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AULA 2

Victor Nunes Leal


LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012 [1949]. 7. ed. Cap. 1, pp. 19-57.

 1889 - 1930: Coronelismo


O coronelismo é mais fruto da decadência dos senhores de terra do que da sua
importância e vigor. Os governos estaduais pagavam um preço caro pelo apoio dos
chefes locais para constituir um sistema seguro para ambos. Era um sistema de
reciprocidade: os coronéis controlavam seu curral eleitoral, recebiam poder (nomeações
para cargos) e recursos financeiros (obras, despesas eleitorais). Em troca "entregavam"
o resultado eleitoral para os candidatos estaduais e federais do governo de forma segura.
Isso era a "política dos governadores".

AULA 3
Ângela de Castro Gomes
GOMES, Ângela de Castro. ABREU, Martha. A nova "Velha" República: um pouco de história e
historiografia. Revista Tempo, vol. 13, n. 26, jan. 2009

 1889 - 1930: Primeira República


A nomenclatura República "Velha" foi obra dos ideólogos que pretendiam
acentuar a força revolucionária do golpe que instaurou o Estado Novo. A ideia era
descrever o Estado liberal republicano como fraco, instável e ineficiente, incapaz de
acomodar as oligarquias no esquema sócio-político vigente. Para tanto, propuseram uma
seletividade do que lembrar e do que esquecer quanto às representações populares e as
experiências de mobilização e organização da sociedade civil. Além disso, defendiam a
ideia de que não era possível confiar na institucionalidade jurídico-política liberal
brasileira.
O conceito de democracia liberal expressa a ideia de que havia uma democracia
que era a possível para aquele contexto da época, de um regime político elitista que
produzia, por consequência, eleições onde apenas a elite se fazia representar. Apesar de
ocorrer uma intensa competição política entre os mais privilegiados, não podemos
afirmar a existência de uma real democracia. Mas repare que não era um marasmo
democrático como os defensores do Estado Novo pretendiam afirmar.
AULA 4
Paolo Ricci e Glauco Silva
RICCI, Paolo. SILVA, Glauco. O autoritarismo eleitoral dos anos trinta e o Código Eleitoral de 1932.
Curitiba: Appris, 2019. Cap. 3, pp. 61-82

 1930 - 1934: Governo Provisório


Código Eleitoral de 1932 e suas inovações: i) adoção do voto proporcional; ii)
criação da Justiça Eleitoral; iii) voto secreto; iv) voto obrigatório; v) voto feminino.
A adoção do sistema proporcional gerou nas eleições de 32 e 34: i) aumento da
competitividade eleitoral; ii) possibilidade de representação da oposição no Congresso
(pela primeira vez).
Mas repare na persistência de alguns elementos da Primeira República: i) o nível
de fraudes e corrupção não diminuiu; ii) inexistência de partidos nacionais, a disputa era
confinada aos estados e praticamente não havia oposição a Vargas.
Essa fase foi chamada de "ditadura representativa ou democrática". Ideia de
autoritarismo eleitoral. Vargas apenas tolerava a existência de partidos de oposição, ao
passo que organizava a vida política dos estados sob a figura dos interventores (pessoas
nomeadas pelo Presidente que controlavam a política estadual, muitas vezes se valendo
das mesmas alianças já estabelecidas com as lideranças locais - coronéis).

AULA 5
Maria do Carmo Campello de Souza
SOUZA, Maria do Carmo Campello. Estado e Partidos Políticos no Brasil (1930 a 1964). São Paulo:
Alfa-Ômega, 1976. Cap. 4, pp. 83-104.

 1930 - 1945: Era Vargas


O desmantelamento da "velha ordem" foi uma "modernização conservadora"
("mínimo necessário e o máximo possível de mudança"). A estrutura socioeconômica
vigente permaneceu a mesma, ocorrendo apenas uma acomodação das elites ao novo
modelo de Estado, forte e centralizado. Assim, saiu de cena a política dos governadores
e a autonomia estadual para dar lugar aos "mecanismos de centralização", uma extensa
rede de órgãos burocráticos, que juntamente como interventores e DASPs, formavam a
verdadeira engrenagem do Estado Novo. Ao mesmo tempo as organizações partidárias
foram suspensas a partir de 37.
AULA 6
Ângela de Castro Gomes
GOMES, Angela de Castro. A Invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005. 3. ed. Cap.
6, pp. 265-298.

 1937 - 1945: Estado Novo


O regime entendia a necessidade de explicar a legislação trabalhista para o povo
já que havia sido outorgada pelo Estado, e não conquistada por meio de lutas. "A voz do
Brasil" foi um dos principais instrumentos dessa política. O ministro do Trabalho,
Marcondes Filho era o (único) responsável por divulgar de maneira ampla e didática a
legislação social, com ênfase nas leis do trabalho.
O mito de Getúlio Vargas como "pai dos pobres" foi criado a partir da ideia de
que toda a legislação trabalhista fora concedida diretamente por Vargas aos
trabalhadores. Era ele quem inventava, determinava, estabelecia, assinava, mandava
executar, enfim, nada se fazia nesse campo sem a sua anuência. Assim ia sendo
estabelecida a figura do chefe, guia, amigo, pai.
Importante notar que toda essa propaganda era dirigida aos trabalhadores ao
mesmo tempo em que uma série de direitos lhes eram retirados ou eram suspensos (ex.
direito de férias, criação da figura do trabalhador desertor, ou seja, o que faltava ou
abandonava o serviço).

