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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

DA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA


UNIVERSIDADE DE COIMBRA UNIVERSIDADE DO PORTO

SOLUÇÕES DE ACALMIA DE TRÁFEGO


TEXTOS DIDÁCTICOS
1ª EDIÇÃO

Anabela Salgueiro Narciso Ribeiro


Assistente Convidada da Faculdade de Ciências e Tecnologia
Da Universidade de Coimbra

Álvaro Jorge da Maia Seco


Professor Associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra

Outubro de 1999
1 Enquadramento É fundamental salientar que as medidas de
Acalmia de Tráfego se baseiam na imposição física
da redução de velocidade e não na mera definição
1.1 Caracterização de uma velocidade limite através de sinalização
vertical ou horizontal. Ou seja, as medidas
A Acalmia de Tráfego nasceu de uma preocupação utilizadas partem do pressuposto de que existe
crescente com as consequências nefastas do uso uma percentagem considerável de desrespeito pela
excessivo do automóvel que se passou a observar utilização exclusiva da sinalização, situação
nas grandes cidades a partir do início dos anos 60. responsável por acidentes graves entre peões e
Pode assim considerar-se como conceito veículos.
subjacente às filosofias correntes de planeamento
das cidades que privilegiam a criação de condições Importa distingui-la de outro tipo de intervenções
para a ‘sustentabilidade’ do ambiente urbano ou de gestão de tráfego que são, em alguns aspectos,
seja para a minimização (ou inversão) dos similares.
impactes negativos dos processos de
desenvolvimento (HANS-KLAUS, C. et al, 1992). De facto, processos de gestão de tráfego com
considerações ambientais, integrando
As soluções de Acalmia de Tráfego caracterizam- nomeadamente a criação de zonas só para peões,
se pela implementação de um conjunto coerente de implicam uma segregação entre os diferentes
técnicas que alterando deliberadamente a modos de transporte e também, até certo ponto
geometria convencional das vias, induzem a uma especialização de funções das diversas vias
redução de velocidade dos veículos automóveis pelo que incorporam na maior parte dos casos o
protegendo e libertando os utilizadores mais desvio de volumes significativos de tráfego de
vulneráveis da via tais como os peões zonas consideradas sensíveis. No entanto a
(principalmente idosos e crianças) e os ciclistas geometria convencional das vias continua muitas
(BICKNELL, D., 1993; HANS-KLAUS, C. et al, vezes a permitir o desenvolvimento de velocidades
1992). elevadas.

Neste tipo de soluções a estratégia reside na A Acalmia de Tráfego, ao contrário, privilegia a


criação de desalinhamentos nos eixos viários e na compatibilização das condições de circulação entre
superfície da via, entre outras acções, de modo a os diferentes modos, principalmente entre os
‘convidar’ o condutor ao desenvolvimento de modos de transporte motorizados e os não
velocidades mais baixas e actuando assim quer ao motorizados, não havendo assim, como aspecto
nível das restrições físicas à manutenção de uma essencial, lugar à reafectação de tráfego entre vias
velocidade elevada quer a nível psicológico sobre o com funções diferentes. Para que uma tal
condutor. compatibilização aconteça, as velocidades dos
veículos motorizados terão de se aproximar das
Tendo em conta a forma como aborda as questões dos veículos não motorizados.
referentes ao sistema viário, poder-se-á então
considerar como o resultado de uma mudança de
atitude na forma de o encarar em meios urbanos
mais sensíveis.

Figura 2 - Via partilhada


(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)

Com a implementação deste tipo de medidas


procura-se obter não só uma diminuição do número
Figura 1 – Acalmia de Tráfego - Uma mudança de atitude de acidentes, mas também um aumento
(http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A.)
generalizado do sentimento de segurança e
diminuição dos níveis de poluição e ruído, numa especificamente em espaços de acesso local -
1
conjugação de efeitos que, em última instância, designando-se de ‘woonerf zones’ . Caracterizam-
contribuam para a melhoria ambiental e para a se essencialmente pela implementação de
qualificação urbanística da área a ser tratada. obstáculos físicos à normal circulação automóvel
de modo a provocar velocidades reduzidas e pela
Segundo Lene Herrestedt, desde há algumas atribuição de prioridade aos peões sobre os
décadas que ‘as ruas passaram a ser lugar veículos motorizados. Foi através da constituição
privilegiado de circulação rodoviária e perderam destas zonas que nasceu um dos conceitos mais
gradualmente as funções de vivência que a inovadores e subjacentes à Acalmia de Tráfego: a
caracterizaram no passado, sendo dominadas pelo constituição de zonas de ‘partilha’ do espaço pelos
conjunto de sistemas que conduzem, limitam e modos de transporte motorizados e não
acomodam a actividade rodoviária. Gradualmente motorizados. Este tipo de zonas caracteriza-se
perdeu-se o sentido de rua enquanto unidade essencialmente pela anulação da distinção entre
coerente e o cenário urbano tornou-se confuso e via e passeios e pela criação de único tipo de
difuso, influenciando directamente o modo de vida pavimento de fachada a fachada o que actua
das sociedades modernas’ (HERRESTEDT, L., simultaneamente como restrição física e como
1994). acção psicológica.

Deste modo um dos conceitos fundamentais da


Acalmia de Tráfego é o de que as ruas devem ser
espaços multi-usos encorajando as relações
sociais e as vivências urbanas pela interacção
harmoniosa de diferentes modos de transporte.

1.2 A evolução histórica

A partir dos anos 70, países como a Holanda,


Dinamarca, Alemanha, Reino Unido e, fora da
Europa, a Austrália, os Estados Unidos e o Canadá Figura 3 - Woonerf zone
(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
contribuíram para a implementação de soluções de
Acalmia de Tráfego, através da regulamentação e
constituição de zonas de velocidade limite no seio
das quais são implantadas técnicas de redução da Posteriormente, nos anos 80, a Dinamarca terá
velocidade. sido o país responsável por ‘estender’ este
conceito a zonas de velocidade limite de 30km/h
2
Em todos eles, embora os processos políticos designadas de ‘silent roads’ . Este tipo de zonas foi
sejam naturalmente diferenciados, a elaboração de constituído essencialmente em vias distribuidoras
estratégias mais ou menos ecológicas de Gestão locais em zonas residenciais e centrais. Nestas
de Tráfego, e mais tarde integrando estratégias de zonas e apesar de vigorarem as mesmas
Acalmia de Tráfego, foi feita inicialmente com base preocupações de protecção ao peão, passa-se a
em recomendações gerais sintetizando a privilegiar sobretudo a igualdade de prioridades
necessidade de aproximar a velocidade dos entre os diversos modos sendo as técnicas
veículos motorizados da velocidade dos utilizadas menos restritivas.
utilizadores mais vulneráveis (peões e ciclistas) em
zonas residenciais e centrais. Este tipo de Também na Dinamarca e no início dos anos 90,
intenções foi em muitos casos o resultado da são desenvolvidos projectos semelhantes para vias
vontade expressa dos próprios residentes. de atravessamento de povoações e que se
designaram de ‘environmentally adapted through
3
Foram então realizadas diversas experiências que roads’ , sendo portanto aplicáveis a distribuidoras
permitiram a constituição de normas e principais com uma significativa função de eixos
regulamentos e uma maior definição política e de atravessamento de localidades onde não
estratégica dos objectivos iniciais. existem variantes. Nestas vias pretendeu-se
sobretudo compatibilizar o tráfego de
atravessamento com as actividades que se
De entre os países pioneiros acima referidos
desenvolvem à sua margem e que estão
salientam-se a Holanda e a Dinamarca quer ao
relacionadas com a função de acesso que também
nível das definições e conceitos quer ao nível da
experimentação de soluções concretas.
1
Na Holanda e no início dos anos 70 foram Zonas comuns em ‘pátio’
constituídas zonas de velocidade de circulação 2
Ruas ‘silenciosas’ ou ‘calmas’
muito baixa (cerca de 15km/h) maioritariamente 3
Vias de atravessamento de povoações ambientalmente
implementadas em zonas residenciais - e adaptadas
acumula (entradas e saídas de estacionamento, modelação do espaço urbano e na promoção da
movimentos pedonais etc). sua qualidade.

Actualmente procede-se à monitorização e No que diz respeito ao âmbito de aplicação e ao


eventual reformulação de algumas das seu enquadramento estratégico e político a
intervenções referidas (MINISTRY OF aplicação de medidas de Acalmia de Tráfego não
TRANSPORT, 1992), uma vez que a alteração da deve ser encarada de uma forma isolada mas sim
geometria das vias não é um processo pacífico em coordenada com outras estratégias de
termos públicos e nem sempre as soluções planeamento urbano e de transportes e com
adoptadas são as mais indicadas para as acções de gestão de tráfego com as quais possam
características específicas de determinado local. eventualmente ser cooperantes.

