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ALUNA: Georgia Leite Magalhães

MATRÍCULA: 180041959

Arte concreta e abstracionismo: Traçando paralelos

Existe abstração no concretismo? Um bom caminho para encontrar a resposta


é saber de onde veio a arte abstrata e como ela se constrói.

No texto “ Realidade natural e realidade abstrata” Piet Mondrian discorre a


respeito do nascimento da arte abstrata na modernidade. Segundo o autor, o homem
moderno fixa cada vez mais sua atenção vital em questões internas. Coisas naturais
(externas) vão se tornando, aos poucos, mais automáticas. Segundo Mondrian, o homem
moderno não focaliza nem no material pelo material e nem é puramente emocional.
Consequentemente, todas as expressões da vida moderna tomam este aspecto.

Com a arte não seria diferente. É muito comum que, em obras abstratas, sejam
representados sentimentos por meio de formas. Os artistas buscavam expressar
abstrações como a emoção de beleza que é algo cósmico e universal, em materiais
concretos, se utilizando de linhas e cores. A arte passou a ser não mais meramente
representativa, para se tornar algo que evoca e ilustra abstrações humanas e universais.
O autor do texto, por exemplo, buscava refletir as leis matemáticas através de suas obras.
A arte abstrata não é sua forma em si, muito pelo contrário, ela não tem compromisso
nenhum em representar a realidade.

Mas por que escolhi me perguntar se existia abstração no concretismo? Para


desenvolver minha argumentação me utilizarei da comparação entre obras dos artistas
Waldemar Cordeiro e Piet Mondrian, respectivamente dos movimentos concretista e
neoplástico.

As obras concretistas, à visão de um olho não treinado, podem parecer obras


abstratas. O geometrismo é a principal característica visual do movimento concreto.
Obras como as composições Estrutura Plástica e Movimento de Waldemar Cordeiro,
podem se assemelhar estilisticamente a obras de Mondrian, que também se utiliza de
geometrismo em suas composições. Como por exemplo em New York City I e
Composição II em vermelho azul e amarelo. A utilização de formas geométricas no
concretismo dá a impressão de que o movimento, assim como o abstracionismo, não tem
compromisso em representar a realidade. A frequente utilização de cores primárias no
trabalho de Waldemar Cordeiro também é um fator de aproximação visual em obras de
Mondrian.

Movimento Estrutura Plástica

New York City I Composição II em vermelho, amarelo e azul

Se as obras se assemelham tanto visualmente, por que existe uma grande


diferença entre obras concretistas e obras abstratas? A resposta é simples. O nome
“concretismo” se dá pela ausência do conceito das obras, representando não coisas
abstratas mas concretas.
No movimento, nenhuma obra carrega nada além do que se mostra. Um cubo
somente pode representar um cubo e um círculo, pode representar apenas um círculo. No
caso da arte abstrata, as obras podem expressar sentimentos e outras subjetividades.
A arte abstrata, como visto no texto “Realidade natural e realidade abstrata”
carrega a interioridade do homem moderno. Por mais que o concretismo tenha surgido
com fins políticos em um contexto de guerra fria, onde seus artistas buscavam ir contra o
nacionalismo prejudicial vigente e por mais que traga uma subjetividade em si (no próprio
movimento), suas obras não têm esse mesmo efeito. Elas são o que são. Não há nada
mais concreto do que linhas e formas geométricas uma vez que elas não carreguem
nenhum significado além de sua própria forma em si.
Por fim, há diferenças específicas também entre o concretismo e o
neoplasticismo, que é a vertente do movimento o qual Mondrian pertencia.
Por exemplo, a transversalidade dos elementos em relação ao eixo em que a
obra se posiciona era presente em algumas pinturas de Waldemar Cordeiro. Como em
sua composição Contradição Espacial. Isso afasta o concretismo do neoplasticismo, uma
vez que o movimento se utilizava apenas de elementos que seguiam eixos horizontais e
verticais. A utilização de cores não primárias em pinturas construtivistas, também é um
fator de afastamento da arte neoplástica, que apenas utiliza cores primárias.

Contradição espacial

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