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Estimulação da consciência fonológica: proposta

de atuação em creche

Marisa de Sousa Viana Jesus


Alena Nazareth soares, Ludimila Kyrath Lobo, Luiza Cristina Aurora, Maria Izabel,
Simões Horta

Resumo
Vários fatores contribuem para uma alfabetização satisfatória. Dentre eles está a
consciência fonológica, entendida como a habilidade de segmentar os sons da fala
refletindo sobre a estrutura sonora das palavras. Estudos mostram que o treinamento
dessa habilidade metalinguística aumenta significativamente as possibilidades de um
bom desempenho futuro no aprendizado da leitura e escrita. Considerando tais
aspectos foi realizado um programa de estimulação da Consciência fonológica em
uma creche metodista, com crianças de 4 a 5 anos, por um período de três meses.
Para avaliar a eficácia do programa, as crianças foram avaliadas antes e após o
programa de estimulação, utilizando parte do instrumento de avaliação seqüencial da
Consciência fonológica – Confias. Foi feita a comparação dos escores médios
encontrados na avaliação no nível da sílaba. Observa-se que quanto à Síntese, não
houve diferença significativa, pois as crianças já haviam obtido resultado satisfatório
mesmo antes da estimulação. Quanto às habilidades de Segmentação, Identificação de
sílaba inicial e Transposição silábica, houve diferença estatisticamente significativa
evidenciando que as crianças se beneficiaram do programa de treinamento. Nas
demais etapas – Identificação, produção e exclusão de rima, Produção de palavra com
a sílaba dada, Identificação de sílaba medial, houve um aumento da média de
escores, mas estatisticamente não foi significativo.

Palavras-chave: consciência fonológica; alfabetização; pré-escolar; fonoaudiologia.

Introdução
A alfabetização requer um conjunto de habilidades bem desenvolvidas para que a
criança consiga representar a fala através de símbolos gráficos.
Antes do período da alfabetização a criança já apresenta uma linguagem oral bem
desenvolvida, com grande domínio no uso das palavras. Ao falar, a criança usa uma
seqüência contínua de sons cuja divisão em palavras é pouco percebida. Entretanto,
ao escrever, essa segmentação se faz necessária, uma vez que cada som deve ser
unicamente representado na ortografia alfabética. Isso requer uma atenção voltada
para a estrutura fonológica da fala, havendo necessidade de que se descubra as


Fonoaudíóloga, Mestre e Doutoranda em Linguística pela UFMG, Especialista em Fonoaudiologia pela
Unifesp, Docente do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.

Fonoaudiólogas clínicas, ex-alunas do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.

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menores unidades da fala contínua que correspondem aos elementos discretos da
escrita alfabética (ADAMS et al, 2006).
Estes elementos discretos são os fonemas, isto é, unidades sonoras da fala que são
mapeados na escrita alfabética, pelos grafemas. A descoberta deste princípio do
mapeamento é um dos desafios do processo de alfabetização. Essa habilidade de
segmentação dos sons da fala, bem como de manipular os fonemas e refletir sobre a
estrutura sonora das palavras é denominada “Consciência fonológica”.
A relevância do desenvolvimento dessa consciência para a alfabetização tem sido
defendida por diferentes autores, notando-se uma íntima relação entre a consciência
fonológica de pré escolares e sua habilidade posterior de leitura e escrita (GOUGH e
LARSON, 1996; PESTUN, 2004; PAULA, 2005).
Isso equivale a dizer que se uma criança apresenta déficits nessa habilidade
linguística, se não estimulada adequadamente, poderá apresentar seqüelas em todo
seu processo escolar. Menn e Stoel-Gammon (1997), chegam a dizer que o
desempenho nas tarefas de consciência fonológica é um dos melhores fatores
prognósticos de êxito ou fracasso na aprendizagem da leitura.
É singular considerar que se a criança apresenta dificuldades para identificar os
componentes sonoros das palavras, ela terá dificuldades para relacionar estes sons
com as letras nas palavras Santos et al, 1997a; Adans, (2006), a aprendizagem do
sistema alfabético pode favorecer a aprendizagem da consciência fonológica,
entretanto, algum grau de consciência fonológica é essencial para o aprendizado de
leitura e escrita, havendo uma relação de reciprocidade entre elas.
A constatação de que crianças podem se beneficiar de uma estimulação adequada da
consciência fonológica, com repercussão na leitura-escrita, tem sido vista em
diferentes pesquisas (BYRNE, 1996; CIELO, 1996; CAPOVILLA e CAPOVILLA, 1997;
CAPELINI E CIASCA, 2000, PAULA, 2005).
A exposição minuciosa da criança a esse mundo sonoro das palavras através de
atividades planejadas, que estimulem a maior percepção dos sons que serão
representados na escrita pode facilitar o processo da alfabetização.
O treino em consciência fonológica é predominantemente oral devendo envolver
habilidades em segmentação de frases em palavras; realismo nominal, detecção e
produção de rimas, síntese silábica, segmentação silábica, detecção de sílabas,
reversão silábica, exclusão fonêmica, detecção de fonemas, síntese fonêmica,
segmentação fonêmica e reversão fonêmica (BALESTRIN & CIELO, 2003).
A leitura e a escrita são atividades complexas e sabidamente requerem outras
habilidades além da consciência fonológica e do conhecimento das correspondências
letra-som. Estudos têm mostrado que a aquisição da grafia correta não é resultante
simplesmente de treino e memorização, antes requer uma reflexão sobre diferentes
aspectos da língua como a consciência de aspectos morfológicos e sintáticos (NUNES
et al, 1996).
A despeito da relevância dessa estimulação atestada em diferentes estudos, nota-se
que sua prática não é comum, como mostrado por Balestrin & Cielo (2003), ao fazer
um levantamento das atividades envolvendo consciência fonológica realizadas por
professores de pré-escola.

