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CRITÉRIO C

EXPRESSÃO: MODALIDADE E COESÃO

PROFA. DRA. JULIANA SIMÕES FONTE


jfonte@vunesp.com.br

SÃO PAULO
2021
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Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................................3
MODALIDADE ...............................................................................................................................................................4
TIPOS DE ERRO .........................................................................................................................................................5
ERROS GRAVES .....................................................................................................................................................6
Ortografia .............................................................................................................................................................9
Separação silábica...............................................................................................................................................11
Acentuação .........................................................................................................................................................15
Crase ...................................................................................................................................................................18
Pontuação ...........................................................................................................................................................20
Concordância verbal e nominal ..........................................................................................................................24
Regência..............................................................................................................................................................26
Construção frasal ................................................................................................................................................27
Precisão lexical....................................................................................................................................................30
Informalidade .....................................................................................................................................................32
É sempre bom lembrar ...........................................................................................................................................33
COESÃO.......................................................................................................................................................................35
COESIVOS INTERPARÁGRAFOS ACEITOS (PARA C4) ...............................................................................................38
COESIVOS INTERPARÁGRAFOS NÃO ACEITOS (PARA C4) .......................................................................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................................40
AGRADECIMENTOS .....................................................................................................................................................41
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................................................42
ANEXOS .......................................................................................................................................................................43
ANEXO A - GRADE COMPLETA (CRITÉRIO C)...............................................................................................................44
ANEXO B - INFORMAÇÕES SOBRE O CRITÉRIO C DIVULGADAS EM EDITAL ...............................................................45
ANEXO C - REDAÇÕES CORRIGIDAS (NO CRITÉRIO C).................................................................................................46
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APRESENTAÇÃO
O objetivo deste manual é apresentar aos examinadores de provas de redação de
processos seletivos promovidos pela Fundação VUNESP informações sobre a avaliação do
critério C, que é dedicado à expressão dos autores (candidatos a vagas oferecidas em
vestibulares e concursos) em textos escritos em língua portuguesa.

São avaliadas, por meio do critério C, a modalidade escrita (formal e monitorada) e a


coesão textual. Na modalidade, são examinados os aspectos gramaticais (convencionais) da
língua portuguesa, tais como ortografia, acentuação, pontuação, regência, concordância
(verbal e nominal) etc., bem como a escolha lexical (precisão vocabular) e o grau de
formalidade/informalidade expresso em palavras e expressões. Na coesão, são observados os
recursos empregados no texto para tornar mais clara e precisa a relação entre palavras,
orações, períodos e parágrafos.

Ao longo deste manual, estão explicitados os principais esclarecimentos sobre a


avaliação de cada um desses itens (MODALIDADE e COESÃO), nas provas de redação dos
processos seletivos da Fundação VUNESP.

Boa leitura!
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MODALIDADE
A grade de avaliação adotada nas correções da Fundação VUNESP prevê uma
pontuação de 1 a 4 para a expressão escrita (critério C) dos candidatos. No que diz respeito,
especificamente, à MODALIDADE, a pontuação é atribuída de acordo com as inadequações
gramaticais e/ou de escrita presentes no texto:

O diagrama abaixo ilustra essa distribuição de erros para cada faixa de nota:
5

Alguns parâmetros e exemplos referentes aos erros anteriormente mencionados estão


arrolados no esquema a seguir:

A próxima subseção, intitulada Tipos de Erro, dedica-se a cada uma das categorias de
erro consideradas nas avaliações das provas de redação da Fundação VUNESP.

TIPOS DE ERRO
A avaliação da modalidade, nas provas de redação da Fundação VUNESP, considera
“erro” qualquer desvio que desrespeite as convenções ortográficas (determinadas por lei) e a
norma-padrão adotada pelas Gramáticas da língua portuguesa. Convém observar, no entanto,
que algumas regras prescritas pela norma-padrão considerada para a língua portuguesa (já)
não condizem com os usos (inclusive de escrita formal e monitorada) vigentes no Brasil (ex.:
regras de colocação pronominal - ênclise, próclise e mesóclise). Por esse motivo, conforme se
verá ao longo deste manual, não serão penalizados, nas avaliações das redações, alguns
“desvios” da norma-padrão, especialmente aqueles apontados por linguistas como recorrentes
em textos de escrita formal e monitorada dos brasileiros (em livros, revistas e jornais
renomados, por exemplo, que passam por revisão gramatical).

A primeira categorização considerada nas avaliações das provas divide os erros em


graves e não graves em relação ao nível de escolarização exigido pelo processo seletivo
(vestibular ou concurso).
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A próxima subseção está inteiramente dedicada aos erros considerados graves nas
avaliações de provas de redação da Fundação VUNESP. Já as subseções seguintes dedicam-
se aos erros não graves de: ortografia, separação silábica, acentuação, crase, pontuação,
concordância (verbal e nominal), regência (verbal e nominal), construção frasal, precisão
lexical e informalidade.

ERROS GRAVES
Os erros graves, nas avaliações das provas de redação da Fundação VUNESP, são
determinados de acordo com o grau de escolarização dos candidatos, já que todos os
processos seletivos exigem uma formação mínima dos participantes, que costuma variar entre
Ensino Fundamental completo (vestibulinhos ou concursos), Ensino Médio completo
(vestibulares ou concursos) e Ensino Superior completo (concursos).

Com base nos desvios geralmente registrados nos textos dos candidatos inscritos nos
processos seletivos promovidos pela VUNESP, a equipe técnica de correção da Fundação
definiu como graves (para qualquer um dos níveis de escolarização anteriormente
mencionados, sobretudo porque são desvios frequentemente identificados no processo de
alfabetização) os erros indicados na tabela da página a seguir.

Conforme mencionado anteriormente neste manual, a presença de TRÊS erros graves


(de qualquer tipo) pode levar à nota 1 ou 2, no critério C, de acordo com as demais
combinações encontradas no texto (ex.: erros recorrentes, erros variados ou muitos erros). A
opção graves, nas faixas de nota 1 e 2 do critério C, pressupõe, portanto, a presença de, no
mínimo, três erros desse tipo, na redação. Se houver menos de três erros graves, esses erros
deverão ser enquadrados em uma das categorias previstas para os erros não graves (ex.:
ortografia para brincá ou brincô em lugar de brincar ou brincou, respectivamente). É importante
observar, no entanto, que a presença de DOIS erros graves impede que a redação receba nota
máxima (4), nesse critério.

Na tabela da página a seguir, também estão indicados os desvios que representam


exceções (quando há) às regras que determinam os erros graves: não serão consideradas
graves, por exemplo, as segmentações (hipo ou hiper) que formarem palavras ou expressões
existentes na língua (ex.: afim por a fim, contudo por com tudo e vice-versa). Esses desvios
serão penalizados como erros de precisão lexical, nas avaliações das provas de redação.

Vejamos, a seguir, a tabela com as especificações referentes aos erros graves:


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EXCEÇÕES
TIPO DE ERRO EXEMPLOS
(são erros, mas não graves)

▪ brincavão (brincavam)
DIFERENCIAÇÃO DE
▪ deveram (deverão)
AM/ÃO (FUTURO E —
▪ brincão (brincam)
PASSADO/PRESENTE)
▪ estam (estão)

AUSÊNCIA DA LETRA “D” ▪ brincano (brincando)



EM CASOS DE GERÚNDIO ▪ bateno (batendo)

AUSÊNCIA DA LETRA “U” ▪ brinco (brincou)



EM DITONGOS FINAIS “OU” ▪ falo (falou)

AUSÊNCIA DA LETRA “R”


Devem brinca (Devem brincar) —
NO INFINITIVO

INCLUSÃO DA LETRA “R”


O mundo estar muito violento
EM VERBOS QUE NÃO —
(O mundo está muito violento)
ESTÃO NO INFINITIVO

▪ princadeira (por brincadeira)


▪ limitato (por limitado)
TROCA SURDA/SONORA
▪ fogo (por foco) —
P/B; T/D; K/G; F/V
▪ crave (por grave)
▪ fiolência (por violência)