1.3 Âmbito de aplicação e tipos de Como exemplos deste tipo de preocupações


medidas salientam-se então os seguintes:

Partindo desta experiência acumulada ao longo - a inventariação dos processos de planeamento


dos últimos anos pode afirmar-se que este tipo de em curso que poderão enquadrar as medidas
soluções estarão assim particularmente indicadas de Acalmia de Tráfego e beneficiar com elas.
para zonas em que os conflitos peão-veículo ou
ciclista-veículo sejam mais frequentes ou - existência de uma correcta hierarquização
simplesmente para zonas onde as características viária que permita a clarificação das áreas
da vivência urbana existentes não sejam onde o tráfego adquire um estatuto claramente
compatíveis com grandes intensidades de tráfego e inferior ao das áreas em redor;
especialmente com velocidades elevadas. Em
resumo, este é o caso de zonas residenciais, - a implementação de medidas complementares
centrais e vias de atravessamento de povoações de gestão de tráfego tais como o
de importância não muito elevada. reordenamento e regulamentação do estacio-
namento e a promoção das infra-estruturas
necessárias aos meios de transporte
alternativos ao tráfego motorizado individual;

- e o desenvolvimento de estratégias de carácter


social com vista nomeadamente à
sensibilização da população para este tipo de
intervenção, entre outros.

Esta conjugação de objectivos evidencia a


necessidade de uma contribuição pluridisciplinar
Figura 4 - Plataforma sobrelevada
(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
quer ao nível da concepção quer ao nível da
implementação das soluções. Assim, políticos,
engenheiros de tráfego, urbanistas, arquitectos e
As medidas normalmente mais utilizadas são engenheiros projectistas terão necessariamente
alterações nos alinhamentos horizontais que coordenar as suas valências de modo a dar
(estrangulamentos e gincanas) e as alterações nos enquadramento às soluções de Acalmia de
alinhamentos verticais (pré-avisos e lombas). Tráfego, desde o desencadear do processo,
Todas estas alterações podem ser combinadas passando pela coordenação com outros projectos e
entre si de forma a obter soluções mais eficazes e intenções até ao desenho final e à sua
podem ser completadas ao nível do desenho com implementação.
outro tipo de medidas tais como o uso sistemático
e cuidado de elementos de mobiliário e desenho
urbano.

Um aspecto central que assiste assim à adopção


de soluções de Acalmia de Tráfego é sem dúvida o
seu carácter inovador, na medida em que
normalmente aliados aos objectivos de garantia da
segurança estão também os objectivos de
qualificação urbanística das zonas onde são
implementadas, patente no desenho cuidado que
normalmente as caracteriza e salientando-se o
potencial que este tipo de medidas tem na
2 Descrição de Técnicas de SURVEYORS SOCIETY, 1994; KENT COUNTY
COUNCIL, 1992; DIJKSTRA, A., VIS, A.A., 1992).
Acalmia de Tráfego
De uma forma geral as medidas de Acalmia de
Tráfego podem ser aplicadas pontualmente para
2.1 Aspectos gerais de implementação resolver determinada situação localizada tal como
um cruzamento ou um atravessamento pedonal
que se revelem problemáticos, embora seja
Os principais tipos de técnicas de Acalmia de
defensável que a sua aplicação se faça ao longo
Tráfego são caracterizadas por alterações físicas
de toda uma rua ou para um conjunto de vias
da geometria convencional das vias de modo a
cobrindo uma área mais alargada.
provocar a diminuição da velocidade dos veículos
automóveis e são essencialmente caracterizadas
por alterações dos alinhamentos horizontais No caso da sua aplicação em pontos sucessivos ao
(estrangulamentos e gincanas) e alterações dos longo de uma rua, as distâncias entre medidas
alinhamentos verticais (bandas e lombas). podem ir de 30m até 80m, embora se defenda que
o ideal serão distâncias entre 40m e 60m para que
se obtenham as reduções de velocidade
Consoante a velocidade que se pretende obter
normalmente pretendidas e sobretudo para que
assim as técnicas são mais ou menos restritivas
seja possível manter uma velocidade constante
relativamente aos veículos automóveis e menos ou
impossibilitando acelerações exageradas depois de
mais protectoras relativamente aos utilizadores
transposta uma medida.
mais vulneráveis do espaço urbano. Assim e tendo
em conta a hierarquização viária, a transição de
vias de um nível superior para as de nível inferior Quando se justifique o acesso de veículos pesados
deve ser efectuada de uma forma suave sendo as de grandes dimensões, as suas necessidades
medidas gradualmente mais restritivas à medida especiais de mobilidade não deverão ser
que passamos de distribuidoras principais para esquecidas ao nível do desenho das soluções.
distribuidoras locais e destas para acessos locais.
2.2 Alterações nos alinhamentos
Desta forma é fundamental assinalar horizontais
inequivocamente a entrada numa zona onde a
velocidade pretendida seja substancialmente
2.2.1 Aspectos gerais
inferior à das zonas em redor, através do uso de
medidas físicas complementares tais como As alterações nos alinhamentos horizontais,
diversos tipos de mobiliário urbano, plantio estrangulamentos e gincanas, implicam uma
sistemático de vegetação, utilização de diversos e alteração da geometria convencional das vias e
diferenciados tipo de pavimento e sinalização obrigam os veículos automóveis a desvios forçados
vertical e horizontal. Pretende-se assim ‘reforçar’ a da sua trajectória. São indicadas para zonas
noção de zona onde a velocidade dos veículos residenciais, centrais e vias de atravessamento de
automóveis deverá atingir níveis compatíveis com povoações.
as necessidades de circulação dos peões e
ciclistas, criando assim condições de equidade na No seu desenho, dever-se-ão ter em conta as
partilha do espaço urbano pelos diferentes tipo de dimensões necessárias para acomodar os
tráfego, num ambiente privilegiado e qualificado. requerimentos espaciais de cada veículo, em
particular as suas dimensões básicas, raios de
Em termos concretos este tipo de alterações viragem e margens de manobra. Alterações
compreende diversos elementos tais como a sensíveis destes parâmetros implicam que os
ampliação de passeios, criação de ilhéus centrais, veículos circulem a maior ou menor velocidade.
franjas de estacionamento, arborização, franjas
para a reordenação e instalação de mobiliário Para que a redução de velocidade seja satisfatória,
urbano, atravessamentos pedonais em plataforma a largura da faixa efectiva destinada à passagem
sobrelevada, repetição de caixas de vegetação de de um só veículo deverá estar entre 2,75 e 3,20
uma forma alternada dos dois lados da rua e metros. Para uma largura maior que 4,5m o efeito
lombas, entre outros, sendo estes elementos de redução de velocidade desaparece (ALDUÁN,
coordenados em múltiplas combinações de um A.S., 1996).
desenho urbano inovador.
Terá também que se ter conta o ângulo de desvio a
Outras técnicas já utilizadas tradicionalmente em suportar de acordo com a velocidade pretendida.
Gestão de Tráfego são também comuns em zonas No caso de vias de atravessamento de povoações
onde foram implantadas técnicas de Acalmia de (40 km/h, 50 km/h), o ângulo do desvio deverá ser
Tráfego tais como as mini-rotundas e o fecho total de 1:40 para delimitações em lancil ou 1:20, para
de uma porção de rua (HANS-KLAUS, C. et al, delimitações em tinta (TRL, 1995). No entanto e
1992; RIBEIRO, A., 1996; HMSO, 1992; COUNTY dado o carácter particular das medidas de Acalmia
de Tráfego, são de admitir ângulos inferiores com a velocidade (TRL, 1995), podem ser
mesmo para este tipo de vias, uma vez que se aplicáveis a vias de atravessamento de povoações
pretende uma redução substancial das (distribuidoras principais).
velocidades. Em todo o caso e para vias
distribuidoras locais e para acessos locais, é Os estrangulamentos a partir do centro da via são
aconselhável o ângulo de 1:10 de modo a que as igualmente aplicáveis a todo o tipo de zonas, sendo
medidas tenham o efeito pretendido. também recomendados para vias de
atravessamento de povoações, como forma não só
De facto e tal como já mencionado, a redução da de reduzir a velocidade dos veículos automóveis
velocidade parece depender sobretudo do aspecto (pelas restrições ao espaço de circulação) mas
geral da via, o qual exerce pressão psicológica também como forma de proteger os
sobre os condutores levando-os (por vezes atravessamentos pedonais permitindo que os
inconscientemente) a reduzir a velocidade. mesmos se façam em duas fases.
Salienta-se mais uma vez a importância dos
elementos complementares de mobiliário urbano e O espaço adicional conseguido normalmente com
de vegetação no reforço dos efeitos pretendidos o estrangulamento da via é utilizado quer para criar
com as medidas. zonas de estacionamento (principalmente quando
se tratam de distribuidoras principais) quer para
Os efeitos mais comuns são os ‘estrangulamentos’ criar espaços adicionais de serviço do peão ou do
e as ‘gincanas’. ciclista quer ainda para aumentar a área
arborizada. Este tipo de solução funciona
igualmente bem em cruzamentos, onde o
2.2.2 Estrangulamentos
alargamento dos passeios permite uma maior
Os ‘estrangulamentos’ da via quer a partir dos protecção aos atravessamentos pedonais.
lados quer a partir do centro podem ser utilizado
apenas para provocar uma redução da velocidade
2.2.3 Gincanas
em determinado trecho ou, devido ao efeito que
provocam, estar associados a uma passagem de Este tipo de alteração pode implicar em alguns
peões ou a uma paragem de transportes públicos. casos uma alteração profunda da geometria da via
quer através da criação de um percurso de
contorno de obstáculos (do tipo caixas de
vegetação) colocados de uma forma alternada dos
dois lados da rua, quer através do desalinhamento
do eixo viário criando um efeito de gincana mais
diluído. No primeiro caso possui normalmente a
mesma condição de cedência de prioridade junto
aos locais de restrição que no caso dos
estrangulamentos, quando a faixa de rodagem fica
reduzida para apenas uma via de circulação.

