem
apreendidos, juntamente com a possibilidade reivindicar seu parliamentary
privilege em relação a documentos ou objetos apreendidos, porque diretamen-
te relacionados à atividade legislativa ou exercício do mandato.
No Brasil, enquanto não se chega a um acordo semelhante, vai-se vendo o
desrespeito à institucionalidade em paralelo a uma grande (e problemática) se-
letividade dos parlamentares que conseguem fazer valer (ainda que em parte)
suas prerrogativas constitucionais e dos que não alcançam fazê-lo.
277
É possível bloquear perfis de
parlamentares nas redes sociais?
ADI n. 6.494 é oportunidade para
avanços na liberdade de expressão
e na imunidade parlamentar1
1. Artigo escrito em coautoria com HUGO SOUTO KALIL (Advogado do Senado Federal, Mes-
tre em Direito pelo Instituto Brasiliense de Direito Público).
2. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/07/agu-adpf-redes-sociais.pd-
f?x73076
3. https://www.jota.info/paywall?redirect_to=//www.jota.info/stf/do-supremo/twitter-blo-
queia-perfis-de-bolsonaristas-globalmente-devido-a-nova-decisao-de-moraes-30072020
279
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
4. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15340212844&ext=.pdf
5. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=749900186
280
É possível bloquear perfis de parlamentares nas redes sociais?
O bloqueio dos perfis em rede social pode ser equiparado, em alguma me-
dida, à pena de prisão no âmbito da internet, porquanto não se limita a retirar
a visibilidade de uma manifestação específica, ou de uma postagem, mas gera
a indisponibilidade virtual da própria pessoa investigada, autora dos supostos
delitos. Não se dirige contra o fato (o conteúdo de determinadas postagens),
mas contra seu autor, de modo integral. Mais grave que impedir o acesso do
investigado às suas contas nas redes sociais só o banimento delas, que equiva-
leria à pena capital, excluindo em definitivo o perfil do usuário numa morte
virtual do acusado.
Esse ponto (o caráter drástico da providência), portanto, elimina a possi-
bilidade de que a ADI n. 6.494 se resolva como um ‘caso fácil’, de mera subsun-
ção, pois passa a exigir deliberada e considerada ponderação entre os princí-
pios constitucionais em colisão.
Além disso, a liberdade de expressão ocupa espaço proeminente no catá-
logo dos direitos fundamentais – e tal proeminência deve conformar e limitar
a possibilidade jurídica do emprego da medida cautelar em discussão.
Sem grande dificuldade, pode-se afirmar que o STF adotou, a partir do
julgamento da ADPF n. 1306 (caso da Lei de Imprensa), uma espécie de dou-
trina de posição preferencial – já conhecida e muito aplicada pela Suprema
Corte Americana ao longo do Séc. XX – para os direitos relativos à liberdade
de expressão e manifestação do pensamento.
No referido acórdão, lê-se expressamente que há precedência dos direitos
de liberdade ao bloco do direito à honra, imagem, intimidade, vida privada,
etc., cuja incidência deve se dar a posteriori – mediante as figuras do direto de
resposta e da indenização.
Tal linha de interpretação foi reafirmada na ADPF n. 1877 (alusiva à
“Marcha da Maconha”), na ADI n. 4.8158 (que tratou das biografias não-au-
torizadas), entre outros. Da última, lê-se expressão de conteúdo fortíssimo: “A
Constituição do Brasil proíbe qualquer censura. O exercício do direito à liberda-
de de expressão não pode ser cerceada pelo Estado ou por particular”.
6. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=605411
7. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5956195
8. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=308558531&ext=.pdf
281
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
a) Que, nos termos expressos pela ADPF n. 130 e pela ADI n. 4.815, a
liberdade de expressão, de manifestação do pensamento e a liberdade
jornalística devem prevalecer, em regra, sobre o direito à honra, in-
timidade e vida privada, cuja reparação deve ser obtida a posteriori,
sendo nestas hipóteses vedado o bloqueio de perfil, embora permi-
tida a posterior indisponibilização das postagens ofensivas, devida-
mente individualizadas, em concreto, nos termos do Marco Civil da
Internet e da lei civil;
b) Essa prevalência deve revestir-se de caráter absoluto quando a ma-
nifestação ofensiva à honra se der no contexto de crítica de natureza
política, ideológica ou artística, por incidência direta do art. 220, § 2º,
da CF;
c) Não prevalecem necessariamente, contudo, essas liberdades em re-
lação a outras formas e manifestações de delitos, que envolvam bens
jurídicos de maior relevo. Em especial, quando um perfil em rede
social seja usado como veículo permanente para a prática de outros
crimes. Tem-se em mente, por exemplo, um perfil que divulgue ima-
gens de conteúdo vedado pelos crimes relativos à prática de pedofilia;
o caso de perfis especificamente criados para instigação ao suicídio
9. https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
282
É possível bloquear perfis de parlamentares nas redes sociais?
10. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/07/com-homem-pateta-criminosos-ten-
tam-levar-criancas-ao-suicidio.shtml
11. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79052
283
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
12. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311714791&ext=.pdf
13. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14623595
14. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752499451
15. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=308768846&ext=.pdf
284
É possível bloquear perfis de parlamentares nas redes sociais?
16. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314935383&ext=.pdf
285
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
286
Prisão de parlamentares e cautelar
de afastamento do mandato
As verdadeiras dúvidas que subjazem à Pet nº 9.218
1. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=390720&caixaBus-
ca=N
287
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/10/decisao-pet-9218.pdf?x73076
3. https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/Acao_Cautelar_4039.pdf
288
Prisão de parlamentares e cautelar de afastamento do mandato
prisão preventiva, nos termos do art. 324, inciso IV, do CPP, o que impediria a
fiança in concreto. Em outras palavras, o ministro Teori Zavascki “converteu”
os crimes mencionados em inafiançáveis.
Além disso, e aqui vem o ponto para o qual se queria chamar a atenção, o
ministro Teori fundamentou que as mencionadas condutas criminosas eram
pacificamente reconhecidas como crime permanente. A consequência prática
disso é a incidência do art. 303 do CPP, segundo o qual, nas infrações perma-
nentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a perma-
nência. Ou seja, o senador da República Delcídio do Amaral poderia ser preso
em “situação de flagrância” tal como exigiria o texto constitucional.
Com isso, já caberia a imediata incidência do art. 310 do CPP, de acordo
com o qual, após receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá converter
o flagrante em prisão preventiva, quando presentes os requisitos constantes
do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas
cautelares diversas da prisão. Foi justamente isso o que fez o ministro Teori
Zavascki: considerando presente elevada clareza probatória quanto ao crime
permanente que justificaria a prisão “em flagrante” do senador, determinou
desde logo sua prisão preventiva, mesmo sem que tivesse ocorrido de fato a
mencionada prisão em flagrante.
A rigor, a interpretação canônica do art. 53, § 2º, da CF, não comportaria
o salto hermenêutico dado pelo ministro Teori Zavascki na AC nº 4.039 para
determinar a prisão preventiva de senador da República Delcídio do Amaral
no curso de seu mandato: sem que os crimes fossem inafiançáveis in abstracto
e sem que tivesse havido uma prévia prisão em flagrante.
Outro ponto importante sobre a AC nº 4.039: a decisão monocrática (to-
mada no dia 24 de novembro de 2015) foi referendada pela 2ª Turma do STF
logo no dia seguinte (em 25 de novembro de 2015),4 com a determinação de
envio dos autos à Casa Legislativa para resolver sobre a prisão, como determi-
na o art. 53, § 2º, da CF.
Embora a construção interpretativa do ministro Teori Zavascki seja cri-
ticável, a gravidade dos fatos – que vieram lastreados em material robusto –
acabou justificando a providência, tanto que a medida foi referendada pela
Segunda Turma do STF e, por seu turno, mantida pelo plenário do Senado
4. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=304778
289
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/11/25/senadores-decidem-man-
ter-prisao-de-delcidio-do-amaral
6. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/05/10/senado-cassa-o-mandato-
-de-delcidio-do-amaral
7. https://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=348351&caixa-
Busca=N
8. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/10/17/senado-devolve-mandato-
-a-aecio-neves
290
Prisão de parlamentares e cautelar de afastamento do mandato
9. https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201300562437&
dt_publicacao=10/10/2014
291
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Por outro lado, no entanto, anda mal a decisão em insistir que “nada se
decidiu, de modo claro e definitivo, sobre a possibilidade ou não de decretação
da prisão preventiva” na ADI nº 5.526 (§ 38). Em sua decisão, o ministro sim-
plesmente não fez qualquer alusão à referida AC nº 4.039, que seria a decisão
paradigma nesse assunto. Disso resultam pelo menos quatro graves problemas
na Pet nº 9.218.
Em primeiro lugar, a sintomática resistência quanto à aplicação dos enten-
dimentos do próprio do STF. São ignoradas as decisões passadas e isso aconte-
ce com frequência, sobretudo quando o ministro não concorda com o decisum
cuja existência é omitida. Mesmo sendo de turma, a decisão na AC nº 4.039
deveria ter sido citada na fundamentação da Pet nº 9.218, seja para acolhê-la,
afastá-la ou superá-la.
Em segundo lugar, a argumentação deixa entrever, de forma cada vez mais
clara, que o ministro Barroso pretende expandir, ainda mais, o entendimen-
to da Corte quanto às exceções da incoercibilidade pessoal dos congressistas
(freedom from arrest). Basta ler seu voto (vencido) lançado na ADI nº 5.526
– manifestando-se pela improcedência do pedido, ou seja, para que fosse dis-
pensado o aval do Poder Legislativo previsto no art. 53, § 2º, da CF – para
entender sua visão de que seria necessário restringir as prerrogativas parla-
mentares, via ativismo judicial, para combater a corrupção.
Em terceiro lugar, outro grave problema da decisão tomada na Pet nº
9.218 está no fato de ter sido tomada em caráter monocrático. Um ministro,
individualmente, não deveria ter poderes para determinar o afastamento de
parlamentares do exercício de suas funções. Trata-se de uma medida drástica,
excepcionalíssima. Por mais que um ministro personifique o STF ao tomar
uma decisão monocrática, tem-se a subtração da vontade do eleitorado (leia-
-se: milhares ou até mesmo milhões de pessoas), pois um congressista é um
representante escolhido pelo povo, via eleições democráticas e diretas.
Pela severidade da medida, cautelares de suspensão do mandato de par-
lamentares eleitos jamais deveriam ser decretadas sem o imediato referendo
do colegiado. Isso, até mesmo por razões de reciprocidade: um senador da Re-
pública sozinho não poderia, por exemplo, decretar o afastamento de um mi-
nistro do STF em um processo de impeachment em curso no Senado Federal.
Em quarto lugar, especialmente em se tratando de senadores da Repúbli-
ca, medidas cautelares de afastamento do mandato trazem graves consequên-
cias à representação dos Estados-membros, cujos interesses contariam com o
voto de apenas 2 senadores – e não mais 3 como determina o art. 46, § 1º, da
292
Prisão de parlamentares e cautelar de afastamento do mandato
10. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
11. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751749408&pr-
cID=5840807
12. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751754222&pr-
cID=5841458
13. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15342276790&ext=.pdf
293
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
o art. 53, § 2º, da CF) se presta à proteção da função, não das pessoas, e isso
faz parte do devido processo legal constitucional. Quem viola a Constituição
para combater a corrupção incorre no mesmo vício do bandido e se torna
descumpridor da lei.
294
Adeus, imunidade parlamentar
Seja qual for a eventual nova redação
da CF, nada será como antes
295
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/prisao-de-parlamenta-
res-cautelar-afastamento-mandato-21102020
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/prisao-de-parlamenta-
res-cautelar-afastamento-mandato-21102020
296
Adeus, imunidade parlamentar
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
298
Adeus, imunidade parlamentar
299
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
mental”. Como esse caso envolvia ofensas recíprocas, aplicou-se o perdão ju-
dicial e ninguém foi condenado.
O caráter pessoal da ofensa também foi determinante para afastar a imu-
nidade no Inq n. 3.932 (julgado em 2016), em que o então deputado federal
Jair Bolsonaro foi acusado de incitação ao crime de estupro por afirmar que
“não estupraria” a deputada Maria do Rosário porque ela “não merece”. O re-
lator ministro Luiz Fux entendeu que as declarações não tinham teor sequer
minimamente político, de modo que não guardavam relação com o exercício
do mandato.
Nesse caso, para afastar o entendimento da própria Corte no sentido de
que as palavras proferidas dentro do recinto da Casa Legislativa têm imunida-
de absoluta, nesse Inq n. 3.932 o ministro retomou o argumento de que foram
proferidas em “entrevista a veículo de imprensa” – sendo irrelevante que o par-
lamentar estivesse em seu gabinete o momento em que concedeu a entrevista
– para afastar a imunidade (p. 25).
Em todos esses casos que se acaba de mencionar, o que se observa de
forma geral é a tendência de o STF aplicar a imunidade inclusive às ofensas,
quando em um contexto de crítica, debate político ou fiscalização da coisa pú-
blica. O importante é que a ofensa (mesmo a de caráter pessoal) esteja ligada à
atividade do parlamentar.
Nas palavras do ministro Luiz Fux: “Para que as afirmações feitas pelo par-
lamentar possam ser relacionadas ao exercício do mandato, elas devem revelar
teor minimamente político, referido a fatos que estejam sob debate público, sob
investigação do Congresso Nacional (CPI) ou dos órgãos de persecução penal ou,
ainda, sobre qualquer tema que seja de interesse de setores da sociedade, do elei-
torado, organizações ou quaisquer grupos representados no parlamento ou com
pretensão à representação democrática”.
Nessas situações, como já dito, a aplicação da imunidade não estaria con-
dicionada à gravidade, contundência, exasperação, má educação, grosseria ou
baixo nível das palavras. Inclusive, a própria Corte por vezes consignou que
“Eventual excesso praticado pelo parlamentar deve ser apreciado pela respectiva
Casa Legislativa, que é o ente mais abalizado para apreciar se a postura do que-
relado foi compatível com o decoro parlamentar ou se, ao contrário, configurou
abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional, nos ter-
mos do art. 55, § 1º, da Constituição” (Pet n. 6.587, de 2017).
300
Adeus, imunidade parlamentar
3. https://www.jota.info/stf/do-supremo/wladimir-costa-reu-stf-10032020
301
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sobre-as-medidas-de-
-busca-e-apreensao-no-congresso-nacional-05082020
5. https://www.youtube.com/watch?v=wiDDd7PfEbs
302
Adeus, imunidade parlamentar
303
Perda do mandato é efeito
automático e irreversível
da condenação penal?
O debate da Constituinte e a jurisprudência do STF
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-votacao-secreta-nas-
-deliberacoes-do-poder-legislativo-09122020
305
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.senado.leg.br/publicacoes/anais/constituinte/N015.pdf
306
Perda do mandato é efeito automático e irreversível da condenação penal?
307
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Perda do mandato é efeito automático e irreversível da condenação penal?
No entanto, não vai demorar muito, e o ministro Barroso logo mudou sua
postura, como se indicará adiante.
Por agora, importa registrar que, como consequência desse julgado, em
28 de agosto de 2013, o caso anterior do Natan Donadon acabou sendo sub-
metido à Câmara dos Deputados, que manteve o mandato do deputado por
votação secreta (teriam sido necessários 257 votos para a cassação, mas houve
só 233 votos a favor, 131 contra e 41 abstenções). Esse episódio originou a
aprovação da EC nº 76/2013, já comentada aqui.3
Nesse mesmo dia 28 de agosto de 2013, o então presidente da Câmara dos
Deputados, Henrique Eduardo Alves, determinou a convocação do suplente,
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/a-votacao-secreta-nas-
-deliberacoes-do-poder-legislativo-09122020
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
310
Perda do mandato é efeito automático e irreversível da condenação penal?