▪ a trapalha ou a-trapalha (atrapalha) ▪ afim de (a fim de)


▪ des de ou des-de (desde) ▪ se não (senão)
▪ considerar mos ou considerar-mos ▪ se quer (sequer)
(considerarmos) ▪ a onde (aonde)
▪ ensinalas (ensiná-las) ▪ a cerca (acerca)
SEGMENTAÇÃO
▪ nosamigos (nos amigos) ▪ por tanto (portanto)
HIPO E HIPERSEGMENTAÇÃO
▪ serumano (ser humano) ▪ entre tanto (entretanto)
▪ oque/doque (o que/do que) ▪ toda via (todavia)
▪ concerteza (com certeza) ▪ com tudo (contudo)
▪ derrepente (de repente) ▪ a diante (adiante)
▪ apartir (a partir) ▪ a final (afinal)

Cabe ressaltar que, quando o número mínimo (3) de erros graves não for alcançado, os
desvios apontados na tabela deverão ser penalizados como erros de ortografia (ex.:
brincavão, brincão, estam, brincano, fiolência, des de, oque, derrepente) ou precisão lexical
(ex.: estar por está, brinca por brincar e vice-versa).

Outro esclarecimento relevante, em relação aos erros graves, diz respeito à


diferenciação, no processo de correção, entre separação silábica e hipersegmentação. Os
desvios envolvendo separação silábica, em geral, ocorrem na translineação: ao continuar o
texto na linha seguinte, o candidato faz uma separação equivocada (de acordo com as regras
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de ortografia previstas). Já os problemas relacionados à hipersegmentação ocorrem fora do


contexto de translineação e consistem em separações “desnecessárias” de vocábulos,
sugerindo que o candidato não conhece a ortografia oficial do termo e julgou, provavelmente
influenciado pela pronúncia ou pela grafia de construções semelhantes, que haveria uma
separação gráfica (ex.: considerar-mos ou considerar mos). Neste último caso, normalmente,
não há desvio na separação das sílabas (de acordo com as regras ortográficas, em
considerarmos, por exemplo, a separação silábica é feita desta forma: con-si-de-rar-mos); o
problema está na representação gráfica do vocábulo, que foi separado, indevidamente, em
duas partes (ou mais), a partir do uso de hífen ou não (em muitos casos, a separação é feita
apenas por espaçamento entre as partes). Conforme observado anteriormente, a
hipersegmentação (assim como a hiposegmentação) só não será considerada erro grave (mas
será considerada erro), nas avaliações das provas de redação, quando a forma criada existir
(em geral, existe com outro sentido) na língua portuguesa (ex.: se não, com tudo, por tanto
etc.).
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Ortografia
A avaliação da ortografia, nas provas de redação da Fundação VUNESP, fundamenta-se
no Novo Acordo Ortográfico, cuja adoção é obrigatória, no Brasil, desde janeiro de 2016.
Assim, são penalizadas as grafias que não correspondam à ortografia oficial prevista em lei no
Brasil:

oltro (por outro);


bonba (por bomba);
brigan (por brigam);
vigemte (por vigente);
agreção (por agressão);
esteriótipo (por estereótipo);
paleativo (por paliativo);
previnir (por prevenir);
advinhar (por adivinhar);
súbto (por súbito);
á séculos (por há séculos);
a onde (por aonde).

E quando há, na mesma palavra, mais de um erro de ORTOGRAFIA?


empase (por impasse) – contar 1 erro de ortografia;
ideosincrático (por idiossincrático) – contar 1 erro de ortografia.

Equívocos envolvendo til e cedilha também são considerados erros de ortografia.

SÃO PENALIZADOS
▪ Uso incorreto ou não uso de til
mañha (uso incorreto)
mae (não uso)

▪ Uso incorreto ou não uso de cedilha


çriança (uso incorreto)
crianca (não uso)
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E quando faltam, na mesma palavra, cedilha e til?


nacao (por nação) – contar 1 erro de ortografia.

NÃO SÃO PENALIZADOS


▪ Falta de pingo sobre a vogal i;
▪ Falta de corte na consoante t;
▪ Erros envolvendo nomes próprios ou estrangeiros;
▪ Erros envolvendo o uso dos PORQUÊS (PORQUE, POR QUE, PORQUÊ E POR QUÊ)
▪ Erros envolvendo hífen (em palavras compostas)1
Mal-sucedido (por malsucedido)
Audio-visual (por audiovisual)
Video-chamada (por videochamada)

1 Será penalizado o não uso de hífen para separar o pronome pessoal oblíquo de verbos (ex.: deixá los, fazê los).
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Separação silábica
Na língua portuguesa, são possíveis, no que diz respeito ao quesito fonológico, os
seguintes tipos de sílaba, em que V representa a “vogal” (elemento essencial em qualquer
sílaba do português) e C, a consoante:

V: a-mor, e-co, i-da, o-co, uso, sa-í-da, sa-ú-de, ba-ci-a, ma-ci-o;


VV: au-la, eu-ro, ei-ra, ou-ro, ui-vo (ditongos);
CV: sa-la-da, pe-da-ço, co-lu-na (sílaba mais comum na língua);
CVV: pão, mau, fei-o, mai-o, ânsia, qua-se (ditongos);
CVVC: mais, seus, seis, dois, quais (ditongos)2;
VC: as-ma, al-go, en-te, or-gu-lho, ul-tra, fa-ís-ca (S/Z, N/M, L e R: consoantes mais comuns na coda)3;
ad-vo-ga-do, ap-to, af-ta, ec-ze-ma (P/B, T/D, C/G E F: consoantes menos comuns na coda);
VCC: ins-tan-te (a segunda consoante da coda sempre é /S/);
CVC: pas-ta, mas, por-co, den-te, som, sul, mal (S/Z, N/M, L e R: consoantes mais comuns na coda);
rit-mo, dig-no, pac-to, sob (P/B, T/D, C/G E F: consoantes menos comuns na coda);
CVCC: pers-pi-caz, pa-ra-béns, fór-ceps, bí-ceps (a segunda consoante da coda sempre é /S/);
CCV: bra-vo, claro, flocos (CC mais comuns no ataque: P/B, T/D, C/G ou F/V + L ou R);
psi-có-lo-go, gno-mo, mne-mô-ni-co (CC pouco comuns no ataque: PS, MN, GN)4;
CCVV: trau-ma, pneu (ditongos);
CCVC: flor, drás-ti-co, fras-co, bron-ca, fran-co, gram-po;
CCVVC: claus-tro (ditongos);
CCVCC: trans-for-mar.

Nesses exemplos, todos os elementos gráficos (grafemas) que compõem as sílabas são
pronunciados na fala (1 grafema = 1 fonema). Existem, no entanto, exemplos, na língua
portuguesa, em que dois grafemas (dígrafos) representam um único som:
2 Tritongos (sílabas com três vogais juntas) ocorrem, no português, sempre diante de <qu> ou <gu> (ex.: quais,
iguais, Paraguai), que são consideradas consoantes complexas (labializadas) por alguns estudos fonético-
fonológicos. Por esse motivo, a vogal das sequências <qu> e <gu> não costuma ocupar uma posição na estrutura
da sílaba (qu e gu = C): qual (CVC) e quais (CVVC). Convém esclarecer, no entanto, que, de acordo com as
normas ortográficas, as sequências <qu> e <gu> não devem ser apartadas, na separação silábica, da vogal do
núcleo (ex.: qual, quais, qua-se, Para-guai).
3 Toda sílaba apresenta um núcleo, que, no português, é preenchido por uma vogal. Algumas sílabas também
apresentam elementos antes e/ou depois do núcleo. Na Fonologia, convencionou-se chamar de ataque ou onset
as consoantes que precedem a vogal do núcleo (ex.: CV, CCV) e de coda as consoantes que sucedem a vogal do
núcleo (ex.: VC, VCC). Quando há uma sequência de duas vogais na mesma sílaba (VV), temos uma vogal
principal (ocupando o núcleo da sílaba) acompanhada de uma semivogal (/i/ ou /u/ - fonemas que podem ser
representados, na escrita, por <i>,<e> ou <u>,<o>). Como a vogal do núcleo é o elemento mais proeminente de
uma sílaba, os chamados ditongos crescentes (proeminência crescendo em direção ao núcleo) são formados por
semivogal + vogal (ânsia, errôneo, mágoa, tênue), ao passo que os ditongos decrescentes (proeminência
decrescendo depois do núcleo) são constituídos de vogal + semivogal (mais, dois, mau, véu).
4 Chamamos ataque (ou onset) ramificado a sílaba com duas consoantes antes da vogal do núcleo. Os brasileiros,
em geral, a inserem, na pronúncia, uma vogal epentética entre as consoantes menos comuns no ataque
ramificado (p[i]sicólogo, g[ui]nomo, m[i]nemônico).
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• <qu> e <gu> (quando a vogal não é pronunciada): /k/ e /ɡ/ (ex.: que, pegue)
• <ch>: /ʃ/ (ex.: chá, chuva)
• <lh>: /ʎ/ (ex.: malha, velho)
• <nh>: /ɲ/ (ex.: manha, vinho)
• <ss>, <sc> e <xc>: /s/ (ex.: assa, crescer, exceção)

