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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Ana Cláudia Redecker, professora de Direito Empresarial da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC/RS), Especialista em Ciências Políticas e Mestre em Direito pela PUCRS e doutoranda em Ciências
Jurídico-Económicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Advogada. Coordenadora jurídica da
Associação Comercial de Porto Alegre/RS (ACPA). E-mail: aredecker@pucrs.br.
Valentina Friedrich Rossi, Acadêmica do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e Acadêmica do Curso de Administração de Empresas na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. E-mail: f.rossivalentina@gmail.com.
2
2. A CLÁUSULA DE SANDBAGGING
1
WEST, Glenn D.; SHAH, Kim M. Debunking The Myth of the Sandbagging Buyer: When Sellers Ask Buyers
to Agree to Anti-Sandbagging Clauses, Who is Sandbagging Whom? The M&A Lawyer, Danvers, v.11, p. 3-7,
jul./ago. 2007. p. 3.
2
MIZIOLEK, Aleksandra; ANGELAKOS, Dimitrios. Contract drafting: sandbagging: from poker to the world of
mergers and acquisitions. Michigan Bar Journal, Michigan, v. 92, p. 30-34, jun. 2013. p. 33.
3
jogador, na primeira rodada, tenta fazer crer que suas cartas são ruins, quando, na verdade,
são boas, de modo a aumentar sua possibilidade de vitória na segunda rodada3. Por fim, no
golfe “sandbagger” é aquele jogador que finge ser pior do que realmente é com o objetivo de
obter vantagens sobre seus oponentes4.
Com o decorrer do tempo o termo “sandbagging” evoluiu e migrou para outras áreas
de aplicação. Tornou-se comum empregar o termo, com uma conotação negativa, em diversas
situações cotidianas5. Posteriormente, foi inserido na esfera negocial-jurídica, sendo a prática
“sandbagging” aludida às provisões inseridas em um contrato de compra e venda que
resolviam sobre o impacto do conhecimento prévio de uma parte sobre uma quebra de
declarações e garantias da outra parte6.
Apesar de que tal disposição possa ser estruturada para ambas as partes contratantes, a
controvérsia reside na esfera do adquirente, ou seja, se o comprador poderá exigir as
consequências decorrentes de um passivo ou de uma informação falsa prestada pelo vendedor
mesmo já tendo conhecimento dessa antes de firmar o contrato.
A admissibilidade dessa provisão é incerta e instável, não apenas nos países de civil
law, mas também nos países de common law. As decisões variam de acordo com a jurisdição
e mudam com o tempo7. Nos Estados Unidos, a abordagem oscila conforme o Estado, sendo
as jurisdições de Delaware e de New York mais favoráveis às disposições de sandbagging;
enquanto que na legislação inglesa, seguida pela maioria dos outros países europeus, é mais
tendenciosa a uma abordagem anti-sandbagging8.
No Brasil, o assunto ainda é pouco abordado e não há posicionamento definitivo.
Porém, já existem algumas discussões sobre admissibilidade da cláusula de sandbagging, nas
quais as questões referentes à autonomia da vontade e a boa-fé aparecem indo de encontro
uma com a outra, o que será abordado no decorrer do estudo.
3
MIZIOLEK, Aleksandra; ANGELAKOS, Dimitrios. Contract drafting: sandbagging: from poker to the world of
mergers and acquisitions. Michigan Bar Journal, Michigan, v. 92, p. 30-34, jun. 2013. p. 33.
4
WEST, Glenn D.; SHAH, Kim M. Debunking The Myth of the Sandbagging Buyer: When Sellers Ask Buyers
to Agree to Anti-Sandbagging Clauses, Who is Sandbagging Whom? The M&A Lawyer, Danvers, v.11, p. 3-7
jul./ago. 2007. p. 3.
5
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 459.
6
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 459.
7
WHITEHEAD, Charles K. Sandbagging: Default Rules and AcquisitionAgreements. Cornell Law Faculty
Publications, New York, v. 919, p. 1081-1115, 2011. p. 1088.
8
JASTRZEBSKI, Jacek."Sandbagging" and the Distinction Between Warranty Clauses and Contractual
Indemnities. U.C. Davis Bussines Law Journal, Davis, v.19, p. 207-251, 2019. p. 209.
9
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p.105.
4
Administrativo de Defesa Econômica, não faz referência a esta informação e, negocia com a
vendedora a inclusão de uma cláusula contemplando o dever de esta indenizar caso constate-
se a quebra das declarações e garantias, independente de já ter conhecimento sobre possível
falsidade dessas declarações e garantias prestadas pela vendedora10. Neste caso, a compradora
está utilizando de uma provisão de sandbagging.