4. https://www.jota.info/stf/do-supremo/gilmar-para-fux-nao-e-assim-que-procede-presi-
dente-e-coordenador-entre-iguais-07102020
5. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=717900316&pr-
cID=5356406
311
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=760304560&pr-
cID=5356406
7. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/04/lira-vai-ao-stf-para-congresso-definir-
-cassacoes-em-casos-como-o-de-daniel-silveira.shtml
8. https://www.jota.info/stf/do-supremo/graca-x-indulto-entenda-o-perdao-dado-por-bol-
sonaro-a-daniel-silveira-22042022
312
Perda do mandato é efeito automático e irreversível da condenação penal?
313
4 Ca p í tu lo
COMISSÕES PARLAMENTARES
DE INQUÉRITO (CPIS)
Pode o STF determinar a
criação da CPI da Pandemia?
O poder de agenda das Casas Legislativas e o
direito das minorias em jogo no MS n. 37.760
317
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
318
Pode o STF determinar a criação da CPI da Pandemia?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Pode o STF determinar a criação da CPI da Pandemia?
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/que-falta-fazem-as-co-
missoes-no-poder-legislativo-25112020
321
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Isso, sem contar que existem outros pedidos de CPI que igualmente es-
tão aguardando a leitura para a respectiva instalação. Por exemplo, cite-se o
pedido para a criação da CPI da Crise Ambiental (com 29 assinaturas, para
“investigar queimadas na Amazônia e no Pantanal e desmonte da fiscalização
ambiental”).
Ademais, existem outras CPIs 3 cujos requerimentos já foram lidos no
Senado: 1) CPI do Desmatamento na Amazônia Legal; 2) CPI sobre a situação
das vítimas e familiares do acidente da Chapecoense; e 3) CPI das Queimadas
e Desmatamento na Amazônia Legal. Por fim, recorde-se de que há comissões
em funcionamento (embora suspenso em razão da pandemia), com destaque
para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – CPMI das Fake News.
O exame criterioso por parte do presidente do Senado, após a oitiva das
áreas técnicas da Casa Legislativa, é o que impede a instalação de CPIs temerá-
rias, como, por exemplo, a CPI dos Tribunais Superiores (que contava com 27
assinaturas, para “investigar o exercício exacerbado de suas atribuições por parte
de membros dos tribunais superiores do país”), cujo pedido foi arquivado pelo
então presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
Voltando à petição inicial do MS n. 37.760, quanto às demais decisões do
STF citadas, vale registrar que tampouco são paradigmas para o caso da CPI da
Pandemia os MS n. 24.831 e n. 24.849 sobre a CPI dos Bingos.
Isso porque esses últimos acórdãos versam sobre o impasse na indicação
dos membros que comporiam a referida CPI. No caso concreto, o presidente
do Senado tinha solicitado aos líderes a indicação dos nomes, mas alguns dos
líderes se abstiveram de tal indicação, tendo o presidente da Casa se recusado
a suprir tal omissão.
Então, em síntese, o que se decidiu nesses MS n. 24.831 e n. 24.849 foi que
incumbe ao presidente da Casa Legislativa, enquanto dirigente da Mesa, e não
aos líderes partidários, viabilizar a composição e a organização das CPIs. Ora,
desnecessário comentar que não é esse o problema da CPI da Pandemia.
Seja como for, a partir da análise dessas decisões já tomadas pelo STF
quanto à criação de CPIs, é possível perceber que, ao menos até agora, não
existem acórdãos que tenham expressamente “ordenado ao Poder Legislativo a
criação de uma CPI”. Nem mesmo por ocasião da polêmica CPI da Petrobrás
registrou-se tamanha ingerência da Corte sobre o Poder Legislativo.
Na época, muito resumidamente, tinha sido apresentado um primeiro re-
querimento de criação da CPI da Petrobrás pelos partidos de oposição e, na
322
Pode o STF determinar a criação da CPI da Pandemia?
323
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
324
Pode o STF determinar a criação da CPI da Pandemia?
325
Da constitucionalidade da
convocação de governadores e
prefeitos por CPIs federais
Autonomia federativa versus princípio
republicano na ADPF nº 848
Às vezes, no Brasil, surgem alguns mantras sem base jurídica sólida, que
acabam sendo repetidos de modo acrítico e, na falta de uma análise mais de-
tida, essas ideias se tornam verdadeiros dogmas. Esse parece ser o caso da dis-
cussão sobre a possibilidade de a CPI da Pandemia poder (ou não) convocar
governadores e prefeitos.
Os argumentos tradicionalmente invocados para sustentar a suposta falta
de amparo legal da convocação de chefes do Poder Executivo são, basicamente,
a afronta ao pacto federativo e a separação dos poderes.
Costuma-se citar, ainda, o art. 146, inciso III, do Regimento Interno do
Senado Federal – RISF, pelo qual não se admitirá comissão parlamentar de in-
quérito sobre matérias pertinentes aos Estados. Isso, como se esse dispositivo
regimental pudesse ser interpretado independentemente do que está na Cons-
tituição (ou mesmo para esvaziar previsões constitucionais), obnubilando a
hierarquia das normas.
A interpretação conforme, a sistemática e a apagógica têm passado lon-
ge dos raciocínios desenvolvidos sobre o tema, chegando-se a extrair como
327
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
328
Da constitucionalidade da convocação de governadores e prefeitos por CPIs federais
329
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/ate-onde-vai-o-principio-
-da-simetria-nos-processos-legislativos-17032021
330
Da constitucionalidade da convocação de governadores e prefeitos por CPIs federais
331
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Da constitucionalidade da convocação de governadores e prefeitos por CPIs federais
333
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Corte poder escolher (no lugar dos próprios parlamentares que compõem a
CPI) quem pode ser ouvido (e quem não). Estar-se-ia diante de mais uma in-
tervenção judicial na seara legislativa: além de determinar a criação da CPI, o
STF passaria a conduzir os trabalhos, em substituição aos seus membros.
Ademais, na prática, criar-se-ia uma imunidade para governadores e pre-
feitos não prevista no texto original da CF. A construção, como visto, é frá-
gil: trata-se de interpretação que se vale do pacto federativo e da separação
dos poderes em detrimento do princípio republicano, e vai na contramão da
coerência com decisões passadas do próprio STF sobre o regime jurídico dos
chefes do Poder Executivo estaduais e municipais.
334
Precisam os membros das
CPIs ser imparciais?
MS nº 37.115 acusa CPMI das Fake News de
falta de falta de imparcialidade judicial
1. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5904333
335
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
336
Precisam os membros das CPIs ser imparciais?
337
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85565
3. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10444582
338
Precisam os membros das CPIs ser imparciais?
4. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12872463
339
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
340
Podem as CPIs quebrar o sigilo
telemático das redes sociais
de seus investigados?
Ainda que não consiga os dados de que necessita,
CPMI das Fake News não deve acabar em pizza
1. https://legis.senado.leg.br/comissoes/comissao?0&codcol=2292
341
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
nomes de forma aleatória, mas a partir das próprias mensagem enviadas pu-
blicamente nas redes sociais.
A quebra do sigilo telemático pleiteada pela CPMI das Fake News tem
indiscutível natureza de indagação probatória e não se inclui na esfera de
competência dos magistrados e tribunais, à semelhança do entendimento já
consolidado em relação aos sigilos fiscal, bancário e telefônico. Nesse sentido,
por exemplo, cite-se o MS n. 23.452, em que o STF reconheceu que as CPIs
podem, por autoridade própria, determinar a quebra do sigilo de dados fiscais,
bancários e telefônicos.
Somente quanto à interceptação telefônica a Constituição estabeleceu
cláusula de reserva de jurisdição (CF, art. 5º, inciso XII), a qual não pode ser
estendida razoavelmente à situação em que se pleiteia a obtenção, junto às re-
des sociais, dos dados cadastrais do investigado que informam qualificação
pessoal, filiação e endereço, bem como a confirmação da autenticidade de en-
vios verificáveis publicamente. As mensagens postadas nas redes sociais não
se equiparam à comunicação com vistas à aplicação analógica da regra cons-
titucional restritiva do art. 5º, inciso XII.
Diferentemente de uma interceptação telefônica, não se pretende mo-
nitorar o envio de mensagens em tempo real nas redes sociais, mas sim
unicamente proceder ao account preservation, consistente na preservação do
conteúdo disponível das contas nas redes sociais, juntamente com o histórico
de conversas, lista de contatos, histórico de páginas acessadas, relação de se-
guidores, histórico de login efetuado, contendo o horário (timestamp) comple-
to com fuso horário e os endereços de IPs utilizados para esses logins com a
porta lógica (source port), incluindo a preservação do conteúdo eventualmente
apagado da conta.
Nesse sentido, o pedido de informações junto às empresas Facebook
e Twitter deve ser equiparado a um pedido de quebra do sigilo das infor-
mações telefônicas, o qual, como já dito, é possível de ser determinado pela
CPMI, por autoridade própria, conforme pacífica jurisprudência do STF.
O alcance da expressão constitucional que confere às CPIs “poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais” (art. 58, § 3º) se dá em função
das medidas necessárias aos seus trabalhos de investigação e apuração dos fa-
tos para os quais foram criadas. O paralelo é a atividade do “juiz de garantia”.
Como não poderia deixar de ser, a CPI não detém poderes ilimitados,
nem absolutos, de forma que sua competência se limita à prática de atos
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Podem as CPIs quebrar o sigilo telemático das redes sociais de seus investigados?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Podem as CPIs quebrar o sigilo telemático das redes sociais de seus investigados?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/podem-as-cpis-quebrar-o-sigilo-telema-
tico-das-redes-sociais-de-seus-investigados-24032020
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Podem as CPIs quebrar o sigilo telemático das redes sociais de seus investigados?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Podem as CPIs quebrar o sigilo telemático das redes sociais de seus investigados?
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/sabatina-senado-noto-
rio-conhecimento-especialidade-30092020
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/e-possivel-emendar-a-constituicao-via-
-deliberacao-remota-durante-a-calamidade-publica-29042020?amp
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Podem as CPIs quebrar o sigilo telemático das redes sociais de seus investigados?
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‘Filibusterismo’, falácia e
retórica na CPI da Pandemia
Existe valoração racional do conjunto
fático-probatório nas CPIs?
353
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Por vezes, as inquirições e o uso da palavra servem mais como espaço para
monólogos parlamentares ou perguntas meramente retóricas (que ficarão sem
resposta), e não dirigidas ao inquirido, como seria o esperado em uma sessão
de oitiva para esclarecer os fatos sob investigação.
Entre outras intervenções de parlamentares sem qualquer interrogante –
como as dos senadores Humberto Costa (PT-PE), Kátia Abreu (PP-TO), etc.
– no último dia 20 de maio chamou a atenção a fala da senadora Mara Gabrilli
(PSDB-SP), que admitiu não estar interessada na resposta do então inquirido,
o ex-ministro Eduardo Pazuello: “Porque, na verdade, eu não estou nem inte-
ressada na resposta dele. Então, posso concluir com mais uma pergunta?”
De lado a lado na CPI da Pandemia, observa-se a tática parlamentar cha-
mada “filibusterismo” (do inglês, filibuster) consistente no uso excessivo da
palavra com o intuito claro de estender o debate, aproveitar a notoriedade dos
holofotes e, estrategicamente, criar uma cortina de fumaça, em lugar de efeti-
vamente colaborar com a discussão.
Na prática, o “filibusterismo” é uma das táticas obstrucionistas, cujo pro-
pósito é retardar ou impedir a votação da matéria, por intermédio da mono-
polização dos debates. Trata-se de um problema em especial no Senado dos
Estados Unidos (lá essa é uma prática rotineira), desde 1806, quando se revo-
gou das regras procedimentais a chamada previous question motion (pela qual
o voto da maioria simples forçava o encerramento dos debates e o início da
votação).
Um dos maiores “filibusteiros” do Senado americano chegou a discursar
por 23 horas ininterruptamente. O uso da tática foi mudando ao longo do
tempo. Hoje, para “calar um “filibusteiro” é necessário o voto de 60 senadores
(lá são 100 no total). Toda essa volta serve para ilustrar essa velha tática dos
oradores nos Parlamentos.
Esse é o comportamento típico dos parlamentares da oposição, seja qual
for o seu espectro ideológico, especialmente no âmbito das comissões, e na
CPI da Pandemia não ia ser diferente (daí a importância de que esses colegia-
dos tenham prazo determinado de funcionamento).
O que surpreendeu agora foi a utilização dessa estratégia por parte do
próprio inquirido, como se viu da oitiva do ex-ministro Eduardo Pazuello, que
se valeu de respostas longas, prolixas, com detalhes irrelevantes e muitas voltas
para endossar sua versão dos fatos e gerar ruído e dispersão.
354
‘Filibusterismo’, falácia e retórica na CPI da Pandemia
Por diversas vezes, o ex-ministro foi chamado à atenção, como, por exem-
plo, quando o presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), alertou (na
sessão do dia 19 de maio): “Muitas perguntas que o Senador Renan está fazendo
são “sim” ou “não”. Vamos ser mais objetivos.”.
Incorrendo em manifesta gafe (e que, ao mesmo tempo, endossa a estra-
tégia de tergiversação e revela o auditório para quem se dirigia), o ex-ministro
respondeu: “Eu vou colocar aqui uma ideia aos senhores. Eu acredito que nós
temos uma população brasileira toda nos olhando, e respostas simplórias, sem
contextualização, sem a compreensão do que nós estamos falando, não vão aten-
der às pessoas que estão nos esperando. Eu vou responder a todas as perguntas
– todas, sem exceção. E coloco de uma outra forma: vocês podem ter certeza, eu
não vou ficar repetindo uma palavra. Eu vim com bastante conteúdo e eu pre-
tendo deixar claro à população brasileira e a todos os senhores todos os fatos e
todas as verdades que aconteceram sob a minha gestão, sob a nossa gestão. Então
me desculpe: perguntas com respostas simplórias eu gostaria até que não fossem
feitas. Perguntem-me coisas com profundidade, perguntem coisas com bastante
profundidade.”.
Imediatamente, o inquirido ouviu do presidente: “General, V. Exa. não vai
dizer para a gente o que (rectius) nós vamos perguntar ou não. (…) Quem decide
isso aqui são os Senadores. V. Exa. está aqui para responder às perguntas dos
Senadores, e para muitas delas basta um “sim” ou um “não”. Quando a gente fala
muito e não consegue explicar nada é que fica difícil para a gente ficar ouvindo.”.
Só com esses fragmentos acima, já se torna patente que é inútil a preten-
são de impedir a atuação política de quem quer que seja, sobretudo dos repre-
sentantes dos cidadãos. Onde há poder, há disputa. E ninguém pode pretender
ver-se livre da atuação política dos membros do Congresso Nacional, sobre-
tudo quando os próprios inquiridos também agem politicamente em prol de
seus ideais e interesses políticos. Como já comentado aqui,1 é diferente a im-
parcialidade exigível dos membros das CPIs.
As principais atividades probatórias das CPIs consistem nas oitivas (de
testemunhas, investigados e especialistas) e nas solicitações de informações.
