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LEITURA COMPLEMENTAR

Curso: Direito
Disciplina: Filosofia Jurídica e Ética
Período: 1º Período
Docente: Alaércio Aparecido de Oliveira
Tema: OS SOFISTAS a RETÓRICA e a DIALÉTICA

Os Sofistas
Os sofistas foram amplamente criticados desde Sócrates até meados do
século XIX. Em sua maioria, esses pensadores estiveram na cidade de Atenas,
em razão da organização política dessa cidade-estado no século V a.C., mas
não eram cidadãos. Por cobrarem para ensinar, principalmente retórica e
gramática, foram chamados por Platão de enganadores hábeis, e por Henry
Sidgwick, de charlatães.

Há indícios de que a palavra sofista teve conotação positiva nos escritos dos
grandes poetas gregos e em Heródoto, o pai da história. A crítica histórica aos
sofistas não se iniciou com Sócrates, contudo é inegável a influência dos
escritos de Platão e Aristóteles na caracterização desses pensadores.

Ressaltando:
Os sofistas foram um grupo de filósofos da Grécia Antiga que teve seus
métodos e técnicas criticados durante séculos.

Características dos sofistas

O grupo de pensadores identificado como sofistas caracterizou-se


principalmente pela ausência de uma doutrina em comum e pelo ensino
voltado a um fim instrumental. Eram vistos como habilidosos oradores pelas
pessoas, reconhecendo-se a importância das palavras e do uso da lógica. Eles
podem ser considerados instrutores itinerantes contratados para ensinar
retórica para fins políticos.

O que restou de seus pensamentos foram poucos fragmentos e menções


em outros textos. Muito do que sabemos sobre esses pensadores está
contido nos diálogos platônicos e nos escritos de Aristóteles, nos quais são
diretamente criticados. As críticas contrastam com a etimologia da palavra
“sofista”, cuja origem é sophós e significa sábio ou habilidoso, mas passa a
denotar aqueles que aparentam ser sábios, entretanto não alcançam a
verdade.

A tentativa de identificar um pensador como sofista não é uma dificuldade


historiográfica, mas sim indicar o que seria comum nesses pensadores,
conforme Platão afirma em seu diálogo O sofista. Alguns pesquisadores
concordam que esse fator seria a crença de que a virtude é ensinável, a qual
é justamente o foco da crítica de Sócrates.

Principais sofistas

Quem foi o primeiro ou principal sofista? Essa resposta não pode ser afirmada
com facilidade, já que Protágoras, considerado o primeiro sofista, teria
afirmado, conforme lemos no diálogo Protágoras, de Platão, que outros antes
dele já praticavam a sofística, mas com métodos distintos do seu. Já no
livro As vidas dos sofistas, do grego Filóstrato, escrito em meados do século III,
essa arte é identificada com a retórica.

Protágoras, da antiga cidade grega Abdera (na região da Trácia), nasceu em


490 a.C. e é considerado o primeiro sofista. É indicado como discípulo
de Demócrito e conhecido por afirmar que “o homem é a medida de todas as
coisas”. Um conhecimento além das opiniões, em outras palavras, das
aparências, não seria possível. Muitos filósofos indicam nessa afirmação a
base do pensamento relativista.

Hípias foi um sofista natural do oeste da Grécia (atual cidade da Élida) que
atribuía a si a capacidade de versar sobre assuntos variados, fruto de sua
excelente memória, como astronomia, matemática, pintura e poesia. Xenofonte
indica que Hípias teria debatido com Sócrates sobre justiça diferenciando as
leis naturais e das convencionais.

Trasímaco figura principalmente no início de A república, em que expressa a


opinião de que “a justiça seria apenas a vantagem do mais forte”. Há certeza
apenas de que nasceu na antiga cidade da Calcedônia (atual Kadıköy, na
província de Istambul), sendo poucas as informações sobre sua vida e seus
possíveis escritos.