Figura 5 – Estrangulamento a partir dos lados da via


(http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A.)

O estrangulamento a partir dos lados da via resulta


como solução particularmente eficaz ao estrangular
vias de dois sentidos para metade, uma vez que
junto ao obstáculo se pode ‘forçar’ um dos veículos
a ceder a prioridade ao que se desloca em sentido
contrário. Este tipo de solução está assim muitas
vezes associada à existência de uma lomba na
superfície da qual se desenvolve um Figura 6 – Gincana
atravessamento pedonal e recomenda-se para (http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A.)
zonas residenciais e centrais em distribuidoras
locais e acessos locais.
Tal como nos casos dos estrangulamentos a
No entanto, desde não exista uma redução da faixa vegetação e a sinalização complementar
para uma só via de circulação e sejam respeitados desempenham um papel fundamental.
ângulos mínimos de desvio de trajectória de acordo
As gincanas podem também ser enquadradas com que podem ir desde a altura de uma pintura de tinta
a existência de franjas de estacionamento (bandas cromáticas - 7mm) até a elementos
colocadas de uma forma alternada dos dois lados construtivos mais ‘agressivos’ (bandas sonoras –
da rua. até 30mm) e que produzem diferentes níveis de
vibração e ruído à passagem do veículo.
A utilização de gincanas em cruzamentos deve ser
efectuada com cuidado pois poderá tornar confusa No entanto e tendo como referência a experiência
a regra da prioridade dada a perca dos limites acumulada de diversos países, as implantações de
convencionais do cruzamento. bandas sonoras têm sido alvo de fortes polémicas,
levando em muitos casos à total remoção das
2.3 Alterações dos alinhamentos mesmas dado o volume de protestos quer de
verticais condutores quer de residentes. De facto e tal como
foi possível provar, em alguns casos a aplicação
das bandas não implicou um aumento de
2.3.1 Aspectos gerais segurança uma vez que as reduções de velocidade
só se observaram logo após a sua implementação,
A introdução de alterações nos alinhamentos
após o que alguns condutores passaram a acelerar
verticais implicam normalmente a criação de
os veículos para uma transposição mais suave das
rugosidades ou sobrelevações no pavimento,
mesmas (COUNTY SURVEYORS SOCIETY,
obrigando os condutores a descreverem uma
1994).
redução considerável da velocidade sob pena de
danos graves nos veículos.
Assim os pré-avisos mais aconselháveis são os do
tipo ‘bandas cromáticas’ quer em zonas centrais e
Existem diversas variantes, desde as bandas
residenciais quer em vias de atravessamento de
cromáticas (altura de uma pintura de tinta) até
povoações actuando em conjunto com outras
plataformas sobrelevadas (elevações do pavimento
técnicas como ‘portões’ de áreas de moderação de
ao longo de distâncias consideráveis ou em toda a
velocidade.
extensão de um cruzamento).

As soluções que implicam uma maior sobrelevação


do pavimento não estão em principio indicadas
para vias de atravessamento de povoações onde a
velocidade desejada se situa normalmente entre os
40km/h e os 50 km/h. No entanto e caso se trate de
um elemento que funcione apenas como pré-aviso
do tipo bandas cromáticas, este poderá preceder
por exemplo a existência de um estrangulamento
na entrada de uma povoação.

Para vias distribuidoras locais ou acessos locais


são indicadas para diversas situações, sendo muito Figura 7 – Pré-avisos (bandas cromáticas)
(Coimbra, 1996)
comum a implementação conjunta de um
estrangulamento com uma lomba. Obviamente as
velocidades desejadas para a área determinam as
No entanto e tal como o prova um estudo realizado
possibilidades geométricas deste tipo de soluções,
sendo de uma forma geral aceitável uma inclinação sobre a eficácia das bandas cromáticas utilizadas
em alguns atravessamentos típicos do meio urbano
de rampa de 1:8 ou 1:10 para acessos locais ou
português (SECO e RIBEIRO, 1997), quando
distribuidoras locais não muito importantes.
aplicadas de uma forma isolada estas não são
particularmente eficazes na concessão de
Os efeitos mais comuns possuem assim
prioridade ao peão não representando por isso um
geometrias que variam entre os ‘pré-avisos’ e as
meio de garantir ao mesmo a segurança desejável.
‘lombas’ existindo depois outras variantes do tipo:
‘plataformas sobrelevadas’ e ‘vias ao mesmo nível
Actualmente são a única aproximação a medidas
do passeio’.
de Acalmia de Tráfego que se encontra
regulamentada no nosso país de acordo com as
Em Portugal é comum apenas a aplicação de pré-
normas da antiga Junta Nacional de Estradas em
avisos dos tipos ‘bandas cromáticas’ ou ‘bandas
que as bandas cromáticas são consideradas como
sonoras’.
casos especiais de Marcas Rodoviárias (JAE,
1994).
2.3.2 Pré-avisos
Os ‘pré-avisos’ caracterizam-se pela repetição de
bandas ou faixas espaçadas de uma forma variável
2.3.3 Lombas danos nos veículos e perca de controle quando
transpostas a velocidades elevadas (LINES, C.J.,
As lombas são a medida de Acalmia de Tráfego
1993).
que mais extensivamente se utilizou até hoje nos
países mencionados, pela sua capacidade em
Actualmente o tipo de lombas mais vulgarizado é
reduzir eficazmente a velocidade dos veículos
mais alongado possuindo cerca de 4m de
automóveis. No entanto e dada a variabilidade das
comprimento por 10-12 cm de altura e podendo ser
características geométricas das mesmas, nem
de formato circular ou trapezoidal e designam-se
todos as variantes se aplicam a todas as zonas
de ‘humps’ (ver figura 7).
aqui consideradas.

Assim, as lombas demasiado altas e as lombas


alongadas (do tipo plataforma sobrelevada) devem
ser maioritariamente aplicadas em zonas
residenciais e centrais e preferencialmente em
acessos locais..

Por outro lado, o uso de lombas deverá ser muito


restrito ou praticamente inexistente no caso de
distribuidoras principais e portanto no caso de vias
de atravessamento de povoações uma vez que se Figura 9 – Lomba trapezoidal (hump)
esperam velocidades de 50 km/h, já não (Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
compatíveis com este tipo de alteração geométrica.
A sua aplicação poderá contudo ser equacionada
nos centros urbanos de malha antiga Existem também lombas mais compridas (com
nomeadamente quando uma distribuidora principal cerca de 9m) de modo a facilitar a passagem de
acumula funções de distribuidora local. transportes públicos em distribuidoras locais de
zonas centrais. Também no que diz respeito à
Tal como anteriormente referido, implicam uma largura podem ir de lancil a lancil ou constituir
alteração mais profunda da via e estão muitas apenas porções de via sobrelevada a meio da
vezes associadas a outras medidas de Acalmia de mesma, permitindo a sua transposição sem dano
Tráfego, ou seja, um determinado estrangulamento por ciclistas ou dos rodados de veículos pesados
pode coincidir com a existência de uma lomba (nomeadamente transportes públicos).
utilizada também como passagem de peões.

Figura 10 – Lomba (Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)


Figura 8 – Lomba associada a uma passagem de peões
(http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A.)

