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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1. Tema ...................................................................................................................................... 9

2. Justificativa ........................................................................................................................... 9

3. Problema ............................................................................................................................. 12

4. Objectivos ............................................................................................................................ 12

5. Hipóteses .............................................................................................................................. 13

6. Delimitação .......................................................................................................................... 13

7. Relevância ........................................................................................................................... 13

7.1. Pessoal-Ministerial .......................................................................................................... 13

7.2. Comunitária ..................................................................................................................... 14

7.3. Científica .......................................................................................................................... 14

8. Racionalidade ...................................................................................................................... 15

9. Metodologia da Pesquisa .................................................................................................... 15

10. Pressupostos Metodológicos ............................................................................................ 15

11. Esboço ................................................................................................................................ 16

CAPÍTULO – I ADOLESCÊNCIA À LUZ DA PSICOLOGIA DO


DESENVOLVIMENTO......................................................................................................... 17
1. Conceitos de Adolescência ................................................................................................. 17

1.1. Puberdade e Adolescência............................................................................................... 18

1.2. Fases e Aspectos Transformacionais da Adolescência ................................................. 19

1.3. Fases do Desenvolvimento do Ser Humano................................................................... 21

1.4. Necessidades dos Adolescentes ....................................................................................... 22

1.5. Desafios da Adolescência ................................................................................................ 25

1.6. Perigos da Adolescência .................................................................................................. 28

1.7. A adolescência na Perspectiva Cultural Africana ........................................................ 30

1.8. Síntese do Capítulo .......................................................................................................... 33


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CAPÍTULO – II FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO ........ 33


2.1. Educação dos filhos (adolescentes) no Antigo Testamento .......................................... 34

2.1.1. Educação dos filhos (adolescentes) no Pentateuco ..................................................... 34

2.1.3 Educação dos filhos (adolescentes) nos livros históricos.............................................. 36

2.1.4 Educação de filhos (adolescentes) nos livros poéticos .................................................. 38

2.1.5 Educação de filhos (adolescentes) nos livros proféticos ............................................... 40

2.2. Educação dos filhos (adolescentes) no Novo Testamento ............................................ 40

2.2.1. Educação dos filhos (adolescentes) nos Evangelhos ................................................... 41

2.2.2 Educação dos filhos (adolescentes) nas Cartas ............................................................. 43

2.3 A Educação Cristã nos dias dos Pais da Igreja .............................................................. 44

2.4. Abordagem Cristã da Educação .................................................................................... 47

2.4.1. Definição de Educação Cristã ....................................................................................... 47

2.4.2. O Propósito da Educação Cristã ................................................................................... 47

2.4.3. Fundamentos da Abordagem da Educação Cristã ....................................................... 48

2.5. O Poder do Ensino Bíblico-Teológico ............................................................................ 51

2.5.1. Conversão dos Adolescentes .......................................................................................... 51

2.6. Síntese do Capítulo .......................................................................................................... 53

CAPÍTULO – III COMPREENDENDO A REALIDADE DO ADOLESCENTE NO


SEU CONTEXTO .................................................................................................................. 53
3.1. Características dos Inquiridos e Entrevistados ............................................................ 54

3.2. Análise dos Resultados Obtidos ..................................................................................... 54

3.3. Síntese do Capítulo .......................................................................................................... 66

CONCLUSÃO GERAL ......................................................................................................... 67


RECOMENDAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 70

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 73

Anexo I – Conflitos de Gerações: Pesquisa .......................................................................... 76

Anexo II – Gravidez Precoce: Pesquisa ................................................................................ 77

Anexo III: Questionário de Entrevista e Inquérito ............................................................. 78


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DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos meus pais, Luís Cuigicuenhi e Luísa Muhanda, a quem
voto amor; aos meus irmãos de quem sou espelho, em especial, Príncipe e Dilsa Cuigicuenhi,
à Igreja Evangélica angolana (com ênfase aos professores da EBD e GBA), a todas as
organizações que trabalham com adolescentes (cristãs ou não), em especial aos adolescentes
que roubaram meu amor, despertando-me a mergulhar em seu mundo, a todos os pais e de
igual modo ao ISTEL. Que este trabalho sirva como meio de pesquisa para todos que
manifestam interesse em aperfeiçoar seu conhecimento na educação de adolescentes, a fim de
que demonstrem com excelência o cuidado a esse grupo célebre.
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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecemos a Deus, pelo dom inefável em Cristo Jesus, que deu
início a esse sonho, foi o sustentador de todo percurso, dando-nos seu poder sobrenatural,
sabedoria em tudo, mormente, seu amor e misericórdia infinitos que derramou em nós.

Em seguida, aos pais, os quais tomaram com liberalidade e paixão excêntrica esse
empreendimento desde o princípio. À família em geral, e em especial, Salomão Muacumbi,
meu amado tio, por ser a pessoa que mais me suportou nessa vida.

Estendemos nossos agradecimentos ao nosso amado tutor, Alberto Alberto, por sua
orientação incansável, suas ideias brilhantes e por todo acompanhamento. Agradecemos aos
nossos colegas e amigos que foram uma família presente, uma bênção em todos os momentos.

À Igreja Evangélica dos Irmãos em Angola, na Lunda-Norte – Dundo/Bº Capemba e


da Huíla – Lubango/Bº Nossa Senhora do Monte, sou totalmente grato pelo apoio financeiro e
espiritual que me deram ao longo da minha formação.

Finalmente, ao pastor Razão Luther pelo sacrifício, amor e exemplo, à Paula Funeti
Miguel, por ter sido um braço forte e um coração entranhável quando tudo parecia perdido,
enchendo-me de esperança, ao Peregrino Sachilulo meu modelo na generosidade e, Verônica
Cassanga pelo conforto, ajuda e disciplina para o término dessa obra.

Que Deus se digne em abençoá-los!


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Lista de LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA American Psychological Association

ARA Almeida Revista e Actualizada

IEIA Igreja Evangélica dos Irmãos em Angola

UEIA União de Igrejas Evangélicas em Angola

CBA Convenção Batista de Angola

AT Antigo Testamento

NT Novo Testamento

ISTEL Instituto Superior de Teologia Evangélica no Lubango

FNUAP Fundação das Nações Unidas para a População

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização das Nações Unidas


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INTRODUÇÃO

1. Tema
Educação de Adolescentes na Igreja: Uma abordagem Bíblica, Teológica e Prática.

2. Justificativa
Analisamos, de antemão, as palavras-chave do nosso tema para a melhor compreensão
do que pretendemos abordar: Educação e Adolescentes.
Segundo Aurélio (1986, p. 619), educação [do lat. educatione], é o acto ou efeito de
educar(-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança
e do ser humano em geral, visando a sua melhor integração individual e social.
Segundo a educadora Maria Lúcia Aranha, educação é um conceito genérico, mais
amplo, que supõe o desenvolvimento integral do ser humano, quer seja da sua capacidade
física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do carácter
e personalidade social (Aranha apud Reis, 2006, p. 2).
A educação é um processo integral, embora Aranha, vai além em seu pensamento,
fazendo a distinção da formação de habilidades e da formação do carácter e personalidade
social, o que concluiríamos dizendo que coopera para a melhor integração individual e social
do indivíduo.
Desde dos primórdios, a educação é celebrada como um elemento fundamental para o
desenvolvimento e solidez da humanidade, e de modo geral, é a base estrutural da sociedade.
“Uma das razões para que isso ocorra é a crença de que a educação é um triunfo indispensável
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à humanidade, para o crescimento e desenvolvimento dos diversos países e construção dos


“ideais da paz, da liberdade e da justiça social” (Lopes, 2010, p. 11).
Para Aurélio (1986, p. 48), adolescência [do lat. adolescentia], é o período da vida
humana que sucede a infância, começa com a puberdade, e se caracteriza por uma série de
mudanças corporais, psicológicas (estende-se aproximadamente dos 12 aos 20 anos de idade).
Período que se estende da terceira infância até à idade adulta, marcados por intensos
processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação. Corresponde à fase de
absorção dos valores sociais e elaboração de projectos que impliquem plena integração social.
Eisenstein sublinha (2006, p. 6), Adolescência é o período de transição entre a
infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental,
emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objectivos
relacionados às expectativas culturais da sociedade em que vive. A adolescência inicia com as
mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e
sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência económica, além da
integração em seu grupo social.
A adolescência é um período especial, porém de grande crise. Especial porque nela
ocorre transformações necessárias que farão do adolescente uma pessoa madura, pronta para
novos desafios e novos horizontes. É um período de exploração das habilidades e funções,
desde o âmbito físico, psicológico, social, asseveramos, também espiritual, porque busca
religar-se a alguma coisa, cria sua cosmovisão que é o alicerce sobre o qual se moverá, seu
carácter e estilo de vida culminam neste ponto específico, bem como, as consequências de
seus actos, têm um pendor espiritual. É um período de crise porque ele busca definir sua
própria identidade, e assumir responsabilidades antes não próprias, bem como, tomar sua
autonomia nas relações sociais. É tanto um processo psicossocial quanto espiritual.
Segundo Tourrete (2009, p. 196) os critérios adoptados para definição de adolescência
variam de fisiológicos (a puberdade) ou sociais (a inserção profissional e a criação de uma
célula familiar). Os limites cronológicos definidos pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) vão entre 10 e 19 anos (adolescents) e pela Organização das Nações Unidas (ONU)
entre 15 e 24 anos (youth), critério este usado principalmente para fins estatísticos e políticos.
Usa-se também o termo jovens adultos para englobar a faixa etária de 20 a 24 anos de idade
(youngadults) (Eisenstein, 2005, p. 6).
O Estado angolano estabelece na Constituição a infância como um período entre os 0 e
18 anos, e que a maioridade se alcança aos 18 anos, salvo se nos termos da lei lhe for
aplicável, atingir a maioridade mais cedo, em determinadas condições, que a pessoa com
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autoridade sobre o adolescente possa obter permissão legal para casar se o rapaz tiver, pelo
menos, 16 anos e a rapariga tiver, pelo menos, 15 anos de idade (artigo 24º, pg 13).
À luz das definições, ora apresentadas, pode-se perceber que tanto a educação quanto
a adolescência são indispensáveis à vida humana, fase e instrumentos poderosos, cujos
benefícios são sem medida, que alcançam a vida toda e toda vida (integrais e eternos), que
visam a formação do carácter e personalidade social (identidade do eu), autonomia e
integração individual e social do indivíduo. A fusão das duas geraria sociedades mais sólidas
e tranquilas, onde os problemas existenciais da vida seriam minimizados. A luta contra o mal
começaria mais cedo e a humanidade caminharia em direcção ao desenvolvimento de sua
essência – imagem e semelhança de Deus.
De acordo com o tema supracitado, essa educação terá como agência a Igreja, porque
ela é responsável por transmitir os valores do Reino, ela é responsável por conduzir os crentes
à maturidade, pois que Deus “deu uns para pastores e mestres” (Ef 4.11), de modo a andarem
junto das pessoas e responderem às suas necessidades e proverem uma orientação à altura,
frente aos problemas de suas vidas. Quando falamos de igreja, não estamos nos referindo
apenas aos pastores e professores da Escola Bíblica Dominical. A Igreja é constituída por
famílias, falar da Igreja é, portanto, falar de famílias. Com essa ideia, pretendemos estabelecer
o relacionamento Liderança – Pais, Pais – Filhos e Filhos – Filhos, baseado no ensino
contínuo.
Se olharmos para as Escrituras veremos que Deus dispensa um lugar especial para a
educação e para os filhos (adolescentes). No Pentateuco, Deus ordena aos líderes do povo
(Moisés e os sacerdotes) e os pais, a ensinar os filhos no caminho do Senhor (Dt 6.1-9). Nos
livros Históricos, vemos os filhos a serem incluídos na decisão de seguir ao Senhor, o que nos
dá a entender que para isso houve ensino (Js 24.15). Todas as vezes que esse meio
fundamental era lançado fora, houve desastres na família (I Sm 2.12, 27-36; 8.15; 13-18; I Rs
20.1; 21.1-2), e todas as vezes que ela foi estimada houve bons frutos e bem-estar pessoal e
público (I Rs 18.12; 22-23). Nos livros Poéticos, os escritores inspirados tanto ensinam
quanto despertam a necessidade do ensino aos filhos (Sl 34.11; 127.3-5; Pv 1.8; 13.24; 22.6,
15). Os profetas não deixam nem o ensino nem os filhos de fora, pois, apenas o verdadeiro
ensino os conduziria à verdadeira adoração e transformação do coração (Is 54.13; Os 2; 11.3).
No Novo Testamento, o Senhor Jesus dá a ordem na Grande Comissão, dos apóstolos
fazerem discípulos de todas as nações e os ensinarem a guardar todo Seu ensino – os
adolescentes não ficam de fora nesse grupo maior (Mt 28.19-20). O apóstolo Paulo ordena aos
pais a criarem os filhos na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.3). O mesmo faz
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referência ao tipo de fé e ensino que Timóteo recebera como herança desde sua meninice de
sua avó e mãe (II Tm 1.5) e o insta a permanecer no mesmo ensino (II Tm 3.15).

Vimos por meio da descrição do Antigo e Novo Testamento, que Deus tem por maior
estima a educação e os filhos (adolescentes) que são a coroa de Sua criação. Deus
responsabiliza as autoridades eclesiásticas e paternais, o ensino dos filhos (adolescentes).
A escolha do tema deveu-se ao facto de “os pesquisadores interessaram-se,
tardiamente, por essa faixa específica” (Tourrette, 2009, p. 186), e pelo facto de que esta faixa
etária é tida como a mais problemática, razão pela qual leva muitos a dispensar pouca atenção
tanto aos adolescentes quanto à sua educação. Os adolescentes da nossa geração têm muitos
desafios que torna imprescindível sua orientação para lidarem com os mesmos, bem como, as
necessidades gritantes que espicaçam suas almas, que carecem de satisfação. Outra razão é
despertar os pais e a igreja que são as autoridades que Deus estabeleceu para representá-Lo e
propagar seus valores a homens e mulheres. Portanto, o que Deus tem por alto valor, não o
despreze o homem, o que Deus confiou aos pais e a igreja, não o transfiram a outrem, porque
Deus os cobrará.

3. Problema
A adolescência é uma fase que apresenta crises e necessidades que precisam de
respostas e orientação, ademais, o adolescente está numa franja de transformação e o nosso
contexto exige que eles tenham orientação para lidar com desafios como as tecnologias, a
exposição da violência, a exposição do sexo e a moralidade neutra e valores religiosos. A
igreja evidencia o êxodo de muitas crianças quando chegam nessa fase, o que deveria
despertar grande atenção nessa questão; vemos por outro lado, que esta fase oferece uma
grande oportunidade de investimento, para ajudar na formação da sua definição de identidade
do eu (personalidade), carácter e autonomia, os pais e a igreja exerceriam grande influência
sobre eles, deixando-lhes um legado ideal que passarão de geração à geração.
À luz dessa crise, questionamos: O que fazer para ajudar os pais e a igreja a despertar
e investir na educação de adolescentes a tal ponto que responda às suas necessidades e
desafios?

4. Objectivos
Os objectivos traçados para a presente pesquisa são:

1) Descrever os desafios e necessidades do adolescente do ponto de vista psicossocial e


contextual;
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2) Analisar o desafio da educação do adolescente do ponto de vista bíblico e teológico;


3) Apresentar métodos, técnicas e estratégias para um ensino eficiente aos adolescentes
na Igreja Evangélica em Angola.

5. Hipóteses
1) Se fizermos uma reflexão sobre as necessidades e desafios do adolescente do ponto de
vista psicossocial e à luz do seu contexto, os pais e a igreja despertarão da sua
responsabilidade e urgência na educação de adolescentes, de modo a satisfazer suas
necessidades e prover orientação para melhor lidar com os desafios do contexto actual;
2) Se desenvolvermos com o auxílio da Bíblia e da Teologia, recorrendo à leitura de
literaturas de referências na área de Educação Cristã, a Igreja será habilitada com
conhecimento sólido e prático para fazer frente aos desafios do assunto em causa;
3) Se apresentarmos métodos, técnicas e estratégias para o ensino aos adolescentes, os
pais e a Igreja em Angola, tomarão uma posição de preeminência e proeminência no
investimento dos adolescentes, exercendo grande influência na formação integral de
suas faculdades, carácter e personalidade social e a lidar pessoalmente com os
adolescentes.

6. Delimitação
Para melhor compreensão das necessidades e desafios dos adolescentes, bem como, o
desafio do seu ensino por parte dos pais e da igreja em Angola, além das pesquisas
bibliográficas, faremos uma pesquisa empírica em pelo menos três Igrejas Evangélicas no
Lubango, nomeadamente IEIA (Igreja Evangélica dos Irmãos em Angola), UEIA (União de
Igrejas Evangélicas em Angola) e a CBA (Convenção Batista em Angola). Serão
entrevistados 10 adolescentes, que sejam membros dessas denominações pelo menos a 5 anos,
o mesmo se estenderá aos pais e líderes de igrejas dessas determinadas denominações,
todavia, trabalharemos com maior ênfase nas técnicas, métodos e estratégias para a educação
de adolescentes, e o seu contributo para a educação cristã e discipulado, uma vez que tanto
uma quanto a outra se preocupa com a maturidade cristã.

7. Relevância
7.1. Pessoal-Ministerial
O desejo de escrever sobre o assunto nasceu no primeiro ano de formação do ISTEL,
quando reflectimos sobre o ensino na cadeira de Educação Cristã, uma educação integral que
visa a maturidade do formando, estando apto nos três aspectos humanos Conhecer-Ser-Fazer.
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O desejo foi intensificado quando realizamos uma pesquisa na cadeira de Saúde, o inquérito
feito às pessoas sobre a razão da gravidez precoce e suas consequências, as respostas
quebraram meu coração. A suprema razão que nos leva a escrever sobre o assunto é o facto de
trabalharmos com os adolescentes na nossa igreja local e partilharmos das mesmas lutas e
necessidades.
A presente pesquisa servir-nos-á de grande suporte no ministério com os adolescentes,
no trato pessoal, na ministração de assuntos com os quais se identifiquem, na resolução de
problemas e aconselhamento.
Servir-nos-á de grande ferramenta na realização de palestras, workshops e
conferências para despertar os pais, a liderança de Igrejas e Professores de Classe Dominical
da urgência e desafio no trabalho com adolescentes, de modo a investirem neles, educá-los
com excelência e amor.
Entretanto, a presente pesquisa é de suma importância porque nos fornecerá
informações que ajudará os pais e a igreja a lidar com os adolescentes. A pesquisa nos dará
entendimento sobre as necessidades e desafios da adolescência e como satisfazê-los.

7.2. Comunitária
A presente pesquisa terá enormes benefícios, por um lado, para a Igreja, aos líderes,
pais e professores de EBD, num ensino integral e discipulamento, a fim de que estejam
prontos para suprir as necessidades e responder aos desafios que a adolescência oferece,
visando a formação de habilidades e personalidade social dos adolescentes. Por outro lado
para a comunidade, a fim de despertar os pais na educação pessoal dos adolescentes para a sua
melhor integração na sociedade e a prevenção contra certos perigos que a fase oferece, bem
como, para a redução de várias situações de criminalidade, gravidez precoce e a crise de
identidade e personalidade que o nosso contexto apresenta destes. Com isso em vista,
teríamos uma sociedade harmoniosa e adolescentes sadios, quer crentes quer descrentes.

7.3. Científica
Esta pesquisa será de grande relevância para a comunidade científica, primeiro, na
Educação Cristã no sentido de treinar profissionais na área de ensino, na elaboração e
reestruturação de novos métodos de ensino integral cristão para responder os desafios e suprir
as necessidades do adolescente no seu contexto. Em segundo, para a Psicologia de
Desenvolvimento, no sentido de despertar o interesse dos pesquisadores nesta área na
pesquisa desta faixa específica, seguindo o relógio das eras, bem como, novos estudos
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psicossociais, na leitura do contexto actual, porque à medida que o tempo passa o homem
evolui e seus problemas ou desafios tendem a se intensificar, só assim, as respostas poderão
ajudar na solução de novos problemas. Em terceiro para a Pedagogia, no sentido de progredir
da formação de habilidades (formação acadêmica) para a formação de personalidade social e
carácter no ensino ao adolescente.