Górgias nasceu em Leontinos, atual Lentini (localizada na província italiana de


Siracusa), e não é apresentado como um sofista por Sócrates. Essa
observação resulta de sua recusa em acreditar que a virtude é ensinável.
Grande parte de seu livro Sobre o que não é chegou até nós e apresenta um
problema: mesmo que se algo existisse, não poderíamos conhecê-lo e não se
pode comunicar o que não é conhecido. Estaria, assim, apresentando uma
crítica a Parmênides.
A crítica de Sócrates

O aspecto negativo que atribuímos aos sofistas é baseado na crítica de


Sócrates a esse grupo de pensadores. Vemos nos diálogos platônicos, por
meio de Sócrates, que os sofistas propõem apenas verdades relativas. Na
ausência de uma verdade absoluta, torna-se mais fácil praticar a erística, a
saber, a tentativa de alcançar sucesso em qualquer debate. Uma das
descrições, que alguns sofistas atribuíam a si mesmos, era a habilidade de
refutar qualquer assunto. Sua elogiável oratória favorecia a aparência de
sábios, mas o interesse pela verdade não estava presente.

O que o sofista oferecia, então, era um produto àqueles que pagavam pelo seu
serviço. A proposta socrática, por outro lado, visava transformar aqueles com
os quais dialogava, libertando-os do domínio das sombras e conduzindo-os
para um conhecimento real. Sem esse procedimento dialético, que inclui o
abandono das opiniões, qualquer discurso belo pode convencer tanto da
falsidade quanto da verdade sobre um assunto.

A importância dos sofistas para a filosofia

Embora os fragmentos que restaram sejam pouquíssimos, estudos recentes


procuram observar as contribuições próprias desses pensadores para uma
cultura que começava a questionar seus valores religiosos. A valorização do
cuidado com as palavras e a distinção entre leis naturais e leis artificiais são as
propostas mais relevantes para os períodos posteriores da filosofia. Não se
pode esquecer, também, que o estudo da retórica foi em grande parte
motivado pelo uso que esses pensadores fizeram do discurso na política
ateniense.

O que não se pode duvidar, em todo caso, é que esses pensadores foram
considerados sábios, no sentido próprio da palavra, e representaram um
momento importante na história da filosofia.

Trechos selecionados

Sobre a verdade, atribuído a Antifonte:

"A justiça consiste, então, em não transgredir as prescrições da cidade na


qual se é cidadão. Isso dito, um homem utilizaria a justiça em seu maior
proveito se, na presença de testemunhas, respeitasse as leis, mas, uma
vez só e sem testemunhas, se respeitasse as prescrições da natureza;
pois as prescrições das leis são impostas, enquanto as da natureza são
necessárias; e as da lei são o resultado de um acordo, não se produzindo
naturalmente, enquanto que as da natureza se produzem naturalmente,
não sendo o resultado de um acordo." |1|

Elogio de Helena, de Górgias:


“Existe uma mesma relação entre poder do discurso e disposição da
alma, dispositivo das drogas e natureza dos corpos: assim como tal droga
faz sair do corpo um tal humor, e que umas fazem cessar a doença,
outras a vida, assim também, dentre os discursos, alguns afligem, outros
encantam, fazem medo, inflamam os ouvintes, e alguns, por efeito de
alguma má persuasão, drogam a alma e a enfeitiçam." |1|

Notas
|1| CASSIN, Barbara. O efeito sofístico: Sofística, filosofia, retórica, literatura.
Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Maria Cristina Franco Ferraz, Paulo
Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2005.

A contribuição dos Sofistas para o Direito

O movimento sofístico aparece na Grécia no século V. Estes possuíam


características particulares, tais como: eram professores ambulantes que iam
de cidades em cidades ensinando os jovens, ensinavam por dinheiro,
conquistavam grande êxito social devido ao estilo oratório e retórico, mas
fundamentalmente pedagogo. Tinham pretensões de que sabiam tudo e tudo
ensinavam.

A polis vive um período muito conturbado neste momento, onde a ciência


envolvia quase todos os campos de investigação.

A vida econômica está mudada em face do alargamento das atividades


produtivas e do incremento das relações exteriores. A educação tradicional, à
base de música, rítmica e ginástica, tornara-se insuficiente para preparar
aqueles que desejavam intervir de maneira eficaz na arena política. A palavra
sofista deriva da mesma raiz Sofia, sabedoria.

A sofística põe o problema do ser e do não- ser, mas o propósito de si mesma


e, portanto, do homem. Ela tinha um caráter público, de modo que fosse
dirigida aos cidadãos. Os sofistas de maior importância foram Hípias, Pródico,
Eutidemo, Protágoras e Górgias.