2.3.4 Plataformas sobrelevadas e vias ao mesmo


Para se obter a velocidade desejada é necessário nível do passeio
encontrar um perfil que induza uma maior ‘Plataformas sobrelevadas’ não são mais do que
percentagem de veículos a respeitar tal velocidade lombas muito alongadas (normalmente com mais
sem danos para os mesmos. de 9m) mas a sua função é um pouco diferente.
Inicialmente utilizavam-se lombas curtas e altas de Embora impliquem, devido ao desnível, uma
10cm de altura por comprimentos até 1m redução da velocidade dos veículos automóveis,
designadas de ‘bumps’. No entanto e à conferem também um carácter particular a um
semelhança de certos tipo de bandas sonoras, determinado local que poderá ser uma zona de
cedo se provou que este tipo de lombas provoca prioridade de peões ou um cruzamento onde, por
combinações de diferentes tipos de pavimento, se
acentua a noção de que se deve circular a
velocidade baixa.

Figura 11 – Plataforma sobrelevada


(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca) Figura 12 – Rotunda
(http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A)

São soluções aconselhadas para zonas centrais


No caso das mini-rotundas estas apenas
com um intenso fluxo pedonal e para cruzamentos
funcionam como medidas de Acalmia de Tráfego
em zonas residenciais onde também
desempenham um papel de ‘portão’ ou entrada na se existir um elemento físico implantado, limitando
zona condicionada. o espaço existente.

No entanto a definição das dimensões depende do


A colocação da ‘via ao mesmo nível do passeio’ ou
bom senso do técnico ao aplicar as normas a
a ‘anulação dos passeios’ para toda uma rua ou
situações específicas em meio urbano e sempre
para um conjunto de ruas, contribui de igual modo
que se queira uma redução efectiva da velocidade
para reforçar a ideia de que os peões e os veículos
possuem prioridades iguais na partilha do espaço. por razões não só de segurança mas também de
Distinguem-se do caso anterior por normalmente qualificação urbanística da área em questão. Assim
em meio urbano poder-se-ão admitir valores abaixo
se estenderem a todo o espaço de uma rua ou de
dos regulamentados desde que se garanta a
um conjunto de ruas de uma zona central ou
passagem sem dano dos rodados dos veículos
residencial.
pesados (utilizando superfícies galgáveis) e desde
que os fluxos de tráfego esperados sejam
2.4 Mini-rotundas e Rotundas suficientemente reduzidos para o permitirem.
Uma técnica já utilizada anteriormente em Gestão
de Tráfego são as mini-rotundas e as rotundas as
quais permitem resolver diversas situações de
conflito em meio urbano, actuando
simultaneamente como elemento de redução da
velocidade.

De uma forma geral, actuam com eficácia nas


reduções de velocidade na transição de uma via
distribuidora principal para uma via distribuidora
local no caso das rotundas (podendo incluir o
traçado de uma pista ciclistas) e na transição de
uma via distribuidora local para um acesso local ou
entre acessos locais no caso de uma mini-rotunda.
Figura 13 - Mini-rotunda (http://www.trafficcalming.org, 1999,
E.U.A)

Recomenda-se em todo o caso a consulta do


manual ‘Dimensionamento de rotundas’ (SILVA,
SECO E SANTOS, 1999).
2.5 Outras 2.5.2 Sistemas Semaforizados de Controlo de
Velocidade

2.5.1 Portões Outra técnica, que poderá ser considerada com as


devidas restrições como sendo de Acalmia de
Tal como já referido, as técnicas de Acalmia de Tráfego, é a utilização de sistemas semafóricos de
Tráfego são normalmente aplicadas em controlo de velocidade aplicados em vias
combinações diversas entre si ou com outros distribuidoras principais com o objectivo fazer a
elementos de mobiliário urbano e vegetação. Um transição das velocidades praticadas nas
tipo particular destas combinações são muitas colectoras para as velocidades praticadas nas vias
vezes utilizadas na ‘entrada’ de zona condicionada de acesso local.
(zonas residenciais ou imediatamente antes da
porção de via que atravessa a povoação) e Não são aconselháveis, no entanto, quer para vias
designam-se por ‘portões’ reforçando a ideia de distribuidoras locais onde se aconselham outro tipo
que se vai entrar nessa zona. de soluções, quer para vias colectoras onde a sua
utilização não faz sentido pela necessidade de
garantir bons níveis de fluidez ao tráfego automóvel
e portanto onde os atravessamentos pedonais
deverão ser desnivelados.

Tal como descrito num estudo realizado para testar


a eficácia destes sistemas (FAULHABER, 1998),
os mesmos revelaram-se eficazes em reduzir
localmente a velocidade (embora haja uma
percentagem de condutores que tendencialmente
não respeita os sinais) mas são pouco eficazes no
Figura 14 – ‘Portão’ (Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
aumento do graus de funcionamento de
passadeiras simples localizadas nas proximidades.
Isto acontece com bastante incidência se a
Assim e no caso de zonas residenciais o ‘portão’ localização da mesma não corresponder à
poderá ser constituído por um cruzamento localização exacta do sistema semafórico, uma vez
sobrelevado e pelo prolongamento dos passeios que parece existir uma tendência para o aumento
criando diversos estrangulamentos e acentuando a repentino da velocidade logo após a paragem do
ideia, nomeadamente por mudanças no pavimento veículo nos sinais. Em todo o caso e se em
e sinalização, de que se vai entrar numa zona distribuidoras principais o fluxo de peões for muito
condicionada. No caso de vias de atravessamento elevado, recomenda-se, para este tipo de vias,
de povoações o ‘portão’ poderá ser criado através situações de passadeira semaforizada.
de sinalização diversa do tipo ‘pré-avisos’ ou
‘bandas cromáticas’, estrangulamento progressivo
da faixa de rodagem e plantio de vegetação. 2.6 Medidas físicas complementares

No caso Dinamarquês, em particular, a entrada na 2.6.1 Medidas completares ao nível do desenho


povoação e portanto na ‘zona ambientalmente
adaptada’ é demarcada também pela construção Ao proceder ao desenho concreto das medidas de
de um elemento físico construído (em madeira ou Acalmia de Tráfego, algumas considerações
em pedra) pretendendo aludir às entradas das específicas quanto ao dimensionamento e quanto
cidades no passado. ao mobiliário urbano devem ser tidos em conta.

No que diz respeito à protecção do peão dever-se-


ão prever medidas adicionais à circulação e
estacionamento de diversos tipo de peões,
nomeadamente a criação de espaços adequados e
suficientes para pessoas que se deslocam em
cadeira de rodas.

O estacionamento deve ser colocado sempre que


possível fora da via e caso não seja possível
deverá estar interligado com outras medidas de
Acalmia de Tráfego, nomeadamente em gincanas
alternando-se o seu posicionamento dos dois lados
da via.

Figura 15 - 'Portão’ (Ministry of Transport, 1992, Dinamarca) O mobiliário urbano do qual fazem parte diversos
elementos tais como o pavimento, a sinalização e a
iluminação pretende por um lado reforçar o E ainda, no que diz respeito ao planeamento dos
carácter ‘obstrutivo’ de algumas medidas transportes feito a uma escala mais alargada, a
contribuindo para acentuar a noção de que se trata promoção dos modos de transporte
de um ‘espaço em que o peão tem prioridade’ ambientalmente sustentáveis e alternativos à
(pavimentos de cores diferenciadas, bancos, viatura motorizada individual (pedonal, bicicletas e
árvores e arbustos, quiosques), e por outro actuar transportes públicos) pela criação de todo o tipo de
de uma forma cooperante nomeadamente no que infra-estruturas que os legitimam, podem e devem
diz respeito à correcta sinalização dos obstáculos. agir interactivamente com os ‘condicionamentos’ de
certa forma impostos pelas medidas de Acalmia de
Tráfego. Ou seja e como exemplo, se a zona
condicionada pelas medidas for muito extensa,
dever-se-ão facultar alternativas compensadoras e
atractivas.

Figura 16 – Aplicação de tipos diferenciados de pavimento


(http://www.trafficcalming.org, 1999, E.U.A)

Para que em alguns dos obstáculos físicos criados


tais como mini-rotundas e rotundas, cruzamentos
ou outros obstáculos utilizados nas gincanas e
estrangulamentos, possam passar, quando
justificável, veículos de maior porte, dever-se-ão
utilizar ‘superfícies galgáveis’. Esta medida é
caracterizada pelo nivelamento de uma ‘faixa’ do
obstáculo, pelo seu lado exterior, com o pavimento,
construída em material diferente. A junção entre
esta faixa e o restante obstáculo deverá também
ser feita de forma suave de modo a permitir a sua
transposição pelos rodados dos pesados sem
invalidar a função de condicionante das condições
de circulação dos veículos ligeiros.