No mundo das fusões e aquisições, é dito que o comprador realiza o ato de
“sandbags” quando, mesmo possuindo ciência de fato que pode ensejar na falsidade das
declarações e garantias prestadas pelo vendedor, opta pelo fechamento da operação sem
informá-lo desse fato com o objetivo de, eventualmente, poder postular indenização pela
violação do contrato11.
A inclusão da cláusula de sandbagging, no entanto, nem sempre envolve intenções
maliciosas e comportamentos morais questionáveis por parte do comprador, ainda que, em
muitos casos, aparente ser. Isso ocorre, por exemplo, quando os fatos descobertos pelo
comprador são incertos e obscuros, gerando dúvida não apenas sobre a materialidade do fato,
mas se esse poderia de fato ensejar na quebra da declaração do vendedor e, por corolário,
numa violação capaz de macular o fechamento do contrato12.
10
O exemplo fictício foi inspirado no caso da XI Competição Brasileira de Arbitragem da Camarb.
11
JASTRZEBSKI, Jacek."Sandbagging" and the Distinction Between Warranty Clauses and Contractual
Indemnities. U.C. Davis Bussines Law Journal, Davis, v.19, p. 207-251, 2019. p. 208.
12
WEST, Glenn D.; SHAH, Kim M. Debunking The Myth of the Sandbagging Buyer: When Sellers Ask Buyers
to Agree to Anti-Sandbagging Clauses, Who is Sandbagging Whom? The M&A Lawyer, Danvers, v.11, p. 3-7,
jul./ago. 2007. p.3.
13
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 106.
14
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 590.
15
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 146.
5
16
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 147.
17
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 148.
18
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 112.
19
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 115.
20
WHITEHEAD, Charles K. Sandbagging: Default Rules and AcquisitionAgreements. Cornell Law Faculty
Publications, New York, v. 919, p. 1081-1115, 2011, p.1085.
21
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
6
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 112.
22
A regra geral adotada no ordenamento jurídico brasileiro é a disposição anti-sandbagging.
23
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 462.
24
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 462.
25
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 462.
26
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 115.
27
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 119.
7
28
KNIGHT, Frank H. Risk, Uncertainty as Profit. Orlando: Signalman Publising, 2009 apud REGO, Anna Lydia
Costa. Aspectos jurídicos da Confiança do Investidor Estrangeiro no Brasil. 2010. Tese (Doutorado em
Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. p. 05.
29
FORGIONI, Paula A. Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. São Paulo: Thomas Reuters Brasil,
2020. p. 150-151.
30
FORGIONI, Paula A. Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. São Paulo: Thomas Reuters Brasil,
2020. p. 151.
31
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 565.
32
ALLEN, Douglas; LUECK, Dean. The Role of Risk in Contract Choice. Journal of Law, Economics and
Organization, Oxford, v. 15, p. 704-36, 1999. p. 704.
33
BANDEIRA, Paula Greco. O contrato como instrumento de gestão de riscos e o princípio do equilíbrio
contratual. Revista de Direito Privado, v. 17, n.65, p. 195-208, jan./mar. 2016. p. 195.
34
FORGIONI, Paula A. Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. São Paulo: Thomas Reuters Brasil,
2020. p. 277.
35
BANDEIRA, Paula Greco. O contrato como instrumento de gestão de riscos e o princípio do equilíbrio
contratual. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 17, n. 65, p. 195-208, jan./mar. 2016. p. 196.
36
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 591.
8
efetivos37. Como já demonstrado, quem será responsabilizado por tais danos será o vendedor,
conforme estabelecido no contrato de venda de participação societária.
A importância da observação da alocação de riscos nos contratos empresariais foi
positivada e incluída no Código Civil brasileiro pela Lei de Liberdade Econômica38,
consoante o novo artigo 421-A que dispõe:
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e
simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o
afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em
leis especiais, garantido também que:
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e
observada; […] 39. (grifo nosso)
37
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 105-132. p. 116.
38
A Lei 13.874/19, conhecida como "Lei da Liberdade Econômica, é originária da Medida Provisória n° 881, de
30 de abril de 2019, sancionada no dia 20 de setembro de 2019. (BRASIL. Lei Nº 13.874, de 20 de setembro de
2019. Institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13874.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
39
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da
República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11
nov. 2020.
40
FORGIONI, Paula A. Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. São Paulo: Thomas Reuters Brasil,
2020. p. 277.
41
BANDEIRA, Paula Greco. O contrato como instrumento de gestão de riscos e o princípio do equilíbrio
contratual. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 17, n. 65, p. 195-208, jan./mar. 2016. p. 195.
42
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 115.
43
HARRIS, Donald R; VELJANOVSKI, Cento G. The use of economics to elucidate legal concepts: the law of
contract. In: DAINTITH, Terence; TEUBNER, Gunther [Eds.]. Contract and organization: legal analysis in
the light of economic and social theory. Berlim-New York: De Gruyter, 1986. p. 114.
