A autora processa a Santa Casa de Franca e a médica Maria Izabel Le Grazie por danos morais decorrentes de um parto traumático no qual houve violência obstétrica, desrespeito aos acordos prévios e falta de assistência médica adequada. A autora alega ter sofrido constrangimentos, violação de sua dignidade e não ter recebido o atendimento profissional que pagou. Pede indenização por danos morais e que o caso sirva de exemplo para coibir tais condutas no futuro.
A autora processa a Santa Casa de Franca e a médica Maria Izabel Le Grazie por danos morais decorrentes de um parto traumático no qual houve violência obstétrica, desrespeito aos acordos prévios e falta de assistência médica adequada. A autora alega ter sofrido constrangimentos, violação de sua dignidade e não ter recebido o atendimento profissional que pagou. Pede indenização por danos morais e que o caso sirva de exemplo para coibir tais condutas no futuro.
A autora processa a Santa Casa de Franca e a médica Maria Izabel Le Grazie por danos morais decorrentes de um parto traumático no qual houve violência obstétrica, desrespeito aos acordos prévios e falta de assistência médica adequada. A autora alega ter sofrido constrangimentos, violação de sua dignidade e não ter recebido o atendimento profissional que pagou. Pede indenização por danos morais e que o caso sirva de exemplo para coibir tais condutas no futuro.
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUÍZ (A) DE
DIREITO DE UMA DAS VARAS CIVÍL DA COMARCA DE
FRANCA, ESTADO DE SÃO PAULO.
ALINE DE OLIVEIRA BUCK, brasileira, divorciada, autônoma,
portadora do RG de número 46708992 - SSP/SP, inscrita no CPF de número 334.977.518-71, residente e domiciliada à Rua Caetano Lombardi, 2120, Jardim Alvorada, na cidade de Franca, estado de São Paulo, por seu advogado, vem, com habitual vênia à presença de Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS
em face de SANTA CASA DE FRANCA, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob nº 47.969.134/0001-89, estabelecida na rua Praça D. Pedro II, 1826. Centro - Franca/SP. CEP: 14400-715 - Fone: (16) 3711-4000
MARIA IZABEL LE GRAZIE, pessoa física, brasileira, médico, inscrito
no CRM 163021, estabelecida na Rua Praça D. Pedro II, 1826. Centro - Franca/SP. CEP: 14400-715 em razão das justificativas de ordem fática de direito abaixo delineadas. I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:
Inicialmente, requer a concessão dos benefícios da Gratuidade da
Justiça, nos termos do artigo 98 e seguintes, da Lei nº 13.105/ 2.015, artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal e artigo 4º, da Lei nº 1.060/ 50, por não possuírem condições financeiras para arcar com as despesas e custas processuais, sem prejuízo do próprio sustento e de seus familiares (declaração anexa).
II – DOS FATOS
No dia 04 de outubro de 2021, a autora foi internada na Santa Casa
de Franca para um parto cesariano, enfrentando uma gravidez de risco com idade avançada, pressão alta e diabetes.
A opção pelo parto particular se deu em virtude da carência do
convênio e, sobretudo, devido às recomendações da Dra. Maria Izabel Le Grazie, que havia acompanhado a gestação da Autora desde o início.
Ademais, desde o início das consultas pré-natais, a autora se sentiu
pressionada a pagar pelo parto, justificado pelos riscos envolvidos e a pandemia.
Além disso, a Dra. Maria Izabel recomendou a realização da
laqueadura, à qual a autora consentiu prontamente.
Entretanto, em 4 de outubro, após efetuar o pagamento pelo
procedimento, a autora, Sra. Aline, foi encaminhada para a sala de cirurgia, onde a equipe médica liderada pela Dra. Maria Izabel Le Grazie a aguardava. Contudo, o início da cirurgia foi marcado por uma série de incidentes, incluindo a entrada constante de pessoas na sala, a manutenção das portas abertas (diferentemente de outras experiências anteriores de cesarianas, que ocorreram com as portas fechadas, proporcionando maior privacidade à autora) e uma crescente sensação de desrespeito com a autora, que pagou para um procedimento eficiente e profissional.
Durante o procedimento, a Dra. Maria Izabel demonstrou agitação e
discutiu intensamente com uma enfermeira presente na sala. A enfermeira, finalmente, saiu da sala, deixando a médica sozinha com a instrumentadora. Em um momento crucial, a Dra. Maria Izabel declarou que planejava realizar uma histerectomia, alegando que o útero da Autora não estava em condições de suportar outra gravidez e que a laqueadura poderia causar hemorragia. Essa súbita mudança de planos enquanto a Sra. Aline Buck já estava em procedimento na mesa de cirurgia a deixou em estado de choque.
