O texto me levou a refletir no quanto a gente, não-indigena (ou pelo menos
eu mesmo), desconhecemos a complexidade da cultura indigena. Quando o autor do texto aborda a questão das diversas línguas, especificamente, fica claro que há uma redução das culturas indígenas em uma só ou em poucas. O que gera e mantém uma idealização, uma abstração do que é ser indigena - de como vivem, de como se organizam socialmente, suas visões de mundo - e nesse sentido, penso que existem duas formas de enxergar os povos indígenas que contem essa percepção miope. A primeira e talvez mais comum é a do viés colonialista, ou seja, uma visão de que as culturas indígenas são primitivas, estão atrasadas, nos primeiros degraus da evolução social da concepção positivista e que portanto há ainda o aquela ideia do fardo do homem branco, ou seja, que cabe ao homem branco levar o progresso, a tecnologia industrial, o garimpo, o capitalismo, ou o que quer que seja considerado civilizatório dentro da perspectiva europeia. É sempre nessa posição de imposição e de superioridade com relação a esses povos. A segunda é a visão romantizada que teve início no romantismo brasileiro com Iracema e que até hoje persiste de certa forma, como na música de Rita Lee, que canta: “se Deus quiser, um dia eu viro índio, viver pelado e pintado de verde num eterno domingo”. Como se os indígenas não tivessem uma outra forma de viver e de se organizar socialmente para cumprir atividades vitais da tribo, como se não “trabalhassem”. E essa segunda visão, romantizada, cria um certo impedimento de trocas culturais, como se isso afetasse a cultura desses povos impedindo-os de terem outras perspectivas, outras vivências, como se quisesse congelar aquela cultura nesse ideário e não compreende a complexidade das transformações que já ocorreram nesses mais de 500 anos e que ainda podem ocorrer. Em suma, eu sinto que há pouca troca cultural entre os povos indígenas e os povos não-indígenas. A Unicamp, com o vestibular indigena dá um grande salto nesse sentido de trocas culturais, apesar de alguns problemas estruturais e conceptivos por parte do corpo docente como aconteceu recentemente no curso de medicina em que alguns professores demonstraram certo preconceito e muitas vezes querendo barrar ou isolar esse avanço da participação indigena dentro da faculdade, enfim. Mas a grande questão é essa, de que deve haver uma troca cultural entre esses modos de viver, pensando é claro, em toda complexidade das diversas culturas indígenas, e também na questão de não haver qualquer tipo de hierarquia que suprima algum tipo de conhecimento como é muito comum de se ver no campo da ciência que despreza, muitas vezes, alguns elementos que são mais abstratos da compreensão de vida como a ideia da cosmovisão, por exemplo.