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PATOLOGIA CIRURGICA DE PEQUENOS ANIMAIS

Diego Vivas e Fernando Elísio

Afecções cirúrgicas gastrointestinais

Corpo estranho

Clássico Plástico, pedra, brinquedo

Perfurocortante Agulha, lâmina, brinco, anzol

Linear Corda, barbante, cabelo, roupas

Apresentação clínica
A maioria em filhotes, pelo hábito de explorar o ambiente e entender o que está mastigando.
Sem alterações clínicas quando agudo. Quando temos uma cronicidade, o animal podem
apresentar anorexia, vômitos agudos ou persistentes, desidratação por perda de líquido, e
apresentar dor abdominal em casos de corpo estranho linear, perfurações e peritonite.
Dependendo do caso clínico, podemos ter graus de manifestação.
Felinos, temos uma maior casuística de corpo estranho linear. Sempre devemos avaliar a base
da língua desses animais (de qualquer espécie), em busca de ancoragem neste local. Região
antropilórica é outro local comum de ancoragem. O corpo estranho linear vai seguindo sentido
normal, a peristalse intestinal começa a ficar afetada e pregueada, só que o corpo estranho fica
esticado, entrando na mucosa da parede intestinal e dependendo, há uma ruptura. Plicação
intestinal é o nome técnico do sanfonamento que ocorre no intestino. Comunicamos ao
cirurgião da ancoragem.

Alterações laboratoriais
Depende da gravidade e da duração da obstrução. Quanto mais tempo de ingestão deste corpo
estranho, maior as alterações o animal pode apresentar. Hemoconcentração que são
alterações, junto com a albumina sérica, sinais de desidratação, por conta da anorexia e do
vômito. Leucocitose com ou sem DNNE. Essas alterações hematológicas vão depender se o
caso é crônico, depender da gravidade e quanto ao tempo.

Diagnóstico
Temos sempre que pedir exames de imagem para o paciente. Não tem como descobrir o que o
animal tem, no abdômen, sem exames de imagem complementares. Não podemos ficar
limitados apenas a exames de sangue.
Pedimos uma radiografia simples. Corpo estranho metálico, radiopaco ou dependendo da
densidade, conseguimos visualizar. Fazemos radiografia contrastada, em caso de corpo
estranho radiolucente. Usar sulfato de bário. O animal faz a ingestão desse sulfato de bário,
onde ele cobre o corpo estranho radiolucente, deixando marcado. Temos que ter cuidado para
não usar em risco de perfuração do gastrointestinal, pois o sulfato de bário intra-abdominal
pode levar o animal ao choque anafilático, logo, temos que fazer outros exames.
Ultrassonografia. Corpo estranho radiolucente (presença de líquido e sombra acústica). Ela nos
dá mais informações sobre a localização mais correta e noção de como está a víscera.
Endoscopia. Faz diagnóstico e tratamento. Cada vez mais está sendo presente na medicina
veterinária, mas tem suas limitações. Tem maior dificuldade em casos de corpo estranho linear,
pois ele tem tendencia de ir ao intestino e o endoscópio, por mais fino e comprido que for, não
consegue ter acesso ao intestino para ser minimamente invasivo, logo, temos essa limitação.

Tratamento clínico
Só induzimos o corpo estranho se o corpo estranho for redondo e pequeno, como uma bolinha
de gude, por exemplo, podemos induzir o vômito. Induzimos com Morfina 0,1 a 0,2mg/kg ou
Xilazina 0,4 a 0,5mg/kg.
Não fazer uso de água oxigenada. Causa lesão no epitélio, por queimadura química.

Tratamento cirúrgico
Endoscopia, onde sempre consideramos por ser minimamente invasivo, podendo liberar
rapidamente o animal para a casa, porém, temos a limitação nos casos de corpo estranho
linear.
Gastrotomia, quando o corpo estranho está somente no estômago. Abrimos a cavidade
abdominal, abrimos o estômago na área do corpo e removemos o corpo estranho.
Gastrotomia com enterotomia ou enterectomia com enteroanastomose

Cuidados no pós operatório


Hoje, temos que tomar cada vez mais cuidado com o pós operatório. O animal tem que ter
uma reposição hidroeletrolítico, já que o animal já está tendo um quadro de anorexia, vômito,
letargia, tem que fazer analgésicos no pós operatório, onde podemos usar Metadona, Dipirona,
Tramal. Isso é bom pois diminui o trânsito intestinal, melhorando a cicatrização inicial.
Antibioticoterapia profilática, podendo usar o Metronidazol com alguma Cefalosporina
(Ceftriaxona, Cefazolina). Hoje, estudos mostram que não precisamos de tantas horas de jejum
para o animal voltar a se alimentar, pois quanto mais alimentados os enterócitos tiverem, mais
rápido eles iniciam a cicatrização. Felinos, 6 horas de jejum pós cirúrgicos e cão, 12 horas.
Entramos com uma ração bem líquida e com o tempo, aumentamos a consistência da ração
(em cão ou gato). Imagem no pós operatório para fazer um acompanhamento do pós cirúrgico.
Antieméticos de ação central. Evitamos a Metoclopramida por ter ação procinética e não
desejamos uma motilidade acelerada. Temos a opção de usar a Ondansetrona 0,1 a 0,2mg/kg
ou Citrato de Maropitant 2mg/kg.

Síndrome da dilatação vólvulo gástrico


É a dilatação aguda do estômago com sua torção no eixo mesentérico. Essa torção leva a
alterações hemodinâmicas importantes e a partir desse momento, temos várias alterações
sistêmicas que podem levar o animal ao óbito, tanto no pré, durante e no pós operatório.
Muita gente confunde a torção vólvulo gástrico com o ingurgitamento pós prandial
(timpanismo). As vezes o animal só tem o timpanismo, mas não tem a torção. Temos que saber
diferenciar e com os exames de imagem. É um acometimento agudo, raro em felinos, tem
maior predisposição em cães de porte grande e peito mais pedunculado, mas vemos em todas
as raças e portes. Tem a taxa de mortalidade alta (de 20 a 40%). É uma emergência clínica e
uma urgência cirúrgica. Obrigatoriamente temos que fazer uma estabilização hemodinâmica,
uma reposição hidroeletrolítica, manobras clínicas emergenciais para estabilizar o paciente
para depois fazermos a cirurgia.

Etiologia
Desconhecida pois não sabemos o porquê de a torção acontecer. Alguns estudos falam que
tem relação com aerofagia (animal que engole ar) na ingestão de ar, associado com o número
de vezes que o animal se alimenta por dia. Se ele fica em jejum intermitente por muito tempo,
comendo 1 vez ao dia, vai sentir muita fome, então, acaba comendo de forma voraz, uma
quantidade muito grande e com a aerofagia, temos o risco de uma hiperextensão estomacal e
risco de ter a torção. Estudos também descrevem exercícios e estresses pós ingesta alimentar.
A não eructação (arrotar). Animais que possuem esvaziamento gástrico lento e isso é fisiológico
no animal. Temos ainda os animais que têm frouxidão dos ligamentos hepatoduodenal e
hepatogástrico, favorecendo essa rotação e torção, mas isso não tem como sabermos e não
tem uma prevenção para isso.
Para entender a fisiopatogênia, temos que lembrar da anatomia e vascularização gástrica. A
partir do momento que temos uma torção estomacal, temos uma diminuição do retorno
venoso por conta da eclosão de veia cava e de veia porta, temos todo um comprometimento
circulatório do estômago para baixo.

Localização
Se localiza no quadrante cranial do abdômen, voltada para o lado esquerdo, tendo a região
antropilórica passando da linha média para o lado direito. Ele possui dois esfíncteres, o cárdia,
localizada no final do esôfago e o pilórico, localizado no início do duodeno. É dividido em 4
partes (regiões). Cárdia, fundo, corpo, antropilórica. Possui duas curvaturas. Uma menor e uma
maior. Paredes teciduais se dividem em 4. Mucosa, submucosa, muscular, serosa.

Vascularização
Os vasos que irrigam o estômago são a aorta, onde a sua primeira ramificação é a celíaca, que
se ramifica para artéria gástrica esquerda e ramificação gástrica direita. Na artéria celíaca,
temos uma trifurcação. A primeira, é a esplênica, que se forma a epiplóica, a hepática que tem
uma ramificação formando a gastroduodenal irrigando a região de duodeno e parte da
antropilórica.

Ligamentos
- Gastrofrênico
- Gastroesplênico, ligando o estômago ao baço.
- Gastropancreático, ligando o estomago ao pâncreas
- Gastro-hepático
Todos esses ligamentos fixam o estômago.

Fisiopatogenia
O animal inicialmente apresenta um timpanismo e a primeira coisa que acontece é uma
rotação no sentido horário. A região antropilórica gira no sentido horário. Quando ela gira, o
antro piloro passa por cima da região cárdia, do estômago. Consequentemente, a curvatura
maior segue o sentido horário e ela se desloca para a direita. Ao mesmo tempo, temos uma
rotação do eixo mesentérico, onde o baço passa por trás do estômago, ficando do lado direito
e quando ele rotaciona, temos a torção do cárdia e ainda, o fechamento do antro pilórico, que
vai torcer e passar por cima do cárdia. Quando temos a torção do mesentério, ele fica preso
entre o esôfago e o estômago, não conseguindo voltar sozinho e só conseguindo reposicionar
de forma mecânica, na cirurgia.
A curvatura maior que é vascularizada pela epiplóica, quando temos a rotação e torção, temos
a oclusão dos vasos dessa região e como fica congesto, normalmente podemos ter também
(não é uma obrigatoriedade), a região de fundo do estômago necrosada por conta de isquemia
e ter que fazer uma gastrectomia parcial. Quando temos a torção no eixo mesentérico, como
temos o giro do baço por trás do estômago, também temos a oclusão das esplênica e quando
isso acontece, temos uma congestão isquêmica, passando a não ter vascularização no baço,
ficando isquêmico e por isso, na maioria das vezes, ele tem que ser avaliado, para ver se há a
necessidade de remover ou não.

Quando temos a torção no cárdia, torção pilórica que passou pelo cárdia e está ocluído, não sai
e não entra mais conteúdo e cada vez mais, o conteúdo que está no estômago, vai ser
fermentado, distendendo, comprimindo e ocluindo veia porta e veia cava caudal. Quando isso
acontece, temos o que chamamos de síndrome de compartimentalização, pois o sangue fica
retido no abdômen, já que não tem como voltar. Como o estômago está torcido e hiper
estendido, ele oclui essas duas veias, não tendo fluxo.

1- Compressão da veia cava caudal, tendo uma diminuição do retorno sanguíneo. Com
isso, temos menos sangue para o coração, menor volume sistólico, por ter um coração
batendo menos, diminuição do débito cardíaco (DC), perfusão venosa central (PVC) e
pressão arterial média (PAM). Consequentemente, temos uma isquemia de miocárdio.

2- Oclusão da veia porta, tendo a diminuição de toxinas pelo fígado, causando uma
endotoxemia e com isso, temos a pressão arterial e o débito cardíaco diminuído.
Quando temos essa síndrome de compartimentação, o sangue fica retido no abdômen
e quando isso acontece, temos essa hipertensão portal, com isso, temos uma
hipoperfusão tecidual (pouco sangue chegando nos tecido), onde começamos a ter
retenção de radicais livres e quando reposicionamos o estômago, podemos ter lesões
oxidativas e o animal falecer por conta dessas liberação de radicais livres. Além da
hipoperfusão tecidual, temos que pensar nos outros sistemas, que não são
alimentados pelo sangue e com isso, temos alteração de membrana desses órgãos
(principalmente gastrointestinal, renal e urinário), tendo translocação bacteriana,
tendo um choque séptico (infecção generalizada).

O animal entra em uma síndrome séptica, cardiogênica, neurogênica, hipovolêmica, fazendo


com que o animal tenha um índice de morte alta. Entendendo a fisiopatogenia, entendemos a
importância de fazer a estabilização hemodinâmica que é a emergência clínica, para depois
passarmos para a emergência cirúrgica. Quanto mais tempo o animal permanece sem cuidado,
pior vai ser o caso.
Quando temos a torção de veia cava, de veia porta e os demais vasos, temos a retenção de
sangue e risco de formação de trombo. Quando reposicionamos o estômago e desfazemos a
torção, com a volta da corrente sanguínea, temos o risco do trombo se desprender e ocorrer
um tromboembolismo, fazendo o animal ter morte aguda.
Por conta da hiperextensão abdominal, ela acaba trazendo uma compressão torácica e o
animal tem uma hipoventilação, com uma diminuição da expansão torácica. Essa
hipoventilação faz com que diminua a perfusão e consequentemente temos uma diminuição
do débito cardíaco, perfusão venosa central e pressão arterial média, tendo também risco de
isquemia de miocárdio, levando a arritmias ventriculares que também acabam colaborando
para a falência múltipla de órgãos.
Ao mesmo tempo que temos que tratar o animal, temos que manter o proprietário informado
e ciente que isso tudo pode acontecer. Acaba sendo oneroso para o proprietário.

Sinais clínicos
São animais que vão chegar com uma hiper distensão abdominal cranial, tanto do lado
esquerdo quanto do lado direito, pois o corpo do estômago vai estar hiper distendidos. Animais
com ânsia de vômito não produtiva (não sai conteúdo) e fica agitado, salivando, não achando
uma posição legal para ficar. Abdome agudo. Dispneia por conta da dor e da compressão
torácica. Sinais de choque hipovolêmico, como TPC alto, mucosas pálidas, pulso periférico
aumentado.

Diagnóstico
Histórico clinico do animal. Exame clínico. Sinais clínicos que são patognomônicos e pelos
exames de imagem, que fechamos o diagnóstico. Na ultrassonografia conseguimos fechar
diagnóstico, mas nem sempre temos o ultrassonografista quando chega o animal. Sempre
fazer uma radiografia para chegar no diagnóstico e a ultrassonografia serve para avaliação de
trombo e falar do contexto geral de como estão os órgãos.

Radiografia
Ultrassonografia abdominal, para avaliação principalmente do baço e possíveis tromboses

Radiografia
Projeção VD – Piloro à esquerda
Projeção LL – Piloro cranial ao corpo do estômago
Imagem de “C” invertido

Tratamento emergencial
- Oxigênio
- Descompressão gástrica
- Fluidoterapia rápida.
Colocação de cateteres intravenoso para fluidoterapia isotônica (90ml/kg/hora), podendo
também ser ringer com lactato, administrado em bolus de 20 a 25ml/kg por 15 minutos, ou
ainda, solução salina hipertônica 7%, de 4 a 5ml/kg de 5 a 15 minutos. Isso tudo, ao mesmo
tempo.

Descompressão gástrica
Cateter (gastrocentese), percutânea, para esvaziar e estabilizar o animal.
Sonda orogástrica para realizar o esvaziamento gástrico, porém, o estômago ainda está torcido
e temos o risco de ferir o cárdia. Usamos a sonda no momento da cirurgia que conseguimos
reposicionar o estômago e ao invés de fazer uma gastrotomia para remover o conteúdo
estomacal, passamos a sonda e com o gradiente de concentração ele sai, não tendo a
necessidade de abrir o estômago.
O mais indicado, hoje, é a gastrostomia temporária, neste momento. Fazemos um bloqueio
local “L” invertido para realizar a dessensibilização de pele, subcutâneo e parede muscular.
Com o animal sedado, fazemos a incisão da pele, subcutâneo e músculo. Quando fazemos isso,
o estômago sobe. Suturamos a seromuscular do estômago no músculo e na pele, para ancorar,
e fazemos uma incisão nas 4 camadas, abrindo o estômago. Quando fazemos isso, o estômago
faz um esvaziamento mais gradativo e com isso, evitamos um pico hipotensivo.

Manejo clínico
Controle da dor com Metadona 0,1 a 0,3mg/kg, Tramadol 2 a 5mg/kg ou Morfina 0,1 a
0,5mg/kg
Antibioticoterapia
Temos a alteração da permeabilidade das mucosas e com isso, uma translocação bacteriana.
Pode haver necrose gástrica. Por isso a necessidade de antibioticoterapia de amplo espectro.
Podemos usar a Ampicilina 22mg/kg IV, Enrofloxacino 5 a 10mg/kg SC, Metronidazol 5 a
10mg/kg IV, Ceftriaxona 30mg/kg IV ou Cefazolina 22mg/kg IV.

Usamos inibidores de secreção gástrica.


Omeprazol 1 a 1,5mg/kg IV.

E ainda, fazemos o uso de protetores de mucosa gástrica


Sucralfato 0,5 a 1g/ animal VO, mantendo no pós operatório. A partir do momento que o
estômago tem uma deficiência de vascularização, principalmente na curvatura maior, temos
necrose nessa região.

Tratamos as arritmias ventriculares com Cloridrato de Lidocaína (primeira escolha) em bolus


2,0mg/kg, podendo chegar a 4mg/kg e no máximo 8mg/kg ou em infusão contínua de 25 a
75mcg/kg por minuto. Se persistir, usamos Procainamida 10mg/kg em bolus lento IV ou em
infusão contínua de 25 a 60mcg/kg por minuto e ainda, em caso de persistência, podemos usar
Propranolol 0,1/kg até a dose máxima de 0,6/kg ou o Atenolol 0,25 a 1,0mg/kg VO.
A partir do momento em que estabilizamos a clinica, podemos partir para o tratamento
cirúrgico.

Tratamento cirúrgico
Os objetivos do tratamento cirúrgico são três. Reposicionamos o estômago e o baço se
possível, avaliando se ele tem ou não viabilidade. Se ele não tiver viabilidade, ou, se o corpo do
estômago tiver com aspecto necrosado, com pouca vascularização, temos que fazer a
gastrectomia temporária e a esplenectomia total, pois fica uma região com pouca
vascularização. Removemos os tecidos danificados ou necrosados. Realizamos a gastropexia,
que é a fixação deste estômago, na parede abdominal interna. Ela deve ser realizada. É
considerado um erro de conduta médica, não realizar a gastropexia. Realizamos na região
antropilórica que devemos fazer a gastropexia, pois é a primeira região que rotaciona. Com ela
presa, não temos a rotação no sentido horário, muito menos a rotação.

Técnica alça de cinto


Fazemos um flap na seromuscular, como na imagem abaixo e na parede abdominal interna,
fazemos duas incisões, criando um túnel. O flap entra no túnel e suturamos, o deixando preso.
Técnica de gastropexia incisional
Na região antropilórica, fazemos uma incisão. Neste momento ela dica com um aspecto
elíptico. Na parede abdominal interna, do lado direito, também fazemos uma incisão elíptica.
Suturamos essas bordas, ficando como na imagem abaixo.

Técnica circuncostal
É a mesma técnica que a alça de cinto, só que utilizamos a décima ou décima primeira costela.
Fazemos uma incisão elíptica e na parede abdominal do lado direito, vamos na altura da
décima costela, fazendo uma incisão na décima costela. Dissecamos para ela ficar exposta.
Passamos o flap por trás da costela, fazendo a ancoragem. Torcemos o flap para suturar no
estômago.
Complicações pós cirúrgicas
Podemos ter a persistência das arritmias ventriculares e normalmente isso acontece em 50%
dos pacientes, que persistem com esse quadro de 12 a 72 horas, mesmo após a cirurgia. Se isso
acontecer, temos que manter a conduta da citada anteriormente, e isso acontece por conta da
isquemia do miocárdio.
Anemia, decorrente da avulsão dos ramos gástricos epiplóicos esquerdo, no transoperatório de
gastropexia e gastrectomia parcial e esplenectomia, caso esse baço seja removido.
Hipoproteinemia sendo muito comum e normalmente sendo originada da inflamação gástrica
associada a gastrite ou ulceração, podendo ser por conta da peritonite ou hemodiluição e a
gente faz a administração de expansores coloidais sistêmicos.
Hipocalemia ocorre por hipersecreção gástrica, por perdas renais, pelo processo de intubação,
refluxo duodenogástrico e pela regurgitação de secreções biliares e pancreáticas e essa baixa
de potássio vai favorecer o aparecimento das arritmias ventriculares pós cirúrgicas. Fazemos a
reposição com 1 ampola 10ml KCL (13,4mEq) diluído em 1 litro de Ringer com Lactato, 25ml/kg
por hora, até a melhora clínica. Quando ocorrer a melhora clínica, interrompemos a
administração de potássio via endovenosa e passamos a fazer por via oral.
Lesões da mucosa gástrica, onde mantemos a administração de antiácidos e bloqueadores de
receptores de H2 (omeprazol, Pantoprazol).

A síndrome da dilatação vólvulo gástrico é uma condição clínico cirúrgica de caráter agudo.
Temos que ter uma conduta clínica emergencial e uma conduta cirúrgica urgente. Precisamos
obrigatoriamente fazer uma reposição hidroeletrolítica e uma estabilização hemodinâmica
deste animal. A lesão por perfurações e as arritmias são os principais responsáveis pelo
prognóstico desfavorável.
Como conduta profilática, devemos oferecer pequenas refeições, várias vezes ao dia, evitando
agitação e estresse pós alimentação.
A rápida identificação, as escolhas das terapias adequadas e a estabilização precoce do
paciente são essenciais para o sucesso da manutenção da vida deste paciente.

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2022

Afecções cirúrgicas intestinais

Corpo estranho intestinal

Altas ou proximais - Duodeno . Vômitos persistentes


- Jejuno proximal . Perda de secreção gástrica

Baixas ou distais - Jejuno distal . Vômitos esporádicos


- Íleo . Anorexia
- Junção ileocecal . Diarreia
. Toxemia
Fisiopatogenia
Na imagem abaixo, vemos um corpo estranho que está obstruindo totalmente o fluxo deste
intestino. Quando temos uma obstrução total, comprimindo a alça intestinal, temos por
compressão, necrose das bordas. No sentido oral, começamos a ter uma distensão intestinal
que se deve ao ar deglutido na alimentação (aerofagia) e a fermentação alimentar e ainda,
temos acúmulos de líquidos, que tem origem do alimento e as secreções glandulares (salivar,
biliar e pancreática). Como temos uma distensão no sentido oral, começamos a ter alterações
de membrana nesta região, causando diminuição de absorção da parede intestinal,
peristaltismo diminuído nesta região. Começamos a ter alterações de membrana, quadros de
translocação bacteriana, principalmente em região intestinal e a diarreia vem como sinal clínico
de uma toxemia.
A integridade intestinal é melhor no sentido aboral (sentido do reto), sinalizado pela seta
vermelha abaixo. Por isso que as enterotomias devem ser, de preferência, no sentido aboral e
remover neste sentido, o corpo estranho. No sentido oral, temos uma necrose desse local,
dificultando a cicatrização.

No sentido oral, temos também, por conta da hiper distensão, essas alterações de paredes que
podem ser fatores complicados no processo de cicatrização.