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Os programas de estimulação da Consciência fonológica visam levar a criança a
perceber a fala como passível de segmentação em palavras, sílabas e fonemas e a
possibilidade de sintetizar tais partes de modo a que percebam a correspondência
grafema/fonema. Ainda, identificar e categorizar os elementos fonêmicos comuns em
diversos contextos de linguagem tem sido proposto (SANTOS & PEREIRA, 1997).
Entendendo a importância de uma estimulação linguística no período de pré
alfabetização e ainda que essa população, crianças de creche, podem configurar-se
corno de risco para apresentar dificuldades escolares em função de frequentes
alterações na fala Cigana et al. (1995), optou-se por desenvolver um programa de
estimulação da consciência fonológica por um período de três meses, com crianças
de uma creche de Belo Horizonte, com o objetivo de contribuir para o processo de
alfabetização.
Com vistas a verificar a eficácia desse programa em termos quantitativos, as crianças
foram avaliadas quanto a esse aspecto antes e depois do período de estimulação.
Para a realização desse trabalho considerou-se relevante levantar dados da
performance das crianças em Consciência fonológica utilizando esse instrumento de
análise CONFIAS, Moojen, et al (2003), já que não se encontrou na bibliografia
compulsada dados outros além dos fornecidos no próprio manual do teste.
Informações obtidas com diferentes populações permitem melhores referenciais para
pesquisas futuras. Também, valorizou-se a possibilidade de associar a pesquisa a
atividades que pudessem reverter em benefícios para a população estudada, sendo a
que esse trabalho se propõe.

Método
Esse trabalho foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário metodista
Izabela Hendrix e foi aprovado. Tanto a direção da escola quanto os pais das
crianças assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido autorizando a
realização do trabalho e divulgação dos resultados.
Participaram da pesquisa os alunos da Creche Semente, que cursavam o segundo
período, totalizando na primeira avaliação 20 crianças. Destes, 11 eram meninas e 9
meninos na faixa etária de 4 a 5 anos, com média de idade de 5 anos e 2 meses.
Na avaliação pós- estimulação a amostra foi reduzida para 16 crianças sendo 10
meninas e 6 meninos, uma vez que as outras 4 crianças que fizeram parte da
amostra anterior não estavam mais frequentando a creche. Dessa forma, considerou-se
para efeito de análises estatísticas, o grupo de 16 crianças. Todas elas pertenciam à
classe social média-baixa. Não constava da amostra crianças com queixa de perda
auditiva ou com comprometimentos neurológicos.
Utilizou-se o teste de Consciência Fonológica - Instrumento de Avaliação Seqüencial
(CONFIAS), proposto por Moojen et al (2003). Este consiste de duas partes: a primeira
de consciência da sílaba e a segunda refere-se ao fonema. Utilizou-se somente a
primeira parte do teste, de consciência da sílaba já que em um estudo piloto
verificou-se grande dificuldade dessas crianças em realizar as provas envolvendo
fonemas. Optou-se então, por se fazer, inicialmente, uma abordagem tanto avaliativa
quanto de estimulação focado na sílaba, estendendo-se a estimulação também para
palavras. Entendendo a consciência fonológica como uma estrutura hierárquica em que