8. Racionalidade
O tema em causa fundamenta-se na teologia bíblica, sendo uma reflexão hermenêutica
que tem como alvo a educação de adolescentes no contexto da Igreja Evangélica angolana.
Partindo desta visão, nossa abordagem será construída sob o arcabouço da teologia prática, na
revisão de literaturas bibliográficas na área de educação cristã e discipulado, tendo a Bíblia
como suprema corte, sob o escopo da fundamentação e reflexão profunda do assunto, bem
como, a busca de soluções concretas e práticas para ajudar os pastores, pais e professores da
EBD, com vista a formação pessoal, integral e integração social do adolescente.

9. Metodologia da Pesquisa
Para melhor aprofundamento e compreensão do tema em análise usaremos como
metodologia a pesquisa bibliográfica combinada à pesquisa empírica. Tendo como fonte
primária a Bíblia, por ser o nosso manual de fé e prática e como fonte secundária documentos
e artigos, também ideias de teólogos que escreveram a respeito da educação aos adolescentes,
a partir de livros, comentários bíblicos, artigos, concordâncias, a fim de percebermos como o
assunto foi elaborado em termos bíblicos e teológicos.

10. Pressupostos metodológicos


O nosso trabalho está dividido em duas partes que consistem, primeiro de pressupostos
práticos, e em seguida, de pressupostos teóricos.
1) Colecta de Dados: em relação a colecta de dados, fizemos uma consulta bibliográfica,
usando Bíblias, comentários bíblicos, léxicos e enciclopédias. Quanto à área de
Teologia, fizemos uso de material de alguns teólogos, no campo da Educação Cristã, e
na área das ciências sociais; fizemos o uso do material da Psicologia do
Desenvolvimento com a finalidade de adquirirmos informações sólidas, que nos
ajudaram a perceber como o assunto tem sido elaborado em termos bíblicos,
teológicos e psicológicos.
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2) Análise dos dados: no que tange à análise dos dados, os capítulos manifestam
referências teóricas que ajudam na compreensão das necessidades e desafios da
adolescência e do ensino.
3) Organização dos dados: para que a temática da educação aos adolescentes seja
executada de forma significativa, visando o aprendizado e a edificação do corpo de
Cristo a presente pesquisa combina a teoria com a prática.

11. Esboço
A linha de raciocínio do nosso trabalho é a Teologia Prática e, está organizada em três
capítulos. No primeiro capítulo abordamos a respeito das necessidades e desafios da
adolescência do ponto de vista da Psicologia do Desenvolvimento, o que nos ajudou a
compreender o tema na actualidade.
No segundo capítulo, desenvolvemos os fundamentos bíblicos e teológicos para o
ensino dos adolescentes. Consultamos teólogos que abordaram sobre a Educação Cristã e
deles obtivemos subsídios que aperfeiçoaram nosso entendimento sobre o desafio do ensino
ao adolescente de modo a satisfazer suas necessidades e desafios do seu contexto.

No terceiro capítulo, trabalhamos na pesquisa de campo, onde fizemos o estudo dos


desafios e necessidades do adolescente dentro do seu contexto. Trabalhamos com
adolescentes, pais e pastores, das respectivas denominações, como já fizemos menção no
presente anteprojecto de pesquisa.

Entretanto, a nossa pesquisa está apresentada por meio da seguinte estrutura: capa,
folha de rosto, folha de assinatura de avaliação, lista de abreviaturas, sumário, dedicatória,
agradecimentos, introdução, os capítulos de composição da dissertação, considerações finais,
bibliografia e anexos.
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CAPÍTULO – I

ADOLESCÊNCIA À LUZ DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Vários conceitos têm sido apresentados no mundo académico-científico sobre a


adolescência, uns mais gerais outros mais específicos, cada um com seu foco, de acordo à
finalidade pretendida, desde “a terceira idade da vida para os antigos, as images d’ Epinal 1,
criação de nossas sociedades industriais de estatuto social entre a dependência e a autonomia
para a maior parte dos sociólogos, objecto psicanalítico de corpo inteiro com a sua
especificidade própria, rompendo com as características somatopsíquicas 2 da infância ou com
as do indivíduo maduro ideal” (Mijolla, 2002, p. 534).

1. Conceitos de Adolescência
Etimologicamente, os termos adolescência e adolescente, provêm do verbo latino
adolescere que significa «crescer» ou “desenvolver-se até à maturidade”. O ser ao qual se
aplica este termo é, portanto, etimologicamente, “aquele que está a crescer e opõe-se desta
forma àquele cuja tarefa de crescer atingiu o seu termo: o adulto (esta palavra provém do
particípio passado daquele mesmo verbo adolescere). Ela é caracterizada por inacabamento,
mudanças e inconstância ou instabilidade”3.

1
Em sentido figurativo, representação exageradamente simplificada de uma realidade complexa Mijolla 2002, p.
534
2
Que é relativo ou pertencente ao corpo e à mente, Infopédia, Dicionários Porto Editora
3
Coslin, Psicologia do Adolescente, (2002, p. 30). Lisboa: Instituto Piaget
18

Esse conceito nos permite conceber que o inacabamento que os caracteriza está
relacionado às diferenças relativas entre o adolescente e o adulto, diferenças ligadas às
mudanças acentuadas neles que não se mostram constantes. Daí vermos o desajustamento
corporal, as flutuações emocionais e inconsistência moral.
Segundo Weiten (2010, p. 319), adolescência é uma ponte entre a infância e a vida
adulta. “Durante esse período, os indivíduos continuam a experienciar mudanças
significativas nos desenvolvimentos cognitivo, moral e social. Contudo, as áreas dinâmicas de
desenvolvimento durante a adolescência são as mudanças físicas e as transições relacionadas
ao desenvolvimento emocional de personalidade”.
Sprintall e Collins citados por Reis (2009, p. 100), mostram um posicionamento
divergente com a da maioria dos autores, pois rejeitam a ideia comum de que a adolescência
é, exclusivamente, uma preparação para a vida adulta. Eles afirmam: “os adolescentes são
pessoas com qualidades e características específicas, que têm um papel interventivo e
responsável a desempenhar, tarefas a realizar e capacidades a desenvolver num momento
particular da vida”.
Cremos ser o pensamento dos últimos autores o mais equilibrado, por isso
concordamos com sua perspectiva. A compreensão que podemos extrair das duas abordagens
é: a adolescência é caracterizada de transformações biológicas irreversíveis, psicológicas ao
nível lógico do seu raciocínio, morais em termos substanciais e sociológicas em termos de
independência e autonomia, tudo concorrendo para a maturação e identidade pessoal íntegra –
não em termos de estatutos e funções apenas, mas acima de tudo, em termos de essência e
personalidade, é, portanto, uma fase intermediária entre a infância e a vida adulta.

1.1. Puberdade e adolescência


Durante muito tempo a adolescência foi definida em termos de puberdade, ou melhor,
puberdade era sinónimo de adolescência. Mas hoje esse conceito, tem sido questionado e
deixado para trás por outros. Existe, portanto, uma distinção entre adolescência e puberdade.
A puberdade e a adolescência se distinguem a partir da concepção da puberdade como
um processo relacionado“às mudanças corporais”, isto é, maturação dos órgãos sexuais,
enquanto “a adolescência está relacionada às transformações psicossociais” (Moraes 2011, p.
24), para cada indivíduo, em função do seu ambiente social, económico e cultural a que este
pertence.
Neste caso, a puberdade é o primeiro fenómeno a ocorrer, sendo provocado pela
liberação de certos hormônios que inauguram as transformações corporais para a maturação
19

sexual, num curto período de dois a quatro anos. Este facto, chama à responsabilidade a
instrução sobre as características transformacionais, que é um mundo novo aos adolescentes, a
fim de introduzi-los na compreensão desses elementos que são por eles desconhecidos.

1.2. Fases e aspectos transformacionais da adolescência


Santos (2019, p. 12) fazendo recurso ao documento da OMS, afirma que adolescência
é dividida em três fases: a pré-adolescência, que vai dos 10 aos 14 anos, a adolescência em si,
abrangendo dos 15 aos 19 anos, e adolescência final, dos 15 aos 24 anos, concluindo o ciclo
que liga a infância à adultez. Cada fase apresenta suas especificidades e compreender cada
uma delas, ajuda a lidar com cada um dos grupos.
Lopes (1994, p. 36), apresenta um modelo de desenvolvimento nos aspectos
biológicos, psicológicos, sociológicos e espirituais que difere dos demais autores. É esse
modelo que pretendemos seguir em nossa abordagem.

A) Aspectos Biológicos
As mudanças fisiológicas constituem a parte mais visível das transformações que
ocorrem no adolescente, desde o início da puberdade. Essas transformações físicas consistem
em alterações “na altura, na forma do corpo, na capacidade e forças físicas e nas
características sexuais” – maturação sexual (Reis, 2009, p. 100).
Gostaríamos de destacar este último ponto. As características sexuais se distinguem
em primário e secundários. Os caracteres secundários nos meninos manifestam-se na
“modificação no timbre da voz; aumento da largura dos ombros; aparecimento de pêlos no
rosto, axilas e região pubiana”. Nas meninas, “desenvolvimento das glândulas mamárias;
aumento dos quadris; aparecimento de pêlos na região pubiana” (Amaral, 2007, p. 4).

Caracteres primários: nos meninos, crescimento do pênis, escroto, testículos e o


surgimento da primeira ejaculação. Nas meninas, o aumento do útero, clítoris, lábios vaginais
e o surgimento da primeira menstruação, chamada menarca (Weiten 2010, p. 320).

B) Aspectos Psicológicos
Segundo Xavier e Nunes (2015, p. 57), Os estudos mais recentes no campo da
neurociência têm provado que, o cérebro humano “cresce com maior expressividade apenas
na adolescência”. Esse período é marcado por mudanças significativas no funcionamento
cerebral, que funcionará como um “centro executivo de controlo que é crucial às funções
20

cognitivas de alto nível, como planejamento, organização, regulação emocional e inibição à


reação” (Weiten 2010, p. 321).

C) Aspectos Sociológicos
As modificações fisiológicas – e os remanejamentos do esquema corporal resultantes
dessas alterações – aparecem como ponto de partida da crise pubertária e provocam um
sentimento de mudança.
Nesse aspecto, os adolescentes vivenciam a questão “central da busca pela identidade
por meio de componentes ocupacionais (vocação profissional), sexuais (identidade e
identificação com o grupo) e de valores (autonomia e independência)4. A sexualidade, nesse
sentido, assume importante papel na formação da identidade e a orientação sexual está
directamente influenciada pela interação de factores biológicos e ambientais.
Nesse contexto, ainda enfrenta questionamentos sobre a razão de ser das pessoas, de si
mesmo, do mundo e sobre o sentido da vida. Tais eventos geram conflitos e antagonismos que
correspondem ao estágio final da integração de todos os componentes da personalidade
(cognitivos, afectivos e sociais).

D) Aspecto Espiritual
Todas essas transformações (biológicas, psicológicas e sociais) constroem um palco
no qual se embatem todas as questões metafísicas e do sagrado.
A questão da religiosidade emerge como decorrência dos questionamentos do
adolescente sobre sua identidade, em uma tentativa de responder questões como “quem sou?”,
“de onde vim?”, “o que estou fazendo aqui?”, “qual o meu papel na vida?” e “qual é o meu
destino?”.
Quando se debatem com a questão da espiritualidade dados na adolescência por causa
dos poderes intelectuais que se desenvolvem grandemente (pensamento hipotético-dedutivo)
para a construção dos valores éticos e morais, bem como, o alargamento do seu ambiente de
relações (busca de calor humano e fraternidade), essa é a conclusão de Teófilo e Junqueira
(2011, p. 83): “Não é de estranhar que o interesse religioso se acentue tão vivamente na
adolescência, pois, nessa idade o homem adquire a capacidade de experimentação de modo
mais vivo e mais profundo, os valores da vida”.

4
Piovesan 2018, p. 53. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Santa Maria: UFSM
21

Enquanto procuram as respostas, os adolescentes desenvolvem seus próprios valores,


crenças religiosas e filosofias de vida, assim como, preencher o vazio existencial que a fase
desperta.
Cremos que a compreensão tanto das fases quanto dos aspectos transformacionais nos
remetem a uma instrução intencional e integral que, não releve alguns aspectos e menospreze
outros, nem ignore a quantidade nem a qualidade do ensino, à medida que elas se
manifestarem evidentes e progressivas. A instrução precisa acompanhar os níveis, tocar cada
aspecto e crescer na mesma medida do adolescente.

1.3. Fases do Desenvolvimento do Ser Humano


Compreender o desenvolvimento humano “é uma condição para tentar responder o
porquê das condutas do bebé, da criança, do adolescente, do jovem, do adulto e dos mais
velhos”, Bock (2008, p. 116).
É por meio do desenvolvimento humano que se produzem indivíduos com um modo
de pensar, sentir e estar no mundo absolutamente singulares e únicos. A lógica desse
desenvolvimento é a busca de equilíbrio que ocorre por meio de mecanismos de adaptação do
indivíduo ao meio.
Neste trabalho usaremos o esquema apresentado por Jean Piaget, a fim de
compreendermos os processos de pensamento presentes desde a infância até a idade adulta.
Ao fazê-lo, pretendemos perceber as principais características de cada etapa ressaltando as
habilidades adquiridas em cada estágio.
Estágio Sensório-Motor. (0 – 2 anos). Nesta etapa da vida a criança aprende
principalmente através dos cinco sentidos, experimentando com eles o seu ambiente.
Estágio Pré-Operatório (2 – 7). A criança aprende uma linguagem, experimenta e
actua de uma perspectiva egocêntrica, desenvolvendo conceitos de modo bastante limitado.
Estágio Operatório Concreto (7 – 11). A criança nesta etapa pode pensar logicamente,
é mais social do que egocêntrica, e entende conceitos e a relação de conceitos. O termo
operações é usado para significar que nesta etapa as acções cognitivas se organizam num
sistema de inteligência.
Estágio Operatório Formal (11 anos – adulto). O adolescente nesta última etapa pode
pensar logicamente não apenas nas coisas concretas, mas pode lidar com conceitos abstractos.
A vida em grupo é um aspecto significativo, junto com o planejamento de acções colectivas.
A solidariedade, a amizade, os juízos de valores e os juízos morais também se fazem
presentes.
22

A lógica disso é que, a utilidade da compreensão das fases de desenvolvimento


assegura uma atitude correcta ao lidar com pessoas de diferentes estruturas fisiológicas,
cognitivas, sociais e morais, sendo que em cada fase o indivíduo age e reage de acordo ao
imperativo que seu desenvolvimento o submete, ao alvo que deve alcançar. Essa compreensão
nos ajuda na qualidade do ensino (para melhor ensinar, é preciso conhecer melhor a quem se
ensina), e de certo modo, saberemos a razão de uma atitude e não de outra por ser parte do
grande processo de evolução.
Todas essas habilidades e capacidades que o indivíduo adquire desde o seu nascimento
até à adolescência, no processo de desenvolvimento, resulta numa extensão, perfeição e
solidez da composição humana integral para o exercício de funções físicas, construção da
cosmovisão, originalidade pessoal, satisfação das necessidades pessoais, realização – um
caminhar em direção ao cumprimento do propósito de existência, sentido de vida e usufruto
do prazer.

1.4. Necessidades dos adolescentes


Segundo Almeida (2011, p. 1) citando o dicionário da APA, diz que necessidade é
uma “condição de tensão num organismo resultante da privação de algo necessário para a
sobrevivência, o bem-estar ou satisfação pessoal; substância, estado ou qualquer outra coisa
(e.g. comida, água, segurança) cuja ausência gera essa condição”.
Houzel acrescenta dizendo que no sentido mais forte, a necessidade visa objectos
concretos e deve ser imperativamente satisfeita, arriscando-se o indivíduo a sofrer gravemente
com a situação; a necessidade possui, portanto, um carácter de “impreteribilidade!” (2004, p.
599).
Tendo isso em mente, pretendemos apresentar algumas das necessidades cuja
importância torna imperativa a satisfação imediata, gradual e progressiva no desenvolvimento
biológico, psicológico, social e espiritual do adolescente para seu bem-estar integral como
indivíduo, não apenas como método alternativo para mitigar comportamentos de risco, mas
também, para assegurar o desenvolvimento positivo e a satisfação na adolescência.

A) Necessidades físicas
Segundo Collins (2004, p. 209), apresenta a orientação como uma das necessidades
que os adolescentes sofrem carência frente às transformações que se manifestam intensas e
herméticas em seus corpos. Essa tensão que os envolve no desconhecido de seus corpos,
23

clama por uma orientação que responda seus questionamentos sobre as transformações e a
razão de sua ocorrência. São pelo menos quatro características que compõem esse quadro:

➢ Imagem do corpo
Este aspecto exige explicação de questões como: o desajuste dos membros, o
aparecimento de características sexuais secundárias e primárias, a ejaculação e menstruação, a
modificação na aparência e na voz. O fim é a compreensão dos adolescentes que estas
transformações são normais para seu desenvolvimento natural para assunção de posições
como higiene pessoal e apreciação de seus corpos. Essa é a maneira de lutar contra o senso de
inferioridade para autoaceitação, mas também para o desenvolvimento da identidade sexual
saudável e satisfação do desconforto interno manifestado pelo externo – o desconhecido de si
mesmo.

➢ Comunicação.
Segundo Reis (2009, p. 100), as alterações físicas preocupam bastante os adolescentes,
Berryman (2002, p. 262) acrescenta que essa preocupação é evidente no tempo e esforço
consideráveis que são despendidos. Esse monitoramento constante gera o narcisismo e uma
centralidade interior, pois “tal preocupação está intrinsecamente ligada à construção da
identidade pessoal” (Coslin 2002, p. 47). Deste modo, sem a comunicação com os adultos, o
adolescente enfrenta toda essa luta sozinho, longe do olhar de todos, razão pela qual, torna-se
imprescindível a criação de pontes de comunicação dos pais com os adolescentes,
dispensando compreensão às suas inquietações e participando das suas frustrações e
experiências enérgicas na identificação de defeitos e pontos fortes no seu corpo.

➢ Sexo e substâncias nocivas


Com a chegada da puberdade, o organismo é invadido pelas transformações
biológicas e tomado por impulsos sexuais agressivos e incontroláveis que geram crises
psicológicas e emocionais, ambivalência moral e comportamentos de riscos.
O adolescente está preparado para ter relações sexuais, e os hormônios dele estão em
ebulição; ademais por ser uma fase de experiências nasce um grande desejo por coisas que
despertam prazer ou conduzem ao senso de satisfação e prazer.
Amigos, músicas, revistas, televisão, filmes, tudo isso pode exercer pressão para que o
adolescente comece a ter actividade sexual e uso de substâncias nocivas. A adolescência se
firma sob dois marcos: um novo fim sexual e a escolha do objecto sexual. As transformações
24

biológicas prepararam-no para a aquisição de estatuto adulto, isto é, a realização de tarefas de


procriação dados pela maturação sexual evidenciados pela menstruação e ejaculação.
Tal como vimos em cima, boa parte das transformações que ocorrem nessa fase se dão
no corpo, o que intensifica a exploração, a experimentação e descobertas por parte destes, na
tentativa de satisfazer seus impulsos sexuais agudos e poderosos, bem como, a busca pelo
prazer ou preenchimento do vazio emocional.
Todos esses eventos, demandam dos pais um acompanhamento constante e intencional
para ajudá-los a conservar sua pureza sexual e sua saúde física, emocional e espiritual.