• <rr>: /h/ ou /x/ (R forte) (ex.: barra, correr)

Em termos fonológicos, portanto, dígrafos representam um único elemento consonantal,


que ocupa apenas uma posição (C) na estrutura silábica:

QUE, PE-GUE, CHÁ, MA-LHA, MA-NHA, MASSA, BARRA


CV CV CV CV CV CV CV
/ke/ /ɡe/ /ʃa/ /ʎa/ /ɲa/ /sa/ /ha/

No que diz respeito aos padrões ortográficos, a norma dita a junção de <ch>, <lh> e
<nh>, na mesma sílaba, e a separação, em sílabas diferentes, dos dígrafos que representam
os sons /s/ e R forte:

a-qui, pe-gue, a-cha, ma-lha, ma-nha

mas-sa, cres-ce, ex-ceção, bar-ra

Serão penalizadas, nas avaliações das provas de redação, todas as separações silábicas
que não estiverem em conformidade com as regras prescritas para a língua portuguesa, como
mostram os exemplos a seguir:

p-ena, fal-a, mai-s, a-sma, qua-l, u-ltra, o-rgulho, in-stante, i-nspira, parabén-s,
per-spicaz, e-nte, sa-nto, p-rova, c-laro, bícep-s.

Também são considerados erros de separação silábica os casos envolvendo a separação


(indevida) de vogais, a junção (indevida) de dígrafos e o deslocamento de consoantes pouco
comuns na coda ou no ataque ramificado, que, normalmente, formam, na fala dos brasileiros,
sílabas independentes (CV), a partir da inserção de uma vogal epentética:
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- separação de ditongos: brincade-ira, tra-uma, ma-is, cla-ustro, ânsi-a;

- junção (indevida) de dígrafos: ma-ssa, cre-scer, e-xceção, co-rrer;

- deslocamento de consoante incomum na coda ou no ataque ramificado: a-pto, a-fta, a-


dvogado, di-gno, ri-tmo, p-neu, p-sicólogo.

É válido salientar também, em relação aos casos com consoantes incomuns na coda ou
no ataque ramificado, que correspondem a sílabas com coda preenchida por obstruintes
(oclusivas: /p,b,t,d,k,ɡ/; fricativa: /f/) ou com ataques ramificados que não são formados por
obstruintes seguidas de líquidas5 (ex.: bravo, pluma, claro, greve, flor etc.). Nessas sílabas,
frequentemente, em muitas variedades (de fala) brasileiras, a consoante da coda ou a primeira
consoante do ataque ramificado junta-se a uma vogal epentética para formar outra sílaba (mais
comum no português - CV):

a-p[i]-to a-f[i]-ta a-d[i]-vo-ga-do di-g[ui]-no ri-t[i]-mo

p[i]-si-có-lo-go m[i]-ne-mô-ni-co g[ui]-no-mo

Por último, no que diz respeito aos casos envolvendo encontro vocálico, é importante
que não sejam confundidos hiatos (vogais em sílabas diferentes) com ditongos (vogais na
mesma sílaba). A seguir, estão apresentados exemplos dos diferentes encontros vocálicos
possíveis na língua portuguesa:

▪ ditongos decrescentes (vogal + semivogal /i/ ou /u/)


- aula, euro, eira, ouro, uivo, brincadeiras, dois, mau, mais, pão, mão, mães.

▪ ditongos crescentes (semivogal /i/ ou /u/ + vogal)


- ânsia, árduo, barbárie, errôneo, espécie, mágoas, tênues, quase, igual.

▪ tritongos
- quais, iguais, Paraguai, Uruguai.

5 São conhecidas como obstruintes, de acordo com os estudos de Fonética, as consoantes oclusivas (ex.:
[p,b,t,d,k,g]) e fricativas (ex.:[f,v]); como líquidas são conhecidas as consoantes [ɾ] (“r” fraco ou tepe) e [l].
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▪ hiatos
- cons-ti-tu-í-do, sa-í-da, ra-í-zes, pa-í-ses, pa-ís, e-go-ís-mo, (eu) a-tri-bu-í;
- sa-ú-de, a-mi-ú-de, ba-ús, re-ú-ne;
- ra-i-nha, mo-i-nho;
- ju-iz, ra-iz, ca-ir, a-in-da, Ra-ul, pa-ul.

▪ ditongo + hiato
- fei-o, mai-o, apoi-o, fei-u-ra.
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Acentuação
A avaliação da acentuação, nas provas de redação da Fundação VUNESP, também se
fundamenta no Novo Acordo Ortográfico. Estão apresentadas, a seguir, as principais normas
de acentuação gráfica vigentes para a língua portuguesa:

Acentuam-se: EXEMPLOS
os terminados em:
MONOSSÍLABOS a(s) - já, pá(s), má(s), vá, há, dá-lo;
TÔNICOS e(s) - sé, pé(s), mês, lê, crê, vê-los;
o(s) - pó, dó, nós, cós, pôs, pô-los;
ditongos abertos - réu, céu, véu, dói, mói.
os terminados em:
a(s) - Pará, quiçá, aliás, atrás, dará, tirá-lo,
e(s) - café, através, cortês, vencê-los, corroê-lo;
OXÍTONOS o(s) - paletó, robô, avós, dispô-los, propô-las;
em(ens) - além, também, parabéns;
ditongos abertos - papéis, troféu, réus, herói, corrói, faróis.
os terminados em:
i(s) - júri, táxi, dândi, lápis, grátis;
us - bônus, Vênus, vírus;
ã(s) - ímã(s), órfã(s);
ão(s) - bênção(s), órfão(s), órgão(s);
um(uns) - álbum(ns), médium(ns);
on(s) - próton(s), elétron(s), nêutron(s);
PAROXÍTONOS l - ágil, fácil, cônsul, móvel, túnel;
n - hífen, pólen, abdômen;
r - açúcar, caráter, cadáver, mártir;
x - fênix, tórax, látex;
ps - bíceps, fórceps;
ditongos crescentes - ânsia, árduo, barbárie, espécie, errôneo,
mágoas, tênues.
cônjuge, bêbado, lágrima, lógico, máximo,
música, mórbido, sábado, príncipe, próximo,
PROPAROXÍTONOS todos tímido, tráfico, trágico, trânsito, único, último,
lêssemos, devêssemos, quiséssemos,
pedíssemos, gostaríamos, percebêssemos.
- constituído, saída, raízes, países, país,
i(s) ou u(s), egoísmo, (eu) atribuí, atraí-los, destruí-las;
sozinhos na sílaba, - saúde, amiúde, baús, reúne;
exceto quando - feiura;
HIATOS diante de ditongo - rainha, moinho.
(em paroxítonas) ou ATENÇÃO: não estão sozinhas, na
de nh. sílaba, as vogais i e u das palavras:
juiz, raiz, cair, ainda, Raul, paul.
ACENTO alguns verbos no Ele tem x eles têm;
DIFERENCIAL plural (com acento Ele detém x eles detêm;
(MORFOLÓGICO) circunflexo). Ele vem x eles vêm;
Ele provém x eles provêm. (do verbo provir)
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Note que:
DITONGOS ABERTOS
São acentuados em oxítonas: anéis, chapéu, fogaréu, herói, constrói, corrói, faróis;
Não são acentuados em paroxítonas: ideia, europeia, estreia, heroico, joia, [eu] apoio.