2.6.2 Medidas complementares ao nível da


gestão de tráfego
No que diz respeito à gestão de tráfego, a
implementação de algumas medidas restritivas ao
estacionamento e à circulação com preocupações
ambientais, tais como a criação de circuitos
sinuosos no acesso ao centro da cidade, a criação
de cul-de-sac em diversas zonas e o fecho parcial
ou total de uma rua ao trânsito automóvel, serão
sempre passíveis de actuar em concordância com
os objectivos específicos da Acalmia pelo poder
que têm de desviar o trânsito de atravessamento
das zonas condicionadas. De facto e embora não
sejam consideradas medidas de Acalmia de
Tráfego podem agir como medidas físicas
complementares uma vez que interagem com o
condutor de modo a desencorajá-lo de aceder a
zonas onde se pretende privilegiar a prioridade do
lado do peão.
3 Soluções globais – tipo velocidade for da ordem dos 60/70 km/h a mesma
proporção passará para 90 em 100 (dados
referidos pela Associação dos Municípios do Reino
3.1 Critérios e Objectivos Unido).

Tal como anteriormente foi referido, a aplicação de De entre os diversos critérios normalmente
soluções de Acalmia de Tráfego faz sentido seguidos em diferentes países, referem-se em
quando as zonas passíveis de as receber estão particular os que permitem aos Municípios no
enquadradas de uma forma lógica e coerente com Reino Unido definir as ‘zonas prioritárias de
a restante estruturação viária. Ou seja, a intervenção’, tendo em conta, nomeadamente, as
hierarquização viária deverá acompanhar e restrições orçamentais: ruas locais, em que pelo
justificar o processo de criação de zonas onde este menos metade da rua confina com habitações, e
tipo de solução é aplicado. onde se tenham registado 3 acidentes em 3 anos
ou 2 acidentes graves com peões em 3 anos
Sendo a hierarquização funcional um instrumento (http://utc.nott.gov.uk.). Obviamente não terão que
fundamental da gestão das redes viárias, pela se verificar simultaneamente todos os critérios e a
distinção que cria entre vias predominantemente implementação das medidas não dispensa uma
destinadas à circulação e vias predominantemente análise cuidada caso a caso.
destinadas a garantir a acessibilidade aos espaços
confinantes e existindo uma gradação contínua de Para além critérios ao nível do âmbito de aplicação
combinação entre estas duas valências, as das medidas dentro de uma gestão de tráfego mais
soluções de Acalmia de Tráfego estarão mais alargada, importa considerar outros aspectos que
adaptadas àquelas cuja função dominante é a de permitam legitimar a implementação das mesmas,
acessibilidade, pela necessidade de diminuição de decidindo e justificando caso a caso a técnica ou
conflitos entre o tráfego motorizado e o não conjunto de técnicas a implementar.
motorizado que aí se observa. Ou seja, são
especialmente indicadas para acessos locais e Assim dever-se-ão conjugar estes critérios com
distribuidoras locais em zonas residenciais e objectivos mais precisos tendo em conta o carácter
centrais dos núcleos urbanos. particular de cada uma das áreas passíveis de
aplicação das medidas de Acalmia de Tráfego.
No entanto, em algumas vias distribuidoras
principais, particularmente naquelas que servem No caso das distribuidoras locais e acessos locais
uma função de atravessamento de localidades, é em zonas residenciais e centrais o objectivo
igualmente aconselhável a aplicação de técnicas principal das soluções de Acalmia de Tráfego é o
de Acalmia de Tráfego dada a necessidade de de ajudar a viabilizar uma vivência urbana de
compatibilização entre movimentos de peões e qualidade funcionando como instrumentos de
veículos em alguns dos seus troços, onde tais ‘qualificação urbana’, criando um ambiente onde o
movimentos o tornem pontualmente necessário. peão se sinta seguro nas suas movimentações e
onde se possa apropriar mais do espaço dado o
O critério que normalmente assiste à determinação maior grau de prioridade que lhe é concedido.
de quais as zonas mais passíveis de receber este Sendo assim, e mesmo que determinada zona ou
tipo de técnicas deverá ser assim o da ‘segurança’ via seja pouco problemática do ponto de vista da
ou seja, dever-se-ão seleccionar as zonas onde se segurança, considerações e objectivos deste tipo
torna urgente a resolução dos conflitos observados podem justificar a implementação de soluções de
entre os peões e os veículos. Acalmia de Tráfego, contribuindo em todo o caso
para o aumento da segurança do peão.
De facto e para além de intenções relativas à
‘qualidade do ambiente urbano’, as quais em muito As variáveis de base normalmente utilizadas para a
contribuem para a defesa da implementação deste selecção deste tipo de áreas e vias assim como na
tipo de soluções, o facto é que elas começaram por selecção das próprias soluções são a ‘velocidade
ser implementadas por razões de segurança e desejada’, normalmente inferior a 40km/h e ‘tráfego
devido à ocorrência de acidentes em tipo e número médio diário anual – TMDA’, normalmente inferior a
indesejável, nomeadamente no caso das vítimas 3000 veículos por dia (MINISTRY OF
mortais das colisões peão-veículo cujas TRANSPORT, 1992; ALDUÁN, A.S., 1996).
velocidades de circulação são consideravelmente
diferentes e cujos resultados representam em As técnicas a utilizar neste tipo de situações são
muitos casos vítimas mortais. praticamente todas as referidas no ponto anterior,
sendo comum a utilização de diversas
Um dado emblemático sobre esta realidade é o de combinações entre alterações dos alinhamentos
que a 30km/h e numa colisão entre o veículo e o verticais e horizontais e admitindo a redução
peão, 5 em cada 100 peões perecem; a 50km/h pontual da faixa de rodagem para uma só via de
essa proporção passa para 40 em 100 e se a circulação conjugada com a implantação de
lombas.
As medidas complementares tais como o mobiliário a) Zonas de velocidade limite de15km/h aplicadas
urbano deverão ser utilizadas intensivamente e em a acessos locais em zonas residenciais e centrais.
complementaridade de modo a dar cumprimento Originariamente as ‘woonerf zones’ na Holanda, no
aos objectivos de qualificação urbana atrás início dos anos 70. Privilegiam a coexistência entre
referidos. os diferentes modos mas defendem a prioridade
estrita do lado do peão e são indicadas para áreas
No que diz respeito às vias de atravessamento de residenciais mais íntimas, zonas centrais históricas
povoações (quando classificadas de distribuidoras e de uma forma geral para acessos locais.
principais) a Acalmia de Tráfego tem sobretudo a
função de ‘amortizar’ os impactos do tráfego
automóvel no atravessamento da povoação,
minimizando os conflitos entre peão e veículo e
garantindo a segurança dos mesmos através da
criação de corredores de circulação e pontos de
atravessamento em condições de capacidade e
segurança para cada um dos modos (MINISTRY
OF TRANSPORT, 1992).

Neste caso a velocidade desejada estará entre 40


e 50km/h podendo o TMDA ir até 20000 veículos Figura 17 – Exemplo de ‘woonerf zone’
(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
por dia (MINISTRY OF TRANSPORT, 1992;
ALDUÁN, A.S., 1996).
As técnicas de restrição de velocidade automóvel
Existe um conjunto de técnicas que podem
utilizadas são normalmente bastante restritivas; é
continuar a ser utilizadas neste tipo de zonas
anulada a distinção entre via e passeios; são
desde que tal não provoque congestionamentos
complementadas com diverso mobiliário urbano; a
desnecessários para os maiores volumes de
entrada num espaço deste tipo é ainda assinalada
tráfego automóvel que aí normalmente se
por um sinal de trânsito específico que não está
observam e para a necessidade de garantir
ainda previsto no nosso código da estrada.
condições de capacidade e fluidez para o tráfego
de passagem principalmente se não existir
nenhuma alternativa do tipo variante. Assim
aconselham-se as alterações nos alinhamentos
verticais nomeadamente as gincanas e
estrangulamentos, embora de desenho não tão
restritivo que obrigue à paragem dos veículos junto
dos obstáculos. Pelas mesmas razões não se
aconselham neste casos as lombas embora outras
alterações dos alinhamentos verticais tais como os
pré-avisos possam ser utilizados em
complementaridade com gincanas,
estrangulamentos e portões na entrada das
povoações.