B) Necessidades psicológicas
Segundo Simões (2013, p. 261) são três as necessidades psicológicas básicas: relação,
competência e autonomia.
A necessidade de relação envolve a orientação pessoal para estabelecer laços
relacionais fortes, estáveis e duradouros que promovam o sentido de aceitação e de
compreensão por parte dos outros.
A necessidade de competência refere-se a um sentimento pessoal de eficácia, como
consequência de o sujeito desenvolver uma percepção de sucesso e capacidade, perante
situações que se apresentam como desafiantes.
A necessidade de autonomia pode manifestar-se em termos de capacidade para iniciar
tarefas ou tomar decisões, controlo volitivo e assunção das consequências do próprio
comportamento.

C) Necessidades sociais
O processo de desenvolvimento social leva os adolescentes dos papéis limitados da
infância aos papéis mais amplos da vida adulta. Dentre eles estão: expansão de seus círculos
sociais e expansão de seus papéis sociais, os quais geram as necessidades de segurança, afecto
e sentimento de pertença.
Embora a adolescência seja uma época em que os jovens tentam administrar suas
vidas sozinhos, eles ainda dependem de seus familiares e cuidadores adultos para suporte
primário, afeto e tomada de decisões, bem como para ajudar a estabelecer suas identidades e
aprender sobre habilidades e valores.

D) Necessidades espirituais
Segundo Teófilo e Junqueira (2011, p. 638), na adolescência, dá-se a ampliação dos
objetivos da vida”. As chamadas perguntas existenciais, são perguntas essencialmente
25

religiosas. O desenvolvimento cognitivo que conduz o indivíduo ao pensamento hipotético-


dedutivo é o responsável pelas dúvidas “(questionamentos sobre a razão de ser de alguma
coisa) e a rebeldia no exercício da construção da identidade (luta para afirmação como pessoa
e volição de razões próprias para a crença)” (Rosa 1979, p. 82), o que torna indispensável,
uma orientação espiritual para a construção da cosmovisão, experiência com o Transcendente,
solidificação do carácter, sentido e propósito de vida.
Os pais e líderes de adolescentes, precisam fazer do pensamento de Rosa (1979, p. 85)
sua base de instrução:“À medida que o intelecto se desenvolve na infância e adolescência, os
conceitos religiosos devem também ser ampliados. Os jovens precisam de liberdade para
pensar, enfrentar e resolver problemas, e precisam de orientação democrática adquirida
através do convívio com adultos amadurecidos que estão enfrentando e resolvendo
criativamente os seus próprios problemas”.

1.5. Desafios da adolescência


Antes de descrevermos os desafios da adolescência, apresentaremos um panorama
actualda arena onde o adolescente enfrenta suas batalhas e as demandas relactivas ao seu
contexto.
Em sua abordagem, Xavier e Nunes (2015, p. 94) começam com o seguinte
questionamento: “Diante do quadro social atual, como a sociedade influenciará os desejos
adolescentes”? E em seguida, apresentam alguns dos aspectos que constituem esse campo de
concentração: globalização, narcisismo, consumo e violência. Então, concluem dizendo: todos
esses elementos “conduzem ao apagamento das diferenças e à ênfase no consumo,
transferindo para a posse de determinados objetos todo o sentido da existência e a única
possibilidade de reconhecimento social”.
Todo esse sistema globalizado extingue a personalidade, desfaz as raízes,
superficializa as relações sociais e impõe ameaça à existência humana. Esse sistema
forçosamente efectua uma troca da capacidade de reflectir pelo impulso de consumir.
Por outro lado, Gary Chapman (2001, pp. 23-29), apresenta cinco pressupostos que
compõem o ambiente cultural do adolescente contemporâneo que gostaríamos de fazer
referência:Tecnologia, Conhecimento da violência e exposição a ela, Família fragmentada,
Crescimento da sexualidade e exposição a ela e Moralidade neutra e valores religiosos.
É em meio a toda essa tensão e pressão que o adolescente deve conviver e lutar para
ocupar um lugar, se constituir, pertencer e ser diferente, bem como, conquistar sua autonomia,
reconhecimento e aceitação. Se desconhecermos o ambiente onde o adolescente se desenvolve
26

seremos irrelevantes, descontextuais e superficiais em nossa abordagem a eles, não podendo


nem compreendê-los, nem ajudá-los nem projectá-los.
Tendo apresentado o quadro crítico no qual o adolescente deve trabalhar na construção
de sua subjetividade, queremos apresentar os desafios ou tarefas que têm sido apresentadas
nos principais estudos sobre esse período do ciclo do desenvolvimento humano. Elegemos
três tarefas:
➢ Identidade e reconhecimento social
Segundo Bock (2018, p.187), identidade é adenominação dada “às representações
(ideias e sentimentos) que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio a partir do conjunto
de suas vivências. A identidade é a síntese pessoal sobre o simesmo incluindo dados pessoais
(cor, sexo, idade), biografia (trajetória pessoal) atributos que os outros lhe conferem,
permitindo uma representação a respeito de si”.
Esse conceito supera a compreensão do ser humano como conjunto de papéis, de
valores, de habilidades, de atitudes, pois compreende todos esses aspectos integrados – o
homem como totalidade – e busca captar a singularidade do indivíduo, produzido no
confronto com o outro.
Segundo Weiten (2010, p. 321), Erik Erikson em seus estudos sobre desenvolvimento
da personalidade durante a adolescência, estabeleceu o quinto estágio dentre os oito principais
estágios, como aquela em que ocorre esse processo. Então afirma: “O principal desafio da
adolescência é a luta para formar um senso claro de identidade”.
A identidade se forma no movimento constante de identificações e diferenciações, o
que significa que para o indivíduo se auto-afirmar é preciso se confrontar. Na medida em que
o adolescente busca semelhançacom os outros procura manter diferença com os pares, isto é,
busca seu próprio estilo para existir comoele mesmo, sem ser igual a ninguém.
Vivemos hoje num contexto que oferece muitas imagens para o adolescente usar,
muitas máscaras nas quais pode se perder, urge toda uma necessidade de os pais e líderes
estarem ao lado desse grupo vulnerável para orientá-lo a melhor definir sua identidade,
apreciar sua beleza, amar sua pessoa, exercitar suas habilidades e aceitar-se a si mesmo em
meio às diferenças.

➢ Autonomia e individuação
Enquanto a identidade diz respeito ao que o adolescente deve ser, autonomia diz
respeito ao que ele deve ou é capaz de fazer “sem se referir à autoridade parental” (Tourrette
2009, p. 202).
27

Segundo Ribeiro citando Noom (2011, p. 5), afirma que autonomia é a “habilidade
para dirigir a própria vida, para definir metas, sentimentos de competência e habilidade para
regular as suas próprias acções”.
Durante esse período o adolescente luta para impor sua autonomia moral, definindo,
assim, seus princípios éticos que deverão nortear sua conduta, que expressarão seu carácter;
não sendo apenas fixo no quadro das elaborações, mas sendo agente activo de seus ideais e
valores éticos e morais, desenvolvendo a consciência de responsabilidade de suas escolhas,
isto é, levar sobre si a consequência de suas escolhas e actos.
Além dos conflitos internos é necessário fazer vista aos conflitos externos que já
apresentamos acima sobre as filosofias, a relatividade da verdade a moralidade neutra que
podem ser um catalizador para um desvio precoce e autodestruição. Autonomia que é uma
virtude abençoada, mas pode tornar-se uma maldição no exercício perverso dela; daí que é
imperativo os adultos proverem direcionamento na tomada de decisões e acompanhamento,
pois, muito do que o mundo oferece tem a realidade das coisas ofuscadas e camufladas pelas
publicidades e aparência de piedade.

➢ Escolha profissional
Segundo Sabini (1997, p. 94), a escolha vocacional ou profissional é “resultante da
interação entre as aspirações e os conhecimentos que o indivíduo possui e as condições
actuais para a sua realização”.
O indivíduo escolhe sua ocupação a partir das condições sociais em que vive e em
função de suas habilidades, aptidões, interesses, dons (vocação), mas ele enfrenta a “pressão
familiar, expectativas de futuro, pressões sociais as mais diversas e o sonho de ser bem-
sucedido na vida acompanham a questão, dando-lhe o lugar de uma das preocupações sociais”
(Bock 2018, p. 314).
As frustrações que o adolescente está condenado a sofrer nos nossos dias é a falta de
oportunidade, investimento e projecção, porque tudo é adiado para um futuro distante. Tendo
isso em conta, esse grupo procura compensar suas perdas num desgaste máximo de suas
energias, paixão e habilidades em coisas pouco proveitosas ou até mesmo destrutivas, por
falta de espaço e envolvimento naquilo que ele é capaz de fazer não apenas para garantir sua
realização pessoal, provar sua competência, mas também o bem-estar comum. Quanto bem
faríamos se soubéssemos aproveitar suas potencialidades e os projectássemos?
28

1.6. Perigos da adolescência


Tratando-se de perigos da adolescência ou comportamentos de risco, tal como são
chamados, Feijó e Oliveira (2001, pp. 128-30), apresentam cinco aspectos que os
caracterizam: Nutrição, Sexualidade,Violências, Saúde mental, Álcool e Drogas.

➢ Nutrição
É na infância que os bons hábitos alimentares devem ser estabelecidos, por sua
influência ao longo da vida e, particularmente, na adolescência. A adolescência é marcada por
mudanças psico-afetivas e de conduta, e surgimento de vários comportamentos de risco tais
como: uso de drogas, prostituição, violência, desintegração familiar, fome, desnutrição 5.
Algumas destas mudanças e comportamentos dizem respeito aos hábitos alimentares,
colocando em risco a saúde e o crescimento do adolescente.
As mudanças corporais da puberdade e o desenvolvimento psicossocial “influenciam
no aumento das necessidades nutricionais”6. Além do aumento das necessidades protéicas,
calóricas e dos principais nutrientes durante o estirão puberal, deve considerar ainda os extras
recomendados para o crescimento e para as diversas actividades, de acordo com os estilos de
vida. É durante a adolescência que se inicia a prevenção das principais situações de risco
nutricional – desnutrição crônica, anorexia, bulimia, anemia, osteopenia, obesidade,
aterosclerose, gravidez e lactação.
Hoje as novas tendências da moda e da beleza são alguns factores que também
contribuem em grande escala para a bulimia, anorexia, doenças gástricas e febre tifóide, por
parte das meninas, porque castigam em excesso o corpo com o foco de construção de uma
estrutura física perfeita, uma cintura fina e os glúteos mais alargados – o famoso corpo de
viola, além da jarda7 e outros fenômenos. Impõe-se a necessidade da orientação alimentar e
controlo.

➢ Sexualidade
Segundo Professiori (2004, p. 6), a sexualidade “abrange toda a pessoa” desde a sua
maneira de “agir, pensar e funcionar fisiologicamente como homem ou mulher”.
A mesma autora fazendo recurso aos estudos de Aberastury, afirma que o adolescente
“sofre com as mudanças corporais, a definição do seu papel e também das mudanças

5
www.abennacional.org.br, acessado no dia 22 de abril de 2022
6
www.atenas.cpd.ufv.br, acessado no dia 22 de abril de 2022
7
Jarda é uma unidade de comprimento utilizado em alguns países de cultura inglesa. Mas também tem o sentido
de substância anabolizante usada para aumentar a massa muscular. Dicionário Online Priberam de Português,
acessado no dia 16 de Junho de 2022, pelas 11h
29

psicológicas”, todas essas mudanças imprimem um “testemunho da determinação sexual e do


papel que terão que assumir, não só com o parceiro, mas também na procriação” (2004, p. 7).
É na construção da identidade, da busca da autonomia, isto por meio das explorações e
experimentações de papéis que, no desejo de provar novas habilidades, novas relações, novos
papéis que acabam desembocando na actividade sexual.
A vasta gama de influências a que os adolescentes estão expostos hoje desencadeiam
uma série de consequências, tais como: actividade sexual precoce, masturbação, gravidez
precoce, doenças sexualmente transmissíveis, prostituição e, até mesmo, abusos sexuais.
Uma vez que a definição da identidade sexual deixou de ser biológica ou um acto de
criação para uma escolha alternativa, há também o risco de os adolescentes seguirem
deliberadamente a homossexualidade, a bissexualidade, o travestismo e toda uma série de
perversões sexuais.

➢ Violências
Segundo Feijó e Oliveira (2001, p. 129), os homicídios representam a segunda causa
de morte entre os adolescentes, envolvendo ambientes escolares, sob influência da mídia
estimulando a violência”.
O homicídio não é a única maneira de violência, mas ainda existem os casos de abuso
físico e sexual ocorrendo no princípio da adolescência, atentado ao pudor, conjunção carnal
violência intelectual e emocional.

➢ Saúde Mental
Os adolescentes podem servítimas ou agentes de comportamentos de risco, podendo
manifestar-se por meio da “depressão, ideação e comportamento suicida, ansiedade,
transtorno de personalidade, comportamento de actuação e crise de identidade sexual” (Feijó
2001, p. 130).
Esses comportamentos podem estar associados aos “distúrbios de sono, de apetite,
sentimento de culpa, pessimismo, envolvimento com atos de violência, abuso de álcool e
drogas ilícitas e diminuição de socialização” (Feijó 2001, p. 130).

➢ Álcool e Drogas
Coslin diz que as duas partes representam “diversas substâncias procuradas devido aos
seus efeitos psíquicos, e cujo uso habitual conduz à toxicodependência” (2002, p. 240).
A adolescência pode ser uma altura difícil para alguns que estão sob pressão na escola,
para aqueles que não têm um bom relacionamento com os pais ou que não se relacionam com
30

os pares. Tudo isso constrói um campo favorável, para os adolescentes quando alguém
apresenta a eles, no estado de infelicidade, algo que é excitante ou divertido, algo que boa
partedas pessoas tomam. Além do facto da grande facilidade e preçário baixo dessas
substâncias, está também a possibilidade de sua manipulação para aquisição desses elementos.
Eis a razão para a busca desenfreada de substâncias nocivas.
Segundo Feijó e Oliveira (2001, p. 130), os factores que contribuem para o
desenvolvimento desse comportamento de risco são: familiares (história de alcoolismo, uso
de drogas, autoritarismo e permissividade, conflitos intrafamiliares), grupal (uso de drogas
entre os amigos), pessoais (agressividade, impulsividade, comportamento antissocial, baixa
autoestima, experiência sexual precoce), escolares (falta de competência escolar, repetência
escolar), história de abuso sexual e acesso fácil à droga, alta densidade demográfica,
vizinhança deteriorada socialmente.
A falta de satisfação das necessidades dos adolescentes e orientação para lidarem de
modo adequado com os desafios que se sobrepõem hoje, fazem desses caminhos alternativas
na tentativa de encontrar prazer, amor, segurança e conforto. Todos esses comportamentos de
risco podem surgir como substituição pela falta ou abuso pelo extremo dos caprichos a eles
oferecidos – o equilíbrio é de todo necessário.

1.7. A adolescência na perspectiva cultural africana


Falar da adolescência em Angola, é falar de ritos de puberdade, uma das partes
integrantes da cosmovisão africana nas etapas da vida da pessoa que passa no seguinte
processo: “nascimento, puberdade, casamento, morte” (Altuna, 279). Esta compreensão
adquire uma importância construtiva fundamental.
A primeira abordagem que pretendemos fazer dessa perspectiva é a compreensão da
adolescência dentro dos ritos de puberdade.
Segundo Altuna (2006, p. 279), “A iniciação do rapaz e da rapariga para a vida
comunitária, os chamados «ritos de iniciação na puberdade» situam os jovens no seu lugar
dinâmicoda vida cultural, social, políticae religiosa do grupo...são o suporte da religião e a
garantia da continuidade da solidariedade”.
Não apenas os ritos o são, mas também os jovens, porque sem eles os ritos perdem seu
conteúdo no vazio, seu valor no tempo e toda história morre no silêncio.
Segundo Coslin (2002, p. 28), esses ritos passam por três etapas: 1) ritual de
participação do estatuto de criança, demarcação dos papéis e de ruptura do grupo anterior; 2)
31

transição de preparação do iniciado à atribuição de um novo estatuto; 3) ritual de agregação à


sociedade dos adultos.
Há uma semelhança entre os teóricos apresentados acima pelos especialistas com a
filosofia africana, pois que os fenômenos que ocorrem são os mesmos: luto pelo corpo antigo
e aquisição do novo, desidealização dos pais, independência, autonomia, escolha amorosa,
vocação e identidade própria.
A iniciação segundo Altuna, funciona como uma escola para a vida.As razões para
afirmar isso são: os iniciados aprendem “a ética individual e social, noções de política,
educação, higiene e as técnicas de caça, pesca, agricultura e artesanato. Eles ainda têm
educação artística manifestas na dança, canto e as manifestações estéticas do grupo” (Altuna
2006, p. 291).
Embora esses ritos permaneçam em algumas comunidades rurais, hoje nas
comunidades urbanizadas permanece apenas a forma, desapareceu o conteúdo que assegurava
o desenvolvimento integral do indivíduo, as estruturas sociais e o seu bem-estar.
A educação era uma ferramenta indispensável em todo o processo para o renascimento
de um homem maduro que estivesse pronto para tomar seu lugar na comunidade, exercer seus
papéis e compromissos, impor sua identidade, demonstrar independência e autonomia, bem
como, buscar realização pessoal. O iniciado era preparado com excelência para viver na
sociedade e projectar-se desimpedidamente.
A segunda abordagem dessa perspectiva que precisamos fazer é o relacionamento
jovem-adulto. Três pensamentos são necessários considerar:
Primeiro pensamento.O mais velho é visto como a fonte do conhecimento, aquele que
pela sua sabedoria e experiência possui autoridade e propriedade no que diz e faz; o jovem é
desprezado até alcançar estatutos adultos, sua força e paixão são pouco apreciadas e
valorizadas.Segundo pensamento.Os jovens são vistos apenas sob perspectivade poder e
funções e não de essência e personalidade. Terceiro, é muito difícil estabelecer uma relação
eu-tu entre mais velhos e mais jovens dentro de uma perspectiva de comunhão onde cada um
é aceito por ser quem é, e no contexto onde se desenvolveu (ver anexo 1).
Liga-se a esses três pensamentos, o facto de que o nosso continente e, em particular, o
nosso país, é maioritariamente jovem. A grande questão que precisamos enfrentar é: face a
esse desligamento e visão, que futuro nós estamos preparando para os mais jovens? Que
legado nós estamos transmitindo para as próximas gerações? Basta olhar para a realidade
angolana e perceberemos que alguns dos filhos que não tiveram isso do lar, são os corruptos,
32

os criminosos, as prostitutas e toda outra categoria que infestam e perturbam a saúde íntegra
dos nossos dias.
A terceira abordagem dessa perspectiva que precisamos olhar, é a transição que a
contemporaneidade impôs às estruturas sociais, de modo a compreendermos os fenômenos
visíveis no contexto angolano.Três aspectos gostaríamos de salientar:
O primeiro aspecto, é o facto de toda a vasta gama de “influências da nossa cultura,
experiências de infância, a experiência da parentalidade, educação, crenças, e visão do
mundo” (O’Donovan 2000, XV) africanos (bantus), serem reputados por antiquados e
obsoletos, escórias da modernidade.O segundo aspecto, é o sistema capitalista que impôs uma
nova configuração à família, pelo facto de hoje os bens materiais serem mais importantes que
as pessoas, da valorização do indivíduo por aquilo que tem, e não por aquilo que é, o que
estimula a saída dos lares e abandono dos valores familiares pelo lucro – o que dá azo ao
abandono do papel paternal, bem como, à busca frenética de satisfação dos filhos para sua
realização e compensação da ausência paternal.O último aspecto que poderíamos citar, é o
avanço tecnológico que rompeu o poder da comunicação e do contacto visual, característica
africana, “do cultivo da relação já existente” (O’Donovan 2000, p. 3). Hoje as redes sociais
invadiram os lares com a virtualidade e as conexões constantes (que não são de todo
maléficas), mas rouba por outro lado, o tempo para o convívio familiar, dependência às redes
tanto dos pais quanto dos filhos, as crises psicológicas e emocionais emergentes dela, pela
impossibilidade de alcance de certo padrão e insatisfação de suas necessidades. Todos esses
factores, contribuem para o abandono da educação tanto dos pais quando das comunidades
pela falta de equilíbrio na gestação de cada um deles.
Segundo uma pesquisa de campo feita sobre gravidez precoce, na qual o pesquisador
foi partícipe, a conclusão de dez jovens e 5 técnicos de saúde sobre os variados factores que
estão na base do aumento da gravidez precoce em Angola foram: falta de diálogo entre pais e
filhos sobre a fase da puberdade, a influência da mídia, falta de educação correcta sobre a
sexualidade no lar, falta de conhecimento sobre a vida dos grupos (más influências), falta de
afecto no lar e pobreza (ver anexo 2).
Esses factores não estão associados apenas ao grandioso aumento da gravidez precoce,
mas se relaciona também com a construção de identidade e todos os outros desafios que lhe
acometem; está relacionado com as necessidades prementes da sua fase que carecem de
satisfação e dos perigos constantes que cercam suas vidas na busca da independência,
autonomia, um lugar e realização pessoal.
33

1.8. Síntese do capítulo


Portanto, vimos que adolescência é uma fase de grandes transformações e complexa,
que pressupõe um investimento dos adultos na compreensão dos seus fenômenos para sua
habilitação no tratamento com adolescentes. Concluímosque a melhor forma de lidar com
adolescentes, é conhecê-los e entrar na sua zona de conforto para melhor ajudá-los. Apenas
desse modo, os habilitaremos a cumprir cabalmente com seus compromissos, tarefas e papéis
dentro do seu contexto.
Essas transformações são boas e não más, necessárias não devendo ser inibidas,
devem ser aceites e não rejeitadas, devem ser estimuladas, expandidas e treinadas, mas não
temidas. Adolescentes não são problema, são pessoas.