9
44
“A expressão do mercado anglo-saxão mergers and acquisitions (M&A) identifica o conjunto de medidas de
crescimento externo ou compartilhado de uma corporação, que se concre- tiza por meio da “combinação de
negócios” e de reorganizaçõessocietárias. Estão inseridas na terminologia sob análisenão somente compras de
ativos empresariais e participaçõessocietárias, e a união de duas ou mais socieda- des para a formação de uma
terceira, mas também a formação de grupos societários, a constituição de sociedades de propósitoespecífico
(SPE), a contratação de sociedade em conta de participação (SCP), a formação de consórcios, a cisão, a
incorporação de sociedades ou de açõesetc” (BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017.
p. 23)
45
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 152-153.
46
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 243.
47
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 144.
48
CHAGAS, Pedro. Contratos de M&A: Cláusulas de Ajuste de Preço (Cash Free/Debt Free e Capital de Giro).
In: SILVEIRO ADVOGADOS. Temas de Direito Empresarial 2017. [São Paulo]: Silveiro Advogados,
[2017]. p. 15-28. E-book. Disponível em: https://www.silveiro.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Miolo-
Editado-FINAL.pdf. Acesso em: 11 nov. 2020. p. 16.
49
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 243.
50
CHAGAS, Pedro. Contratos de M&A: Cláusulas de Ajuste de Preço (Cash Free/Debt Free e Capital de Giro).
In: SILVEIRO ADVOGADOS. Temas de Direito Empresarial 2017. [São Paulo]: Silveiro Advogados,
10
transação deve ser analisado cuidadosamente de modo a alcançar o objetivo pretendido pelas
partes contratantes.
62
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 154-155.
63
Os problemas que podem surgir durante uma due diligence são conhecidos no mundo jurídico como red flags e
deal breakers. O primeiro se refere à um informação que são potencialmente prejudiciais ao
comprador/vendedor/socieda alvo e logo deve=se ter mais atenção ao lidar com aquele risco. O segundo são
informações que por possuírem uma relevância extrema poderá ocasionar a desistência da operação pelas partes.
64
TEIXERA, Adriano Augusto; MORREIRA, Amanda Santos Sette Câmara. Cláusulas limitativas à obrigação
de indenizar em operações de M&A. In: COSTA, João Vitor da; PENNA, Thomaz Murta (org.). Direito
Societário e Mercado de Capitais. Belo Horizonte: D'Plácido, 2018. p. 243-259 apud
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 563.
65
LUZIO, Eduardo. Fusões e aquisições em ato – Guia prático: geração e destruição de valor em M&A. São
Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 92.
66
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 246.
67
Para aprofundamento do tema ver: ARAÚJO, Fernando. Teoria Económica do Contrato. Coimbra: Almedina,
2007.
68
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 154-155.
69
LUZIO, Eduardo. Fusões e aquisições em ato – Guia prático: geração e destruição de valor em M&A. São
Paulo: Cengage Learning, 2014. p.165.
12
70
CLEARY, Seth. Delaware law, friend or foe? The debate surrounding sandbagging and how Delaware's
highest courts should rule on a default rule. SMU Law Review, Dallas, v. 72, n. 4, p. 822-848, 2019. p. 837-
838.
71
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 304.
72
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 147.
73
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 147.
74
BENETTI, Giovana. Dolo no Direito Civil: Uma Análise da Omissão de Informações. São Paulo: Quartier
Latin, 2019. p. 139.
75
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 154-155.
76
WALD, Arnoldo. Dolo Acidental do Vendedor e Violação das Garantias Prestadas. Revista dos Tribunais,
2014. p. 96.
77
GREZZANA, Giacomo. As Cláusulas de Declaração e Garantia em Alienação de Participação Societária.
São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 69-71.
78
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 304.
79
WALD, Arnoldo. Dolo Acidental do Vendedor e Violação das Garantias Prestadas. Revista dos Tribunais,
2014. p. 99.
13
3.4 A INDENIZAÇÃO
80
Sergio Botrel ensina sobre dois graus de proteção por meio dos mecanismos de indenização: “(i)
responsabilidade total (full liability), em que o vendedor assume responsabilidade plena pelos atos e fatos
ocorridos até a data do fechamento, e o da (ii) total exclusão de responsabilidade, também conhecido como
regime de “porteira fechada”, por meio do qual o comprador assume o risco de ser sur- preendido com dívidas e
contingências desconhecidas sem que tenha direito de obter indenização do vendedor.” (BOTREL, Sérgio.
Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 312-313)
81
BOTREL, Sérgio. Fusões e aquisições. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 312.
82
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 565-
566.
83
LUZIO, Eduardo. Fusões e aquisições em ato – Guia prático: geração e destruição de valor em M&A. São
Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 174.