Exames clínicos
Deve ser minucioso. Não basta chegar um animal com dor abdominal e receitar medicamentos.
O exame deve ser feito por completo. Pode ser confundido com abdômen agudo. As vezes o
animal chega com a coluna toda arqueada de tanta dor, que pode haver a necessidade de
realizar uma analgesia no animal. Vômito e diarreia, onde a diarreia aparece indicando sinais
de toxemia. Letargia e anorexia, mostrando alterações em hemograma e sempre avaliar as
mucosas.

Exames de imagem
São muito importantes
- Radiografia simples
Se houver um corpo estranho radiopaco, ele vai aparecer. Se for radiolucente, dependendo da
densidade, podemos ter uma marcação.
Vamos ter imagem de empilhamento. Presença de acúmulo de ar no sentido oral. Curvas
acentuadas e distensão intestinal. Não conseguimos afirmar ser um corpo estranho, mas é uma
imagem bem sugestiva.
- Ultrassonografia abdominal

Fechamos o diagnóstico. Além da ultrassonografia nos passar informações de como está esse
corpo estranho e sua localização, ela também nos dá a ideia de como está o abdômen, se já
tem líquido livre, se já tem ruptura de parede intestinal, se esse líquido livre tem um certo grau
de celularidade (ou não), fazendo com que consigamos fechar o diagnóstico.
Em casos de corpo estranho linear, podemos ter a plicação intestinal, que é o enrugamento do
intestino, por conta do peristaltismo que permanece. O corpo estranho, por sua vez, tende a
entrar na mucosa e com isso, podemos ter uma ruptura da parede intestinal, onde vamos
precisar realizar uma avaliação macroscópica dessa alça e ver se tem como mantê-la.

Sempre temos que remover o corpo estranho em sentido aboral. Se for um corpo estranho
linear, ou a gente faz várias enterotomias, removendo pedaços desse corpo estranho, ou se não
houver integridade dessa alça intestinal, fazemos uma enterectomia com enteroanastomose.
O pós operatório, temos que fazer um jejum alimentar (gato 6 horas/ cão 12 horas) pois o que
estimula a cicatrização intestinal são as células intestinais (enterócitos) estejam hidratados e os
hidratamos fazendo a alimentação do paciente. Por isso que não se faz mais um jejum tão
prolongado nos animais. Assim, conseguimos hidratar os enterócitos mais rápido e
conseguimos ter um processo de cicatrização inicial. Começamos a oferecer uma alimentação
mais líquida e rala e gradativamente vamos dando consistência a essa alimentação, até o
animal voltar com uma ração seca. Neste pós operatório, o animal vai tomar analgésicos e
anti-inflamatórios. Eles, além de agirem diretamente no controle da dor, também vão ser
importantes pois eles diminuem a peristalse intestinal e isso vai ser importante para uma
cicatrização inicial no intestino, principalmente como temos uma enterotomia com
enteroanastomose. Podemos usar antieméticos, mas eles devem ser de ação central. Podemos
usar Ondansetrona 0,2mg/kg (podendo usar até 0,5mg/kg) ou Citrato de Maropitant 2mg/kg,
BID. Não podemos usar a Metoclopramida por conta da sua ação procinética. Fazemos
antibioticoterapia por conta do quadro de toxemia que já está acontecendo, onde podemos
usar vários antibióticos. Sempre antes da liberação de um animal, sempre temos que fazer
exames de ultrassonografia e de sangue no pós cirúrgico, para sabermos como está a melhora
desse paciente.

Intussuscepção
É a invaginação de um segmento intestinal para dentro do lúmen de outro segmento adjacente
de outro segmento intestinal. Uma alça intestinal entra em outra alça intestinal. Ela acontece
normalmente no sentido Normógrado, ou seja, de oral para retal. Os locais mais comuns é a
junção íleo-ceco-cólica e jejuno-jejunal. Temos que entender que ela está ligada a um quadro
de hiper motilidade intestinal, onde o intestino está com uma peristalse aumentada. Filhotes
tem maior predisposição, pois é muito comum doenças intestinais que produzem hiper
motilidade intestinal, como por exemplo, a Parvovirose, enterite parasitária, enterite
bacteriana, porém, pode acontecer em animais adultos também.

Sinais clínicos
Dor abdominal, enterite hemorrágica que ocorrem muito por conta da translocação bacteriana,
secundária a fisiopatogenia e doenças parasitárias, vômito, perda de peso que vem por conta
da diarreia e vômito, onde o animal perde líquido e consequentemente, peso por desidratação.

Fisiopatogenia
A alça intestinal se direciona para dentro da alça intestinal adjacente. Se ela entra, temos um
colapso vascular, pois a região indicada pela seta acaba ficando isquêmica, por conta da dobra.
Se ela fica isquêmica, ela fica com aspecto de necrose e com isso, já temos um quadro
instalado de infecção e começa um quadro de translocação bacteriana. Cada vez mais essa alça
vai entrando na região adjacente, até fazer uma oclusão total. Com isso, começamos a ter
distensão de gás, alteração de permeabilidade de membrana, o animal começa a apresentar
vômito, igual a fisiopatogenia do corpo estranho, sendo que neste caso, temos uma menor por
conta do colapso vascular.

Exame clínico
Além de observarmos as alterações, quando temos a intussuscepção, ao colocar a mão,
sentimos uma massa palpável, só que não conseguimos diferenciar o que é essa massa. Por
isso que devemos pedir o exame de imagem.

Radiografia

Vemos uma região com leve densidade radiopaca e no sentido oral caudal a intussuscepção,
começamos a ver acúmulo de gás, fazendo curvaturas acentuadas (como na imagem acima).
Vemos a formação tubular de tecido mole e o acúmulo de gás.

Ultrassonografia abdominal

A ultrassonografia fecha diagnóstico pois quando pegamos o corte transversal, temos uma
imagem de alvo (como na imagem acima), com múltiplas camadas concêntricas transversais,
no corte transversal. É uma imagem patognomônica. A ultrassonografia vai ser importante para
avaliar a motilidade intestinal, vendo se vai ter alterações de líquido na cavidade abdominal,
como está o aspecto das alças e como estão os restantes dos órgãos abdominais.

Tratamento cirúrgico
Temos que saber fazer a ligadura do vaso correto, no mesentério e depois, realizar a
anastomose. Na intussuscepção, temos que fazer a correção cirúrgica, mesmo que com
analgésicos a gente tenha a resolução do caso (naquele momento). Como tem efeito memória,
podendo voltar de forma espontânea, temos que realizar o procedimento cirúrgico.
Desfazemos a intussuscepção e realizamos a enterotomia com enteroanastomose,
principalmente por conta do colapso venoso da região afetada. Mantemos o tratamento da
doença base que está causando essa hiper motilidade intestinal. Neste caso, temos uma
complicação cirúrgica um pouco maior pois a técnica é mais complexa do que uma
enterotomia, por isso que o cuidado tem que ser maior. Temos que deixar esse intestino com a
peristalse menor, para termos um bom processo de cicatrização por toda a alça intestinal.

Megacólon
É um aumento da região de intestino grosso (cólon descendente, cólon transverso, podendo
chegar ao cólon ascendente), de forma persistente. Diferente da intussuscepção, que é
causado por doenças que causam hiper motilidade intestinal, o megacólon está ligado a
doenças que causam hipomotilidade intestinal. Se o animal tem essa hipomotilidade intestinal
em região de cólon, as fezes ficam retidas e com isso, uma retenção de água, fazendo com que
as fezes fiquem duras e ressecadas, causando uma constipação grave, onde temos o
megacolón. O animal apresenta tenesmo, onde a defecação fica dolorosa e difícil, já que temos
o ressecamento dessas fezes, fazendo com que o animal segure ainda mais as fezes e causando
um problema maior. É comum em cães idosos por conta de problemas secundários ao
megacólon. Um exemplo são animais que possuem displasia coxofemoral. Na hora dele se
posicionar para defecar, ele sente dor, não conseguindo se posicionar e segurando as fezes.
Temos ainda, cães idosos que tem síndrome da cauda equina, que na hora de se posicionar, o
animal sente dor e segura. Em felinos, por não ter na rotina, o caminhar como de um cão, pode
também apresentar problemas.

Congênito
Pouco visto.
Adquirido

Neurológico Síndrome da cauda equina

Traumático Fraturas

Tumoral Tumores extrínsecos e intrínsecos

Ambiental Caixa higiênica, habitat, confinamento

Comportamental Competitividade, introdução de um novo indivíduo

Farmacológico Opioides, anticolinérgicos

Exame clínico
O animal apresenta desidratação, quadro de vômito, secreção retal, e massa abdominal
palpável em cólon descendente.
Radiografia

Temos uma hiper distensão do cólon descendente. Conseguimos fechar diagnóstico neste
momento.
Ultrassonografia abdominal
Fazemos para ter uma noção dos demais órgãos no sentido oral.

Tratamento clínico
Correção hidroeletrolítico, pois esse animal se apresenta desidratado. Laxantes como Lactulose
1ml/5kg cão e 2 ml/gato VO, Docusato gatos 50mg/animal VO SID, Bisacodil gatos 5ml/animal
VO SID. Nunca devemos usar óleo mineral via oral, pois se esse óleo mineral for
broncoaspirado, temos uma pneumonia lipídica.
Podemos fazer lavagem digital com água morna e glicerina (Microlax gel), lembrando que na
lavagem digital, o animal está tão acometido que devemos realizar uma analgesia e sedação.
Devemos fazer a lavagem de forma cuidadosa. Supositório de glicerina infantil, que tem como
objetivo lubrificar para a saída das fezes, mas se as fezes estiverem muito compactadas, não vai
sair. Ainda podemos fazer uso de procinéticos (depois da lavagem) como a Cisaprida
2,5mg/gato, por 10 dias, BID. Após isso 2,5mg/kg gato SID. Podemos usar o Polietilenoglicol
(PEG 3350), através da sonda nasogástrica. Gotejamento lento (na bomba) 6 a 10ml/kg por
hora, de 4 a 18 horas. Ele dissolve as fezes aos poucos e em tese, a defecação começa de 6 a 12
horas após o uso, de forma líquida ou pastosa. Neste momento, é interessante o uso de rações
com fibra. Fazemos o uso de antibiótico de forma profilática. Sempre tentamos realizar o
tratamento clínico antes da cirurgia.

Tratamento cirúrgico
Subcolectomia ou colectomia subtotal. Ela consiste na remoção de 90 a 95% do cólon.
Dependendo do nível do megacólon, temos que remover o cólon descendente, o transverso e
se houver o comprometimento do ascendente. É feita uma anastomose de íleo a um pedaço de
cólon. Se removermos quase todo o intestino grosso, esse animal não vai ter mais a reabsorção
de líquido das fezes, sendo um paciente que vai defecar pastoso a líquido, sempre. No começo
o proprietário aceita, mas depois, eles reclamam e por isso que sempre tratamos esse animal
clinicamente, antes de um procedimento cirúrgico.
A região de colón é muito vascularizada, logo, temos que saber realizar a ligadura dos vasos de
forma correta, os identificando corretamente, para não pegarmos nenhuma bifurcação que faz
vascularização de uma outra região importante e por isso a importância de um conhecimento
anatômico da região.

Acima, um procedimento cirúrgico de Subcolectomia, onde temos a remoção do megacólon. É


de extrema importância a elucidação da cirurgia, para o proprietário. O proprietário tem que
sair conhecendo tudo do procedimento e do pós operatório. Por isso a importância dessa
conversa com eles.

Afecções cirúrgicas de rins e ureteres

Ureter ectópico
É uma anomalia congênita de causa desconhecida, no qual um ou ambos os ureteres se abrem
externamente à bexiga. Mais comum em cães. Mais comuns em fêmeas. Idade média de 10
meses.
Sua localização normal é penetrando a superfície do dorso lateral caudal da bexiga, no trígono
vesical.
O normal, o ureter sai do rim, colado na parede abdominal interna. Chegando na bexiga ele se
insere na bexiga pela borda dorso lateral caudal e abre na bexiga na região do trígono vesical.

Classificação
Pode ser classificada em intraluminal ou intramural, ou ainda entre extraluminal ou extramural.

Intraluminal ou intramural Cursa sobre a mucosa da bexiga. Se abre somente na uretra ou na vagina.

O ureter entra na bexiga pela borda dorso lateral caudal, porém, existe um túnel na submucosa que faz
com que o óstio só abra na uretra.

Extraluminal ou extramural Ultrapassa completamente a bexiga

É mais fácil de ser visualizado pois o ureter passa totalmente fora da bexiga, se recebendo na uretra e as
vezes até na vagina.

Normal Intraluminal Extraluminal

Apresentação clínica
É congênita, então, a manifestação desses animais começa desde filhotes, tanto que a idade
média de diagnóstico está entre os 10 meses. Quando o animal apresenta uma manifestação
unilateral, isso dificulta o diagnóstico, fazendo com que muita das vezes esse diagnóstico possa
ser mais tardio e esse animal só consiga ser diagnosticado mais velho, pois, na maioria das
vezes, quando é unilateral, a micção de paciente é normal. Quando ela se apresenta de forma
bilateral, temos a incontinência urinária intermitente ou constante. Como temos essa
incontinências, mais comuns em cães do que em felinos e mais comuns ainda em fêmeas
(cadelas), na região perivulvar, cria uma ardência, assadura e como manifestações clínicas,
temos um aumento de lambedura. Na região de dobra perivulvar, o animal apresenta ainda
dermatite, irritação e odor. Pode ser um comportamento que o animal manifesta por conta da
disúria (dor ao urinar). O animal pode manifestar hematúria. Pela própria lambedura que o
animal vai manifestar por conta da dor, podemos ter uma infecção ascendente e
secundariamente termos uma cistite (inflamatória ou infecciosa) e é nessa parte que
cometemos erros. Quando o animal chega com essas manifestações clínicas, ao invés de
pedirmos um exame de imagem, o médico veterinário já pode começar a tratar o animal.
momentaneamente melhoramos o quadro clínico do animal, porém, quando acabar a
medicação, esse animal vai voltar a manifestar os sinais clínicos. Por isso a importância de
sempre pedirmos exames de imagem.

Diagnóstico diferencial
Infecção crônica de trato urinário

Exame de imagem
- Urografia excretora
Historicamente a mais usada. Colocávamos contraste na veia do animal e ele saia pela urina.
Não é mais realizada hoje em dia, pois possuímos exames com a qualidade melhor e vai chegar
no diagnóstico, por ser mais preciso. Para fazermos a urografia, temos que esvaziar o cólon,
para visualizar melhor a entrada do ureter na bexiga. Por ela, não há como diferenciar de um
UEI (ureter ectópico intraluminal) ou UEE (ureter ectópico extramural) e por isso que com o
passar dos anos, ele não foi mais usado.

- Cistoscopia
Pegamos o endoscópio, passamos pela uretra e colocamos de forma ascendente. Mais
confiável, sensível, específico, porém, só fazemos em cadela de porte médio e grande, por
conta do tamanho do endoscópio. Cadelas pequenas e machos, não conseguimos usar por
conta da uretra peniana ser fina, principalmente na parte do osso peniano, que impede a
entrada do endoscópio.

- Ultrassonografia abdominal
Localizar o ureter ectópico, ser sugestivo se é UEI ou UEE, avalia outras anormalidades de
formação congênitas, e ainda, vê se tem outras complicações desse ureter ectópico como a
hidronefrose, hidroureter. Na ultrassonografia dá uma sugestão, não fechando o diagnóstico
mas sendo fortemente sugestivo para o ureter ectópico e por isso, pedimos a tomografia.

- Tomografia computadorizada
Mais indicada, pois fecha diagnóstico. Pedimos uma tomografia computadorizada com
contraste.

Na imagem acima, temos uma tomografia. O animal fica no tomógrafo, anestesiado, passando
a tomo e fazendo vários cortes sagitais no animal. conseguimos fazer um vídeo nesse paciente.
temos a bexiga, sinalizada pela seta laranja e a uretra na seta amarela. Injetamos o contraste,
no animal da tomo. O contraste tem que ser branco. No corte sagital, a bexiga que está preta,
deveria ser branco. Isso mostra que é ectópico bilateral extraluminal, já que temos contraste
passando pelo ureter e pela uretra, mas não pela bexiga. No caso acima, o animal tinha uma
bifurcação e com isso, no corte, o contraste se dividia e sumia em um só.
No caso dos intraluminais, veríamos na região de trígono um contraste parcialmente dentro da
bexiga.

Tratamento médico
Indicado para estabilizar previamente o animal, para a cirurgia posterior. Sempre temos que
fazer a avaliação do rim. Se esse animal estiver apresentando uma hidronefrose e a função do
rim está comprometida, vamos fazer uma cirurgia para tentar corrigir esse rim, mas ele vai
estar com alterações de inviabilidade e posteriormente teremos que realizar uma nefrectomia.
A variação funcional desse rim deve ser feito para estabilizarmos previamente esse animal para
depois reavaliar e ver se há a viabilidade dele ou não, ou, se já estiver inviável, realizarmos logo
a nefrectomia.
Tratar da infecção urinária com antibioticoterapia, porém antes, devemos fazer a cultura e
antibiograma. Usamos Amoxicilina com clavulanato 12,5 a 25mg/kg. Cefazolina 22mg/kg.
Cefalexina 22 a 30mg/kg. Enrofloxacino 5mg/kg. Usamos Alfa adrenérgicos para causar um
aumenta o tônus do esfíncter uretral e melhorar essa incontinência urinária. Podemos usar
Fenilpropanolamina Cães 1 a 2mg/kg VO, BID ou TID ou em Gatos 1mg/kg VO, BID.
Depois da avaliação renal desse paciente, estabilizando o animal, podemos passar para a
cirurgia.

Tratamento cirúrgico
Independente do tipo de ureter ectópico que temos, se é intraluminal ou extraluminal,
fazemos uma técnica cirúrgica que se chama ureteroneocistostomia, onde fazemos uma nova
abertura do ureter para a bexiga.

- Ureteroneocistostomia

Fazemos uma cistotomia (obrigatoriamente) na borda ventral, pois quando abrimos a bexiga na
borda ventral, vemos onde entramos com o ureter. Se fizermos uma incisão na borda dorsal,
não conseguimos fazer a sutura do ureter. Fazemos uma abertura para o ureter entrar na
bexiga. Suturamos o ureter na mucosa vesical.

Objetivo da técnica
Dissecar o ureter e reimplantar na bexiga. Cistostomia ventral sempre
Fazemos uma celiotomia pré reto umbilical, para ver a inserção do ureter realmente está
saindo do rim, para acompanhar na parede abdominal interna e vê-lo seguindo fora da bexiga,
na uretra. Fazemos pontos de sustentação na seromuscular da bexiga, para poder manipulá-la.
Fazemos uma incisão na borda ventral. O ureter, já dissecado, passamos um fio cirúrgico para
poder manipulá-lo e não ficar toda hora pinçando e lesionando esse ureter. Fazemos a
cistotomia ventral e na borda dorsal, fazemos outra incisão (a pinça hemostática entra pela
cistotomia ventral e atravessa a bexiga, pegando a borda dorso lateral caudal dessa bexiga.
Abrimos essa pinça hemostática, pinçamos o fio agarrado no ureter e puxamos esse ureter de
fora para dentro. Usamos um cateter como referencia, pois temos uma incisão circular na
mucosa da bexiga e temos ainda que suturar esse ureter nela. Introduzimos o cateter no ureter
e esse cateter serve como referencia para suturar essa mucosa vesical com o ureter, onde
fazemos várias suturas descontínuas simples, usando um fio sintético monofilamentoso
absorvível de longa duração, impedindo de ocluir a sutura e depois removemos o cateter.
Fechamos uma cistorrafia para fechar a bexiga. Hoje, colocamos um cateter duplo J. O
problema é que temos que fazer uma outra cistotomia para remover o duplo J. uma das
maiores complicações desses pacientes é que, inevitavelmente, pelo processo de cicatrização,
podemos ter uma estenose inflamatória, por isso que o duplo J é importante. Ele impede isso
de acontecer, mantendo a espessura deste óstio. Não tendo o duplo J, corremos o risco de
termos uma cicatrização com uma oclusão e secundariamente esse animal desenvolver uma
hidronefrose.
Quando os animais são bilaterais, fazemos um lado primeiro, esperamos o animal se recuperar
bem da cirurgia. Depois de um tempo, fazemos o contralateral. Não realizamos o procedimento
nos dois lados, pois, se houver hidronefrose, ou algum problema, o animal não se torna um
renal.
Prognóstico
Temos que acompanhar a cicatrização ureter-bexiga. Fazemos o acompanhamento pela
ultrassonografia. O acompanhamento é importante para ver se esse animal está manifestando
infecções urinárias. 30% persistem com quadro de incontinência urinária e com isso, temos que
continuar com a Fenilpropanolamina e vamos acompanhando clinicamente esse paciente.
melhorando a incontinência, vamos removendo as medicações.
Cálculo renal e ureteral

Cálculos renais nos ureteres são mais comuns em felinos. Nos cães, são mais comuns cálculos
na bexiga e na uretra. Em felinos, 70% urólitos de oxalato de cálcio e nos cães, primeiro temos
uma maior predisposição de desenvolver cálculos de estruvita (fosfato de magnésio ou de
amônio), e posteriormente, de oxalato de cálcio. Em felinos, as raças mais pré-dispostas são
Persas, Pelo Curto Brasileiro, Himalaio e nos cães temos Shih-Tzu, Yorkshire, Pug, Schnauzer,
Dálmata.

Apresentação clínica
Sinais inespecíficos, como anorexia, perda de peso, vômito, dor abdominal. Hematúria.
Poliúria. Podemos ter uma injúria renal aguda (IRA) ou doença renal crônica (DRC). Como os
sinais são inespecíficos, facilmente podemos achar que são doenças do trato urinário inferior
de felinos. Devemos sempre ter que pedir exame de imagem, para chegar ao diagnóstico que o
animal tem.

Exame de imagem
- Radiografia simples
Mais difícil de vermos, pois depende do tamanho dos cálculos.

- Ultrassonografia abdominal
Nos dá mais informações, como a localização (se está em pelve renal ou ureter) e as
anormalidades dos órgãos (se tem hidronefrose, dilatação de pelve). A ultrassonografia nos dá
mais informações do estado do trato urinário superior e demais informações dos órgãos
abdominais.

Tratamento clínico
Deve ser tentado antes de uma terapia cirúrgica, pois ela tem algumas complicações
importantes. No tratamento clínico, sempre precisamos fazer a avaliação funcional minuciosa
(exame de sangue, de urina, EAS, relação proteína e creatinina, SDMA). Se o animal tiver uma
inflamação ou infecção de trato urinário, ele deve ser tratado. Estimulação da diurese com ou
sem diurético, na soroterapia, para que o animal tenha uma dilatação do ureter e esse cálculo
preso caia para a bexiga para ser eliminado pela urina. Essa estimulação pela diurese pode ser
ou não adicionado o diurético, que vai depender da função renal, que se estiver
comprometida, pode comprometer mais ainda. Cultura e antibiograma para tratar o animal
com o antibiótico específico e se for inflamatório, não tem a necessidade de entrar com
antibiótico (felinos tem mais cistites inflamatórias e nos cães, cistite infecciosa).