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as estruturas mais globais apresentam um grau de dificuldade menor Gough e Larson
(1996), é pertinente essa abordagem inicial. Nesse instrumento as habilidades
avaliadas, envolvendo a sílaba são: síntese, segmentação, identificação de silaba inicial,
identificação de rima, produção de palavra com a sílaba dada, identificação de sílaba
medial, produção de rima, exclusão e transposição. Na tarefa de síntese o examinador
deve falar uma palavra, sílaba por sílaba com um breve intervalo entre elas e a
criança deverá repetir a palavra toda que foi falada. Na tarefa de segmentação a
criança deve falar separando em sílabas a palavra alvo. No teste de identificação de
sílaba inicial é solicitado à criança que ela julgue, dentre três palavras dadas, qual
começa com o mesmo som da palavra alvo. No teste de identificação de rimas a
criança deve identificar, dentre três palavras faladas pelo examinador, qual que
termina da mesma forma que a palavra alvo. No teste de produção de palavra com a
sílaba dada é falada uma sílaba e pede-se para criança dizer uma palavra que
começa com essa sílaba. Na tarefa de identificação de sílaba medial são dadas três
palavras e pede-se para a criança identificar qual tem a mesma silaba do meio da
palavra alvo. No teste de produção de rima a criança deve falar uma palavra que
rime com a palavra alvo. Na tarefa de exclusão o examinador tira sílabas do inicio,
meio e fim das palavras e pergunta qual é a outra palavra que se forma. Por fim, na
tarefa de transposição a criança deve falar a mesma palavra dita pelo examinador,
mas de trás para frente. Os dados devem ser anotados em protocolo específico,
totalizando 40 respostas.
Para a realização do programa de estimulação da consciência fonológica, discutiu-se
com a direção, professores e pais das crianças aspectos referentes a esse tema, seus
benefícios para a alfabetização, os objetivos do trabalho, bem como sugestões de
atividades que poderiam ser realizadas durante as aulas com esse fim.
A estimulação ocorreu semanalmente, realizadas elas autoras, alunas do curso de
Fonoaudiologia do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, na própria creche,
durante uma hora. Na oportunidade foram estimuladas habilidades, com foco na
sílaba, e palavras como de síntese, segmentação, identificação de silaba inicial,
identificação de rima, produção de palavra com a sílaba dada, identificação de sílaba
medial, produção de rima, exclusão e transposição, baseadas na bibliografia vigente
como: (CIELO, 1996; SANTOS & NAVAS, 1997A; CAPELLINI & CIASCA 2000; CAPOVILLA
& CAPOVILLA, 2002; ALMEIDA & DUARTE, 2003).
O programa consistiu de atividades realizadas com todas as crianças, geralmente com
a participação da professora. Com o intuito de estimular a consciência de palavras, as
crianças foram solicitadas a contar o número de palavras da frase associando a
movimentos corporais (contar nos dedos, palmas, pulos); completar frases iniciadas
pelos terapeutas (ex.: Ontem brinquei de bola e ...). Substituição de pseudo-palavra na
frase também foi enfatizada (ex.: gosto de brincar de fitipu), além de se cantar
retirando palavras do texto (ex.: O meu chapéu tem três ...).
Com o foco na consciência silábica, as atividades envolveram síntese e segmentação
de palavras, identificação da sílaba inicial, medial e final da palavra, bem como a
formação de novos vocábulos a partir de manipulação silábica. Atividades lúdicas
foram usadas para atingir esses objetivos, como fazer movimentos corporais conforme
o número de sílabas das palavras ou mesmo em jogos de percurso andar as casas
conforme o número de sílabas; dizer o nome da fruta cuja miniatura foi tirada de um