84
GORESCU, Carla Pavesi. Delimitação da Indenização em Operações de Fusões e Aquisições no Brasil.
São Paula: Grupo Almedina, 2020. p. 28.
85
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020. p. 320.
86
RIZZARDO,Arnaldo. Responsabilidade Civil, 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 39.
87
GORESCU, Carla Pavesi. Delimitação da Indenização em Operações de Fusões e Aquisições no Brasil.
São Paula: Grupo Almedina, 2020. p. 37.
88
GORESCU, Carla Pavesi. Delimitação da Indenização em Operações de Fusões e Aquisições no Brasil.
São Paula: Grupo Almedina, 2020. p. 37.
14
89
SHADDEN, Stacey A. How to Sandbag Your Opponent in the Unsuspecting World of High Stakes
Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 461.
90
GORESCU, Carla Pavesi. Delimitação da Indenização em Operações de Fusões e Aquisições no Brasil.
São Paula: Grupo Almedina, 202. p. 37.
91
“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.” (BRASIL. Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
92
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
93
PARGENDLER, Mariana; GOUVÊA, Carlos Portugal. As Diferenças entre Declarações e Garantias e os
Efeitos do Conhecimento. SSRN, [s. l.], 14 nov. 2020.Disponível
em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3668391. Acesso em: 20 nov. 2020.
94
PARGENDLER, Mariana; GOUVÊA, Carlos Portugal. As Diferenças entre Declarações e Garantias e os
Efeitos do Conhecimento. SSRN, [s. l.], 14 nov. 2020.Disponível
em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3668391. Acesso em: 20 nov. 2020. p. 40.
95
FERRAZ, Adriano Augusto Teixeira; FREITAS, Bernardo Viana; SOUZA, Rodrigo Amaral. A alocação de
risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São Paulo: Quartier Latin, 2019, p. 561-
593.
96
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020, p. 105-132.
15
97
“Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.Parágrafo único. Nas
relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão
contratual.” (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm.
Acesso em: 11 nov. 2020).
98
“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.” (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
99
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 119.
100
WHITEHEAD, Charles K. Sandbagging: Default Rules and AcquisitionAgreements. Cornell Law Faculty
Publications, New York, v. 919, p. 1081-1115, 2011. p. 1084.
101
ARAÚJO, Maria Angélica Benetti. Autonomia da Vontade no Direito Contratual. Revista de Direito
Privado, São Paulo, v. 27, p. 252-278, jul./set. 2006. p. 279.
102
“Art. 131, 3§ Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação, além das regras sobreditas,
será regulada sobre as seguintes bases: 3 - o fato dos contraentes posterior ao contrato, que tiver relação com o
objeto principal, será a melhor explicação da vontade que as partes tiverem no ato da celebração do mesmo
contrato;” (BRASIL, Lei Nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Brasília, DF: Presidência da
República, 1850. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim556.htm. Acesso em: 11 nov.
2020).
103
“Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração. § 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:- for confirmado pelo
comportamento das partes posterior à celebração do negócio; […]” (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
16
2002. Segundo Pontes de Miranda, a autonomia da vontade é o espaço que restou para as
pessoas se moverem entre a rede de regras jurídicas cogentes 104.
Tal vontade das partes é instrumentalizada pelo contrato, o qual propicia que as
empresas e/ou indivíduos escolham com quem/como/o que vão contratar105. Nota-se que a
autonomia da vontade está atrelada à liberdade contratual e é a partir daquela que o homem
adquire essa e, assim, cria vínculos que podem ser até mais fortes do que a lei 106. Ainda, veja-
se que o negócio, porquanto criado pelas partes em prol de seu interesse, é considerado
justo107, mesmo que suas condições não estejam previstas em lei, uma vez que existe a ampla
liberdade de contratar de modo útil e conveniente108.
É cediço, contudo, que essa liberdade é limitada por algumas regras legais, como o
artigo 104 do Código Civil109 que determina que para a validade do negócio é necessária a
existência de um agente capaz, objeto lícito e de forma prescrita ou não defesa em lei. Diante
do exposto, esse artigo não pode invalidar a inclusão específica de uma cláusula contratual de
sandbagging.
Outra limitação disposta no Código Civil é a do próprio artigo 421110, o qual delimita
que a liberdade contratual deve ser exercida nos limites da função social do contrato111.
Ocorre que essa não poderá ser motivo para invalidade da cláusula de igual forma. Há de se
observar que os contratos empresariais detêm como escopo principal o lucro e, que o principal
objetivo das partes ao contratar é alcançar o que lhes é potencialmente vantajoso a fim de
proporcionar o êxito de sua atividade empresarial112. Em outras palavras, os contratos
empresariais têm como razão de ser a sua função econômica113.
