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net/publication/237501198
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Luiz Machado
Federal University of Minas Gerais
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All content following this page was uploaded by R.N.N. Koury on 23 September 2014.
1 – Sinergia Engenheiros Consultores Ltda, Rua Marechal Foch, 41 – 5° andar, Grajaú, Belo Horizonte, Brasil,
2- Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Av.
Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha, Belo Horizonte, Brasil, 3 – CEMIG Geração e Transmissão, Av.
Barbacena 1200, Santo Agostinho, Belo Horizonte, Brasil.
e-mail: licinio@sinergia.eng.br
RESUMO
Um hidrogerador de médio ou grande porte é uma máquina projetada e construída sob medida para a usina
hidrelétrica onde será instalada, donde é comum que algumas delas apresentem problemas decorrentes da concepção
que apenas vêm à tona na etapa de comissionamento ou nas primeiras 8000 horas de funcionamento. Esse é o caso
do superaquecimento do enrolamento do rotor, cujo diagnóstico não é possível antes do ensaio de aquecimento à
potência nominal, que ocorre pela primeira vez no comissionamento. O objetivo deste trabalho é apresentar um
estudo teórico visando reduzir o superaquecimento do enrolamento rotórico via diminuição do entreferro. Para isso,
um modelo matemático foi desenvolvido com base no principio da conservação da energia, com o uso de
coeficientes de transferência de calor levantados experimentalmente e de correlações retiradas da literatura. Este
modelo foi aplicado ao caso real de um hidrogerador de 179 MVA da Usina Hidrelétrica de Nova Ponte, no Brasil,
cujo entreferro foi reduzido de 24,5mm para 21,5mm de forma a atender o limite contratual de temperatura. A
comparação entre a temperatura do enrolamento do rotor obtida experimentalmente e aquela extraída do modelo
matemático revelou uma boa precisão do modelo.
Nos ensaios de comissionamento de alguns geradores constata-se que a corrente de excitação necessária para se
atingir a potência nominal nos terminais da máquina excede o valor de projeto. Quando essa ultrapassagem é
significativa, pode ocorrer um aquecimento do enrolamento de campo além do limite garantido. Nestes casos, uma
das alternativas geralmente adotadas pelo fabricante é a redução do entreferro, com a conseqüente redução da
corrente de excitação. Como uma redução no entreferro produz alterações nos parâmetros mecânicos e elétricos do
gerador, é desejável proceder-se à menor alteração possível.
O caso real, que ao final se apresenta, refere-se à Usina Hidrelétrica de Nova Ponte, pertencente à empresa
CEMIG Geração e Transmissão S. A., concessionária de energia elétrica brasileira com capacidade instalada superior
a 6000 MW. No desenvolvimento teórico buscou-se uma correlação entre a dimensão do entreferro e a temperatura
de equilíbrio do enrolamento de campo na potência nominal. Isso foi obtido por partes, estabelecendo-se, de um lado,
a lei de variação da temperatura do enrolamento de campo com a corrente de excitação e, de outro, a lei de variação
da corrente de excitação com a dimensão do entreferro. Os resultados teóricos foram posteriormente confrontados
com os valores obtidos nos ensaios do gerador com entreferro reduzido, demonstrando a adequação do modelo de
cálculo.
FUNDAMENTOS
( ) (
I 2 R r = U r Ar Tr − Ta = U r* Tr − Ta ) (1)
I 2 Rr
Tr = Ta + (2)
U r*
⎡ 234,5 + Tr ⎤
Rr = ⎢ ⎥ R ref (3)
⎣⎢ 234,5 + Tref ⎦⎥
Na Fig. 1 está qualitativamente representada a curva de saturação em vazio típica de um hidrogerador. Num ponto
genérico da curva temos:
onde Iar é a parcela da corrente de excitação necessária para vencer a relutância do ar (entreferro) e IFe é a parcela
necessária para vencer a relutância no ferro. Como é sabido, existe uma dependência linear entre a força eletromotriz
E e a corrente Iar, conhecida como “linha do entreferro”, mostrada na Fig. 1, que pode ser expressa por:
onde b1 e b2 são constantes que podem ser obtidas a partir da linha do entreferro na curva experimental de saturação
em vazio.
Força eletromotriz [kV]
Iar IFe
Por sua vez, a corrente de excitação I pode ser bem representada por um polinômio do 5° grau em E [1], ou seja:
I = a1 E5 + a2 E4 + a3 E3 + a4 E2 + a5 E + a6 (6)
onde a1, a2, a3, a4, a5.e a6 são constantes que podem ser obtidas a partir da curva experimental de saturação em vazio.