No entanto e no caso de vias de atravessamento


de povoações os critérios que levam à implantação
das medidas e a definição de quais as técnicas a
utilizar não se encontra actualmente tão bem Figura 18 - Sinal utilizado na entrada das zonas tipo ‘woonerf’
(Código da Estrada, Espanha, 1996)
definido como no caso dos outros dois tipos de
zona referidos.
Mais uma vez se salienta o carácter muito
3.2 Descrição de soluções globais- particular destas zonas, onde o veículo apenas
tipo possui o direito de aceder e onde o impacto da sua
velocidade fica praticamente anulado.
Considerando e sintetizando em ‘soluções-tipo’ a
experiência acumulada de alguns países nos b) Zonas de velocidade limite entre 15km/h e
últimos anos e as considerações do ponto anterior, 30km/h aplicadas a acessos locais e distribuidoras
poder-se-ão considerar os seguintes tipos de locais em zonas centrais e residenciais (zonas de
zonas/eixos viários no interior das quais são transição entre as anteriores e as seguintes). Neste
implantadas soluções de Acalmia de Tráfego. caso e embora as restrições físicas à circulação
dos veículos continuem a ser demarcadas de uma
forma física inequívoca, nomeadamente através do
recurso a soluções onde existem alterações aos Podem ser aplicadas em vias com fluxo diário até
alinhamentos verticais, alguns aspectos de 20000 v/dia, devendo neste caso existir uma
dimensionamento são mais permissivos, segregação dos diferentes modos de transporte em
nomeadamente no que diz respeito à distância corredor próprio (ALDUÁN, A:S., 1996).
entre medidas, a qual sendo ligeiramente superior
poderá permitir uma maior velocidade no decorrer
da extensão de uma rua condicionada. Pretende-se
que a prioridade continue a estar do lado do peão
embora tal passe a acontecer de uma forma mais
pontual, nomeadamente em pontos onde se anule
a distinção entre vias e passeios. Não se
aconselham para fluxos em período de ponta
superiores a 100 veículos em zonas residenciais e
superiores a 300 veículos em zonas centrais.
Figura 20 - Exemplo de ‘environmental adapted through road’
c) Zonas de velocidade limite entre 30km/h e (http://www.trafficcalming.org, 1999)
40km/h em distribuidoras locais (e algumas
distribuidoras principais) em zonas residenciais ou
centrais. Originariamente ‘silent roads’ na As técnicas utilizadas são idênticas às utilizadas
Dinamarca, em princípios dos anos 80. Neste caso nos casos anteriores devendo a existência dos
procura-se uma maior igualdade de ‘direitos’ entre troços de via condicionados ser precedida de
os diferentes modos e por isso existe menos soluções do tipo ‘portão’ constituídas normalmente
liberdade que nos casos anteriores para as por um efeito combinado de sinalização e pré-
movimentações dos peões entre fachadas avisos que tornam clara a aproximação, podendo
implicando que os atravessamentos pedonais também recorrer-se à utilização de rotundas de
continuem a ser especialmente protegidos pela acalmia.
existência de medidas de Acalmia.
Outra característica fundamental deste tipo de
zonas é a criação de estrangulamentos a partir do
centro da via, através da implantação ou de um
separador central contínuo ou de pequenos ilhéus
centrais que permitem que o atravessamento se
faça em duas fases, não invalidando em demasia a
normal circulação dos veículos mas contribuindo,
em todo o caso para a redução da velocidade.

Figura 19 – Exemplo de ‘silent road’ 3.3 Síntese


(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)
Procurando sintetizar ainda um pouco mais este
tipo de considerações apresenta-se de seguida um
Não se aconselham para fluxos de tráfego em hora elemento orientador que poderá servir de base à
de ponta superiores a 200 veículos na zona que se implementação de soluções de Acalmia de
pretende proteger e 400 veículos nas zonas Tráfego, podendo obviamente ser construídos
limítrofes (ALDUÁN, A.S.,1996). As técnicas outros elementos similares com base nessa
utilizadas são menos restritivas, implicando uma mesma informação.
menor alteração na geometria convencional das
vias. As lombas em combinação com certos tipos
de estrangulamento da via são as medidas mais
aplicadas.

d) Vias de velocidade limite entre 40km/h e 50km/h


destinadas sobretudo à amortização da velocidade
dos veículos automóveis em vias distribuidoras
principais e com elevado número de conflitos entre
os peões e os veículos no atravessamento da
povoação quando não existe uma variante.

Originariamente ‘environmental adapted through


roads’ na Dinamarca em finais dos anos 80 e
princípios dos anos 90.
Atravessamento de
Tipo de Zona Centrais Residenciais
povoações
Tipo de Via D.P. D.L. D.P. D.L. A.L. D.L. A.L.

Velocidade desejada >40 £50 >30 £40 >40 £50 >30 £40 £30 >30 <40 £30

TMDA >3000 £3000 >3000 £3000 £3000 £3000 £3000

1.Pré-avisos X X X X X X X

2. Portões X X X X X X X

3. Plataforma sobrelevada (nas


X X X X X
duas faixas de rodagem)

4. Lombas (nas duas faixas de


X X X X X
rodagem)

5. Gincanas X X X X X X X

6. Gincanas com plataformas


X X X X X
sobrelevadas

7. Estrangulamento a partir do
centro ou dos lados da via (nas X X X X X X X
duas faixas de rodagem)

9. Estrangulamentos para uma só


(X) (X) X X X
faixa

10. Estrangulamentos para uma


só faixa com plataforma (X) (X) X X X
sobrelevadas ou lombas

12. Gincanas – estrangulando


(X) (X) X X X
para uma só faixa

13. Gincanas – estrangulando


para uma só faixa com plataf. (X) X X X
sobrelevada ou lombas

(X) Eventualmente aplicável

Tal como se pode constatar a aceitação de embora representem, e saliente-se, um conjunto de


características mais restritivas para medidas de medidas que quando aplicadas isoladamente não
Acalmia de Tráfego com consequente aceitação de têm a eficácia desejada na redução da velocidade
menores velocidades de circulação, é tanto maior dos veículos automóveis. A Acalmia de Tráfego em
quanto mais baixo as vias estiveram na hierarquia vias de atravessamento de povoações é ainda um
viária e também quanto menor for o seu TMDA. campo em discussão e ainda pouco regulamentado
Chama-se igualmente a atenção para o facto de e experimentado, à excepção do caso
algumas medidas de carácter mais restritivo tais Dinamarquês (MINISTRY OF TRANSPORT, 1992).
como os estrangulamentos para uma só faixa
poderem eventualmente ser utilizados em
distribuidoras locais o que dependerá de uma
análise caso a caso e onde se conclua que os
benefícios do ponto de vista da segurança são
superiores aos inconvenientes causados à
circulação dos veículos automóveis. Por outro lado
medidas tais como ‘portões’ e ‘pré-avisos’ são
obviamente indicados para todo o tipo de situações
(e devem ser tão utilizados quanto possível)
4 Notas para o processo de questões referentes a um dimensionamento
adequado e a um desenho urbano equilibrado, na
regulamentação e implemen- produção de uma boa solução, adaptada a cada
caso.
tação - Depois da definição das grandes opções
municipais ao nível dos estudos e propostas em
A concepção ou reformulação do espaço urbano- termos de circulação e estacionamento será
viário deverá ser um processo pluridisciplinar que fundamental definir a hierarquização viária a partir
considere as contribuições de diversas áreas, da da qual se possam então definir quais as zonas
Gestão de Tráfego ao Desenho Urbano a partir do passíveis de receber as soluções referidas.
qual se poderá promover ‘um bom ambiente Paralelamente dever-se-ão analisar os planos que
urbano’, o qual depende do ‘balanço entre incidem a mesma área ou nela têm influência
considerações de segurança, funcionais e visuais, sendo o projecto final a conjugação de todas estas
objectivas e subjectivas, balanço esse que componentes.
determina, em última análise, a saúde mental e
física do cidadão’ (LYNCH, K., 1960). - O processo de implementação deverá passar pela
fases de identificação e diagnóstico dos problemas,
As soluções de Acalmia de Tráfego não podem ser passando pela produção de algumas alternativas e
implementadas sem ter em conta esta realidade selecção de uma que constituirá a proposta final.
pelo que quando as preocupações fundamentais se
prendem com a garantia das condições de tráfego - Será desejável que a monitorização aconteça
fluídas mas seguras particularmente para os peões quer na fase de avaliação da proposta através da
e ciclistas a identificação das soluções deverá ser reformulação de alguns aspectos, quer na fase de
sistémica e enquadrada nas políticas municipais implementação das medidas através de um pré-
referentes à circulação e ao estacionamento teste usando dispositivos facilmente amovíveis.
devendo por isso a Acalmia de Tráfego ser
vinculada com a restante política municipal nesta Todos os processos de implementação deverão
área. por ênfase na participação pública quer a montante
quer a jusante. Um exemplo emblemático na
Assim e por exemplo, é desejável a adopção deste implementação das medidas de Acalmia de
tipo de soluções em projectos de Desenho Urbano, Tráfego em zonas centrais, por exemplo, é a
destinados por exemplo aos arranjos do espaço relutância na aceitação das mesmas pelos
público em novas zonas residenciais ou à comerciantes devido ao receio de perca de
reconversão urbana de determinadas zonas ‘clientes’ que se deslocam maioritariamente de
históricas no centro das cidades (PRINZ, D., 1984). automóvel.

Finalmente e tendo em conta a história recente de Saliente-se ainda que algumas medidas que se
aplicação das técnicas de Acalmia de Tráfego é poderão classificar como sendo de Acalmia de
possível identificar algumas linhas comuns a vários Tráfego, têm vindo a ser aplicadas no nosso país e
países no que diz respeito ao seu processo de muito recentemente, em diversos projectos que
regulamentação e implementação e que poderão visam quer o aumento das condições de
servir de base ao enquadramento para a sua segurança, quer uma maior qualificação urbanística
aplicação em Portugal. das zonas onde se inserem.