CAPÍTULO – II

FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

A educação constitui-se como uma ferramenta poderosa que remonta desde os


primórdios para a construção de estruturas sociais sólidas, para o desenvolvimento integral do
indivíduo quer a sua personalidade quer o exercício de suas competências e tarefas. A
educação é um elemento catalizador da extensão da potencialidade humana em todos os seus
moldes e variados âmbitos.
Neste capítulo, faremos uma exploração de fundamentos bíblicos e teológicos que
enfatizem e despertem a exigência, a necessidade e a responsabilidade da educação dos filhos
(adolescentes) quer por parte dos pais quer dos líderes eclesiásticos que sirva de resposta às
necessidades, desafios e perigos dessa fase célebre, vital e transformadora.
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O termo adolescência não se encontra de modo explícito nas Escrituras, mas de modo
implícito podemos encontrar aspectos, eventos e características próprias da adolescência, o
que nos leva a extrair princípios de sua educação por inferência.

2.1. Educação aos filhos (adolescentes) no Antigo Testamento


As Escrituras manifestam a imensidão e o poder da educação, assim como
suacentralidade desde a vida diária, nas celebrações religiosas e formalidades escolares, isto
por causa do grande valor que repousa nas crianças, porquanto elas eram tidas como dons de
Deus (Sl 127.3).
Segundo Coleman (1991, p. 127), “no início da história de Israel, os pais eram os
mestres de seus filhos”, e mais tarde, houve uma transição notória, pois os “ensinamentos
passaram a ser ministrados pelos sacerdotes; a educação passou a ter dois centros basilares: a
família e os sacerdotes” (Lopes 2010, p. 40).
A espinha dorsal dessa educação eram os ensinamentos básicos da fé (instrução
religiosa), treinamento nos deveres éticos e morais (instrução moral), bem como os
rudimentos de seu ofício (habilidades).
É bastante revelador os dois âmbitos apresentados pelos autores, pois há união de
forças entre a família e a casta sacerdotal, bem como, a duplicidade na combinação de
métodos de educação, teoria e prática. São essas perspectivas que pretendemos seguir em
nossa abordagem.

2.1.1. Educação dos filhos (adolescentes) no Pentateuco


No Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia, encontramos a base de todo o
desdobramento sobre a educação aos filhos até aos dias de hoje. No olhar de cada página
poderemos perceber e extrair vários princípios que nos servirão de ponte para a nossa
temática. Em Gênesis 18, vemos o primeiro episódio em que a educação aos filhos não é
apenas prevista (descrita), profetizada (anunciada, por acontecer), mas também prescrita
(ordenada e esperada a sua efectividade).
O texto diz: “E disse o SENHOR: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão
certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da
terra? Porque eu o tenho conhecido, que ele há de ordenara seus filhos e a sua casa depois
dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agirem com justiça e juízo” (Gn 18.17-
19, ARA).
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Através do texto pode se perceber que os filhos são vistos como partes da aliança de
Deus com seu povo, razão pela qual eles eram circuncidados ao oitavo dia (Gn 17.12), não
como um rito de passagem apenas, mas como um sinal da participação dessa aliança (Gn
17.9-11), tendo como alta tonalidade a promessa: “Serão meu povo, serei vosso Deus” (Gn
17.7-8). Pode se perceber por outro lado, a preocupação de Deus não apenas com a
integridade da geração actual (“porque eu o tenho conhecido”), mas também com a geração
futura (“a sua casa depois dele”), o que tornou imprescindível o ensino e treinamento aos
filhos para a continuidade no “caminho do SENHOR”, para um viver baseado na “justiça e
juízo”, a fim de que a promessa do Senhor se cumprisse (efeito graça-lei).
Desse modo, os princípios que podemos extrair desse texto são: Legado, exemplo de
vida (da parte do líder da família), dever moral (justiça “modo de ser”; juízo “modo de agir” –
instrução e treinamento aos filhos) e bênção comunitária (salvação – “serão benditas todas as
nações da terra” Gn 18.18 – o conhecimento de Deus e o relacionamento com ele dependia até
certo ponto dessas pessoas, filhos – ou melhor, passaria dos filhos para as outras nações).
Segundo Armstrong (1992, pp. 13, 14) “a educação hebraica tinha como propósito
transmitir a herança histórica, instruir na conduta ética e assegurar a presença de Deus e sua
adoração”, para preservação de sua identidade como povo escolhido e amado de Deus e para a
continuidade do cumprimento do seu propósito como povo por meio do qual Deus realizaria
seu plano de abençoar todas as nações.
O homem sempre procurou conhecer algo de sua existência, propósito e lugar no
universo,razão pela qual os adolescentes no despontar de suas faculdades buscam
compreender seu existencialismo (é uma prioridade pessoal), impor sua identidade e
responder com firmeza aos desafios no meio das massas. Para esse fim, os pais e os líderes
eclesiásticos precisam transmitir a herança histórica (passar o testemunho, o legado), precisam
treinar os adolescentes na conduta correcta, isto por meio de seu exemplo, só assim, poderão
assegurar a presença de Deus e sua adoração, bem como a bênção comunitária.
As verdades precisam ser reais, vívidas, experimentadas e praticadas por eles, antes de
as transmitirem aos adolescentes. Os pais e líderes precisam actualizar-se (ler o tempo e
avançar com o tempo) para terem a competência de passar a tradição de forma que não exclua
nem ignore os desafios da actualidade.
O último texto dessa secção, e que por sinal é tido por clássico sobre a ordem do
ensino, que queremos explorar é Deuteronômio 6. Assim diz o texto:
“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho e ao deitar-te, e ao
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levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão e te serão por frontal entre os teus
olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa de tuas portas” (Dt 4.6-9, ARA).
Compreendemos pelo texto a severidade da lei (os pais e os líderes deviam dedicar-se
activamente à responsabilidade de ensino aos filhos), o que pressupõe seriedade na
obediência da lei, o que seria provado na quebra de limites geográficos e temporais e no uso
de todos os meios (visuais e materiais) possíveis para chegar-se ao alvo.
Sendo assim, “as leis deviam ser ensinadas, discutidas, usadas na adoração para
declarar simbolicamente que elas faziam parte da mente e da conduta, e usadas como um
lembrete toda vez que se estava ou se saía de casa” (Gower 2002, p. 79).
Os pais devem preparar seus filhos para o mundo. Israel estaria no meio de muitos
deuses, pelo que Deus, preparou seu povo sobre o conhecimento sobre o seu ser: o único Deus
verdadeiro. Ele ordenou os líderes religiosos e os pais a amarem e obedecerem ao único Deus,
a fim de que fossem suas testemunhas às outras nações. Essa realidade não se distancia de
nós; os adolescentes não devem ser preparados para encarar apenas a multidiversidade de
religiões e teologias difundidas nos nossos dias, mas também, sobre as filosofias, a
moralidade, as redes sociais, habilidades, violência, sexualidade e relacionamentos.
Através do texto de Deuteronômio 6, podemos aprender métodos de ensino como:
naturalidade (os pais deviam ensinar em todo tempo, não apenas quando o filho se desviasse e
cometesse um erro, repousar sobre a educação espiritual, profissional e social – Dt 6.7);
prevenção (ao ensinarem os filhos a amarem o Senhor de todo o coração limitava a
possibilidade de amarem outros senhores – Dt 6.2, 4-7); proibição (eles deviam ensinar aos
seus filhos o que não lhes era permitido fazer – Dt 6.10-16); permissão (eles deviam ensinar
aos seus filhos o que lhes era permitido fazer – Dt 6.4-5, 17-25).
Deste modo, todo ensino que não toca às gritantes necessidades humanas, que não
responde aos reais desafios e não treina as pessoas para uma conduta correcta, erra no seu
propósito, é estéril e digna de rejeição.

2.1.2. Educação aos filhos (adolescentes) nos Livros Históricos


Nesta secção, segundo Vagner (2011) “os ensinos são práticos, existenciais, reflexivos
e abrangentes”, uma vez que o povo de Israel sempre buscou saber sobre “sua existência, seu
propósito e lugar que ocupa no universo; por considerar-se o povo escolhido por Deus para as
realizações de sua vontade e propósitos e o povo que cumpre as ordens de Deus com maior
intensidade”.
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O primeiro texto dessa secção, que pretendemos analisar e que, por sinal constitui a
base onde se debruça todos os demais cenários na linha do tempo, e ao longo da história do
povo de Israel é Josué 24. O texto embora curto encerra grande verdade, diz o texto:
“Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15, ARA).
“Este versículo enfatiza o dever que os pais têm de ajudar seus familiares a fazerem
escolhas acertadas” (Champlin 2008, p. 984).
Por meio de sua conduta, o povo de Israel provou que estava decidido a não servir a
Deus, Josué desafiou o povo a “escolher entre os deuses de seus ancestrais que viviam na
Mesopotâmia e os deuses dos amorreus que os israelitas conheceram em Canaã” (MacDonald
2010, p. 173), entre os dois caminhos errados, Josué escolheu por si e por sua família servir
ao Senhor. Ele provou não apenas por palavras, mas também por atitudes que a sua escolha
era certa, e estava disposto a seguir por esse caminho em oposição ao povo. E por meio de sua
escolha estimulou o povo todo a seguir pelo mesmo caminho, e toda a geração que viveu nos
seus dias conheceu, serviu ao Senhor e provou todas as suas grandes obras (Jz 2.6-10a).
No entanto, “a segunda geração após a morte de Josué não ensinou seus filhos a temer
ao Senhor e guardar seus mandamentos. A negligência dos pais resultou na apostasia dos
filhos” (MacDonald 2010, p. 178).
O livro de Juízes, prova que o ensino ao potencializar um aspecto da vida, todas as
outras crescem na mesma medida, e assegura-se o bem-estar integral do indivíduo e da
comunidade onde faz parte (Jz 2.7), mas a ausência do ensino enfraquece uma parte e a
degeneração de umaafecta todas as outras e provoca desastre individual e comunitário. A base
para esta tese encontra-se nos seguintes pressupostos: a perversão espiritual do povo ao
prostituir-se com outros deuses (Jz 2.10-25), provocou corrupção no padrão ético e moral (Jz
2.17; Êx 19.5-6), desvio de identidade cultural (Jz 3.6), crise política (Jz 21.25) e social (Jz 3-
16).
Ademais, além de notar-se apenas a progressão em categorias, há também perversão
em uma escala crescente: perversão de um indivíduo ao negociar seus princípios (Jz 14-16), a
perversão religiosa e moral de um grupo (Jz 17-19), conflito entre irmãos (Jz 20-21), até
chegar à corrupção de toda uma nação (Jz 21.25).
Nos demais livros desta secção, podemos encontrar exemplos de homens que
marcaram diferença em meio a uma perversão acentuada que dominava seus dias. Temos
Samuel que foi ensinado por sua mãe Ana e o sacerdote Eli e crescia de modo notável e sua
pureza e bondade agradavam a Deus e aos homens de seus dias (I Sm 2.21, 26; 3.19). Mesmo
partilhando o mesmo espaço e ofício que os filhos de Eli, seu carácter e conduta eram
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diferentes (I Sm 2.12-17; 3.19). Ele provou que é possível ser diferente das massas (ter uma
identidade própria), é possível não negociar os princípios em meio à contaminação, ainda que
a maioria siga por esse caminho, mas o factor determinante é o ensino.
Quando os pais não lideram seus filhos, eles comandam suas próprias vidas, escolhem
seus próprios caminhos, formam seu próprio padrão de conduta (“fazem o que parece correcto
aos seus olhos”; Jz 21.25), mas as consequências não afectam apenas a eles, mas naturalmente
aos pais, à comunidade e às gerações futuras. Não apenas o pecado de adultério e homicídio
que Davi cometeu, mas potencialmente sua fraqueza em lidar e disciplinar com seus filhos
contribuiu para a crise doméstica e política de sua vida (II Sm 13.21;14.24, 33; I Rs 1.6), o
que para Eli foi crise religiosa (corrupção do sacerdócio; I Sm 3.13).
O cenário de Amnom e Tamar talvez seja um dos textos que fala tão abertamente
sobre as crises e desafios da adolescência. A maneira como Amnom adoeceu pelo facto de
enamorar-se por sua irmã. Na ausência de uma autoridade firme, de um ensino em como lidar
com seus sentimentos e seus instintos sexuais, os conselhos que foram de acordo aos seus
desejos ilícitos e doentios foi o que ele abraçou no momento da angústia, ou melhor sentiu-se
acolhido, e ainda que visse tal coisa como impossível (deitar-se com sua irmã), ele deu vida
ao plano e consumou o acto.
A educação faz toda diferença na vida do ser humano, quanto mais na vida de um ser
que enfrenta o desconhecido em si mesmo cuja força e agressividade que ele não aprendeu a
controlar e podem servir de um poder impulsionador para a formação de sua identidade,
autonomia e vocação profissional.

2.1.3. Educação de filhos (adolescentes) nos Livros Poéticos


Nesta secção, encontramos a sabedoria didática, onde o livro de Provérbios é o maior
exemplo de instrução prática. Sua sabedoria consiste nos adágios de sábios ou provérbios
populares que defendem todo tipo de hábitos, habilidades e virtudes prudenciais.
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele” (Pv 22.6, ARA).
De acordo com algumas interpretações, “o caminho em que se deve andar é uma
referência ao carácter e aos dons singulares, de modo que se deve respeitar a individualidade
de cada criança ao ensiná-la. No livro de provérbios, há somente dois caminhos que uma
criança deve seguir, o caminho dos sábios e justos ou o caminho dos insensatos e perversos.
Como Kidner nos lembra, devemos respeitar a individualidade de cada criança, mas não sua
obstinação (Adeyemo 2010, p. 806).
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O contexto multicolor, onde as estruturas sociais estão cada vez mais desestabilizadas
por vários fenômenos como a globalização, o consumismo frenético, o narcisismo sedutor e a
perversão desenfreada que corre à solta e dia após dia ganha adeptos, tornando-se numa
poderosa força influenciadora de padrões morais, sociais e religiosos, urge toda uma
necessidade de os pais proverem não apenas a formação acadêmica, mas também formação
moral e treinamento de habilidades (vocação profissional).
A tarefa de formar a moralidade dos filhos, treinar suas habilidades e orientá-los nas
suas escolhas, não é da escola, e se os pais estão fazendo tal coisa, estão errando contra seus
filhos, estão se desviando da sua responsabilidade diante de Deus e estão perdendo uma
grande oportunidade e privilégio de influenciarem seus filhos e assegurar a saúde de sua
integralidade.
Em Eclesiastes encontramos sabedoria filosófica, que segue a linha crítica, reflexiva e
interrogativa, pois sonda as questões mais profundas e controversas da humanidade. Diz o
texto:
“Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua
mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos;
sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas. Afasta, pois, do teu coração o
desgosto e remove de tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são
vaidade” (Ec 11.9-10, ARA).
O autor aconselha os jovens (adolescentes) a viver sua fase, com alegria, força e
paixão e gozem de todo o prazer que a vida oferece, projectem seu próprio curso e o sigam
com firmeza, sem colocar cabeças idosas sobre ombros jovens, mas a tomarem consciência
das consequências de suas escolhas e actos. Em suma, o autor deseja mostrar que a melhor
maneira de gozar melhor a extensão da vida é viver ao lado de Deus e de acordo a Sua
vontade.
Pelos teóricos que apresentamos sobre adolescência podemos perceber que os
adolescentes possuem grande entusiasmo, energia, força física, mente fértil para captar
informações, e infelizmente, por causa da falta de conhecimento sobre a realidade, pensam
que podem fazer todas as coisas pelo facto de possuírem uma estrutura fisiológica à altura;
nessa estrada escura, eles precisam de líderes que os instruam na direção certa, não apenas
para evitar comportamentos de risco, mas também, garantir seu bem-estar e sua
potencialização. Suas energias, paixão e habilidades precisam ser direcionadas.
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O pastor em Eclesiastes usa métodos de ensino tais como: método reflexivo (levar o
adolescente à razão; deixar que ele pense por si mesmo e chegue à conclusão – nós
precisamos criar apenas condições para que ele chegue por si mesmo à realidade, não elaborar
respostas prontas); método causa-efeito (acção-reacção – mostrar-lhes que toda decisão
tomada traz consigo consequências); paixão vs. dever (mostrar-lhes que nem tudo quanto
desejamos e nos parece atraente, satisfaz de modo duradouro), ideal vs. real (mostrar-lhes que
nem tudo que aparenta ser bom o é realmente), e experiência-sabedoria (mostrar-lhes aquilo
que realmente satisfaz: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade”; Ec 12.1).

2.1.4. Educação de filhos (adolescentes) nos Livros Proféticos ppppoProféticos


Os profetas eram sensíveis às condições sociais e religiosas do povo e se esforçavam
em interpretar a fé e aplicá-la em suas próprias gerações, visando também as subsequentes.
“Todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e será grande a paz de teus filhos”
(Is 54.13, ARA).
O discipulado que o profeta proclama, faz referência a todo o povo como um todo:
homens e mulheres; idosos, jovens, adolescentes, crianças; grandes e pequenos; religiosos e
pecadores – sem excepção de ninguém. Essa profecia é paralela com a de Jeremias (Jr 31.34),
as duas apresentam o decreto do Senhor em estabelecer uma nova aliança com o povo. Em
meio à crise social, política, social e religiosa que o povo vivia, os profetas não apenas trazem
esperança presente da restauração da glória de Jerusalém, mas também uma mensagem futura,
que assegura os actos poderosos de Deus, e os aplica, isto é, a salvação e suas bênçãos. Os
textos enfatizam o que Deus fará, não o que o homem deve fazer.
Esse texto assegura a intervenção divina fazendo o sobrenatural acontecer, provendo
pela actuação do Espírito a penetração da Palavra de Deus em seus corações a fim de que O
conheçam (educação espiritual), vivam de acordo às suas leis (formação do carácter), e então,
venha sobre eles a bênção. Essa é uma profecia vigente nos nossos dias, embora não de forma
plena. Essa profecia é um lembrete de que não actuamos sozinhos nesse grande projecto do
ensino e salvação dos adolescentes.

2.2. Educação aos filhos (adolescentes) no Novo Testamento Testamento


Segundo Dueck (2006) diz que “junto a cada sinagoga se estabelecia uma escola
primária. A assistência era obrigatória. A criança judia começava sua educação religiosa aos
seis anos de idade. Estudava a lei, os profetas, a poesia, e a história do seu povo, além dos
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ritos e as cerimônias. Dos dez a quinze anos completava sua educação religiosa estudando as
interpretações orais da lei e das tradições dos anciãos”.