Tratamento cirúrgico
- Pielolitotomia
Para os casos do cálculo, preso em pelve renal. Fazemos a abertura da pelve renal.
Obrigatoriamente ela deve estar dilatada, para termos uma melhor manipulação dessa pelve e
termos maior facilidade de visualização da pelve para a remoção do cálculo. Dependendo do
porte, isso pode se tornar uma microcirurgia. Essa pelve renal pode ser suturada com pontos
descontínuos simples ou uma sutura contínua simples, sempre utilizando fio sintético
absorvível de longa duração monofilamentoso.

- Ureterotomia
É a abertura do ureter para removermos o cálculos. É uma microcirurgia e deve ser realizado
com o auxílio de um microscópio cirúrgico. Dependendo do paciente, o ureter é muito fino e
deve ser feito movimentos delicados. Usamos a sutura descontínua simples. Fios
monofilamentosos absorvíveis sintéticos 6-0/7-0/8-0.
Fazemos uma incisão longitudinal, removendo o cálculo e fazendo as suturas descontínuas
simples, também utilizando o fio monofilamentoso sintético absorvível de longa duração.

- Subcutaneous ureteral bypass (SUB)


Dispositivo bypass subcutâneo urinário. Ele substitui o ureter. Danos irreversíveis, quando
temos um politrauma com inviabilidade do ureter, só que obrigatoriamente necessitamos de
uma radiografia dinâmica, para que na hora da cirurgia, consigamos avaliar e ver se os
componentes estão funcionando normalmente (fluoroscópio – radiografia dinâmica).

Temos um componente renal que fazemos uma incisão na pelve renal. O ureter vai ser
removido. Introduzimos e suturamos a pelve recobrindo todo o anel. A válvula fica no
subcutâneo e o outro anel, suturado na bexiga. Fazemos uma cistotomia, introduzimos o anel
com a ponteira e suturamos a parede da bexiga, envolvendo esse anel. Injetamos contraste
para saber se está funcionando. É preciso fazer a manutenção da válvula para saber se está
tendo obstrução por conta de sujidade ou mau funcionamento da válvula, onde ela precisa ser
trocada. É uma alternativa para lesões irreversíveis de ureter ou complicações por cálculos, no
ureter.

- Litotripsia extracorpórea
Não tem sido utilizado em animais de pequeno porte, por conta da potencia da vibração. O
animal fica deitado na mesa, localizamos no raio X ou ultrassonografia o cálculo. Colocamos o
litotriptor no cálculo. Ele joga vibrações para diluir o cálculo, que desfragmenta, virando uma
areia e vai sendo eliminado, só que se o animal for muito pequeno, essa vibração causa uma
lesão mecânica no órgão, por isso que é só indicado em animais de médio porte para cima. É
minimamente invasivo.
- Ureterolitotripsia
É parecida com a extracorpórea, só que neste caso, é por dentro do ureter, para dissolver o
cálculo. Ondas de choque aplicadas diretamente no urólito localizado no ureter. Temos um
endoscópio que consegue percorrer na uretra/ureter. Ao achar o cálculo, ele manda
trepidações por ondas, para poder dissolver o cálculo.
Mesmo sendo um procedimento minimamente invasivo, fazemos o uso do duplo J pois há
danos ao epitélio uretral/ureteral. Para evitar estenose, fazemos o uso do cateter duplo J no
local. Isso é uma realidade na medicina humana, não na medicina veterinária.

Prognóstico
Nos casos de cálculo renal ou de ureter, sempre fazer a avaliação da função renal. Se houver
alteração nessa função, fazemos um tratamento prévio, ou para melhorar essa função renal, ou
estabilizar o animal para fazer uma posterior cirurgia. Sempre temos que fazer a análise
físico-químico do núcleo do cálculo, para saber a característica desse cálculo e poder modificar
a dieta desse paciente. Toda vez que esse animal tiver outras alterações ou casos de recidiva de
cálculos, sempre deve ser feito a análise do cálculo, pois pode ser um cálculo com outra
origem. O prognóstico sempre dependerá do grau da obstrução, do tempo de duração e se ele
já está produzindo efeito deletérios no animal. Sabendo o resultado da análise físico-químico
do cálculo, devemos modificar a dieta do paciente e a partir do momento que temos um
paciente com alterações recorrentes, esse animal deve fazer um acompanhamento contínuo,
de preferência, a cada 6 meses.

Afecções cirúrgicas de bexiga e uretra

Uroabdomen
Também conhecido como uroperitônio. É a urina na cavidade abdominal. Maior pré-disposição
em machos por terem uretra estreita e longa e ela não se dilata com facilidade como nas
fêmeas. Por isso da pré disposição.

Tipos de uroperitônio
Espontâneo Tumor de bexiga, obstrução uretral, cistite crônica grave.

Faz com que a parede vesical fique fragilizada e com isso, ela se rompe, causando lesão
com urina saindo para o abdômen do animal.

Traumático Atropelamento, quedas, chutes.

Temos a bexiga literalmente estourando.

Iatrogênica Cistocentese sem ser guiado por ultrassonografia, cateterização ou


compressão manual agressiva da bexiga, na passagem forçada da sonda
uretral.

Causada pelo médico veterinário

Sinais clínicos
Sinais inespecíficos, como letargia, anorexia, vômito. Sinais clínicos mais voltados para o
sistema urinário, como hematúria, disúria. Dor abdominal. Distensão abdominal por conta da
urina nessa cavidade abdominal. Hematomas, inchaço, edema, quando suspeitamos de
trauma. Com esses sinais clínicos, devemos começar a fazer a avaliação clínica, junto com os
exames complementares.

Exames laboratoriais
Leucocitose com ou sem DNNE, vai depender da cronicidade que o animal está apresentando,
ou se tem alguma outra causa presente, como por exemplo, uma sondagem com rompimento
da bexiga. Ureia e creatinina. Hipercalemia. Análise do líquido cavitário, que faz chegar no
diagnóstico. Fazemos uma abdominocentese, coletando o líquido de forma asséptica e
compara a creatinina do líquido cavitário com a sérica. Se a do líquido cavitário estiver muito
maior do que a sérica, fechamos o diagnóstico que esse líquido é urina. Cultura e antibiograma
desse líquido, para saber qual o antibiótico que é de melhor escolha.

Exames de imagem
- Radiografia simples
Ou vamos ver a bexiga bem reduzida ou a ausência dela.

- Ultrassonografia abdominal
Fazemos o diagnóstico. Normalmente realizam o protocolo AFAST, avaliando 4 regiões do
abdômen.

O exame de AFASR consiste em duas ultrassonografias (transversal e longitudinal) em cada


uma das seguintes áreas:

- Região subxifóidea.
- Posição média sobre a bexiga.
- Flanco direito no decúbito lateral direito e esquerdo, da cauda até as costelas.
- Flanco esquerdo no decúbito lateral direito e esquerdo, da cauda até as costelas.

Conduta médica
A correção é cirúrgica, mas precisamos de uma conduta médica para estabilizar o animal.
fazemos uma correção hidroeletrolítica, pois esse animal está apresentando uma hipercalemia,
então, usamos o gluconato de cálcio 10% de 0,2 a 1,5ml/kg EV, lento. Usamos analgésicos e
anti-inflamatórios pois esse animal está com algia abdominal e antibiótico profilático,
subjetivo, até o resultado da cultura e antibiograma.

Tratamento cirúrgico
Vai depender da localização da lesão. Na uretra, realizamos a sutura (uretrorrafia) e se houver
uma inviabilidade, realizamos uma anastomose término terminal da uretra. Na bexiga, fazemos
a cistorafia e removemos as bordas que estão necrosadas, caso existam. Se não removermos as
bordas, ao realizar a sutura (que são suturas contínuas, invaginantes seromuscular, uma
sobreposta a outra), não vamos ter uma cicatrização e ainda, vai ser um local que vai ter
infecção. Em ambos os casos, usamos a sonda. Ela não vai permitir uma oclusão do ureter, vai
permitir que a bexiga fique sempre vazia, vai nos permitir realizar a lavagem desse local,
conseguimos coletar urina e fazer exames como EAS, avaliação visual da urina, avaliação do
débito urinário desse paciente e ver se esse animal está apresentando alguma lesão pós
operatória, a nível renal. Devemos fazer uma exploração abdominal total, através da celiotomia
exploratória. Temos toda uma sequencia de exploração abdominal. Primeiro, fazemos a
avaliação de todos os órgãos do quadrante cranial, depois do quadrante caudal. Fazemos um
movimento de ordenha que é fazer a palpação de todo o trato gastrointestinal, desde o
estomago, passando por todo intestino, até chegar ao cólon descendente e depois, a inspeção
das calhas, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo. É importante realizarmos a lavagem
abdominal abundante, principalmente com soro fisiológico ou ringer com lactato, morno e
estéril. Deve ser morno pois o animal já vai ter perda de temperatura por conta da anestesia e
por conta da abertura da cavidade abdominal.

Complicações pós operatórias


Temos a peritonite que tratamos com antibióticos, de forma parenteral, no pós cirúrgico. O
ideal é sempre fazer uma cultura e antibiograma, para entrar com um antibiótico específico. A
outra complicação que temos é a atonia de bexiga. Na maioria das vezes, quando temos uma
lesão aguda na bexiga ou essa bexiga está hiper estendida, temos lesão da musculatura
detrusora, e quando isso acontece, a bexiga perde a capacidade de fazer a contração. Tratamos
com algumas medicações para melhorar a contração. Usamos Betanecol (aumenta a
contratilidade colinérgica da musculatura detrusora). Cão fazemos 5mg/animal, VO, BID ou TID
e gato 1,5 a 5mg/animal, VO, BID ou TID, associado com a Prazosina (relaxante uretral). No cão
fazemos 0,07mg/kg e no gato fazemos 0,03mg/kg. Se temos dois medicamentos, onde um vai
fazer a contração da bexiga e o outro vai fazer o relaxamento da uretra, temos uma sequencia a
se fazer. Primeiro temos que fazer o relaxante da uretra, para depois fazer o da contração de
bexiga. Primeiro a Prazosina para depois fazer o Betanecol. Temos ainda a Cisaprida (agonista
colinérgico, aumenta o tônus vesical), onde o cão 0,1 a 0,5mg/kg, VO, TID ou BID e o gato 2,5 a
5,0mg/gato VO, TID ou BID. Conseguimos com mais facilidade do que a Prazosina.
Cálculos vesiculares e uretral
Cálculos em pelve renal e ureteres são mais comuns em felinos. Uretral e na bexiga, é mais
comum em cães. Em casuística, primeiro temos a estruvita e depois, o oxalato de cálcio. As
raças mais acometidas são Shih-Tzu, Schnauzer, Dálmatas, Yorkshire, Spitz Alemão e Pug.

Sinais clínicos
Hematúria, disúria. Incontinência urinária. Distensão e dor abdominal. Azotemia pós renal
(anorexia, vômito). Em nível mais graves, podemos ter sinais de uroperitônio. Como um todo,
são sinais inespecíficos e dependendo dos sinais, podemos inclusive confundir com cistite e por
isso a importância de realizarmos o exame de imagem. Por isso a importância de realizarmos o
exame de imagem.

Exame de imagem
- Radiografia
Conseguimos ver o cálculo
- Ultrassonografia abdominal
Conseguimos ter mais informações a dar ao proprietário e para coletarmos. Na
ultrassonografia conseguimos ter uma noção de dimensão do cálculo e avaliar qual a espessura
da parede vesical e determinar o grau de inflamação da bexiga, além de saber como estão as
demais estruturas urinárias.

Tratamento clínico
Se esse cálculo estiver na uretra, podemos tentar fazer uma manobra chamada
retro-pino-pulsão. Sondamos esse paciente e pela sonda, jogamos soro para essa uretra dilatar
por conta do soro. Distendendo essa uretra, soltamos o cálculo que vai para a bexiga e com
isso, conseguimos fazer a remoção desse cálculo por cistotomia. É uma técnica mais fácil e de
pós operatório menos complicado do que as cirurgias de uretra. Na uretra, o ideal é que
façamos as uretrostomias, que é a abertura da uretra para o meio externo, pois se fizermos a
uretrotomia, que é a abertura da uretra e depois suturar essa uretra, temos o risco de ter uma
estenose da uretra pelo processo inflamatório de cicatrização e com isso, uma estenose
cicatricial no pós operatório. A uretrostomia pode ser pré púbica, perineal, escrotal e pré
escrotal, sendo que as mais comuns são as escrotais e pré escrotais, que é onde a uretra é mais
fina.
Tratamento cirúrgico
Cistotomia, que é abrir a bexiga e remover manualmente os cálculos. Podemos fazer as
uretrostomias, sendo mais comum a pré escrotal ou escrotal, ou a uretrotomia, que é abrir a
uretra, remover o cálculo e suturar essa uretra, mas temos os riscos que já citamos.
Uretrotomia

Sempre devemos realizar a análise físico-química do cálculo. Acompanhar sempre os pacientes


que têm pré disposição ao aparecimento de cálculos e se possível, encaminhar para um
nefrologista. É interessante modificar a dieta desse paciente, de preferencia se passar por um
nutrólogo, para montar uma dieta adequada. As vezes nem entramos em uma dieta
terapêutica, mas em uma alimentação natural, que tem um teor de água maior e tende a ter
menos recidivas.

Cistite idiopática felina – CIF


É um processo inflamatório, idiopático que acontece na mucosa vesical e uretral. É quando
não tem uma origem, simplesmente acontecendo. Por conta desse processo inflamatório, na
mucosa da bexiga e/ou uretra, pode ocasionar uma obstrução parcial ou total, podendo ter
manifestação de dor ou não. São mais comuns em machos, por questão anatômica, pela
espessura da uretra e como ela é muito mais fina do que uma gata, com a inflamação, temos
uma possibilidade maior de estenose. Ainda temos os animais que tendem a ser mais obesos e
inativos, e normalmente animais com idade mais avançada, de adulto para idoso. Temos ainda
os animais que tendem a ter manifestações comportamentais por conta do estresse ou
mudança de ambiente. Algumas literaturas descrevem os pacientes que sofreram castração
precoce, que vai ser um problema para o desenvolvimento do animal, tanto a nível de órgão
reprodutor quanto a outros aspectos. Na parte do aparelho reprodutor, esses animais tendem
a ter uma involução (pênis pediátrico ou vulva pequena).
Posição normal Posição de micção com obstrução

Na postura normal, o animal tende a flexionar o joelho e o calcâneo, com o dorso levemente
arqueado. Quando o animal apresenta alguma alteração de postura é porque ele está
manifestando algum sintoma de dor. O animal pode vocalizar, tende a ficar com o dorso mais
arqueado, os joelhos não ficam tão flexionados. Isso é importante pois o proprietário vai
comunicar tudo do animal, notando as mudanças. Sabendo das diferenças de posturas,
podemos saber se o animal tem um quadro clínico sem obstrução ou com obstrução.

Hematúria

Estranguria
Sinais clínicos sem obstrução
Polaquiúria

Incontinência urinária

Lambedura genitália

Dor abdominal

Sinais clínicos com obstrução Anorexia/desidratação

Vômitos

Bexiga firme à palpação e rígida

Exames de sangue
Sem alterações pois só do animal manifestar uma pequena diferença de comportamento, o
proprietário já encaminha o animal ao médico veterinário, leucocitose com ou sem DNNE se o
animal tiver um quadro mais intenso, ureia e creatinina podem estar ou não alterado.

Urinálise
Coleta por cistocentese guiada por ultrassonografia para um EAS. A densidade urinária
aumentada. Pode ter a presença de cristais, hemácias e/ou bactérias onde o ideal é realizarmos
uma cultura e antibiograma e Relação proteína/creatinina urinária, para avaliarmos a função
renal deste animal.

Exames de imagem
Radiografia simples

Pode apresentar uma bexiga um pouco mais distendida, com o conteúdo urinário e observar
uma leve radiopacidade dessa bexiga, mas nada muito fidedigno.

Ultrassonografia abdominal

Podemos descartar, além dos cálculos que seria um diagnóstico diferencial, pela
ultrassonografia conseguimos mensurar a espessura da parede e observar se temos algum
quadro de inflamação grande ou não.
Tratamento clínico

CIF sem obstrução


Tratamento ou controle, pois não há cura. Fazemos o protocolo MoMA (modificação
multimodal ambiental) com o objetivo de aumentar os intervalos das crises e diminuir a
gravidade dos sintomas.

- Água e comida
Alterar a forma que administramos a água e comida desse paciente. Colocar em locais
silenciosos, longe da caixa higiênica. Fazer uso de alimento úmido e específico (terapêutica),
para diminuir a densidade urinária. Vasilhas rasas com bocas largas, pois o bigode do gato é
sensível e se ela for muito curta, na hora de comer o bigode vai encostar na vasilha fazendo
com que o animal diminua a ingesta e causando estresse no animal. Água corrente ou não, que
depende muito do animal. Troca gradativa da ração, para evitar problemas gastrointestinais.

- Espaço e enriquecimento ambiental


Comprar brinquedos para enriquecimento ambiental. Evitar mudanças de hábito (viagens,
mudanças físicas). Superlotação causa estresse por conta da competitividade. Introdução
abrupta de novos indivíduos. Estimular brincadeira. Enriquecer o ambiente.

- Bandeja sanitária
Locais silenciosos e pouco expostos, para que o animal tenha o seu momento. Longe de
alimentos e água. Manter sempre limpo. Proporção de 2 sanitários para um animal. Preferencia
individual. Às vezes, caixa de areia muito alta faz com que o animal mais velho tenha
dificuldade de entrar. Tem animais que tem preferência da areia.
- Terapia hormonal
Por conta de mudanças de ambiente, fazemos o uso de terapia hormonal. Feromônio facial
felino (Feliway), que diminui a ansiedade, diminuem sintomas do sistema límbico, alteram o
estado emocional, ficando menos estressados. Temos ainda o CatNip, mas seu uso é
contraditório. Tem animais que ficam mais relaxados e tem animais que ficam mais agitados.

Terapia medicamentosa
- Butorfanol 0,4mg/kg VO TID
- Tramadol 1 a 2mg/kg VO BID
- Meloxicam 0,05 a 0,02mg/kg VO SID
- Cetoprofeno 1mg/kg VO SID
- Robenacoxibe 1 a 2mg/kg VO SID (único celecoxibe para felinos)
- Gabapentina 5mg/kg VO BID
- Pregabalina 1 a 2mg/kg VO BID
- Clomipramina (antidepressivo) 0,25 a 0,5mg/kg VO SID

CIF com obstrução


Pode ser que tenhamos que realizar uma manobra pois esse animal vai precisar ser sondado.
Como está apresentando uma potencialização dos sinais clínicos, esse animal normalmente
apresenta uma desidratação, então, temos que fazer uma reposição hidroeletrolítica, mas
como está obstruído, não tem como realizar uma reposição sem sondar o animal. Entramos
com analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos profiláticos, cateterização do paciente com
sonda específica e massagem peniana suave. Anestesia e sedação, temos que ter cuidado, pois
as vezes, o animal chega tão letárgico que ao administrar esses fármacos, podemos
potencializar esse problema.
Sondamos o animal e fixamos a sonda. Se não conseguirmos fixar a sonda e isso ficar muito
rotineiro, temos a possibilidade de realizar uma uretrostomia perineal com a penectomia, mas
sempre tratar o animal de forma clínica.
Tratamento cirúrgico
Uretrostomia perineal com penectomia

Complicações
Como é uma cirurgia que vamos fazer uma sutura na pele, inevitavelmente temos muita
infecção, já que a urina vai ter contato com a sutura, logo, temos uma possibilidade de
descência de sutura por conta de contaminação. O flap da uretra pode necrosar e se não
fizermos a dissecção dos músculos, na sua inserção, não fazemos o relaxamento da uretra,
esses músculos contraem e novamente temos uma diminuição de lúmen e o orifício que
deveria ser grande, fica pequeno.
Afecções articulares

Displasia coxofemoral
Segunda patologia mais comum na rotina clínica ortopédica
Debilitante, causando dor crônica e perda de qualidade de vida
Estudos médicos veterinários – medicamentos e cirurgias

Definição
É o desenvolvimento anormal da ACF, caracterizando uma instabilidade articular em diferentes
graus e em casos graves de doença articular.

Etiologia
Fatores genéticos
- Complexa
- Poucos genes identificados e/ou associados a expressão dessa afecção
- Ligados às alterações temos:
Edemas do ligamento redondo
Micro hemorragias
Estiramento da cápsula articular
Com isso temos uma frouxidão, incongruência e remodelamento, ocasionando DAD (doença
articular degenerativa)

Fatores ambiental
Excesso de peso, causando um maior esforço na região. Exercícios, onde o animal faz mais
exercício do que deve. Piso (instabilidade). Isso gera estresse biomecânico articular maior.
Juntando uma má formação da cabeça ou do acetábulo, temos uma maior probabilidade do
animal apresentar o problema.

Fatores hormonais
Fatores nutricionais
Ambos podem levar a uma fragilidade óssea, a obesidade, a alterações metabólicas,
cominando ao problema. por isso que falamos que é uma causa multifatorial.

Fisiologia
Na articulação coxofemoral, temos dois músculos importantes que agem na movimentação da
articulação, que é a musculatura glúteo e adutora. Quando andamos, contraímos esses dois
músculos e quando eles são contraídos, eles geram vetores que projetam a cabeça do fêmur
para o acetábulo, para encaixar. Quando o animal tem a displasia, temos o estiramento do
ligamento redondo e com isso, geramos um edema intra articular e com isso, temos o
estiramento e um afastamento do acetábulo com a cabeça do fêmur. Temos microfissuras na
cartilagem hialina intra articular gerando sempre uma lesão e em seguida, uma cicatrização.
Além disso, como temos no estiramento do ligamento redondo, o afastamento do acetábulo
com a cabeça do fêmur, temos um estiramento da cápsula acetabular. Quando isso acontece,
gera dor e com isso, o animal modifica a sua forma de locomover, que chamamos de swing de
movimento. Quando o animal modifica a forma de locomover, ele trabalha cada vez menos o
adutor e o glúteo e vai trabalhar mais outros músculos do membro, como o sartório, íliopsoa,
pectíneo, que quando são contraídos, ficando hipertrofiados, projetam um vetor de força
antagônico, afastando a cabeça do fêmur do acetábulo. Temos um maior estiramento do
ligamento redondo, um maior afastamento da cabeça do fêmur com o acetábulo, temos um
maior impacto, gerando cada vez mais lesão intra articular, tendo cada vez mais frouxidão
dessa cápsula articular, gerando cada vez mais dor, com o animal modificando a sua forma de
locomover e com isso, atrofiando cada vez mais o adutor e o glúteo e hipertrofiando os outros
músculos. Esse ciclo vicioso gera uma redução catastrófica da articulação coxofemoral.