Quanto às primeiras, vale registrar que, pela primeira vez na história, o sena-
dor Renan Calheiros (MDB-AL) abriu uma caixa de perguntas no Instagram
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/precisam-os-membros-das-cpis-ser-im-
parciais-31072020
355
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
para seus seguidores enviarem perguntas que gostariam de ver feitas ao ex-mi-
nistro Eduardo Pazuello.
Assim, formulou a seguinte pergunta: “Se o ministério não seguia as orien-
tações da OMS, quais eram as orientações que seguia naquele momento o minis-
tério? Essa é uma pergunta de internauta. Ontem eu fiz uma indagação na rede
social se as pessoas queriam contribuir com perguntas para esse depoimento, e
essa pergunta foi uma pergunta feita principalmente por familiares das vítimas
da Covid.”. Essa novidade da participação social tende a ser incorporada nos
ritos e reforça o caráter político das CPIs.
Nas oitivas, é possível observar que os parlamentares inquiridores desem-
penham papel assimétrico, variando conforme o interrogado sustente uma
versão propícia ou contrária aos interesses de quem interroga.
Nesse sentido, existem diversas modalidades de perguntas que podem ser
usadas estrategicamente conforme os cenários e o grau de informações que o
depoente oferece e que se pretende obter. Vale a pena conhecer algumas das
táticas de interrogatório.
De um lado, as perguntas abertas, gerais, oferecem ampla liberdade de
resposta, permitindo que o inquirido exponha as circunstâncias gerais, esta-
dos de ânimo, sensações e opiniões sobre os fatos perguntados.
Como exemplo, veja-se a pergunta do senador Renan Calheiros dirigida
ao ex-ministro Eduardo Pazuello (logo na abertura dos trabalhos da sessão do
dia 19 de maio): “Pergunto, Ministro, V. Exa. pode nos detalhar quais eram suas
qualificações para ocupar o segundo maior cargo do Ministério da Saúde e, mais
tarde, para assumir o cargo de ministro?”.
Normalmente, as perguntas abertas são usadas para que a resposta apre-
sente uma versão propícia dos fatos. Mas também podem ser usadas como
“nariz de cera” com vistas a, mais adiante, conduzir o inquirido a contradições
com suas próprias falas ou com a de outros depoentes.
Por outro lado, perguntas fechadas, específicas, se prestam a que o inqui-
rido simplesmente confirme ou negue a informação constante da pergunta. O
objetivo desse tipo de interrogação é tirar, ao máximo possível, o espaço do
inquirido, tentando obter maior controle sobre suas respostas. As perguntas
fechadas podem ser neutras, afirmativas, negativas ou informativas.
Como exemplo de pergunta fechada neutra, cite-se a seguinte do senador
Renan Calheiros dirigida ao ex-ministro Eduardo Pazuello: “Já como ministro,
356
‘Filibusterismo’, falácia e retórica na CPI da Pandemia
V. Exa. teve autonomia para formar sua equipe de gestores?”. Ao que o ex-mi-
nistro respondeu “Cem por cento”.
Como exemplo de pergunta fechada afirmativa, observa-se a seguinte
(com mesmos os interlocutores): “Em 11 de fevereiro deste ano, V. Exa. com-
pareceu a uma sessão do Senado Federal para debater a pandemia. (…) Aqui V.
Exa. disse textualmente aos Senadores, aspas: “A Pfizer, mesmo que nós aceitás-
semos todas as condições impostas, a quantidade que nos ofereceram desde o iní-
cio foi 500 mil doses em janeiro, 500 em fevereiro e 1 milhão em março, 6 milhões
no total do primeiro semestre. Senhores, nós não podíamos ficar só nisso.” – fecha
aspas. O Sr. Carlos Murillo, da Pfizer, nesta Comissão, desmentiu esse total de
6 milhões de doses e entregou documento atestando que a oferta sempre foi 70
milhões de doses da vacina. Pergunto: V. Exa. confirma essa informação sobre as
6 milhões de doses que deu aos Senadores?”.
Como exemplo de pergunta fechada informativa, envolvendo os mesmos
interlocutores: “Com que frequência V. Exa. se reunia com o Presidente da Re-
pública durante sua gestão?”. A resposta foi “Menos do que eu gostaria”.
Já a chamada pergunta complexa ou sugestiva consiste na insinuação feita
sob a forma de pergunta. O tradicional exemplo é “O que você tomou no café
da manhã no dia em que matou sua esposa?”. Trata-se de uma falácia (ou para-
logismo, dependendo da intenção), na medida em que incorpora uma resposta
na própria pergunta e tem o objetivo de fazer o inquirido cair uma armadilha,
pois corre o risco de endossar a premissa nela contida.
No âmbito do processo judicial, esse tipo de pergunta é proibido, devendo
ser inadmitida pelo juiz, nos termos do art. 459 do CPC (“As perguntas serão
formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a arro-
lou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem
relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou importarem
repetição de outra já respondida.”).
No entanto, dificilmente o presidente da CPI atuaria para indeferir uma
pergunta assim, tolhendo a palavra de outro parlamentar. Tanto que na sessão
do último dia 19 de maio da CPI da Pandemia, ouviu-se do senador Renan Ca-
lheiros a seguinte pergunta complexa dirigida ao ex-ministro Eduardo Pazuello:
“Por que as medidas tomadas por vossa excelência não foram suficientes para
evitar o colapso?”.
Com isso, parece desnecessário seguir explicando que as inquirições nas
CPIs são um tipo de discurso político que não se encaixa (nem de perto) em
357
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
um modelo de diálogo racional que se atém somente aos fatos. Esse ponto é
importante e diz muito sobre os efeitos jurídicos do relatório final da CPI.
Como sabido, o objetivo primordial da CPI é investigação de fatos para o
aprimoramento da legislação pátria e, por conseguinte, para o aperfeiçoamen-
to das instituições e da sociedade.
As CPIs não têm o poder de julgar ou de punir. Inclusive, as conclusões
da CPI não necessariamente vinculam as instituições a cargo da responsabi-
lização jurídica de autoridades. De acordo com o art. 1º da Lei nº 10.001/00,
o presidente da Casa Legislativa encaminhará o relatório da CPI respectiva, e
a resolução que o aprovar, aos chefes do Ministério Público da União ou dos
Estados, ou ainda às autoridades administrativas ou judiciais com poder de
decisão, conforme o caso, para a prática de atos de sua competência.
O citado art. 459 do CPC ainda proíbe perguntas que não tiverem relação
com as questões de fato objeto da atividade probatória, justamente com vistas
a impedir ruídos, evitar tergiversações e proporcionar economia processual
para que as provas colhidas sejam apenas as necessárias à apuração (em analo-
gia ao que dispõe o art. 370, caput, do CPC).
Nada obstante, como exemplo de pergunta que contraria esse postulado,
cite-se a formulada pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA) ao ex-ministro
Ernesto Araújo (na sessão do dia 18 de maio): “(…) o senhor não desejaria
aproveitar seu depoimento para pedir desculpas à Senadora [Kátia Abreu] e se
retratar, talvez, por aquelas palavras com que o senhor a acusou injustamente,
levianamente?”.
O mesmo senador Angelo Coronel também formulou a seguinte pergunta
ao ex-ministro Eduardo Pazzuelo (na sessão do dia 20 de maio): “Só um pouco
saindo até do escopo da CPI, mas eu tenho curiosidade. (…) o senhor acha que,
com essa missão que o senhor diz que foi cumprida, o senhor está preparado ou
se acha preparado, ou quer mesmo ser candidato a Governador ou Senador pelo
Amazonas em 2022?”.
Ainda pelo art. 459 do CPC, não serão admitidas perguntas que importa-
rem repetição de outra já respondida. Na CPI da Pandemia, no entanto, foram
várias as repetições de perguntas, tanto que se chegou a levantar questão de
ordem (no dia 19 de maio). A insistência nas mesmas perguntas poderia ser
considerada, no mínimo, uma demonstração de insatisfação para com as res-
postas que vinham sendo dadas pelo inquirido.
358
‘Filibusterismo’, falácia e retórica na CPI da Pandemia
359
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
360
5 Ca p í tu lo
TÉCNICA LEGISLATIVA,
REGULAÇÃO E TEORIA
DA LEGISLAÇÃO
Cabe controle de constitucionalidade
por má técnica legislativa?
Abuso para esvaziar o poder de veto
presidencial no caso do PLV nº 7, de 2021,
sobre a desestatização da Eletrobras
363
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/legislativo/senado-aprova-mp-da-eletrobras-com-placar-aperta-
do-42-a-37-17062021
364
Cabe controle de constitucionalidade por má técnica legislativa?
de Energia Elétrica – Proinfa. Tudo isso nesse mesmo art. 1º, § 1º, que repre-
senta o coração da MP nº 1.031/2021.
No Senado Federal, o art. 1º, § 1º, do PLV em comento “engordou” ainda
mais, alcançando o tamanho de quase uma página inteira (confira-se na pági-
na 31 do parecer do relator).3
O artigo conta com 652 palavras, totalizando 3.197 caracteres. Tudo isso
sem um ponto sequer. Não por acaso, o dispositivo já vem sendo apelidado de
artigo “à Saramago”, em alusão ao autor português José Saramago (1922-2010),
famoso por usar períodos longos e fazer uso da pontuação de forma não con-
vencional.
Como sabido, parte da literatura (por exemplo, na Espanha, Piedad Gar-
cía-Escudero Márquez, e, no Brasil, Carlos Roberto de Alckmin Dutra) defen-
de a “inconstitucionalidade por inobservância da técnica legislativa” (legística
formal), a despeito de as “regras” de boas práticas na arte de legislar não terem
natureza propriamente jurídica (e menos ainda constitucional) para servir de
parâmetro de controle da validade das leis.
A própria Lei Complementar – LC nº 95/98, que dispõe sobre a elabora-
ção, a redação, a alteração e a consolidação das leis, no art. 18, estabelece que
“Eventual inexatidão formal de norma elaborada mediante processo legislativo
regular não constitui escusa válida para o seu descumprimento”.
Inclusive, a palavra “legística” – usada para designar o ramo de conheci-
mento que se ocupa do estudo dos métodos e técnicas voltadas para agregar
maior qualidade aos textos legais, desde a concepção, redação, elaboração e
controle dos seus efeitos práticos – sequer foi incorporada aos dicionários bra-
sileiros (Aurélio, Houaiss, etc.), nem aos documentos oficiais no Brasil (Ma-
nual de Redação da Presidência da República, Manual de Redação Legislativa
e Parlamentar do Senado Federal, etc.).
O referido art. 1º, § 1º, e outras emendas parlamentares inseridas no PLV
têm sido consideradas “jabutis”, sob o argumento de que não guardariam per-
tinência temática com o propósito original da MP nº 1.031/2021.
3. https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=8981490&ts=1623960301033&-
disposition=inline
365
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Esse tipo de juízo, como já comentado aqui,4 não é tão simples: há situa-
ções em que as emendas parlamentares são apenas parcialmente estranhas ao
texto inicial, guardando alguma correlação com o tema tratado, o que as deixa
em uma fronteira nebulosa entre a legitimidade e a ilegitimidade.
O problema é que essa zona cinzenta costuma ser carregada de discordân-
cias e, na falta de critérios objetivos para definir categoricamente uma emenda
como “jabuti”, a controvérsia deve ser resolvida a partir de negociações, dentro
das próprias Casas Legislativas.
Essa dinâmica (possibilidade de emendamento e prevalência da von-
tade das maiorias, ouvidas as minorias) faz parte da lógica do Parlamento.
O Congresso Nacional não é um mero carimbador das medidas provisórias ou
dos projetos de lei de iniciativa do Poder Executivo, na linha do já explicado
aqui.5
Sem pretensões de entrar no mérito sobre se a previsão da contratação das
termelétricas e as outras emendas parlamentares são ou não “jabutis”, o fato é
que, mesmo que se considere que não são, persiste na redação do art. 1º, § 1º,
do PLV, um problema de possível abuso da técnica legislativa: o propósito da
redação parece ter sido o de juntar todas as normas em um só dispositivo para
impossibilitar eventual veto por parte do presidente da República.
Como sabido, a CF, art. 66, § 2º, estabelece que o veto parcial somente
abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. Inclu-
sive, o descumprimento dessa formalidade poderia ensejar o controle de cons-
titucionalidade do próprio veto, como ato autônomo passível de impugnação,
na linha do que foi argumentado aqui.6
Em uma situação como essa do art. 1º, § 1º, do PLV nº 7, de 2021, o pro-
blema da má técnica legislativa é a possível violação ao princípio da separação
de poderes (art. 2º da CF).
Então, pergunta-se: não seria o caso de o presidente poder usar sua prer-
rogativa para que o veto parcial alcance o texto integral de uma “norma in-
teira” (ou “disposição”, no sentido usado por Riccardo Guastini), ainda que
4. https://www.conjur.com.br/2020-jul-06/roberta-nascimento-jabutis-processo-legislativo
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/tramitacao-conjunta-ini-
ciativa-legislativa-por-emprestimo-e-autonomia-do-bc-12052021
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/cabe-controle-de-constitucionalidade-
-do-veto-presidencial-16072020
366
Cabe controle de constitucionalidade por má técnica legislativa?
367
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
como ocorre com frequência nessa Casa Legislativa), sem submeter à reapre-
ciação da Câmara dos Deputados (violação ao art. 60, § 2º, da CF).
Quanto ao referido caso da ADI nº 3.472, há quem critique a inadequação
da técnica decisória adotada (para defender que a decisão deveria ter alcança-
do todo o dispositivo, justamente em analogia ao art. 66, § 2º, da CF).
Em outro exemplo de decisão que se valeu da técnica em comento, na ADI
nº 3.417 se declarou a inconstitucionalidade da expressão “com aplicação subsi-
diária, a juízo de seu Plenário, das normas legais compatíveis, do Regime Jurídi-
co Único, vigorantes para os servidores desse órgão”, que figurava no art. 70, § 4º,
da Lei Orgânica do Distrito Federal (Lei Complementar Distrital nº 1/1994),
que tratava dos conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal.
Entendeu-se que a expressão acima seria incompatível com o princípio da
simetria, nos termos do art. 75 da CF, a exigir a paridade das garantias, vanta-
gens e prerrogativas entre os membros do Tribunal de Contas e os membros
da Magistratura.
Como se vê, não seria absurdo o entendimento de que o veto parcial pu-
desse alcançar apenas parte do texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso
ou de alínea, desde que não haja uma completa deturpação da norma.
Aqui, convém recordar o que dispõe o Manual de Redação da Presidência
da República quanto à boa técnica legislativa:
• Cada artigo deve tratar de um único assunto;
• O artigo conterá, exclusivamente, a norma geral, o princípio. As
medidas complementares e as exceções deverão ser expressas por
meio de parágrafos;
• Quando o assunto requerer discriminações, o enunciado comporá o
caput do artigo, e os elementos de discriminação serão apresentados
sob a forma de incisos;
368
Cabe controle de constitucionalidade por má técnica legislativa?