A despeito do que estava previamente contratada durante o pré-
natal, a laqueadura não foi realizada, resultando em profunda insegurança e desconforto da autora, Sra. Aline. O médico responsável pela cirurgia posteriormente adentrou na sala e demonstrou desinteresse, preocupando-se unicamente se a autora ainda estava viva (imaginável o que estaria ocorrendo neste parto diante do nível de profissionalismo da médica e enfermeira demonstrado durante o procedimento).
Não satisfeitos em fazer a autora passar por todo esse
constrangimento, no momento da alta hospitalar, a pediatra informou que o filho da Autora precisaria de um período adicional de internação devido à icterícia neonatal, exigindo pagamento por uma diária adicional.
A Reclamante solicitou transferência para a ala do Sistema Único
de Saúde (SUS) devido à impossibilidade financeira, mas a equipe médica se recusou a conceder a transferência, impondo a assinatura de um termo de responsabilidade a Sra. Aline Buck.
Essa sequência de eventos constitui uma clara violação da ética e
dos padrões de cuidados médicos, comprometendo a integridade física e emocional da Autora, além de representar uma experiência desastrosa em um momento que deveria ser de tranquilidade.
Desse modo, diante da falta de ética e respeito demonstrados
durante o parto e internação, além do não cumprimento de acordos prévios relacionados à cirurgia de laqueadura e, pior, falta de assistência médica em virtude da incapacidade financeira da autora, a Sra. Aline Buck, busca apoio do poder judiciário pleiteando indenização por danos morais destinando a compensar a dor, sofrimento e abalos morais experimentados e, reflexamente, valer de paradigma didático para coibir tais condutas danosas.
III – DO DIREITO
A) DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
A violência obstétrica é um problema relevante, apesar da ausência
de legislação específica. Essa forma de violência se manifesta em situações constrangedoras e, muitas vezes, traumatizantes durante o parto, um momento que deveria ser o mais especial na vida de uma mulher.
A definição de violência obstétrica é abrangente e não se limita à
violência física. Ela engloba também a violência psicológica, moral e abusos que ocorrem no pré-natal, parto e pós-parto, frequentemente perpetrados por profissionais de saúde. De acordo com a definição de Andrade:
"Entende-se por violência obstétrica
qualquer ato exercido por profissionais da saúde que afete o corpo e os processos reprodutivos das mulheres, manifestando-se através de uma atenção desumanizada, abuso de intervenções médicas, medicalização e transformação patológica dos processos de parto naturais."
A Organização Mundial da Saúde amplia essa definição, incluindo
abusos verbais, restrições à presença de acompanhantes, procedimentos médicos não consentidos, violações de privacidade e recusas em administrar analgésicos como exemplos de violência obstétrica.
B) DA VIOLAÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA
Conforme preceitua o inciso III do art. 1º da Constituição Federal, a
dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos garantidos pela nossa carta magma. Diante das condutas da parte Ré e da sua equipe médica, imperativo demonstrar que feriram diversos dispositivos constitucionais, portanto, imprescindível trazer à tona os incisos III, V e X do art. 5º da Constituição Federal, que tratam da inviolabilidade da honra das pessoas, a garantia de que nenhuma pessoa será submetida à tortura ou tratamento desumano ou degradante, e que assegura o direito de indenização pelo dano moral decorrente de sua violação. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] III – ninguém será submetido a tortura ou a tratamento desumano ou degradante; [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
A violação do dano moral, de fato, ocorreu devido à má prestação do
serviço contratado pela autora. Além disso, houve a violação dos dispositivos de tratados internacionais que asseguram o respeito à integridade física, psicológica e moral.
Portanto, é evidente o descumprimento da Constituição Federal, o
desrespeito aos direitos humanos e direitos fundamentais mencionados acima. Não se pode permitir que tal ilegalidade prospere.
C) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR
Além disso, considerando que houve uma contratação de serviço, o fornecedor de serviços deve respeitar e fazer cumprir as leis elencadas no Código de Defesa do Consumidor.
Nesse sentido, é pertinente destacar o art. 14 do referido código, que
trata da responsabilidade objetiva dos réus.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Nessa perspectiva, é fundamental destacar a responsabilidade do
fornecedor de serviços, independentemente da culpa, e a necessidade de reparação dos danos causados aos consumidores.
A má prestação de serviços médicos deve ser tratada com a
seriedade que merece, respeitando os direitos dos pacientes e cumprindo as leis aplicáveis. D) DO DANO MORAL E DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Considerando o dano moral como afronta ao princípio fundamental
da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, violando, portanto, a integridade física, psicológica e moral da parturiente, que foi exposta a situações humilhantes e constrangedoras pelos profissionais de saúde que a acompanharam durante o trabalho de parto, sua realização e o pós-parto.