Na locomoção, temos a participação dos músculos glúteos e adutores. O animal tem redução
do apoio por conta da dor e com isso, temos a mudança do swing, estimulando os músculos
íliopsoas, sartório e reto, causando afastamento e uma redução catastrófica.

Pré disposição
É muito comum em cães, de todos os portes. É mais perceptível no cão grande pois ele tem um
andar mais lento, então, conseguimos observar melhor. Felinos tem aparecido cada vez mais
casos de displasia, dando a entender que é uma doença subnotificada em felinos. Sem pré
disposição sexual. É indicada a castração desses animais, até por outras questões como evitar
doenças de sistema reprodutivo, mas temos que tomar cuidado com os animais terem
sobrepeso no pós operatório.

Sinais clínicos

Agudo Crônico

- Mais comum em filhotes. Não vemos - Já temos uma doença articular crônica no
animais. paciente.

- Unilateral - Bilateral
- Dorso arqueado - Senta e levanta (o animal anda com
dificuldade, mas quando para em estação
- Dor ao andar (vemos uma claudicação, mas
sente dor nas articulações e com isso, ele
não vemos o animal levantando a pata,
senta ou deita).
somente apoiando).
- Dificuldade de levantar
- Deslocamento do peso para os membros
traseiros (isso por conta do dorso arqueado, - Membros posteriores atrofiados
onde muda o centro da gravidade do
- Membros traseiros hiperatrofiados (cada
animal).
vez mais esse animal vai deslocando o peso
para os membros da frente, causando uma
atrofia acentuada).

Diagnóstico
Resenha do animal. Histórico. Exame clínico completo (as condições do animal). Exame
ortopédico. Exame radiológico (fecha o diagnóstico). Isso não impede de fazer o exame
ortopédico, que é sugestivo para a displasia.

Exame ortopédico
O objetivo desses exames ortopédicos é verificar a frouxidão articular da coxofemoral.
- Teste de Ortolani
É mais complexo, mas é o mais fidedigno para a frouxidão articular. Colocamos o membro
acometido para cima, baixamos a parte distal do fêmur e empurramos. Ao empurrar, a
tendencia é que a cabeça do fêmur fique subluxado. Levantamos a parte distal do fêmur ao
encaixa. Sentimos o reencaixa ao colocar a mão em cima e sentimos a crepitação, que é um
estalo da cabeça se reencaixe .
- Teste de Bardens
É o teste que o membro acometido fica para cima, colocamos a mão por baixo e conseguimos
jogar o fêmur para cima.
- Teste de Barlow
Algumas literaturas falam que o teste de Barlow é uma variação do teste Ortolani. Ele é um
teste adaptado da medicina pediátrica humana. Fazemos um movimento de rotação, se o
fêmur se deslocar para baixo, ele pode ter uma frouxidão articular por conta de uma má
formação da cabeça do fêmur, do acetábulo ou de ambos.

Avaliação radiológica
Projeção OFA (Orthopedic Foundation for Animals) – Ventrodorsal com membros estendidos e
rotacionados. Vemos a posição perfeita. Para isso o animal tem que estar anestesiado para
estar relaxado e não fazer movimentos contrários pelo animal ficar puxando até por conta da
dor
Projeção OFA (Orthopedic Foundation for Animals). Ângulo de Norberg, aferindo o grau de
recobrimento da cabeça femoral. Animais de 8 a 12 meses de idade. Maior que 105o. . A
intensão desse exame é fazer uma avaliação subjetiva dessa articulação coxofemoral, onde
olhamos e classificamos se está incongruente e fazer também a avaliação do ângulo de
Norberg. Pegamos no centro da cabeça do fêmur, medimos o centro da cabeça e o final do
acetábulo, onde temos o ângulo de Norberg. O ideal é o ângulo medir cerca de 105o.
Projeção OFA (Orthopedic Foundation for Animals). Associação brasileira de radiografia
veterinária. Classificação de forma subjetiva.

Grau A (HD-) ACF normal, ângulo de 105o

Grau B (HD+/-) ACF próximas a normalidade, levemente incongruente, próximo a 105o

Grau C (HD+) DCF (displasia coxofemoral) leve, ângulo em torno de 100o,


incongruência articular, pequenos sinais de osteoartrose.

Grau D (HD++) DCF (displasia coxofemoral) moderada, ângulo em torno de 95o, sinais
moderados de osteoartrose, moderada incongruência e ligeira
subluxação.

Grau E (HD+++) DCF (displasia coxofemoral) severa, ângulo de 90o, sinais de subluxação
ou até luxação, sinais severos de osteoartrose.

PennHip
Foi desenvolvida pela universidade da Pensilvânia. Ele avalia grau de distração da cabeça do
fêmur com a cabeça do acetábulo. Ele tem uma predição de 98% de acerto. Conseguimos
avaliar em filhotes de 4 a 5 meses de vida, com isso, conseguimos tomar as decisões mais
precoce. Fazemos com o animal relaxado uma radiografia, onde o animal fica em decúbito
dorsal, com os membros relaxados, na posição de sapo, para termos a imagem da cabeça do
fêmur ao acetábulo. Depois, com o animal anestesiado, pegamos um aparelho chamado
distrator. É um aparelho de borracha, que não vai interferir na avaliação da imagem. Colocamos
na região inguinal. Quando colocamos a borracha e pegamos o membro, alinhando com o
aparelho, temos o deslocamento, já que ela faz um movimento de alavanca. Com isso, temos
uma imagem da cabeça do fêmur, com a cabeça mais afastada do acetábulo. Fazemos uma
razão do raio da cabeça do fêmur com a distração feita na primeira medição e depois a
distração da segunda radiografia para a primeira. Fazemos uma razão. Se tiver acima de 0,3 em
cães é considerado displásico. Em felinos, acima de 0,6/0,7 também é considerado displásico.
Por conta deste estudo, foi visto que grande parte dos cães são displásicos e a raça mais
displásica é o Pug.
Temos que fazer uma tomada de decisão, pois temos um animal displásico, por conta do exame
radiográfico, mas é assintomático, não manifestando nenhum sinal clínico de displasia. Temos
um animal displásico, que é o animal que tem a imagem e manifestação clínica da displasia e os
cãs que são potencialmente displásicos, que são cães diagnosticados com displasia, pode
manifestar ou não, mas que não tem idade para o radiologista laudar como displásico, já que
tem que esperar até certo período para diagnosticar o animal como displásico.
Existem condutas que visam melhorar a conformação desse acetábulo na cabeça do fêmur e
prevenir uma displasia desse paciente jovem, mas não conseguimos fazer se o radiologista não
nos comunicar. As vezes é difícil de convencer ao proprietário de realizar o procedimento de
um animal tão jovem, de uma cirurgia preventiva.

Tratamento
Clínico e cirúrgico
Ambos tem o mesmo objetivo que é remover a dor do animal, voltar a fazer com que o animal
apoie o membro acometido e qualidade de vida para paciente. O que vai optar para fazer um
tratamento clínico ou cirúrgico é a idade do paciente, grau de desconforto, achados clínicos,
achados radiológicos, afecções concomitantes, ambiente, custo financeiro, preferência do
veterinário.
O tratamento clínico consiste em 5 pilares. O primeiro, é o controle da dor que o animal está
manifestando e que precisamos entrar com analgésicos e anti-inflamatórios. Podemos usar
anti-inflamatórios menos seletivos para a COX2, cada vez mais potencializando essa ação.
Podemos começar com um Meloxicam, um Carprofeno. Podemos usar analgésicos como a
Dipirona, associados ou não com um anti-inflamatório. Podemos usar Tramadol, lembrando
que em cães, temos uma variação muito grande do Tramadol, com absorção alta e outros com
absorção nenhuma, diferente de felinos, que apresentam efeitos extrapiramidais, mesmo com
doses baixas, por isso que em gatos a gente faz de 1 a 2mg no máximo, enquanto nos cães,
começamos com 4 ou 5mg/kg. Temos a fisioterapia e a acupuntura. Enquanto a acupuntura
ajuda na estimulação de alguns pontos que tiram a dor desse paciente e a fisioterapia faz com
que o animal desfaça o ciclo e com isso, ele trabalha cada vez menos o pectíneo, íliopsoas, o
reto, o sartório, fortalecendo o glúteo e o adutor e com isso, o encaixe da cabeça do fêmur fica
melhor no acetábulo. A fisioterapia também é importante para que o animal não perca a
amplitude de movimento. É comum em animais displásicos, que eles percam amplitude de
movimento e que sinta dor. Tem que ser um fisioterapeuta especializado, que saiba tratar do
problema. Temos ainda os nutracêuticos. Nenhum trabalho científico mostrou que esses
nutracêuticos tem ação benéfica. Existem trabalhos que dizem ter ação, mas são trabalhos
patrocinados. Temos os regeneradores articulares e as terapias celulares.

Tratamento cirúrgico
I – Sinfisiodese púbica juvenil
Ela tem o objetivo de modifica a conformação do acetábulo com a cabeça femoral. É um tipo
de cirurgia que indicamos para animais potencialmente displásicos, que fazemos de forma
preventiva para o animal não ter uma displasia pior. Identificamos o animal pelo PennHip.
Idade entre 16 e 20 semanas de diagnóstico, ou seja, o animal é muito jovem e o proprietário
não entende o procedimento. É uma cirurgia simples. Fazemos uma incisão sobre a sínfise
púbica, que em filhotes ainda está aberta e fazemos uma lesão na sínfise púbica, em sua parte
cranial ou com uma cureta, ou com eletrocautério. Quando a gente lesiona essa região
(vermelha) a tendencia é que, conforme o animal vai crescendo, essa parte tenha um
retardamento da sínfise púbica e conforme o animal cresce e temos uma área crescendo de
forma mais lenta, a tendencia é que a bacia fique mais plana. Com isso, o acetábulo encaixa
melhor, recobrindo a cabeça do fêmur.

II – Osteotomia tripla pélvica (OTP)


Fazemos 3 cortes, um na pelve, um no corpo do ílio e um no ísquio e colocamos uma placa
específica (OTP) no corpo do ílio. Essa placa tem um degrau que permite mudar a angulação da
bacia. Quando fazemos esse tipo de cirurgia, em locais temos a consolidação de forma primária
(locais que estão estabilizados) e outros locais, de forma secundária. Com o tempo, o animal
fica com a bacia mais plana. Podemos fazer de um único lado ou de ambos os lados. Temos um
encaixa melhor do acetábulo na cabeça do fêmur. Realizamos em animais de de 4 a 7 meses. É
uma cirurgia complexa, não sendo fácil de realizar. Como complicações, temos o estreitamento
do espaço pélvico, que pode causar constipação no animal, onde temos que entrar com
algumas medicações para melhorar essa condição. Temos ainda, no momento da técnica,
causar uma lesão em nervos obturador e isquiático e o animal ficar sem propriocepção do
membro. Essa é a mais comum.

III – Denervação acetabular


É um tratamento paliativo. Todo osso é revestido de periósteo. Ele, além de vascularizado (que
ajuda na formação do calo ósseo), ele também possui terminações nervosas. Na borda
acetabular, na região crânio dorsal, onde tem maior concentração de terminações nervosas,
lesionamos essa região, raspando e remove o periósteo, para remover as terminações
nervosas. Quando fazemos essa raspagem, criamos uma analgesia em torno de 97%. É uma
técnica simples e de mínima invasão, sem grandes incisões. Deve sempre ser associada a
fisioterapia. A morfologia da articulação coxofemoral não muda. A intensão é remover a dor
desse animal. O periósteo se regenera e com isso voltam as dores, só que não tem como
determinar o tempo para regenerar. Tem cães que podem ser feitos uma única vez e tem
animais que fazem com uma frequência bem maior. Isso tudo vai depender do animal.

IV – Pectineotomia
Pode ser realizada, mas não como técnica única. Ela tem que, obrigatoriamente, ser associada
a outra técnica, normalmente realizada junto com a denervação. Ela é realizada quando há
uma contratura do pectíneo, que dificulta no movimento de abdução do membro e o animal
sente muita dor. Não impede a progressão da afecção. Paliativo. Associar com outras técnicas.
Por ele estar na região inguinal, temos que tomar cuidado com a artéria circunflexa, pois ela é
um ramo da femoral e podemos ter um problema. Ela não modifica a morfologia da articulação
coxofemoral, onde o animal ainda vai permanecer com uma radiografia displásica. Esse
procedimento visa remover a dor do paciente, por conta da contratura do músculo, associado a
denervação.

V – Extirpação artroplástica da cabeça e colo femoral


Conhecida vulgarmente como Colocefalectomia. Visa modificar a anatomia da articulação
coxofemoral. Fazemos um corte removendo a cabeça e o colón do fêmur. O corte vai até a
altura do trocanter maior. Se removermos pouco esse cólon, fica um pedaço encostando no
acetábulo, gerando dor. Como removemos a cabeça do fêmur, não temos mais a geração da
dor e com isso, promovemos uma pseudoartrose. Mais realizada historicamente. Podemos
fazer em cães de qualquer idade. Tem resultado melhor em cães leves. É uma técnica simples
que não envolve implantes.

VI – Prótese total de quadril


Temos próteses estrangeiras e nacionais. Visa modificar a anatomia da articulação coxofemoral.
DCF (displasia coxofemoral) moderada a severas. Osteoartroses secundárias. Técnica complexa.
Necessita de um alto grau de assepsia, em centros cirúrgicos que foi realizada a desinfecção no
dia anterior. Em animais com dermatopatia, devem ser tratados primeiro antes de ser realizado
o procedimento, pela rigorosidade do procedimento.

Insuficiência de ligamento cruzado


Ele nasce da borda dorso lateral caudal do côndilo femoral atravessando a articulação do
joelho e se insere no menisco medial. Possui 2 badas envoltas de tecido conjuntivo que quando
flexionam, se entrelaçam entre elas, tendo duas bandas, formando tensão pelo
entrelaçamento.
Banda crânio medial – tensão durante a flexão e extensão
Banda caudolateral – tensão durante a flexão
Função do LCC (ligamento cruzado cranial)
Impedir a hiperextensão do joelho, Impedir o movimento de rotação interna da tíbia em
relação ao fêmur e impedir movimento varus e valgus do joelho que é muito comum em cães
mini toy (joelho curvado).

Causas da ILCC (insuficiência do ligamento cruzado)


São de causas comuns, na medicina veterinária, degenerativas e de forma rara na veterinária,
de forma traumática, sendo mais comuns em humanos.

Lesões traumáticas
Rara em cães, unilaterais e acontece quando temos uma hiperextensão do joelho ou rotação
interna da tíbia em relação ao fêmur. São comuns em cães condrodistróficos pois o eixo
anatômico do osso é torcido e isso favorece as lesões traumáticas. Pode ser parcial (quando
uma das bandas rompem ou quando duas se esgarçam parcialmente, tendo uma frouxidão) ou
total (quando as duas bandas se arrebentam e temos uma movimentação clássica)

Lesão degenerativas
É mais comum na medicina veterinária, sempre ligada a uma instabilidade articular (por
exemplo, cães mini toy com luxação de patela que tem uma instabilidade dessa articulação),
fazendo com que o ligamento cruzado fique sobrecarregado. Faz com que esse ligamento sofra
um processo de degeneração e temos gradativamente uma degeneração da articulação e do
tendão, tendo uma sinovite que é uma inflamação do líquido sinovial e as vezes, com uma
lesão com pouco grau de esforço, o animal rompe o ligamento cruzado. É importante falarmos
da conformação anatômica desses animais, pois os cães possuem um platô tibial mais inclinado
do que os humanos. Quanto maior o platô tibial, maior o estresse vai ser gerado sobre o
ligamento cruzado.

Epidemiologia
Mais comum em cães (mas pode ocorrer em felinos). Pode pegar cães de grande e pequeno
porte. Há a obesidade por conta de sobrecarga articular e por questões metabólicas que a
obesidade traz ao paciente, alterando de forma degenerativa a articulação. Normalmente
ocorre de forma bilateral, pois o animal lesiona um e com o tempo força o outro e com isso,
tende a romper. É incomum em filhotes, pois eles tendem a ter um ligamento cruzado mais
elástico.

Apresentação clínica

Fase aguda Fase crônica (após 4 semanas de lesão)

- Impotência funcional (o animal não - Atrofia muscular


consegue apoiar o membro)
- Apoio em pinça
- Dor
- Passo curto
- Claudicação
- Mais de 4 semanas
- Derrame articular (joelho inchado), pois
como rompeu, temos um edema articular.

Exame ortopédico
- Teste de gaveta +
O animal fica de decúbito lateral. É indicado que façamos a sedação ou anestesia neste animal,
para facilitar o movimento. Seguramos o fêmur e com a tíbia, fazemos um movimento cranial
caudal dela.
- Teste de compressão tibial +
É um teste que imita o andar do animal. membro acometido para cima, onde colocamos uma
das mãos segurando o fêmur e o indicador na crista da tíbia. Na outra mão, estendemos e
flexionamos o tornozelo. Quando fazemos esse movimento, contraímos o músculo
gastrocnêmico e quando fazemos isso, ele gera um vetor que se o ligamento estiver rompido, a
crista da tíbia se desloca para frente e é por isso que o animal se apoia em pinça. O animal
senta lateralmente para desviar o peso e aliviar a pata.
- Sit test
Com o animal anestesiado, fazemos o teste de gaveta.

Teste de gaveta Teste de compressão tibial Sit test


Radiografia
É importante para fazermos o planejamento cirúrgico e ver se tem outras alterações
concomitantes. Posicionamento em médio lateral em estresse. Sempre pedir a radiografia com
marcador radiológico, ou seja, uma referencia que colocamos do lado da imagem do RX e no
planejamento cirúrgico conseguimos calibrar o marcador e marcar o tamanho do osso e poder
fazer o planejamento de TPLO. Alterações ósseas concomitantes. Diagnóstico clínico.

Tratamento clínico
Vai ser com anti-inflamatório e analgésico para tratar o paciente, mas por uma questão
anatômica, há uma inclinação do platô que precisa ser estabilizada e se isso não acontecer, vai
continuar tendo movimentação de translação cranial da tíbia e caudal do fêmur e esse animal
vai continuar tendo dor, até o momento de termos uma fibrose intra-articular e por isso que
ela precisa ser estabilizada
Tratamento cirúrgico
- Técnicas intracapsulares
Tivemos várias, que eram adaptadas da medicina humana. Hoje, tem uma técnica que é bem
promissora, onde colocamos uma tela de poliuretano e essa tela vai substituir o ligamento que
rompeu. Além de estabilizarmos mecanicamente, pois vamos substituir o ligamento que
rompeu, por essa tela, também fazemos uma estabilização anatômica nele. Ela é bem
promissora pois ainda não temos o acompanhamento dos pacientes a longo prazo, então, não
sabemos como esses animais estão se comportando e por isso que não temos como passar
resultados a longo prazo. Mimetizar a função e a anatomia do ligamento cruzado cranial.
- Técnicas extracapsulares
Mimetiza a função do ligamento cruzado cranial Utilização material sintético ou biológico para
tentar impedir o deslocamento cranial da tuberosidade tibial, passando por fora da articulação.
- Osteotomias corretivas
Hoje, é considerada o padrão ouro de correção. Modifica a anatomia da tíbia. Modifica os
vetores que resultam no deslocamento da tíbia. TTA e TPLO.
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2022

