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TÉCNICA DE REDAÇÃO

Olá!

Como sei que vocês irão precisar escrever muito num futuro próximo (futuros
diretores e proprietários de empresas), já foram dados exercícios para evitar
tais problemas. A seguir, eis algumas “dicas” técnicas para construir um texto,
oriundas do livro Técnica de Redação, de Magda Soares e Edson Campos,
conforme referência no final desta aula.

1. Antes de iniciar o texto, faça um planejamento.


Soares e Campos (1977, p. 68) sugerem que se deve ter em mente, antes
da escrita do texto, o seguinte:
Qual é o assunto? (Tema)
Qual é a delimitação do assunto?
Qual é o objetivo? O que se pretende fazer? (Tese)

E fornecem (idem) o seguinte exemplo (para se ter a ideia de como se deve


elaborar o planejamento):

Assunto: o riso.
Delimitação do assunto: situações que provocam riso.
Objetivo: mostrar que o riso é provocado pela tristeza.

(A palavra riso está presente no assunto, na delimitação do assunto e no


objetivo.)

Após a organização desses três pontos importantes do ato de planejar, elabore


a frase-núcleo ou tópico frasal (a frase introdutória).

Observe:

1
Se o meu assunto é o riso, delimitei-o para abordar as situações que causam
riso e o meu objetivo é o de “mostrar que o riso é provocado pela tristeza”; a
frase-núcleo a ser elaborada para introduzir o texto deverá ser uma tradução
do objetivo.

– Tradução do objetivo?

Você vai se perguntar, certamente. Isso mesmo: traduza o objetivo.

O objetivo é o de “mostrar que o riso é provocado pela tristeza”.


Então, na sua frase-núcleo, você deverá deixar isso claro para o seu leitor.
A seguir, há duas possibilidades fornecidas por Soares e Campos (1977, p.
68). Possivelmente, você poderá criar outra(s); entretanto, você deverá estar
atento(a) ao seu objetivo.

Frase-núcleo 1:
Todo mundo ri das desgraças dos outros. Como diz a velha marchinha de
carnaval, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Frase-núcleo 2:
O riso é, quase sempre, provocado pelo ridículo. Pela situação incômoda,
pelo grotesco, pela tristeza.

Observe que as duas frases introdutórias (chamadas frase-núcleo ou tópico


frasal) contêm os elementos elaborados no objetivo.
Percebeu agora a importância de planejar o texto? Assim, você não se perde
do seu assunto. Isso proporciona mais “foco” (como se diz por aí).

Lembre-se de que, para a produção textual, 99% é fruto de transpiração;


1%, de inspiração.

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A seguir, você deve elaborar argumentos que provem a sua TESE (o riso é
provocado pela tristeza).

Leia o trecho a seguir.


