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Teoria Literária

Professor Marcos de Assis


Pós-graduado em Linguagens, Tecnologias e Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2020)
Pós-graduado em Ensino de Inglês pela UFMG (2018) e em Psicopedagogia pela Universidade de Uberaba (2017)
Graduado em Letras Português e Inglês pela Universidade de Uberaba (2015)

http://lattes.cnpq.br/5682778432802877
O que é literatura?
• Usar a palavra “escrita” ao descrever a literatura ou
resumir a literatura somente à escrita é em si algo
equivocado, pois sabemos que há literaturas orais e a
literatura de povos pré-letrados.
• Como arte, a literatura pode ser descrita como a arte
da palavra, a organização de palavras para dar prazer.
• Por meio das palavras, a literatura eleva e transforma a
experiência além do “mero” prazer. A literatura também
funciona de forma mais ampla na sociedade como meio tanto
de crítica quanto de afirmação de valores culturais.
• A arte da literatura não se reduz às palavras da
página, haja vista que há literatura em outras artes.
Por que é importante estudar Literatura?

• Obras de literatura fornecem uma espécie de raio-X da


sociedade humana, haja vista que refletem o contexto
sociocultural do período histórico em que se insere.
• Dos escritos de civilizações antigas como Egito e China
à filosofia e poesia grega, das epopeias de Homero às
peças de William Shakespeare, de J.R.R Tolkien a George R. R.
Martin, as obras da literatura fornecem uma perspectiva
única da sociedade através dos olhos do autor.
• Dessa forma, a literatura é mais do que apenas um
artefato histórico ou cultural, pode servir como uma ponte
entre a realidade e um novo mundo de experiências.
As artes
Manifesto das Sete Artes (1912-1923) por Ricciotto Canudo
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Adições
posteriores
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• Em suma, entender a fundo sobre a literatura possibilita
uma melhor compreensão do mundo do entretenimento que
nos cerca e dá mais significado à nossa vida.
• Adicionalmente, em termos práticos, conhecimentos
literários serão cobrados em diversos processos seletivos,
vestibulares e ENEM. Sendo assim, é necessário dominar o
conteúdo.
• Por fim, é possível afirmar que pessoas que dominam a
literatura têm mais repertório sociocultural, o que as torna
mais interessantes e mais bem preparadas para a redação
do ENEM.
Literatura como arte

• Ficcionalidade e criatividade, haja vista que não há


compromisso com a realidade.
• Linguagem peculiar ao autor, é conotativa e
plurissignificativa, pois tem vários significados.
• Falta de função referencial, pois não há utilidade
científica nem necessidade de informatividade.
• Ambiguidade, pois pode haver várias interpretações
diferentes para o mesmo texto.
Análise literária do período
Contexto
histórico

Contexto
Academia
sociocultural

Avanços,
Tendências
descobertas
artísticas
e invenções

Política Religião Caminhante sobre o mar de névoa


Caspar David Friedrich – 1817
Romantismo
Análise literária do autor
Contexto
histórico

Contexto
Academia
sociocultural

Personalidade Formação
e estilo educacional

Experiências Crenças e
de vida convicções

Gênero,
etnia, classe
social Clarice Lispector – 1920 – 1977
Modernismo – Terceira Geração
• A linguagem empregada é de • A linguagem empregada é impessoal,
conteúdo pessoal, cheia de emoções e objetiva, linear, sem emoções e valores
valores do emissor e há o emprego da de quem escreve e não há
subjetividade. subjetividade.

• Emprego de linguagem • Emprego de linguagem denotativa,


plurissignificativa e repleta de clara e objetiva, de modo que o leitor
conotações. interprete de uma só forma.

• Linguagem poética, lírica, expressa • Linguagem objetiva. Científica e/ou


com objetivos estéticos na recriação jornalística, representação fiel da
da realidade ou criação de uma realidade tangível, sem objetivos
realidade intangível, somente literária. estéticos.

• Primor da expressão. Sendo assim, • Primor, prioridade à informação. Sendo


como toda arte, preza por externalizar assim, são textos não-artísticos, quem
e causar emoções. prezam por informar, ensinar.
Gêneros
Literários
Os gêneros literários

Aristóteles
Estagira, 384 a.C.
Atenas, 322 a.C.
Os gêneros literários

O filósofo grego Aristóteles propôs a divisão das produções


literárias em três gêneros:

ÉPICO LÍRICO DRAMÁTICO


Os gêneros literários
Cada gênero tinha características específicas que o
diferenciavam dos outros.