Cicatrização
É a parte mais básica na cirurgia. Ela envolve tudo que fazemos no centro cirúrgico ou na
clínica. Quando nos atentamos ao tamanho de fio, de agulha, pinça, curativos mais suaves,
todas essas situações interferem na cicatrização. A pele do animal é muito mal vascularizada.
Quando começamos a fazer curativos ou passamos um fio diferente, todos eles podem
interferir diretamente na cicatrização.
Ela é um processo biológico que vai restaurar a continuidade do tecido, seja ele qual for. Isso
acontece em todos os tecidos, com suas diferenciações de células, mas que acontece da
mesma forma. É um processo dinâmico. As fases acontecem juntas, não precisando uma fase
acabar para a outra começar. Normalmente parte de uma célula pronta e os outros que
precisam dela já começam a aparecer. Temos sempre que entender o que está acontecendo,
olhar para a ferida e entender onde a cicatrização está sendo prejudicada e o que é preciso ser
feito.
Como falamos de pele, temos que lembrar que temos a epiderme e a derme, temos que
lembrar que a epiderme não é vascularizada, somente a derme. Normalmente quem faz essa
vascularização são os vasos que dão origem aos capilares.
A vascularização da derme é feita pelas alças e pelos capilares e vemos que os animais têm
poucas alças e capilares. Por isso que os enxertos na veterinária não são bons, já que não
temos vascularização. Usamos muito os retalhos, onde giramos a pele, mas toda vez que
fazemos isso, temos o sangue, já que os vasos ainda estão irrigando.
A pele do homem é diferente da do cão. No homem temos a artéria inferior cutânea, que
emite vários vasos cutâneos e estes dão origem as alças capilares da derme. Quando passamos
para o cão e o gato, temos a artéria e veia cutânea, que de ramificam, ficando um local cada
vez mais pobre. Por isso que no nó, temos que ter cautela, já que pode causar necrose e
isquemia. Quando fazemos curativos apertados, dificultamos a circulação e com isso, a
cicatrização.
Existem 4 fases que podemos ter na cicatrização:
Alguns livros dizem que a fase de debridamento pode estar escondida na fase inflamatória. Ela
realmente não deixa de ser uma fase inflamatória, mas o tipo de inflamação que temos é
diferente.
- Inflamação
Sua grande característica é a permeabilidade vascular. Ela é obrigatória e vai acontecer sempre,
independente do tipo de lesão que ocorre, em maior ou menor intensidade, dependendo do
tipo de lesão que temos. Se não houver a inflamação, não existe a cicatrização. Fazemos o uso
de anti-inflamatório em procedimentos cirúrgicos que iremos ter uma inflamação mais
exacerbada. Ela sempre vai ser uma consequência necessária. Quando ela é exacerbada, se não
tratada, a cicatrização não caminha, ficando estagnada e isso não é bom. quando temos uma
lesão, como por exemplo, um espinho, ele pode estar limpo ou não. Se ele for limpo, não
teremos tanto problema, mas um espinho sujo, temos a presença de bactérias e isso interfere
na reação inflamatória. Quando temos a lesão inflamatória, com o aumento da permeabilidade
bascular, a primeira coisa que temos é uma vasodilatação. Quando nos furamos, temos o
extravasamento de sangue, que tem a função de ocupar o espaço. Nas feridas, temos um leito,
que é preenchido pelo sangue e tem a função de lavar e limpar a ferida, ainda ocupando o
espaço vazio. No momento que fazemos uma ferida e começa a sangrar, temos a liberação de
histamina que faz vasodilatação e através disso, temos as plaquetas e outros componentes,
que formam o coágulo. Quando temos a formação do coágulo, temos a primeira base da
cicatrização que é um tecido fibroso. O coágulo é bom e é através dele que as outras células
chegam, possibilitando a sustentação dessas células. Junto com ela temos os neutrófilos e os
monócitos. Os neutrófilos dão origem aos leucócitos e os monócitos dão origem aos
macrófagos.
- Debridamento
Quando temos um processo inflamatório, obrigatoriamente entram neutrófilos e monócitos. Se
temos uma ferida limpa, o organismo entende que não precisamos de neutrófilos, que por sua
vez diminuem e somem. Temos o crescimento de monócitos que dão origem aos macrófagos.
Ele tem vários papeis na cicatrização. Ele faz o crescimento de vasos sanguíneos, produz fatores
de crescimento. Se tivermos uma ferida suja, cheia de bactérias, precisamos primeiro de
neutrófilos, tendo um aumento de produção de leucócitos enquanto o monócito permanece
estável. É a ferida que vai ter secreção, exsudato, tecido necrosado e nesse momento a fase de
debridamento se torna presente, já que não temos uma ferida limpa e sim, uma suja. O
organismo vai entender a real necessidade e vai trabalhar em cima dessa necessidade. Sempre
temos que pensar que temos um espaço vazio, preenchido com o coágulo que é um tecido
fibroso e dentro dele, começam chegar plaquetas, macrófagos, neutrófilos, fatores de
crescimento, que vão entrar na ferida. Se temos uma base de tecido epitelial, o organismo
entende que as células precisam fazer mitose para cobrir o espaço vazio, porém, nesse
momento da cicatrização, as células entram na ferida, só que o coágulo não é suficiente para
dar sustentação, loco, essas células caem no fundo e não se sustentam. Precisamos neste
momento, formar uma base para que essas células se sustentem. A fase do debridamento,
temos o tecido necrosado e nestes casos, temos que intervir. Se não interferirmos, pode ser
que resolva o problema, porém, pode demorar muito mais tempo. Se entendemos que isso é
uma coisa ruim, que está atrapalhando, temos que debridar e remover o tecido morto. Nem
sempre vamos ter a fase de debridamento, que só ocorre em alguns casos. Enquanto não
temos o fim da fase inflamatória, não podemos dar continuidade. A fase de reparação só
ocorre quando temos o fim da fase inflamatória.
- Reparação
É quando começamos a ver a formação da cicatriz. Ela tem várias etapas dentro dela. Temos a
entrada dos fibroblastos, que fazem a síntese de colágeno e é o que queremos, para a
formação da cicatriz. Nesta fase, temos ainda a formação de angiogênese, onde os novos vasos
sanguíneos são formados para fechar essa ferida. Quando começamos a ter essas duas
estruturas, somadas ao tecido fibroso, começamos a ter o tecido de granulação que vai dar
sustentação, permitindo que as células epiteliais entrem e fiquem em cima da ferida,
ocorrendo a epitelização. Isso ocorre de forma dinâmica. Quando temos uma ferida aberta, ela
contrai de fora para dentro, já que começam a se formar primeiro nas bordas. Primeiro temos
um coágulo, que se junta ao fibroblasto e que se junta com os novos vasos sanguíneos e por
isso que o tecido de granulação aparece nessa região. O tecido começa a se fechar de fora para
dentro. É importante termos os fibroblastos, já que eles quem dão origem ao colágeno. O
primeiro colágeno que temos é o colágeno do tipo 1, que não é um colágeno de boa qualidade,
mas neste momento, queremos quantidade. Quem estimula os fibroblastos a entrarem na
ferida são os macrófagos e por isso que em uma ferida contaminada, não temos a entrada de
fibroblastos, já que nessas feridas, não temos macrófagos e sim, neutrófilos. Esses fibroblastos
se proliferam no coágulo. Muitas vezes o coágulo seca formando a casca. Não devemos
removê-la, pois voltamos ao início do processo de cicatrização. A casca é um coágulo seco,
proveniente de uma ferida seca. Muitas vezes é removida pois coça. Ferida boa sempre vai ser
uma ferida úmida e não ressecada. Quando fazemos um curativo, temos que mantê-la úmida.
Quando já temos boa quantidade de fibroblastos na ferida, já em quantidade, dentro vamos
ter o sangue com o coágulo, temos o tecido fibroso que vai se associar ao fibroblasto, que
entra em grande quantidade, através das fibrinas. Ao mesmo tempo, na parede da ferida
temos o estímulo dos vasos, que entram na ferida e revasculariza essa ferida. Os vasos
sanguíneos vão começar a entrar. As bordas são as primeiras a serem vascularizadas e por isso
que toda cicatriz começa pelas bordas, já que encontram coágulos e fibroblastos.
Normalmente, temos primeiro os vasos sanguíneos e depois os vasos linfáticos. Quando temos
esses novos capilares, temos um aporte sanguíneo maior e com isso, temos mais oxigênio, que
dentro da ferida, aumenta a produção de fibroblastos e com isso, temos mais colágenos.
Quando começamos a ter sangue, tecido fibroso e fibroblasto, começa a formar o tecido de
granulação. Sempre vemos normalmente em feridas que vão cicatrizar por segunda intenção.
Ele é o tecido que queremos, então, temos que favorecer que ele apareça o mais rápido
possível.

Ele se forma primeiro nas bordas, onde temos as primeiras formações das estruturas junto com
o sangue. Ele preenche o defeito, então, o espaço vazio que existe, vai se encher de tecido de
granulação. Ele protege a ferida, sendo uma barreira contra infecção e é o tecido que conforme
cresce, é o suficiente para ser uma base as novas células de epitelização. Ele é rico em
miofibroblastos que só vemos em cicatrização e somente neste tecido e faz com que a ferida
contraia e feche. O problema é que muitas vezes a ferida fica deformada e vemos isso, por
exemplo, em pessoas queimadas. Notamos que existe uma diferença.
Acima, um tecido de granulação como esperamos. Temos que nos atentar que é um tecido
sensível e tratar com muito carinho. Temos que tomar cuidado com produtos que passamos ao
realizar os cuidados com a ferida. Cada dia, podemos precisar de uma nova receita. Esse tipo
de ferida, acima, são feridas que fazemos um tratamento duas ou três vezes ao dia. É uma
ferida úmida pois temos um brotamento natural de líquido e por isso que ela nunca pode ficar
fechada.
O epitélio começa desde o tecido de granulação. A mitose das células fazem com que essas
novas células passem por cima, permitindo a passagem de novas células. A intensão desse
epitélio é cobrir a ferida o mais rápido possível. Essa passagem de células é mais rápida em
tecidos úmidos. Existe um feedback que sinaliza para terminar as mitoses. Primeiro ela cobre,
depois ela se diferencia e depois, se multiplica. Uma ferida suturada vai ter menos epitélio do
que uma ferida aberta. Quando damos ponto, temos que ter cuidado com o ponto e com a
aproximação do tecido, para ter uma melhor cicatrização. O ideal é aproximar somente as
bordas e neste local, não vamos ter a necessidade de células epiteliais. Dependendo da
cicatrização dessa ferida, essa epitelização pode vir do folículo piloso ou glândula sebáceas,
mas quando superficial, isso não funciona. Quando passamos a agulha, fazemos uma ferida
que vai ter que cicatrizar, principalmente quando temos um fio fino (3-0 por exemplo), com
uma agulha grossa. O local de passagem dessa agulha vai ser um local que terá a necessidade
de cicatrizar, então, esse tecido novo acaba cobrindo o fio e quando removemos, não
conseguimos sequer olhar o fio direito. Isso é ruim, pois vamos ter que cortar esse local para
remover o ponto e é isso que chamamos de migração na sutura, ou seja, quando temos uma
migração na própria passagem onde passamos a agulha de sutura.
Em ferimentos com casca, que é um tecido morto, tem que sair. Quando temos essa casca, isso
não significa que ela seja ruim. Ela é boa, está protegendo, só que ela precisa sair. A
epitelização em animais que tem essa casca, acontece por baixo, sendo mais lenta, mas
acontece. Essa casca é removida por conta da colagenase, que quebra o colágeno. Quem
produz colagenase no organismo são os macrófagos. Quem tira a casca é a colagenase, que vai
limpando ao mesmo tempo por baixo e cicatrizando.
A contração da ferida acontece e isso é muito rápido. Quando temos uma contração associada
a granulação e associada a epitelização, temos uma ferida que fecha rapidamente. Vale lembrar
que a contração sempre trabalha mais rápido, sendo mais forte. Ela puxa a ferida de fora para
dentro, podendo deformar essa ferida. Uma ferida em contração parece raios de sol pois faz
como se fossem tiras, ao redor. A ferida vai cicatrizar muito mais rápido quando essas três
etapas trabalham em conjunto (contração, epitelização e granulação), porém, em alguns tipos
de feridas, não temos uma contração trabalhando tão bem. Isso acontece em feridas de
extremidade (orelha, focinho, cauda), ossos, áreas articulares, locais onde temos menos pele,
já que ela pega a pele e puxa. Quando as bordas não se juntam, quem tem que cobrir é o
epitélio e é nisso que vemos a cicatriz.

Por conta da força, muitas vezes a contração da ferida deforma os membros. Volta para o lugar
com o tempo, pois a pele começa a relaxar, mas no início é dolorido pois estamos puxando
pele, músculos, tendões e por isso, devemos fazer uma analgesia neste animal. O limite das
contrações, são as extremidades. O uso de medicamentos, como corticoides (estabiliza a
produção de células), relaxantes musculares, também podem atrapalhar a cicatrização. Se a
contração cessar, quem vai cobrir é o epitélio e por isso que nunca vai deixar de cicatrizar.
- Maturação
É a fase que vai dar resistência a nossa cicatriz. É uma resistência que vai maturando com o
tempo. Antes, tínhamos o colágeno de qualquer maneira e agora não. Agora, temos uma
organização desse colágeno, formando uma pele e que dá resistência a essa estrutura. É essa a
função do colágeno agora. Quando temos a fase de maturação da ferida, não temos mais a
neovascularização, já que temos um tecido cicatrizado e por isso que a cor da cicatriz é branca.

Cicatrização úmida das feridas


Como vantagens de uma cicatrização úmida, temos as presenças de citocinas e fatores de
crescimento, que chamamos de líquido inflamatório natural, que vai diminuindo conforme a
cicatrização. Tudo que é liberado através da vasodilatação e que libera nas células
inflamatórias, vai ter neste líquido. Vai estimular a formação do tecido de cicatrização, estimula
a epitelização e faz o debridamento, através da colagenase. A umidade é essencial, porém,
temos que controlar a quantidade e jamais inibi-la. Temos que deixar sempre o curativo aberto.
Se tivermos um excesso de umidade entre um curativo e outro, essa umidade pode extravasar
e não fica retida. Pode ser que no futuro, façamos curativos com intervalos maiores e por isso
dá importância de sempre avaliar a ferida.
- Vantagens
Medicamento tópico penetra muito mais facilmente. O uso de pomadas e cremes é muito mais
vantajoso. A reepitelização é 2 vezes maior, por conta da passagem das células, uma por cima
da outra. O uso de antibiótico sistêmico vai chegar ao local e por último, é menos dolorida e
pruriginosa, não coçando.
- Desvantagens
Maceração da borda da ferida que é facilmente controlado quando fazemos curativo várias
vezes e controlando essa umidade. Outro problema que temos é a foliculite, onde a umidade
pode causar uma infecção de pele ao redor. Se temos ima infecção, voltamos para a fase da
inflamação/debridamento, atrasando essa cicatrização, mas isso também conseguimos
controlar pelo curativo.

Fatores do hospedeiro
A idade é um fator. O tecido velho cicatriza, porém, animais mais idosos tem também
comorbidades e dificultando a cicatrização. Desnutrição e hipoproteinemia, já que precisamos
de fatores de crescimento. Temos sempre que dosar albumina e se estiver baixa, não vai ter
cicatrização. Doenças hepáticas podem intervir, já que o fígado produz fatores de coagulações.
Animais diabéticos tem dificuldade de cicatrização nas extremidades, já que temos problemas
na circulação e essas feridas cicatrizam com dificuldade. Animais diabéticos tem propensão a
processos infecciosos, então, se não tiver controlada, esse animal pode ter um maior
problema. Em gatos, temos uma maior dificuldade de cicatrização. Eles tem uma dificuldade de
formar tecido de granulação. Formam, mas em menor quantidade. Com pouco tecido de
granulação, temos pouco colágeno e isso vai cicatrizar lentamente e consequentemente não
temos a fase de maturação. Por isso que em grandes cirurgias, em felinos, temos que fazer
pontos de apoio para segurar o tecido. Podemos inclusive, usar o termo pseudo cicatrização
para esses casos.

Características da ferida
Superfícies intactas atrapalham, como por exemplo, ossos e tendões, onde temos que ter um
cuidado maior para cicatrização, já que eles não granulam normalmente, dependendo do
tecido ao redor para granular e o cobrir.
Antissépticos, usamos, porém, temos que ter cuidado com a concentração. Quanto mais
concentrado, mais tóxico é o tecido de granulação ele vai ser.
Material cirúrgico pode causar lesão em maior quantidade, dependendo do que usamos.
Oxigênio, que quanto maior o fornecimento de oxigênio, maior a produção de fibroblastos e
consequentemente, de colágeno. Uma câmara hiperbárica, por exemplo, fornece oxigênio a
100% para o paciente e com isso conseguimos ter uma maior oferta de fibroblastos e colágeno.
Em feridas difíceis, podemos considerar o seu uso.
Irrigação sanguínea. Se não temos sangue, não conseguimos uma cicatrização. Por isso que
devemos ter cuidado com pontos de sutura e curativos apertados, pois vão dificultar a
cicatrização no tecido que está cicatrizando.
Infecção na ferida. O exsudato pode penetrar na ferida e chegar a locais profundos,
contaminando tudo, por isso que quanto maior a infecção, pior a cicatrização, podendo
inclusive ter necrose em uma área muito maior.
Seroma, que encontramos em espaços mortos. Ele é um líquido serosanguinolento que impede
a passagem de células. Sabemos que ele vai formar, mas também sabemos como tratar e no
caso, usamos o dreno. É difícil evitar, mas é fácil controlar. Em cirurgias com manipulação
grande tecidual e que sabemos que vai ter a formação de seroma, obrigatoriamente usamos o
dreno, já que sabemos que dificulta a cicatrização.
Corpo estranho, como capim e grama, por exemplo e ainda, fios, parafusos, pregos entre
outros.
Umidade, onde o excesso de umidade, deve ser controlado.

Fatores externos
Medicamentos como por exemplo, corticoides.
Quimioterapia, já que ela mata as células novas.
Radioterapia, que dependendo do tipo e local, pode matar as células novas.

Cicatrização
Segundo Ayello, o sucesso do tratamento depende mais da competência e do conhecimento
dos profissionais envolvidos, de sua capacidade de avaliar e selecionar adequadamente as
técnicas e recursos.

Feridas
Uma ferida é uma interrupção na continuidade de um tecido corpóreo. Tal interrupção pode
ser provocada por algum trauma, ou ainda, ser desencadeada por uma afecção que acione as
defesas do organismo.

Agentes traumáticos
Colisões, mordeduras, objetos penetrantes. Mordeduras são as que encontramos com maior
frequência na medicina veterinária.

Classificação
Quanto a natureza, onde pode ser cutânea ou de mucosa.
Quanto a extensão, que pode ser classificada de três formas
- Superficial, quando pega somente tecido subcutâneo e músculo.
- Profunda, quando chega até o osso.
- Penetrante, quando vai para uma cavidade. Um exemplo, são animais que tomam tiro.
Quanto a produção, pode ser classificada de duas formas:
- Cirúrgica
- Traumática
Quanto ao grau de contaminação, que usamos como referência, o tempo de ferida. Isso vai
interferir na escolha do tratamento.
- Contaminada, que é a ferida que tem até 105 µ/g de tecido. Essa é uma ferida com até 6 horas
de ocorrido. Podemos fechar essa ferida e tratamos com medicamentos.
- Infeccionada, quando se passa de 6 horas.

Tipos de ferida

Incisão Laceração

É a ferida cirúrgica, normalmente reta. As Muito parecida com a incisão, quando


bordas são retilíneas perfeitas. A comparada a profundidade e dor, porém, ela
profundidade pode variar o sangramento e a possui bordas irregulares. Como exemplo,
dor. Quanto maior a profundidade, maior o temos as mordeduras.
sangramento e a dor.

Avulsão Abrasão

É quando tiramos a pele ou tecido, do seu É a ferida causada por um ralar. Temos uma
ponto de inserção. Encontramos muito em ferida em cisalhamento.
casos de atropelamentos.
Perfurante Avulsão e esmagamento

Tem uma entrada e saída. O maior problema Temos vários tipos de lesão. Temos
dessas feridas é a sujeita que temos em esmagamento, temos fratura de membro e
todos os caminhos percorridos. ruptura de tendão. Pela avulsão, não seria o
Obrigatoriamente temos que colocar dreno, problema. o maior problema foram as
pois vai ter produção de seroma. São feridas fraturas e rupturas de tendões.
com um buraco pequeno e normalmente
temos que realizar uma abertura maior.

Queimadura

Como principal característica, temos as primeiras 24/48 horas, uma ferida completamente
limpa e estéril, pois o fogo matou tudo. ela tem uma camada de tecido necrosado muito
grande. Passando do tempo de 48 horas, ela se torna uma das feridas mais contaminadas
que temos, pois como está tudo morto, não chega célula de defesa e não temos todos os
processos de cicatrização, proporcionando uma infecção muito mais rápida. Essa infecção é
penetrante, podendo adentrar e esse animal pode vir a óbito. A primeira coisa que temos
que fazer é debridar a ferida pois sabemos que ela vai infeccionar, por uma série de agentes
patogênicos. É uma ferida extremamente dolorida. É uma lesão profunda (pois não tem o
crescimento de pelo) e esse animal não pode pegar sol na região, já que tende a ter um
carcinoma.
Tratamento das feridas
Temos que entender como aconteceu a ferida, para entender as prioridades da emergência. As
vezes um simples curativo oclusivo já é o suficiente para cessar o sangramento. Fazemos toda
uma análise no animal antes de pensarmos na ferida, pois o animal pode morrer por outra
causa. Todo o processo de tratamento de emergência deve ser feito associado a ferida. O
tratamento da ferida não está relacionado somente a ferida em si, já que 90% das feridas tem
relação com o trauma e este, pode gerar maiores danos ao animal, inclusive podendo levá-lo a
morte.
A função de um tratamento de ferida é transformar uma ferida infeccionada em contaminada,
para depois, podermos fechar. Temos que tratar todo o processo infeccioso, remover tecidos
necrosados, transformar em uma ferida limpa para decidir o que fazer e esse processo pode ser
longo.

Procedimentos emergenciais
- Acesso para ventilação.
- Acesso intravenoso.
- Hemostasia temporária ou definitiva.
- Reposição do volume sanguíneo.
- Controlar a dor.
- Prevenir contaminação adicional.

Manejo da ferida
Começa pela tricotomia. Hoje, usamos muito a máquina de tosa, que corta o pelo e este, cai na
ferida. Depois para remover temos que lavar e dá muito trabalho. A melhor escolha é a Gillette,
pois ela tem um tamanho pequeno e conseguimos definir o que vamos fazer de tricotomia,
além de não machucar as bordas de ferida. A máquina de tosa não é seletiva, cortando tudo
que está à frente, inclusive ferindo as bordas da ferida e sem contar que é um material mais
contaminado.
Primeiro, colocamos um lubrificante na ferida, como por exemplo o KY, fazemos a tricotomia e
depois lavamos. Todo o pelo que cai na região da ferida, vai se unir ao KY. Em cães com pelos
longos, removemos o excesso de pelagem com a tesoura, porém, devemos passar óleo na
tesoura. Os pelos que grudam na tesoura, vamos removendo. Podemos também, fechar
temporariamente a ferida para realizar uma tricotomia correta e depois abrimos para realizar
os procedimentos.

Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2022


(continuação)

Lavagem da ferida
Solução salina estéril
Antissépticos
- Diacetato de Clorexidina a 0,05%
- Iodopovidona 0,1 a 1%
- Solução para irrigação/limpeza e descontaminação de feridas, composta de 0,1% de
Polihexanida (PHMB), 0,1% de Betaína e 99,8% de água purificada por sistema de osmose
reversa ou por destilação.
Evitar o peróxido de hidrogênio e líquido de Dakin.

Podemos fazer um circuito fechado com equipo e soro fisiológico, junto com uma agulha e
seringa, para que possamos fazer a higienização do local, como na imagem acima.

Debridamento/ desbridamento
Fazemos principalmente em feridas que estão infeccionadas e por conta dessa infecção temos
um tecido necrosado, com sujeira. Existem 3 formas de se fazer. Retiramos cirurgicamente, ou
usamos enzimas e ataduras. Com o animal anestesiado, fazemos um corte com o bisturi e
removemos. Enzimas usamos muito pomadas com colagenase. Temos ainda a opção das
ataduras, mas o problema é que elas doem. É usado em animais muito debilitados, que não
podem passar por uma anestesia. Colocamos a atadura e removemos depois de 24 horas. Na
atadura, não pode conter nada, já que o objetivo dela é puxar a secreção. Ela puxa, mas a
secreção seca e na hora de remover, temos que remover a seco e dói.
No debridamento cirúrgico, sempre sevemos evitar a tesoura, pois ela não faz um corte
perfeito ou podemos cortar mais do que deve. O ideal é sempre usar o bisturi. Cortando,
começando a sangrar, a gente já pode parar.
No debridamento químico, usamos pomadas com colagenase, que é seletiva. Colocamos a
pomada e ela vai separando o que é tecido morto e o que é tecido vivo. Não é tão rápida
quanto a cirúrgica, mas ela vai trabalhar.