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saco de surpresa, e após isso identificar com que sílaba tal palavra iniciava e
terminava; correr para perto do colega cujo nome inicia com determinado som ou
considerando um campo semântico previamente definido, como de animais, por
exemplo, identificar e representá-lo com gestos aquele que começava com
determinado som. As rimas foram valorizadas a partir de músicas, poesias, histórias,
parlendas e rimas com os próprios nomes (ex.: Não confunda Marisa com pisa). Ainda,
as crianças deveriam classificar figuras conforme a sílaba final. A transposição,
exclusão e identificação de sílaba medial eram estimuladas utilizando como apoio
visual palitos, ou as próprias crianças que eram dispostas de determinada forma para
representar cada palavra e que mudavam de lugar ou eram retirados conforme a
orientação (ex.: macaco – ca = caco, ou “tala” que invertendo as sílabas fica “lata”).
As atividades foram realizadas de forma lúdica utilizando de diferentes recursos, como
fantoches que “contavam histórias” falando palavras em que um fonema ou sílaba era
falado de forma inadequada e o erro deveria ser identificado e corrigido (ex.: menina
- melana), movimentos corporais, figuras, músicas, bola, jogos, dentre outros.
Note-se que durante todo o tempo a ênfase esteve no aspecto auditivo das palavras
não se fazendo menção ao nome das letras, antes, referindo-se aos sons das mesmas
(ex.: não se dizia do “esse”, mas do som “sssss”). Entretanto, como o objetivo do
programa era facilitar o processo da criança de fazer a correspondência entre letras e
sons, necessário para uma compreensão produtiva do princípio alfabético, procurou-se
ainda associar o grafema ao fonema em diferentes atividades, quando então, a sílaba
ou palavra eram faladas ao mesmo tempo em que sua forma escrita era mostrada.
Assim, procurou-se chamar a atenção da criança, repetidas vezes, para a arquitetura
da língua e da natureza dos “tijolos” que a constroem, conforme propõe Adams et al
(2006), para que utilizando da consciência fonológica a criança pudesse atingir uma
compreensão inicial de como funciona o princípio alfabético. Assim, procurou-se dar
ênfase às 23 letras do alfabeto durante o programa.
A participação do professor foi estimulada em todo processo, sugerindo-se inclusive, a
inclusão de atividades semelhantes a essas nas suas aulas, com a perspectiva de uma
estimulação mais contínua. Entretanto, não tivemos controle de como isso se deu.
Procurou-se estimular as habilidades com grau crescente de dificuldade considerando
resultados de pesquisa que mostram uma estrutura hierárquica das habilidades da
consciência fonológica (GOUGH & LARSON, 1996).
Após três meses de estimulação, o teste de Consciência Fonológica - Instrumento de
Avaliação Seqüencial (CONFIAS) – parte referente à consciência da sílaba, foi
novamente aplicado para verificar o rendimento das crianças após estimulação. Os
resultados dos testes de pré-estimulação e pós-estimulação foram tratados
estatisticamente por meio do teste “t pareado” para comparar os escores médios do
nível silábico antes e depois do programa. Tais medidas forneceram parâmetros
quantitativos do resultado dessa estimulação, desejáveis à análise dos ganhos obtidos.

Resultados e discussões
A tabela 1 mostra o desempenho, em termos de média, bem como o desvio padrão
no teste de Consciência fonológica CONFIAS, parte referente à sílaba, para as duas
situações: pré e pós estimulação. Os dados foram analisados por meio do teste

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estatístico “t pareado” em que foi feita a comparação dos escores médios obtidos nas
duas avaliações.

Tabela 1 - Escores médios, desvio padrão e significância na prova de consciência


fonológica nas situações: pré e pós estimulação, para todo o grupo estudado.

Desvio-padrão entre parênteses e valor p significativo (p<0,05) em negrito.


.
Obs. O sub teste S8 apresenta 8 possibilidades de resposta, diferentemente dos
outros sub testes que contavam sempre com 4. Os cálculos estatísticos levaram tal
detalhe em consideração e por isso um resultado de escore médio de 4, significa
50% de acertos, conforme mostra a tabela acima.
Considerando os dados obtidos no teste CONFIAS antes da realização do programa
de estimulação, nota-se que a tarefa que mostrou melhor resultado foi de síntese
silábica. Tal constatação está de acordo com estudo de Capovilla & Capovilla (1997)
que também observou essa habilidade bem desenvolvida em crianças na faixa etária
próxima a estudada nesse trabalho. Já a habilidade em que as crianças apresentaram
pior resultado foi de transposição silábica (0,43), o que também está de acordo com
o resultado de outro estudo Capovilla & Capovilla, (1997), evidenciando ser uma tarefa
difícil para crianças pré-escolares. Após a estimulação dessa habilidade, notou-se
diferença significativa nos escores, mas o score médio de 1,68 ainda é baixo, para
essa faixa etária ou nível de alfabetização.
Observa-se que na tarefa de Síntese silábica, não houve diferença significativa
(p=1,000) entre os escores obtidos nas duas situações de teste, uma vez que os
resultados foram bons nas no pré e pós teste, evidenciando que essas crianças têm
essa habilidade de síntese silábica bem desenvolvida.