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/o-que-e-o-devido-pro-
cesso-legislativo-17022021
369
Técnica legislativa, linguagem
neutra e linguagem inclusiva
Relevância, vantagens, desvantagens
e meios de implementar
371
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/genero-neutro-escolas-sc-stf-06072021
372
Técnica legislativa, linguagem neutra e linguagem inclusiva
373
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.lawcom.govt.nz/sites/default/files/projectAvailableFormats/NZLC%20R35.
pdf
3. https://www.bcli.org/project/gender-free-legal-writing-managing-personal-pronouns/
4. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3034366/mod_resource/content/1/Manual%20
para%20uso%20não%20sexista%20da%20linguagem.pdf
374
Técnica legislativa, linguagem neutra e linguagem inclusiva
5. https://www.opc.gov.au/sites/default/files/dd2.1.pdf
6. https://www.tse.jus.br/++theme++justica_eleitoral/pdfjs/web/viewer.html?file=https://
www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/arquivos/tse-guia-de-linguagem-inclusiva/@@do-
wnload/file/Guia%20de%20Linguagem%20Inclusiva%20–%20Secom%20TSE.pdf
375
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
376
Técnica legislativa, linguagem neutra e linguagem inclusiva
Enfim, é verdade que o simples uso de expressões mais neutras ainda não
será o suficiente para, de forma isolada, combater preconceitos. Mas, já que o
assunto está posto, é possível concluir que a técnica legislativa pode se adaptar.
Assim, quando não for muito custoso em termos de “economia da linguagem”
(em que menos é mais), convém evitar o uso do masculino genérico, assim
como das duplicações de gênero, priorizando o uso de termos que não apre-
sentem a variação de gênero.
377
A responsabilidade por
‘erro legislativo’
A culpa dos legisladores por leis
malfeitas e que causam danos
379
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
380
A responsabilidade por ‘erro legislativo’
381
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
382
A responsabilidade por ‘erro legislativo’
União pelas perdas e danos acarretados pela falta da edição da lei necessária
ao gozo do direito.
Posteriormente, quanto à falta da lei referida no art. 37, inciso X, da CF
(de iniciativa do Poder Executivo para a revisão geral dos vencimentos), o STF
entendeu que a indenização era impossível por implicar no próprio reajuste
(RE nº 500.811 AgR).
Nesse sentido, no RE nº 565.089, fixou-se a seguinte tese de repercussão
geral: “O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimen-
tos dos servidores públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/1988, não gera
direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto, pronunciar-
-se de forma fundamentada acerca das razões pelas quais não propôs a revisão”.
De forma semelhante, na ACO nº 792 AgR-ED, o ministro Edson Fachin
consignou: “O reconhecimento judicial de omissão legislativa em cumprir seu
mister institucional em contrariedade a dispositivo constitucional não implica
em reconhecer, de pleno direito, que durante o período de vigência do comando
sem a edição da espécie legislativa houve violação ao patrimônio jurídico dos
destinatários da norma, sob pena de restar caracterizada atípica hipótese de res-
ponsabilidade civil do Estado por ausência de ato legislativo”.
Assim, atualmente, parece predominar na jurisprudência do STF o enten-
dimento de que não cabe indenização por omissão dos legisladores.
Como se vê, nos casos acima em que é admitida, está-se diante de res-
ponsabilidade em caráter objetivo. Ou seja, não há que se perquirir elemento
subjetivo quanto à conduta dos agentes políticos na elaboração de atos norma-
tivos. De fato, parece problemático pretender atribuir “culpa” aos legisladores.
De ser assim, o Poder Judiciário estaria censurando o Parlamento pela
edição de leis não necessariamente inconstitucionais e sem deixarem de ser
gerais e abstratas que – em razão do carácter imperfeito do processo pelo qual
foram elaboradas – causam danos. Na prática, implicaria sair de um extremo
(da irresponsabilidade, “the Parliament can do no wrong”) para outro: o Estado
como um segurador praticamente universal.
Dito com outras palavras, seria inconcebível considerar culposa a conduta
dos legisladores, por supostamente terem agido – no processo de elaboração
das leis – com negligência imprudência e imperícia.
Tal pretensão equivaleria à responsabilização civil do Estado “por má téc-
nica legislativa” – ou, como aqui se chamou, por “erro legislativo”, aqui enten-
dido como as situações em que as leis apresentam problemas de efetividade ou
383
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
384
A responsabilidade por ‘erro legislativo’
Se os efeitos desejados com as leis não se dão – seja por falha de planeja-
mento, pelo advento de novas informações antes não consideradas ou por ou-
tros efeitos imprevisíveis (consequências de segunda ordem não antevistas) –,
o caso é de simplesmente reiniciar o ciclo da elaboração legislativa, corrigindo
as falhas das leis via modificação ou revogação de suas disposições, sempre a
partir dos diagnósticos resultantes da avaliação legislativa. É o que se discute,
por exemplo, quanto a diversas medidas adotadas durante a pandemia, como
o lockdown.1
Os deveres legisprudenciais não são propriamente jurídicos – mas políti-
cos e pré-jurídicos – e seu descumprimento não enseja ato ilícito que implique
o dever de indenizar. Até pode-se falar em leis “menos legítimas”, mas não só
por isso em inconstitucionais ou ilegais. As diversas exigências feitas aos legis-
ladores se sobrepõem e não é possível conferir sempre prioridade a algumas
delas, em detrimento de outras. Cada caso é um caso.
Com isso, não se pretende menosprezar todo o cuidado e atenção que
se deve ter ao legislar, tema que a cada dia se reveste de maior importância.
Trata-se apenas de colocar os assuntos em seus devidos lugares. A teoria da le-
gislação e suas boas práticas precisam ser adotadas por convicção dos próprios
participantes da prática legislativa, não pela via judicial ou sob a ameaça de
uma “pedagógica” indenização por responsabilidade civil do Estado.
Assim, tanto por conta das circunstâncias da legislação, quanto em razão
do caráter meramente moral e metodológico das pautas para melhorar a ela-
boração legislativa, não parece possível qualquer pretensão de responsabiliza-
ção, seja dos legisladores, seja do Estado, por leis ruins. Para o bem ou para o
mal, a responsabilização dos legisladores pelas leis que fazem só pode ter como
juízes os próprios cidadãos, via eleição para chancelar ou rejeitar a plataforma
político-ideológica dos candidatos.
1. https://www.thesun.co.uk/news/11472216/coronavirus-lockdowns-waste-time-50-dea-
ths-care-homes-sweden-expert/
385
Análise de impacto de gênero
Já é hora de começar a institucionalizar essa etapa
na elaboração de leis e atos normativos no Brasil
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/beneficio-emergencial-para-mulheres-
-chamem-o-pessoal-das-humanas-11052020
387
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/08/weverton-comemora-
aprovacao-de-projetos-em-prol-das-mulheres/senado-aprova-prioridade-as-mulheres-
-para-receber-auxilio-emergencial-em-familia-monoparental
388
Análise de impacto de gênero
4. http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/declaracao_beijing.pdf
5. https://boe.es/buscar/pdf/2003/BOE-A-2003-18920-consolidado.pdf
6. https://www.boe.es/buscar/pdf/2017/BOE-A-2017-13065-consolidado.pdf
7. http://www.mptfp.es/dam/es/portal/funcionpublica/gobernanza-publica/simplificacion/
impacto-normativo/guia_metodologica_ain.pdf#page=1
389
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
390
Análise de impacto de gênero
391
Qual peso devem ter as
evidências científicas para tomar
uma decisão legislativa?
As dúvidas e dificuldades não resolvidas
com o julgamento da ADI 5779 pelo STF
1. https://www.jota.info/stf/do-supremo/sibutramina-stf-invalidar-lei-inibidores-de-apeti-
te-14102021
393
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/stf/do-supremo/pilula-do-cancer-stf-inconstitucional-26102020
394
Qual peso devem ter as evidências científicas para tomar uma decisão legislativa?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Qual peso devem ter as evidências científicas para tomar uma decisão legislativa?
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
398
A taxatividade do rol da ANS
e o poder normativo das
agências reguladoras
Será a ADI nº 7.088 a nova ADI nº 4.874?
1. https://www.jota.info/tributos-e-empresas/saude/rol-da-ans-analise-de-novos-reme-
dios-deve-ser-feita-em-ate-180-dias-23032022
399
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/tributos-e-empresas/saude/julgamento-do-rol-da-ans-enten-
da-23022022
400
A taxatividade do rol da ANS e o poder normativo das agências reguladoras
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/os-legisladores-os-jui-
zes-os-advogados-e-a-equidade-19082020
4. https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2124114&fi-
lename=PRLP+3+%3D%3E+MPV+1067/2021
401
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
402
A taxatividade do rol da ANS e o poder normativo das agências reguladoras
403
Piso da enfermagem:
legisladores contadores?
Os problemas do controle semiprocedimental
que suspendeu o piso na ADI nº 7.2221
405
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
406
Piso da enfermagem: legisladores contadores?
6. https://revistaeletronica.pge.rj.gov.br/index.php/pge/article/view/253
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
8. https://revista.anpal.org.br/wp-content/uploads/2022/02/Artigo_07_Roberta_Simoes_
Nascimento.pdf
407
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
9. https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/57/225/ril_v57_n225_p125.pdf
408
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
10. https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141900https:/www25.
senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141900
11. https://www2.camara.leg.br/a-camara/presidencia/noticias/maia-anuncia-que-vai-devol-
ver-projeto-que-aumenta-gasto-sem-provisao
409
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
410
O que a bagagem gratuita em voos
revela sobre a dinâmica da regulação
A interação entre agências, Congresso
Nacional e Presidência da República1
411
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. TSEBELIS, George. Veto Players: How Political Institutions Work. Princeton: Princeton Univer-
sity Press, 2002.
412
O que a bagagem gratuita em voos revela sobre a dinâmica da regulação
413
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/regen/article/view/5152
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/inibidores-de-apetite-
-27102021?amp
8. Um bom panorama sobre essa discussão pode ser encontrado em: ROMERO, Felipe
Lima Araujo. Avocação legislativa da escolha regulatória: teoria e prática da interação entre
agências reguladoras e Poder Legislativo na construção da política regulatória. 2022. 179f.
414
O que a bagagem gratuita em voos revela sobre a dinâmica da regulação
415
Nomografia constitucional
Técnicas de elaboração de uma Constituição
e notícias da Constituinte no Chile
417
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://www.refworld.org/docid/45263d612.html
2. https://www.chileconvencion.cl
418
Nomografia constitucional
419
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
420
Nomografia constitucional
pois, quanto mais longo for o texto constitucional, maior a projeção desses
mandamentos no plano infraconstitucional e a multiplicação de normas. O
excesso de normas enfraquece a Constituição.
Como insistia Jeremy Bentham, as palavras das leis (e acrescenta-se aqui,
com ainda mais razão, as palavras de uma constituição) devem ser pesadas
como diamantes, pois a vida, a liberdade, a propriedade, etc., dependem das
palavras escolhidas pelos legisladores.
Essa, talvez, seja a principal peculiaridade da técnica de elaboração de
textos constitucionais: uma boa constituição deve ter generalidade, mas, ao
mesmo tempo, deve trazer ambiguidades para tornar suas normas flexíveis
e duradouras. Por exemplo, garante-se a “a inviolabilidade do direito à vida”,
mas sem dizer quando a vida humana começa (se no parto, na nidação ou na
concepção).
Sobretudo diante da falta de consenso entre os constituintes, a utilização
de normas vagas ou de conteúdo mais principiológico, cuja regulamentação e/
ou concretização se deixa a cargo do legislador infraconstitucional, é a manei-
ra de resolver os impasses. Basta um pequeno ajuste na redação (acrescentar
um “na forma da lei”, por exemplo, ou os correlatos “lei regulará”, “lei definirá”,
“lei disporá”, “lei estabelecerá”, “nos termos da lei”, etc.) e a discussão fica para
depois.
Esse tipo de polêmica também pode ser evitado com a adoção do conse-
lho de Josaphat Marinho (que foi senador da República e professor de Direito
Constitucional na Universidade de Brasília): “Importante, também, é que não
se transforme a Constituição em repositório de todas as ideias ou teses em deba-
te, quer as propugnadas por minorias exaltadas, ou as defendidas por maioria
teimosa. Por desenrolar-se, sempre, em número maior de provisões, a Constitui-
ção não deve converter-se em compêndio de polêmica. Inovar não é pleitear e
regular aleatoriamente, mas disciplinar o socialmente útil”.5
Como se vê, a utopia pode surgir como empecilho à boa redação da Cons-
tituição. Convém evitá-la em processos constituintes.
A convocação do poder constituinte originário nos tempos atuais é criti-
cada, por vezes, por ter-se transformado em estratégia política populista que
421
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
422
Será o fim do Tribunal
Constitucional no Chile?
Constituintes propõem eliminar a Corte, o
controle preventivo e instituir mecanismo
de deferência ao Legislativo
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/nomografia-constitucio-
nal-01092021?amp
2. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2022/01/89-6-iniciativa-convencional-cons-
tituyente-del-cc-christian-viera-y-otros.pdf
423
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
são escolhidos por critérios políticos, mas sem o pedigree democrático. Re-
clama-se, ainda, que vem ocorrendo diversas deturpações no funcionamento
concreto do controle de constitucionalidade daquele país (em especial, o surgi-
mento de uma litigância estratégica e o manejo de expedientes protelatórios).
Antes de comentar a proposta, aqui cabe um breve parêntese para expli-
car como ocorre atualmente o controle de constitucionalidade no Chile. Nesse
país, tanto o controle preventivo, quanto o posterior das leis são confiados ao
Tribunal Constitucional, que passou por uma reforma em 2005, por intermé-
dio da Lei 20.050.
Desde então, o Tribunal Constitucional chileno é composto por 10 minis-
tros: 3 indicados pelo presidente da República, 4 indicados pelo Senado (dos
quais dois são de livre escolha e os outros dois por indicação da Câmara dos
Deputados), e 3 membros são designados pela Corte Suprema. Os ministros
são nomeados para um mandato de nove anos (até o limite de 75 anos de ida-
de), sem possibilidade de reeleição – exceto os escolhidos para o que seriam os
mandatos-tampão e tenham exercido o cargo por menos de cinco anos.
O controle preventivo (antes da promulgação das leis) foi instituído como
obrigatório nas seguintes situações: leis que interpretem um preceito da Cons-
tituição; leis orgânicas (com previsão constitucional); e normas de um trata-
do que versem sobre tais matérias. Nessa modalidade de controle obrigatório,
quando o processo legislativo é finalizado no Congresso, a Casa Legislativa
de origem envia ao Tribunal Constitucional o projeto respectivo, no prazo de
cinco dias do fim da tramitação legislativa.
Além do obrigatório, o controle preventivo de constitucionalidade facul-
tativo pode ser suscitado na tramitação de projetos de lei, de reforma consti-
tucional e de tratados submetidos à aprovação do Congresso (também ao final
dos trabalhos legislativos, o que é importante para a autonomia parlamentar).
Nesse caso, o requerimento deve vir do presidente da República, de qualquer
das Casas Legislativas ou de 1/4 dos seus membros (em exercício), desde que
formulado antes da promulgação da lei ou da remessa da comunicação que
informa a aprovação do tratado pelo Congresso, também dentro dos cinco
dias do despacho.
O Tribunal Constitucional deve resolver a questão no prazo de dez dias
contados do recebimento do requerimento, a menos que decida prorrogar por
outros dez dias por motivos graves e qualificados.
424
Será o fim do Tribunal Constitucional no Chile?
425
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Schonhaut, Jeniffer Mella, Yarela Gómez, Mauricio Daza, Hugo Gutiérrez, Ma-
nuela Royo e Vanessa Hoppe.
Um dos constituintes que assinam a proposta, Fernando Atria, insiste que
ela não implica a abolição da jurisdição constitucional ou do controle de cons-
titucionalidade, mas sim uma modificação substantiva na forma como este é
exercido. Afirma que existem múltiplas razões para isso, principalmente o des-
prestígio do Tribunal Constitucional chileno, que se transformou, na prática,
em um legislador (na “terceira Câmara Legislativa”, como repete com frequên-
cia). O objetivo seria, portanto, o de atualizar o controle de constitucionalida-
de em termos democráticos.