O uso da palavra “sofista” é empregado em sentido elogioso pelos escritores


do século V. Mas a partir da guerra de Peloponeso (431-404 A.C.) o termo
adquire um sentido pejorativo e desfavorável, já que suscitaram reações
opostas dos tradicionalistas. Aristóteles qualifica-os de “traficantes de
sabedoria aparente, mas não real.” (Soph. EI, I 165 a 21). Platão realça a sua
vaidade como “caçadores interessados de gente rica, vendedores caros de
ciência não real, mas aparente.” (Mênon 91c; Sofista 231d; Crátilo 403).

O aparecimento da Sofística, no século V A.C., não se registrou por acaso,


mas em decorrência do fato histórico da democratização de Atenas que, à
época de Péricles renunciara ao regime aristocrático. As necessidades às
quais os Sofistas procuravam atender eram de todas as cidades gregas
democráticas, onde agora todo e qualquer cidadão podia participar da vida na
polis. Péricles abria frente agora para uma virtude política que não mais
dependeria da tradição, da família ou do sangue, mas sim de uma nova
pedagogia, cujo pressuposto é a igualdade e liberdade de todos os cidadãos.

Foi um período de culto às grandes personalidades e através da necessidade


de se educar o jovem cidadão nas mais diversas artes com uma formação mais
ampla, acompanhada de um domínio exato da língua e da flexibilidade e
agudeza dialética necessárias para derrotar o adversário, nada melhor que os
sofistas que sabiam falar sobre tudo para preparar tais jovens para assumir a
direção do governo da polis. Um fato que motivava os sofistas e valorizava as
suas orientações era a circunstância de que, na Ágora (reunião dos cidadãos
no centro da cidade como um debate para discutir os problemas da polis), os
cidadãos expunham oralmente, diante dos juízes, as suas próprias causas.

Embora defendessem, algumas vezes, teses absurdas, provocando reações,


não tinham o hábito de fundar seus argumentos em princípios religiosos, daí
Hans Welzel ter realçado que o aparecimento dos sofistas trouxe para o
espírito grego o advento da Ilustração. Na Filosofia a sofística representa uma
crise, na qual a ciência correu o perigo de petrificar-se, convertendo-se em
utilitarismo e em retórica vazia.

Tanto que os sofistas possuíam um certo relativismo na medida em que


fixavam-se na impermanência e pluralidade e eram subjetivistas ao ponto de
apreciarem cada coisa como lhes parecesse. Eram céticos e indiferentes
quanto a aspectos morais e religiosos. Abusavam de uma frivolidade intelectual
onde podiam confiar ilimitadamente no poder da palavra.

Os sofistas conseguiram trazer um giro copernicano na filosofia grega, que


abandonou suas investigações cosmológicas pela fase da antropologia. Pelo
fato de não terem deixado escritos, suas ideias são conhecidas pelas obras de
seus adversários, especialmente pelos diálogos platônicos. Não chegaram a
formar uma escola, pois não adotaram uma linha única de pensamento, sendo
comum uma divergência de ideias, entretanto, convergiam seu estudo num
idêntico alvo: o homem e seus problemas psicológicos, morais e sociais. Eles
ensinavam que cada homem possui seu modo próprio de ver e de conhecer as
coisas. Neste sentido o direito, para eles é algo relativo, opinião mutável,
expressão do arbítrio e da força:” justo é aquilo que favorece ao mais forte”.
Assim, Trasímaco pergunta se a justiça é um bem ou um mal, e responde:” A
justiça é na realidade um bem de outrem; é uma vantagem para quem manda,
é um dano para quem obedece”.

Em geral, os sofistas eram céticos em moral e mais negadores e destruidores


do que construtivos e afirmativos. Pode-se dizer que eles suscitaram a grande
filosofia idealistas grega, da qual nenhum outro povo orgulhou-se em pertencer.
Eles são uma consequência natural daquele momento, de forma que foram
eles pela primeira vez que fizeram as perguntas pelo fundamento da lei, pela
sua validade, pela definição do direito e da justiça.

Acreditavam que as leis variam de cidade-Estado para cidade-Estado e que


para ser cidadão de uma polis, este deveria obedecer às suas leis. Surge então
um certo relativismo, já que as leis estão em um aberto confronto com a
natureza, com a ordem natural do mundo físico.