2.2.1. Educação aos filhos (adolescentes) nos Evangelhos


“E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de
Deusestava sobre ele. Quando ele atingiu os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o
costume da festa. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos
homens” (Lc 2.40, 42, 52, ARA).
O texto em causa não é apena uma referência à humanidade Cristo, o Filho Deus, mas
também uma referência de seu desenvolvimento normal de todo o ser humano, identificando-
se assim conosco.
Segundo Armstrong (1992, p. 26) diz que é muito “provável que Jesus, quando
criança, tenha estudado na sinagoga como os demais meninos judeus. Ele demonstrava
habilidades educacionais, praticava as artes literárias, ou seja, demonstrou sua habilidade de
ler na sinagoga (Lc 4.16-20), bem como familiaridade com a arte de escrever (Jo 8.6)”. O
autor ainda segue dizendo que por meio das palavras na cruz Jesus conhecia as línguas
aramaica e hebraica, e possuía um repertório profundo das Escrituras Sagradas as quais fazia
uso de memória.
Tal conhecimento que ele adquiriu desde a infância fundamentaram seu crescimento
integral: Crescimento mental: crescia Jesus em sabedoria; Crescimento físico: estatura;
Crescimento espiritual: e graça, diante de Deus; Crescimento social: graça diante dos homens.
Embora o ensino da sua época era totalmente religioso, tendo as Escrituras como
livro-texto em tudo que se ensinava e aprendia, não foi apenas uma área de seu ser que foi
desenvolvido. Ele foi preparado como pessoa e para a vida (ministério). Os ensinos que ele
recebeu se aplicavam em tudo. Com ele podemos aprender que um bom ensino que responde
às necessidades e aos desafios da pessoa afecta todo âmbito do ser.
Seu crescimento mental não será provado apenas pelo grande número de
conhecimento e informações, mas sim, crescimento na sabedoria, sendo capaz de colocar em
prática esse conhecimento nos problemas da vida. Seu crescimento físico não será medido
apenas pela sua estrutura fisiológica, mas também nas habilidades desenvolvidas para seu
engajamento nas profissões. Seu crescimento espiritual não terá como tônica a mera
religiosidade, mas sim, a compreensão profunda de seu existencialismo, a construção da
cosmovisão, formação de carácter e conduta excelentes e uma vida firme, voluntária, racional
e relacional com Deus. Seu crescimento social não será visto apenas na sua presença nas
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massas, mas vivamente, na maneira como lida com elas, com as influências externas, com a
intensidade de mudanças filosóficas à medida que forma e potencializa sua identidade.
Jesus é um exemplo perfeito de adolescente, ele se encaixa tão bem naquilo que são as
características e integralidade de desenvolvimento. Em Jesus encontramos um adolescente
que questiona as autoridades (Lc 2.46), vemos um adolescente no despontar de sua
inteligência (Lc 2.47), um adolescente que descobre sua identidade (Lc 2.49) e cresce em
tudo: física, psicológica, social e espiritualmente (Lc 2.52).
Esse crescimento integral saudável contribuiu para o seu ministério público, tornando-
se ele mesmo o expoente, o Mestre dos Mestres, o Herói do ensino. É bem interessante o facto
de que aquilo que constituiu a base de seu crescimento se tornou nos objetivos específicos de
seu ensino. Rogge(2009) os expõe na seguinte linha: converter seus alunos a Deus, conduzir
seus alunos para adopção de ideais correctos, desenvolver harmonia entre as pessoas,
aprofundar as convicções de seus discípulos e treinar seus discípulos para o ensino depois
dele.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações batizando-os em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mt 28.19-20ª, ARA).
Segundo Andrade (2002, p. 12) “o verbo ensinar é usado duas vezes: uma no
imperativo e outra no gerúndio. A primeira implica na formação e moldagem do cristão à
imagem de Cristo; a segunda abrange os fatores informativo, cognitivo e comunicativo das
doutrinas, princípios e verdades eternas do Evangelho”.
Sisemore (1990, p. 20) afirma que outro ponto a observar é que na língua original de
Mateus 28.19, a palavra que significa “ir” é um particípio. Portanto, a tradução correta e mais
literal seria: “Indo, fazei discípulos”. Tal tradução sugeriria que, em nossa caminhada
cotidiana como crentes, enquanto executamos outras tarefas, devemos tratar de fazer
discípulos. Este conceito nos lembra oShemá8, que instruiu os hebreus, durante sua
caminhada, a instruir os filhos.
Os adolescentes não ficam de fora nessa Grande Comissão. Em todas as nações se
encontram adolescentes, os quais carecem também da glória de Deus (Rm 3.23) e que
precisam também da mensagem da Cruz. Além da evangelização e do batismo, elas precisam
ser ensinadas em todas as coisas que o Mestre ensinou. Os adolescentes também precisam ser
discipulados, firmados na fé, aprofundadas suas convicções, treinado seu carácter e conduta a

8
O Shemá é o credo, a declaração básica de fé. O monoteísmo era a pedra angular do judaísmo e contrastava com
as religiões politeístas das culturas vizinhas do povo de Israel. (Coleman 1991, p. 259)
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fim de que sejam testemunhas (“mártir”) fiéis de Cristo. Para melhor execução dessa
responsabilidade, esse ensino deve fazer jus aos perigos, desafios e necessidades deles,
respondendo de modo profundo, satisfatório e racional cada uma dessas batalhas; deve o
ensino corresponder à sua realidade e mostrar relevância teológica e prática.
Embora o texto esteja ligado aos apóstolos, historicamente, de modo nenhum era a
intenção de Jesus que tal permanecesse apenas para eles, mas se estende sua ordem aos seus
discípulos de todas as eras. Sendo assim, tanto a igreja quanto os pais têm a responsabilidade
de ensinar seus filhos, a fim de cumprirem com a Grande Comissão de fazer discípulos de
todas as nações. Portanto, isso significa começar fazendo discípulos em sua própria casa (At
1.8), habilitando seus filhos a perseverar na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir
do pão e nas orações” (At 2.42).

2.2.2. Educação aos filhos (adolescentes) nas Cartas


“E vós, pais, não provoqueis vossos à ira, mas criai-os na disciplina e naadmoestação
do Senhor” (Ef 6.4, ARA).
Neste texto está em foco a criação de filhos, a responsabilidade que têm os pais de
criar seus filhos dentro do caminho cristão, desde a infância até à maturidade. E as palavras
seguintes definem a natureza dessa criação dos filhos: disciplina, admoestação e do Senhor.
Champlin(1979, p. 639) afirma que em sentido ainda mais amplo, a palavra disciplina
tem sido usada para significar «educação», isto é, tudo quanto concorre para o
desenvolvimento mental, moral e do caráter da criança; e entender a palavra admoestação no
seu sentido geral de «instrução», o que inclui, necessariamente, tanto um aspecto negativo
como positivo. Devemos compreender aqui palavras aconselhadas que visam «correção», mas
também ensino e treinamento positivos. Portanto, encontramos neste versículo treinamento e
disciplina em forma de «ação» («paidaia») e em forma de «palavras» («nouthesia»), termo
que indica tanto encorajamentos como repreensões em forma de palavras.
Segundo Adam Clarke (1825, p. 432) “«Nouthesia»: ‘instrução’. Pode subentender
tudo quanto é necessário para a formação da mente; ensinar, regulamentar e purificar as
paixões; e, necessariamente inclui toda a formação religiosa”.
Seguindo a linha do texto podemos perceber que é uma autoridade eclesiástica
ensinando os pais, para que estes ensinem seus filhos. É responsabilidade da Igreja cumprir
com a Grande Comissão de maneira pedagógica e didática por meio do magistério da Palavra
de Deus, a fim de conduzir os pais à maturidade e os capacite, para que nessa união de forças,
discipulem os filhos até conduzi-los à maturidade – sendo capazes de viver no mundo.
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Esse treinamento deve estar alicerçado sobre o seguinte fundamento: “No Senhor”,
isto é, um treinamento que pertence a Cristo, tendo sido prescrito por ele, sendo administrado
em seu nome, sob a sua autoridade.

2.2.3. Educação Cristã nos dias dos Pais da Igreja


Ao estudarmos a influência da educação cristã na formação do ser humano faz-se
necessário reconhecer que o homem é um ser histórico. E ao longo da história, muitos factores
foram influenciando sua formação.
Pais da Igreja (Santos Padres ou Pais da Igreja) foram influentes teólogos, professores
e mestres cristãos e importantes bispos. Seus trabalhos acadêmicos foram utilizados como
precedentes doutrinários dos séculos vindouros.
Não é nossa intenção falar de modo exaustivo ao ponto de esgotar o pensamento dos
Pais da Igreja sobre a educação cristã, muito menos falar de todos eles. Nos cingiremos
apenas nos primeiros Pais, aqueles que mais ressaltaram a educação cristã. Deste modo,
seguiremos a seguinte linha: Clemente de Roma, Policarpo, Carta de Barnabé, O pastor, de
Hermas, Didaquê e Tertuliano.
Em seguida, precisamos fazer referência ao ambiente em eles actuaram a fim de
percebermos a relevância de seus escritos e acções, a fim de que sejamos capazes de fazer a
transição para os nossos dias de modo adequado. Lopes (2010, p.68) nos ajuda a criar o
cenário de seus dias nas seguintes palavras:
“É bom lembrar que, no período em que viveram os primeiros pais da Igreja, eles
estavam cercados de falsos evangelhos e de ataques de céticos pagãos. Seus escritos seguiam
o modelo dos escritores neotestamentários, os quais, ao se reportarem às comunidades cristãs,
intentavam atender às circunstâncias imediatas das dificuldades enfrentadas por aqueles
irmãos; dessa maneira, tais escritos deveriam servir à instrução e exortação das igrejas e,
portanto, deveriam ser lidos, transmitidos e colecionados”.
Esses homens têm semelhança com os profetas em seus modos operandi, pois
conheciam a realidade de seu tempo, interpretavam as entrelinhas do seu conteúdo e impacto
e então, apresentavam respostas adequadas para estabelecer uma conduta correcta. Em outras
palavras, eles eram sensíveis ao contexto e fiéis ao Evangelho.
A) Clemente de Roma
Há poucas informações sobre a formação e vida de Clemente de Roma. O que se sabe
é que ele foi o terceiro sucessor de Pedro em Roma e que ele foi seguidor dos apóstolos na
tarefa de evangelizar e ensinar. Sua carta escrita de Roma à igreja em Corinto é comumente
45

chamada 1ª Clemente, escrita com intuito de exortar os jovens que se haviam rebelado contra
a autoridade dos presbíteros. Eis suas palavras:
“criemos nossos filhos no temor de Deus, guiemos nossas mulheres pelo caminho
certo [...]. Deixemos nossos filhos participarem do ensino de Cristo. Deixem-lhes aprender
como Deus se agrada da humildade e do amor puro, como o temor de Deus é bom, grandioso,
e salva os que nele vivem em santidade e mente pura” (Carta de Clemente, Cap IV, p.14).
Compreende-se em Clemente que os pais e a igreja devem dedicar-se à árdua
responsabilidade de criar os filhos, não na mera religiosidade, não numa moralidade fria, mas
num temor vivo a Deus, devem envolver os adolescentes nos negócios do reino, criar
condições favoráveis para que eles percebam o quanto Deus se agrada do carácter cristão e
gozem assim, de sua salvação.
B) Policarpo de Esmirna
Policarpo chegou ainda a ver e ouvir, na sua juventude, o apóstolo João, que o investiu
no cargo de bispo de Esmirna. Policarpo, estava preocupado em fortalecer a vida diária
prática dos cristãos. É com essa perspectiva que ele evidenciou sua preocupação com a
educação cristã:
“Em primeiro lugar, ensinemos a nós mesmos a andar nos mandamentos do Senhor.
Depois, ensinem suas esposas a andar na fé que receberam, e de modo puro e terno a amarem
seus maridos e outras pessoas com toda a castidade, educando os filhos no caminho de Deus”
(Carta de Policarpo aos Filipenses, p. 2).
A preocupação de Policarpo era que mais que descarregar um monte de informações
aos ouvidos dos filhos, os pais deveriam ser exemplos em tudo o que diziam e faziam, para
que seus filhos aprendessem deles através de suas palavras e actos. A educação deveria ser
intencional, activa e passiva. Mantém-se esse imperativo até aos nossos dias.
C) Carta de Barnabé
Essa carta é geralmente conhecida como Pseudo-Barnabé, por ter sido escrita por
outro, e não pelo Barnabé do Novo Testamento. Vale destacar que uma carta considerada
digna de leitura por aqueles cristãos mostra a relevância da educação cristã, quando assinala:
“Não mate seu filho, abortando; também, não o destrua, depois de nascido. Não retire sua mão
de seu filho ou sua filha, mas ensine-os a temer o Senhor desde a infância” (Carta de Barnabé
Cap. 19, p. 18).
Vê-se uma progressão de idéia na abordagem de Barnabé que é bem contextual aos
nossos dias onde o aborto é tão acentuado, mas ele se opõe a isso; alguns, talvez, se
contentem por não terem matado seus filhos abortando, mas os estão matando privando-os da
46

educação e disciplina, transferindo essa responsabilidade à escola e conferindo-lhe poder e


privilégios que eles (os pais), deveriam estar exercendo e gozando. O ensino no temor do
Senhor deve começar na infância e seguir até a idade adulta.
D) Didaquê
A Didaquê, ou Doutrina dos doze apóstolos, é um compêndio de preceitos morais, de
instrução sobre a organização das comunidades, sobre a oração, o jejum, a ministração do
batismo e a celebração da comunhão.
Assim diz a Didaquê: “Não se descuide de seu filho ou de sua filha; pelo contrário,
instrua-os desde a infância no temor de Deus” (Didaquê Cap. IV, p. 2).
Sendo assim, notamos que a educação cristã tem como fundamento o lar e que a igreja
passou a complementá-la, sobretudo quando o fiel desejasse se tornar membro da igreja. A
globalização, o avanço tecnológico e a filosofia narcisista e consumista dos nossos dias são
punhos de ferro que fazem frente a esse princípio chave, razão pela qual, muitos pais se
descuidam de seus filhos, além da desobediência à Lei de Deus, está a negligência de que o
ser humano se constrói e desenvolve com conhecimento, e quanto mais todo o conselho
eterno de Deus.
E) O Pastor de Hermas
O texto a ser mencionado, a seguir, é O pastor, de Hermas, que, além de preciosos
ensinos doutrinários, narra a triste sorte de um pai que se eximiu da responsabilidade de
educar seu filho no temor do Senhor.
Já que sua preocupação era com a prática doutrinária do cristianismo, preocupou-se
também em evidenciar a educação cristã, principalmente ao deixar registrado um alerta, em
forma de ilustração, aos pais que descuidam de ensinar a seus filhos o caminho e o temor do
Senhor. O objetivo de Hermas era provocar arrependimento nos pais que assim procedessem.
“Hermas, seus filhos desprezaram a Deus, blasfemaram o Senhor, traíram seus pais com
grande maldade” (Pastor de Hermas Cap. 3 e 6, pp. 2, 4).
Hermas deixa claro que o resultado do descuido na educação dos filhos no caminho e
temor de Deus são desprezo e blasfêmia a Deus, e traição à família com grande maldade. Fica
claro também que a educação é um agente regulador da perversão humana e a vara para
direcioná-lo no caminho certo.
F) Tertuliano
QuintusSeptimusFlorensTertullianus (Tertuliano), foium dos principais apologistas da
Igreja ocidental. Desenvolveu uma sólida concepção teológica e refutou as falsas concepções
filosóficas pagãs que se opunham ao cristianismo.
47

Para que a criança fosse imunizada, era apresentada a educação cristã, oferecida pela
família e complementada pela igreja, haja vista que, se a criança tivesse sua consciência
religiosa cristã, devidamente esclarecida e enraizada nos ensinos cristãos, ela saberia efetuar
as correções e as distinções necessárias relativas aos ensinos de Homero, o poeta, e as outras
fábulas (Lopes 2010, p. 90).
Tertuliano contrapõe a errada atitude de oferecer uma fé cega, de impor uma
moralidade fria – uma religião morta, porque ela seria enterrada, logo, no esquecimento. Por
isso, para fazer frente às tenebrosas sombras da filosofia pagã, era necessário criar nas
crianças e adolescentes, uma consciência que fosse capaz de argumentar a razão de sua fé,
efectuar as correcções às atitudes de seu contexto e fazer distinções das filosofias propagadas
onde quer que seja.
2.3. Abordagem Cristã da Educação

2.3.1. Definição de Educação Cristã


Segundo Reis (2006) Educação Cristã é o reforço divino-humano deliberado,
sistemático e contínuo de comunicar ou apropriar-se do conhecimento, valores, atitudes,
habilidades, sensibilidades e o comportamento que constituem ou são consistentes com a fé
cristã. Apoia a transformação e a renovação de pessoas, grupos e estruturas pelo poder do
Espírito Santo para conformar-se a vontade de Deus.
Lopes comenta que isso significa “ler as áreas do conhecimento humano, tais como as
ciências agrárias, biológicas, da saúde, exatas e da terra, humanas, sociais aplicadas,
engenharias, lingüísticas, letra e artes, e outras, pelo referencial teórico ou “lente” das
Escrituras Sagradas, a fim de que, no aspecto prático, seja visado não só o benefício do aluno,
mas que este encontre a verdade, tenha comunhão e ame ao Criador” (2010, p. 112).

2.3.2. O propósito da Educação Cristã


Urge a necessidade de questionarmos o fim último do nosso engajamento no processo
educacional a fim de não errarmos o alvo e, por outra, nos mantermos firmes e fiéis no
caminho certo, de modo a trabalharmos com excelência e alcançarmos o resultado
proporcional a ele.
O Catecismo Maior de Westminster em resposta à pergunta 1 diz: “o fim supremo e
principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”. Este é o princípio
célebre que deve nortear toda nossa energia e habilidades, gastar nosso tempo e dedicação no
ministério do ensino.
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Se concordarmos que este é nosso objetivo último na educação cristã, então isso irá
mudar a forma como ensinamos as Escrituras. Iremos ensinar não apenas para que os
membros em nossas igrejas aprendam o conteúdo bíblico, mas também para que eles venham
a ter uma relação com o Autor da Bíblia. Nós não iremos apenas ensinar para que eles
aprendam mais sobre Deus, mas para crescerem em sua relação com Deus. Só deste modo a
educação cumprirá sua tarefa de permitir o homem de facto conhecer Deus, a si mesmo e ao
mundo.

A) Fundamentos da abordagem da Educação Cristã


Para maior qualidade no exercício educativo, é necessário que construamos um
mosaico que representa os principais fundamentos que constituem a Teologia da Educação,
ainda que de forma panorâmica, isto é, não sendo exaustivo ao ponto de exaurir todo o
assunto. Segundo Lopes (2010, p. 112, 129, 133, 135, 140), são estes os fundamentos:

➢ Centralidade da Bíblia
Na abordagem cristã da educação, o livro didático é a Bíblia, pois, nessa abordagem,
encontramos a fonte primária e o único critério inerrante das verdades absolutas. Ela,
portanto, é a “lente” ou o referencial teórico por meio do qual devemos enxergar as mais
diversas ações da existência humana. O que significa que o adolescente deve ser treinado ao
ponto de examinar todas as coisas à luz das Escrituras.
Sendo a Bíblia o centro da educação, ela por sua vez, expõe e imprime a necessidade,
responsabilidade, poder e finalidade dela. Daí que Lopes (2010, p. 128) apresenta a seguinte
conclusão sobre o estudo das palavras que expressam tal verdade:
“O objetivo do escritor bíblico ao utilizá-los não é o de discutir princípios teóricos educacionais; antes, tem
a finalidade de ensinar ao povo, desde a mais tenra idade, como agradar a Deus e, ao agradar-lhe, receber
suas ricas bênçãos. Ressaltamos ainda que o conceito bíblico de educação se fundamenta nos seguintes
princípios: 1) A Bíblia é o livro didático que deve nortear todo o conteúdo educacional, de maneira que o
mestre cristão deve estar consciente de que sua tarefa é ensinar a doutrina bíblica. 2) Deus é apresentado na
Bíblia como educador, do qual deriva toda a autoridade dos demais educadores. 3) Jesus é apresentado como
o Mestre, do qual todos os demais só podem ser discípulos. 4) A educação tem como finalidade conduzir o
homem ao temor, ao amor e a ensiná-lo a guardar as ordenanças de Deus. 5) A educação prioriza a
responsabilidade dos pais. Notamos, por fim, que há pouca preocupação com a formação de instituições
escolares, no texto bíblico, justamente porque a família deveria ser o centro da educação bíblica”.