O conteúdo da proposta do grupo de constituintes chilenos elimina o
controle preventivo acima explicado – que é considerado uma “anomalia” pelo
constituinte Fernando Atria – e transfere a competência do controle repressivo
para a Corte Suprema de Justiça. Na visão desse constituinte, que também é
um renomado professor de direito constitucional na Universidade do Chile,
o problema estaria na instituição do Tribunal Constitucional, isto é, no órgão
encarregado, não no controle de constitucionalidade em si.
A grande novidade da proposta reside na instituição de um tipo de con-
trole de constitucionalidade chamado “fraco”, ou seja, por intermédio do inci-
dente que acolhe a inconstitucionalidade de uma lei se remete ao Congresso
chileno para que, mediante um processo legislativo simplificado, sejam con-
templadas (ou não) as observações da Corte Suprema sobre a lei questionada.
Sem prejuízo, a modificação do dispositivo não impede o acolhimento de nova
questão de inconstitucionalidade.
Na explicação do constituinte Christian Viera, trata-se de instituir um
mecanismo de deferência ao Poder Legislativo, na medida em que os órgãos
tradicionalmente encarregados da revisão judicial não possuem legitimação
democrática. Com isso, na visão compartilhada por Fernando Atria, seriam
corrigidas as “patologias” do funcionamento do Tribunal Constitucional chi-
leno.
Todo o cuidado dos proponentes – e isso pode ser verificado neste vídeo3
– está em insistir que não se está eliminando o controle de constitucionalidade,
3. https://www.youtube.com/watch?v=bULp3Gju1_o
426
Será o fim do Tribunal Constitucional no Chile?
427
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
legislativa – pode ser algo bom para prevenir que se promulgue uma lei in-
constitucional. Portanto, abolir o controle preventivo parece um retrocesso.
Nada obstante, em terceiro lugar, parece positiva a ideia proposta de que
os juízes constitucionais tenham que adotar uma postura de alguma deferência
para com o Poder Legislativo, especialmente quando a inconstitucionalidade
não seja flagrante ou haja dúvidas, isto é, quando a Constituição não fechou as
portas para uma gama de decisões possíveis – a serem tomadas, preferencial-
mente, via procedimento democrático nos parlamentos. Daí a importância do
mecanismo de deferência que ressalta o espaço de conformação do legislador
e induz à autocontenção do tribunal (judicial self-restraint).
Ocorre que, nos moldes da proposta chilena, fixa-se apenas uma oportu-
nidade para o Legislativo se manifestar, sem que a chamada “última palavra”
corresponda aos legisladores, na medida em que sempre existirá a possibili-
dade de a norma inconstitucional cair na “malha fina” do controle repressi-
vo. Além disso, o Congresso sempre pode agir após uma decisão do Tribunal
Constitucional – alterando a lei ou a Constituição –, não sendo necessária uma
previsão expressa nesse sentido.
Com isso, a proposta chilena se diferencia do sistema existente em países
como Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Suécia, quanto aos quais tam-
bém seria possível falar em um constitucionalismo “fraco” – expressão essa
absolutamente infeliz para refletir o significado do esquema em que aos juízes
corresponde a “penúltima” palavra. Assim, a deferência ao legislador que se
pretende instituir no Chile não chega sequer perto da cláusula não obstante
(notwithstanding clause).
A proposta ainda será debatida, podendo ser modificada ou mesmo nem
prosperar. De toda forma, todo esse percurso serve para que se perceba o
seguinte: permanece sem resposta a questão do desenho institucional apro-
priado ao funcionamento do constitucionalismo democrático na contempo-
raneidade. Ao que parece, não existe uma “fórmula perfeita”, e o importante é
garantir a supremacia constitucional (não a judicial ou a legislativa) da melhor
forma possível. Um sistema bom é um sistema que funcione bem na prática,
para o que parece imprescindível o respeito aos mecanismos da democracia
representativa.
428
A solução da nova Constituição
chilena para o ativismo judicial
Cidadãos chilenos votam novo texto constitucional
em referendo no próximo dia 4 de setembro
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/nomografia-constitucio-
nal-01092021?amp
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/tribunal-constitucional-
-chile-19012022
3. https://www.chileconvencion.cl/wp-content/uploads/2022/07/Texto-Definitivo-CPR-
-2022-Tapas.pdf
429
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
4. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/os-legisladores-os-jui-
zes-os-advogados-e-a-equidade-19082020
5. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/os-legisladores-os-jui-
zes-os-advogados-e-a-equidade-19082020
430
A solução da nova Constituição chilena para o ativismo judicial
431
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/devem-os-juizes-exami-
nar-os-argumentos-do-legislativo-05012022
432
A solução da nova Constituição chilena para o ativismo judicial
não conte com parâmetros seguros e tenha seus problemas, como já apontado
aqui,7 tem potencial para funcionar como forma de deferência ao legislador.
Algumas vezes, só o exame dos materiais legislativos conduz à compreensão
das leis.
Retornando ao texto proposto para a nova Constituição chilena, por mais
que o dispositivo com os princípios da deferência ao legislador, da presun-
ção da constitucionalidade da lei e da busca de uma interpretação conforme
à Constituição vá ser interpretado pelos próprios juízes da Corte Constitucio-
nal e não necessariamente represente uma garantia contra decisões “criativas”,
contra legem ou mesmo contra constitutionem, trata-se de uma clara mensa-
gem que a assembleia constituinte chilena envia aos seus magistrados.
O ativismo judicial é tão indesejável no Chile quanto no Brasil. Lá, o re-
cado está sendo escrito no texto constitucional. Aqui, conforme assentado na
Questão de Ordem nº 11/2011 da Câmara dos Deputados,8 diante de uma
intromissão indevida sobre as prerrogativas dos legisladores, só resta ao Po-
der Legislativo o exercício do seu poder de legislar ou, conforme o caso, de
reformar a Constituição. Até agora, das vezes em que a resposta do Congresso
Nacional veio via emenda à CF, essa foi a posição mantida, ultrapassando-se
eventual jurisprudência do STF em contrário.
No Brasil, o problema é que o ativismo judicial já não mais pode ser con-
trarrestado pela constitucionalização de alguma norma, pois a expansão judi-
cial não vem se limitando à mera interpretação de umas poucas regras, e hoje
avança sobre princípios e valores basilares e estruturantes do ordenamento
jurídico.
Agora, resta saber quais serão os rumos do constitucionalismo chileno,
se é que o texto proposto pelo poder constituinte para a nova Constituição vai
ser referendado por lá no próximo dia 4 de setembro, e do constitucionalismo
brasileiro, se é que restarão poderes para neutralizar os eventuais excessos pro-
venientes de quaisquer dos demais Poderes constituídos da República.
7. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/controle-de-constitucio-
nalidade-qualidade-deliberacao-legislativa-14102020
8. https://www2.camara.leg.br/buscaQordem/
433
ELEITORAL
Ca p í tu lo 6
É constitucional a inelegibilidade
do parlamentar cassado
por quebra de decoro?
O caso Eduardo Cunha
1. https://www.jota.info/justica/eduardo-cunha-recupera-direitos-politicos-e-podera-dispu-
tar-eleicao-em-outubro-22072022
2. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescad/2016/resolucaodacamaradosdeputados-
-18-12-setembro-2016-783595-publicacaooriginal-151055-pl.html
437
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
438
É constitucional a inelegibilidade do parlamentar cassado por quebra de decoro?
Vale registrar que a atual redação da lei foi declarada constitucional pelo
STF na ADI nº 4.089, na qual se afirmou a liberdade de conformação do legis-
lador na matéria. Daqui viria uma primeira reflexão: deveria a inelegibilidade
ser matéria sob reserva de Constituição?
Talvez, sim, e assim o foi até a Constituição de 1946, que regulava de for-
ma integral a questão das inelegibilidades. No entanto, com a EC 14/1965, art.
2º, abriu-se o permissivo para que lei especial estabelecesse novas inelegibili-
dades, desde que fundadas na necessidade de preservação do regime demo-
crático, da exação e probidade administrativas e da lisura e normalidade das
eleições contra o abuso do poder econômico e uso indevido da influência de
exercício de cargos ou funções públicas.
Com isso, surgiu a primeira lei de inelegibilidades (Lei 4.738/65) e esse
modelo inaugurado no governo militar foi mantido desde então, o que tam-
bém explica o advento, mais recentemente, da LC 135/2010 (a Lei da Ficha
Limpa), que promoveu diversas alterações na LC 64/1990.
Não que a atual disciplina seja ruim, a questão é que a ênfase na ideia de
um candidato “ficha limpa” (com ênfase na ausência de condenações judiciais)
acaba promovendo uma substituição da “responsabilidade política” por uma
“responsabilidade jurídico-criminal”. E é aí que mora o perigo.
Em coluna passada,3 já se discorreu sobre o papel e os limites da atuação
dos Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar das Casas Legislativas, enfati-
zando que tais órgãos têm competência para, tão-somente, “propor” a apli-
cação de penalidades, sendo a decisão final a cargo do plenário da respectiva
Casa Legislativa. Como explicado, os Conselhos de Ética sequer têm assento
constitucional e não contam com poderes de investigação próprios das autori-
dades judiciais, diferentemente das CPIs (art. 58, § 3º, da CF).
O processo por quebra de decoro no âmbito do Conselho de Ética é con-
duzido nos termos da resolução de cada Casa e a cassação (ou não) é com-
petência do plenário, necessariamente, o qual é livre para acolher ou não a
posição do Conselho de Ética, seja ela qual for. Trata-se de uma decisão polí-
tica, em cujo processo o único requisito determinado pela CF é o de que seja
“assegurada ampla defesa” (art. 55, § 2º, da CF).
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/conselhos-de-etica-deco-
ro-parlamentar-28102020
439
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
440
É constitucional a inelegibilidade do parlamentar cassado por quebra de decoro?
441
Como contar os prazos de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa?
Além do caso comentado na coluna passada,1 nos últimos dias tem sido
possível acompanhar pela imprensa diversas outras decisões judiciais suspen-
dendo os efeitos da inelegibilidade para permitir que candidatos cujos direitos
políticos tecnicamente ainda estariam suspensos participem das eleições 2022.
Foi o que aconteceu aqui,2 aqui3 e aqui.4
A essas discussões – que definitivamente fazem pensar que ser “ficha lim-
pa” é coisa do passado –, soma-se o debate trazido na ADI 7.197, que poderá
acabar permitindo de uma vez por todas que candidatos “ficha suja” parti-
cipem do pleito eleitoral. A ação foi ajuizada pelo partido Solidariedade e a
relatoria está com a ministra Cármen Lúcia. Eis a controvérsia.
De acordo com o artigo 11, § 10, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições),
incluído pela Lei 12.034/2009, as condições de elegibilidade e as causas de
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/e-constitucional-a-inele-
gibilidade-do-parlamentar-cassado-por-quebra-de-decoro-03082022
2. https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=491821&ori=1
3. https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=491840&ori=1
4. https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=492145&ori=1
443
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-bicamerais/-/ver/pl-11021-
2018
6. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Msg/VEP/VEP-462.htm
7. https://www.congressonacional.leg.br/materias/vetos/-/veto/detalhe/12605
444
Como contar os prazos de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa?
8. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=761723443&pr-
cID=6437422
445
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
446
Como contar os prazos de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa?
É por isso que, como o evento eleições não ocorre em intervalos idênticos
de dias, meses e anos, não é possível aplicar a lógica da contagem de prazos
típica do calendário civil, prevista nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 810/1949. Dito
com outras palavras, se o evento está previsto para ocorrer em dias variáveis,
não há como estabelecer com segurança um intervalo fixo de tempo para a
contagem de prazos que medeiam eleições.
Prova disso está na própria CF, cujo artigo 77, caput, com redação dada
pela EC 16/1997, não se harmoniza com o próprio § 3º do mesmo artigo 77
(norma originária de 1988), porque enquanto a cabeça do artigo fixa que even-
tual segundo turno ocorrerá no último domingo do mês de outubro, o referido
parágrafo terceiro fixa que o segundo turno não poderia distar mais de 20 dias
do primeiro turno.
Imagine-se, por exemplo, que o dia 1º de outubro de determinado ano
caia exatamente em um domingo. Nesse dia, por determinação da CF, será o
primeiro turno. Ainda nessa hipótese, o último domingo desse mês de outubro
recairá no dia 29, de forma que o lapso de 20 dias previsto no § 3º jamais seria
cumprido, demonstrando que não é possível contar em número exato de dias
eventos que são previstos em datas móveis de determinado dia da semana e
mês.
Esse dado (a incompatibilidade que consta da própria CF) só reforça o
equívoco da contagem de prazos em dias, meses e anos na sistemática do Có-
digo Civil quando está-se diante de data móvel, como no caso do artigo 77,
caput, da CF, artigo 1º da Lei 9.504/1997, e, por conseguinte, aos dispositivos
da LC 64/1990. Não se pode usar uma regra de contagem de prazos infra-
constitucional, que pressupõe interregnos de tempos fixos (seja 20 dias, seja
8 anos), para contar um prazo constitucional que possui intervalos variáveis.
Interpreta-se o ordenamento à luz da CF, não o contrário.
A forma de solucionar a controvérsia trazida na ADI 7.197, então, é con-
siderar não a data das eleições em si (dia, mês e ano, conforme o calendário
civil), mas o “evento” eleições. Com isso, o término do prazo de 8 anos da data
de eleição se consumaria na véspera do dia das eleições do ano em que cessa a
inelegibilidade. Ora, se o termo inicial é móvel, o final não pode ser fixo.
A solução aqui apresentada, como se vê, tem a vantagem de evitar que
candidatos “ficha suja” participem do pleito, mantém incólume as normas do
ordenamento jurídico tal como aprovadas pelo Congresso Nacional – isto é,
não declara a inconstitucionalidade, nem precisa conferir interpretação con-
forme, a qualquer dispositivo legal – e mantém a coerência e simetria: se são
447
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
as eleições o evento determinante para a contagem dos prazos, deve ser esse a
referência para o termo a quo e também o ad quem, para respeitar a vontade
dos legisladores, notadamente na redação da LC 64/1990, que faz menção ex-
pressa às “eleições” como referência da contagem dos prazos.
Por fim consigne-se que a interpretação acima proposta é absolutamente
compatível com a menção à palavra “anos” constante do artigo 1º, inciso I,
alíneas d, h e j, da LC 64/1990, uma vez que não há alusão na norma a anos
completos ou incompletos, de maneira que o oitavo ano do prazo de inelegibi-
lidade sempre terminaria na véspera do dia do pleito a ser realizado, em total
harmonia com a Súmula nº 70 do TSE.
448
Cassação de candidatos não
envolvidos com candidaturas
laranjas de sua coligação
ADI ajuizada pelo SDD alega que entendimento do
TSE prejudica a igualdade de gênero na política
1. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5879329
2. https://www.jota.info/justica/tse-cassa-coligacao-inteira-por-uso-de-candidaturas-laran-
ja-17092019
449
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
450
Cassação de candidatos não envolvidos com candidaturas laranjas de sua coligação
6. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/os-possiveis-crimes-das-candidaturas-la-
ranjas-09032019
7. Disponível em: https://camilavazvaz.jusbrasil.com.br/artigos/437619026/candidatas-la-
ranja-a-falacia-da-inclusao-de-mulheres-na-politica-brasileira. Acesso em: 04 abr. 2020.