Se houver redução do entreferro do gerador, a relutância no ferro não será modificada e a expressão acima
permanecerá inalterada. Porém, a relutância no ar irá diminuir e a nova expressão para cálculo da corrente será:
g 0' g'
'
I ar = b1 E + b2 0 (8)
g0 g0
Somando-se as Eqs. (7) e (8) obtém-se uma função do tipo I’ = f(E , g’0), que permite determinar o valor da
corrente de excitação necessária para produzir uma dada força eletromotriz E com um entreferro reduzido qualquer
g’0, ou seja:
g 0' g'
I ' = a1 E 5 + a 2 E 4 + a 3 E 3 + a 4 E 2 + [ a 5 − b1 (1 − )]E + a 6 − b2 (1 − 0 ) (9)
g0 g0
Descrição do problema
Na sua concepção original, os hidrogeradores da Usina Hidrelétrica de Nova Ponte, pertencente à empresa Cemig
Geração e Transmissão S. A., apresentavam as seguintes características:
No ensaio de aquecimento das três unidades geradoras à potência nominal observou-se que as temperaturas do
enrolamento de campo ultrapassaram o valor contratualmente garantido de 100°C. Concluiu-se, na oportunidade, que
isso se deveu a um requisito de corrente de excitação acima do valor projetado. Como solução foi proposta uma
redução do entreferro a frio para 21,5 mm. No caso específico do ensaio do gerador da Unidade 2, que estudaremos
em detalhes, para uma potência de 177,81 MVA e tensão de 13,8 kV a corrente de excitação necessária foi de 2632
A, tendo a temperatura do enrolamento de campo atingido 107,4ºC para a água de resfriamento entrando a 23,1°C.
A partir do conjunto de pontos (E;I) levantados durante o ensaio de saturação em vazio do gerador 2 com
entreferro de 24,5 mm, foi possível determinar os seguintes coeficientes para a Eq. (6): a1= 0,00560 A/kV5,
a2 = -0,186 A/kV4, a3 = 2,398 A/kV3, a4 = -13,500 A/kV2, a5 = 139,950 A/kV e a6 = -26,662 A. Para a determinação
dos coeficientes da Eq. (5) foram usados somente os cinco primeiros pontos, correspondentes ao trecho reto da curva
conhecido como linha do entreferro, tendo sido obtidos os seguintes valores: b1 = 111,551 A/kV e b2 = -14,678 A. A
aplicação dos valores desses coeficientes à Eq. (9) conduziu à seguinte expressão:
g' g'
I ' = 0,00560 E 5 − 0,186 E 4 + 2,398E 3 − 13,500 E 2 + [139,950 − 111,551(1 − 0 )]E − 26,662 + 14,678(1 − 0 )
24,5 24,5
(10)
Para se atingir a potência nominal (179 MVA) na Unidade 2 com entreferro de 24,5 mm foi necessária uma
corrente de excitação de 2694 A, correspondente a uma força eletromotriz de 17,03 kV. Aplicando este último valor
na Eq. (10) chega-se à correlação que expressa a lei de variação da corrente de excitação com a dimensão do
entreferro para o gerador na potência nominal:
⎛ g' ⎞
I ' = 2694 − 1885⎜1 − 0 ⎟ (11)
⎜ 24,5 ⎟
⎝ ⎠
⎛ 21,5 ⎞
I ' = 2694 − 1885⎜⎜1 − ⎟⎟ = 2463 A (12)
⎝ 24,5 ⎠
O valor medido no ensaio da Unidade 2 na potência nominal com entreferro de 21,5 mm foi de 2490 A, apenas
1,01% maior que o valor calculado.
Para a determinação das diversas temperaturas do ar de resfriamento com o gerador em regime permanente
considerou-se o modelo térmico representado nas Figs. 2 e 3. As potências dissipadas (perdas) pelo gerador com
entreferro de 24,5 mm foram obtidas do relatório de ensaio de rendimento realizado na Unidade 3, exceto a perda no
enrolamento de campo que foi calculada por efeito Joule (I2R) para a corrente e resistência ôhmica prevalentes:
O coeficiente global modificado de troca de calor do trocador de calor ar-água foi calculado a partir dos valores
das temperaturas e vazões da água constantes de desenho fornecido pelo fabricante do trocador [2], conforme segue:
(1 − η )q v ⇝ kq st ⇝ qr ⇝
Ta 2 Ta 5
TROCADOR ESTATOR
AR-ÁGUA Ta1
q ⇝ [(1 − k ) q st + q Fe + q ad + ηq v ] ⇝
q 287
U t* = = = 14,96 W/m2 °C (15)
∆T ML 19,19
Já coeficiente global modificado de troca de calor entre o ar de resfriamento e o enrolamento de campo foi
calculado por:
qr
U r* = (16)
Tr − Ta
onde Ta = (Ta 4 + Ta 5 ) / 2 .