A proposição fundamental de Protágoras foi o axioma: “O homem é a medida


de todas as coisas, dos que são pelo que são, e das que não são pelo que não
são.” Tal expressão foi considerada a magna carta do relativismo ocidental e
trouxe à tona exatamente o indivíduo singular. Deste modo, o sofista tinha o
intuito de preparar todo e qualquer aluno para os conflitos de pensamento ou
de ação da vida social, isto é, tratava-se de ensinar a criticar e a discutir,
organizando um torneio de razões contra razões. “Algum estudioso tentou
interpretar o princípio protagoriano sustentando que o homem do qual ele fala
não é o homem individual, mas a espécie homem, fazendo assim de
Protágoras um precursor de Kant; mas todas as nossas fontes antigas excluem
decididamente a possibilidade desta exegese.”

Segundo Diógenes Laércio, Protágoras afirmava que “em torno de cada coisa
existem dois raciocínios que se contrapõem entre si”, isto é, que sobre cada
coisa é possível dizer e contradizer, aduzir razões que reciprocamente se
anulam. Deste modo, o objetivo de Protágoras seria ensinar como é possível
sustentar o argumento mais frágil. O que certamente não significa que ele
ensinasse a injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão, mas
simplesmente que ele ensinava os modos com os quais era possível sustentar
e levar a vitória o argumento (qualquer que fosse o conteúdo) que, na
discussão, em determinadas circunstâncias, podia resultar o mais frágil.

dotaram um convencionalismo jurídico acentuando a contraposição entre lei e


natureza. Não acreditavam em leis imutáveis e eram convencidos de que estas
não passavam de convenções dos homens para poder viver em sociedade. A
única lei que o homem poderia ter era a “natural” de seus instintos. Como não
havia nada justo nem injusto em si, acreditavam num oportunismo político,
onde todos os meios são bons para conseguir o fim que cada qual se propõe.
Disto temos “o fim justifica os meios”. Em vez do ideal ser o homem bem
constituído e dotado, o bom guerreiro, por exemplo, passa a ser o sábio, o
homem que tem o noûs (mente, inteligência), ou seja, o homem que sabe como
proceder e como falar, o bom cidadão. Quando isto se generaliza na Grécia,
como cada homem tem noûs, o resultado é uma democracia. O principal
escopo da sofística era a arte do convencimento. Pode-se dizer que a Filosofia
do Direito nasce com os sofistas. Eles representavam a nova consciência
contestadora da ordem jurídica vigente e a grande questão que será trazida à
Filosofia do Direito será a oposição entre physis e nomos.
O que é grave é que os sofistas proclamaram a inconsistência das coisas e
abandonaram o ponto de vista do ser e da verdade, que mais tarde tratariam
Sócrates e Platão de recuperar.

A oposição entre natureza e lei não aparece nos grandes sofistas, exceto em
Hípias e Antifonte. Hípias deve ter sido muito famoso (Platão lhe dedicará dois
diálogos) e além disso condividia a concepção do fim do ensinamento
(educação política). Entre as disciplinas que o seu enciclopedismo didático
propunha, as matemáticas e as ciências naturais tinham grande relevo. Esta
oposição radical quebra toda a tradição do pensamento grego até a época dos
sofistas. Hípias defendia um conhecimento enciclopédico e costumava dizer:
“Homens aqui presentes, eu vos considero consanguíneos, parentes e
concidadãos por natureza, não por lei de fato. O semelhante é por natureza
parente do semelhante, enquanto lei, que é tirânica dos homens, amiúde de
força muitas coisas contra a natureza.” (Platão, Protágoras 337).

Neste sentido, a natureza passa a ser apresentada como o que une os homens
e a lei, ao invés, como o que os dividem. A natureza, para os helênicos, é um
cosmo que deve ser justificado, ou melhor, é uma certa ordem em si mesma,
possuindo uma harmonia que lhe é dada por um deus.[21] A partir deste
momento nasce a distinção entre o Direito natural e Direito Positivo, onde as
leis humanas serão passadas por uma dessacralização e serão tidas como
convenções ou arbítrios. A ideia que chegamos aqui é que os gregos não
estavam preocupados com a lei mas sim com o fazer justiça.

A lei natural passa a ser a verdade e a lei positiva se torna pura opinião (doxa –
crença ou opinião popular).