➢ Doutrina de Deus
49

Muito esforço, trabalho árduo tem sido feito para se entender o ser humano, isto é,
como ele aprende, como se desenvolve e a razão pela qual ele reage de uma forma e não de
outra, mas não tem havido esforço igual para entender a natureza de Deus que nós servimos e
cujas características devemos imitar. Não é de admirar que nossa fé seja frequentemente tão
frágil e nossa adoração não inspirada. A medida e conteúdo que compõem o nosso
entendimento de Deus se reflecte de modo proporcional ao que fazemos na educação.
Por isso, dentro da abordagem da Educação Cristã é imperativo enfatizar, explicar e
aprofundar o conhecimento de Deus através de seus atributos incomunicáveis (atributos que
enfatizam o ser absoluto de Deus, perfeições que somente podem ser encontrados no ser de
Deus), atributos comunicáveis (aqueles que Deus compartilha com o homem, embora em
Deus sejam perfeitos, e imperfeitos no homem).
Isso implica numa exposição do ser de Deus de modo que eles conheçam sua essência
e seus actos poderosos, de modo que não pensem nele como se fosse um pedaço de madeira, e
orientá-los a transformar cada uma das verdades sobre Deus em assunto de meditação diante
de Deus, que os conduza à oração, ao louvor e vida piedosa, pois o povo que conhece o seu
Deus tem grande força por Ele, tem grandes idéias d’Ele, são ousados por Ele e têm grande
alegria n’Ele.

➢ Doutrina do Homem
Além do esforço em compreender todos os mecanismos que dizem respeito ao
exercício humano, da sua capacidade cognitiva às suas atitudes e reações, é necessário ir além
para que se conheça sua essência, como imagem e semelhança de Deus (aquele que carrega
vida, sentido e razão), dotado com a capacidade de aprender, pensar e assumir as
responsabilidades relativas às decisões a serem tomadas no decorrer de sua vida; tendo
dignidade e excelência acima de toda criação, sendo-lhe atribuído o privilégio de se relacionar
com o Criador e de usufruir das bênçãos advindas desse relacionamento.
Além dessa compreensão, é necessário que se apresente o lado obscuro e tenebroso
não apenas da história, mas também de sua natureza como o ser cujo coração foi pervertido o
coração a fim de que se lhe apresente a mensagem da salvação, como sendo carente de um
salvador e tendo esse Salvador apenas em Jesus Cristo. Ao lado disso, precisa-se asseverar o
seu compromisso social tanto com a criação que é seu lugar de atuação quanto com as
ciências que brotam ao lado da teologia.
50

➢ Doutrina da Salvação
Deus não apenas revelou seu ser e plano na Criação e nas Escrituras, mas também na
Encarnação. No estudo que trata a respeito da salvação, a abordagem cristã da educação
destaca que Cristo é o redentor e o representante legal dos que lhe pertencem, porque cumpriu
sua obra que se fundamenta em três princípios: o ofício profético, o ofício sacerdotal e o
ofício real. Isso implica na proclamação da única mensagem que tem poder para salvá-los,
desde que se deixe claro a responsabilidade humana de se apossar dela pela fé e
arrependimento genuíno. Essa mensagem precisa ser aplicada em suas vidas.

Essa verdade não apenas estabelece o ser, papel e a obra de Cristo, no que diz respeito
ao que ele fez e faz, e o que representa seu reino (base doutrinal), mas também nosso
compromisso com Ele e com Seu reino (base prática). Por isso, a abordagem cristã da
educação deve também estar comprometida com o âmbito social, ou seja, no mundo injusto
em que vivemos, somos vocacionados a ser uma comunidade de pessoas comprometidas com
os valores do reino de Cristo, a nos preocuparmos com a sociedade e a proclamar o juízo de
Deus sobre os que persistem em adorar os deuses do poder e do amor-próprio egocêntrico.

➢ Bênção Comunitária
Schipani e Wachs (1975, p. 246) concebem que “a educação cristã tem a tarefa
formativa que a igreja realiza com seus membros no sentido de habilitá-los a participar da
vida e dos compromissos de sua respectiva comunidade”.
A abordagem da educação cristã não tem como finalidade só habilitar o cristão a
exercer seus direitos e deveres em sua comunidade; pelo contrário, já que é a abordagem que
permite ao homem conhecer de fato Deus, a si mesmo e o mundo, ela deve objetivar
influenciar a sociedade na busca pela finalidade última da educação, que é Deus.
Na prática significa, influenciar o mundo ao seu redor, o que exige o treinamento do
cristão até à maturidade, a fim de que esteja pronto para a sociedade. Tal coisa, nos lembra a
Oração Sacerdotal do nosso Mestre: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes
do mal” (Jo 17.15).
Lopes (2010, p. 140) afirma que na hermenêutica de Bruce, a tônica dessa oração
intercessora recai no princípio da “obrigatoriedade da consciência, do cristão, de que ele não
deve se isolar do mundo, mas, pelo contrário, agir no mundo, e que só assim cumprirá as
palavras de Jesus de que somos sal e luz do mundo” (Mt 5:13-14).
51

Eles precisam ser treinados para serem relevantes em seu contexto, podendo ser canais
de bênção aos seus contemporâneos, sendo exemplos em seu modo de viver, sendo uma tocha
acesa em meio às trevas, dando sabor em meio à contaminação que consome tudo, proclamem
a vinda do reino de Cristo e a esperança de um mundo perfeito futuro.

2.4. O Poder do Ensino Bíblico-Teológico


De tudo sobre o que discorremos, vemo-nos sob tentação de pensarmos apenas
nadureza e no fardo pesado posto aos nossos ombros; vemos como agentes condenados pelo
facto da grandeza e da excelência que o trabalho exige; enorme tristeza toma nossos corações
pelo facto de a obra parecer simplesmente impossível e pode imprimir em nós uma força bruta
e irracional de querermos realizar esse ministério por todos os meios até mesmo, os errados,
na esperança de obtermos tais resultados.
Diante disso, precisamos reconhecer que Deus opera através de processos naturais de
maneira sobrenatural, que é sua a obra, é seu o poder e sua a glória. Ele se responsabiliza pela
sua realização mais do que nós nos preocupamos e desejamos vê-la cumprida.
O poder do ensino bíblico-teológico reside na intervenção de Deus em todo o
processo, desde o princípio até ao fim (Fl 1.6), Deus usa-nos como seus instrumentos nesse
ministério de evangelizar e ensinar o ser humano até à maturidade atuando em demonstração
de Espírito e de poder (I Co 2.4), porque não é por poder (humano), força nem por violência
que a Palavra de Deus penetrará no homem para transformar vidas (Zc 4.6). Razão pela qual
Richards (1983, p. 254) afirma as seguintes palavras:
“Sem Jesus e a atuação do Espírito Santo nenhuma vida inspiraria o coração crente; nenhum ministério
seria concedido ou recebido, não haveria transformação. Sem Jesus e a atuação do Espírito Santo o
modelo de fé nunca estimularia a determinação do discípulo em imitá-lo. A eficiência de qualquer
ministério, no fim, depende da graça soberana; da determinação de Deus de tocar-nos, de nos trazer a
ele como seus filhos, e de supervisionar nosso crescimento, já que somos crianças”.
Perry Downs conclui com as seguintes idéias: tem de haver uma intervenção
sobrenatural em nosso ministério para que vidas sejam tocadas. A educação é uma parceria
entre Deus e o educador para a transformação integral do cristão até à conformação com
Cristo.

2.4.1. Conversão dos Adolescentes


Se tomarmos por certas essas verdades, não veremos nenhum problema em admitir
não apenas a possibilidade, mas também a realidade e a experiência de conversão dos
52

adolescentes, eliminando assim a descrença quanto à sua salvação, o que nos moverá para um
ministério transformador de adolescentes.
Segundo Eckert (2013, p. 67), um dosfactores que merece destaque, quanto ao
ministério com adolescentes, “é o desinteresse”, diríamos também negligência,“da igreja ou
de alguns líderes em investir no adolescente por ele ser rotulado como trabalhoso, inquieto e
desobediente”.
Talvez as outras razões que geram tal atitude seja a cosmovisão das crises da
adolescência que gera a inconstância e a mutabilidade rápida de emoções, atitudes e
ideologias. Essas crises geram dúvidas (movidas pelo imperativo da formação de identidade),
rebelião (movido pelo imperativo da formação da autonomia moral) e sentimento de culpa
(resultante da combinação dos dois aspectos anteriores, mas com maior ênfase e reflexão no
âmbito sexual).
Cremos que seja essa ideologia que por outro lado, fertiliza a semente da teologia da
não conversão do adolescente. Mas o que realmente não se percebe é que todas essas crises
fazem da adolescência a idade propícia da conversão religiosa.
A fé deve ser percebida tanto como dinâmica e processo estruturado, ou seja, como
uma realidade humana fundamental, quanto como dom de Deus e resposta de fidelidade à
graça divina (Jo 3.16). Sendo assim, não está em nosso poder definir quem se salva e não; não
somos nós que geramos salvação (Jo 1.13), a salvação pertence ao Senhor.
Nós cremos que o adolescente possui todas as condições cognitiva, afectiva e volitiva
para compreender os pressupostos básicos que constituem a doutrina da salvação (santidade
de Deus, a pecaminosidade da raça humana, os requerimentos da justiça divina e o sacrifício
vicário de Cristo), para abraçar a fé (renunciar o pecado e depositar sua confiança em Cristo)
e desenvolver sua fé até alcançar a maturidade.
Perry Downs afirma quanto à salvação de crianças, o que pensamos que se diz respeito
também aos adolescentes: “Se o ensino é um processo contínuo na vida de nossos filhos, não
temos de dizer quando a regeneração aconteceu. Antes, nós devemos continuar a ser
obedientes à nossa responsabilidade de ensinar as crianças na fé. Devemos lembrar que nossa
tarefa é ensinar, e a de Deus é regenerar” (2001, p. 259).
Tudo isso leva-nos a concluir que ainda que se adopte princípios para a função da
Educação Cristã tais como: modelo, ou exemplo; relações interpessoais; contextualização;
discipulado e organização (programa educacional), bons métodos e teologia pura não são
suficientes para a salvação, transformação integral e edificação do crente se não contar com a
53

intervenção divina na pessoa do Pai, Filho e Espírito Santo. Fora disso, nossa obra está
condenada a falir antes mesmo de começar. Deus tem a palavra final.

2.5. Síntese do capítulo


Por meio da abordagem que fizemos neste capítulo, podemos extrair as
seguintesconclusões:
Tanto o Antigo como o Novo Testamentos, na era dos Pais da Igreja, Deus impôs a
responsabilidade do ensino aos pais, podendo fazê-lo por meio de seu exemplo de vida, das
relações interpessoais e da contextualização. O ensino aos filhos deveria ser um processo
natural e contínuo. O ensino assegura o desenvolvimento integral do indivíduo e a bênção
comunitária. O lar tinha um valor insubstituível. Os adolescentes devem ser habilitados a
viver de modo digno a sua fé num contexto globalizado, de hostilidade e de desintegração
moral. Deus é o autor e consumador de toda a obra da salvação.

CAPÍTULO – III

COMPREENDENDO A REALIDADE DO ADOLESCENTE NO SEU CONTEXTO

Neste capítulo trataremos os resultados da pesquisa empírica sobre Educação de


Adolescentes: Uma abordagem Bíblica, Teológica e Prática. A pesquisa foi realizada em uma
província, Huíla na cidade do Lubango. Em termos eclesiásticos, trabalhamos com as
54

seguintes denominações: IEIA (Igreja Evangélica dos Irmãos em Angola), UIEA (União de
Igrejas Evangélicas em Angola) e CBA (Convenção Batista de Angola), na cidade já
mencionada. A devida escolha das denominações já foi justificada na parte introdutória deste
trabalho.

3.1. Características dos inquiridos e entrevistados


A pesquisa foi realizada na província da Huíla, concretamente na cidade do Lubango.
Foram entrevistados 10 adolescentes em cada igreja, 1 pastor e 2 pais em cada igreja local
dessas denominações, fazendo assim um total de 142 irmãos. Passamos em 4 congregações da
IEIA, 4 da União e 3 da CBA. Destes números dos inqueridos, entrevistou-se 10 pastores, e
22 pais e 110 adolescentes, tanto do sexo feminino quanto masculino, cuja idade varia dos 14
aos 60 anos, com tempo de membrasia dos 5 a 45 anos; quanto ao nível de escolaridade vai do
ensino médio ao mestrado; como se lê no seguinte quadro:
Local Inqueridos Gênero Idade Membrasia Escolaridade
Huíla – 142 Masculino e 14-60 5 a 45 Ensino
Lubango Feminino médio ao
Mestrado

Com intuito de se manter em confidência a identidade dos entrevistados e inqueridos,


estabelecemos um critério de distinção por sexo, idade, igreja e membrasia. Sendo assim, os
Adolescentes serão representados pela letra A, os Pais pela letra P e os Pastores por Pr
negritado. A igreja IEIA será representada por 1, a UIEA por 2, a CBA por 3 e o gênero pelas
letras iniciais, F para feminino e M para Masculino.

3.2. Análise dos resultados obtidos


Questionário de entrevista e inquérito dirigido aos Adolescentes, Pais e Pastores da
igreja da província da Huíla município do Lubango. Para obtenção de resultados de dados da
pesquisa, serão representados por tabelas e títulos, a fim de compreendermos a realidade da
educação de adolescentes no seu contexto.
1. Quais são os desafios mais enfrentados pelos adolescentes?
Dos 110 adolescentes inqueridos e entrevistados 99 que correspondem a 90%
responderam à pergunta e 11 que correspondem a 10% não responderam à pergunta. Dos 22
pais entrevistados e inqueridos 20 que correspondem a 91% responderam à pergunta e 2 que
correspondem a 9% não responderam à pergunta. Dos 10 pastores entrevistados os 10 que
55

correspondem a 100% responderam à pergunta. Abaixo estão as diversas respostas


apresentadas por cada grupo sobre os desafios do adolescente:
Adolescentes: transformações físicas, auto-aceitação, domínio dos impulsos sexuais,
assédio, bullying; intimidação, enquadramento no grupo e na sociedade, substâncias nocivas,
rejeição, respeito à lei civil; crise emocional, desorientação mental, autonomia moral, dúvidas
sobre as crenças; integridade, experiência com o sagrado, rebeldia e confrontação, zombaria e
exclusão.
Pais: transformações físicas, relações interpessoais, identidade; acompanhamento.
Pastores: transformações físicas, gerência da vasta de informações e construção da
personalidade; rejeição, condições precárias e as redes sociais; comportamentos de risco,
relacionamentos precoces e virtuais, enquadramento e gerência das emoções; desvio moral,
ocultismo, ventos doutrinários e enquadramento.
Tantos os As, os Ps e Prs, das igrejas 1, 2 e 3, provaram pelas respostas acima
apresentadas que conhecem a realidade do adolescente e o seu contexto. Eles são
conhecedores tanto das lutas internas e externas que os adolescentes têm de enfrentar na era
contemporânea ou globalizada. Os dados apresentam que a maior parte dos 3 grupos são
conhecedores dos desafios dos adolescentes, o que constitui uma base fundamental para a
intervenção dos pais e da igreja no devido direcionamento para enfrentarem os problemas que
os acometem, superarem suas crises e se potencializarem até à maturidade ao enfrentarem de
modo correcto cada um dos desafios. Na mesma base, os adolescentes são capazes de
apresentarem seus desafios diários às duas entidades citadas para que haja qualidade no
acompanhamento e, consequentemente, feito isso, o resultado será um desenvolvimento
saudável e integral do adolescente.
2. Quais são as necessidades dos adolescentes?
Dos 110 adolescentes entrevistados e inqueridos, 95 que correspondem a 86%
responderam à pergunta e 15 que correspondem a 14% não responderam à pergunta. Dos 22
pais inqueridos e entrevistados. Dos 10 pastores entrevistados 10 que correspondem a 100%
responderam à pergunta. Abaixo estão as diversas respostas apresentadas por cada grupo
sobre as necessidades dos adolescentes:
Adolescentes: orientação sexual, comunicação, ajuda na imagem corporal, interação
social, encorajamento, compreensão, modelos de vida, orientação para lidar com as pressões,
companhia, formação de carácter, pregações contextuais, envolvimento e acolhimento.
Pais: acompanhamento e orientação.
56

Pastores: educação, ajustamento da sua imagem corporal e princípios claros;


enquadramento, espaço de actuação, acolhimento e respostas adequadas aos seus
questionamentos; afecto, aceitação, companhia de pessoas experimentadas; pastor de
adolescentes, mentoria, material apropriado para seu ensino e experiência com Deus.
Tantos os As, os Ps e Prs, das igrejas 1, 2 e 3, provaram pelas respostas acima
apresentadas que conhecem os elementos que constituem o núcleo das carências do
adolescente para seu desenvolvimento normal e seu bem-estar integral. Os dados apresentam
que a maior parte dos 3 grupos são conhecedores das necessidades dos adolescentes.
Tendo tal conhecimento, cremos cabalmente, que os pais e a igreja estão em altura de
responder as necessidades dos adolescentes em todos os âmbitos que o constituem e de acordo
o ambiente e as condições que se encontram. Cremos que se a igreja e os pais se engajarem
com afinco em satisfazer (praticarem o que conhecem), poderão responder aos anseios dos
adolescentes, o que resultará na minimização do comportamento de risco.
3. O que os pais e a igreja estão fazendo para responder às necessidades e desafios
dos adolescentes?
Dos 110 adolescentes entrevistados e inqueridos, 90 que correspondem a 82%
responderam à pergunta e 20 que correspondem a 18%. Dos 22 pais entrevistados e
inqueridos 22 que corresponde a 100% responderam à pergunta. Dos 10 pastores
entrevistados 10 que corresponde a 100% responderam à pergunta. A conclusão de suas idéias
são as que descrevemos à baixo de acordo cada grupo:
Adolescentes: orientação sexual, ética e etiqueta, investimento social, ajuda no
enquadramento social, orientação moral, liberdade de expressão, segurança, ajuda na
resolução de problemas e na tomada de decisões, formação de carácter, orações, respostas às
dúvidas e actividades recreativas.
Pais: alimentação, educação acadêmica, ética e etiqueta, alerta sobre os perigos da
sociedade, conselhos sobre escolhas certas, enquadramento na igreja e ensinos bíblicos.
Pastores: cultos de adolescentes, actividades recreativas, turmas específicas (EBD,
GBC, GBA), formação de grupos específicos (música, pantomima, teatro) e discipulado.
Tantos os As, os Ps e Prs, das igrejas 1, 2 e 3, provaram pelas respostas acima
apresentadas que os pais e a igreja têm se engajado de alguma forma para suprir as
necessidades gritantes dos adolescentes e os capacitarem a enfrentar as lutas internas e
externas que os afligem e circundam. A assistência e intervenção dos pais e da igreja precisa
crescer à medida que elas aumentam com o tempo, e empreender forças e recursos ainda
57

maiores para mitigar cada uma das situações, ou melhor, capacitar os adolescentes para que
respondam de modo assertivo cada um dos desafios de sua fase.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P Pr Total %


4. De quem é a responsabilidade de Pai 25 5 0 30 21%
ensinar os adolescentes? Igreja 0 0 0 0 0%
Escola 3 0 0 3 2%
Todos 82 17 10 109 77%
Número total da amostra 142 100%