Os valores dos coeficientes U t* e U r* assim calculados foram considerados como constantes, dentro dos limites
de aplicação do modelo de cálculo. A vazão de ar por trocador foi medida, tendo sido encontrado um valor médio de
13,375 m3/s, contra os 9,875 m3/s usados no projeto. Através das correlações de Grimison e de Dittus-Boelter [3]
verificou-se que o citado acréscimo de vazão conduz a um aumento de 17% no coeficiente global U t* , cujo valor
passa a ser de 17,50 W/m2 °C. Isso posto, para a água de resfriamento entrando no trocador de calor com Tw1 =
23,1°C e considerando a temperatura do enrolamento de campo estabilizada em 107,4°C na potência nominal, as
diversas temperaturas foram calculadas pelas expressões abaixo apresentadas, nas quais os valores das propriedades
termodinâmicas do ar e da água foram determinados na temperatura média do fluido.
q
Tw2 = Tw1 + (17)
ρ wV&w c w
q
Ta 2 = Ta1 + com q = U t* ∆TML (via interação) (18)
ρ aV&a c a
kq st
Ta 3 = T a 2 + (19)
ρ a V&a c a
(1 − η )q v
Ta 4 = T a 3 + (20)
ρ V& c
a a a
qr
Ta 5 = T a 4 + (21)
ρ a V&a c a
Foram encontrados os seguintes valores: Tw2 = 26,98°C, Ta1 = 56,19°C, Ta2 = 30,37°C, Ta3 = 31,85°C, Ta4 =
32,75°C, Ta5 = 37,04°C e U r* = 7259 W/°C.
Aplicando-se o modelo descrito foram realizados os cálculos para o entreferro de 21,5 mm, consideradas as
seguintes premissas:
- a potência dissipada pelo gerador, q, permanece inalterada, uma vez que a redução das perdas no rotor é
neutralizada pelo aumento das perdas adicionais;
- a redução do entreferro não produz alteração significativa nas perdas de carga do circuito de ar, donde a vazão
volumétrica do ventilador permanece inalterada;
- o coeficiente global de troca de calor entre o ar e o enrolamento de campo não se altera.
Considerando, agora, a água de resfriamento entrando no trocador de calor com Tw1 = 23,9°C (valor medido no
ensaio com entreferro de 21,5 mm) as novas temperaturas de trabalho foram calculadas através das Eqs. (17) a (20),
chegando-se aos seguintes valores: Tw2 = 27,78°C, Ta1 = 56,99°C, Ta2 = 31,17°C, Ta3 = 32,42°C e Ta4 = 33,34°C.
Aplicando na Eq. (3) os valores de Tref = 26°C e Rref = 59 x 10-3 ohm, obtém-se uma expressão Rr = f(Tr) , que
aplicada à Eq. (2), juntamente com os valores de I = 2463 A e U r* = 7259 W/°C, conduzem a:
Os valores de Ta5 e Tr foram calculados por interação das Eqs. (21) e (22), lembrando que q r = I 2 R . Os
seguintes valores foram obtidos: Ta5 = 36,98°C e Tr = 96,68°C.
A lei de variação da corrente de excitação com a dimensão do entreferro determinada teoricamente mostrou-se
bastante satisfatória, conforme mostrado no gráfico da Fig. 4, onde, para diversos valores de E, os pontos
experimentais da curva de saturação em vazio são plotados simultaneamente com os pontos calculados pela equação
da curva teórica.
16
Força eletromotriz [kV]
14
12
10
8
6
4
2
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Corrente de excitação [A]
Fig. 4 – Curvas teórica e experimental de saturação em vazio para entreferro de 21,5 mm.
Modelo térmico
O valor da temperatura do enrolamento de campo calculado via modelo foi de 96,68°C, contra um valor medido
de 95,2°C, indicando uma proximidade bastante satisfatória entre valores teórico e experimental.
CONCLUSÕES
A proximidade entre os valores teóricos e experimentais indica que o modelo de cálculo proposto é adequado, sob
o ponto de vista térmico, ao propósito de se determinar o grau de redução de entreferro que possibilite atender ao
limite máximo de temperatura definido para o enrolamento de campo. Uma maior precisão do modelo certamente
será alcançada se a curva de saturação em vazio for determinada com as temperaturas do gerador o mais próximo
possível da condição de regime permanente na potência nominal, onde o valor do entreferro supera o valor medido a
frio. Vale ressaltar que, adicionalmente à avaliação das temperaturas, deve ser estimada a variação de outras
grandezas do gerador que são dependentes do entreferro, tais como as reatâncias, as perdas adicionais e as forças
magnéticas. Finalmente, é preciso citar que, nos casos reais onde o problema acontece, outras medidas eficazes são
adotadas em paralelo à redução do entreferro, dentre elas o aumento da vazão de ar de resfriamento, o que
efetivamente ocorreu na Usina de Nova Ponte.
SIMBOLOGIA
REFERÊNCIAS
1. H. Ohishi et al, Radial Magnetic Pull in Salient Pole Machines With Eccentric Rotors, IEEE Transactions on
Energy Conversion, Vol. EC-2, N° 3, pp. 439-443, 1987.
2. GEA do Brasil, Resfriador de ar/água - Conjunto geral, desenho n° 2-165-1033-01,1992.
3. F. P. Incropera, D. P. DeWitt, Introduction to Heat Transfer, John Wiley & Sons, Inc., 2002.