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ECONOMIA POLÍTICA II

2.ª Turma – Exame de 25 de Junho de 2021 – 4.ª Sessão

I
Diga o que entende por:
a) Produtividade do trabalho;
Embora o Eurostat defina a produtividade do trabalho como “the output per input of
labour” (indiciando uma relação entre grandezas físicas), logo acrescenta que pode ser medido a
partir do Produto Interno Bruto – que é um valor monetário. A nível de uma economia, não é
viável comparar, por exemplo, o output da produção de tijolos, com o dos transplantes de rins, os
contratos de seguro de vida, ou os espectáculos da Companhia Nacional de Bailado, a não ser pela
variação do seu valor monetário.
Quer dizer que a produtividade do trabalho é tão só a divisão do valor da produção pelo
número de horas com que ele foi produzido. Assim, se o valor da produção é baixo a produtividade
é baixa, mesmo que se trabalhe muito – na verdade, se a variação do produto não diminuir na
mesma proporção da diminuição das horas trabalhadas, a produtividade aumenta com a sua
diminuição (porque diminui mais o denominador).
A produtividade aumenta quer aumentando o valor de produção sem um aumento das
horas de trabalho, quer reduzindo as horas de trabalho mantendo o valor de produção (ou
reduzindo-o proporcionalmente menos do que estas).

b) Taxa Interna de Rentabilidade;


A taxa interna de rentabilidade (TIR) foi introduzida na teoria económica como uma
forma de racionalizar a procura de fundos para investimento: uma vez que os investidores terão
de pagar uma taxa de juro para financiar um certo investimento (e nem por não terem que recorrer
ao crédito evitam esse custo, porque nesse caso terão de sacrificar uma aplicação segura desse
montante), faz sentido que só o realizem se o retorno que é esperado dele exceder a taxa de juro
que têm de suportar. A TIR é, portanto, uma espécie de “taxa de juro” de um certo capital afecto
à produção, ou seja, a relação percentual entre o retorno (esperado) e o investimento (planeado).
Supostamente serviria como termo de comparação com a taxa de juro suportada (a relação
percentual entre os pagamentos pelo acesso ao crédito e o capital solicitado – no caso de ter havido
recurso ao crédito) ou com o custo de oportunidade de um emprego seguro do montante investido
(também expresso pela relação percentual entre o fluxo de pagamentos e um montante de capital
idêntico ao que seria investido – caso haja recurso a fundos próprios). Keynes, que introduziu a
noção, acreditava, porém, que os investidores se determinam menos por uma comparação
aritmética dos valores da TIR e das taxas de juros, do que pelos animal spirits dos investidores
(as expectativas que estes alimentam em relação à evolução económica (e que, no mercado
bolsista, se designam como fases de bull markets e de bear markets).

c) Microempresas e Médias empresas;


O tecido empresarial da União Europeia é constituído em mais de 99% por pequenas e
médias empresas (PME).
Nos termos de uma Recomendação da Comissão Europeia, há três categorias de PME:
microempresas, pequenas empresas e médias empresas.
As microempresas, são aquelas que têm de ter menos de 10 funcionários, um volume de
negócios inferior ou igual a 2 milhões de euros, e um balanço total inferior ou igual a 2 milhões
de euros;
As médias empresas são aquelas que têm menos de 250 funcionários, um volume de
negócios inferior ou igual a 50 milhões e um valor de balanço inferior ou igual a 43 milhões.

d) Abuso de posição dominante e abuso de dependência económica;


O abuso de posição dominante é uma das duas infracções fundamentais dos ordenamentos
de defesa da concorrência de matriz europeia (sendo a outra o comportamento colusivo), visando
ambas proteger o livre funcionamento do mercado, enquanto o abuso de dependência económica
é uma infracção contemplada no regime nacional de defesa da concorrência (e dependente da
susceptibilidade de afectar o funcionamento do mercado ou a estrutura da concorrência) mas que,
nessa configuração, é desconhecida na maior parte dos ordenamentos congéneres (incluindo o da
União Europeia). Na verdade, o abuso de dependência económica foi criado nos anos 70 do século
passado para proteger os produtores de menor dimensão do exercício de poderes negociais nas
relações verticais e, portanto, como uma forma de proteger os agentes económicos mais débeis, à
margem das respectivas leis de defesa da concorrência.
Ao subordinar a verificação de um abuso de dependência económica numa relação
bilateral às já referidas repercussões no mercado e na concorrência, o legislador português acabou
por equiparar praticamente este instituto ao abuso de posição dominante, retirando-lhe a
possibilidade de contribuir para a protecção dos agentes económicos.

e) Hiatos (lags) e ecos (na teoria dos ciclos).