Desse modo, os empresários celebram contratos e nestes, dentre outras, incluem a
cláusula de sandbagging, cujo objetivo é resguardar os interesses do comprador para atingir
certos objetivos, tais como: a lucratividade e o sucesso das negociações; mesmo havendo a
existência de um risco futuro e indeterminável, o qual, se cobrado nas tratativas, poderia levar
ao fracasso da operação.
104
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Tomo III. Rio de Janeiro:
Borsoi, 1954. p. 54.
105
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 114.
106
ARAÚJO, Maria Angélica Benetti. Autonomia da Vontade no Direito Contratual. Revista de Direito
Privado, São Paulo, v. 27, p. 252-278, jul./set. 2006. p. 280.
107
BESSONE, Darcy. Aspectos da evolução da teoria dos contratos. São Paulo: Saraiva, 1949. p.101.
108
ARAÚJO, Maria Angélica Benetti. Autonomia da Vontade no Direito Contratual. Revista de Direito
Privado, v. 27, p. 252-278, jul./set. 2006. p. 280.
109
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou
determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
110
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (BRASIL. Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
111
NEGRÃO, Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa: títulos de crédito e contratos empresariais.
São Paulo: Saraiva, 2018. p. 226-227.
112
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 110, 111 e 120.
113
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 120.
17
sofisticadas e conhecedoras do risco das operações114,115. Importa destacar que não estamos
tratando de relações consumeristas e/ou trabalhistas, mas sim relações contratuais
empresariais, em que os agentes econômicos são presumidamente diligentes e probos. Ou
seja, não há uma presunção de hipossuficiência de uma das partes116, o que retira a
necessidade de a lei superproteger uma das partes da relação, potencializando a liberdade e a
autonomia de contratar dos envolvidos.
Desse modo, é acentuado o dever de respeitar o que tiver sido contratado pelas partes.
Como ensina Paula Forgioni:
Diante de todo exposto, é no mínimo irrazoável que se argumente que uma cláusula
inserida em um contrato, por livre autonomia, liberdade e vontade de partes sofisticadas não
seja admitida no ordenamento jurídico brasileiro. Isso estabelecido, importa mencionar
também um importante princípio contratual, qual seja: força obrigatória dos contratos,
corrente pacto sunt servanda.
Considerando a instabilidade da aceitação da cláusula de sandbagging no
ordenamento jurídico brasileiro, muitos vendedores, quando arrependidos do contratado,
tendo em vista a materialização da contingência e a necessidade de indenizar a contraparte,
114
BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado nº 439. In: JORNADA DE DIREITO CIVIL, 5., 2012,
Brasília. [Anais …]. Brasília, DF: CJF, 2012. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-
federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vjornadadireitocivil2012.pdf. Acesso em: 11
nov. 2020.
115
BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado nº 25. In: JORNADA DE DIREITO COMERCIAL, 1.,
2013, Brasília. [Anais …]. Brasília, DF: CJF, 2013. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-
justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-de-direito-comercial/livreto-i-jornada-de-
direito-comercial.pdf. Acesso em: 11 nov. 2020.
116
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 118.
117
FORGIONI, Paula. A Contratos Empresariais: teoria geral e aplicação. 5. ed. São Paulo: Thomas Reuters
Brasil, 2020. p. 123.
118
WEST, Glenn D.; SHAH, Kim M. Debunking The Myth of the Sandbagging Buyer: When Sellers Ask
Buyers to Agree to Anti-Sandbagging Clauses, Who is Sandbagging Whom? The M&A Lawyer, Danvers, v.11,
jul.-ago. 2007, p. 4.
18
postulam pela alteração dos termos contratuais, ignorado esse princípio basilar contratual.
Entretanto, no momento que as partes criam um dever jurídico por meio do contrato, são
geradas obrigações que devem ser fielmente executadas119. No presente caso, sendo o dever
de indenizar, originário da responsabilidade contratual, como já explanado.
O Supremo Tribunal de Justiça já estabeleceu que: “se o agente é livre para realizar
qualquer negócio dentro da vida civil, deve ser responsável pelos atos praticados, pois os
contratos são celebrados para serem cumpridos” 120. Assim, celebrado o contrato válido e
eficaz, deve-se seguir as cláusulas como preceitos legais imperativos121.
De mais a mais, constata-se que não há margem para alteração das disposições
contratuais nem por vontade unilateral de umas das partes, nem por intervenção do juiz em
razão da vinculação das partes, da obrigatoriedade da convenção, da intangibilidade e/ou da
conservação dos contratos122.Tais princípios detêm o condão de obrigar os contratantes a
cumprir o contrato, inferindo ao contrato força de lei entre as partes. Nesse sentido, resta claro
que não pode o vendedor modificar as disposições por mero arrependimento e que, por
corolário, deve ser aceita e respeitada a cláusula de sandbagging e as suas consequências
quando da inclusão da mesma nos contratos empresariais.