Depois de todo o atendimento do animal, de realizar o debridamento, devemos pensar em


como faremos para fechar essa ferida. O ideal é que falemos qual o direcionamento que
faremos para ela.
A primeira coisa que podemos fazer, é fechar essa ferida por primeira intenção. Temos a ferida
que tem a possibilidade de ser fechada, então, fazemos isso com suturas, mas para isso, essa
ferida tem que estar em condições de realizar o procedimento e esse animal tem que estar
apto para ser anestesiado. Essa ferida não pode ter infecção, tendo que estar limpa, ou seja,
tem que ser feita em até 6 horas. A maioria das feridas, normalmente são decorrentes de
traumas ou mordeduras, que causam lesões profundas. Dias depois, pode ocorrer necrose
dessa região. É sempre importante que, ao avaliar a ferida, naquele momento, esteja
aparentemente boa para fechar, porém, dias depois não é o resultado, sendo melhor esperar
dias para avaliar como proceder.
A primeira intenção com retalho, o animal não toma nenhuma medicação. Esperamos de 24 a
48 horas para tomarmos uma decisão. A pele já com uma coloração normal, permite um
fechamento.
Segunda intenção é quando a ferida fecha por todas as etapas que vimos anteriormente. Ela
fecha por granulação, epitelização e contração. O problema é que pode demorar muito tempo
e acaba não sendo tão barata. Ela pode trazer deformação a ferida. Pode ser dolorida e não
temos como comandar muito isso, somente controlando. É usado em feridas muito extensas e
como maior exemplo, temos as queimaduras.
Já as de terceira intenção, é uma consequência. É quando temos uma ferida por segunda
intenção e que já tem um bom tecido de granulação, porém, já está cicatrizando há um bom
tempo. Depois desse tempo, já temos um animal que tem a possibilidade de ser anestesiado e
tratado cirurgicamente. Transformamos essa ferida que é de segunda intenção em uma de
primeira intenção. Debridamos as bordas e vamos fechando. É quando transformamos de
segunda para primeira. Temos que tomar cuidado pois algumas feridas, quando estão
granulando, o tecido de granulação está acima do epitélio. Neste momento, tiramos um pouco
da granulação e fazemos com que ele fique reto, para podermos puxar mais facilmente a pele.
Quando formos fazer isso, toda a borda da ferida deve ser debridada.
Se tivermos dúvidas sobre o fechamento da ferida, será melhor deixá-la aberta.

Antibióticos sistêmicos
Todos os casos, com exceção de feridas cirúrgicas, usamos antibióticos.

Medicação tópica em feridas


- Controle da infecção – redução da inflamação, microtrombos, etc. Podemos usar o Clorexidina
para deixar o local limpo.

Antimicrobianos
- Clorexidina (Merthiolate/ Furanil). Ótimo para deixar o local limpo.
- Sulfadiazina de prata (Silvadene). Antigamente era uma pomada muito cara. Ela tem uma
função primordial, pegando bactérias gram positivas e negativas, com ação antifúngica e ainda,
transpassando necrose, sendo muito boa em queimadura. Não é tão barata, mas já está bem
acessível.
- Pomada antimicrobiana tripla (Bacitracina, Neomicina e Polimixina)
- Nitrofurazona (Furacin). Não é mais usada na veterinária.
- Calêndula (antimicrobiana). Auxilia na cicatrização.
Sempre temos que lembrar do veículo usado na medicação. Alguns medicamentos têm como
veículo, o álcool e isso na ferida aberta, vai causar dor. Cremes são mais usados do que
pomadas.

Debridantes químicos
- Colagenase (Iruxol)
- Desoxirribonuclease (Fibrase)
São pomadas usadas comumente, mas não em qualquer ferida. Somente usamos em feridas
que apresentem necrose.

Drenos

Usamos quando fazemos procedimentos grandes e que possivelmente irão produzir muito
seroma. Podemos usar o Penrose ou luvas estéreis. Esse é um dreno passivo. Nenhum dreno
deve ser posto na ferida cirúrgica e sim, lateral a ela. Fazemos uma nova ferida para pôr o
dreno, senão, ele acaba atrapalhando a cicatrização principal. Os drenos passivos precisam usar
da gravidade para que o líquido desça, então, sempre temos que por o dreno na parte mais
baixa. Na ferida, não vai ser o tamanho do dreno que vai fazer a diferença e sim, o caminho que
existe. Antigamente fenestravam ainda o dreno e hoje, não se faz mais isso.
Temos ainda os drenos ativos, que normalmente usamos em cavidades como por exemplo, no
tórax. Colocamos a vácuo, prendemos em uma sonda e ele vai ficar minando ativamente.
Ligamos o circuito em uma válvula de 3 vias, para criar um vácuo dentro da seringa. Prendemos
com uma agulha o êmbolo, para não o deixar voltar. Abrimos a válvula para ter uma
comunicação e vai ficar drenando.
Com o dreno de Penrose ou luva estéril, o animal pode ir para a sua casa, sem problema
nenhum, porém, com drenos ativos, isso não pode acontecer, já que um erro pode causar
grandes problemas.
Ataduras (curativos)
É muito importante que façamos. Se fizermos um curativo mal feito, podemos estragar a
cirurgia. A explicação de como fazer o curativo também é muito importante, pois ele tem que
seguir os passos corretamente. Uma força mal feita, pode causar problema. é sempre
importante avaliar a região, pois a pele sempre vai informar se está ou não respondendo ao
tratamento.
- Camada primária, é a que colocamos em cima da ferida propriamente dita. Usamos pomadas,
cremes.
Existem 3 curativos que podemos fazer:
. Aderente seco, em animais com ferida grande, necrosada e cheia de sujeiras, só que é um
animal que não pode ser anestesiado. Precisamos tirar a sujeira de dentro, então, removemos
de uma forma mais bruta. Pegamos uma gaze cirúrgica, colocamos na região e esperamos 24
horas. Quando ela estiver seca, a gente remove (como se fosse uma depilação). Não podemos
lavar, senão, contaminamos o local novamente. Não usamos normalmente, mas as vezes temos
que lançar mão dessa forma. Quando arrancamos, a ferida sangra e tudo que é sujeira vai estar
grudado na compressa. Frequência de 2 a 3 vezes por dia.
. Aderente úmida, pode ser usada da mesma forma, mas usamos por exemplo, o Clorexidine,
Povidine. Usamos isso quando temos muito exsudato (pus) e que normalmente são espessos e
grossos. Quando colocamos em contato com o Clorexidine, ele dissolve essa secreção que é
absorvida muito mais facilmente pela compressa. Dói menos para remover e podemos ainda
lavar um pouco, já que é mais fluida. Frequência de 2 a 3 vezes por dia.
. Não aderente, é a que temos o tecido se formando corretamente, com tecido de granulação.
Podemos colocar um creme e deixar fechando sozinho. Vai depender da quantidade de
umidade da região. Em torno de 1 vez ao dia, podendo ser em até 48 horas e isso vai depender
da quantidade de líquido que temos na ferida. Quanto mais úmido, mais frequente temos o
curativo e quanto menos úmido, menos frequente o curativo.
- Camada secundária, vai depender do tipo de ferida que temos. Se temos uma camada com
excesso de umidade, por exemplo, podemos usar o algodão (não o algodão ortopédico), pois
ele vai conseguir absorver essa umidade. Outra utilização do algodão, é quando queremos
fazer curativo somente em uma pata, só que precisamos por mais força, para ela ficar
imobilizada. Se colocarmos somente a gaze, colocarmos a atadura e apertar, isso faz com que
machuque o local da ferida cirúrgica, mas se colocarmos o algodão entre ela e a atadura,
conseguimos amortecer. Por mais compressão que fizermos, ele dá uma travada. A atadura, se
começar a correr ou marcar em algum ponto, ela começa a machucar e doer. Podemos usar
gaze em feridas que não temos excesso de umidade. Feridas cirúrgicas, por exemplo,
colocamos só gaze.
- Camada terciária é a que fechamos, normalmente usando atadura, esparadrapo e vetrap.
Temos que ter cuidado com curativos muito grandes com a atadura pois ela pode andar.
Podemos usar uma roupa cirúrgica, um número a menos, para ficar mais justo.
. Curativo semi-oclusivo
Usamos em feridas úmidas. É o curativo que colocamos a atadura com um espaço para saída
dessa umidade, não permitindo que essa umidade fique retida na ferida.
. Curativo oclusivo
Fazemos o curativo e fechamos todo com esparadrapo, já que tem pouca umidade e tem uma
frequência maior de troca.
Vantagens do curativo
Proporciona limpeza, deixando essa ferida sempre limpa. Fazemos uma lavagem e não
permitimos que ela fique úmida, até porque, podem gerar problemas por isso, como por
exemplo, foliculite, reduz edema, seroma e hemorragia, principalmente naquela cirurgias
cruentas (mastectomia) e quando fazemos um bom curativo, conseguimos evitar isso muito
bem. Elimina o espaço morto por compressão e devem ser confortáveis, por isso que temos
que ter cuidado ao realizar o curativo.

Tipos de ataduras primárias (curativo)


- Aderente seca – Tecido necrosado
- Aderente úmida – Mais confortável
- Não aderente – Sem tecido necrosado, em fase de reparação

Casos clínicos
Ferida por mordedura

Ferida causada por mordedura de gato, não é a mesma ferida causada por mordedura de cão.
Fazem mini buracos, inoculando bactérias e por isso que em mordedura de gato, não temos
laceração. Temos a formação de abcessos pois temos a inoculação de bactérias pela boca e a
ferida da pele cicatriza, mas as bactérias ficam no subcutâneo e na musculatura. Muitas vezes
atendemos um animal claudicando, cara inchada, a base da cauda inchada e na palpação
temos um aumento de volume causando dor, pois temos pus.
Em casos de animais com mordedura em locais como ponta de rabo ou orelha, que são locais
de difícil cicatrização, e que esses animais se encontram viáveis para anestesiar, mesmo que a
ferida ocorra com menos de 6 horas, podemos fechá-la. Debridamos, o local, limpamos bem e
fechamos com sutura. Isso facilita muito na manutenção da ferida. Fazemos antibióticos neste
animal.
Em mordida de cães, temos além de ferida, podemos ter danos como protusão do globo ocular
por conta da força. Neste caso, protegemos o olho do animal, fechando a pálpebra, para
proteger a córnea do ressecamento. Podemos ter necrose neste local. Vale lembrar que o
dreno sempre tem que ser posto adjacente a ferida, de modo que a gravidade ajude a descer
as secreções formadas no local. Temos sempre que suturar a pele e fixar na musculatura, para
que não tenha rompimento por conta da força que acontece (fazemos os pontos de fixação).
Sempre fazemos uma tricotomia ampla, mas a borda fazemos com lâmina. Com isso
conseguimos ver a dimensão da lesão. Temos que sempre usar colar elizabetano para evitar
que o animal manipule o local cirúrgico e em casos em que a ferida fica se localiza na parte
lombar do animal e que haja necessidade de pôr o dreno, podemos colocar fralda no animal
para evitar que pingue. É importante que avaliemos todas as feridas decorrentes de mordedura
pois tem risco de haver laceração interna. O animal ainda pode ter perfurações em órgãos
internos. Por isso que é importante que façamos uma inspeção completa no animal.

Recursos adicionais em feridas difíceis.


- Enxerto de pele
- Técnica de anaplastia

Piometra
É um processo infeccioso no sistema reprodutor feminino. É muito frequente na clínica. Poucos
cadelas e gatas são castradas, não tendo a frequência dessa castração como deveríamos ter
(cadelas após o primeiro cio, como preventivo de várias doenças), mas ainda temos uma falha.
Essas doenças do sistema reprodutor feminino ainda acontecem com muita frequência,
podendo levar ao óbito. Temos que estar muito atentos, para fazermos o tratamento correto e
saber das complicações inerentes a ela, para resolvermos isso. A piometra, por se tratar de um
processo infeccioso, o problema não é só no momento, deixando sequelas posteriores e como
exemplo (pior), temos as doenças renais. Algumas cadelas, por depósito de imunocomplexos
(bactérias), na região do glomérulo, pode causar uma lesão renal e se tornar crônico, então,
uma cadela que não era renal, pode se tornar renal e vir a óbito por isso e é essa a importância
de castrarmos esses animais.
A piometra é o material purulento, dentro do útero. É frequente e fatal. Se não tratado, vai a
óbito. Dependendo do proprietário, se não for atento, podemos encontrar um animal com o
estado clínico muito avançado e o animal pode vir a óbito, mesmo com o tratamento cirúrgico,
que é a castração. O diagnóstico precoce e eficiente, tem que ser rápido. Temos que entender
o que está acontecendo e realizar a cirurgia o mais rápido possível.

Etiopatogenia
Existe um fator fisiológico nas fêmeas, que chamamos de hiperplasia endometrial cística. Toda
cadela, no cio, vai ter a ação de progesterona que aumenta o endométrio. Ele, por sua vez,
começa a produzir muco, diminui a contratilidade, diminui a sua resposta imunológica e ainda,
temos a cérvix aberta e isso é normal nessa fase. Em todas as cadelas no cio, independente da
idade, isso vai acontecer a hiperplasia. Neste caso, temos uma lesão no útero da cadela no cio
e isso é normal e é por isso que sempre temos que associar a ultrassonografia com a clínica, já
que isso é fisiológico, acontecendo a cada 6 meses. Já nas gatas, elas precisam de um estímulo
para ter a liberação de progesterona e por isso que em gatas é mais difícil de termos uma
piometra, não sendo tão frequente. Quando essas cadelas têm acesso a progesterona, elas no
diestro, começam a ter lesões e é nelas que começamos a ter a piometra. Como temos a
diminuição da resposta imunológica, exsudato inflamatório, 2 vezes ao ano, isso não é todo
liberado e sempre fica algo. Em uma cadela nova, mesmo que fique com um pouco, ela é
imunocompetente e consegue combater essa infecção. A infecção mais frequente ocorre por
conta da Escherichia coli, que vem do canal vaginal por conta da abertura da cérvix. Cadelas
jovens debelam facilmente, já cadelas idosas não. Por isso que vemos piometra em cadelas
mais velhas e não em cadelas novas.
O complexo hiperplasia endometrial não é a mesma coisa que uma piometra, porém, ela pode
ocasionar uma piometra.

Acima, vemos como temos uma hiperplasia e piometra.


É raro em gatas pois ela não fazem a liberação de progesterona, então, não temos esse ciclo
todo, mas não é impossível esses animais terem piometra, só não sendo tão frequente como é
na cadela, principalmente porque em alguns animais jovens e felinos, as pessoas fazem uso de
hormônio exógeno para tratar comportamento, interromper cio, impedir gestação, só que
temos que lembrar que os hormônios exógenos são 25% mais potentes do que o endógeno,
ficando 6x mais tempo na circulação, então, ele faz efeito por muito tempo. A gata não só faz
piometra, mas também pode ocorrer tumores de mama também. O problema é que isso é
vendido em farmácias sem receita e por isso a necessidade de investigar se esses animais
fizeram uso há certo tempo e é importante que saibamos pois o tratamento pode demorar
mais a acontecer, já que temos os hormônios circulando na circulação. Vamos encontrar em
fêmeas de meia idade ou então, em animais mais velhos a não ser que esses animais tenham
feito uso de hormônio.

Histórico e sinais clínicos


Temos que saber se houve tratamento com hormônio, ter tido cio há dois meses, logo, a
frequência da piometra é no diestro e não no estro. Secreção vaginal podemos ter ou não. Nas
piometra abertas, temos a secreção e facilmente temos o diagnóstico. O problema ocorre
quando temos uma piometra fechada, onde não há saída de secreção e esperar ao ponto de
termos sinais clínicos no animal, é sinal de cronicidade muito grande. Temos sinais clínicos
inerentes ao processo infeccioso, como por exemplo, anorexia, letargia, desidratação, poliúria,
polidipsia, dor abdominal ao ponto de alguns animais terem dificuldade de sentar e levantar,
hipertermia, vômito, choque (podendo ter hipotermia) e sepse. É um processo crônico que vai
se formando, até esse animal vir a óbito.

Piometra aberta com secreção sanguinolenta Piometra aberta com secreção purulenta

Em cães maiores, podemos ter a sujeira grudada em volta da vagina e na base da cauda.

Secreção em volta da vagina Secreção em volta da vagina


Diagnóstico
- Exames laboratoriais
Temos algumas alterações como anemia, causada pelo processo infeccioso e perda de sangue
pelo útero. Temos que lembrar que na remoção do útero, temos um grande volume de sangue
que sai, logo, temos que ter muita atenção ao hematócrito desses animais. Podemos ter uma
azotemia (aumento de ureia e creatinina), já que o animal desidrata, faz uma lesão renal por
conta das bactérias que vão para o glomérulo que pode ser passageiro ou pode se tornar
crônico, logo, cachorros idosos que já tem lesão renal ou aparece essa lesão renal, tem que ser
acompanhado no pós operatório. Pode apresentar hiperproteinemia, normalmente por conta
da desidratação, logo, pode estar hemoconcentrado e por isso que a hidratação dessas cadelas
é muito importante. Podemos ter leucocitose e leucopenia, sendo a leucocitose melhor, já que
quando apresenta leucopenia, significa que o sistema imune já está sobrecarregado. É normal
ter um aumento da leucocitose, depois da cirurgia, já que mexemos no foco infeccioso. Se
tivermos a presença de uma leucocitose com desvio, por mais de 5 dias, temos que reavaliar e
pensar em algo rompido, mas a tendencia é que tenhamos um aumento da leucocitose após
isso, uma diminuição. Podemos ter alterações da enzima hepática por conta da toxemia,
podendo ainda, ver essas cadelas ictéricas. Podemos ter um animal imunossuprimido e pouca
bactéria vai fazer um grande estrago, enquanto em alguns animais, podemos ter um útero
muito grande, mas que conseguem debelar esse programa. Temos hipoglicemia por conta da
diminuição da produção de glicose periférica e todo animal com infecção faz hipoglicemia,
logo, temos que ter cuidado na cirurgia com a hipoglicemia, avaliando a glicose durante a
cirurgia. Duas coisas importantes na piometra é a avaliação de glicose e avaliação de função
renal, muito importantes no trans e no pós operatório dessas cadelas.
- Exame de imagem
A radiografia não usamos mais. A ultrassonografia dá um diagnóstico perfeito. Ela não diz o
tipo de líquido que contém no local, mas mostra celularidade. No hemograma, se
encontrarmos uma leucocitose, com um animal apático, não comendo e ainda no diestro,
conseguimos fechar o diagnóstico. É o clínico que fecha o diagnóstico.

Na ultrassonografia vamos ter um útero aumentado e cheio de celularidade.


- Diagnóstico diferencial
Todas as afecções do aparelho reprodutor feminino que possam gerar secreção e como
exemplos temos tumores de vagina, de útero, aborto. Sempre que pensarmos em problemas
de aparelho reprodutor feminino, devemos pensar em ciclo estral. A piometra só acontece no
diestro, porém, os tumores não.

Hemometra
Temos que tomar cuidado com a perda de sangue desses animais. Ela já pode ter uma anemia
e que vai piorar com o procedimento cirúrgico, então, devemos sempre estar atentos ao
hematócrito desses animais.

Tratamento clínico
É um tratamento conservador, só para preparar o animal para operar. A piometra é um
procedimento onde há tempo, normalmente, de realizar os exames e operar o animal. fazemos
hidratação do animal, antibioticoterapia, avaliar glicose e produção urinária, uso de
anti-inflamatório pode causar lesão renal, que pode piorar o problema do animal. Uso de
hormônios para o tratamento existem, como por exemplo, a prostaglandina, porém, ela faz
contração uterina. O problema é que, quando temos uma piometra fechada, podemos ter o
rompimento do útero, ela tem outras contra indicações, já que faz aplasia medular. Podemos
usar Aglepristone (Alizin), que ocupa os mesmos receptores de progesterona, podendo ser
usado como tratamento, porém, se essa cadela teve piometra por conta do hormônio exógeno
que foi aplicado, o Aglepristone (que dura só um mês na circulação), vai ter que ser feito muito
mais vezes (no mínimo 6 vezes), já que o hormônio exógeno permanece mais tempo no
organismo do animal. por isso a importância de sempre sabermos se houve ou não a
administração de hormônios externos. Hoje, o que se indica de tratamento clínico é nunca usar
um só hormônio, usando de 2 a 3 já que os efeitos colaterais são menores e não são todas as
cadelas que podem ser usados. Em literatura, tem a indicação de dose única de corticoide para
inibir os imunocomplexos nos glomérulos. Depois da cirurgia, não tem mais necessidade, já
que vamos remover o útero, acabando com a infecção. Sempre fazemos o uso de opioides, pois
dói, inclusive, pode trabalhar com o anestesista, já que esse animal está sentindo dor.

Tratamento cirúrgico
É a ovariosalpingohisterectomia (OSH). É uma castração, com a mesma técnica, só que a
abertura ventral é maior e devemos ter cautela para manipular o órgão. Temos que tomar
cuidado com a descompressão que é feita, pois o útero está comprimindo tudo do abdômen,
como veia cava e removendo rapidamente podemos aumentar o aporte sanguíneo para o
coração. A serosa é escorregadia, então, devemos pegar com uma compressa cirúrgica seca
que adere e nos dá firmeza para remover lá de dentro.
Como temos uma maior vascularização do ligamento largo (imagem abaixo), as vezes temos
que fazer algumas ligaduras para fazer o procedimento sem hemorragia e por isso devemos
fazer aos poucos, sem pressa. Na imagem abaixo, ainda, podemos ver os cistos ovarianos. Esses
animais, com problemas reprodutivos, normalmente vem com mais de um problema, ao
mesmo tempo, justamente por conta da resposta hormonal.

Às vezes, ainda temos uma peritonite associada e a ultrassonografia nos mostra um líquido
livre, que é um dos sinais da peritonite e nestes casos, temos que associar um antibiótico por
mais tempo.
A OSH é uma cirurgia de rotina (não sendo fácil). Temos que tomar cuidado e realizar o
procedimento corretamente, removendo os cornos uterinos e os ovários por completo. Se não
removermos corretamente, esse animal pode apresentar uma piometra no coto uterino
remanescente. Isso é erro e dá processo.

Pós operatório
Nas piometras fechadas, temos um pós operatório pior. A peritonite é um sinal que temos para
chamar a nossa atenção. Normalmente esses animais devem ficar internados por 48 horas.
Temos que fazer a cada 15 dias, durante algum tempo, a avaliação renal e hemograma. Se
mantiver com taxas altas a função renal, de forma crônica, é um sinal de que esse animal se
tornou um animal renal crônico e ela precisa ser acompanhada, se possível, por um
nefrologista.

Prognóstico
Ele é bom, mas vai depender muito do caso clínico do animal.

Rio de Janeiro, 05 de outubro de 2022

PROVA
Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2022

Continuação...
Neoplasias mamárias

Fisiopatogenia em cadelas
São tumores mais comuns em cadelas de 7 a 12 anos de idade. A ocorrência em machos é de
1%. Os tumores mais comuns são os carcinomas, adenocarcinomas e sarcomas. A causa é
desconhecida, porém sabemos que pode ser hormonal, já que essas células têm receptores
para estrogênio e progesterona. Podem percorrer vasos linfáticos e sanguíneos, acometendo
linfonodos e pulmões (causando metástase).