Tipos de violência

Nem sempre é fácil identificar a violência. Por exemplo, uma cirurgia


não constitui violência, primeiro porque visa ao bem do paciente, depois
porque é feita com o consentimento do doente. Mas certamente será
violência se a operação for realizada sem necessidade ou se o paciente for
usado como cobaia de experimento científico sem a devida autorização.
Mas, se o motorista causador de um acidente alegar que não foi
violento por não ter causado prejuízo voluntariamente, é preciso verificar se
não houve descuido ou omissão da parte dele. Afinal, a violência passiva
ocorre toda vez que deixamos de fazer determinadas ações cujo
cumprimento seria necessário para salvar vidas ou evitar sofrimentos. É
nesse sentido que podemos lastimar os altos índices de acidentes de
trabalho apontados no Brasil pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT).
Outras vezes, estamos diante da violência indireta. Por exemplo, se
sabemos que o clorofluorcarbono (CFC) destrói a camada de ozônio da
Terra e com isso provoca câncer de pele, usar um desodorante spray
contendo CFC significa agressão não só aos contemporâneos, como
também às gerações futuras.
Há situações em que não existe violência física, mas outro tipo de
violência, de natureza psicológica. Por exemplo, não existe violência
quando tentamos superar as contradições e conflitos convencendo, por
meio da persuasão, os que pensam de maneira diferente da nossa. No
entanto, existe violência quando, mesmo sem usar o chicote ou a
palmatória, o pai ou o professor exigem o comportamento desejado,
doutrinando as crianças, impondo valores e dobrando-as para a obediência
cega e aceitação passiva da autoridade. Nesse caso, embora não haja
violência física, existe violência simbólica, já que a força que se exerce é de
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natureza psicológica e atua sobre a consciência, exigindo a adesão
irrefletida, que só aparentemente é voluntária.
Ocorre violência simbólica também nos casos em que um candidato a
cargo público distorce informações para conseguir votos, quando a
imprensa manipula a opinião pública ou ainda quando o governo usa
propaganda e slogans para ocultar seus desmandos. Enfim, constitui
violência simbólica toda manipulação ideológica que obriga a adesão sem
crítica das consciências e das vontades. O manipulador dirige, molda as
formas de pensar e agir de maneira que o manipulado acredita estar
pensando e agindo por livre vontade. Portanto, a violência existe, mas não
se apresenta como tal.
Nem sempre a violência “salta à vista”, não sendo claramente
percebida. Às vezes, não é possível se conhecer o agente causador, outras
vezes a ação não é prevista nem nos códigos penais, e, portanto, a
tendência é não reconhecê-la como violência propriamente dita. Por
exemplo, a existência da pobreza parece ser conseqüência inevitável de
uma certa ordem natural que comanda as relações entre os homens.
Haveria, então, pessoas pobres ou países subdesenvolvidos devido à
incompetência, ao descuido ou à fatalidade: “afinal, sempre foi assim...”, é o
que se costuma dizer. Porém, na raiz desses problemas encontramos a
violência da desigualdade social decorrente da injusta repartição das tarefas
e dos privilégios que levam ao irregular aproveitamento dos bens
produzidos pela comunidade. Nesse sentido, é violência a fome crônica em
amplas regiões do mundo como resultado do planejamento econômico que
visa, em primeiro lugar, ao interesse dos negócios. É também violência a
criança permanecer fora da escola, privando-a de educação e do saber
acumulado pela sociedade em que vive, porque precisa trabalhar, ou por
outros motivos decorrentes dos desfavorecimentos da classe a que
pertence.
Chamamos de violência branca a esse tipo de privação, devido ao
fato de não ser sangrenta (vermelha). Mas nem por isso pode ser
considerada menos cruel.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de
Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
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Sugestão:
Primeiramente, leia todo o texto.
Responda:
1. Sobre qual assunto as autoras construíram o texto?
2. Como esse assunto foi delimitado?
3. Qual é o objetivo das autoras ao escrever sobre esse assunto?
Nesse momento, após responder às perguntas, você está começando a
refletir sobre o assunto e iniciando um diálogo com as autoras.
Observe que o assunto é violência.
Tal assunto foi delimitado assim: os tipos de violência.
O objetivo das autoras foi o de identificar, exemplificando, os tipos de
violência.

Mais um exemplo fornecido por Soares e Campos (1977, p. 67):


Assunto: “Publicidade”
Delimitação do assunto: aspectos negativos da publicidade.
Objetivo: apontar a publicidade como agente de poluição do meio ambiente.

E a frase-núcleo? Tente elaborá-la!

...............................................................................................................................
...............................................................................................................................
...............................................................................................................................
...............................................................................................................................
........................................................

Lembre-se de que a frase-núcleo deve “traduzir” o objetivo (deve conter todas


as palavras que estão no objetivo).

Possíveis respostas:
FN1 - Os cartazes nos muros, os out-doors, os insistentes anúncios no rádio,
os longos intervalos de comerciais na televisão, toda essa publicidade constitui
poluição visual e sonora do nosso meio ambiente.
FN2 – Será que a publicidade que vemos nas paredes, lemos nos jornais,
ouvimos no rádio, na televisão, quer queiramos ou não, constitui uma das
formas de poluição de nosso meio ambiente?

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Criada a frase-núcleo, você iniciará o desenvolvimento, isto é, você irá buscar
argumentos que provem a sua TESE (o seu objetivo).

Nesse estádio1, você pode perguntar:


– Deve-se planejar o desenvolvimento também?

Certamente!
Eis as etapas que Soares e Campos (1977, p. 75) sugerem para a elaboração
de um belo texto:
I. assunto;
II. delimitação do assunto;
III. determinação do objetivo;
IV. redação da frase-núcleo;
V. seleção dos aspectos que desenvolverão a frase-núcleo;
VI. ordenação dos aspectos selecionados;
VII. redação do desenvolvimento;
VIII. formulação da conclusão (neste ponto, você deverá retomar a frase-
núcleo – com a tradução clara do objetivo –, aspectos do
desenvolvimento e finalizar).