A força obrigatória é de extrema importância, uma vez que desestimula
comportamentos oportunistas123 e promove a segurança jurídica nas relações mercantis, sendo
inclusive assegurada pelo Estado ao promover execuções forçadas quando do
descumprimento dos contratos124. Portanto, estabelecida todas as premissas para a
admissibilidade respaldadas nos princípios contratuais, deve-se examinar o princípio que,
aparentemente, obsta a admissibilidade da cláusula de sandbagging no direito brasileiro, qual
seja: a boa-fé objetiva.
Dentre tais limites, a cláusula de sandbagging não encontra óbice em relação aos
pressupostos de validade, pois, em regra, é pactuada por agentes capazes - e sofisticados -
possui objeto lícito e forma não defesa em lei. Como ensina Daniel Kalansky e Rafael
Sanchez: “não há óbice à estipulação de cláusulas pro-sandbagging no ordenamento jurídico
pátrio”128.
Entretanto, são aquelas limitações, oriundas do princípio da boa-fé objetiva, que
trazem maior desconforto à inclusão da disposição de sandbagging no ordenamento jurídico
brasileiro em razão dessa estabelecer que o dever indenizatório poderá ser adquirido mesmo
na hipótese de o comprador ter conhecimento que a cláusula de declarações e garantias estaria
violada quando da assinatura do contrato, o que poderia ensejar uma violação do dever de
informar.
O conceito de boa-fé objetiva não está definido na legislação129, sendo sua concepção
formada a partir da doutrina, da jurisprudência, de padrões de comportamento e de sua
aplicação, a qual é baseada nos elementos fáticos do caso e na interpretação do aplicador130.
Vê-se, portanto, o quanto abstrato e complexo é o instituto, uma vez que exige uma conduta
esperada das partes, mas não a define, restando à análise específica do comportamento das
partes no caso concreto. Ainda que o assunto seja extremamente significativo e instigante, o
presente estudo limita-se àqueles segmentos relacionados à admissibilidade do sandbagging.
Nesse sentido, verifica-se que no âmbito contratual, resumidamente, a boa-fé significa
que as partes que celebraram o contrato são obrigadas a agir conforme padrões de conduta
éticas, honestas e transparentes131. Por um lado, a boa-fé objetiva sobrepõe-se à autonomia da
vontade, uma vez que cria deveres jurídicos que devem ser seguidos pelas partes (deveres
laterais)132. Por outro lado, concede a essa mesma parte direitos e condições necessárias para
que possa exercer a autonomia de sua vontade de forma mais racional possível 133.
Destarte, o princípio da boa-fé objetiva fomenta a criação de deveres
anexos/laterais134, tais como: o dever de informação, o de lealdade, o de veracidade, entre
outros. São esses deveres que restringem a autonomia das partes, mas o fazem em prol da
segurança jurídica e da proteção dos contratantes. E, é exatamente essa proteção que aparenta
estar ameaçada quando da inclusão da cláusula de sandbagging, uma vez que permitiria a
omissão de informações de uma das partes, violando, assim, o dever anexo de informar.
Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2020).
128
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 150.
129
Ainda que seja mencionada em diversos artigos da legislação brasileira, sendo o mais conhecido o artigo 422
do Código Civil, não há uma definição objetiva do seu conceito.
130
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 161.
131
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p. 174
132
SANTOS, Paula Ferraresi. Responsabilidade Civil e Teoria da Confiança: Análise da Responsabilidade Pré-
contratual e o dever de Informar. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 49, p. 209-224, jan./mar. 2012. p.
211.
133
MARTINS-COSTA, Judith. Um aspecto da obrigação da obrigação de indenizar: notas para uma
sistematização dos deveres pré-negociais de proteção no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 97, n. 867, p. 11-51, jan. 2008. p.53.
134
SANTOS, Paula Ferraresi. Responsabilidade Civil e Teoria da Confiança: Análise da Responsabilidade Pré-
contratual e o dever de Informar. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 49, p. 209-224, jan./mar. 2012. p.
211.
20
Além disso, há de se destacar que inclusão da cláusula não certifica que a parte tinha
um conhecimento absoluto da parte sobre uma violação das declarações e garantias e que
intencionalmente preferiu esconder a informação, pelo contrário, a cláusula apenas garante
que o direito indenizatório do contratante não será afetado no caso desta ter conhecimento
sobre a informação que ensejou a violação contratual. Logo, exclui-se uma apreciação
antecipada acerca da inadmissibilidade da cláusula no ordenamento jurídico brasileiro.