VOGAIS DUPLAS
Não são acentuadas: creem, deem, leem, veem, enjoo, voo.

SÃO PENALIZADAS
▪ A ausência equivocada do acento gráfico:
Eles tem respeito.
Ele detem o poder.
Essas são as situações que nos convem.
Os orgãos de saúde foram omissos.
Ha alguns anos.
A situação e essa.

▪ A presença equivocada do acento gráfico:


Assim é o poder nú e crú.
Vim, lí e vencí.
É de uma ingênuidade ímpar.
Frequêntemente estamos enganados.
Foi uma idéia tola e passageira.
Sempre apóio causas justas.

▪ A troca de um acento por outro:


Ele detêm o poder.
Essas são as situações que nos convém.
Tinha uma ánsia de viver.
Se quisêssemos isso, pediríamos.
Trata-se de uma falàcia.
O fato ocorreu hà anos.
Os homens sentem-se á vontade para tomar esse tipo de liberdade.
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▪ A presença de trema:
Falam disso com freqüência.

NÃO SÃO PENALIZADOS


▪ Erros envolvendo nomes próprios ou estrangeiros;
▪ Erros envolvendo o uso dos PORQUÊS (PORQUE, POR QUE, PORQUÊ E POR QUÊ).

ACENTUAÇÃO E ORTOGRAFIA – algumas observações


Quando o candidato escreve em uma mesma redação:
▪ consciencia, consciêntização e consciênte (mesma raiz) - contar apenas 1 erro de acentuação.

▪ conciência, concientização e conciente (mesma raiz) - contar apenas 1 erro de ortografia.

▪ conciencia - contar 1 erro de acentuação e 1 erro de ortografia.

▪ cônciencia e conciencia - contar 1 erro de acentuação e 1 erro de ortografia.


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Crase
São penalizados como erros de crase, nas avaliações das provas de redação, os
problemas envolvendo o emprego do acento (grave) indicativo de crase ou a não junção da
preposição a com uma vogal subsequente idêntica com a qual deveria se unir (crase), de
acordo com as normas gramaticais prescritas para a língua portuguesa (ex.: à, àquele(s),
àquela(s), àquilo).

SÃO PENALIZADAS
▪ Separação (equivocada) entre a preposição a e a vogal inicial do pronome subsequente:
a aquilo, a aquele(a); (contar 1 erro de crase em cada situação)
a àquilo, a àquele(a); (contar 1 erro de crase em cada situação)
à aquilo, à aquele(a). (contar 1 erro de crase em cada situação)

▪ Separação (equivocada) entre a preposição a e o artigo definido a(s):


Ela entregou a a juíza; (contar 1 erro de crase)
Ela entregou a à juíza; (contar 1 erro de crase)

▪ Marca de crase diante de palavras no masculino (singular ou plural):


Direito à transporte.

▪ Marca de crase diante de verbos, de artigos indefinidos e de alguns pronomes:


Aprendeu à respeitar.
Responder à uma questão difícil.
Entregou à ela.

▪ Marca de crase diante de palavras repetidas:


É um fato do dia à dia.

▪ Marca de crase diante de palavras no feminino plural (quando falta o artigo “as”):
Contrário à mudanças.

▪ Ausência da marca de crase diante de palavras no feminino plural (quando o artigo “as” está
presente):
Contrário as mudanças.

▪ Marca de crase com verbos que não pedem a preposição "a":


O texto expressa à opinião do autor.
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▪ Ausência da marca de crase diante de locuções adverbiais no feminino:


a toa, a vontade, a mercê, a frente, a medida que, as vezes, a noite, a beira de

NÃO É PENALIZADA
▪ A ausência da marca de crase diante de palavras no feminino singular (preposição "a",
sem artigo "a"):

Acesso a educação.
Direito a saúde.

RESUMO – ACENTO INDICATIVO DE CRASE

IMPORTANTE!
Serão penalizados apenas uma vez os desvios de crase (envolvendo EXATAMENTE o mesmo
contexto – preposição e vocábulo seguinte, independentemente do verbo) que se repetirem
ao longo da redação:
à essa apareceu duas vezes ((ex.: foi à essa, chegou à essa) na redação – penalizar apenas 1 vez!
à ela apareceu duas vezes na redação (ex.: entregou à ela, contou à ela) – penalizar apenas 1 vez!
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Pontuação
▪ Ponto de interrogação
SÃO PENALIZADOS O USO INCORRETO OU O NÃO USO DE PONTO DE
INTERROGRAÇÃO

Quem deveria responder por isso. É claro, o prefeito? (uso incorreto)


Quem deveria responder por isso. É claro, o prefeito. (não uso)

▪ Aspas e parênteses
SÃO PENALIZADOS QUANDO O EMPREGO NÃO É COMPLETO
Os alimentos estão “custando os olhos da cara. (não fechou as aspas)
Universidade de São Paulo (USP. (não fechou o parêntese)

▪ Vírgulas
SÃO PENALIZADOS CASOS EM QUE A VÍRGULA SEPARA:
- o sujeito do verbo:
Todos, sem exceção têm direitos iguais.
SUJEITO VERBO

Convém, primeiramente que o Estado faça a sua parte.


VERBO SUJEITO ORACIONAL (pode ser substituído por ISSO)

CONVÉM ISSO

Isso, convém.
SUJEITO VERBO

- o verbo de seus complementos:


Todos têm sem exceção, direitos iguais.
VERBO OBJETO DIRETO

O Estado alega frequentemente, que faltam recursos.


VERBO OBJETO DIRETO ORACIONAL (pode ser substituído por ISSO)

OBJETO INDIRETO

Os gráficos informam ao leitor, que a taxa de desemprego aumentou no último ano.


VERBO OBJETO DIRETO ORACIONAL (pode ser substituído por ISSO)
21

- o nome de seus adjuntos ou complementos:


O argumento, muito polêmico do autor.
O argumento não foi suficiente para a defesa desse, muito polêmico ponto de vista.
A informação foi relevante para a conclusão, efetiva do caso.

- locução conjuntiva da oração:


Visto que atualmente, não se pode confiar em ninguém...
Ainda que, no passado houvesse menos tecnologia...

- conjunções que, e, mas, como, porque, pois (EXPLICATIVA ou CAUSAL)6 dos


complementos subsequentes:
O país, que, está em crise econômica...
e, os tempos mudaram.
mas, os tempos mudaram.
como, os tempos mudaram.
porque, os tempos mudaram.
pois, os tempos mudaram.

NÃO É PENALIZADA A AUSÊNCIA DE VÍRGULA (inclusive em enumerações)


Note que, em alguns dos exemplos apontados anteriormente, a inserção de uma vírgula
resolveria o problema de pontuação das sentenças:

Todos, sem exceção, têm direitos iguais.


Convém, primeiramente, que o Estado faça a sua parte.
O Estado alega, frequentemente, que faltam recursos.
Visto que, atualmente, não se pode confiar em ninguém...
Ainda que, no passado, houvesse menos tecnologia...