451
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
8. https://www.jota.info/justica/tse-cassa-coligacao-inteira-por-uso-de-candidaturas-laran-
ja-17092019
452
Cassação de candidatos não envolvidos com candidaturas laranjas de sua coligação
453
É possível obrigar um
candidato presidencial a
participar de um debate?
O caso da Colômbia e o alcance para o Brasil
455
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
456
É possível obrigar um candidato presidencial a participar de um debate?
457
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Só esse já seria um motivo para rejeitar que a participação nos debates seja
uma obrigação dos candidatos presidenciais.
Mas há um argumento mais forte: não existe determinação constitucional
ou legal nesse sentido. Do princípio democrático (sem mais) não é possível ex-
trair tal norma de conduta para os candidatos presidenciais, por mais desejável
que possa ser escutá-los debater publicamente seus programas de governo.
A rigor, se um candidato se nega a debater, nada pode ser feito. Agora, é
possível que o candidato que assim se porta tenha mais a perder do que os elei-
tores que deixam de ver os rivais cara a cara. Tanto que, no caso comentado da
Colômbia, ao final, o debate ordenado judicialmente acabou não ocorrendo9
e, curiosamente, o perdedor das eleições foi aquele que se recusava a debater.
9. https://elpais.com/america-colombia/elecciones-presidenciales/2022-06-16/el-silencio-
-de-rodolfo-hernandez-deja-el-debate-con-petro-en-el-aire.html
458
7 Ca p í tu lo
CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
Existe uma inconstitucionalidade
‘circunstancial’?
Pandemia é transitória, mas declaração de
inconstitucionalidade não tem volta
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-fenomeno-da-inconstitucionalidade-
-circunstancial-25042020#_ftn8
461
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.conjur.com.br/2020-abr-11/observatorio-constitucional-jurisprudencia-cri-
se-pensamento-possivel-caminhos-solucoes-constitucionais
3. Pode-se dizer que para o Ministro Gilmar Mendes uma “jurisprudência de crise” equiva-
leria ao reconhecimento de que contextos fáticos podem justificar determinados atos da
Administração Pública ou do Poder Executivo (inclusive, usando suas próprias palavras,
os “questionáveis do ponto de vista estrito da lei e da Constituição Federal”).
4. O STF já adotou essa técnica, por exemplo, por ocasião do HC n. 70.514 (mantendo as
prerrogativas da Defensoria Pública de intimação pessoal e prazo em dobro até que
462
Existe uma inconstitucionalidade ‘circunstancial’?
463
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
5. https://www.jota.info/justica/pl-de-toffoli-preve-adiamento-da-lgpd-e-suspensao-de-re-
gras-anticoncorrenciais-02042020
464
Cabe controle de constitucionalidade
quanto à qualidade da
deliberação legislativa?
Parâmetros da deliberação não claros e judicialização
não podem suprimir soberania parlamentar
465
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://tc.gob.pe/jurisprudencia/2018/00006-2018-AI.pdf
7. https://peru.justia.com/federales/constitucion-politica-del-peru-de-1993/titulo-iv/capitu-
lo-i/
8. https://www.congreso.gob.pe/Docs/files/reglamento/reglamento-congreso-(2020-ma-
yo-15).pdf
466
Cabe controle de constitucionalidade quanto à qualidade da deliberação legislativa?
9. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5067184
10. https://www25.senado.leg.br/documents/12427/45868/RISF+2018+Volume+1.pdf/cd-
5769c8-46c5-4c8a-9af7-99be436b89c4
11. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/regimento-interno-da-cama-
ra-dos-deputados
467
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
12. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6671640
13. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347381
14. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85766
15. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=325619
16. https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=307700780&ext=.pdf
468
Cabe controle de constitucionalidade quanto à qualidade da deliberação legislativa?
A rigor, não é que tenha clamado por “mais deliberação parlamentar”, mas,
sim, na prática, pela rigorosa obediência ao rito normal regimental, sem saltos,
proibindo a flexibilização dos procedimentos por acordo de líderes.
Entretanto, nos termos em que vem sendo concebido pela teoria, o pre-
tendido controle de constitucionalidade quanto à qualidade da deliberação le-
gislativa passaria por perquirir, por exemplo, sobre:
1) a confiabilidade das prognoses usadas como parâmetro para a atuação
legislativa (isto é, os dados empíricos considerados, análises de impacto, etc.),
exigindo-se que as decisões legislativas tenham amparo em tais dados concre-
tos; 2) a veracidade da motivação apresentada, que necessariamente deveria
analisar as alternativas decisórias (sendo certo que não basta a mera apresen-
tação de razões, sendo necessário que estas correspondam aos reais funda-
mentos da decisão legislativa, ou seja, não valeriam as “razões hipócritas”);
e 3) o caráter dialético da decisão legislativa, garantindo-se voz às posições
contrárias à medida, via processo deliberativo público, com duração razoável
e espaço para participação, não só das minorias parlamentares, como também
dos destinatários ou interessados nas normas. Nada disso foi objeto de análise
na decisão peruana.
Seja como for, ainda parece ser necessário aprofundar tal conceito de con-
trole procedimental da deliberação legislativa. Responder algumas perguntas
poderia ajudar nessa tarefa: O que seria, concretamente, uma deliberação sufi-
ciente? Exigiria uma obediência inflexível a todas as regras regimentais da ela-
boração legislativa (sem possibilidade de acordos de líderes para alterar proce-
dimentos e aprovação de calendários especiais)? Significaria uma deliberação
efetiva quanto a, necessariamente, cada artigo das proposições em discussão?
Qual seria o grau de profundidade considerado adequado? E o tempo? Seria
esse modelo ideal aplicável para todos projetos de leis (independentemente da
temática ou de seus impactos sobre valores constitucionais)? Se sim, sua ado-
ção seria factível, considerando as práticas parlamentares reais (e, sobretudo,
seus constrangimentos institucionais)? Se não, quais critérios que definiriam a
deliberação suficiente em cada caso?
As respostas a essas perguntas não são óbvias. Não existe somente uma
noção de democracia deliberativa, mas várias, que também estão em disputa
na arena legislativa. Há uma certa ingenuidade na pretensão de ver consagrada
apenas uma delas para sempre.
Além disso, imaginar o Poder Judiciário exigindo um maior grau de “deli-
beratividade” por parte do Poder Legislativo é quase tão estranho quanto este
469
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
último dizer como o primeiro deve fazer seu labor jurisdicional. Existe aqui
um claro problema quanto aos limites da revisão judicial: o controle quanto à
suficiência da deliberação ou a adequação dos debates parlamentares parece
ser um deles.
Isso, sem contar o risco de que seja aumentado ainda mais o custo deci-
sório dentro do Poder Legislativo. Em lugar de catalisar os debates legislati-
vos, se tal controle de constitucionalidade procedimental vier a impor padrões
de deliberação muito exigentes, a capacidade do Parlamento para responder
tempestivamente às demandas sociais poderia ficar seriamente prejudicada.
O efeito do controle pode ser o contrário do pretendido e, pior, nocivo.
Trata-se de manifesto equívoco a tentativa de tentar transplantar a lógica
do processo judicial (e seus prazos) para o processo legislativo. O tempo do
direito não é o tempo da política. Precisamente por essas peculiaridades, per-
manece importante a soberania do plenário expressamente consignada no art.
412, inciso III, do RISF. Com isso, os regimentos internos cumprem mais uma
função de autolimitação das Casas Legislativas, mas não impedem a tomada de
decisões colegiadas em outro sentido hic et nunc.
Nesses termos, sem prejuízo de que eventuais abusos sejam combatidos
(tal como ocorreu na ADI n. 5.127,17 cujo cerne versava sobre o descumpri-
mento do art. 4º, § 4º, da Resolução n, 1, de 2002, do Congresso Nacional),18 a
flexibilidade quanto à aplicação das regras regimentais por acordos parlamen-
tares atende à dinâmica da própria atividade política na elaboração legislativa,
e não há que ser taxada como “privatização do processo legislativo” em todos
os casos. Nem toda quebra regimental na tramitação macula a lei de inconsti-
tucionalidade, nem todo dissenso legislativo é judicializável.
Não se nega: de fato, que é necessário melhorar a qualidade da deliberação
legislativa, isso não se discute. Nada obstante, convém não esquecer que ine-
xiste necessária correspondência biunívoca entre a qualidade do procedimento
de elaboração legislativa – sobretudo quanto aos tempos de duração e à argu-
mentação legislativa – e o seu produto final: a lei. Por vezes, a despeito do ca-
ráter melhorável das discussões parlamentares, a lei aprovada é irrepreensível.
17. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10931367
18. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/rescon/2002/resolucao-1-8-maio-2002-497942-
normaatualizada-pl.html
470
Cabe controle de constitucionalidade quanto à qualidade da deliberação legislativa?
471
Como se prova a
inconstitucionalidade por vício
de decoro parlamentar?
Os problemas do julgamento das
ADIs n. 4.887, 4.888 e 4.889
473
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
1. https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4345096
2. https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3189858&prcI-
D=4345096&ad=s
3. https://www.scielo.br/j/ln/a/7P5HPND88kMJCYSmX3hgrZr/?format=pdf&lang=pt
474
Como se prova a inconstitucionalidade por vício de decoro parlamentar?
Além disso, para ser sólido, um sistema de partidos políticos precisa fun-
cionar justamente na base da disciplina parlamentar, ou seja, isso beneficia o
sistema político. De fato, não há forma de articulação política fora da coesão
dos grupos parlamentares (bancadas).
Do ponto de vista jurídico, trata-se de obrigação do parlamentar legal-
mente prevista no art. 24 da Lei n. 9.096/95, a Lei dos Partidos Políticos (LPP):
“Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua
ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes es-
tabelecidas pelos órgãos de direção partidários, na forma do estatuto”.
Assim, a indisciplina partidária é passível de punição4 dentro das agre-
miações, conforme seus respectivos estatutos, que contam com expressa auto-
rização legal e constitucional para estabelecê-la (art. 15, inciso V, c/c art. 23,
da LPP, e art. 17, § 1º, da CF). Inclusive, a recalcitrância do parlamentar pode
conduzir até o seu desligamento do partido5 (art. 25 da LPP).
Tamanha a importância da disciplina para a dinâmica parlamentar, que
tudo caminha para que o TSE entenda (no processo n. 0600643-36.2019.
6.00.0000) que tal punição por indisciplina partidária não configura discrimi-
nação pessoal ou justa causa apta à desfiliação do parlamentar com a manu-
tenção do mandato eletivo, nos termos do art. 22-A da Lei n. 9.096/95. Ou seja,
o assento continua sendo do partido político.
Além disso, vale registrar que a disciplina de voto também existe nos de-
mais Parlamentos ao redor do mundo, não existindo notícias de algum que
não o adote. Em resumo, então, fortes razões pragmáticas fundamentam a
adoção do voto por disciplina partidária.
Embora haja críticas ao instituto, não há inconstitucionalidade, pois o
próprio art. 14, § 3º, inciso V, da CF, estabelece a filiação partidária como re-
quisito para condições de elegibilidade e é o pertencimento aos partidos que
rege a lógica da proporcionalidade. Assim, os parlamentares devem obediên-
cia às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos partidos políticos, o manda-
to eletivo é representativo-partidário.
4. https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,entenda-o-que-significa-a-suspensao-de-
-tabata-e-outros-sete-deputados-do-pdt,70002925737
5. https://exame.com/brasil/psb-expulsa-deputado-e-suspende-outros-9-por-voto-a-favor-
-da-previdencia/
475
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Ou seja, esse “poder” do líder de orientar a votação não poderia ter sido
menosprezado (como foi) pelas decisões do STF nas ADIs n. 4.887, 4.888 e
4.889, pois é determinante na formação da vontade parlamentar. Mesmo em
se tratando de uma votação nominal – em que cada congressista vota indivi-
dualmente e de modo ostensivo, em razão do quórum qualificado –, dada a
realidade das práticas no Poder Legislativo, os representantes do povo são cada
vez menos livres para votar segundo suas próprias consciências ou mesmo de
acordo com as preferências populares que os elegeram sem a “intermediação”
dos partidos políticos, sobretudo a figura dos líderes a quem devem obediên-
cia.
Na AP n. 470, foram condenados: 1) Roberto Jefferson Monteiro Francis-
co PTB/RJ, 2) Valdemar Costa Neto PL/SP, 3) Pedro Henry Neto PP/MT, 4)
Romeu Ferreira de Queiroz PTB/MG, 5) Carlos Alberto Rodrigues Pinto PL/
RJ, 6) Pedro da Silva Corrêa de Oliveira Andrade Neto PP/PE, e 7) José Rodri-
gues Borba PMDB/PR.
Na qualidade de líderes, somente os três primeiros dos condenados (da
lista mencionada) garantiram 108 votos (como sabido, são necessários 308 vo-
tos, equivalente a 3/5 dos deputados). Caso tivessem sido anulados 108 dos
358 votos totais, a EC n. 41/2003 de fato não teria sido aprovada.
Porém, a ministra relatora preferiu não presumir que os parlamentares
liderados pelos parlamentares condenados na AP n. 470 também tiveram suas
vontades viciadas. Isso de forma tácita, já que a decisão sequer adentrou na
dinâmica da liderança parlamentar.
Aqui, então, fica a dúvida quanto a se: 1) foi a ministra relatora quem
não quis “checar” se os parlamentares liderados votaram exclusivamente por
orientação da bancada (ou se seus votos foram fruto genuína manifestação de
vontade); ou se 2) de fato não haveria como perquirir o “móvel interno” do
parlamentar que vota a favor ou contra uma proposição legislativa – mas, não
podendo registrar isso com todas as letras, a ministra relatora calou quanto a
esse ponto.
O presente questionamento não é uma picuinha e, nas duas hipóteses,
revela problemas decisórios do STF e desafios teóricos.
É sabido que, por vezes, a inconstitucionalidade das leis é uma “questão de
fato”, não passível de detecção pelo simples cotejo da norma atacada com a dis-
posição constitucional usada como parâmetro. Isso porque o vício nem sem-
pre se revela só a partir de uma subsunção ou de análise em abstrato, também
476
Como se prova a inconstitucionalidade por vício de decoro parlamentar?
477
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
6. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc07059825.htm
478
Como se prova a inconstitucionalidade por vício de decoro parlamentar?
7. https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2020/12/policia-federal-investiga-
-possivel-compra-de-medidas-provisorias-pela-amil-para-reducao-bilionaria-de-dividas.
html
479
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
480
Devem os juízes examinar a
argumentação legislativa?
PL 2585/2021 obrigará juízes a enfrentar os
pareceres das CCJs da Câmara e do Senado
1. https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2291546
481
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Devem os juízes examinar a argumentação legislativa?
2. https://www.academia.edu/65489076/O_ARGUMENTO_DA_INTENÇÃO_DO_LEGISLA-
DOR_ANOTAÇÕES_TEÓRICAS_SOBRE_USO_E_SIGNIFICADO
483
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
484
Devem os juízes examinar a argumentação legislativa?
Leis racionais são leis que contam com boas razões. Nessa situação, está
mais que justificada a deferência ao legislador, sobretudo dentro dos espaços
de livre conformação legislativa da matéria (isto é, quando a Constituição não
pré-determina qual deve ser a atuação do legislador).
Mas, como não poderia deixar de ser, é claro que o legislador pode falhar.
E para verificar se de fato há um erro, uma decisão arbitrária ou equivocada,
também deve ser examinada a argumentação legislativa. É preciso obter infor-
mações antes de presumir um despotismo legislativo.