AULA 7
Maria do Carmo Campello de Souza
SOUZA, Maria do Carmo Campello. Estado e Partidos Políticos no Brasil (1930 a 1964). São Paulo:
Alfa-Ômega, 1976. Caps. 5 e 6, pp. 105-168.

 1946 - 1964: Regime Democrático


A transição do Estado Novo para o regime de 46-64 foi feita mediante diversos
elementos de continuidade do antigo regime, nesse sentido "a queda do Estado Novo foi
amortecida e sua estrutura aproveitada".
Maria do Carmo Campello de Souza defende que houve uma coexistência entre
tendências ao fortalecimento e à desagregação do ponto de vista institucional.
O processo de transição foi chamado de uma "abertura branca" já que Vargas
não era visto como um inimigo radical, mas alguém com quem seria possível organizar
uma composição. Ao fim, ele pode ser considerado o grande vencedor desse período
(Tanto que Dutra, um opositor mas nem tanto, do PSD, vence as eleições de 45).
"Path Dependence": teoria da dependência da trajetória, ou seja, a ideia de que
uma vez adotado um caminho, seria muito difícil e custoso um rompimento radical. No
caso, o Estado brasileiro promovia uma série de pequenas mudanças ao invés de uma
grande ruptura.
A explicação conjuntural para a deposição de Vargas passa pela análise do
cenário internacional - fim da Segunda Guerra. Mas os analistas enxergam a explicação
institucional diante da tentativa de se antecipar as eleições para os governadores para
que elas ocorressem junto com as eleições presidenciais, portanto, sob a supervisão do
Presidente. Com isso, ele perde apoio de seus ministros.
Decreto-Lei nº 7.586 de 1945, ou "Lei Agamenon": regulamentou o processo
eleitoral, reproduzindo as bases estabelecidas no Código Eleitoral de 1932. Mas o
interessante é compreender em que medida essa lei foi uma manobra getulista, uma
engenharia institucional. Isso porque algumas ferramentas foram utilizadas a fim de
garantir a continuidade do grupo dirigente do Estado Novo:
i) quanto ao registro dos partidos: necessidade de organização em bases
nacionais, a fim de dificultar a inscrição de partidos de oposição, ainda não totalmente
organizados e possibilidade de cassação de registros partidários; proibição de
candidaturas sem filiação partidária;
ii) quanto à representação: instituição do mecanismo de sobras, que beneficiava,
via de regra, o PSD;
iii) quanto ao alistamento eleitoral: a criação do alistamento ex-officio, recurso
tipicamente clientelístico e urbano, voltado ao funcionalismo público e aos sindicatos.

AULA 8
Antônio Lavareda
LAVAREDA, Antônio. A Democracia nas Urnas – O Processo Partidário-eleitoral Brasileiro. Rio de
Janeiro: IUPERJ/Rio Fundo Editora, 1991. Cap. 1, pp. 19-32.

 1946 - 1964: Regime Democrático


Antônio Lavareda demonstra que os partidos políticos daquele período não eram
tão frágeis a ponto de caminharem para a desintegração. Não devem, portanto, serem
exclusivamente ou primordialmente responsabilizados pelo colapso do sistema em 64.
Chama a atenção para a opinião pública, as lideranças políticas, as elites empresariais,
os dirigentes militares, o atraso cívico do país à época.

Maria do Carmo Campello de Souza oferece três teses para explicar os


diagnósticos da crise do regime de 46-64:
i) mudanças socioeconômicas como industrialização/urbanização fizeram com
que os partidos conservadores (PSD, UDN) perdessem terreno;
ii) o aumento do número de alianças e coligações tornou a disputa eleitoral mais
acirrada e incerta;
iii) aumento do número de votos brancos e nulos.
AULAS 9 e 10
Alfred Stepan
STEPAN, Alfred. Os militares na política. Rio de Janeiro: Artenova, 1975, pp. 46- 100.

 Intervenção/Golpe Militar de 64
O conceito de "Poder Moderador" para Alfred Stepan: no modelo moderador os
militares têm uma tarefa que consiste essencialmente na atividade conservadora de
manutenção do sistema. O papel dos militares, de modo geral, se restringe à deposição
do chefe do executivo e à transferência do poder político para grupos civis alternativos.
O autor faz uma análise das constituições: 1891, 1934 e 1946 foram
descentralizados, ou seja, os militares agiam segundo a análise da legalidade dos atos do
Executivo (uso da expressão “nos limites da lei”). 1824 e 1937 foram constituições
centralizadoras, com a figura do imperador e do ditador, em um e outro caso.
O autor analisa o período que vai de 1946 a 1964 para demonstrar que houve 5
tentativas de intervenção. Em 1945, 1954 e 1964, os movimentos militares foram
vitoriosos: a pressão civil pela ingerência militar era grande, os apelos eram expressos
em torno da ilegitimidade do presidente, os militares eram chamados para garantir o
funcionamento efetivo dos três poderes e a manutenção da ordem interna. Em 1955 e
1961 as tentativas de interferência militar foram frustradas já que a pressão civil era
menor, na verdade, a pressão era apenas de um grupo político que queria tirar seus
adversários do poder.
O autor oferece uma análise mais conjuntural para explicar o porquê de os
militares , em 64, terem deixado de ser apenas moderadores para se tornarem os
dirigentes da política propondo o cenário político internacional como fator
preponderante.
4 modelos de relação civil militar: aristocrático, comunista, liberal, profissional.

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