De qualquer forma, também nos casos em que a parte teria conhecimento da
possibilidade da ocorrência ou até do total conhecimento da informação, não se tolera um
julgamento prematuro. Isso pois, o dever jurídico de prestar informações, nas relações de
Direito Privado, não está previsto em lei, decorre da vontade das partes, do princípio da boa-
fé, dos usos e/ou das circunstâncias139 e, por essa razão, os deveres informativos são mutáveis
e podem até serem afastados dependendo do caso.
Os elementos a serem considerados nessa análise serão a sua: (i) possibilidade de
acesso à informação, presunção de assimetria informacional entre as partes (elementos
subjetivos); (ii) presença de dever legal/contratual de informar (elementos normativos); e (iii)
135
MARTINS-COSTA, Judith. Um aspecto da obrigação da obrigação de indenizar: notas para uma
sistematização dos deveres pré-negociais de proteção no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 97, n. 867, p. 11-51, jan. 2008. p. 13.
136
SANTOS, Paula Ferraresi. Responsabilidade Civil e Teoria da Confiança: Análise da Responsabilidade Pré-
contratual e o dever de Informar. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 49, p. 209-224, jan./mar. 2012. p.
211.
137
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 459
138
GREZZANA, Giacomo. Cláusula de irrelevância da ciência prévia do adquirente sobre contingências da
sociedade-alvo em alienações de participação societária (Cláusula de irrelevância de ciência prévia –
“sandbagging provisions”). In: AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA, Novaes; EIZIRIK, Nelson (org.).
Revista de direito das sociedades e dos valores mobiliários. São Paulo: Almedina, 2020. p. 131.
139
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 591
21
relação de riscos das operações societárias (elementos fáticos objetivos) 140. Logo, desde já,
verifica-se que não há um direito subjetivo absoluto à informação e que esse dependerá das
nuances do caso concreto 141.
Em relação ao primeiro ponto, não podemos esquecer que estamos debatendo sobre
um contrato de alienação de participação societária entre partes sofisticadas, no qual se sabe
que o comprador, mesmo sendo o mais diligente possível, não irá atingir o mesmo nível de
discernimento sobre a sociedade alvo do que seus administradores e controladores de longa
data, vulgo vendedores142.
Nesse sentido, a boa-fé, na sua função supletiva, exige cooperação e transparência,
sendo um dever do vendedor informar aos compradores sobre a sociedade alvo143.Tal posição
de detentor e conhecedor de todas as informações da sociedade alvo do alienante por si só já
pode ensejar na inexistência de um dever de informar do comprador, seja pelo
descumprimento do dever do vendedor de se informar144, seja pelo fato de que lesado
conhecia ou devia razoavelmente conhecer aqueles dados que levaram à violação145 e, assim,
não podendo, também, alegar-se vício informativo.
Ainda, no que tange os elementos subjetivos, outro ponto importante é o fato da
natureza e condição da informação. A cláusula de sandbagging é, na sua grande maioria,
inserida em razão do conhecimento de uma possível contingência negativa, a qual poderá ou
não se materializar no futuro. Nesse sentido, não há certeza, em regra, da veracidade e da
exatidão da informação, o que também frustra o dever de informar.
Isso ocorre, não apenas, porque o dever de informação é uma prestação positiva, na
qual parte está obrigada a informar com exatidão os fatos, mas também porque tem o dever de
verdade que enseja no dever de omitir as informações inverídicas e inexatas 146. O respeito a
tais premissas é tão importante quanto a obediência ao dever de informar a contraparte, tendo
em vista que sua violação por meio do repasse de uma informação falsa ou lacunosa poderá
comprometer o consentimento contratual da contraparte147 e, por corolário, ensejar na
caracterização desse comportamento como indução em erro148 ou, inclusive, como
140
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 587
141
MARTINS-COSTA, Judith. Os Regimes do Dolo Civil no Direito Brasileiro: Dolo Antecedente, vício
informativo por omissão e por comissão, dolo acidental e dever de indenizar. Revista dos Tribunais, São Paulo,
v. 101, n. 923, p. 115-144, set. 2012. p. 118.
142
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva Jur,
2018. p. 593
143
LUIZE, Marcelo Shima. Cláusulas de indenização e resolução contratual em operações de fusão e aquisição:
necessidade ou mera reprodução do modelo anglo-saxão? In: KLEINDIENST, Ana Cristina (coord.). Estudos
aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2016. p.176.
144
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 590.
145
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018. p. 592.
146
SANTOS, Paula Ferraresi. Responsabilidade Civil e Teoria da Confiança: Análise da Responsabilidade Pré-
contratual e o dever de Informar. Revista de Direito Privado, São Paulo, p. 209-224, jan./mar. 2012. p. 212.