6 Quando usada para expressar conclusão, a conjunção pois aparece depois do verbo e pode ser substituída por
portanto: “Tornaram-se, pois, pessoas insensíveis”; “Não teve medo de enfrentar o perigo. Arriscou-se, pois”. NÃO
serão penalizados problemas envolvendo o uso (ou o não uso) de vírgulas para isolar (ou não) a conjunção
CONCLUSIVA pois. Dito de outro modo, se o candidato não usar vírgula(s) para isolar a conjunção conclusiva, ele
não será penalizado por isso: “Tornaram-se pois pessoas insensíveis”; “Não teve medo de enfrentar o perigo.
Arriscou-se pois”. Contudo, se o candidato usar apenas uma vírgula, antes ou depois da conjunção conclusiva no
meio da oração, o verbo ficará separado do sujeito ou de seus complementos: “Tornaram-se pois, pessoas
insensíveis” ou “Tornaram-se, pois pessoas insensíveis”. Nesse caso, o emprego da vírgula será penalizado.
22

Contudo, é importante ressaltar que o erro considerado, nesses casos, refere-se ao


USO EQUIVOCADO da vírgula (que separa elementos que não poderiam ser separados, de
acordo com as normas gramaticais vigentes) e não à ausência de uma segunda vírgula, que,
se fosse empregada, resolveria o problema.

Em síntese, na correção das provas de redação da Fundação VUNESP:


NÃO SE CONSIDERA ERRO DE PONTUAÇÃO A AUSÊNCIA DAS VÍRGULAS ISOLANDO
O ADJUNTO ADVERBIAL

Os gráficos informam que no último ano a taxa de desemprego aumentou.


(Os gráficos informam que, no último ano, a taxa de desemprego aumentou.)
Primeiramente devem ser apontados os argumentos favoráveis à aprovação da lei.
(Primeiramente, devem ser apontados os argumentos favoráveis à aprovação da lei.)

CONSIDERA-SE ERRO DE PONTUAÇÃO A PRESENÇA DA VÍRGULA SEPARANDO


ELEMENTOS ESSENCIAIS

Os gráficos informam ao leitor, que a taxa de desemprego aumentou no último ano.


VERBO (OBJETO DIRETO – PODE SER SUBSTITUÍDO POR ISSO)

(Os gráficos informam isso ao leitor)

Os gráficos informam que no último ano, a taxa de desemprego aumentou.


VERBO (OBJETO DIRETO – PODE SER SUBSTITUÍDO POR ISSO)

(Os gráficos informam isso)

NA AVALIAÇÃO DA PONTUAÇÃO, TAMBÉM NÃO SÃO PENALIZADOS


▪ Uso de vírgula antes das conjunções e e ou;
▪ Erros envolvendo maiúsculas/minúsculas;
▪ Erros envolvendo ponto e vírgula;
▪ A ausência de ponto final em fim de parágrafo;
▪ A presença de pontuação (ponto final, vírgula, travessão) em início de parágrafo.
23

RESUMO

IMPORTANTE!
Antes de penalizar o emprego de vírgula, o avaliador deve conferir se, realmente, essa vírgula
está separando elementos que não podem ser separados, de acordo com as regras de
pontuação vigentes. Em muitos casos, há duas vírgulas isolando uma palavra ou um trecho do
texto:
visto que, agora, os tempos mudaram.
pois, agora, os tempos mudaram.
mas, agora, os tempos mudaram.
e, agora, os tempos mudaram.
Neste país que, muitas vezes, surpreende a população.
Ele era, afinal, um bom governante.

Nesses exemplos, não há inadequações no uso das vírgulas, já que o elemento ou o trecho
inserido entre as partes inseparáveis está devidamente isolado por meio do emprego de DUAS
vírgulas.
24

Concordância verbal e nominal

Nas correções das provas de redação, são penalizados os desvios de concordância


nominal e/ou verbal envolvendo gênero e número/pessoa. É importante esclarecer que, se
houver, em um determinado período, falta de concordância nominal e/ou verbal envolvendo
mais de um determinante e/ou verbo para um mesmo referente, esse erro será penalizado
apenas uma vez. Vejamos alguns exemplos de erros de concordância:

Os valor corretos foram esquecidos - contar 1 erro (concordância de número).


Opiniões como esta não é mais aceita - contar 1 erro (concordância de número).
O povo não é mais submisso porque eles estão engajados - contar 1 erro (concordância de
número/pessoa).

O povo precisam fazer alguma coisa - contar 1 erro (concordância de número/pessoa).


Os homens, em geral, perde a oportunidade de ficar calado - contar 1 erro (concordância de
número/pessoa).

Nós foi enganado - contar 1 erro (concordância de número/pessoa).


A gente fomos enganados - contar 1 erro (concordância de número/pessoa)7.
Essa questão passou despercebido - contar 1 erro (concordância de gênero).
Foram negligenciados, como sempre, todas as demandas do povo - contar 1 erro
(concordância de gênero).

As pessoas não podem ser submetido a maus tratos - contar 1 erro (concordância de gênero e
de número).

As pautas, a qual foi esquecida, precisam ser retomadas - contar 1 erro (concordância de
número).

As línguas mudam naturalmente, não sendo possível mantê-la estática - contar 1 erro
(concordância de número).

cada pessoa, ao sofrerem discriminação, deve reagir - contar 1 erro (concordância de


número).

7Não será penalizada a concordância de gênero com a gente, em expressões como a gente foi penalizado (por a
gente foi penalizada) ou a gente está cansado (por a gente está cansada).
25

O examinador, antes de penalizar um suposto desvio de concordância, precisa estar


certo de que há, realmente, um equívoco por parte do candidato, já que existem situações, na
língua portuguesa, que admitem mais de uma concordância:

O diretor, com todos os professores, foi/foram à secretaria.

A maioria dos deputados não concordou/concordaram com o presidente.

NÃO SÃO PENALIZADOS

- Erros envolvendo infinitivo NÃO flexionado:

A justiça mandou os governantes explicar o gasto com dinheiro público.

(A justiça mandou os governantes explicarem o gasto com dinheiro público)8

IMPORTANTE!
A falta de concordância entre sujeito e verbo na voz passiva sintética será penalizada
(raramente) apenas em processos seletivos mais concorridos e com alta incidência de C4:

Emprega-se conceitos equivocados. (Empregam-se conceitos equivocados)


Deve-se respeitar as ordens. (Devem-se respeitar as ordens)
Tinha-se respeitado as ordens. (Tinham-se respeitado as ordens)

8
São penalizados erros de concordância envolvendo o infinitivo flexionado no plural com sujeito no singular (veja-
se o último exemplo apresentado para os desvios de concordância: cada pessoa, ao sofrerem discriminação,
deve reagir).
26

Regência
A adequação da regência nominal e verbal também é avaliada nas provas de redação.
Essa avaliação é pautada na transitividade prevista (inclusive em estágio de mudança) para os
nomes e verbos do português. Assim, antes de penalizar um determinado uso ou não uso de
preposição no texto, o examinador precisa estar certo de que há, realmente, um equívoco na
escolha adotada pelo candidato, uma vez que muitas regências são variáveis (e aceitas) na
língua. É importante acrescentar que é pouco comum a recorrência de erros (ex.: cinco ou
mais) de regência em uma mesma redação.

SÃO PENALIZADOS
▪ Uso incorreto de preposição
Ele aderiu com a causa. (Ele aderiu à causa)
Teve um comportamento estranho perante ao juiz.
(Teve um comportamento estranho perante o juiz)

▪ Não uso da preposição exigida


Não devemos aderir o projeto. (Não devemos aderir ao projeto)

NÃO SÃO PENALIZADOS


- Problemas de regência envolvendo os verbos visar (a), assistir (a), ir (a), chegar (a), implicar,
acarretar e corroborar.

IMPORTANTE!
Erros envolvendo o emprego de preposição diante de pronomes relativos serão penalizados
apenas em processos seletivos mais concorridos, cujos candidatos apresentem um maior
domínio do critério C (processos com alta incidência de C4):9

É um assunto o qual ninguém gosta. (É um assunto do qual ninguém gosta)


Esse é o pensador que discordo. (Esse é o pensador de quem/que discordo)
A casa que moro. (A casa em que moro).
Este é o livro cuja capa está escrito o nome do editor. (Este é o livro em cuja capa está
escrito o nome do editor.)