A actividade económica nas economias de mercado não é lisa, nem no curto-médio prazo,
nem no longo prazo, assemelhando-se antes a um pulsar recorrente. A explicação dos ciclos
económicos de menor duração (Kitchin, Juglar, Kuznets) apela a uma das hipóteses em epígrafe.
(Para a explicação do carácter cíclico das flutuações de grande duração – os ciclos Kondratiev –
recorre-se sobretudo ao ciclo de vida das Tecnologias de Aplicação Generalizada).
Diz-se haver eco se houver ciclos periódicos de re-investimento: isso pode acontecer se
num determinado momento se concentrar um investimento anormalmente elevado num
determinado tipo de bens (computadores, viaturas, instalações industriais, …). Como cada um
desses tipos de bens tem um ciclo de vida semelhante, a sua substituição irá ocorrer também num
período concentrado, gerando nesse período um excesso de produção/aquisição de bens do mesmo
tipo dos iniciais – como que um eco da concentração inicial –, permitindo explicar porque é que
há alguma regularidade na repetição de certos picos de despesas.
A outra explicação é a dos hiatos (lags): para diferentes bens, o intervalo de resposta da
produção a variações na procura é diferido. Por exemplo: se for necessário aumentar a produção
de tecidos de algodão, isso pode ser feito de uma semana para a outra (normalmente há stocks de
matérias primas, e é possível contratar horas extraordinárias, ou trabalhadores adicionais, para
fazer funcionar as máquinas durante mais horas). Já se houver um aumento de procura de carne
de porco, a resposta da oferta pode só chegar ao mercado passado um ano e meio, e se o aumento
da procura for de cortiça, ou de tâmaras, podem ser necessárias dezenas de anos. Como no ínterim
as condições podem mudar – e certamente que mudam – as respostas diferidas dão origem a
variações de stocks (quer no sentido do seu esvaziamento, quer da sua expansão) que, durante
algum tempo, amortecem os desfasamentos entre oferta e procura. Quando essa sua capacidade
se esgota, soltam-se as tensões acumuladas, com reflexos nas fases de alta e baixa dos ciclos.

II
Supondo a seguinte distribuição de ganhos para a decisão de recorrer ou não a
publicidade dos respectivos produtos, explique quais seriam as estratégias de K e de W e
classifique-as.

K PUBLICITA K NÃO PUBLICITA

200 100
W PUBLICITA
200 350
350 250
W NÃO PUBLICITA
100 250
Tanto W (dados em linha e itálico, cantos sudoeste) como K (dados em coluna e negrito,
cantos nordeste) têm, no caso, estratégias dominantes. As estratégias são dominantes quando,
qualquer que seja a opção do outro jogador, se pode escolher um curso de acção que é sempre
melhor do que outro.
É o caso da decisão que se coloca a W: deve recorrer à publicidade, quer K faça
publicidade aos seus produtos (situação em que W tem vantagem em também a fazer, porque
receberá 200, contra 100 se não a fizer), quer K não faça publicidade (caso em que W também
tem vantagem em a fazer, porque receberá 350, contra 250 se não a fizer).
Como a matriz de pagamentos revela perfeita simetria (caso as duas empresas decidam
publicitar [não publicitar], ambas terão um ganho de 200 [250]; caso só uma delas publicite, a
que o fizer terá um ganho de 350 [e a outra de 100]) é também, necessariamente, o caso da decisão
que se coloca a K: deve recorrer à publicidade, quer W faça publicidade aos seus produtos
(situação em que K tem vantagem em também a fazer, porque receberá 200, contra 100 se não a
fizer), quer W não faça publicidade (caso em que K também tem vantagem em a fazer, porque
receberá 350, contra 250 se não a fizer).
Às estratégias dominantes opõem-se as estratégias dominadas: nestas, a melhor opção
possível de um jogador depende da opção que o outro faça. Isso implicaria que um dos agentes –
mas podiam ser os dois – só pudesse saber qual era a sua melhor opção depois de ter acesso à
opção do outro. A vantagem da utilização da teoria dos jogos – desenvolvida por John von
Neumann nos finais da década de 20 do século passado como forma de análise das interacções
entre agentes (económicos, políticos, sociais,…) cujo comportamento é, ou pode ser,
condicionado pelo comportamento dos outros – reside na possibilidade de antecipar esses
comportamentos e, em qualquer caso, de testar a sua racionalidade.