OSH em cadelas

Antes do 1 º cio 0,05%

2º cio 8%

3º cio 26%

Sabemos que a castração antes do primeiro cio vai impedir o completo desenvolvimento da
cadela, causando por exemplo, uma vulva juvenil, que é quando a cadela tem a vulva bem
pequena, causando incontinência, infecção urinária e faz ainda uma lesão perivulvar muito
grande causando dermatite. O animal jovem pode desenvolver uma incontinência urinária,
mas um animal adulto não vai desenvolver, já adulto, uma incontinência, devido a castração.
Hoje, o recomendado é que esses animais sejam, castradas após o segundo cio.
A literatura cita como raças pré dispostas, raças de porte grande, só que na verdade a raça mais
predisposta são as raças que estão na moda, já que esses animais aparecem em maior
quantidade para o atendimento clínico.
Sempre devemos, na anamnese, saber se esse animal fez uso de algum hormônio exógeno.
Mesmo o paciente castrado, se houver uso de hormônio exógenos que normalmente são
usados para inibir cio ou correção de comportamento, pode provocar tumor de mama. Esses
hormônios são 25 vezes mais potentes do que os hormônios endógenos, ficando até 6 meses
na circulação. Mesmo castrando esses animais, esses hormônios podem causar problemas
nesses animais.
Na castração, temos que ter certeza de que esse animal foi castrado corretamente, sem que
tenha restado ovários no local. É importante o procedimento realizado corretamente já que o
ovário é uma fonte hormonal.
Existe um fator endógeno, que é a cicloxigenase 2 (COX2), onde conseguimos diminuir o
crescimento desses tumores com o uso de medicamentos anti-inflamatórios seletivos da COX2,
já que esses tumores têm receptores para COX2. Ele consegue aumentar a angiogênese,
diminui a apoptose, aumenta aderência, estimulando o crescimento tumoral. Usamos o
anti-inflamatório como forma de tratamento adjuvante, podendo ser usado por 6 meses
consecutivos (sempre observando se algum animal vai ter ração por conta do uso).
Fisiopatogenia em gatas
São os terceiros mais comuns em felinos (perdendo para o linfoma), mas ao contrário das
cadelas, 90% são malignos, tendo alta performance de metástase e acabam sendo altamente
mortais. Nas gatas tudo é muito rápido. O crescimento é muito rápido, a formação de
metástase é rápida e por isso que temos altas taxas de mortalidade e é por isso que devemos
agir rapidamente.
Gatas não castradas e as que usaram hormônio, são as que tem a maior frequência de
desenvolver tumores. Nelas os adenocarcinomas são os mais comuns e estes, não são
responsivos a quimioterapia. Nos tratamentos cirúrgicos, quando conseguimos realizar
rapidamente, talvez seja o único tratamento desse animal. Normalmente esses animais
morrem de metástase. Na gata não existe uma indicação de castração dessas gatas no primeiro
cio. Normalmente os proprietários castram após ele.

Carcinoma inflamatório
É o único tumor de mama que não tem indicação cirúrgica, não sendo operável, já que ele não
se instala somente na glândula mamária, se instalando em toda a derme adjacente. Perdemos
o poder de margem cirúrgica, pois não sabemos onde iremos fazer a incisão. É um tumor que
tem características inflamatórias. Eles ulceram com facilidade e essas úlceras necrosam. Ele se
espalha por toda a pele, sendo só feridas. É extremamente dolorido, inflamação acentuada e
morte em no máximo duas semanas. Nestes animais, fazemos somente o tratamento paliativo,
para tentar segurar, mas a morte vem rápida. É importante o diagnóstico para que não opere o
animal. caso tenha dúvida, devemos realizar a biopsia antes.

Sinais clínicos
Normalmente pegamos em cadelas e gatas de meia idade. A formação desses nódulos é muito
variado. Mesmo que seja um nódulo pequeno, devemos realizar a biopsia para saber o que é.
Citologia não está errada, porém, em nódulos pequenos, na hora da punção, podemos colher
material que não é o que desejamos. Temos ainda o problema de termos tumores mistos e
podemos puncionar o local que é benigno. O animal pode ter dispneia quando temos
metástases pulmonares que por sua vez, causa uma inflamação, junto com líquidos na cavidade
torácica, o que chamamos de efusão pleural, principalmente em felinos. Temos os edemas de
membros já que os linfonodos inguinais, poplíteos e axilares, quando estão comprometidos,
temos dificuldades na circulação linfática, causando edema de membro. As glândulas mamarias
abdominais e inguinais são as mais comprometidas pois são as que tem maior quantidade de
tecido. Não é regra, mas é o que acontece com maior frequência. Sempre temos que ter
atenção aos linfonodos axilares que fica na região axilar, por baixo dos músculos, não sendo
fácil de ser encontrados e o inguinal, que é mais fácil, ficando embaixo da última glândula
mamária. Quando ele está normal ele é cinza e quando está alterado, ele fica verde, mudando
totalmente o seu aspecto e cresce rapidamente.

Neoplasias mamárias em gatas


Normalmente temos tumores pequenos, que ulceram com facilidade pois quando a pele estica,
diminuímos a circulação cutânea e acabamos tendo uma necrose e ainda, isso significa que
está tendo metástase na pele e começamos a ter necrose, não sendo um bom sinal.
Nas cadelas, podemos ter uma variedade muito grande. Podemos inclusive, ter tumores
ulcerados ou não. Às vezes, podemos ter uma indicação de realizar uma cirurgia que
chamamos de “toilet”, que é a remoção somente do tumor ulcerado que está causando
problema. Isso acontece quando temos um animal que não tem condições de passar por um
processo cirúrgico de mastectomia. A indicação é para que o animal não sofra com esses
tumores. Não é curativo.

É sempre importante palparmos as glândulas mamarias na anamnese. Às vezes, podemos ter a


liberação de secreções, que pode ser mastite, mas que também podem ser alterações
indicativas de um início de neoplasia.

Diagnóstico
Ele é clínico e pode ser feito pela citologia ou a histopatologia, esta, fechando o diagnóstico.
Toda a cadeia mamária deve ser encaminhada para a histopatologia. Conseguimos ver uma
grande variação de tumores nessa cadeia mamária. Na palpação podemos não encontrar nada,
mas no laudo, podemos encontrar o já a presença de células neoplásicas.
Como diagnóstico diferencial em cadelas, temos as mastites, abcessos, mastocitomas e nas
gatas, o diagnostico diferencial mais importantes são as hiperplasias, que apesar de grande, é
benigno. É um aumento de produção de células por ação de progesterona. Acomete
normalmente gatas no primeiro cio, jovens e ainda, animais que fazem ou fizeram uso de
hormônios. O problema nestes casos é que, como cresce muito, pode ocorrer necrose. A
indicação no caso de hiperplasia, é tratar a não ser que essas mamas estejam com ulcerações
ou muito comprometidas. Se as mamas estiverem integras, devemos tirar a fonte de
progesterona, castrando esses animais. Esses animais são castrados pelo flanco. Temos
também o tratamento clínico, que são a base de medicamentos antiprogestágenos. O
medicamento não acaba com a progesterona, apenas ocupando os mesmos receptores, então,
ela fica na circulação e não se ativa. O problema é que, em pacientes que fizeram o uso de
hormônio exógeno, temos que nos atentar ao período de 6 meses, que é o tempo no qual o
medicamento faz efeito no organismo do animal.

Tratamento clínico
O tratamento inicial é só para preparar esses animais para o procedimento cirúrgico. Pegamos
muitas cadelas fazendo pseudociese, produzindo leite, então, as glândulas mamárias
aumentam e a margem cirúrgica que temos por conta do tumor, as vezes tem que dobrar de
tamanho por conta desse problema. Quando são tumores pequenos, o ideal é secar esse leite e
depois de 15 dias, realizar o procedimento cirúrgico. Dependendo do animal, tratando
clinicamente para secar esse leite, não conseguimos êxito. O problema nisso, é que o leite é um
meio de cultura. Fazemos analgésicos pois isso dói. Fazemos um curativo local, protegendo a
região, até que seja realizado o curativo. O uso de COX2 pode ser feito, mas temos que lembrar
que ele não é curativo, sendo adjuvante, somente auxiliando.

Tratamento cirúrgico
É o tratamento de escolha, com exceção do carcinoma inflamatório. A mastectomia unilateral é
a mais indicada. Evitamos realizar a mastectomia bilateral por conta do grande trauma e
dependendo do animal, ainda podemos causar dificuldade da respiração neste animal, por
compressão. Se a cadela for inteira, podemos castrar o animal ou não, já que não teremos mais
influencia nesse tumor, porém, podemos evitar uma série de doenças. Neste caso, podemos
esperar um tempo para realizar a OSH. A OSH, depois de instalado o tumor, perde todo o efeito
de prevenção. No pré operatório, fazemos os exames de sangue comumente solicitados, onde
podemos encontrar anemias crônicas, leucopenias crônicas e linfopenias crônicas que é o que
chamamos de síndrome paraneoplásica, ou seja, os efeitos do tumor a distancia, fora do seu
sítio inicial. A ultrassonografia é importante já que podemos encontrar uma piometra. Em
cadelas inteiras, com hormônio circulante, podemos encontrar outros problemas como
tumores de ovário, de vulva, de mama, tudo ao mesmo tempo. A radiografia é importante, já
que nos sinaliza metástase, então sempre fazemos em 3 posições (látero-lateral esquerda,
direita e VD) e que nos mostram nódulos com mais de 0,5cm. Menos que isso ele não vai
mostrar.
Na cadela, temos o que chamamos de lesões em forma de balas de canhão, diferente do que
encontramos nas gatas, que são pequenos pontos que chamamos de lesões miliares.

Lesão em cadela Lesão e gata

Hoje, chamamos as mamas de M1, M2, M3, M4 e M5


A irrigação linfática é feita da seguinte forma. M4 e M5 vão drenar para o linfonodo inguinal e
M1 e M2 vão drenar para o linfonodo axilar. Já a M3 vai ser drenada tanto para o linfonodo
inguinal quanto para o linfonodo axilar. Se temos um tumor apenas na M5, talvez tenhamos
uma possibilidade de remover somente M5 e M4, não precisando remover tudo, mas sempre
que tivermos na M3, temos que remover toda a cadeia mamária, já que drena para ambos os
lados. Como existem alterações na drenagem linfática quando há uma tumoração e não temos
como prever o que está acontecendo, acabam removendo toda essa cadeia mamária.

Técnicas cirúrgicas
- Lumpectomia
É a mais simples. Quando temos por exemplo, um tumor na M1 e removemos apenas o tumor.
- Mastectomia simples
Retiramos a glândula e o tumor. Não fazemos muito pois mexer na glândula mamária causa
muito mais inflamação e reatividade por conta da vascularização.
- Mastectomia regional
É quando tiramos uma glândula mamária antes e depois do tumor. Por exemplo, um tumor em
M4, removemos a M5 e a M3.
- Mastectomia unilateral
É quando removemos toda a cadeia mamária, de uma vez.
- Mastectomia bilateral
É quando removemos ambas as cadeias mamárias, em uma única vez. Se for removido uma
cadeia mamária e depois, removermos outra cadeia mamária, são duas mastectomias
unilaterais. A mastectomia bilateral é pouco realizada.

Técnica cirúrgica
Temos que por esse animal em decúbito dorsal com tricotomia ampla. Temos que evitar incidir
na glândula mamária. As glândulas torácicas são mais aderidas, dificultando a remoção. Nestes
casos, não há problema em lesionar discretamente a musculatura. Quando fazemos a
mastectomia, a mama M1 tende a ir em direção a região axilar, virando para esquerda ou
direita, então, temos que tomar cuidado com os cortes que fazemos, para não deixar tecido
mamário. Temos que realizar a ligadura da epigástrica superficial caudal, que é a mais
importante. Ela está abaixo da M5, sendo fácil de ser encontrada. Ela sai do canal inguinal, no
meio da gordura inguinal. Divulcionamos a gordura e ligamos com um fio absorvível. Podemos
fazer drenos, mas é preferível por pontos de aproximação, diminuindo o espaço morto.

Epigástrica superficial caudal

Os linfonodos inguinais são fáceis de serem encontrados, mas o axilar são mais complicados.
Para eles, usamos um marcador, que é o azul de metileno ou o azul patente. O problema é que
o azul de metileno não pode ser usado para gatos.
Normalmente, caso seja o azul de metileno, usamos 0,5ml para animais até 15kg e 1ml para
animais maiores de 15kg. Já o azul patente, usamos 2mg/kg. Aplicamos intradérmico ao redor
da mama mais próximo, já que é ela quem vai drenar mais facilmente. Aplicamos depois da
assepsia do animal. Eles coram o linfonodo, os deixando com coloração azulada. Se fizermos
subcutâneo, toda a região fica cinza, não permitindo encontrar o linfonodo. O animal pode
ainda fazer uma reação, ficando totalmente azul e temos que avisar para o proprietário.

Normalmente fazemos uma incisão em bloco, removendo tudo. Fazemos uma grande elipse.
Podemos ainda, ir removendo e suturando aos poucos. O bom de realizar essa técnica é que o
tecido resseca e acaba encolhendo, dificultando depois a sutura.
Ao realizar a incisão, temos que divulsionar a pele, lateralmente, para podermos usá-la para
suturar.

Se deixarmos a pele solta, ela tende a descer e quando puxamos, já temos uma dificuldade de
tracionar. Para evitar isso, podemos pegar pinças backhaus e fixamos a pele, não permitindo
que ela desça. Pode ocorrer hematomas por conta da manipulação e isso deve ser informado
para o proprietário. Em gatas, podemos ver os “colares de pérolas” que são massas tumorais
que passaram de uma glândula mamaria para outra. A técnica bilateral só é indicada acontecer,
quando o animal tem uma grande massa que pega as cadeias mamárias em ambos os lados.

Pós operatório
Curativos compressivo ou cinta cirúrgica que é usada muito comumente, porém, nestes casos,
temos que imobilizar o paciente, então, usamos a cinta um número a menos. Usando a cinta,
conseguimos evitar inclusive hematomas. Podemos usar ataduras, mas é indicado para
pacientes menores. Animais de grande porte acaba sendo inviável o seu uso. No curativo, sob a
sutura, fazemos um curativo acolchoado. Podemos usar compressa cirúrgica. Temos uma
malha tubular, mas ela não dá esse ajuste com aperto que é necessário, no procedimento.
Temos que ficar de olho em animais que tem dificuldade de urinar ou evacuar, quando estão
usando a roupinha cirúrgica.
Analgésicos (Tramal e Morfina) sempre, pois dói muito (fazemos de 8 em 8 horas e
desmamamos com o tempo) e antibióticos por conta do tamanho da ferida. AINE (COX2 de 3 a
6 meses). Observar a ferida quanto a necrose (normalmente nos pontos de pele e por isso a
importância de realizarmos a ancoragem), seroma e edema. Sempre encaminhar o material
para a histopatologia. Avaliação de metástase a cada 3 a 4 meses. Tratamento oncológico.

Necrose isquêmica, seroma e infecção

Complicações
Dor, que é esperada de acontecer. É um procedimento cirúrgico grande e por isso temos que
tratar com analgésicos. Edema de membro anterior ou posterior, já que o líquido acumulado,
tende a descer para os membros, principalmente porque o animal com dor, tende a ficar
sentado. Recorrência tumoral que pode acontecer no local até 2 anos depois e não tem como
prever isso, tendo que ser explicado para o proprietário.

Prognóstico
O que define o prognóstico é o grau de invasão, tamanho tumoral (principalmente em gatos),
envolvimento de linfonodos (por isso que eles sempre devem ser encaminhados para a
histopatologia), presença de metástase e fixação (sempre avaliar se tem aderência ou não).

Profilaxia
Castração e exame fixo, sempre examinando esses animais.
Afecções cirúrgicas do sistema reprodutor masculino

Anatomia

A parte que mais trabalhamos é a próstata. Temos que lembrar da anatomia, pois não é um
órgão que temos um fácil acesso. Ele fica dentro da cavidade pélvica. Essa informação é
importante pois ele fica perto da bexiga, osso pélvico, cólon. Se ela estiver no tamanho normal,
temos que abrir a cavidade pélvica, realizar uma osteotomia do osso pélvico para ter o acesso.
Vemos na maioria das vezes, quando trabalhamos com a próstata, os processos infecciosos
(abcessos), isso faz com que ela aumente consideravelmente de tamanho. Quando ela tem
esse tamanho, a tendencia é que ela saia da cavidade pélvica e entre na cavidade abdominal,
facilitando o acesso. Tumores de próstata as vezes não altera o tamanho, tendo um maior
trabalho para acessarmos. Quando temos os tumores, a probabilidade de neoplasias com
metástases na bexiga, cólon, uretra e osso, também existem. O quanto antes realizarmos o
diagnóstico, melhor, pois se ela começar a fazer metástase, normalmente vai ser aos órgãos
adjacentes. Na parte mais caudal da bexiga temos o trígono vesical, onde ficam os ureteres e
isso ainda pode causar maiores problemas no trato urinário. O tumor de próstata não
comprime, só fazendo invasão aos órgãos e isso piora o prognóstico.

- Hiperplasia prostática (HPB)


É a mais simples e é onde tudo começa. Se isso não é tratado, as outras podem começar a
surgir e por isso que a prevenção é fundamental. O animal obrigatoriamente tem que ser
inteiro. Temos uma disfunção hormonal, com um aumento de Diidrotestosterona, aumento da
sensibilidade da próstata a esse hormônio e ela aumenta de tamanho, ficando hiperplásica, ou
seja, com um aumento do número de células. É um processo benigno, comum em cães a partir
dos 6/7 anos e por isso que nestes casos, devemos começar a investigar esses animais.
Podemos indicar a castração preventiva. No exame físico, o animal se apresenta assintomático.
A palpação retal é uma forma importante de realizarmos o diagnóstico. Podemos ter um
aumento de volume, só que simétricos, onde os dois lados estão aumentados. Em literatura,
diz que a palpação é indolor, porém, pode ter desconforto.
- Cisto prostático (CP)
Normalmente é um processo inflamatório, sendo normalmente benigno. Possui cápsula grossa.
O animal obrigatoriamente tem que ser inteiro. São inflamatórios, não tendo nenhum tipo de
infecção e muita das vezes não tem nenhum sinal clínico. Muitas vezes temos uma próstata
com hiperplasia e cistos. O problema dos cistos é que ele cresce muito. O cisto pode estar
dentro do parênquima, mas pode estar fora. O problema é quando vários cistos pequenos
começam a se juntar, formando um cisto grande. A próstata com hiperplasia e presença de
cistos, acaba se tornando inflamada. O problema acontece quando esse animal possui uma
infecção urinária, junto com um cisto próximo a uretra. Esse processo inflamatório atrai
bactérias e com isso, esses cistos se tornam um abcesso e por isso que é importante ser
tratado. Sempre devemos realizar a biopsia para ver se já temos a presença de células
tumorais. No exame físico, o animal se apresenta assintomático. A palpação retal é uma forma
importante de realizarmos o diagnóstico. Podemos ter um aumento de volume, só que
simétricos, onde os dois lados estão aumentados. Em literatura, diz que a palpação é indolor,
porém, pode ocorrer desconforto.
- Abcesso prostático (AP)
São extremamente grandes, difíceis de serem tratados, já que o antibiótico tem muita
dificuldade de chegar, onde podem fazer sepse e esses animais podem vir a óbito. Esses
abcessos se estiverem na superfície da próstata, ela pode se romper e esse animal desenvolver
uma peritonite, o levando ao óbito. A capsula fina, que se rompe com facilidade. O animal
obrigatoriamente tem que ser inteiro. Tem origem bacteriana tanto na uretra (como vimos
acima), com animais que apresentam cistite recorrente ou ainda, hematógena. Basta termos
qualquer processo infeccioso sistêmico, essa bactéria se atrai para esses locais. Sempre
devemos realizar a biópsia para ver se já temos a presença de células tumorais. No exame
físico, temos um aumento prostático, porém, não são simétricos, porém, uma simetria com
áreas de flutuação. O animal sente dor. O animal pode desenvolver uma sepse e vir a óbito por
conta da infecção, já que a próstata é bem irrigada.
- Neoplasia prostática (NP)
O animal pode ser tanto inteiro quanto castrado. Todos os tumores são malignos, com grande
potencial de invasão e formando metástase rapidamente. No tecido epitelial, temos os
carcinomas e adenocarcinomas, no tecido muscular liso temos o Leiomiossarcoma e nas
estruturas vasculares temos os hemangiossarcomas. Por isso que, depois de fechar diagnóstico,
temos que tratar rapidamente. É mais comum em animais castrados. Apesar de não serem
hormônio dependentes, eles tem influencia da hipófise e adrenal. Quando castramos, não
temos a inibição completa desses hormônios. O problema vai ser a invasão e fazem metástases
com facilidade, principalmente em uretra e bexiga. Tem propensão a metástase óssea, nos
ossos da coluna vertebral e pelve. No exame físico, a próstata não apresenta simetria alguma.
Se ele tiver, por exemplo, aderência ao osso pélvico, pode ser que nem consigamos fazer o
toque. O exame retal para linfonodos é complicado, porém, os linfonodos inguinais e poplíteos
respondem a região de próstata, logo, podem apresentar aumento e sendo fácil de
visualizarmos.
Hernia perineal
Como a próstata se localiza abaixo do cólon, se temos um aumento de volume, ela acaba
colaborando para que o animal faça força para defecar e, por acometer animais de meia idade
e idosos, acaba forçando a musculatura lateral do anus, que chamamos de diafragma pélvico,
que segura as vísceras é frágil, então, essa força que o animal faz para defecar acaba se
deslocando e se afastando, ocorrendo a hérnia. Quando isso acontece, obrigatoriamente temos
que castrar esses animais, senão, a próstata vai continuar aumentada. No conteúdo da hérnia
vamos ter a próstata e a bexiga. Clinicamente, o animal pode não apresentando nenhuma
alteração.
Como sinais pré disponentes temos os cães machos intactos, de qualquer raça, de meia idade.
Os sinais clínicos que encontramos em uma anamnese são muito parecidos em todos os casos
(cisto, hiperplasia, abcesso). Ela faz com que a próstata aumente de tamanho, apertando e
comprimindo. O problema temos quando existe o tumor, já que ele é invasivo e pode acometer
a uretra. Pode fazer hidronefrose pois pode fechar o ureter. Pode fazer dor ao andar, já que faz
metástase em pelves. Podemos ter tenesmo, podemos ter hematúria (urina com presença de
sangue), podemos ter sangramento uretral (sangue vivo após o animal urinar), dor
principalmente em neoplasia por conta da metástase óssea e o abcesso, ataxia e dispneia,
essas duas por conta da neoplasia, já que o animal pode ter metástase pulmonar e óssea. O
aumento da próstata faz com que ela vá cranial ao abdômen, comprime o colón e muitas vezes
o animal tem fezes em forma de fita, já que fica achatada.