Deste modo, permitiria-se a transgressão de qualquer das leis dos homens se


o motivo fosse seguir e respeitar as leis da natureza. Hípias lançava as bases
de um cosmopolitismo, querendo atingir as bases de um direito universal,
ideologia que até então não tinha aparecido.

Com a distinção entre Direito Natural (lei de natureza) e um Direito Positivo (lei
posta pelos homens), nasce a ideia de que apenas o primeiro é válido e eterno,
enquanto o segundo é contingente, e no fundo, não válido. E assim são
lançadas as premissas que levarão a uma total dessacralização das leis
humanas, que serão consideradas fruto de pura convenção e de arbítrio, e,
portanto, frutos indignos do respeito do qual sempre estiveram circundadas.

Hípias tira desta distinção mais consequência positivas do que negativas, posto
que a natureza dos homens é igual, não tendo sentido as distinções que
dividem os cidadãos de uma cidade dos de outra, nem as distinções que no
interior das cidades possam ulteriormente dividir os cidadãos: nascia assim um
ideal cosmopolita e igualitário, que para a grecidade (grego) era não só
novíssimo, mas revolucionário.
Muito mais radical, Antifonte, defendia com uma maior veemência as
concepções igualitárias e cosmopolitas propostas por Hípias. Esse entende por
natureza a natureza sensível, isto é, a natureza pela qual o bem é o útil e o
prazer, o mal é o prejudicial e o doloroso, sendo a natureza espontânea e
tendo uma liberdade instintiva. Motivo este que a lei era vista como não natural
na medida em que passava a constringir, refreiar (conter), por obstáculos ou
dores à espontaneidade.

Antifonte chegou a radicalizar o dissídio entre natureza e lei ao limite da


ruptura, afirmando, em termos eleáticos (A escola eleática tem o seu nome
derivado da cidade de Eleia, ao sul da Itália), que a natureza é a “verdade”
enquanto a lei positiva é pura “opinião” e, portanto, que uma está quase
sempre em antítese com a outra e, por consequência, deve-se transgredir a lei
dos homens, quando se puder fazê-lo impunemente, para seguir a lei da
natureza. As concepções igualitárias e cosmopolitas do homem propostas por
Antifonte também são mais radicais.

O iluminismo sofístico dissolveu aqui não só os velhos preconceitos de casta


da aristocracia e o tradicional fechamento da polis, mas também o mais radical
preconceito, comum a todos os gregos, quanto à própria superioridade sobre
os outros povos de modo que qualquer cidade é igual à outra, qualquer classe
social é igual à outra e qualquer povo é igual a outro, pois todo homem é por
natureza igual ao outro. Deste modo, o homem passa a ser igual
independentemente de qualquer circunstância: os homens são, assim, iguais
por natureza, quer sejam gregos ou bárbaros.

Tal igualdade defendida pelos sofistas seria uma ruptura da ordem da polis,
onde tanto ricos como pobres a ela se submeteriam. Tudo isto é consequência
direta da distorção por eles operada no conceito da natureza. Alguns dos
méritos dos sofistas foram que na Política ampliaram o conceito de lei, muito
estreito e particularista até então. Elaboraram o conceito de justiça, além de por
a diversidade e o relativismo das leis civis, próprias de cada cidade,
sublinhando a contraposição entre natureza, lei e pacto, nas quais baseiam-se
respectivamente, o direito natural, o legal e o convencional. Seu conceito de
natureza comum a todos os homens serviu para dar à lei um caráter mais
universalista. Na Educação introduziram um ideal pedagógico mais amplo e
completo que o tradicional. Na retórica formaram um sistema cultural
enciclopédico, preparando os jovens para intervir com êxito nos debates
políticos e no governo do Estado. Na gramática trouxeram a importância
concedida à palavra que contribuiu para a fina e aperfeiçoar o uso da língua e
da oratória e na filosofia romperam com o exclusivo interesse dos filósofos
acerca dos problemas da Natureza, refletindo, em vez, sobre os problemas
humanos e finalmente aperfeiçoaram a dialética. Apesar de toda contribuição
positiva, esta não foi demasiada importante comparada com o avanço
gigantesco que poucos anos mais tarde iria dar a Filosofia por obra dos três
grandes gênios: Sócrates, Platão e Aristóteles.
LEITURA COMPLEMENTAR
Curso: Direito
Disciplina: Filosofia Jurídica e Ética
Período: 1º Período
Docente: Alaércio Aparecido de Oliveira
Tema: OS SOFISTAS a RETÓRICA e a DIALÉTICA

O que é Retórica?
Retórica é uma palavra com origem no termo grego rhetorike, que significa
a arte de falar bem, de se comunicar de forma clara e conseguir transmitir
ideias com convicção.