9 Não será penalizada, nas correções das provas de redação, a substituição de aonde por onde (ex.: Onde
chegamos? Onde vamos?), sobretudo porque não exigimos, nas avaliações, o emprego da preposição a com os
verbos chegar e ir (ex.: Aonde chegamos? Aonde vamos?).
27

Construção frasal
Costumam ser classificados como erros de construção frasal, nas avaliações das provas
de redação da Fundação VUNESP, problemas que descaracterizem as estruturas sintáticas
previstas para o português (na modalidade escrita formal).

SÃO PENALIZADOS
▪ Elementos sobrando ou faltando na oração
Essas são as obras cujo os autores conheço. (Essas são as obras cujos autores conheço)
Ambas definições são aceitas. (Ambas as definições são aceitas)
Isso pode configura-se como uma ameaça. (Isso configura-se como uma ameaça)
A Constituição ela não é respeitada. (A Constituição não é respeitada)
O tema do qual não gosto dele... (O tema do qual não gosto...)
Essa tese, qual tem sido muito defendida, precisa ser repensada.
(Essa tese, a qual tem sido muito defendida, precisa ser repensada)
Essa situação, muitas das vezes, é irreversível. 10
(Essa situação, muitas vezes, é irreversível)

▪ Repetição de vocábulos
Para que que a mudança ocorra...

▪ Períodos incompletos
(em geral, a oração principal está separada da subordinada por um ponto final)

Os dados mostraram novamente. Que o índice de violência aumentou.


(Os dados mostraram novamente que o índice de violência aumentou).

Isso é censura. Que pode funcionar ou não. (Isso é censura, que pode funcionar ou não)
Sempre vi com desconfiança esse humor. Que, em geral, ofende alguém.
(Sempre vi com desconfiança esse humor que, em geral, ofende alguém)

O projeto foi recusado pelos artistas. Visto que ele não é bom.
(O projeto foi recusado pelos artistas, visto que ele não é bom).

Essa técnica contribui para a prevenção de doenças. Além de facilitar o tratamento.


(Essa técnica contribui para a prevenção de doenças, além de facilitar o tratamento).

10A expressão “muita(s) das vezes” será penalizada apenas quando for usada como sinônimo de “muitas vezes”.
Note que há situações em que o emprego da expressão não é equivocado: “Ele não estava presente em muitas
das vezes que perdemos”.
28

O sistema funciona bem. Embora tenha sido criticado.


(O sistema funciona bem, embora tenha sido criticado) ou
(Embora tenha sido criticado, o sistema funciona bem).

O projeto trouxe bons resultados. Apesar dos problemas apresentados.


(O projeto trouxe bons resultados, apesar dos problemas apresentados) ou
(Apesar dos problemas apresentados, o projeto trouxe bons resultados).

A aprovação dessa lei ampliou a participação das mulheres no futebol. Tornando o esporte
acessível.
(A aprovação dessa lei ampliou a participação das mulheres no futebol, tornando o esporte
acessível).

NÃO SÃO PENALIZADOS

- Falta de paralelismo sintático:

Quanto mais se ignora o autoritarismo, a censura cresce.


(Quanto mais se ignora o autoritarismo, mais a censura cresce)

Os direitos humanos interessam tanto para a esquerda e para a direita.


(Os direitos humanos interessam tanto para a esquerda, quanto para a direita)

- O emprego de ponto final para separar orações coordenadas:

A economia cresceu. Mas/Porém/Contudo/Entretanto a desigualdade social continua alta.


A economia cresceu. E isso foi bom para o país.
Os brasileiros devem sentir muita vergonha de seus governantes. Porque/Pois é isso que
sinto.
29

IMPORTANTE!
As conjunções pois e porque também são empregadas em orações subordinadas causais (e
não apenas em orações coordenadas explicativas). Como a diferenciação entre esses dois
tipos de oração (coordenada explicativa e subordinada causal) nem sempre é clara, não serão
penalizadas as separações, por meio de ponto final, entre oração principal e oração
subordinada causal iniciada por pois ou por porque. Além disso, é importante observar que não
faltam exemplos de textos com escrita formal e monitorada empregando pois e porque em
início de período. A seguir, estão apresentados alguns desses exemplos envolvendo pois (com
função opositiva):11

“Eu li há pouco um soneto verdadeiramente pio de um rapaz sem religião, mas necessitado de agradar a um
tio religioso e abastado. Pois ainda que eu não desse então toda a fé ao poeta inglês, dou-lhe agora, e aqui
a dou de novo para mim.” (Machado de Assis, Memorial de Aires,12 p. 41).

“Tenho embarcado e desembarcado muitas vezes, devia estar gasto. Pois não estou.” (Machado de Assis,
Memorial de Aires, p. 100).

“[...] Itamar Vieira Junior não se perde, contudo, em duvidosas recriações de um idioma supostamente
telúrico, nem trata seus personagens com certo paternalismo, tão daninho, que já assinalou um sem-número
de tentativas, na ficção, de dar voz aos despossuídos do campo.

Pois um dos grandes trunfos deste romance é a representação – com eloquência e humanidade – dos
descendentes de escravizados africanos [...]” (orelha do romance Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, 2019).

11 Convém observar que a conjunção pois com sentido de mas já não é muito comum no português brasileiro
atual.
12 Os trechos (esses, aqui reproduzidos, e outros) do romance Memorial de Aires (1908) foram gentilmente
encaminhados por uma de nossas colaboradoras, cujo nome não será revelado, neste Manual, para preservar a
identidade (sigilosa) dos avaliadores da VUNESP. A fonte utilizada pela colaboradora está disponível para
consulta neste endereço eletrônico: Microsoft Word - memorial_aires.rtf (dominiopublico.gov.br) (último acesso:
20/04/21, às 17h).
30

Precisão lexical
SÃO PENALIZADOS
▪ troca de uma grafia por outra (semelhante) existente na língua:
há por a ou à e vice-versa (ex.: entregar há você; a muito tempo, à muitos anos)
trás por traz e vice-versa
sob por sobre e vice-versa
mas por mais e vice-versa
afim por a fim e vice-versa
se quer por sequer e vice-versa
a cerca por acerca e vice-versa
por tanto por portanto e vice-versa
entre tanto por entretanto e vice-versa
toda via por todavia e vice-versa
com tudo por contudo e vice-versa
burocracia por democracia e vice-versa
meia por meio (advérbio: tarefa meia difícil)
haja(m) visto(s) por haja(m) vista (haja visto o problema ou hajam vistos os problemas)

▪ uso indevido de vocábulo:


onde sem referência a lugar (aceitar o emprego de onde diante de “lugares abstratos” como internet,
Facebook, sociedade)

▪ Uso de pronome pessoal do caso reto como objeto direto:


deixou ele(a), entregou ele(a), denunciou ele(a)
por deixou-o(a), entregou-o(a), denunciou-o(a)

▪ itens lexicais (não dicionarizados ou não aceitos pela norma-padrão – muitos deles comuns
nas variedades faladas da língua) criados a partir de bases e desinências disponíveis na
língua:

opressionar por oprimir


seje ou esteje por seja ou esteja
menas por menos
cidadões por cidadãos
31

▪ troca indevida de modos e tempos verbais:


É necessário que todos ficam atentos. (É necessário que todos fiquem atentos).
Os políticos querem que o povo enfraquece. (Os políticos querem que o povo enfraqueça).
Embora há uma Constituição... (Embora haja uma Constituição...).
Talvez a situação melhora. (Talvez a situação melhore).
Antigamente, as pessoas contestam as regras.
(Antigamente, as pessoas contestavam as regras).

IMPORTANTE!
A troca de tempos verbais será penalizada apenas quando houver indicação explícita do tempo
ao qual o texto se refere (ex.: antigamente, ontem, amanhã etc.), já que a avaliação não pode
ser subjetiva. Já a penalização para a troca de modo verbal precisa levar em consideração que
há situações em que é perfeitamente possível mais de um modo verbal (especialmente em
orações subordinadas adjetivas):

O melhor é viver em um país onde não existe/exista desigualdade.