ÉPICO LÍRICO DRAMÁTICO


Ato 1
______________________________ ____________________________ Cena 1
_____________________________ _____________________________
______________________________ ____________________________ (entram todos)
______________________________ _____________________________
____________________________ Personagem 1: ___________________
______________________________ ____________________________ _______________________________
_____________________________ _____________________________ _______________________________
______________________________ ____________________________ Personagem 2: ___________________
______________________________ ______________________________ _______________________________
____________________________ _______________________________
______________________________ _____________________________ Personagem 1: ___________________
______________________________ ____________________________ _______________________________
______________________________ ____________________________ _______________________________
____________________________ Personagem 2: ___________________
_______________________________ ____________________________ _______________________________
___________________________ _____________________________ _______________________________
_____________________________ _____________________________ Personagem 1: ___________________
_______________________________ _______________________________
____________________________ _______________________________
______________________________ Personagem 2: ___________________
______________________________ _______________________________
_______________________________ _______________________________
_______________________________
Gênero épico
➢ O Gênero Épico é um gênero literário considerado como a mais
antiga manifestação literária. Do grego “epikós”, faz referência à
narrativa feita em versos que retrata acontecimentos grandiosos
(seja fatos históricos reais, lendários ou mitológicos) vinculados à
figura de um herói, considerado um semideus, isto é, um ser superior
dotado de superpoderes.
➢ O gênero épico surgiu na Antiguidade por volta do século VII
a.C., sendo os grandes representantes Homero, poeta grego
considerado o fundador da poesia épica, com suas obras “Ilíada”
e “Odisseia”; e Virgílio, poeta romano, com sua obra “Eneida”.
➢ Na Idade Média, o grande representante do gênero foi o poeta
italiano Dante Alighieri, com sua obra a “Divina Comédia”. Na
Idade Moderna, o poeta português Luís de Camões destacou-se
com a obra “Os Lusíadas”.
Gênero épico

➢ Principais Características:

➢ Poema longo (narrativa em verso)


➢ Texto narrativo
➢ Verbos e acontecimentos no passado
➢ Mitologia greco-romana
➢ Sobrenatural
Trecho do Canto 6 da "Odisseia”
Homero
Assim ele lá dormia, o muita-tenência, divino Odisseu,
dominado por sono e fadiga. E Atena
foi até a terra, a cidade dos varões feácios.
Eles antes moravam na espaçosa Hipereia,
próximo aos ciclopes, varões arrogantes,
que os lesavam, pois na força eram superiores.
De lá fê-los erguer-se o deiforme Nauveloz,
e assentou-os em Esquéria, longe de varão come-grão;
em volta puxou muro para a cidade, construiu casas,
fez templos de deuses e dividiu as glebas.
Mas ele, já subjugado pela morte, partira ao Hades,
e Alcínoo regia, versado em projetos vindos de deuses.
À sua casa foi a deusa, Atena olhos-de-coruja,
o retorno do enérgico Odisseu armando. (...)
Gênero lírico
➢ O Gênero Lírico é um dos três gêneros literários, ao lado do
gênero dramático e épico. Do latim, o termo “lyricu” faz referência
a “lira”, instrumento utilizado para acompanhar as poesias
cantadas.
➢ Com relação à forma, o gênero lírico é basicamente composto
por poesia (texto em verso), em detrimento dos outros gêneros que
são encontrados mais na prosa.
➢ Já no conteúdo, o gênero lírico utiliza do lirismo para
desenvolver temas mais subjetivos relacionados ao amor,
sentimentos, pensamentos e natureza.
Gênero lírico

➢ Principais Características:

➢ Poesia (escrita em versos)


➢ Subjetividade
➢ Sentimentalidade, emotividade e afetividade
➢ Metrificação e rima
➢ Musicalidade
“Soneto de separação”
Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Gênero dramático
➢ O Gênero Dramático (ou Teatral) faz parte de um dos três
gêneros literários, ao lado do gênero lírico e épico.

➢ No entanto, o gênero dramático, como o próprio nome indica,


são os textos literários feitos com o intuito de serem encenados ou
dramatizados. Do grego, a palavra “drama” significa “ação”.

➢ Desde a Antiguidade o gênero dramático, originário na Grécia,


eram textos teatrais encenados essencialmente como culto aos
deuses, os quais eram representados nas festas religiosas.

➢ Entre os principais autores do gênero dramático (tragédia e


comédia) na Grécia antiga estão: Sófocles (496-406 a.C.),
Eurípedes (480-406 a.C.) e Ésquilo (524-456 a.C.).
Gênero dramático

➢ Principais Características:

➢ Encenação cênica (linguagem gestual e sonoplastia)


➢ Presença de diálogos e monólogos
➢ Divido em atos e cenas
➢ Geralmente não há narrador
➢ Presença de rubricas, que indicam ações e cenários
Trecho de “Macbeth”
William Shakespeare

ATO I - Cena I
(Lugar deserto. Trovões e relâmpagos. Entram três bruxas.)