147
MARTINS-COSTA, Judith. Um aspecto da obrigação da obrigação de indenizar: notas para uma
sistematização dos deveres pré-negociais de proteção no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 97, n. 867, p. 11-51, jan. 2008. p. 14
148
MARTINS-COSTA, Judith. Os Regimes do Dolo Civil no Direito Brasileiro: Dolo Antecedente, vício
informativo por omissão e por comissão, dolo acidental e dever de indenizar. Revista dos Tribunais, São Paulo,
v. 101, n. 923, p. 115-144, set. 2012. p. 118.
22
De mais a mais, diferente do abordado até agora, o princípio da boa-fé também deve
proteger o direito daqueles que inseriram a cláusula de sandbagging em razão da tutela da
confiança. Essa preconiza que a expectativa das partes derivada da pactuação do contrato
deve ser acatada pelas partes152 e que a sua quebra seria igualmente uma violação à boa-fé,
ensejando o dever de indenizar153.
Isto significa que, se as partes entenderam que a melhor forma de deliberar acerca das
contingências seria pelo mecanismo de indenização previsto no contrato constituído pela
incusão da cláusula de sandbagging154, essa deve ser considerada válida, não permitindo uma
quebra da expectativa legítima dos contratantes. Ainda, a teoria da confiança, consagrada no
Código Civil brasileiro, determina que as cláusulas contratuais e os deveres eivados dessa
manifestação de vontade das partes devem ser considerados vinculantes quando da sua
interpretação 155.
Portanto, nota-se que o princípio da boa-fé não apenas não obsta a aplicação da
cláusula, como também assegura o seu cumprimento quando derivado da vontade das partes.
O que não significa que uma cláusula de sandbagging não possa ser considerada nula,
anulável ou inválida no caso concreto. Como todo e qualquer instituto do direito brasileiro,
caso seja comprovado que houve má-fé no comportamento das partes ou que há algum vício
de vontade, a disposição deverá ser considerada inadmitida pelo ordenamento.
Nesse sentido, nos casos em que houver conflitos que envolvam a disposição
sandbagging, o julgador deverá analisar se a intenção das partes foi, realmente, buscar
149
MARTINS-COSTA, Judith. A boa fé no direito privado: critérios para sua aplicação. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, p. 591.
150
MARTINS-COSTA, Judith. Um aspecto da obrigação da obrigação de indenizar: notas para uma
sistematização dos deveres pré-negociais de proteção no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 97, n. 867, p. 11-51, jan. 2008. p.12.
151
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 152.
152
PEREIRA, Fábio Queiroz. O Direito Comercial e a Formação Histórica do Princípio da Boa Fé Objetiva.
Revista Scientia Iuris, Londrina, v. 17, n. 2, p. 9- 28, 2013. p.13.
153
MARTINS-COSTA, Judith. Um aspecto da obrigação da obrigação de indenizar: notas para uma
sistematização dos deveres pré-negociais de proteção no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 97, n. 867, p. 11-51, jan. 2008. p.11.
154
KALANSKY, Daniel; SANCHEZ, Rafael Biondi. Sandbagging clauses nas operações de fusões e aquisições
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23
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risco em operações de M&A: análise das cláusulas de ajuste de preço e indenização. In: BARBOSA, Henrique;
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24
162
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(M&A). In: BARBOSA, Henrique; BOTREL, Sérgio (org.). Novos temas de direito e corporate finance. São
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Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 467.
164
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Acquisitions. Creighton University Law Review, Omaha, v. 47, p. 459-476, 2014. p. 475.
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início das tratativas para a fase da execução contratual. Enfim, entendemos que a cláusula
deve ser admitida no ordenamento jurídico brasileiro e que sua inadmissibilidade somente
pode ocorrer naqueles casos em que tiver sido comprovado que o comprador sabia da
informação, descontou do preço e, intencionalmente, incluiu a disposição para conseguir uma
indenização, incorrendo em bis in idem e em má-fé.
Destaca-se por último o silogismo inverso para fins de reflexão. Nos casos em que não
há provisões pro-sandbagging, questiona-se o porquê de não haver discussão acerca de
práticas potencialmente mal-intencionadas por parte do vendedor quando da violação das
declarações e garantias. O vendedor não se tornaria um potencial sandbagger também? Por
que apenas a disposição pró-vendedor é vista por alguns como inadmissível? A inovação traz
desconforto, mas é necessária para a progresso das relações jurídicas empresariais.
Isso posto, constata-se, a partir dos apontamentos realizados, que não há uma
estabilização do instituto, ainda que não conste nenhum óbice no ordenamento jurídico
brasileiro, sendo plenamente admitido. Desse modo, resta claro que ainda há inúmeros
avanços legislativo e jurisprudencial a serem feitos no âmbito da aplicação da cláusula de
sandbagging para que, efetivamente, seja possível garantir segurança jurídica para aqueles
que por ela optarem.
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