III
a) Indique as principais diferenças entre as concepções dos economistas Neo-
Clássicos e as de Keynes.
A resposta devia focar a maior parte dos pontos elencados no quadro síntese abaixo:
b) Exponha a teoria da vantagem relativa.
A teoria da vantagem relativa, proposta por David Ricardo, constituiu um
desenvolvimento da teoria da vantagem absoluta de Adam Smith. Para este, a especialização era
fonte de ganhos, tanto a nível interno – e daí que cada pessoa tenda a exercer a sua actividade em
domínios cada vez mais restritos, obtendo por troca tudo o mais de que carece –, como a nível
internacional. A especialização segundo um padrão de vantagem absoluta (ninguém devia
produzir o que conseguisse comprar mais barato a outrem) tinha, porém, um limite: dados dois
bens e dois sujeitos (fossem eles duas pessoas ou dois países), era possível que um deles fosse
melhor produtor de ambos os bens do que o outro. Isso significaria que ele devia produzir ambos,
e o outro nenhum?
Ricardo defendeu que se cada um se especializasse naquilo em que era mais melhor, ou
menos pior, ambos ganhariam.
Um exemplo numérico ajuda a compreender o argumento:
Suponha-se um caso de vantagem absoluta do País I, em relação ao País II, tanto na
produção do bem X como na produção do bem Y – vg, suponha-se que o País I produz o bem X
com 20h de trabalho e o bem Y com 50h de trabalho (para os economistas Clássicos, o trabalho
era a única fonte de valor), enquanto o País II precisa de 80h para produzir o bem X, e 60h para
produzir o bem Y. Com 70h de trabalho o País I assegura a produção dos dois bens (vamos supor
que são absolutamente complementares) enquanto o País II precisa de 140h para conseguir as
mesmas duas unidades, num total de 4 unidades produzidas com o stock total de trabalho de 210h
(70h do País I, 140 do País II).
Segundo a teoria da vantagem absoluta não haveria comércio entre os dois países, porque
o Pais I é mais eficiente do que o País II em ambos os bens. Mas a desvantagem do País II em
relação ao País I é muito maior na produção de X (80h v. 20h) do que na produção de Y (60h v.
50h), o que permite admitir que ambos podem ganhar se cada um se especializar naquilo em que
é melhor: o País I é melhor na produção do bem X (4 vezes melhor do que o País II) e o País II é
“melhor” (ie: menos pior) na produção do bem Y (só 20% pior do que o País I).
Assim, se o País I concentrasse 70h na produção do bem X obteria 3,5 unidades (um
aumento de 75%). Em contrapartida, se o País II concentrasse as suas 140h de trabalho na
produção do bem Y, obteria 2,3 (duas unidades, mais 1/3 de outra – um aumento de 15%) – ou
seja, a produção global aumentaria de 4 para 5,8 (um aumento de 45%). Quer dizer que, com os
mesmos recursos, e mediante a sua mera reafectação internacional (os do País I para a produção
de X, os do País II para a produção de Y), a produção de cada país aumentava, aumentava a
produção global, e ambos estavam em condições de realizar trocas entre si que lhes permitissem
melhorar a sua situação em relação à posição inicial de não-especialização.
Saber se esta última possibilidade se concretizaria ou não dependeria dos termos de troca
que se viessem a estabelecer entre ambos (um contributo posterior devido a John Stuart Mill).

IV
Indique qual a resposta correcta:
1. O rácio de Palma mostra que:
a. Está a haver um esvaziamento das classes médias;
b. A parcela do rendimento que cabe às classes médias difere muito de
economia para economia;
c. A parcela do rendimento que cabe ao decil mais alto é muito semelhante
de economia para economia;
d. A parcela do rendimento que cabe aos quatro decis mais baixos é muito
semelhante de economia para economia;
e. A parcela do rendimento que cabe aos decis 5 a 9 é muito semelhante de
economia para economia.
2. Os estabilizadores automáticos das oscilações económicas incluem:
a. As receitas do Orçamento do Estado;
b. As receitas da Segurança Social;
c. As receitas e despesas do Orçamento do Estado;
d. As receitas e despesas da Segurança Social;
e. As despesas do Orçamento do Estado.
3. Com uma propensão marginal ao aforro de 2/6, um acréscimo inicial de 20.000
de procura líquida gera, no termo dos períodos da actuação do multiplicador, um
acréscimo de rendimento de
a. 20.000;
b. 30.000;
c. 40.000;
d. 60.000;
e. 120.000.
4. Duas economias com valores de PIB per capita aproximado:
a. devem também ter valores de PIB aproximados;
b. devem ter níveis de bem-estar aproximado;
c. devem ter níveis de bem-estar aproximado desde que esses valores per
capita sejam expressos numa moeda comum, à taxa de câmbio média;
d. devem ter níveis de bem-estar aproximado desde que esses valores per
capita sejam expressos em Paridades de Poder de Compra;
e. podem ter níveis de bem-estar muito diferentes.
5. O argumento dos termos de troca pode justificar a protecção aduaneira se:
a. O país que a aplica for pequeno e os seus parceiros forem grandes;
b. O país que a aplica for grande e os seus parceiros forem grandes;
c. O país que a aplica for pequeno e os seus parceiros forem pequenos;
d. O país que a aplica for grande e os seus parceiros forem pequenos;
e. Nem o país que a aplica nem os seus parceiros forem grandes.

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