- As normas e os regulamentos respeitantes às


medidas físicas e às formas de condução do
processo em termos de participação pública e de
entidades envolvidas são elaboradas pelas
respectivas Direcções de Viação, sendo
eventualmente alterados de acordo com os
projectos de cada município, os quais, por sua vez,
devem ser responsáveis pelo desencadear do
processo.

- Os manuais existentes devem ser ciclicamente


actualizados e as implementações alteradas de
acordo com o resultado das experiências. As
equipas designadas para a realização dos
projectos e para a sua avaliação devem ser
pluridisciplinares sendo o apoio técnico de
profissionais de diversas áreas na resolução das
5 Exemplos de aplicação em 5.2 Exemplos

Portugal 5.2.1 Vila Pouca de Aguiar

5.1 Introdução
Objectivos e âmbito de intervenção
Em Portugal, a subida recente do nível de vida
médio e a consequente utilização do automóvel Um estudo recentemente efectuado para Vila
como símbolo dos novos padrões de vida nos Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, teve
quais a mobilidade e a acessibilidade como pressuposto fundamental a ‘Requalificação
desempenham um papel fundamental é ainda da mobilidade em centros urbanos no seguimento
recente pelo que estes conceitos e técnicas da construção de variantes/circulares’. Trata-se de
alternativas não são ainda discutidos com a devida um exemplo de integração de medidas de Acalmia
oportunidade. de Tráfego em projectos mais vastos de
requalificação urbana onde se pretende
No entanto, existem no nosso país inúmeros nomeadamente a protecção de zonas nobres e
exemplos quer de desqualificação urbana quer de sensíveis relativamente ao tráfego motorizado. Tal
falta de segurança, onde a aplicação de medidas como podemos ver nos esquemas da página
de Acalmia de Tráfego se poderá revelar eficaz e seguinte a construção deste novo elemento
eventualmente menos onerosa que algumas das (variante/circular), induzindo o desvio do tráfego de
soluções correntes. atravessamento, criou potencialidades para a
requalificação urbana do centro da vila alcançáveis
Tal é o caso de algumas zonas residenciais onde o pela alteração global do funcionamento das
congestionamento das vias limítrofes contribui para condições de mobilidade, nomeadamente através
aumentar o tráfego de atravessamento o que em de alterações á estruturação viária e da aplicação
muitos casos cria sérios problemas de segurança. de soluções de Acalmia de Tráfego.

Em zonas centrais os problemas de Tipos de intervenção e caracterização da solução


congestionamento do tráfego e de falta de
capacidade do estacionamento acumulam-se e o A implementação de medidas obedeceu a uma
trânsito quer de peões quer de veículos é lógica de inserção no reordenamento da
normalmente intenso. São também zonas onde a hierarquização viária, procurando garantir um
pedestrianização total pode criar problemas de carácter progressivamente mais restritivo desde a
acessibilidade e onde, como alternativa as medidas variante que funcionará como um distribuidora
de Acalmia de Tráfego podem ser coordenadas principal, até a algumas áreas do centro onde o
com a pedestrianização de determinadas zonas. trânsito é totalmente vedado aos veículos
automóveis.
É também comum a existência de vias de
atravessamento de povoações em que uma via
nacional ou regional de considerável importância
atravesse um zona urbana consolidada com
diversas actividades desenvolvidas à sua margem
e intensas movimentações pedonais. Criam-se
assim graves incompatibilidades entre o peão e o 9

veículo que muitas vezes resulta na criação de


pontos negros de sinistralidade. Sendo comum a
construção de uma variante como solução para
estes problemas, nem sempre é uma solução
economicamente aceitável ou se o é nem sempre
se resolvem todos os conflitos graves entre o peão
e veículo (uma vez que o desvio do desvio do
tráfego de atravessamento pode implicar uma
A
maior velocidade para os que continuam a circular
na via de atravessamento), podendo as medidas 1
de Acalmia intervir nestes casos.
Figura 21 – Vila Pouca de Aguiar – Anulação entre via e
passeios na zona central (Projecto realizado pela FCTUC, 1999)

Um dos aspectos fundamentais da proposta foi


então a inclusão de algumas medidas de Acalmia
de Tráfego reforçando a prioridade do peão em
algumas zonas do centro, tais como passadeiras
sobrelevadas relativamente à via e áreas
partilhadas por todos os movimentos (ver figura).
Como exemplo, apresenta-se um pormenor da
zona central, onde se prevê a anulação entre vias e
passeios e onde a velocidade máxima permitida é
de 30km/km.

Figura 23 - Vila Pouca de Aguiar - Após a reformulação


Figura 22 – Vila Pouca de Aguiar – Antes da reformulação da hierarquização viária (Projecto realizado pela FCTUC, 1999)
hierarquização viária (Projecto realizado pela FCTUC, 1999)

Esta solução foi também conjugada com intenções


existentes ao nível de um projecto de Desenho
Urbano específico relacionado com Urbanismo
Comercial, em que se pretendia conferir um
carácter especial e qualificado a uma zona central.
5.2.2 Viseu compreende opções estratégicas para a resolução
dos problemas ao nível da cidade.
Objectivos e âmbito de intervenção
Para esta situação em particular, as medidas de
Num outro estudo destinado à estruturação do
Acalmia de Tráfego implementadas são
sistema viário e pedonal da cidade de Viseu, e
essencialmente utilizadas para reforçar a prioridade
tendo em conta lógicas semelhantes às referidas
dada ao peão em todo o espaço do campus
no ponto anterior foram implementadas soluções
universitário, nomeadamente através da criação de
do mesmo tipo. Neste caso trata-se de um projecto
passadeiras elevadas.
mais vasto no âmbito da Engenharia de Tráfego,
compreendendo um estudo integrado para todos os
Tipos de intervenção e caracterização da solução
aspectos referentes a circulação e estacionamento.
Aqui a Acalmia de Tráfego surge sobretudo como
Incidindo esta intervenção sobre o ‘Polo I’ da
um elemento de complemento para a resolução de
determinadas soluções pontuais, nomeadamente Universidade de Coimbra, ela caracteriza-se pela
ao nível dos cruzamentos. ampliação dos espaços pedonais com introdução
uma continuidade física entre eles; alteração dos
circuitos automóveis para viabilizar as ampliações
Tipos de intervenção e caracterização da solução
dos espaços pedonais, ampliação das soluções de
Acalmia de Tráfego para regular os pontos de
Assim, foram adoptadas soluções para a protecção
conflito enfatizando a predominância pedonal;
do peão no centro da cidade de entre as quais se
eliminação do tráfego de atravessamento através
pode realçar dos elementos ‘cruzamento e
de alterações na sua realização (ver página
passadeira sobrelevado’.
seguinte).

B US

BUS

Figura 25 – Campus ‘Polo I’ da Universidade de Coimbra –


Aspecto da intervenção na Rua Larga (Coimbra, 1999)

Figura 24 – Viseu – Cruzamento sobrelevado (Projecto realizado


pela FCTUC, 1999)

5.2.3 Campus ‘Polo I’ da Universidade de


Coimbra

Objectivos e âmbito de intervenção

Neste caso trata-se de um bom exemplo de


integração de uma solução pontual e bem definida
no espaço em acções mais vastas dirigidas à
eliminação do tráfego de atravessamento,
diminuição do volume de estacionamento na via
pública, alargamento dos espaços pedonais
destinados à vivência urbana e coordenação com
novos desenvolvimentos ao nível dos transportes
públicos a uma escala mais alargada e que
Figura 28 – Mealhada – Alterações na EN 1; Rotundas e
Estrangulamentos (Mealhada, 1996)

Os tipos de medidas utilizadas são idênticos aos já


aqui mencionados tais como rotundas, alargamento
de passeios e ilhéus centrais que se desenvolvem
Figura 26 - Campus ‘Polo I’ da Universidade de Coimbra - em etapas sucessivas ao longo de cerca de 5km.
Antes da reformulação das condições de acessibilidade e
mobilidade. (Coimbra, 1999)

Cantanhede

Figura 29 - Cantanhede – Alterações no centro das povoações;


Plataformas sobrelevadas (Cantanhede, 1998)

Também numa lógica de compatibilização de


Figura 27 - Campus ‘Polo I’ da Universidade de Coimbra - Após funções numa via de atravessamento de
a reformulação das condições de acessibilidade e mobilidade. povoações (embora de importância muito mais
(Coimbra, 1999) reduzida e funcionando com uma distribuição mais
local do que no caso da Mealhada) no centro de
algumas povoações do concelho de Cantanhede
5.2.4 Outros foram criadas plataformas com extensões
significativas onde a via é colocada ao mesmo
nível do passeio, havendo ainda em alguns casos
lugar à utilização de pequenas lombas.
Mealhada

As alterações produzidas na Mealhada são um dos


poucos exemplos no nosso país de gestão dos
problemas de tráfego de forma a ‘compatibilizar’ as
diferentes funções de uma via de atravessamento
de uma localidade com uma significativa função de
via estruturante, podendo assim ser consideradas
como ‘técnicas de Acalmia de Tráfego’.
6 Considerações Finais

A criação de obstáculos físicos à manutenção de


velocidades elevadas por parte dos veículos
automóveis sem que dessa forma se impeça a
circulação dos mesmos, designadas de técnicas de
Acalmia de Tráfego, são uma alternativa recente
para a minimização de problemas de segurança e
de qualificação urbanística. Estas medidas alteram
normalmente a geometria convencional das vias
quer horizontal (gincanas e estrangulamentos) quer
verticalmente (pré-avisos e lombas), podendo
coexistir em diversas combinações e devendo ser
integrados num desenho urbano imaginativo.