O DESENVOLVIMENTO

Há formas de ordenação no desenvolvimento do parágrafo.

1. Ordenação por tempo e espaço


Soares e Campos (1977, p. 88) afirmam que:

Frequentemente, quando falamos ou escrevemos,


temos a necessidade de indicar em que lugar estão
ou estavam as pessoas a que nos referimos, onde
ocorreram ou ocorrem os fatos que narramos. A
nossa conversa ou a nossa redação contém, então,
uma série de referências a espaço: organizamos o
conteúdo de nossas mensagens, ordenando-as por
indicações de espaço. (...) Entretanto, nem sempre,
ao escrever e ao falar organizamos as ideias
exclusivamente por indicações de espaço. Torna-se
necessário, frequentemente, fazer referências ao
espaço e ao tempo, simultaneamente.

Esses renomados autores (1idem, p. 103) fornecem o seguinte exemplo:


Assunto: a conquista do espaço
Delimitação do assunto: a competição entre E.U.A. e Rússia pela conquista do
espaço.

1
Nota: verifique a diferença entre estágio e estádio na internet.

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Objetivo: mostrar a competição pela conquista do espaço nas últimas décadas
do século XX.
Forma de ordenação: por tempo e espaço

Frase-núcleo:

Nas últimas décadas do século XX, houve uma acirrada competição pela
conquista do espaço entre os E.U.A. e a Rússia.

Planejamento do desenvolvimento (após pesquisa):


Fato Tempo Espaço

Um satélite espacial foi Em 4 de outubro de Na antiga União


lançado ao espaço – o 1957 Soviética, hoje Rússia.
Sputinik

Foi conseguida a Nos Estados Unidos


supremacia espacial, Dez anos mais tarde
com a série de naves
Apolo.

Nos Estados unidos


O primeiro homem foi Em 20 de julho de 1969
lançado à Lua.

Nos E.U.A e na Rússia


O domínio do espaço No final do século XX,

Fazendo o planejamento, fica mais fácil, certo?

2. Ordenação por enumeração

Essa é a mais fácil. É indicada sempre que a delimitação do assunto e o


objetivo do parágrafo conduzem à indicação de uma série de características,
de fatos, de funções de fatores, etc.
Leia o texto a seguir, retirado da obra de Soares e Campos (1977, p. 111):

Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de


comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz
respeito à difusão de notícias, relatos, comentários, etc. sobre a realidade,
acompanhada – ou não – de interpretações ou explicações. A segunda função
atende à procura de distração, de evasão, de divertimento, por parte do
público. Uma terceira função é a de persuadir o indivíduo – convencê-lo a
adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se comportar de acordo
com os desejos de um anunciante. A quarta função – ensinar – é realizada de
modo indireto ou direto, intencional ou não, por meio de material que contribui
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para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos,
planos, destrezas, etc.
(Samuel Pfromm Neto)

Responda:
1. Qual é o assunto deste parágrafo?
...............................................................................
2. E a delimitação do assunto?
.................................................................................
3. O Objetivo?
.................................................................................
4) Qual é a frase-núcleo?
..................................................................................

Respostas:
1) meios de comunicação de massa; 2) funções básicas dos meios de
comunicação de massa; 3) apresentar as funções básicas dos meios de
comunicação de massa.
4)\ Frase-núcleo:
“Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de
comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar.
Formas de ordenação: enumeração (Quatro funções básicas....)

3. Ordenação por contraste


Soares e Campos (1977, p. 133) apresentam o seguinte exemplo para clarifi car
o assunto:
A visão do sertão não está, como a do litoral, fechada pela floresta, pelos
canaviais; ela se estende até o infinito. O homem que vive na costa é
prisioneiro do lodo que lhe dá cola ao pé, das ervas que retardam sua marcha,
das árvores que o sufocam, dos velhos engenhos em ruínas cheios de
fantasmas, dos bosques sagrados cheios de encantamento. O homem da
caatinga nada tem diante de si, a não ser um céu imenso implacavelmente
azul estendendo-se sobre seu chapéu de couro, e em que raras nuvens se
esgarçam devoradas pelo sol insaciável. A seus pés, a grande extensão de
areia, de espinhos, através da qual erra o gado em rebanhos. Tudo o incita à
partida, à marcha, ao galope a cavalo, impelido pelo vento, em luta contra o
espaço.
(Roger Bastide, Brasil - terra de contrastes)

Esses autores (idem, p. 133) propõem o seguinte exercício:


a) Indique o trecho que representa a introdução do parágrafo e assinale as
palavras ou expressões que nela mostram que o parágrafo se
desenvolverá por contraste.
b) Quais são os dois elementos contrastados no parágrafo?
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c) Qual é o ponto de diferença entre os dois elementos apresentados no
parágrafo?