A questão número 4 como podemos ver na tabela nº 1, foi dirigida aos Adolescentes,
Pais e Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 77% dos entrevistados e inqueridos
afirmaram que a responsabilidade de ensinar os adolescentes é de todos, sendo portanto, a
responsabilidade repartida pelas determinadas estruturas sociais cada uma na sua arena de
actuação, no entanto, 21% afirmou que a responsabilidade é de todo dos pais. Concluímos,
pela quantidade dos dados que os As, os Ps e Pstomam por certo ser a responsabilidade do
ensino ser de todos.
Isso significa que cada uma das estruturas sociais mencionadas deve cumprir
cabalmente sua responsabilidade, não havendo, portanto, fuga de responsabilidade, atribuição
ou transferência da responsabilidade e privilégios na educação integral dos filhos, e isso com
certa intencionalidade, amor e entrega nesse ministério poderoso de transformar homens e
mulheres no mundo.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P Pr Total %


5. De quem é a prioridade na Pai 67 22 10 99 70%
responsabilidade de ensinar os Igreja 5 0 0 5 3%
adolescentes? Escola 3 0 0 3 2%
Todos 35 0 0 35 25%
Número total de amostra 142 100%

A questão nº 5 como podemos ver na tabela nº 2, foi dirigida aos Adolescentes, Pais e
Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 70% dos entrevistados e inqueridos
58

afirmaram que a prioridade na responsabilidade de ensinar os adolescentes é dos pais, sendo


portanto, acentuada a responsabilidade dos pais, no entanto, 25% afirmou que a prioridade da
responsabilidade é de todos, insistindo na ideia de responsabilidade repartida. Concluímos,
pela quantidade dos dados que os As, os Ps e osPrstomam por certo serem os pais os agentes
primevos e de maior a responsabilidade no ensino dos adolescentes.
Os pais por serem os progenitores e a primeira estrutura social que a criança conhece
tem a prioridade na educação dos filhos, criando todas as bases necessárias para sua
adaptação, integração, desenvolvimento e extensão de suas potencialidades e faculdades.
Embora conte com a participação da igreja e da escola, como agentes
complementadores desse processo, não deve reduzir sua acção, nem tampouco, negligenciar
sua participação e cumprimento de uma das grandes funções que deve exercer na vida de seus
filhos.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P P Total %


6. Os pais e a liderança da igreja têm Sim 80 12 9 101 71%
provido instrução aos adolescentes? Não 30 10 1 41 29%

Número total de amostra 142 100%

A questão nº 6 como podemos ver na tabela nº 3, foi dirigida aos Adolescentes, Pais e
Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 71% dos entrevistados e inqueridos
afirmaram que os pais e a igreja têm provido instrução sexual aos adolescentes, sendo
portanto, uma de suas grandes necessidades supridas e uma de suas maiores lutas no domínio
de instintos sexuais sendo orientada e capacitados a fazer frente às seduções do seu contexto,
contudo, 28% afirmou que tanto os pais quanto as igrejas não têm provido instrução sexual,
sendo portanto, os adolescentes abandonados à sua própria sorte. Concluímos, pela
quantidade dos dados que os As, os Ps e Prs que tanto os pais os quanto a igreja têm provido
instrução sexual aos adolescentes.
Dos 71%entrevistados e inqueridos, 40% afirmou que quanto à frequência tem sido
anual, isto é, às vezes, e 20% afirmou que quanto à frequência tem sido semanal, 10%
afirmou que tem sido mensal e 1%, afirmou ser diário.
59

Com base nos dados apresentados, pode se perceber que existe, de certo modo, alguma
preocupação dos pais e da igreja em ensinar sobre sexualidade aos filhos, mas os 28%
revelam, por outro lado, que existe certa timidez nessa educação sexual, além da falta ou
ausência da mesma. Sendo esta, uma questão com a qual o adolescente mais se debate, uma
vez que as transformações físicas que sofre se dão maioritariamente nesse aspecto e manifesta
de modo nítido e acentuado, é necessário que se não negligencie a necessidade de uma
orientação sexual adequada, não apenas para evitar comportamentos de risco, mas também
para o conhecimento pessoal, tomada de medidas preventivas e de higiene, além da
construção de sua identidade e moralidade autônoma. Tudo começa na mente, e a mente que
deve ser conduzida para que seu curso seja recto.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P Total %


7. Os pais têm um plano intencional (de Sim 35 4 39 29%
prevenção) de ensino aos adolescentes Não 20 0 20 15%
ou reagem apenas às sictuações RSP 55 18 73 56%
pontuais?

Número de amostra 132 100%

Legenda: abreviamos reagem às situações pontuais para RSP. Essa pergunta foi
dirigida aos pais e adolescentes com excepção dos pastores.
A questão nº 7 como podemos ver na tabela nº 4, foi dirigida aos Adolescentes, Pais e
das referidas igrejas, a resposta revela que 56% dos pais reagem às situações pontuais, não
havendo, portanto, um plano intencional que sirva de prevenção no ensino aos adolescentes,
no entanto, 29% afirmou que os pais possuem um plano intencional para o ensino de seus
filhos. Concluímos, pela quantidade dos dados que os As, os Ps e os Prs que os pais reagem
apenas às situações pontuais para o ensino de seus filhos adolescentes.
Com base nos dados, fica claro que a reação dos pais é apenas às situações que são
visíveis aos seus olhos, no entanto, aquelas que são clandestinas permanecem escusáveis de
uma intervenção. Vê-se nisso certa negligencia nos efeitos que um ensino contínuo é capaz de
60

provocar, e por outra, um grande perigo para a vida dos adolescentes, pois que, a
possibilidade de desvio se torna maior, por causa de sua vulnerabilidade. Há toda uma
necessidade na mudança de paradigma para fazer frente a esse quadro sinistro.

Pergunta direccionada aos entrevistados e Alternativas A Total %


inqueridos
8. Com quem você aprendeu sobre Pais 30 30 27%
sexualidade pela primeira vez? Igreja 0 0 0%
Escola 64 64 60%
TV/Net 5 5 4%
Amigo/a 5 5 4%
Outro 6 6 5%
Número de amostra 110 100%

A questão nº 8 como podemos ver na tabela nº 5, foi dirigida apenas aos Adolescentes,
das referidas igrejas, a resposta revela que 60% dos entrevistados e inqueridos afirmaram ter
aprendido sobre sexualidade pela primeira vez na escola, isto é, com os professores, 27%
afirmou ter aprendido com os pais, portanto, em casa. 4% afirmou ter aprendido nas redes
sociais e nas mídias, outros 4% afirmaram terem aprendido com amigos e 5% com outras
entidades. Fica claro pela quantidade dos dados que os As, aprenderam sobre sexualidade pela
primeira vez com professores na escola, o que contrapõe a atitude dos pais na prática em sua
grande responsabilidade de ensinar os adolescentes.
Há aqui, uma inversão ou transferência de responsabilidade na prioridade e peso dos
pais para a escola. A escola acaba tendo uma intervenção acentuada em relação aos pais,
quebrando um dos princípios gerais básicos de que a família (casa) é a primeira escola. Esses
dados chamam os pais à responsabilidade na centralidade da educação sexual. Tal como os
professores abandonam o medo, a vergonha, os constrangimentos e tabus que se acercam
desse assunto, de igual modo, os pais devem fazê-lo. Com base nesses dados, a escola é um
exemplo, tanto para os pais quanto para a igreja.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A Total %


9. Com quem você aprendeu sobre Pais 25 25 23%
menstruação (menina) ou ejaculação Igreja 0 0 0%
61

(menino)? Escola 55 55 50%


TV/Net 10 10 9%
Amigo/a 15 15 14%
Outro 5 5 4%
Número total de amostra 110 100%

A questão nº 9 como podemos ver na tabela nº 6, foi dirigida apenas aos Adolescentes
das referidas igrejas, a resposta revela que 50% dos entrevistados e inqueridos afirmaram
terem aprendido sobre menstruação (meninas) e ejaculação (meninos) com professores na
escola, 22% afirmou ter aprendido com os pais, 9% aprenderam nas redes sociais e na mídia,
13% afirmou ter aprendido com amigos e 4% afirmou ter aprendido com outras entidades.
Mas uma vez, os dados colhidos provam que os As aprenderam sobre a menstruação
(meninas) e ejaculação (meninos) com professores na escola, destacando-se assim a escola na
sua actuação social.
Os dois quadros mostram que os pais precisam redobrar seu esforço para mudar o
quadro, acentuando, assim, sua intervenção e participação na construção da identidade sexual
de seus filhos, garantindo e assegurando que seus filhos conheçam o desconhecido que se
manifesta em seus corpos, para sua auto-aceitação, na escolha certa de seus objectos
amorosos, os perigos do sexo precoce e o autoconhecimento do adolescente.

10. Que ministérios a igreja tem desenvolvido para capacitar os pais na educação de
adolescentes?
No que diz respeito à essa pergunta, dos 110 adolescentes entrevistados e inqueridos
66 que corresponde 60% respondeu não existir nenhuma e 44 que corresponde a 40%
respondeu haver um ministério específico para capacitar os pais na instrução dos
adolescentes. Dos 22 pais entrevistados e inqueridos 15 que corresponde a 68% respondeu
afirmando que não existe um ministério específico na igreja para capacitar os pais na
educação de seus filhos adolescentes e 7 que corresponde a 32% respondeu afirmativamente.
Dos 10 pastores entrevistados e inqueridos 10 que corresponde a 100% respondeu dizendo
que existe um ministério para ajudar os pais na sua responsabilidade de ensinar os filhos.
Alistamos em seguida algumas das respostas apresentadas: estudos bíblicos (mensais ou
anuais), palestras, sociedade de senhoras e homens, casados para sempre e cultos dominicais.
62

Os dados nos permitem concluir que a igreja tem se engajado em cumprir sua
responsabilidade em capacitar os pais de alguma forma, a fim de que, os pais consigam lidar
com seus filhos adolescentes. Contudo, percebe-se, também, pelos números elevados
apresentados acima, que a igreja deveria fazer ainda mais para capacitar os pais. Seu
envolvimento, precisa crescer ainda mais, de modo que sejam agentes transformadores
daqueles que transformarão outros para dar continuidade ao mesmo processo até às futuras
gerações.

11. Que programas a igreja tem para instruir os adolescentes de forma integral?
Quanto a essa questão, os adolescentes que foram entrevistados e inqueridos que
somam um total de 110, 85 que corresponde a 77% respondeu dizendo que a igreja tem
programas para instruir os adolescentes de forma integral, enquanto 25 que corresponde a
23% afirmou não haver programas com tal finalidade. Dos 22 pais entrevistados e inqueridos
14 que corresponde a 64% afirmou não haver programas de tal gênero, enquanto, 8 que
corresponde a 36% afirmou haver tais programas. Dos 10 pastores entrevistados e inqueridos
7 que corresponde a 70% respondeu haver tais programas, e 3 que corresponde a 30%
respondeu não haver tais programas. Segundo esses grupos os programas são: Ano de
treinamento (discipulado), actividades recreativas, EBD, GBA, culto e adolescentes, Seja um
Obreiro Aprovado. Concluímos assim, que para os As e os Prs, a igreja possui programas para
instrução integral dos adolescentes.

Com base nesses dados, é possível ver a mão da igreja no cumprimento do seu papel
na instrução dos adolescentes, mas a alta percentagem dos pais que afirmaram não haver
programas do gênero deveriam servir de despertar, incentivo e mais investimento da igreja
para criar programas específicos de carácter integral, não apenas reações às situações
pontuais, não apenas prontos socorros, mas programas constantes, fixos e intencionais de
prevenção e conhecimento dos adolescentes.

12. Tem um material específico para instruir os adolescentes?


Pergunta direccionada aos Alternativas A P Pr Total %
entrevistados
Esse material responde às Sim 22 5 3 30 21%
necessidades e desafios dos Não 88 17 7 112 79%
Sim 22 5 3 30 21%
63

adolescentes? Não 88 17 7 112 79%

Número total de amostra 142 100%

A questão nº 12 como podemos ver na tabela nº 7, foi dirigida aos Adolescentes, Pais
e Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 79% dos entrevistados e inqueridos
afirmaram não haver um material específico para instruir os adolescentes, e 21% afirmou
haver um material específico. Concluímos, pela quantidade dos dados que os As, os Ps e os
Prs que a igreja não possui um material específico para instrução de adolescentes.
Denota-se disso que embora as ministrações esporádicas, aleatórias e pontuais surtam
algum efeito, não é tão seguro permanecer nesse método, pois que os objectivos, são deste
modo, inexistentes ou obscuros, porque além de conhecer o adolescente, é necessário unir-se
a isso, métodos que se adequem à sua fase, objectivos claros e um material específico que
sirva de luz aos seus pés, resposta às suas necessidades e desafios.
A questão nº 12 como podemos ver na tabela nº 7, foi dirigida aos Adolescentes, Pais
e Pastores das referidas igrejas,21% que afirmou haver um material específico para instrução
dos adolescentes assegurou que esse material responde às suas necessidades e desafios.
Fica claro pelos dados apresentados que apenas a minoria é servida pelo material que a
igreja oferece, ficando alguns sem resposta aos seus anseios e lutas. Mas preocupante ainda é
o posto onde se encontra a maioria, que além de não ser servida, não é acima de tudo
contemplada com um material para sua orientação. Isso serve de luz à igreja angolana, para se
erguer na melhoria de condições para atender os adolescentes.

Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P Pr Total %


13. A igreja tem experimentado a Sim 85 15 10 110 77%
saída de adolescentes da Não 25 7 0 32 23%
comunidade de fé quando
chegam nessa fase?

Número total da amostra 142 100%

A questão nº 13 como podemos ver na tabela nº 8, foi dirigida aos Adolescentes, Pais
e Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 77% dos entrevistados e inqueridos
64

afirmaram que os adolescentes quando chegam nessa fase saem da comunidade de fé, e 23%
afirmou que o contrário. Dentre as razões apresentadas da saída dos adolescentes os grupos
responderam: falta de socialização, ostentação, falta de atenção da igreja e pastoreamento,
afirmação social, envolvimento sexual precoce, falta de envolvimento, conflitos internos que
não encontram orientação, ausência de estruturas adequadas para sua atuação (um lugar
melhor) e ventos doutrinários.
Portanto, olhando para o grande número de percentagem que responde à questão
afirmativamente, nos conduz a crer que para os As, os Ps e os Prs, os adolescentes saem da
igreja da igreja nessa fase e algumas razões são por eles conhecidas.
Cremos firmemente que embora a igreja não consiga responder todas as razões da
saída dos adolescentes da comunidade de fé, ela é capaz de melhorar algumas condições para
minimizar as razões de sua saída; a igreja deve, como agente de Deus, assegurar o
pastoreamento dos cordeirinhos a fim de que não sejam devorados pelo lobo, seus cuidados,
alimento, amor e direcionamento devem ser constantes, presentes e adequados à sua fase.
Pergunta direccionada aos entrevistados Alternativas A P Pr Total %

14. O adolescente pode ser salvo? Sim 110 22 10 142 100%


Não 0 0 0 0 0%
Número total de entrevistados e inqueridos 142 100%

A questão nº 6 como podemos ver na tabela nº 3, foi dirigida aos Adolescentes, Pais e
Pastores das referidas igrejas, a resposta revela que 100% dos entrevistados e inqueridos
afirmaram unanimemente que o adolescente pode ser salvo. Concluímos, pela quantidade dos
dados que para os As, os Ps e os Prs das determinadas igrejas entrevistados e inqueridos o
adolescente, sem dúvidas, pode ser salvo.
É um bom sinal perceber que não existem dúvidas quanto a salvação dos adolescentes,
o que prova uma teologia doutrinária bíblica e consistente das igrejas A, B e C, o que significa
que os adolescentes não são deixados de fora no reino de Cristo, que são alvos do poder de
Deus para sua salvação e são instrumentos de Deus para sua obra.

15. Com que idade é permitido o ingresso à escola de preparação para o batismo?
A questão nº 15 foi dirigida aos Adolescentes, Pais e Pastores das referidas igrejas e os
dados que foram colhidos que correspondem à ela são: dos 110 Adolescentes entrevistados e
65

inqueridos 95 que corresponde a 86% responderam afirmando que é permitido a entrada na


escola de preparação para o batismo desde que se tenha creia em Cristo e se tenha maturidade;
10 que corresponde a 9% responderam que é permitida a entrada na escola de preparação para
o batismo aos 18 anos, e 5 que corresponde a 5% responderam que é à partir dos 12 anos de
idade.
A resposta dos pais variou muito. Dos 22 pais entrevistados e inqueridos 15 que
corresponde a 68% respondeu afirmando que não tem idade específica, a base é a crença em
Jesus Cristo e o arrependimento genuíno, isto seguido pela maturidade. 5 que corresponde a
23% afirmou ser permitida entrada a partir dos 14 anos e 2 que corresponde a 9% afirmou se
possível a partir dos 12 anos de idade.
O grupo dos pastores, dos quais 10 que corresponde a 100%, foi unânime em afirmar
que não tem uma idade específica que é permitido a entrada na escola de preparação para o
batismo, atem-se os seguintes pressupostos: fé salvadora em Jesus Cristo, arrependimento
genuíno, maturidade e testemunho de vida cristã.
Esses dados revelam unanimidade com a anterior, porque além dos adolescentes serem
alvos da salvação, são também partícipes dos sacramentos ministrados pela igreja, que
cooperam para sua edificação e unidade no corpo de Cristo.
A adolescência é uma fase vital, célebre e transformadora de pequenas capacidades
para infinitas capacidades, de ínfima força para um poder grandíssimo, de uma paixão tênue
para uma fornalha, de autonomia duvidosa e fraca para uma autonomia firme e inabalável, de
uma identidade embaçada para uma identidade fenomenal ou infernal. Portanto, adolescentes
não são problema, são pessoas passando na forja para a extensão da sua personalidade,
vocação e padrão ético.
Se nossa consciência não se perturba com esse quadro transformacional, precisamos
avançar para outras verdades que elevem nossa visão, quebrante nossos corações e prepare
nossa vontade para uma atitude que faça jus aos pressupostos apresentados a respeito dos
adolescentes. Deste modo temos:
1. Deus é o autor do desenvolvimento. Ele como Criador formou o corpo
humano, doou-lhe sua própria vida ao se derramar e o revestiu de sua própria imagem, a fim
de que o ser humano O representasse e reflectisse – vemos nisso uma progressão. Deus fez a
estátua conferindo-lhe a energia divina, e aquilo que era apenas argila tornou-de um ser vivo,
já equipado com todos os sistemas necessários à vida biológica, à reprodução e ao senso de
bem-estar (Gn 2.7). Mas esse ser não seria estático, cresceria até alcançar a sua extensão.O ser
humano foi feito para conquistar poder (autonomia), sentido e propósito (vocação) e
66

personalidade e padrão ético (Gn 1.27-28; 2.15-16). Para alcançar tal alvo, Deus o capacitou
com habilidades (físicas, psicológicas, sociais e espirituais), mas elas precisam ser
desenvolvidas, e a adolescência é um período fértil para a potencialidade dessas faculdades.
2. Deus se contextualiza e se identifica. Ele não apenas nos falou pela Criação e
nas Escrituras, mas Ele foi ainda mais além nos falando pelo Seu Filho que se fez carne, se
identificou conosco em tudo, menos no pecado (Jo 1.14, Hb 2.17-18). Nas sete cartas às
Igrejas da Ásia, vemos um Deus que não fecha seus olhos ao contexto e que não atua fora
dele. Em todas as cartas, vemos seu conhecimento das situações que cada igreja
especificamente passava e seu elogio ou censura era de acordo às necessidades e desafios das
igrejas (Ap 2 – 3). Como discípulos do Mestre, precisamos nos tornar semelhantes a Ele, a
fim de que sejamos atuantes e relevantes na vida dos adolescentes.
3. Deus deseja que sejamos semelhantes a Ele no mundo. Na Oração Sacerdotal
do Mestre, podemos perceber em suas palavras que Ele deseja que sejamos num contexto
pervertido modelos fracos d’Ele. Eis suas palavras: “Não peço que os tires do mundo, mas
livre-os do mal. Não são do mundo como eu não sou. Santifica-os na verdade, a tua palavra é
a verdade” (Jo 17.15, ARA). Nisso podemos perceber que sua preocupação não residia na
nossa remoção para o céu, ele quer que nós vivamos aqui, mas que de facto, fôssemos
preparados para viver num mundo hostil que o rejeitou e o mataria. Como representantes de
Deus, não devemos agir de modo contrário, preparando os crentes, adolescentes, para o céu,
isso é bom, mas não é tudo, eles devem ser preparados para viver no mundo e ser diferentes
do mundo. Eles precisam ser treinados para agir com o ser e poder de Deus que vive neles.