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Os resultados indicaram que o efeito do programa de estimulação foi positivo para
todas as habilidades (Figura 1). A tabela 1 mostra que nas habilidades de
Segmentação, Identificação de sílaba inicial e Transposição, houve diferença
estatisticamente significativa ao nível de 5% de significância, (p=0,007, p= 0,005,
p=0,001) respectivamente. Nas demais habilidades Identificação de rima, Produção de
palavra com a sílaba dada, Identificação de sílaba medial, Produção de rima e
Exclusão, houve um aumento da média de escores, mas estatisticamente não foi
significativo (p=0,066, p=0,637, p=0,072, p=0,483, p=0,206) respectivamente.

Figura 1 - Escores médios obtidos em cada um das tarefas de consciência fonológica,


antes e depois da estimulação.

Ordenadas as habilidades de acordo com os escores obtidos após a estimulação, do


maior para o menor, tem-se: segmentação silábica (3,9), síntese silábica (3,56),
produção de palavra com a sílaba dada (3,31), identificação de sílaba inicial (3,25),
identificação de rima (2,87), Nessas habilidades nota-se um índice de acerto maior
que 70%. Esses índices são seguidos por identificação de silaba medial (2,75),
exclusão (4 equivale a 2), transposição silábica (1,68) e com o menor escore,
produção de rima (1,43). Nota-se que as tarefas envolvendo análise e síntese silábica
e identificação de sílabas que se encontravam nas extremidades das palavras
mostraram-se de maior domínio das crianças testadas. Conforme Gough e Larson

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(1996) o fato de se ter resultados diversos nas diferentes tarefas pode ser explicado
pelo nível de exigência cognitiva de cada uma delas. Assim, uma vez que não se tem
uma medida direta da consciência fonológica, cada uma das tarefas tem suas próprias
exigências cognitivas. Para a produção de rima, por exemplo, a criança necessita
buscar em seu léxico mental uma outra palavra que tenha a mesma rima.

Os autores do teste CONFIAS sugerem que sejam considerados alguns


aspectos durante aplicação do teste, de ordem qualitativa. Nas condições de
teste pré e pós-estimulação foi possível observar uma variação no tempo,
sendo necessário um tempo maior para que as crianças dessem as
respostas e também uma solicitação maior de explicações para que
conseguisse realizar as tarefas na testagem anterior à estimulação.

Os dados mostram uma tendência à melhores resultados para todas as crianças após
a estimulação. Entretanto, algumas considerações se fazem necessárias à análise
científica dos dados, como fatores que devem ser considerados intervenientes aos
resultados: o fato das crianças ficarem expostas ao processo escolar formal durante o
tempo em que tal pesquisa foi realizada, e a possibilidade de que a primeira testagem
possa ter exercido uns efeitos cumulativos de aprendizagem, refletindo ambos nos
resultados finais.
Sugere-se que pesquisas posteriores incluam no delineamento da pesquisa um grupo
que não seja submetido ao programa, para que melhor se evidencie o real resultado
da estimulação. Também que se tenha um controle da freqüência das crianças às
sessões de estimulação. Ainda, que se faça um controle do número e qualidade de
cada estratégia utilizada de forma a contemplar de forma igualitária todas as
habilidades testadas.

Conclusão
Os resultados obtidos nesse estudo têm implicações práticas para a prevenção e
remedição do fracasso em leitura e escrita. Ele mostra que a estimulação da
consciência fonológica por um período relativamente curto, pode melhorar o
desempenho nessas habilidades.

Abstract
Several factors contribute to a satisfactory alphabetization. Amongst them there is the
phonological awareness, understood as the ability of segmenting the sounds of speech,
what reflects on the sonorous structure of the words. Studies show that the training of
this metalinguistic ability significantly increases the possibilities of a good future
performance in the learning of reading and writing. Considering such aspects a
program of stimulation of the phonological awareness in a Methodist day-care center
was carried through, with children between 4 and 5 years old, for a period of three
months. To evaluate the effectiveness of the program, the children had been evaluated
before and after the stimulation program, using part of the sequential evaluation
instrument of the phonological awareness - Confias. The comparison was made with
the medium scores found in the evaluation in the syllable level. It is possible to

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observe that, according to the synthesis, there wasn’t a significant difference, because
the children had already gotten satisfactory results even before the stimulation. In
relation to the abilities of segmentation, identification of initial syllable and syllabic
transposition, there was a statistically significant difference, evidencing that the children
were benefited with the training program. In the other stages - Identification, production
and exclusion of rhymes, Production of word with the given syllable, Identification of
medial syllable, there was an increase of the average scores, but it was not
statistically significant.

Keywords: phonological awareness; education; preschool; speech therapist.

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