A retórica é uma área relacionada com a oratória e dialética, e remete para um


grupo de normas que fazem com que um orador comunique com eloquência.

Tem como objetivo expressar ideias de forma mais eficaz e bonita, sendo
também responsável pelo aumento da capacidade de persuasão.

A retórica corresponde à formulação de um pensamento através da fala e por


isso depende em grande parte da capacidade mental do orador.

A retórica pode ser praticada e por isso era ensinada em várias escolas da
Antiguidade, que abordavam a retórica e os seus diferentes estilos, que se
alteram dependendo do tipo de discurso em questão.

Durante bastante tempo, a retórica foi uma das bases da educação de jovens,
e durante a Idade Média, era ensinada nas universidades, fazendo parte
das três artes liberais, juntamente com a lógica e gramática.

A retórica teve também uma forte influência em áreas como a poesia e política.

De acordo com a retórica, o discurso pode ser dividido em cinco partes


cruciais:

ü invenção: o conjunto de todos os princípios relacionados com o


conteúdo;
ü disposição: que corresponde à estruturação das formas de conteúdo;
ü elocução: expressão do conteúdo de acordo com o estilo apropriado;
ü fixação: consiste na memorização do discurso em questão;
ü ação: o ato de proferir o discurso.

Na Grécia Antiga, a linguagem corporal do orador também era muito


importante, mais concretamente a postura, os gestos e a própria voz do orador.

Na Grécia Clássica, Protágoras e Tísias contribuíram para o progresso da


retórica, sendo que para isso se basearam na conhecida obra de Aristóteles,
intitulada Retórica.

Na Idade Média, a retórica não era contemplada na sua vertente prática, sendo
usada quase exclusivamente para o estudo de textos.

Durante o Renascimento e Barroco, a retórica teve grande preponderância no


discurso literário e era um elemento essencial no estudo das humanidades
(Filosofia, Gramática, etc.).

Considerado por muitos como o maior orador de sempre da Grécia,


Demóstenes é uma figura importante relacionada com a retórica.

Como prova que a retórica é uma prática e por isso pode ser aperfeiçoada,
Demóstenes teve que ultrapassar a sua gagueira.

Para isso, a história conta que uma das suas atividades era fazer discursos
com pedras na boca.

Em alguns casos, a palavra retórica pode ser usada com um sentido


pejorativo, podendo ser usada para descrever uma discussão inútil,
ou presunção por parte de uma determinada pessoa.

Pergunta retórica

Uma pergunta retórica é uma pergunta que nem sempre exige uma resposta.

Muitas vezes, a pessoa que faz a pergunta retórica, pretende


simplesmente enfatizar alguma ideia ou ponto de vista.

Por exemplo: "Você acha que eu nasci ontem?"

Neste caso, a pessoa que ouve a pergunta já sabe a resposta, no entanto, a


pergunta é feita apenas para causar um impacto. No exemplo anterior, a
pessoa que pergunta pretende informar o ouvinte que ela não é burra ou
ingênua, e que não pode ser enganada facilmente.
LEITURA COMPLEMENTAR
Curso: Direito
Disciplina: Filosofia Jurídica e Ética
Período: 1º Período
Docente: Alaércio Aparecido de Oliveira
Tema: OS SOFISTAS a RETÓRICA e a DIALÉTICA

O que é Dialética:

Dialética é uma palavra com origem no termo em grego dialektiké e significa a


arte do diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar.

Dialética é um debate onde há ideias diferente, onde um posicionamento é


defendido e contradito logo depois. Para os gregos, dialética era separar fatos,
dividir as ideias para poder debatê-las com mais clareza.

A dialética também é uma maneira de filosofar, e seu conceito foi debatido ao


longo de décadas por diversos filósofos, como Sócrates, Platão, Aristóteles,
Hegel, Marx, e outros. Dialética é o poder de argumentação, mas também pode
ser utilizado em um sentido pejorativo, como um uso exagerado de sutilezas.