PRIMEIRA BRUXA — Quando estaremos à mão com


chuva, raio e trovão?
SEGUNDA BRUXA — Depois de calma a baralha e
vencida esta batalha.
TERCEIRA BRUXA — Hoje mesmo, então, sem falha.
PRIMEIRA BRUXA — Onde?
SEGUNDA BRUXA — Da charneca ao pé.
TERCEIRA BRUXA — Para encontrarmos Macbeth.
PRIMEIRA BRUXA — Graymalkin, não faltarei.
SEGUNDA BRUXA — Paddock chama.
TERCEIRA BRUXA — Depressa!
TODAS — São iguais o belo e o feio; andemos da
névoa em meio.
(Saem)
Gênero narrativo
➢ A nomenclatura “gênero épico” sofreu alterações ao longo dos
anos. Atualmente, privilegia-se a substituição da nomenclatura
gênero épico para gênero narrativo, considerada mais atual.

➢ Neste gênero, é feita a narração em prosa de uma história


através de uma sequência de várias ações reais ou imaginárias.
Essa sucessão de acontecimentos é contada por um narrador e
está estruturada em introdução, desenvolvimento e conclusão. Ao
longo dessa estrutura narrativa são apresentados os principais
elementos da narração: espaço, tempo, personagem, enredo e
narrador.

➢ Hoje consideramos os textos do gênero épico como parte do


gênero narrativo, pois narram acontecimentos, mas em verso.
Gênero narrativo

➢ Principais Características:

➢ É escrito maioritariamente em prosa;


➢ A ação é contada por um narrador;
➢ Ocorre a narração de uma sucessão de acontecimentos reais ou
imaginários;
➢ Apresenta a estrutura básica de introdução, desenvolvimento e
conclusão;
➢ A ação se desenrola num tempo e num espaço;
➢ Pode ser utilizado um discurso direto, indireto ou indireto livre.
Trecho de “O Hobbit”
J. R.. R.. Tolkien

Lá estava Smaug, um enorme dragão vermelho-


dourado, dormindo profundamente, um ruído
palpitante vinha de suas narinas e mandíbulas, junto
com tufos de fumaça, mas, no sono, o fogo estava
arrefecido. Embaixo dele, sob os membros e a
grande cauda enrolada, e em torno dele, por todos
os lados, espalhando-se pelo chão invisível, jaziam
incontáveis pilhas de objetos preciosos, ouro
trabalhado e ouro bruto, pedras e joias, e prata,
que a luz rubra tingia de vermelho. Lá estava Smaug.
As asas recolhidas como as de um morcego
incomensurável, virado parcialmente para um lado,
de modo que o hobbit podia ver a parte inferior de
seu corpo, a barriga comprida e clara cravejada de
pedras e fragmentos de ouro, de passar tanto tempo
sobre leito tão precioso.
Gênero
Narrativo
Gênero narrativo
▪ Estrutura:

➢ Introdução (início): personagens, tempo, espaço e narrador são


apresentados, mas estão presentes ao longo da narrativa.

➢ Desenvolvimento (meio): o conflito é introduzido e movimenta a


narrativa. Ao longo do desenvolvimento, uma série de eventos
acontecem e culminam no clímax, o ponto mais alto de tensão.

➢ Conclusão (fim): O conflito (ou conflitos) é resolvido e a


narrativa é concluída.
Estrutura
Narrador
▪ Personagem:
➢ 1ª pessoa: participa da história e narra a partir do seu ponto
de vista. É mais limitado e pode não ser confiável.

▪ Onisciente:
➢ 3ª pessoa: não participa da história, é a voz do autor, que
sabe todas as coisas sobre a narrativa. É ilimitado, mas pode
omitir informações e revelá-las quando for mais oportuno.

➢ * O “narrador observador”, conceito popularizado no Brasil, nada mais é do que


um narrador em 3ª pessoa, mas com ponto de vista limitado, e não é muito comum.
Tempo e espaço
▪ Tempo:
➢ Quando a narrativa acontece. Pode ser cronológico (real, em
progresso) ou psicológico (memórias, pensamentos).

▪ Espaço:
➢ Onde a narrativa ocorre. Pode ser físico (real, tangível) ou
psicológico (memórias, pensamentos, imaginação).
Conflito
Elemento de importância indispensável. Pode-se dizer que sem o
conflito não há progressão do enredo.

▪ Perda:
➢ O protagonista perde uma pessoa amada, algo/alguém
importante desaparece, uma catástrofe traz graves perdas etc.

▪ Aquisição:
➢ O protagonista adquire uma informação que não possuía antes
ou recebe uma notícia, alguém encontra algo, um novo
personagem integra a narrativa etc.

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