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A experiência disto foi imediata para eles, através da corrupção da sua própria
aliança de amor um pelo outro. Aconteceu de duas formas, e ambas se
relacionam à experiência da vergonha. Na primeira, a pessoa que contempla
minha nudez não é mais confiável, portanto eu tenho medo de ficar
envergonhado diante dela. Na segunda, eu mesmo já não estou mais em paz
com Deus, sentindo-me culpado, impuro e indigno – portanto, mereço sentir
vergonha.
Eu deveria ser submisso a Deus, humildemente e de boa vontade. Mas não sou.
Esta grande separação entre o que sou e o que deveria ser manifesta-se em
tudo em mim – inclusive a forma que me sinto quanto ao meu corpo. Portanto,
minha esposa pode ser a pessoa mais confiável do mundo, mas o meu próprio
sentimento de culpa e desmerecimento me faz sentir vulnerável. A nudez
simples e transparente da inocência agora parece inconsistente com a pessoa
culpada que eu sou. Sinto-me envergonhado.
Gênesis 3:7 diz que eles tentaram lidar com esta nova situação fabricando suas
próprias roupas: “entrelaçaram folhas de figueira e fizeram para si aventais.” O
empenho de Adão e Eva em cobrirem-se foi uma tentativa pecaminosa de
esconder o que realmente acontecera. Eles tentaram se esconder de Deus
(Gênesis 3:8). A sua nudez fazia com que sentissem descobertos e vulneráveis.
Portanto, tentaram desfazer a separação entre o que eram e o que deveriam ser,
ao cobrirem o que eram, e apresentando um novo exterior.
Então, o que significa dizer que Deus os vestiu com peles de animais? Ele estava
confirmando a hipocrisia deles? Estava auxiliando e fazendo-se cúmplice da
falsidade deles? Se eles estavam nus e não tinham vergonha antes da Queda, e
tentaram fazer roupas para diminuir sua vergonha após a Queda, então o que
Deus estava fazendo, ao vesti-los de uma forma melhor do que eles mesmos
poderiam fazer? Creio que a resposta é que ele está nos dando tanto uma
mensagem negativa, como uma positiva.
Negativamente, ele está dizendo: vocês não são mais o que eram antes, nem o
que deveriam ser. O abismo que há entre o que vocês eram e o que deveriam
ser é enorme. Cobrir a si próprios é uma resposta apropriada – não
para escondê-lo, mas para confessá-lo. Daqui para frente, você irão vestir roupas,
não para esconder que vocês não são o que deveriam ser, mas justamente para
confessar que, de fato, não são o que deveriam ser.
Uma implicação prática disto é que a nudez pública, hoje, não significa um
retorno à inocência, e sim rebelião contra a realidade moral. Deus ordena o uso
das roupas para testemunhar a respeito da glória que nós perdemos, e retirá-las
é aprofundar a rebelião.
E para aqueles que se rebelam na direção oposta, fazendo das roupas um meio
de poder, prestígio e busca por atenção, a resposta de Deus não é a volta à
nudez, mas a volta à simplicidade (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:4-5). Roupas não
existem para fazer as pessoas pensarem a respeito do que está debaixo delas.
Elas devem desviar a atenção para o que não está debaixo
delas: mãosmisericordiosas que servem aos outros no nome de Cristo,
belos pés que levam o evangelho para lugares necessitados, e o esplendor de
uma face que contemplou a glória de Jesus.
Agora, estamos chegando ao significado mais positivo das roupas, que Deus
tinha em mente quando forneceu as peles de animais para Adão e Eva vestirem.
Foi não apenas um testemunho à glória que havia sido perdida, mas um
testemunho de que o próprio Deus, um dia, iria nos tornar aquilo que
deveríamos ser. Deus rejeitou as vestes que eles próprios tentaram fazer; então,
criou-as ele próprio. Ele demonstrou misericórdia com roupas superiores.
O que significa, enfim, que nossas roupas são um testemunho tanto do nosso
fracasso passado e presente, como de nossa glória futura. Elas testemunham da
separação que há entre o que somos e o que deveríamos ser. E testemunham
do misericordioso propósito de Deus de cobrir essa separação, através de Jesus
Cristo e de sua morte por nossos pecados.
John Piper