São consideradas as fontes fidedignas, que passam/passem por revisão.
É um dado usado em situações que admitem/admitam bons argumentos.
A escolha de um ou de outro modo verbal, nesses casos, não poderia, portanto, ser
penalizada. Dito de outro modo, serão penalizados apenas os desvios categóricos, ou seja,
que não deixem dúvida em relação ao equívoco.

NÃO SÃO PENALIZADAS


- Fusão da preposição de com artigos ou pronomes diante de sujeito de infinitivo:

É hora da família agir. (É hora de a família agir)


Chegou antes dela sair. (Chegou antes de ela sair)

- Ausência do sufixo -mente em advérbios de modo:

Independente da decisão do judiciário, continuaremos lutando pela liberdade de expressão.


(Independentemente da decisão do judiciário, continuaremos lutando...)

- Expressões como:
✓ HÁ MUITOS ANOS ATRÁS (por HÁ MUITOS ANOS ou MUITOS ANOS ATRÁS);

✓ ATRAVÉS DE (por POR MEIO DE);

✓ AO INVÉS DE (por EM VEZ DE);

✓ O MESMO (com função referencial).


32

Informalidade
SÃO PENALIZADOS
▪ Ditados populares ou expressões próprias da oralidade:

É o fim da picada!
É um sujeito sem eira, nem beira.
Não dá para ser sempre pau para toda obra.
Super aprovo o novo método de ensino.
Esse negócio não vai dar em nada.
A lei proposta pelo deputado não tem nada a ver!
Criou um baita projeto.

▪ Abreviações próprias da escrita informal da internet ou reduções oriundas da oralidade:


vc, pq, pra, tá etc.

▪ Palavras ou expressões de baixo calão:


Políticos filhos da puta.13
Homens que lutam pra caralho - contar 1 erro.

13O emprego de palavrão, no texto, não leva, necessariamente, à anulação (nota zero) da prova. Para que uma
redação seja anulada pelo uso de impropérios, é preciso que se constate uma intenção, por parte do candidato, de
desrespeitar o processo seletivo ou os avaliadores, recusando-se a encarar com seriedade a situação de prova.
33

É sempre bom lembrar

NÃO PENALIZAR
- ERROS ENVOLVENDO HÍFEN (EM PALAVRAS COMPOSTAS);
- ERROS ENVOLVENDO NOMES PRÓPRIOS OU ESTRANGEIROS;
- ERROS ENVOLVENDO PORQUE, POR QUE, PORQUÊ E POR QUÊ;

- FALTA DE PINGO SOBRE A VOGAL i;

- FALTA DE CORTE EM t;

- ERROS ENVOLVENDO MAIÚSCULAS/MINÚSCULAS;


- VÍRGULA ANTES DE E OU OU;
- PONTUAÇÃO EM INÍCIO DE LINHA;
- AUSÊNCIA DE PONTO FINAL EM FIM DE PARÁGRAFO;
- INFINITIVO NÃO FLEXIONADO;
- COLOCAÇÃO PRONOMINAL (PRÓCLISE, ÊNCLISE, MESÓCLISE);
- FALTA DE PARALELISMO SINTÁTICO;
- FUSÃO DA PREPOSIÇÃO DE COM ARTIGOS OU PRONOMES DIANTE DE SUJEITO DE INFINITIVO;
- AUSÊNCIA DO SUFIXO -MENTE EM ADVÉRBIOS DE MODO;
- EXPRESSÕES COMO:
✓ HÁ MUITOS ANOS ATRÁS;

✓ AO INVÉS DE;

✓ O MESMO.

Em geral, sustentam a decisão de não penalizar determinados “desvios” os seguintes


motivos:

- o uso já é comum em textos escritos, formais e monitorados (mudança em curso ou


variação estável, no Brasil);

- há falta de uma padronização clara na formulação das regras (o que poderia confundir os
avaliadores, obrigando-os a consultar, com frequência, normas muito específicas e suas
respectivas – e não poucas – exceções);

- há dificuldades associadas ao texto manuscrito que podem impedir uma avaliação justa e
precisa (ex.: a caligrafia do candidato, em geral, deixa dúvidas sobre a presença do corte no
“t” ou do “pingo no i”).
34

Particularmente em relação a este último tópico, é oportuno observar que a avaliação


das provas de redação não penaliza um suposto desvio quando há dúvidas (dos avaliadores)
provocadas, por exemplo, pela caligrafia do candidato. Assim, é oferecido ao candidato o
benefício da dúvida sempre que houver uma dificuldade, por parte dos avaliadores, em
comprovar, a partir da comparação entre os padrões gráficos empregados pelo candidato em
seu texto (ex.: como são grafadas as vogais em cada palavra do texto?), que há um o em lugar
de a, por exemplo. Contudo, quando a caligrafia do candidato for muito obscura,
impossibilitando a leitura de grande parte das palavras, a redação perderá ponto no critério C
e, em casos extremos (muito raros), poderá ser anulada (texto ilegível).

PENALIZAR APENAS UMA VEZ


- DOIS OU MAIS ERROS DA MESMA CATEGORIA EM UMA PALAVRA (EX.: EMPASE POR IMPASSE – CONTAR 1
ERRO DE ORTOGRAFIA).

- ERROS DE ORTOGRAFIA OU DE ACENTUAÇÃO ENVOLVENDO DERIVADOS DE UMA MESMA RAIZ (EX.:


CONCIÊNCIA E CONCIENTE; FREQUENCIA E FREQUÊNTE).

- ERROS (DE ORTOGRAFIA, ACENTUAÇÃO, PRECISÃO LEXICAL ETC.) QUE APAREÇAM MAIS DE UMA VEZ NA
REDAÇÃO (EX.: ONDE USADO VÁRIAS VEZES, NO TEXTO, SEM SE REFERIR A “LUGAR”), INCLUSIVE
AQUELES DE CRASE OU DE REGÊNCIA QUE ENVOLVAM EXATAMENTE O MESMO CONTEXTO (EX.: À ELA
EMPREGADA MAIS DE UMA VEZ NA REDAÇÃO – PENALIZAR APENAS 1 VEZ).

Para finalizar esta seção dedicada à avaliação da MODALIDADE, nas provas de


redação dos processos seletivos da Fundação VUNESP, é fundamental que seja salientada a
importância de uma avaliação pautada em critérios objetivos. Por esse motivo, não são
penalizadas escolhas (dos candidatos) de cunho meramente estilístico, que o avaliador possa
julgar (de modo subjetivo) pouco apropriadas (ex.: escolha de um sinônimo considerado muito
abrangente, do ponto de vista semântico; adoção de uma organização sintática que teria
tornado a leitura menos fluida etc.).
35

COESÃO
A avaliação da coesão, nas provas de redação dos processos seletivos da Fundação
VUNESP, é baseada na observação dos recursos (de referenciação e de sequenciação)
adotados pelos candidatos para articular as ideias mobilizadas no texto. Está indicada, a
seguir, a pontuação prevista, na grade de correção, para a análise da coesão nas provas de
redação:

Convém observar, no entanto, que essa pontuação deve ser sempre associada àquela
prevista para o exame da modalidade, que, em geral, prevalece (em relação à coesão), na
avaliação do critério C. Por esse motivo, a coesão (sozinha) não costuma, por exemplo, ser a
responsável pela atribuição da nota C1, nas avaliações das provas de redação de processos
seletivos da Fundação VUNESP (em geral, essa nota está associada ao excesso de erros ou
às combinações envolvendo erros graves), já que é raro a coesão ser rudimentar em um
texto, considerando-se que existem diversos recursos coesivos disponíveis na língua, tanto de
referenciação (ex.: sinônimos, hiperônimos, elipses, artigos e pronomes), quanto de
sequenciação (ex.: repetição lexical, recorrência de tempo verbal, paralelismo, encadeamento
por justaposição ou por conexões).14

Já a nota C2, obtida, exclusivamente, em virtude de problemas coesivos, apesar de não


estar entre as mais comuns, costuma aparecer, nas avaliações das provas de redação. A
seguir, estão arrolados os principais fatores puramente coesivos que podem levar à nota 2, no
critério C:

14Para mais informações sobre os recursos coesivos disponíveis na língua, vejam-se os trabalhos de Koch (1989,
1997, 2009, 2015), Fávero (1991), Antunes (2005) e Marcuschi (2008, 2012).
36

- MONOBLOCO (TEXTO SEM QUALQUER DIVISÃO DE PARÁGRAFO, OU SEJA, A REDAÇÃO INTEIRA É ESCRITA
EM UM ÚNICO PARÁGRAFO);

-PREDOMINÂNCIA DE PARÁGRAFOS MUITO CURTOS (2 LINHAS OU MENOS OU 3 LINHAS OU MENOS,


DEPENDENDO DO PROCESSO);

- PREDOMINÂNCIA DE PERÍODOS JUSTAPOSTOS (MUITOS PERÍODOS CURTOS E RAROS CONECTIVOS INTRA


E/OU INTERPARÁGRAFOS AO LONGO DE TODO O TEXTO);

- MUITOS CONECTIVOS USADOS INDEVIDAMENTE;


- REPETIÇÃO EXCESSIVA DE UM CONECTIVO (EX.: E... E... E).