Assim, a maioria das zonas residenciais,


comerciais-centrais e vias de atravessamento de
povoações são os potenciais campos de aplicação
para este tipo de medidas dada a necessidade que
aí existe de compatibilizar as condições de
circulação entre os diversos modos de transporte
sempre no sentido de uma maior protecção aos
utilizadores mais vulneráveis, tais como os peões e
os ciclistas. São assim aplicáveis essencialmente a
distribuidoras locais e acessos locais e
condicionalmente a distribuidoras principais.

Figura 30 - Exemplo de uma via partilhada num centro urbano


(Ministry of Transport, 1992, Dinamarca)

A oportunidade para a implementação deste tipo de


medidas estará na consciencialização crescente
dos problemas ambientais e nos consequentes e
novos desejos de habitabilidade e qualidade de
vida e algumas intervenções recentes ao nível da
Gestão de Tráfego e de qualificação urbana têm
vindo a incluir soluções de Acalmia de Tráfego.

As técnicas de Acalmia de Tráfego poder-se-ão


assim integrar como uma solução no final da
cadeia de condicionantes que configuram a
mobilidade e a acessibilidade.
7 Bibliografia RIBEIRO, A. (1996), ‘As medidas de Acalmia de
Tráfego na promoção da segurança e na melhoria
do ambiente urbano’, Dissertação de Mestrado,
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PRINZ, D. (1984), ‘Urbanismo I – Projecto Urbano,


Editorial Presença, Lisboa.
8 Anexos

Fichas de Projecto
9 Índice das Matérias 10 Índice de Figuras

FIGURA 1 – ACALMIA DE TRÁFEGO - UMA MUDANÇA DE


1 ENQUADRAMENTO .......................................... 1
ATITUDE .................................................................. 1
1.1 CARACTERIZAÇÃO .......................................... 1 FIGURA 2 - VIA PARTILHADA........................................... 1
1.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................. 2 FIGURA 3 - WOONERF ZONE ............................................ 2
1.3 ÂMBITO DE APLICAÇÃO E TIPOS DE MEDIDAS .. 3 FIGURA 4 - PLATAFORMA SOBRELEVADA ........................ 3
FIGURA 5 – ESTRANGULAMENTO A PARTIR DOS LADOS DA
2 DESCRIÇÃO DE TÉCNICAS DE ACALMIA VIA........................................................................... 5
DE TRÁFEGO.............................................................. 4 FIGURA 6 – GINCANA ...................................................... 5
2.1 ASPECTOS GERAIS DE IMPLEMENTAÇÃO .......... 4 FIGURA 7 – PRÉ-AVISOS (BANDAS CROMÁTICAS) ........... 6
2.2 ALTERAÇÕES NOS ALINHAMENTOS FIGURA 8 – LOMBA ASSOCIADA A UMA PASSAGEM DE
HORIZONTAIS .............................................................. 4 PEÕES....................................................................... 7
2.2.1 Aspectos gerais ....................................... 4 FIGURA 9 – LOMBA TRAPEZOIDAL (HUMP) ...................... 7
2.2.2 Estrangulamentos ................................... 5 FIGURA 10 – LOMBA ....................................................... 7
2.2.3 Gincanas................................................. 5 FIGURA 11 – PLATAFORMA SOBRELEVADA ..................... 8
2.3 ALTERAÇÕES DOS ALINHAMENTOS VERTICAIS 6 FIGURA 12 – ROTUNDA ................................................... 8
2.3.1 Aspectos gerais ....................................... 6 FIGURA 13 - MINI-ROTUNDA ........................................... 8
2.3.2 Pré-avisos ............................................... 6 FIGURA 14 – ‘PORTÃO’ – EXEMPLO 1 ............................. 9
2.3.3 Lombas ................................................... 7 FIGURA 15 - 'PORTÃO’ – EXEMPLO 2 .............................. 9
2.3.4 Plataformas sobrelevadas e vias ao FIGURA 16 – APLICAÇÃO DE TIPOS DIFERENCIADOS DE
mesmo nível do passeio .......................................... 7 PAVIMENTO............................................................ 10
2.4 MINI-ROTUNDAS E ROTUNDAS ........................ 8 FIGURA 17 – EXEMPLO DE ‘WOONERF ZONE’................ 12
2.5 OUTRAS ........................................................... 9 FIGURA 18 - SINAL UTILIZADO NA ENTRADA DAS ZONAS
2.5.1 Portões.................................................... 9 TIPO ‘WOONERF’ .................................................... 12
2.5.2 Sistemas Semaforizados de Controlo de FIGURA 19 – EXEMPLO DE ‘SILENT ROAD’..................... 13
Velocidade.............................................................. 9 FIGURA 20 - EXEMPLO DE ‘ENVIRONMENTAL ADAPTED
2.6 MEDIDAS FÍSICAS COMPLEMENTARES ............. 9 THROUGH ROAD’.................................................... 13
2.6.1 Medidas completares ao nível do desenho FIGURA 21 – VILA POUCA DE AGUIAR – ANULAÇÃO
9 ENTRE VIA E PASSEIOS NA ZONA CENTRAL ............. 16
2.6.2 Medidas complementares ao nível da FIGURA 22 – VILA POUCA DE AGUIAR – ANTES DA
gestão de tráfego .................................................. 10 REFORMULAÇÃO DA HIERARQUIZAÇÃO VIÁRIA ..... 17
FIGURA 23 - VILA POUCA DE AGUIAR - APÓS A
3 SOLUÇÕES GLOBAIS – TIPO ....................... 11 REFORMULAÇÃO HIERARQUIZAÇÃO VIÁRIA ........... 17
3.1 CRITÉRIOS E OBJECTIVOS .............................. 11 FIGURA 24 – VISEU – CRUZAMENTO SOBRELEVADO ..... 18
3.2 DESCRIÇÃO DE SOLUÇÕES GLOBAIS-TIPO ...... 12 FIGURA 25 – CAMPUS ‘POLO I’ DA UNIVERSIDADE DE
3.3 SÍNTESE ......................................................... 13 COIMBRA – ASPECTO DA INTERVENÇÃO NA RUA
LARGA ................................................................... 18
4 NOTAS PARA O PROCESSO DE FIGURA 26 - CAMPUS ‘POLO I’ DA UNIVERSIDADE DE
REGULAMENTAÇÃO E IMPLEMEN-TAÇÃO... 15 COIMBRA - ANTES DA REFORMULAÇÃO DAS
CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE..... 19
5 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO EM FIGURA 27 - CAMPUS ‘POLO I’ DA UNIVERSIDADE DE
PORTUGAL ............................................................... 16 COIMBRA - APÓS A REFORMULAÇÃO DAS
5.1 INTRODUÇÃO ................................................. 16 CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE..... 19
5.2 EXEMPLOS ..................................................... 16 FIGURA 28 – MEALHADA – ALTERAÇÕES NA EN 1;
5.2.1 Vila Pouca de Aguiar ........................... 16 ROTUNDAS E ESTRANGULAMENTOS ...................... 19
5.2.2 Viseu ..................................................... 18 FIGURA 29 - CANTANHEDE – ALTERAÇÕES NO CENTRO
5.2.3 Campus ‘Polo I’ da Universidade de DAS POVOAÇÕES; PLATAFORMAS SOBRELEVADAS 19
Coimbra 18 FIGURA 30 - EXEMPLO DE UMA VIA PARTILHADA NUM
5.2.4 Outros ................................................... 19 CENTRO URBANO ................................................... 20

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................. 20

7 BIBLIOGRAFIA ................................................ 21

8 ANEXOS ............................................................. 22

9 ÍNDICE DAS MATÉRIAS ................................ 23

10 ÍNDICE DE FIGURAS .................................. 23

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