Consiste em uma forma de filosofar que pretende chegar à verdade através da


contraposição e reconciliação de contradições. A dialética propõe um método
de pensamento que é baseado nas contradições entre a unidade e
multiplicidade, o singular e o universal e o movimento da imobilidade.

Dialética de Platão
Para Platão, a dialética é o movimento do espírito, é sinônimo de filosofia, é um
método eficaz para aproximar as ideias individuais às ideias universais. Platão
disse que dialética é a arte e técnica de questionar e responder algo.

Dialética Hegeliana (Hegel)


Segundo o filósofo alemão Hegel, a dialética é a lei que determina e estabelece
a auto-manifestação da ideia absoluta. Para Hegel, a dialética é responsável
pelo movimento em que uma ideia sai de si própria (tese) para ser uma outra
coisa (antítese) e depois regressa à sua identidade, se tornando mais concreta.

Apesar disso, Hegel também afirma que a dialética não é apenas um método,
mas consiste no sistema filosófico em si, porque não é possível separar o
método do objeto, porque o método é o objeto em movimento.
A dialética hegeliana é muito importante na filosofia existencial e outras áreas
como a teologia evangélica.

Dialética Marxista

Para a teoria marxista, dialética compreende a teoria do conhecimento, através


dos filósofos Hegel, Marx e Engels. Para o marxismo, dialética é o pensamento
e a realidade ao mesmo tempo, ou seja, a realidade é contraditória com o
pensamento dialético.

Para a dialética marxista, o mundo só pode ser compreendido em um todo,


refletindo uma ideia a outra contrária até o conhecimento da verdade. Marx e
Engels mudaram o conceito de Hegel, e introduziram um novo conceito, a
dialética materialista, que dizia que os movimentos históricos ocorrem de
acordo com as condições materiais da vida.

Dialética de Sócrates
Sócrates dividiu a dialética em a ironia e a maiêutica. Sócrates dizia que seu
método dialético era semelhante a parir crianças, que dialética era “parir”
ideias, penetrar em novos conhecimentos.

Quem foi Sócrates?


Sócrates foi um filósofo grego nascido entre 470 e 469 a.C. em Atenas. Tudo o
que se sabe sobre esse filósofo foi escrito por seus discípulos, especialmente
Platão. Ele mesmo, não deixou registros escritos sobre suas ideias.

Modelo de integridade e ética na sociedade ateniense, Sócrates acreditava que


os homens deveriam dedicar seu tempo mais a buscar o que não se sabe do
que em transmitir os conhecimentos que acreditavam saber, isto é, eles
deveriam estar em constante investigação.

Segundo o filósofo, a sabedoria só seria possível com o reconhecimento da


própria ignorância, é o que retrata sua famosa frase: “só sei que nada sei”.

O que é Maiêutica:
Maiêutica ou Método Socrático consiste numa prática filosófica desenvolvida
por Sócrates onde, através de perguntas sobre determinado assunto,
o interlocutor é levado a descobrir a verdade sobre algo.
Para este filósofo grego, todo o conhecimento é latente na mente humana,
podendo ser estimulado por meio de respostas a perguntas feitas de modo
perspicaz.

A arte de "parir" o conhecimento

A maiêutica é associada com a técnica de "parir o conhecimento", visto que


este está presente em todo o ser humano. O conhecimento deve apenas ser
aflorado aos poucos com a ajuda de alguns estímulos de orientação.

Uma das frases mais icônicas deste filósofo simplifica a ideia do que seria a
maiêutica de Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Ora, de acordo com a
dialética socrática, a verdade está dentro do Homem, cabendo a ele refletir e
atingir as chamadas "verdades universais".

Etimologicamente, maiêutica se originou a partir do termo grego maieutike, que


significa "arte de partejar". Sócrates usou essa expressão em associação ao
trabalho das parteiras - profissão de sua mãe - visto que para o filósofo, o seu
método proporcionava o "parto intelectual" dos indivíduos.

A maiêutica é apresentada por Sócrates no diálogo com o jovem Teeteto, que


foi escrito por Platão. Sócrates não deixou nada escrito e a maior parte do que
se conhece sobre a filosofia socrática foi escrita por seu discípulo Platão.