A violência obstétrica é o conjunto de atos desrespeitosos,
comissivos e omissivos, abusos e maus-tratos que negligenciam a vida e o bem-estar da mulher e do bebê. Isso fere direitos básicos de ambos, como a dignidade, saúde, integridade física e autonomia sobre o próprio corpo, configurando um ato ilícito passível de indenização por dano moral.
Não se pode afirmar que o sofrimento experimentado pela Aurora
seja um simples dissabor da vida contemporânea, uma vez que ela se encontrava em estado de extrema vulnerabilidade, apreensão e angústia.
Era dever de a Ré fornecer-lhe a segurança necessária para a chegada
de seu filho.
Neste contexto, a autora relata ter passado por momentos
extremamente constrangedores. No que deveria ser um momento perfeito para o nascimento de seu filho, o parto não transcorreu como esperado, devido à falta de profissionalismo, que se traduziu em imprudência e negligência médica. Alega a autora que a sala permaneceu completamente aberta, com entrada e saída de pessoas constantes, além de uma intensa discussão entre a médica e a enfermeira. O que ocasionou no tratamento totalmente fora dos padrões de excelência médica. O trauma vivenciado pela autora deturpou completamente sua moral. Ela se sentiu violada ao se encontrar no meio de uma cirurgia, exposta com a sala aberta, diante de outros pacientes, familiares e demais profissionais presentes no plantão. Isso resultou em uma prestação de serviço deficiente e inadequada por parte da ré.
O dano moral experimentado pela autora é inquestionável, in re ipsa,
o que significa que independe de comprovação do grande abalo psicológico sofrido pela vítima. Neste caso, inclusive, não se faz necessária a demonstração, visto que o abalo moral está presumivelmente evidente.
Portanto, é relevante mencionar os artigos 186, 927 e 932, inc. III,
além do art. 949 e seguintes do Código Civil, que são pertinentes a esta situação, a fim de que a justiça seja feita.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. [...] Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. [...] Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam- se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. A negligência é caracterizada quando se pode demonstrar que o médico, enfermeiros ou qualquer profissional da saúde não segue os protocolos e normas técnicas aplicáveis à situação. Na realidade, pode ser vista como uma espécie de preguiça psicológica, pela qual o agente deixa de antecipar o resultado que poderia e deveria ter sido previsto.
No caso em questão, a Autora foi submetida a constrangimentos
diante de outros pacientes, familiares e demais profissionais que estavam presentes no plantão. Além de ser surpreendida com mudanças na prestação de serviço após brigas reiteradas entre a enfermeira e médica.
Além disso, a entidade hospitalar é, em decorrência, responsável
pelas ações de seus prepostos (médicos, enfermeiros, funcionários em geral, etc.), bem como pelos eventos que ocorrem em suas dependências (conforme o artigo 37, § 6° da Constituição Federal e a Súmula nº 341 do STF), estabelecendo, assim, a responsabilidade objetiva.
"Procede a ação de indenização contra esta
instituição hospitalar por erro profissional de sua equipe médica. Uma vez que o médico é considerado preposto, no exercício de sua profissão, configura-se culpa presumida do empregador" (RT 559/193).
Isso ressalta o que está prescrito na Constituição Federal de 1988 e
súmulas do STF.
Além disso, a autora busca explicações sobre o fato de não ter
realizado a laqueadura conforme o contratado, pois, analisando o laudo médico, nem sequer abordam sobre o tema, ou sequer justificaram o não cumprimento do serviço contratado. E) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Quanto à inversão do ônus da prova, esta deve ser deferida desde
que satisfeitos os requisitos legais elencados no art. 6º, VIII, do CDC: a hipossuficiência dos Autores e a verossimilhança das alegações.
Considerando as desigualdades econômicas, jurídicas e sociais, e o
fato de o Código de Defesa do Consumidor prever a medida da inversão do ônus da prova como um meio de promover maior igualdade no processo, cujo objetivo principal é facilitar a defesa dos consumidores, que geralmente possuem menos recursos financeiros e até jurídicos para provar suas alegações.
Na doutrina e jurisprudência, é consenso que o consumidor é a parte
mais fraca na relação processual, sendo, na maioria das vezes, inferior ao fornecedor. Portanto, a lei busca restaurar o equilíbrio entre as partes.
No caso em análise, é evidente que a autora, é hipossuficiente em
relação à Ré, não apenas economicamente, mas também tecnicamente, dada a disparidade óbvia entre um profissional médico e leigo em medicina, especialmente no que diz respeito à apresentação de provas relacionadas a técnicas médicas. IV - DOS REQUERIMENTOS:
Ante o exposto, respeitosamente REQUER a Vossa Excelência se digne
em:
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito
admitidas, requerendo, desde já, a juntada da documentação anexa.
Atribui-se à causa o valor de R$10.704,95 (dez mil e setecentos e quatro