É por isso que, em alguma medida, o PL é falho ao restringir a obrigação
de exame das razões legislativas às discussões sobre a inconstitucionalidade
das leis. Ora, a essa altura, já é possível perceber que a correta compreensão
da intenção legislativa, da racionalidade da lei, pode ser importante mesmo
fora de um debate sobre sua constitucionalidade. A mera atribuição de sentido
pode se beneficiar da compreensão das finalidades dos textos legais, a partir da
utilização das ferramentas analíticas da teoria da legislação.
Além disso, de certa forma, o PL também limitou muito o material prepa-
ratório cuja consulta obriga: só os pareceres das CCJs da Câmara dos Deputa-
dos e do Senado Federal. Como sabido, o processo de elaboração das leis tem
inequívoca natureza dinâmica, e diversos argumentos vão sendo abandonados
ou modificados ao longo da tramitação, até mesmo em função do emenda-
mento parlamentar e dos acordos para aprovação que vão surgindo.
Ou seja, a análise do parecer das CCJs representa só um retrato daquele
momento, não o filme completo. De forma isolada, pode não ser suficiente
para justificar a escolha. Só com o parecer das CCJs não se antecipa, neces-
sariamente, o desfecho da decisão legislativa. Isso sem contar a enorme fre-
quência com que tais colegiados têm seus pronunciamentos substituídos por
pareceres em plenário, o que esvaziaria a novidade legislativa.
Enfim, os materiais preparatórios são mais amplos do que só os pareceres
das CCJs e toda a sua riqueza pode não estar devidamente sintetizada somente
no pronunciamento desses colegiados.
Uma consequência importante da eventual aprovação do PL 2585/2021
será o cabimento de embargos de declaração, nos termos do artigo 1.022, pa-
rágrafo único, do CPC, na medida em que se considera omissa a decisão que
incorra em qualquer das condutas descritas no referido artigo 489, § 1º, em
cujo dispositivo se pretende inserir o inciso VII.
485
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
3. https://www.academia.edu/65489076/O_ARGUMENTO_DA_INTENÇÃO_DO_LEGISLA-
DOR_ANOTAÇÕES_TEÓRICAS_SOBRE_USO_E_SIGNIFICADO
486
Sobrevive a competência senatorial
do art. 52, X, da Constituição?
O advento do Código de Processo Civil de
2015 e a falácia do argumento da mutação1
1. Artigo escrito em coautoria com MATEUS FERNANDES VILELA LIMA (Advogado do Senado
Federal, Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de
São Paulo).
487
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
perversos decorrentes do limite inter partes das decisões desse controle, impe-
dindo, a uma só vez, a multiplicidade de processos e o risco de disparidade de
decisões sobre a mesma matéria.
É por isso que, embora haja discricionariedade política quanto ao juízo de
conveniência e oportunidade sobre suspender ou não a lei declarada incons-
titucional, não cabe ao Senado Federal entrar no mérito da decisão judicial
proferida pelo STF, desfazendo-a, interpretando-a, discordando dela ou res-
tringindo o seu alcance.
Além disso, não cabe retratação, invalidação ou revogação da resolução
que suspendeu lei declarada inconstitucional, de modo que a edição da reso-
lução exaure definitivamente a competência senatorial em tela em relação à
norma, retirando a sua vigência.
Não há notícias de mecanismos semelhantes no direito comparado. O
mais próximo é o art. 281, item 3, da Constituição portuguesa de 1976, ain-
da em vigor, pelo qual o Tribunal Constitucional aprecia e declara, com força
obrigatória geral, a inconstitucionalidade ou a ilegalidade de qualquer norma,
desde que tenha sido por ele assim considerada em três casos concretos.
Criação brasileira, tal competência senatorial foi introduzia pela primeira
vez na Constituição de 1934 (art. 91, inciso IV: “Compete ao Senado Federal
suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação
ou regulamento, quando hajam sido declarados inconstitucionais pelo Poder
Judiciário”).
Sob a égide da Constituição de 1946, a atribuição foi delineada no art. 64,
pelo qual “incumbe ao Senado Federal suspender a execução, no todo ou em
parte, de lei ou decreto declarados inconstitucionais por decisão definitiva do
Supremo Tribunal Federal”. A mesma redação foi repetida na Constituição de
1967, art. 45, inciso IV, e na EC nº 1/69, no art. 42, inciso VII.
Em decisões editadas ainda antes da Constituição de 1988 (por exemplo,
o MS nº 16.519), o STF já reconheceu a função dessa participação senatorial
como ato político cujo propósito é o de ampliar os efeitos da decisão judicial.
Portanto, a suspensão não traduz função jurisdicional, mas tem a finalidade
de complementá-la e, embora tenha limites, não chega a converter o Senado
Federal em “mero cartório de registro” das decisões de inconstitucionalidade
do STF.
Quanto a esse ponto, inclusive, deve-se registrar que não prosperou o po-
sicionamento no sentido de que a competência senatorial se resumiria a “dar
488
Sobrevive a competência senatorial do art. 52, X, da Constituição?
489
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
490
Sobrevive a competência senatorial do art. 52, X, da Constituição?
teria eficácia retroativa, operando com efeitos ex tunc, por ser mais que uma
simples revogação da lei (ressalte-se, entretanto, que este ponto não é pacífico
na doutrina, havendo quem defenda a produção de efeitos ex nunc).
Vale registrar, ainda, que continua existindo a obrigação de o STF enviar
as decisões definitivas do controle difuso para o Senado Federal, nos termos do
art. 178 do Regimento Interno do STF (RISTF). Inclusive, observa-se que há
comunicações não só de “leis”, mas também outros atos normativos, pelo que
a suspensão senatorial tem sido alargada para alcançá-los, como nos exemplos
das Resoluções SF nº 4/2012, 4/2010, 6/2008, 5/2007, entre outras.
Explicada a permanência da utilidade da suspensão a que se refere o art.
52, inciso X, da CF, cabe observar que essa competência senatorial para sus-
pender leis declaradas inconstitucionais, no todo ou em parte, por decisão de-
finitiva do STF tem caráter nacional (e não meramente federal), alcançando a
possibilidade de suspensão de leis estaduais, municipais ou distritais.
Inclusive, deve-se registrar que há resoluções aprovadas pelo plenário do
Senado Federal no exercício dessa competência tendo por objeto, precisamen-
te, leis não federais (por exemplo, Resoluções SF nº 16/2017, 2/2012, 3/2012,
43/2010, 37/2009, 7/2008, 26/2008, 2/2007, etc.). Além disso, o próprio STF já
reconheceu que a competência senatorial pode ter por objeto leis não federais,
como ocorreu na medida cautelar da ADI nº 3.929.
Nesse julgado, a decisão suspendeu parcialmente a Resolução SF nº
7/2007 do Senado Federal, especificamente nos trechos em que fazia referên-
cia a determinados artigos das Leis paulistas nº 7.003/1990 e nº 7.646/1991,
os quais não guardavam relação com a Lei nº 6.556/1989. As três leis referidas
foram editadas de forma sucessiva e declaradas inconstitucionais no âmbito
do controle difuso, mas as duas leis mais recentes continham dispositivos não
expressamente declarados inconstitucionais (os arts. 6º e 7º).
O erro do Senado Federal plasmado na Resolução SF nº 7/2007 partiu
da comunicação equivocada do próprio STF, que encaminhou ofício descon-
siderando o julgado em sede de embargos de declaração, com efeitos modi-
ficativos, que excluíra alguns artigos da declaração de inconstitucionalidade,
conforme a explicação que figura à página 10 do voto da ministra Ellen Gracie
(equivalente à página 66 do processo).
Embora o ponto não tenha sido expressamente debatido por ocasião do
julgamento, ainda assim, pode-se dizer que restou reconhecida, nem que seja
implicitamente, a possibilidade de suspensão senatorial de leis não federais, já
491
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
492
8 Ca p í tu lo
TEORIA DO DIREITO
Os legisladores, os juízes, os
advogados e a equidade
ADC 71 definirá se honorários advocatícios
podem ser fixados por equidade
além do art. 85, § 8º, do CPC
1. https://www.jota.info/carreira/oab-quer-que-stf-pacifique-controversia-sobre-calculo-
-de-verbas-advocaticias-30042020
2. https://images.jota.info/wp-content/uploads/2020/04/doc-01-adc-art-85-cpc-honorarios-
-sucumbencia-fazenda-publica.pdf?x73076
495
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
496
Os legisladores, os juízes, os advogados e a equidade
497
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Para isso, o argumento que vem sendo utilizado pelos juízes é o de que a
aplicação dos percentuais e faixas de valores do art. 85, § 3º, do CPC, mesmo
com o escalonamento previsto no § 5º, acarretaria distorções na fixação da
verba honorária, tendo em vista o trabalho do advogado, que poderia ser clas-
sificado como sumário, simples ou descomplicado. Por exemplo, esse seria o
caso subjacente ao REsp n. 1.771.147:3 uma execução fiscal milionária extin-
ta mediante mera petição de exceção de pré-executividade não resistida pela
Fazenda Pública, que prontamente cancelou a inscrição do crédito em dívida
ativa.
Adicionalmente, os juízes citam o art. 1º do CPC, pelo qual o processo
civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as nor-
mas fundamentais estabelecidos na CF, para justificar que a justiça no caso
concreto é princípio que deve reger sempre a jurisdição.
Algumas decisões citam, ainda, a necessidade de estender, às situações em
que a condenação foi exorbitante, o mesmo tratamento dado à verba ínfima,
com base nos princípios da boa-fé e da vedação do enriquecimento sem causa.
Para o CFOAB, tal prática dos juízes implica negar incidência ao art. 85,
§§ 3º e 5º, do CPC, o que, por seu turno, caracterizaria afronta ao enunciado
da Súmula Vinculante n. 10 – pelo qual viola a cláusula de reserva de plenário
(art. 97 da CF) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não de-
clare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.
No entanto, o arbitramento de honorários por equidade para além do rol
do art. 85, § 8º, do CPC, não equivale a negar vigência ao art. 85, § 3º, nem a
declará-lo inconstitucional, mas simplesmente revela a adoção de técnicas de
interpretação sistemática, por analogia ou de modo extensivo a outras situa-
ções. Em consequência, tampouco há violação ao enunciado vinculante. Por
isso, não merece prosperar a pretensão do CFOAB em que o rol do art. 85, §
8º, seja considerado taxativo (numerus clausus).
Pelo texto do art. 85, § 8º, do CPC, o legislador não proibiu a utilização
de quaisquer dos tipos de interpretação da norma nele constante. E não cabe
ao intérprete inserir vedações onde não o fez o próprio legislador (ubi lex non
3. https://processo.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201802586142
&dt_publicacao=25/09/2019
498
Os legisladores, os juízes, os advogados e a equidade
distinguit nec nos distinguere debemus). Assim, não caberia a restrição inter-
pretativa pretendida pelo CFOAB.
Se a intenção do legislador fosse outra (isto é, no sentido de impedir tais
modalidades de interpretação por parte dos juízes), teria registrado isso de
forma expressa no texto legal, valendo-se da técnica legislativa devida. Por
exemplo, registre-se que isso ocorreu no art. 111 do CTN, que veda a interpre-
tação extensiva ou por analogia, bem como nos arts. 114, 819, 843 do CC, que
trazem diretrizes interpretativas semelhantes.
Há comandos legais que determinam, ainda, em que sentido a norma
deve ser interpretada: de modo mais favorável ao acusado (art. 112 do CTN),
ao aderente (art. 423 do CC), ao consumidor (art. 47 do CDC), à liberdade
econômica, boa-fé e respeito aos contratos, investimentos e propriedade (art.
1º, § 2º, da Lei de Liberdade Econômica), aos usos do lugar (art. 113, § 1º, do
CC), etc.
No dispositivo do art. 85, § 8º, do CPC, entretanto, não está contida qual-
quer diretriz interpretativa – não está escrito, por exemplo, que deve-se adotar
a interpretação mais favorável ao advogado, ou a que resulte na fixação de ho-
norários advocatícios mais elevados –, de forma que o legislador conferiu aos
juízes o poder-dever de se valerem das técnicas mais adequadas diante do caso
concreto. Ademais, trata-se de liberdade inerente ao sistema brasileiro de livre
convencimento motivado do juiz (art. 371 do CPC).
Em outras palavras, o referido art. 85, § 8º, do CPC trouxe expressa auto-
rização legal para a utilização da equidade pelos juízes, de forma que se permi-
tiu aos órgãos jurisdicionais a flexibilidade na aplicação das leis.
E mesmo que o legislador não o tivesse feito, o fato é que a equidade está
sempre presente e não depende só de autorização expressa (ou mesmo implí-
cita) do legislador, já que a equidade também cumpre papel por ocasião da
interpretação das leis, como elemento de ponderação a respeito da aplicação
da norma às situações fáticas.
Nessa função, a equidade poderá servir tanto para justificar a derrotabili-
dade das normas (defeasibility) – fazendo prevalecer a finalidade da lei sobre o
que está escrito em seu texto, para algum caso concreto –, quanto para promo-
ver a adaptação das normas a novas realidades não imaginadas pelo legislador,
ocasião em que o intérprete poderá valer-se do método histórico-evolutivo
para atualizar as valorações constantes da norma às circunstâncias.
499
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
4. https://processo.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201900317858&
dt_publicacao=03/12/2019
500
Uma apologia do Direito
e outros ensaios
Novo livro traz mais matrioshkas na
filosofia do direito de Manuel Atienza
1. https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2005-Interpretacao_e_sincretis-
mo.pdf
501
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
502
Uma apologia do Direito e outros ensaios
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Uma apologia do Direito e outros ensaios
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Uma apologia do Direito e outros ensaios
2. https://www.scielo.org.mx/pdf/is/n27/n27a1.pdf
507
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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Uma apologia do Direito e outros ensaios
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‘Sobre a Dignidade Humana’,
de Manuel Atienza
Dignidade, igualdade e autonomia como unidade
com sentido na concepção pós-positivista do Direito
1. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/uma-apologia-do-direi-
to-e-outros-ensaios-06012021?amp=1
511
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/uma-apologia-do-direi-
to-e-outros-ensaios-06012021?amp=1
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‘Sobre a Dignidade Humana’, de Manuel Atienza
513
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Aqui, o autor cuida de retomar sua própria classificação das normas ju-
rídicas (elaborada em coautoria com Juan Ruiz Manero em “Las piezas del
Derecho”, de 1996, e em “Ilícitos atípicos”, de 2006) para situar onde se encaixa
o referido enunciado normativo, já que nem estabelece uma sanção, nem seria
enquadrável no que Hans Kelsen entende como norma jurídica genuína (coa-
tiva). Essa é uma das partes mais interessantes do livro, em que fica ressaltada
sua leitura moral do Direito, e como esse elemento (a moral) é um componen-
te essencial de qualquer sistema jurídico.
Nesse sentido, afirma categoricamente: “As normas (todas as normas)
pressupõem juízos de valor, ou seja, sempre haverá algum objetivo, algum valor,
que se trata de satisfazer com elas (por isso se estabelecem certos deveres); e os
juízos de valor, quando levados a sério, dão lugar a pautas de conduta: ou seja,
se X é valioso, então deve ser (ao menos em princípio) o motivo para estabelecê-lo
ou para que dele nos aproximemos” (p. 71).
Por isso, explica Manuel Atienza, são os valores que fundamentam as nor-
mas, e não o contrário, de modo que o elemento valorativo tem prioridade
sobre o diretivo, diferentemente do sustentado por Kelsen.