Método Dialético Socrático

O método dialético foi criado por Sócrates durante o século IV a.C. e visava
a elucidação do verdadeiro conhecimento sobre determinado assunto, a
partir da reflexão sobre as respostas obtidas de perguntas aparentemente
simples e ingênuas.

Também chamado de diálogo socrático, esse método era utilizado por Sócrates
para que seu interlocutor atingisse o conhecimento. Para ele, existia uma
verdade, que estava dentro de cada um. É o que revela sua frase: “Só se
pode alcançar a verdade se dela a alma estiver grávida”.

A primeira fase desse método, momento em que são feitas as perguntas, é


chamada ironia. A maiêutica seria a parte final desse método, quando o
conhecimento “nasce” a partir das conclusões tiradas pelo próprio interlocutor.

Ironia e Maiêutica

O método socrático é composto pela ironia e pela maiêutica. Ironia, nesse


caso, tem um significado diferente do que conhecemos no português, tem
origem na palavra eirein do grego, que significa perguntar. A ironia no método,
portanto, é o momento em que o interlocutor era interrogado.

Na prática, Sócrates questionava seu interlocutor sobre alguma ideia ou


conceito, por exemplo: “o que é justiça?”. A medida que seu interlocutor lhe
respondia, ele fazia outras perguntas que o faziam cair em contradições.

Dessa forma, o interlocutor era levado a duvidar sobre o assunto que julgava
conhecer, até o momento em que admitia ignorância em relação ao tema. O
objetivo de Sócrates não era constranger, mas sim, purificar o conhecimento,
desfazendo ilusões, preconceitos ou conhecimentos baseados em opiniões,
sem fundamento racional.

A maiêutica é o final do processo, quando o interlocutor, após questionar suas


ideias e concepções, reconstrói seu entendimento com ideias mais complexas.
Isto é, quando ele dá à luz ao novo conhecimento.

Esse é um processo que ajuda o interlocutor a despojar-se de tudo o que


acredita saber, pois somente a partir do reconhecimento de sua própria
ignorância, ele poderá encontrar as respostas.

Dialética de Aristóteles

Para Aristóteles, dialética era um processo racional, a probabilidade lógica das


coisas, algo que é aceitável por todos, ou pelo menos pela maioria. Kant
continuou com a teoria de Aristóteles, dizendo que dialética é, na verdade, uma
lógica de aparências, uma ilusão, pois baseia-se em princípios muito
subjetivos.

Dialética Erística
A dialética erística é um sistema filosófico do filósofo alemão Arthur
Schopenhauer que difere da dialética de Marx e Hegel.

Esta expressão também descreve uma obra não concluída por Schopenhauer,
mas que foi publicada em 1831 por um amigo do filósofo. Nesta obra, que ficou
conhecida como "A Arte de Ter Razão" ou "Como Vencer um Debate Sem Ter
Razão", são abordadas 38 estratégias para ganhar uma discussão,
independentemente de ter razão ou não.

REFERÊNCIAS:

NADER, Paulo. Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Editora Forense.2002 6ª


ed. p.. 104
WELZEL, Hans. Introducción a la Filosofia del Derecho, 2ª ed. espanhola,
Aguilar, Madrid, 1971, p. 6
VECCHIO, Giorgio Del. Lições de Filosofia do Direito. Coleção Studium, 5ª ed.,
34-35
BORGES, Arnaldo. Origens da Filosofia do Direito. Sergio Antonio Fabris
Editor. p. 38-39
GIOVANNI, Reale. História da Filosofia Grega antiga: tradução Marcelo Perine.
São Paulo: Loyola, 1993, p. 200
ROBIN, Storia del pensiero greco, p. 179.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Tradução de Marcelo Perine.
São Paulo: Loyola, 1993, p. 200-201.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Tradução Marcelo Perine. São
Paulo: Loyola, 1993, p. 202.
BORGES, Arnaldo. Origens da Filosofia do Direito: Sergio Antonio Fabris
Editor,
p. 38-39.
O Hípias maior (sobre o belo) e o Hípias menor (sobre a mentira, uma
demonstração por absurdo da tese socrática de que ninguém peca
voluntariamente).
BORGES, Arnaldo. Origens da Filosofia do Direito: Sergio Antonio Fabris
Editor,
p. 28.
REALE, Giovanni. História da Filosofia. Tradução Marcelo Perine. São Paulo:
Loyola, 1993, p. 230.

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