Diagnóstico
A radiografia é muito mais difícil de visualizarmos. A próstata sempre vai estar caudal a bexiga,
então, quando ela aumenta, observamos a perda do contorno da bexiga (formato de pêra), já
que ela é comprimida pela próstata. Na ultrassonografia sim, já definindo e fechando o
diagnóstico. Ela nos diz se é uma hiperplasia, se é cisto, abcesso ou neoplasia. Nos exames
laboratoriais, temos mais alterações nos abcessos e nas neoplasias (síndrome paraneoplásica).
Podemos puncionar a próstata para realizar a citologia, mas temos que ter cuidado e ser guiada
por ultrassonografia, pois podemos transformar um cisto em um abcesso e o abcesso, que tem
uma cápsula fina, pode transbordar e ter líquido livre no abdômen. Podemos fazer
histopatologia, inclusive é aconselhável isso. A histopatologia pode ser feita por punção.
As biópsias guiadas por ultrassonografia, normalmente lateral ao prepúcio e manda para a
histopatologia. Podemos usar a agulha Trichuris, porém, devemos realizar uma incisão na pele,
já que ela não da corte. Tiramos o fragmento suficiente para fazermos a biopsia.

Diagnóstico diferencial
- Hiperplasia prostática
- Cisto prostático
- Abcesso prostático
- Neoplasia prostática
Ambas são diagnósticos diferenciais. O que nos chama atenção é a clínica. Por exemplo,
abcessos causam febre, neoplasias com metástase podem causar dispneia, todas vão ter
tenesmo.
Tratamento clínico
Todos os animais vão apresentar grande vontade de evacuar e temos que tratar isso até que a
próstata diminua de tamanho. Usamos nestes casos, amaciantes de fezes. Não precisamos de
diarreia e sim, fezes moles. Podemos mudar a alimentação desses animais.
- Hiperplasia prostática
Podemos fazer o uso de hormônios, porém, quando paramos, ele volta a crescer e esses
hormônios normalmente fazem aplasia medular, logo, o uso contínuo vai causar um problema
no animal. Temos ainda o cetoconazol, que inibe a produção de testosterona, mas tem que ser
usado continuamente, porém, com o tempo, pode causar lesões hepáticas.
- Cistos prostáticos
Drenar é muito discutível. A drenagem é feita com o abdômen aberto, então, acaba-se não
fazendo a drenagem pois causa muito problema.
- Abcessos prostáticos
Drenar é muito discutível. A drenagem é feita com o abdômen aberto, então, acaba-se não
fazendo a drenagem pois causa muito problema. Temos que fazer o uso de antibióticos, já que
estamos lidando com um processo infeccioso. Podemos fazer cultura e antibiograma da urina,
para tentar detectar as bactérias.
- Neoplasias prostáticas
Não existe um tratamento. Podemos tentar reduzir ou remover cirurgicamente, só que ao
remover, perdemos o temos os esfíncteres e com isso o animal fica incontinente. Podemos usar
cetoconazol, finasterida e AINE (COX2), porém, todos são adjuvantes, somente diminuindo o
crescimento, mas em tumores instalados, ele não tem função.

Rio de Janeiro, 26 de outubro de 2022

Continuação...
Tratamento cirúrgico

Celiotomia
Em todos os casos, temos que passar a sonda uretral. Isso vale para fêmeas em qualquer
procedimento que manipule a uretra.
- Cisto prostático
Realizamos a omentalização. Drenamos os cistos, lavamos e omentalizamos, ocupando o
espaço vazio, fazendo com que revascularize e cicatrize e resolvemos o problema.
- Abcesso prostático
Drenamos os abcessos, lavamos e omentalizamos, ocupando o espaço vazio, fazendo com que
revascularize e cicatrize e resolvemos o problema.

Omentalização.
Quando temos um abcesso no meio da próstata, fazemos uma incisão, abrimos caminho e
entramos com o omento, deixamos um volume de omento, fixamos um no outro e fechamos.
Podemos fazer também na superfície do abcesso, que facilita muito. Podemos ter uma próstata
grande, com a uretra passando por meio (por isso a importância de sondar) e com um abcesso
na superfície dessa próstata vai ser mais fácil de trabalharmos. A capsula do abcesso é mais
fina, permitindo de romper mais facilmente. Lavamos, limpamos, debridamos pois
dependendo da bactéria, podemos ter tecido necrosado. Depois desses processos, pegamos o
omento e o deixamos ocupando todo o espaço e ainda o fixamos. Neste caso, ficamos nas
bordas da próstata para que ele não saia mais. Ele se adere facilmente em tecidos que estão
lesionados. Temos que preencher de omento, não deixando nenhum espaço vazio. Fixamos
com fio absorvível monofilamentoso, já que é uma área que tem contaminação e com isso,
temos também o processo de inflamação, teremos problemas na cicatrização. O problema é
que isso sangra muito. Não podemos esquecer de passar a sonda uretral. As vezes, sem querer,
podemos danificar a uretra e que não vai ser visível no momento, mas com o tempo o animal
pode apresentar líquido livre no abdômen, sendo classificado como urina, justamente por
conta desse dano.
- Neoplasias prostáticas
Realizamos a prostatectomia.
Devemos realizar a biopsia em todos os casos acima, para avaliar o material. Abcessos e cistos
podem ter células tumorais.

Pós operatório
Fazemos analgésicos, AINE e antibiótico, de preferencia venoso, pois vai acontecer um
processo infeccioso. A próstata pode reduzir de tamanho, mas não voltar ao normal, já que
toda a fibrose que existe no local vai permanecer. Temos que acompanhar com
ultrassonografia de 3 a 4 meses para ver até onde ela vai chegar. Fazemos curativos diários com
ataduras e pomadas hidrossolúveis. Removemos o dreno com 1 a 3 semanas.
Complicações
Peritonite que temos que avaliar se vai ser focal ou disseminada. O correto é que tenha uma
peritonite focal, já que mexemos no local. Incontinência urinária e por isso que temos que
tomar cuidado na manipulação da uretra. A incontinência sempre vai ocorrer nas
prostatectomias. Nos cistos prostáticos e nos abcessos prostáticos isso não deve ocorrer.

Prognóstico
O prognóstico é bom.

Neoplasias testiculares
Das neoplasias do sistema reprodutor masculino, ela é a que tem uma maior incidência,
ocorrendo em 91% dos casos e ela pode acometer a próstata, já que ela mexe com hormônio,
já que quando temos tumores, temos junto as alterações hormonais. É a segunda neoplasia
que mais acomete cães machos. Temos três tipos de tumores. De células de Sertoli
(sertolinoma), Seminomas e Leydigocitomas. Todos os três são malignos. O bom é que não
formam metástase tão rápido, porém, quando temos nas células de Sertoli (sertolinoma),
podemos ter uma síndrome paraneoplásica, causando uma lesão a distancia por conta das
alterações hormonais. As metástases podem ocorrer em rim ipsilateral (no lado que ocorre o
tumor de testículo) nos linfonodos sublombares e no sistema nervoso central.
Sabemos que, em animais com criptorquidismo, abdominais ou inguinais, pode ser um fator
para o crescimento de tumor de testículo mais rápido e mais cedo e na maioria das vezes,
quando temos o criptorquidismo, o tipo de tumor mais comum são os sertolinomas, que causa
a síndrome paraneoplásica que gera uma feminilização no animal (macho tendo sinais de
fêmea).

Sinais clínicos
10% são achados, pois o testículo pode não aumentar de tamanho. O tamanho do tumor e a
localização podem causar infertilidade. Eles não são invasivos, podendo comprimir o tecido
testicular e causando lesão que faz com que o animal tenha infertilidade. O mais importante
que temos é a feminilização paraneoplásica, causando alterações hormonais. Ou temos uma
baixa de testosterona ou aumenta estrogênio e com isso os machos têm alterações de fêmeas,
como aumento de mama, prepúcio pendular, ginecomastia. Na feminilização, podemos ter um
cão com alopecia simétrica (dorso, flanco, parte interna dos membros pélvicos),
hiperqueratose e hiperpigmentação.
O problema é que se deixarmos de forma crônica, podemos ter uma hipoplasia de medula e
esses cães podem ter hemorragias e por isso a importância de avaliar as plaquetas desses
animais antes de operarmos. Em alguns casos, não conseguimos reverter a hipoplasia e a
medula não volta a funcionar.
Podemos ter neoplasias perianais e afecções prostáticas. Os tumores perianais são um sinal de
neoplasias testiculares. Eles são responsivos aos hormônios, então realizando a castração,
conseguimos diminuir o tamanho.

Diagnóstico
O diagnóstico é realizado através da histopatologia, por biopsia excisional. Podemos fazer uma
citologia por punção (PAAF), ultrassonografia que é importante no diagnóstico e que tem que
estar incluso no exame ultrassonográfico e radiografia abdominal, mas tem pouca função já
que as metástases são raras.

Sinais clínicos
Os sinais clínicos mais importantes que temos são os endócrinos. Cães machos, com sinais de
feminização já nos dão um diagnóstico que pode ser até pior, caso tenhamos uma síndrome
paraneoplásica com hipoplasia de medula. Vai ser reversível caso a castração seja realizada
rapidamente, caso contrário, o animal pode desenvolver um problema maior. Nos exames
físicos, a palpação, os testículos podem estar aumentados ou não. Laboratorialmente, só
vamos ter algum tipo de alteração, quando o animal já tem a feminização.

Tratamento
O orquiectomia deve ser bilateral. Hoje, existe uma indicação de sempre que houver tumores
de testículo, fazer a ablação de bolsa, principalmente quando o testículo está aderido a bolsa,
que é um sinal indicativo de metástase.

Prognóstico
É favorável, a partir do momento que conseguimos remover e com isso, a pancitopenia volta ao
normal. Se não for tratado rapidamente, esse animal vem a óbito.
Afecções cirúrgicas do conduto auditivo
Normalmente quem indica essas duas cirurgias que vamos falar, são os dermatologistas por ter
uma relação maior com a clínica, já que são otites que não se curam. Sempre temos que tomar
cuidado, pois é uma cirurgia extremamente radical, dolorida, com efeitos colaterais e
complicações ruins. A anatomia é muito importante neste caso. Temos que entender e explicar
isso para o proprietário. Podemos, por exemplo, lesionar o nervo facial e o cão perder o
movimento, sendo irreversível.

Anatomia
- Pavilhão auricular (orelha).
- Ouvido interno, médio e externo, mas o procedimento acontece no ouvido médio e externo.
- Canal auditivo vertical e horizontal. O ouvido do cão não é reto como o nosso, tendo um
formato em “L”.
- Cartilagem auricular, que dá o formato a orelha dos cães e anelar, que fixa a orelha ao crânio.
- Artérias e veias auriculares, que irrigam a orelha e que vem da parte de trás da orelha, através
do pescoço.
- Nervo facial e glândula parótida. Podemos ter lesão temporária nessas duas estruturas, por
conta da manipulação no transoperatório. Podemos associar a acupuntura para melhorar e
acelerar esse processo.

Otite externa
Podem ser de vários tipos.

Diagnóstico e tratamento
É muito importante e sempre usando o espéculo veterinário que é mais longo. Para
diagnóstico, usamos a tomografia. Não usamos mais a radiografia, pois não dá uma imagem
perfeita por conta da sobreposição óssea dos ossos craniais e dentes, dificultando fechar o
diagnóstico.

Afecções cirúrgicas
Otohematoma
É o acúmulo de sangue entre a pele e a cartilagem, sempre na face interna (nunca na face
externa), onde a pele dos cães é mais aderida. a vascularização vem da face externa e através
de microfissuras, temos os micro vasos que fazem a irrigação desse local. As prováveis causas
são em animais com otite e que se cocam bastante, em vários locais e isso começa a causar
pequenas fraturas na cartilagem e quando isso acontece, rompem os vasos de sangue e
acontece o hematoma. Na face externa não ocorre pois a pele é frouxa e com isso ela consegue
amortecer o impacto, diferente da face interna que é aderida e não consegue amortecer o
impacto. Todos os cães são predispostos as otites, logo, ao otohematoma. Temos a formação
do otohematoma de tamanhos variados, podendo acometer toda a orelha ou ainda os
menores. Em felinos é raro de se acontecer, mas pode ocorrer. Em cães, pode ocorrer mais
facilmente e às vezes é tão grande que pode fechar a abertura do conduto auditivo.

Tratamento
A primeira coisa que temos que fazer é tratar a otite. A drenagem com agulha pode ser
realizada, mas primeiro fazemos como diagnóstico, puncionando o local para drenar o sangue,
esvaziamos para aliviar a dor. Se puncionarmos e deixar a orelha solta, a primeira coisa que o
animal vai fazer é balançar, podendo voltar esse otohematoma, então, depois da punção,
devemos fazer uma bandagem e fixar essa orelha na cabeça, para impedir que piore o caso.
Existe uma técnica que diz que podemos drenar e colocamos a quantidade drenada em ml, de
cortisona que faz a vasoconstrição e diminui a inflamação.

Tratamento cirúrgico
É o melhor, sendo o mais rápido, resolvendo o problema de uma só vez. A função é remover o
hematoma, abrindo e limpando, removendo o coágulo e a fibrina. Ela evita a ocorrência e
mantem a aparência natural da orelha. A intenção da cirurgia é que o animal não fique com
deformação da orelha, por conta da contração da pele.
Para realizarmos a cirurgia, devemos fazer a tricotomia de toda a orelha. Sabemos que é um
otohematoma quando pegamos uma orelha quente, dura, temos um otohematoma recente.
Esse não é um bom momento para operar. Neste momento, podemos puncionar para drenar e
aliviar a dor, enfaixando e preparando o animal para a cirurgia. Quando temos uma orelha
mole, já temos a formação de um coágulo que pode se desfazer e é neste momento que
operamos o animal, já que temos menos hemorragia e menos inflamação. Temos duas técnicas
para realizar.
- Incisão em elipse
Quando fazemos a incisão, tiramos um fragmento de pele e com isso, temos uma cicatrização
por segunda intensão e vamos ter uma contração, com isso, temos uma leve enrugada da
orelha. O tamanho da elipse tem que ser proporcional ao tamanho do otohematoma, para
evitar que se feche e que atrapalhe a drenagem. Bom para otohematoma pequenos. Temos
que ancorar a pele na cartilagem, sempre tomando cuidado para não transpassar o ponto para
a face externa, já que pode causar isquemia por conta dos vasos que nutrem esse pavilhão
auricular.
- Uso de dreno
Indicado para otohematoma grandes, justamente para não removermos grande quantidade de
pele. Em orelhas muito grandes, fazemos duas incisões, realizamos toda a limpeza e passamos
o dreno, não tirando nenhum fragmento de pele e consequentemente não tendo contração de
ferida.
No curativo, temos que fazer com o animal dormindo, para evitar que o animal sacuda a orelha
e que tenha acidentes com mordidas. Colocamos a orelha para cima da orelha, com um pouco
de gaze atrás, acolchoando. Em cima da ferida, colocamos muita pomada, para não criar
aderência. Após isso, enfaixamos a cabeça e deixamos por 2 dias, para melhorar a dor do
animal. Deixamos a outra orelha livre, para tratar a outra orelha e sempre com colar
elizabetano. Nos gatos é raro, mas acontece. Podemos usar um punch para fazer a abertura.

Pós-operatório
Fazemos antibióticos, que podem ser mantidos caso o animal esteja tratando a otite.
Normalmente se usa cefalosporina. Fazemos anti-inflamatórios e analgésicos por conta do
processo inflamatório e dor, do procedimento. Não esquecer que devemos tratar a causa
primária que é a otite. Os pontos, removemos com 10 a 15 dias, conforme eles estejam
preparados para a remoção.

Técnica cirúrgica do conduto auditivo


Considerações pré-operatórias
É uma técnica muito invasiva e deve ser avaliada a real causa de se fazer, já que vamos remover
o conduto auditivo e isso é uma cirurgia mutilante. Removemos o conduto auditivo, mas
permanece a orelha. Essas cirurgias são normalmente realizadas por conta de otites não
tratadas e só removemos parte da orelha caso esse animal tenha uma neoplasia como o
carcinoma, mas não é tão comum e a orelha sai por conta da margem. Essa técnica é
extremamente dolorosa, todos os exames devem estar fechados e muitas vezes a tomografia
define o que vamos fazer. Retiramos o conduto, mas em alguns casos, podemos remover a
bulha timpânica.
A técnica se chama abração total do conduto auditivo. Outra técnica que podemos fazer para
nos auxiliar é a osteotomia e o que vai indicar isso é a tomografia.

Abração total do conduto auditivo


Retiramos o ouvido externo, conduto vertical e o conduto horizontal. Quando temos a
osteotomia associada, removemos o osso da bulha timpânica.
As indicações são para otite externa crônica e proliferativa. O epitélio do conduto auditivo é
como se fosse a continuação do epitélio. Quando o animal tem otites crônicas por conta de
problemas como hipotireoidismo, animais atópicos, o epitélio começa a ficar hiperplásico,
aumentando de tamanho. Com isso ele diminui a luz do canal vertical e horizontal, dificultando
a administração de medicações, se tornando otites crônicas e de difícil tratamento. Temos
ainda a calcificação da cartilagem por conta do processo inflamatório causado pela otite.
Neoplasias que podem estar nas diferentes porções do ouvido. A tomo é importante pois ela
nos mostra a localização dessas neoplasias. Normalmente temos otites que causam feridas,
bicheiras que são tratadas e essas feridas fecham e sempre que isso ocorre, temos um conduto
auditivo que vai fechando. Essas são as principais indicações.
O objetivo dessa cirurgia é curar, não tratando a otite, mas sim a dor desse animal que não é
curada. Existe outra técnica que abrimos somente o ducto vertical, o deixando aberto. O
objetivo é remover possíveis nódulos internos ou então facilitar o tratamento. Ela não é
curativa.

Técnica cirúrgica
Temos que entender bem a anatomia. Vamos tirar o conduto vertical e o conduto horizontal.

A cartilagem vai nos dar a referencia. Se temos uma cartilagem no conduto auditivo, que tem
um formato cilíndrico (formato de casca de sorvete). Chegamos na cartilagem e afastamos tudo
que está nela, pois temos próximo, o nervo facial, a carótida, então, quanto menos expandir,
maior a probabilidade de não causar problema. Como ela é dura, temos ela como ponto de
referencia. A primeira incisão é em cima dela e depois, vamos circundando a cartilagem. Temos
que ter cuidado pois a manipulação é ruim, a visualização é ruim. não usar lâmina de bisturi
grandes para evitar cortar o que não devemos. Eletrocautério não podemos usar já que
podemos queimar o que queremos e o que não queremos, inclusive no nervo facial. A
osteotomia acontece quando removemos todo o conduto auditivo e esbarramos no osso do
crânio. É muito importante que, se temos um epitélio completamente contaminado com
bactérias, não podemos deixar nada nesse epitélio, tendo que sair por completo. Um pouco
que seja, vai ter proliferação dessas bactérias, formando pus e posteriormente, uma fístula.
Entramos com uma sonda para lavar a bulha timpânica, então, removemos um pedaço do osso
e lavamos ou fazemos a curetagem para remoção de alguma possível massa. A osteotomia é
realizada na parte ventral da bulha timpânica, para podermos ter acesso a toda ela. Podemos
fazer a osteotomia com uma pinça hemostática, porém, isso pode estragar a pinça e não são
todos os animais que conseguimos quebrar com a pinça hemostática, mas podemos usar
outras pinças, principalmente as ortopédicas, que são feitas para isso, como a goiva. A pinça
hemostática, quando quebramos, deixa vários pedaços, já a goiva não.
Depois que tiramos todo o conduto auditivo, fica fácil visualizarmos a bulha timpânica. O osso
da bulha timpânica é irregular e percebemos isso quando passamos a ponta do bisturi no osso.
Fazemos uma incisão paralela ao conduto auditivo na pele, subcutâneo e musculatura. Na
porção vertical, temos uma porção concava que logo depois vai indo em direção ao crânio.
Fazemos uma incisão em cima dela, estendendo um pouco mais para baixo, para melhorar o
campo da cirurgia. Vamos divulsionando devagar com a pinça hemostática, até chegar na
cartilagem. Pegamos a cartilagem com a pinça e divulsionando ao redor até soltar por
completo. Na entrada do óstio, cortamos a pele e a cartilagem, mas na hora de fazer a incisão
para soltar a pele do ouvido, temos que lembrar que temos as artérias e veias auriculares,
tendo bastante cautela. Soltamos todo e removemos até a parte da bulha timpânica. Fazemos
a sutura com um dreno paralelo à incisão. Fazemos dois drenos, um de entrada e um de saída.
Como é uma cirurgia que dói muito, fazemos Bupivacaína por esse dreno a cada 6 horas, pois
proporciona uma boa analgesia. Quando o animal para de fazer a Bupivacaína, removemos o
dreno de entrada e só deixamos o dreno de saída.

Abaixo, um exemplo de obstrução desse ducto auditivo.

Calcificação da cartilagem auricular


Ressecção lateral

Existe um erro, pois fez um corte em V, quando na verdade deveria ser um corte paralelo, o
que pode ocorrer uma estenose, tendo que operar novamente esse animal.
Posicionamos o animal de lado, com uma toalha por baixo para levantar a cabeça, fazemos
uma tricotomia bem ampla, com uma incisão em cima do conduto auditivo e um “T” na base,
para fechar e tirar todo o conduto auditivo. Temos que observar se esse animal possui alguma
lesão na entrada do óstio, para definir o quanto devemos remover. Fazemos a incisão, achamos
o conduto todo, divulcionamos essa região. Fazemos com cuidado por conta dos vasos
sanguíneos. Feito, começamos a achar a cartilagem que tem uma coloração diferente. Tiramos
bem rente ao osso. Todos os tecidos que não forem removidos, devem ser aproximados para
fazermos a sutura. Não podemos apertar muito, para não pegar o nervo facial. Colocamos o
dreno. O dreno sempre tem que ser feito em um corte lateral. Aproximamos o tecido
subcutâneo e fechamos. Na parte superior da orelha, fazemos pontos subcutâneos até fazer
com que as bordas se juntem. O ideal é pegar apenas pele com pele, não transpassar a
cartilagem. Quando fazemos a sutura de pele com pele, usar sempre um fio de diâmetro
menor. A orelha pode ficar curta e todas as orelhas que ficam em pé, vão cair. O material
removido tem que ser direcionado a cultura e antibiograma, além da histopatologia.

Pós operatório
Colocamos a orelha para a cabeça, como no otohematoma. O uso de antibiótico e usamos o
material que removemos para cultura e antibiograma. AINE e analgésicos, devido ao trauma
que fazemos, a inflamação é muito grande e causa muita dor. Colar elizabetano sempre.

Complicações
Paralisia do nervo facial (síndrome de Horner), deiscência de sutura e por isso a importância de
realizarmos vários pontos de aproximação, abscedação ou fístulas que podem ocorrer em até 1
ano, dor ao abrir a boca e surdez.

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