RESPOSTAS:
a) A visão do sertão não está, como a do litoral, fechada pela floresta, pelos
canaviais, ela se estende até o infinito. b) o homem o litoral (costa), o homem
do sertão (caatinga).
c) características ambientais condicionadas dos tipos humanos.

4. Ordenação por explicitação

Outra forma de ordenação das ideias para desenvolver o parágrafo é a


explicitação.
Segundo Soares e Campos (1977, p. 157), “é frequente termos de
redigir um parágrafo com o objetivo de explicitar uma ideia, esclarecer um
conceito, justificar uma afirmativa”. Pode- se explicitar por definição, por
exemplificação e por analogia. A seguir, exemplos fornecidos por esses
autores.
Explicitação por definição:

“O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer


rir. Isso é comicidade ou qualquer outro nome que se escolha. Na verdade,
humor é uma análise crítica do homem e da vida. Uma análise não
obrigatoriamente comprometida com o riso, uma análise desmistificadora,
reveladora, cáustica. Humor é uma forma de tirar a roupa da mentira, e o seu
êxito está na alegria que ele provoca pela descoberta inesperada da verdade.”
(Ziraldo)

Observe as expressões que indicam definição: o humor não é ... Isto é ... Na
verdade, humor é .... (entre outras no texto)

Explicitação por exemplificação:

“No Brasil, o empobrecimento ou a banalização da mensagem televisual


decorre, na verdade, da incapacidade do comunicador (desde a direção das
estações até os produtores de programas) de entender a verdadeira natureza
do veículo que controla e de elaborar mensagens específicas. Um exemplo:
um dos canais cariocas, achando que presta grande serviço à educação
musical, transmite concertos dominicais de música erudita. A realização do
programa é algo de extremamente dispersivo: quando a câmera se concentra
na orquestra, o plano se reduz, e dificilmente pode o telespectador distinguir
com clareza os músicos e seus instrumentos. Se a câmera desvia-se para o
público, o espectador passa a ter um espetáculo paralelo: o das pessoas que
dormem, conversam ou simplesmente escutam o concerto. A impressão final
do telespectador é a de que a televisão não é veículo próprio à transmissão

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musical. Não o é, efetivamente, da forma como é feita, que não corresponde à
especificidade de linguagem do veículo.”
(Muniz Sodré)

Explicitação por analogia

A inteligência madura sabe que as palavras nunca dizem tudo sobre o que quer
que seja, e por isso se ajusta à incerteza. Por exemplo, quando guiamos um
carro, nunca sabemos o que vai acontecer em seguida; não importa a
freqüência com que passamos por aquele caminho: nunca encontramos
exatamente as mesmas condições de tráfego. Apesar disso, um motorista
competente percorre toda espécie de caminho, e até com grande velocidade ,
sem sentir medo ou nervosismo. Em sua qualidade de motorista, está ele
ajustado à incerteza e não se sente inseguro. Do mesmo modo, a pessoa
intelectualmente madura, ‘não sabe tudo’, seja lá sobre o que for. E nem por
isso se sente insegura, pois sabe que a única espécie de segurança que a vida
oferece é a segurança dinâmica que provém de dentro: a segurança que deriva
da infinita flexibilidade da inteligência – da orientação multipolar de uma
infinidade de valores.”
(S.I. Hayakawa)

Observe:
A inteligência madura sabe que as palavras nunca dizem tudo sobre o que quer
que seja, e por isso se ajusta à incerteza.
Tal afirmativa é explicitada por meio de uma analogia.
Segundo Soares e Campos (1977, p. 161), “o desenvolvimento se inicia com a
expressão “por exemplo” que, neste caso, não introduz uma exemplificação,
mas uma analogia: a analogia (comparação) entre guiar um carro e viver com
maturidade intelectual”.

Referências:
SOARES, Magda Becker; CAMPOS, Edson Nascimento. Técnica de
redação: as articulações linguísticas como técnica do pensamento.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas
de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. p. 171.

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