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FICHAMENTO
Santa Rita/PB
2023
É abordada a relevância das faculdades de direito no Brasil do século XIX no processo
de formação de uma elite intelectual e política independente, crucial para a construção de uma
identidade nacional após a independência política em 1822. As faculdades de direito
desempenharam um papel fundamental na criação de líderes e pensadores capazes de guiar o
país. No entanto, elas enfrentaram desafios iniciais, como a falta de educadores experientes e a
dificuldade de lidar com alunos pouco habituados ao estudo.
A "geração dos 70", liderada por figuras notáveis como Tobias Barreto e Silvio Romero,
defendeu a transição do pensamento religioso para uma visão laica do mundo, rejeitando o
direito natural em favor de uma abordagem secular e temporal. Isso resultou na introdução de
teorias científicas deterministas, como o evolucionismo e o darwinismo social, e na aplicação
dessas teorias à realidade brasileira.
Contudo, a partir dos anos 1920, a revista começou a introduzir um discurso crítico em
relação à antropologia criminal e suas formulações deterministas, focando em temas como
higiene, saúde e educação, questionando a aplicabilidade dessas teorias à realidade brasileira.
Essa transformação não foi exclusiva da Faculdade de Direito do Recife, mas também
ocorreu em outras instituições acadêmicas, como a Academia de Direito de São Paulo. Esta
academia enfrentou desafios semelhantes, como a busca por professores qualificados e
infraestrutura adequada. A rivalidade entre diferentes regiões também influenciou a escolha de
São Paulo como sede da academia.
A autonomia dos "homens de direito" de São Paulo era uma característica marcante.
Eles afirmavam sua supremacia na análise das sociedades e defendiam um modelo liberal do
Estado, onde a democracia e a evolução se combinavam. A raça era vista como apenas um dos
elementos em uma análise mais ampla que incluía fatores culturais e políticos.
Além disso, a FDSP via o Estado como um resultado natural e evolutivo que surgia para
organizar e harmonizar uma sociedade anteriormente caótica. O poder soberano era considerado
a força que equilibrava, unificava, disciplinava e direcionava as forças sociais e indivíduos. O
liberalismo na escola de São Paulo era caracterizado por uma abordagem conservadora, onde a
liberdade era condicionada à necessidade de manter a ordem. A FDSP reconhecia a
desigualdade natural entre os seres humanos, mas acreditava na capacidade de evolução e
progresso.
Além disso, os objetivos das duas instituições eram distintos. Recife buscava formar
doutrinadores e "homens de ciência" que produzissem ideias autônomas, enquanto São Paulo
se dedicava à formação de políticos e burocratas de Estado, com o objetivo de exercer influência
política na nação. Recife enfatizava a teoria, enquanto São Paulo buscava traduzir práticas
políticas em leis e medidas efetivas. Essas divergências também se estendiam à política de
imigração. São Paulo demonstrou uma visão paradoxal e, por vezes, racista em relação à
imigração de trabalhadores orientais e africanos. Embora fosse uma província considerada
avançada e modernizante, adotava políticas restritivas com base em teorias eugenistas que
enfatizavam a intervenção no processo de seleção natural. Isso resultou em restrições
significativas à entrada de trabalhadores orientais e africanos.
REFERÊNCIA:
LILIA MORITZ SCHWARCZ. O espetáculo das raças. [s.l.] Editora Companhia das
Letras, 1993. (capítulo 5)