A inversão dessa ordem poderia parecer um pequeno detalhe, mas, bem
entendida, é o que justifica processos importantes de interpretação (como a
derrotabilidade, em que se afasta a aplicação da formulação textual de uma re-
gra com vistas a respeitar sua razão subjacente) e da própria criação do Direito,
isto é, elaboração normativa (não à toa em sua teoria da legislação o autor
estabelece um nível de racionalidade axiológica, preocupado, precisamente,
com os limites éticos a serem atendidos; não só os valores constitucionais, mas
também os de ordem moral, que justificam a aprovação da medida legislativa).
Sua forma de entender a dignidade (como razão absoluta, valor último
dos ordenamentos jurídicos) tem consequências importantes, por exemplo, a
não sujeição dela à ponderação, embora isso não signifique que não sejam
aceitáveis limites à liberdade ou à igualdade, conceitos “conjugados” à digni-
dade. Além disso, essa compreensão da dignidade seria o “indício” da insufi-
ciência do positivismo para dar conta dos Direitos no Estado Constitucional.
Isso porque “identificar uma norma como jurídica ou interpretá-la neces-
sariamente envolve argumentações que, em parte, têm caráter moral” (p. 81).
Aqui, o autor repete que isso não significa uma perspectiva jusnaturalista (por
mais que os seus críticos discordem), mas simplesmente uma tentativa de ar-
ticular a dimensão autoritativa do Direito (como conjunto de normas válidas)
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‘Sobre a Dignidade Humana’, de Manuel Atienza
3. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/defensor-legis/uma-apologia-do-direi-
to-e-outros-ensaios-06012021?amp=1
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
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‘Sobre a Dignidade Humana’, de Manuel Atienza
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Posfácio
A Doutrina da Subestimação
e os Precedentes Predatórios
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. idem.
3. BARROSO, Luís Roberto. A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da
maioria. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 5, Número Especial, 2015.
p. 38-39. O discurso de desqualificação também é realizado em outro trabalho de sua
autoria: BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. Os
Conceitos Fundamentais e a Construção do Novo Modelo. 7ª edição. São Paulo: Saraiva,
2018. p. 472.
520
Posfácio
4. Nas palavras atemporais do ex-Presidente da República, “[d]izer que jamais se viu crise
política tão grande como a atual é lugar-comum. Mas é verdade pelo menos desde a
Constituição de 1988. […] Não há Terra Prometida a nos esperar no final do túnel da crise
atual. Nem será um Moisés providencial a nos guiar na travessia. Esta terá de ser feita
pela política […]. “Há quem acredite que a política é suja por natureza. Preferem desabo-
ná-la em nome da razão técnica ou, pior ainda, do niilismo ou da imposição dura e bruta
do poder” (CARDOSO, Fernando Henrique. Crise e Reinvenção da Política no Brasil. 1ª ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018. pp. 19-22).
521
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
522
Posfácio
Peter Häberle. Segundo ele, em obra vertida para o vernáculo por Gilmar
Mendes, “[t]odo aquele que vive no contexto regulado por uma norma [...] é,
indireta ou, até mesmo diretamente, um intérprete dessa norma”7. Se assim o
é, a interpretação do Congresso Nacional sobre normas constitucionais que re-
gulam a sua atividade legiferante e interna corporis assumiria uma importância
singular. Contudo, uma análise mais atenta sugere que tomar de empréstimo o
construto de Häberle pode ser apenas uma estratégia retórica ou de demago-
gia jurídica. Por exemplo, o Ministro Celso de Mello publicou trabalhos aca-
dêmicos mais recentes onde continuou a enfatizar “o monopólio da última
palavra”, pelo STF, em matéria de interpretação constitucional8, marco teórico
que reduz o prestígio dos demais atores constitucionais. Naturalmente, Celso
de Mello também adotava essa concepção nos votos proferidos no Supremo
Tribunal (AI 733.387/DF, DJe 01/02/2013).
A esta altura das digressões, as coisas já estão bastante claras. Apenas para
que fiquem ainda mais nítidas, é possível se servir da chamada Filosofia da
Linguagem Comum – tão influente na Escola de Oxford e muito utilizada por
juristas como H.L.A Hart. A análise da linguagem pode trazer à tona verdades
constrangedoras.
Suponhamos que um noivo proponha à sua pretensa esposa um relacio-
namento “harmônico”, assegurando que ela, tanto quanto ele, será “indepen-
dente”. Porém, havendo conflitos, a última palavra será dada por ele (monopó-
lio da última palavra). Existindo desacordos familiares, a ele caberá moderar
o agir da sua própria companheira, para prevenir maiores desavenças oriun-
das de um comportamento imoderado (papel moderador). Mais do que isso,
quando necessário estimar as consequências de decisões importantes do casal,
a ele caberia reavaliar aquilo que ela anteviu (revisão judicial da prognose le-
gislativa). Qualquer pessoa adulta e ocidental, em sã consciência, perceberia
523
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
2. PRECEDENTES PREDATÓRIOS
9. A menos que algumas medidas e pressupostos, que não cabem ser aprofundados neste
posfácio, viessem a ser adotados.
10. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único. 8ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2020, p. 981.
524
Posfácio
11. O Plenário do STF, posteriormente, não ratificou a liminar na sua integralidade. Prevale-
ceu o correto entendimento pelo qual os substitutos eventuais da Presidência da Repú-
blica não poderão desempenhar essa função substitutiva diante do recebimento de uma
ação penal, mas não seria devido estender essa impossibilidade de modo a também
afastá-los das chefias das Casas legislativas (ADPF 402 MC-REF/DF, rel. Min. Marco Auré-
lio, j. em 7/12/2016).
12. O tema do ativismo ministerial, um tanto quanto incomum e ofuscado pelo ativismo ju-
dicial, foi abordado em palestra ministrada na Escola Superior do Ministério Público do
525
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
526
Posfácio
527
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
14. FONTELES, Samuel Sales. Direitos Fundamentais. Salvador: Juspodivm, 2022, p. 151.
15. Os dados colacionados foram extraídos de FONTELES, Samuel Sales. Tribunais Consti-
tucionais como Cristais. Migalhas: Coluna Olhar Constitucional, 02/07/2020. Disponível
em: https://www.migalhas.com.br/coluna/olhar-constitucional/330082/tribunais-consti-
tucionais-como-cristais
16. Sessão 250.3.51.O, 28/11/2001.
17. Sessão 315.3.52.O, 29/11/2005.
528
Posfácio
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
20. Nesse sentido: discurso proferido na sessão de 03 de julho de 1947, publicado no DCD
de 04 de julho de 1947, página 3248, a saber: "O Poder Judiciário não emana do povo di-
retamente. O poder que emana do povo e é a alma de todas as decisões populares, que
joga com os destinos da pátria e da nacionalidade quando vota a guerra, é este. É este
o poder supremo, do ponto de vista político, em nosso regime. Se este poder supremo,
repito, não é delegado em nenhum país da terra ao Poder Judiciário, nem se lhe confere
a atribuição de fazer as leis que dizem respeito à segurança da sociedade e da família;
se nunca houve país no mundo que conferisse essas atribuições viceralmente, suprema-
mente políticas ao Poder Judiciário, é evidente que, dentro do sistema representativo, é
poder independente e harmônico, mas inferior, em seu alcance político. Ao Legislativo,
que somos nós.”.
530
Posfácio
profere. Ideias estranhas não surgem de maneira tão repentina. Outra opção
é aceitar que congressistas podem defender o que lhes pareça ser o aprimora-
mento das instituições, respeitadas as cláusulas pétreas. Nos Estados Unidos, a
defesa do court packing é vista de maneira natural. Autores progressistas publi-
cam livros sustentando que a esquerda norte-americana deve, sim, aumentar a
composição da Suprema Corte – hoje majoritariamente conservadora, após as
indicações de Donald Trump –, se e quando tiver oportunidade política para
fazê-lo. Na visão do Professor Stephen M. Feldman, não se trata de um golpe:
longe disto, esta seria uma chance que não deve ser desperdiçada21.
Seja como for, o fato é que os parlamentares fizeram uso da voz e da vez
para vocalizar a insatisfação em relação aos precedentes predatórios. Por outro
lado, no que concerne à doutrina subestimadora do Parlamento – fundada na
tríplice subestimação capacitista, subestimação ética e subestimação de autori-
dade –, acadêmicos brasileiros permaneceram em um sono letárgico.
É do que se ocupa o tópico a seguir.
21. FELDMAN, Sthephen M. Pack the Court! A Defense of Supreme Court Expansion. Phila-
delphia: Temple University Press, 2021, p. 5.
22. Um exemplo é o consagrado Curso de Direito Constitucional de André Ramos Tavares.
531
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
23. O nome, registre-se, é uma provável crítica à banalização dos provimentos jurisdicionais
monocráticos de Ministros que atuam como ilhas incomunicáveis. David Sobreira, funda-
dor do podcast, não é entusiasta da doutrina da supremacia judicial – pelo contrário. De
toda sorte, a rubrica de batismo revela a predominância do interesse no Direito Constitu-
cional Brasileiro para estudar – e criticar – o Supremo Tribunal Federal, ofuscando muitas
vezes um objeto de estudo promissor como é o Poder Legislativo.
532
Posfácio
24. WALDRON, Jeremy. The Dignity of Legislation. Cambridge: Cambridge University Press,
1999. p. 2.
533
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
Ao longo desta obra, Roberta Simões se levantou contra o status quo des-
crito neste posfácio, que insiste em sonegar ao Poder Legislativo a dignidade
que lhe é constitucionalmente inerente. Cada Estudo traz consigo uma provo-
cação sagaz que abala as estruturas já carcomidas desses pressupostos teóricos.
Em outras palavras, a doutrina subestimadora – capacitista, ética ou de autori-
dade – é desconstruída pela Professora da UnB.
Já no artigo “Cabe controle de constitucionalidade quanto à qualidade da
deliberação legislativa?”, Roberta se opõe ao controle de constitucionalidade
fundado no exame da prognose legislativa pelo STF. Com esse Estudo, a consti-
tucionalista de Pernambuco desafia exatamente os escritos de Gilmar Mendes
534
Posfácio
535
Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
25. A esse respeito, confira-se: GODOY, Miguel Gualano de. O Supremo contra o processo
constitucional: decisões monocráticas, transação da constitucionalidade e o silêncio do
Plenário. Rev. Direito e Práx. 12 (2), Apr-Jun 2021.
26. FONTELES, Samuel Sales. O Jardim das Prerrogativas II. Migalhas: Coluna Olhar Consti-
tucional, 15/03/2021. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/olhar-consti-
tucional/341768/o-jardim-das-prerrogativas-ii
536
Posfácio
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
não a sua história27, Roberta principiou suas digressões com o texto consti-
tucional considerado em si mesmo. E o leu muito bem. Somente a partir de
então, estabeleceu um profícuo diálogo com as fontes originais, resgatando a
História Constitucional Brasileira para densificar o significado de cláusulas
constitucionais cuja interpretação é objeto de disputa. Ao fazê-lo, questionou
precedentes predatórios que insistem em subtrair das Casas legislativas a de-
cisão sobre a perda do mandato de parlamentares condenados criminalmente,
utilizando com elegância o argumento a fortiori.
Após muitas sementes plantadas nestes Estudos, convém examinar os fru-
tos.
27. Para uma crítica à crescente inversão na prática jurídica norte-americana, onde, durante
um dado período, muitos advogados deram mais ênfase aos documentos da história
legislativa que ao próprio texto legal a ser interpretado: SCALIA, Antonin. A Matter of In-
terpretation: Federal Courts and the Law. New Jersey: Princeton University Press, 1997,
p. 31.
538
Posfácio
Como foi dito, mais do que jurídico, há nesta obra um potencial historio-
gráfico.
A tese de vanguarda sobre a reeleição dos presidentes das Casas, tal como
sustentada em “Podem ser reeleitos os presidentes da Câmara e do Senado?”, por
muito pouco não se sagrou vitoriosa. O placar no Tribunal foi de 6x5. A propó-
sito, na época, eu e Clèmerson Merlin Clève publicamos um trabalho em sen-
tido divergente ao exposto pela Professora, mas admitimos o quão persuasiva
ela foi nas razões declinadas sobre as possíveis mudanças sistêmicas operadas
pela emenda da reeleição28.
Na discussão sobre a autonomia do Banco Central (BACEN), suscitada
em “Tramitação conjunta, iniciativa legislativa ‘por empréstimo’ e autonomia do
BC”, as ideias de Roberta foram aceitas na ADI 6696.
Um assunto quase onipresente nas análises de Roberta diz respeito ao im-
portante Tema 1.120 da Repercussão Geral do STF, estudado, por exemplo, no
artigo “O direito parlamentar e o tema 1.120 da repercussão geral do STF”, mas
mencionado em muitos outros. O argumento central da autora, pela impossi-
bilidade de controle de regimentalidade, tem sido aceito.
No que concerne à possibilidade do uso do Sistema de Deliberação Re-
moto (SDR) para a deliberação de Propostas de emenda à Constituição (PEC),
que a autora abordou, por exemplo, em “É possível emendar a Constituição via
deliberação remota durante a calamidade pública?” e em “Para onde foi o bica-
meralismo no Congresso Nacional?”, o STF chancelou essa prática.
Por fim, na intrigante discussão sobre as emendas de relator (RP9), após a
crítica de Roberta Simões apresentada em “Limites são mero detalhe quando o
STF decide substituir o Congresso Nacional”, a Ministra Rosa Weber promoveu
o desbloqueio parcial das execuções orçamentárias (ADPFs 850, 851 e 854).
Da mesma forma, após o texto seminal apresentado em “A ‘incapacidade mo-
ral’ do presidente da República”, a Ministra Cármen Lúcia negou seguimento
ao MS 38034, reconhecendo que o recebimento de denúncias de impeachment
por parte do Presidente da Câmara dos Depuados não representa um “ato vin-
culado”, precisamente como afirmava Roberta em seu texto.
28. FONTELES, Samuel Sales. CLÈVE, Clèmerson Merlin. Mesas do Legislativo e Reeleição.
Migalhas: Olhar Constitucional, 07/12/2020. Disponível em: https://www.migalhas.com.
br/coluna/olhar-constitucional/337426/mesas-do-legislativo-e-reeleicao
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Estudos de Direito Constitucional Parlamentar
8. CONCLUSÃO
Em um mercado editorial dominado por autores masculinos, que somen-
te debatem entre si mesmos, à semelhança de uma confraria ou irmandade,
Roberta Simões furou a bolha para se fazer ouvir e tem apresentado objeções
às vezes irrefutáveis. Pela sua perspectiva singular, a autora vem oferecendo
pontos de vista que não podem ser percebidos pelos pontos cegos de outros
estudiosos.
Certa feita, o antropólogo pernambucano Gilberto Freyre afirmou “[…]
reconhecer o fato de que em Pernambuco […] a terra se apresentou excepcio-
nalmente favorável […] para a estabilidade […] patriarcal”29. Se isto algum
dia foi verdade no passado, não o é no presente. Ou Roberta Simões estaria a
desmentir Gilberto Freyre. Aliás, a julgar pelo que vejo, eu não ficaria surpreso
se, no futuro, Pernambuco já não fosse mais lembrado como a terra que nos
legou Joaquim Nabuco. Ou Aníbal Bruno. Quem sabe não estejamos próximos
de dizer que Pernambuco nos legou Roberta Simões Nascimento.
Um bom presságio.
Sunnyvale (CA), 13 de Novembro de 2022.
29. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da
economia patriarcal. 48ª ed. São Paulo: Global, 2003, p. 43.
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