3.3. Síntese do capítulo


Portanto, neste terceiro capítulo do nosso trabalho, por meio das entrevistas e
inquéritos procuramos compreender a realidade do adolescente no seu contexto e a
atuaçãodos pais e da igreja na sua educação. Concluímos, então, que os pais e a conhecem
tanto as necessidades quanto os desafios que assolam os adolescentes, e que eles têm se
engajado para suprir suas necessidades e ajuda-los a enfrentar à altura seus desafios.
Chegamos de aferir que os adolescentes, os pais e a igreja reconhecem a participação das três
instituições sociais(família, igreja, escola) no cumprimento de seu papel para a educação, no
entanto, a prioridade recai sobre os pais. Também vimos que os pais e a igreja provêm
instrução sexual às vezes, que os pais reagem apenas às situações pontuais na instrução de
seus filhos; percebemos por outro lado, que a escola sobressai na instrução sexual
diferentemente da igreja e da família. E finalmente, compreendemos que as igrejas não
67

possuem ministérios específicos para capacitar os pais para a instrução de seus filhos; as
igrejas possuem programas para instruir os adolescentes de forma integral, no entanto, não
possui um material específico para sua instrução, que corresponda aos seus desafios e
necessidades; algumas vezes é notória a saída dos adolescentes da comunidade de fé nessa
fase, e que eles são também, partes do plano da salvação e partícipes dos sacramentos
ministrados pela igreja.

CONCLUSÃO GERAL

Este trabalho procurou abordar sobre educação de adolescentes na igreja, olhando para
o contexto no qual ele se encontra, adicionado às necessidades e desafios internos e externos
que se manifestam contundentes e clamam, portanto, por satisfação e ajuda para lidar com as
lutas de sua fase.
Partimos do pressuposto de que, não se pode ensinar a quem não conhecemos
realmente, razão pela qual, nos baseamos na Psicologia do Adolescente, a fim de
conhecermos como o adolescente se constitui como sujeito desde as primeiras atitudes
humanas até à maturidade, sua evolução nos variados âmbitos e sua construção do
conhecimento, para que as actividades de ensino sejam apropriadas ao seu nível de
desenvolvimento. Ademais, procuramos identificar suas necessidades, desafios e perigos de
sua fase para melhor compreendermos a sua realidade no seu contexto e melhor nos
identificarmos com eles e podermos servir de resposta e ajuda em tudo quanto passa.
68

Na fundamentação teórica sobre o assunto, fizemos uso de materiais de especialistas


sobre a psicologia do adolescente. Tais pressupostos levaram-nos a perceber que para melhor
lidar com o adolescente é preciso conhecê-lo e entrar na sua zona de conforto. Suas
necessidades impõem um imperativo de satisfação que a ausência e ignorância em fazê-lo
conduz aos comportamentos de risco. É perceptível que além de suas lutas internas outras
externas o acercam, pelo que clamam por ajuda para que eles sejam capacitados a enfrentar
seus desafios, se imporem e criarem seu próprio mundo. Uma vez satisfeitas essas
necessidades e respondidos adequadamente seus desafios, são minimizados os perigos de sua
fase.
Fizemos, em seguida, uma transição dos pressupostos científicos para a filosofia
tradicional africana, a fim de percebermos como o adolescente é visto dentro da cultura
africana. Dos estudos, podemos perceber que essa fase tem como propósito preparar os
adolescentes, por meio dos ritos de iniciação (puberdade), seguidos de ensino, como homem
novo e íntegro habilitado para cumprir cabalmente com seus compromissos, tarefas e papéis
na comunidade onde está inserido. Essa verdade, é por outro lado, contrastada por certas
filosofias que geram conflitos geracionais. São estas as idéias: acentuado valor no mais velho
e ínfimo no jovem, por se reputar do mais velho, sabedoria, por causa das experiências e
imaturidade do jovem por causa da inexperiência; o menor é visto sob o espectro de poder e
funções e não de essência e personalidade; e a dificuldade em se estabelecer um
relacionamento eu-tu entre anciãos e os mais jovens. Além dessas filosofias, está o quadro das
mudanças nas estruturas sociais, hoje, desestabilizadas pela globalização que rompe com as
identidades e as raízes próprias de cada povo e cultura, o capitalismo sedutor que mudou o
princípio de valores, o que acentua o desejo pela busca de novidade e o lucro, além da
explosão massiva da tecnologia que encontrou famílias despreparadas para gozar seus
benefícios e rejeitar seus malefícios. Tal quadro nos convida a uma reflexão e atitude que faça
frente a todas as filosofias e se mude o quadro.

Em seguida transcorremos através das Escrituras e da Teologia podemos perceber que


Tanto o Antigo como o Novo Testamentos, Deus impõe a responsabilidade do ensino aos
pais, podendo fazê-lo por meio de seu exemplo de vida, das relações interpessoais e da
contextualização. O ensino aos filhos deveria ser um processo natural e contínuo. O ensino
assegura o desenvolvimento integral do indivíduo e a bênção comunitária. O lar tinha um
valor insubstituível. Os adolescentes devem ser habilitados a viver de modo digno a sua fé
69

num contexto globalizado, de hostilidade e de desintegração moral. Deus é o autor e


consumador de toda a obra da salvação.

Os pais da Igreja deixaram um exemplo que nós precisamos seguir hoje, sendo
capazes de analisar o contexto, interpretá-lo e elaborar soluções que contraponham certas
situações ou ajudem a manter uma conduta cristã inabalável em meio às tenebrosas trevas que
cercam o povo de Deus. Suas qualidades e atitudes nos convidam para um viver que seja
significante em qualquer lugar.

Apresentamos também o fundamento da teologia da educação cristã, que tem como


braços a centralidade de Deus que é a revelação de Deus ao homem, o manual de regra de fé e
prática, instrumento que deve ser usado para examinar todas as coisas; o ser de Deus, que é
mais um convite ao conhecimento de Deus, a fim de que o adolescente construa uma imagem
perfeita de Deus aprofunde seu relacionamento com Ele; a humanidade, que impõe a
responsabilidade do ensino ao adolescente sobre a sua essência, sua dignidade, sentido da vida
e propósito pelo qual viver, além da realidade do pecado que perverteu seu coração e sua
responsabilidade com a criação; a obra da salvação em Cristo Jesus, pela sua obra consumada
no Calvário, que é resposta ao pecado, à ira de Deus e às necessidades do homem; e por fim, a
bênção comunitária, que chama à responsabilidade o treinamento dos adolescentes para que
sejam luzeiros de Deus num mundo perdido.

Depois passamos para o último aspecto, que é a compreensão da realidade do


adolescente no seu contexto, e as conclusões foram as seguintes: os pais e a igreja conhecem
tanto as necessidades quanto os desafios que assolam os adolescentes, e que eles têm se
engajado para suprir suas necessidades e ajudá-los a enfrentar à altura seus desafios.
Chegamos de aferir que os adolescentes, a instrução sexual provido aos adolescentes é ainda
tímida e embrionária, os ministérios que velam e zelam por eles carecem de materiais
específicos de sua fase e contexto, e por fim que eles são tidos pela igreja como partes do
plano da salvação e partícipes dos sacramentos ministrados por ela.
Portanto, os adolescentes dos nossos dias possuem grandes necessidades e desafios
que precisam de respostas vívidas, significantes e atuantes de modo que se assegure seu
desenvolvimento saudável e integral, a fim de que sejam treinados para viver numa sociedade
perversa e tenebrosa, sejam capacitados na construção de sua identidade, na formação de seu
padrão ético e na realização de sua vocação, e por fim sejam projectados para assegurar
bênção às gerações futuras.
70

RECOMENDAÇÕES FINAIS

À luz das conclusões da pesquisa, deixam-se as seguintes recomendações e sugestões:

PARA OS PAIS

1. Sugerimos aos pais que invistam em si mesmos buscando equipar-se com


conhecimento sobre a psicologia do desenvolvimento do adolescente, a fim de que
compreendam seus meandros e desdobramentos, e finalmente, aperfeiçoem seu
tratamento com seus filhos adolescentes – conhecendo-os melhor, saberão lidar com
eles da melhor forma, suprindo assim, suas necessidades e respondendo aos seus
desafios. A ideia não é que se tornem especialistas, mas conhecedores.
2. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão
dramática a nossa solidão. A comunicação é o segundo elemento que gostaríamos de
71

sugerir aos pais, quebrando barreiras, todo isolamento e distanciamento, para um


contacto pessoal vivo, onde não apenas sejam partilhadas informações, mas vida a
vida. É apenas pela proximidade aos seus filhos adolescentes que saberão seus anseios
e os possam ajudar com amor. Desse modo, os pais ajudarão seus filhos na construção
de sua identidade, na formação de sua autonomia, aquisição de sua independência e
exercício de sua vocação.
3. Tempo e atitudes, é a nossa terceira sugestão. Os pais não podem esperar que seus
filhos sejam uma coisa que eles não são ou que façam o que eles não passaram. Ao
cultivar tempos de qualidade com seus filhos individual e colectivamente, eles terão a
oportunidade de ensinar seus filhos, de coração para coração. Nem sempre os filhos
precisam de coisas, a maior de todas as coisas que um filho pode receber é a atenção,
companhia, amor e compreensão de seus pais. Desse modo, prepararão seus filhos
para o mundo, projectarão o futuro e assegurarão a bênção às futuras gerações. Com
base nisso, serão capazes de transmitir orientação espiritual, moral (na tomada de
decisões e treinamento nas habilidades.
4. Por fim, sugerimos investimento nos cultos domésticos. Os pais não imaginam a
alegria do seu filho adolescente aprender das verdades eternas ao lado daquele que o
deu à luz. Os pais não imaginam quanto privilégio têm em influenciar seus filhos com
um testemunho de vida que levarão para a vida toda. Para isso, é necessário que os
pais, invistam em seu próprio conhecimento das Escrituras e carácter cristão para
serem seus mestres.

PARA A IGREJA
1. Recomendamos que a igreja identifique jovens que tenham o chamado pastoral, avalie
seu conhecimento bíblico, integridade de carácter e a qualidade no ensino para
consagrá-los como Pastores de Adolescentes. É necessário que haja também um
investimento teológico, para que eles trabalhem especificamente com esse grupo e
assim, tenhamos uma futura geração de cristãos que serão tochas acesas segurando o
testemunho da igreja e preservando sua missão e visão.
2. Sugerimos que a igreja também crie um Grupo de Discipuladores, não aqueles que
velam apenas pela vida dos adolescentes nas quatro paredes do templo, mas aqueles
que convivam com eles fora, aqueles que os visitam com constância e se
responsabilizem pela sua vida. Que estes sejam seus confidentes, conselheiros e
modelos. Esse elenco também se responsabilizará em avaliar os ensinos ministrados e
72

os resultados produzidos pelos mesmos. Eles deverão também analisar as necessidades


e desafios que os adolescentes enfrentam no seu contexto e traçar possíveis respostas
exequíveis para o efeito.
3. Recomendamos que a igreja crie Grupos de Educação dos Filhos (adolescentes), um
ambiente onde os pais não apenas aprenderão da sua responsabilidade de ensinar seus
filhos e como fazê-lo, mas também partilhem dificuldades em lidar com adolescentes,
recebam experiências de outros pais e juntos estabeleçam mecanismos para melhorar
sua actuação na vida de seus filhos. Nesses grupos também, a igreja poderia investir
na orientação dos cultos domésticos, mais do que ser apenas uma ordenança da igreja,
pois cremos que muitos desejam fazê-lo, mas não o fazem por falta de orientação.
4. Recomendamos à igreja que crie Ministérios específicos para adolescentes, onde se
desfaçam todos os protocolos e toda formalidade, um ambiente onde os adolescentes
aprendam artes e nesse lugar tenham lugar para exercitá-las, um lugar onde se
enquadrem e tenham espaço de actuação; um lugar onde recebam instrução sexual
abertamente e sem tabus, eles tenham abertura para fazer questionamentos e sejam
respondidos adequadamente; um lugar onde sejam treinados para liderança, a fim de
que sejam influenciadores em suas comunidades e círculos de amizades. Isso ajudaria
em dar oportunidade a eles de exercitarem suas habilidades, competências e vocação,
olhando para a falta de oportunidades que o país oferece hoje; seriam treinados na
formação de sua autonomia e construção de identidade sólida, sem se frustrar ou se
desesperar.

PARA O ISTEL E TEÓLOGOS


1. Recomendamos que os teólogos se unam, para produzirem um material específico
para adolescentes, que seja contextual às suas necessidades e desafios, dentro da
realidade angolana e da cultura tradicional africana.
73

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Anexo I – Conflitos de Gerações: Pesquisa

Este é um excerto do trabalho que trata sobre os Conflitos de Gerações, elaborado pelo
pesquisador da presente obra no 4º ano de sua formação teológica, orientado pela professora
Elizabeth Viliengue na disciplina de Teologia Africana.

PERSPECTIVA AFRICANA E BÍBLICA SOBRE O CONFLITO DE GERAÇÕES

Quase todas as culturas africanas, dentro da estrutura hierárquica veêm o mais velho
como a fonte do conhecimento, a voz da experiência, razão pela qual é colocado no pedestal
da estrutura social e na posição de liderança em quaisquer estrutura ou organização. Ele
possui autoridade e propriedade no que diz e faz.

Os jovens, por outro lado, são desprezados até alcançar a etapa de glória, a idade e
estatutos adultos. A juventude é vista como um atentado à liderança dos mais velhos, por isso
estes, “passam o tempo a garantir as suas posições mesmo quando a sua liderança já não é
apreciada e eficaz” (O’Donovan 2000, p. 195). É vista e apreciada a sabedoria e experiência
dos mais velhos, mas pouco vista, apreciada e valorizada a força e a paixão dos jovens. Tal
sucede porque os mais velhos olham os mais jovens apenas sob perspectiva de poder e
funções e não de essência e personalidade.
77

Dentro das culturas africanas é muito difícil estabelecer uma relação eu-tu entre os
mais velhos e mais jovens dentro de uma perspectiva de comunhão onde cada um é aceite por
ser quem é e no contexto onde se desenvolveu, um relacionamento onde as ideias de ambas as
partes são ouvidas e discutidas livremente sem preconceitos ou submissão de um e
sobreposição de outro. Os mais velhos são vistos como figuras sagradas a quem não se critica
ou ensina, ele já é entendido e maduro por suas experiências.

Nas Escrituras encontramos exemplos vívidos desse conflito de gerações, o primeiro


do mais velho (Saúl) perseguindo o mais jovem (Davi) por ciúme, orgulho e medo de perder a
liderança no reinado de Israel quando descobriu que Davi fora ungido para substitui-lo (I Sm
16). Vemos nesse episódio o bom posicionamento de Davi ao agir com humildade e honra
àquele que Deus havia ungido (I Sm 19.12-24; 23.14 – 26).

No segundo episódio, vemos Roboão, filho de Salomão, que mostrou falta de


sabedoria por ter rejeitado o bom conselho dos seus anciãos, mas escolheu ouvir as ideias
impulsivas e imaturas dos seus jovens amigos. Esta decisão errada trouxe conflito, guerra e
morte à nação de Israel durante 400 anos. De ambos os lados, podemos ver tanto a insensatez
e abuso de poder dos anciãos e jovens, como podemos ver humildade, sabedoria e maturidade
do dos jovens e anciãos. Cremos que o mesmo acontece também nos nossos dias, e reputar ou
taxar os jovens de todo como insensatos e os mais velhos de todo por maduros, é laborar no
erro (I Rs 12; 14.21-31).

Anexo II – Gravidez Precoce: Pesquisa


Excerto da pesquisa na disciplina de Saúde I, 1º ano de formação no ISTEL, orientado
pela professora Yolanda Alberto. A pesquisa foi feita pelos estudantes: Adilson Júlio
Cuigicuenhi, Guilherme Tchiengo Daniel, Inocásio Cungi Domingos, Peregino Valério
Sachilulo, Salomão da Costa Maza e Zebedeu Bartolomeu Ndala.

A pesquisa constava de seis perguntas, mas nós faremos o caso de apresentar 3 delas.

1. O que é a gravidez precoce?

A gravidez precoce é aquela que é adquirida antes da idade própria, e sem nenhuma
preparação, embora do ponto de vista biológico a adolescente possa engravidar, o seu
organismo não está, no entanto, preparado para tal porque o seu desenvolvimento
fisiológico é ainda frágil.

2. A idade que mais acontece esse problema no nosso país?


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A idade que mais acontece este problema no nosso país vai dos 14 aos 17 anos e a fase
crucial é a adolescência. Segundo o inquérito de Tryfyn Ndapandule, só no período de
2009 a 2013, 33,4% das adolescentes grávidas tinham 17 ans de idade, 32,7% com 18
anos, estudantes na sua maioria e vivendo em zonas peri-urbanas, isto em 2014.

Segundo a FNUAP (Fundo das Nações Unidas para a População), Angola é o segundo
país da África Subsariana, depois da República Democrática do Congo, com a taxa mais
alta de gravidez na adolescência. Os dados foram aprovados no Lubango pela mesma
organização. Os dados indicam que entre mil mulheres dos 15 aos 19 anos de idade em
Angola, pelo menos 163 já deram à luz9.

3. Por que cada dia o número de casos aumenta? Perguntar 10 jovens e 5 técnicos de
saúde. Aqui entram as respostas que citamos no nosso trabalho.

Anexo III: Questionário de Entrevista e Inquérito


Questionário dirigido aos adolescentes, pais e pastores da igreja da província da Huíla,
município do Lubango.

1. Quais são os desafios mais enfrentados pelos adolescentes?


2. Quais são as necessidades dos adolescentes?
3. O que os pais e a igreja estão fazendo para responder às necessidades e
desafios dos adolescentes?
4. De quem é a responsabilidade de ensinar?

Pais
Igreja
Escola
Todos

5. De quem é a prioridade na responsabilidade de ensinar os adolescentes?


Pais
Igreja
Escola
Todos

6. Os pais e a liderança da igreja têm provido instrução sexual aos adolescentes?


Sim
Não

9
https:/www.novagazeta.co.ao/artigo/angola tem maior taxa de gravidez precoce
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Com que frequência?


Diária
Semanal
Mensal
Anual

7. Os pais têm um plano intencional (de prevenção) de ensino aos adolescentes


ou reagem apenas às situações pontuais?
Sim
Não
RSP

8. Com quem você aprendeu sobre sexualidade pela primeira vez?


Pais
Liderança
Professores
TV, Internet
Amigo/a
Outro

9. Com quem você aprendeu sobre menstruação (menina) ou ejaculação


(menino)?
Pais
Liderança
Professores
TV, Internet
Amigo/a
Outro

10. Que ministério a igreja tem desenvolvido para capacitar os pais na educação de
adolescentes?
11. Que programas a igreja tem para instruir os adolescentes de forma integral?
Sim
Não

12. Tem um material específico para instruir os adolescentes?


Sim
Não

Esse material responde às necessidades e desafios dos adolescentes?


Sim
Não
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13. A igreja tem experimentado a saída de adolescentes da comunidade de fé


quando chegam nessa fase?
Sim
Não

14. O adolescente pode ser salvo?


Sim
Não

15. Com que idade é permitido o ingresso à escola de preparação para batismo?

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