Essas situações (especialmente as duas primeiras) costumam ocorrer, nas provas de


redação, mas, conforme observado anteriormente, não estão entre as mais frequentes. O mais
comum, nos processos seletivos da Fundação VUNESP, é o aspecto coesivo do texto impedir
a redação (com 4 erros ou menos) de alcançar a nota máxima, no critério C, já que o C4 exige
uma “valorização da relação entre as partes do texto em virtude do bom uso de recursos
coesivos”.

A fim de manter, para a análise dos recursos coesivos, a mesma objetividade proposta
para o exame da modalidade, buscamos estabelecer alguns critérios para tornar menos
subjetiva a interpretação do referido “bom uso dos recursos coesivos”. São estes os principais
fatores que barram a nota máxima, no critério C:

- PREDOMINÂNCIA DE PARÁGRAFOS COMPOSTOS POR UM ÚNICO PERÍODO;

- PROBLEMAS COESIVOS DENTRO DOS PARÁGRAFOS (EX.: RECORRENTES SUBSTITUIÇÕES DE PONTO


FINAL POR VÍRGULA E VICE-VERSA);

- AUSÊNCIA (COMPLETA) DE COESIVO ENTRE OS PARÁGRAFOS;


- USO EQUIVOCADO DE COESIVO INTERPARÁGRAFO (EX.: CONTUDO EM LUGAR DE PORTANTO).

Particularmente em relação às duas últimas determinações, é importante ressaltar que,


se houver, na redação, apenas um conectivo interparágrafo, mas esse conectivo tiver sido
usado indevidamente (ex.: contudo em lugar de portanto), a nota C4 será barrada e o emprego
indevido da conjunção será penalizado como imprecisão lexical. Da mesma forma, quando
houver mais de um conectivo interparágrafo e um deles, pelo menos, tiver sido empregado
equivocadamente, a redação também não poderá receber a nota 4, no critério C, porque essa
nota, em geral, não admite equívoco no uso do coesivo interparágrafo. Cabe esclarecer, no
entanto, que esta última regra não é adotada para todas as correções: quando o nível das
redações, no critério C, está muito baixo, com pouca incidência de C4, o barramento (por uso
indevido de um coesivo interparágrafo) não ocorre.
37

Estão apresentados mais adiante, neste manual, os principais coesivos interparágrafos


aceitos e não aceitos, nas avaliações das provas de redação. Essa delimitação foi baseada,
principalmente, em estudos de Linguística Textual e/ou Enunciativa, já que a tradição
gramatical, normalmente, fica restrita ao nível das palavras e das orações, não expandindo a
análise para o nível do texto ou do discurso, fundamental para o exame da articulação entre os
parágrafos de uma redação. Também pautou essa divisão dos coesivos (em aceitos e não
aceitos) a justificativa para a exigência, nas correções, de, pelo menos, um conectivo
interparágrafo (para a obtenção de C4): não permitir que alcançassem a nota máxima, no
critério C, redações com poucos erros gramaticais ou de escrita (menos de 4), mas sem
qualquer manifestação, no nível superficial (coesão) do texto, de elementos capazes de
evidenciar alguma conexão (de retomada e/ou de continuidade) com o conteúdo expresso
no(s) parágrafo(s) anterior(es). Além disso, o tipo textual também foi levado em consideração,
nessa divisão dos coesivos em aceitos e não aceitos, já que, em geral, os recursos adotados
para articular parágrafos no texto dissertativo-argumentativo são diferentes daqueles adotados
em textos narrativos (nestes, os conectores espaciotemporais, por exemplo, costumam ser
mais funcionais do que naqueles).

A partir desses parâmetros, foi decidido (pela equipe técnica da Fundação VUNESP)
que seriam aceitos, como coesivos interparágrafos, os chamados operadores argumentativos,
com exceção daqueles que são pouco funcionais em início de parágrafo (ex.: e, ou, ou seja,
porque, usados, frequentemente, para concatenar palavras e/ou orações), tomando como base
textos de escrita formal e monitorada, ou que não dialogam, necessariamente, com o conteúdo
expresso em parágrafos anteriores (ex.: sem dúvida, infelizmente, frequentemente etc.). Além
dos operadores argumentativos, em algumas correções, também são aceitos, como coesivos
interparágrafos, termos (ex.: pronomes demonstrativos) e expressões capazes de promover
uma retomada do conteúdo abordado em parágrafo(s) anterior(es), funcionando, assim, como
articulador interparágrafo.

Estão apresentados, na página a seguir, os coesivos interparágrafos aceitos e não


aceitos para a obtenção do C4, nas avaliações das provas de redação da Fundação VUNESP.
38

COESIVOS INTERPARÁGRAFOS ACEITOS (PARA C4)


• SERÃO ACEITOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS COM FUNÇÃO ANAFÓRICA , CONJUNÇÕES,
LOCUÇÕES CONJUNTIVAS, ADVÉRBIOS, LOCUÇÕES ADVERBIAIS E DEMAIS OPERADORES
ARGUMENTATIVOS APROPRIADOS PARA INÍCIO DE PARÁGRAFO E QUE ESTABELEÇAM ALGUMA
RELAÇÃO COM O ASSUNTO ABORDADO NO(S) PARÁGRAFO(S) ANTERIOR(ES):

ESSE MAS OUTROSSIM PORTANTO ENFIM, FINALMENTE


[ASSUNTO, PORÉM ADEMAIS POR CONSEGUINTE EM SUMA
TEMA] CONTUDO ALÉM DISSO DESTARTE/DESSARTE EM RESUMO
ESSA TODAVIA IGUALMENTE LOGO EM CONCLUSÃO
[PROPOSTA] ENTRETANTO SIMILARMENTE ASSIM SENDO ASSIM
ISSO NO ENTANTO DA MESMA FORMA ENTÃO DIANTE DO
(desde que o EXPOSTO
referente EM NESSE ÍNTERIM POR ISSO A PARTIR DO
esteja claro) CONTRAPARTIDA EXPOSTO
APESAR DISSO NESSA PERSPECTIVA DESSE MODO EM VIRTUDE DISSO
OUTRO POR OUTRO [TAMBÉM OU AINDA] DESSA FORMA TENDO EM VISTA O
[FATOR, LADO É IMPORTANTE /CABE QUE FOI
ARGUMENTO] ACRESCENTAR QUE APRESENTADO

• SERÃO ACEITOS, TAMBÉM, MARCADORES DISCURSIVOS COM FUNÇÃO ORDENADORA, DESDE QUE
O SENTIDO SEJA DEVIDAMENTE COMPLETADO A PARTIR DO EMPREGO DO PAR:

A PRIORI... A POSTERIORI

PRIMEIRAMENTE/EM PRIMEIRO LUGAR... EM SEGUNDO LUGAR

EM PRIMEIRA ANÁLISE... EM SEGUNDA ANÁLISE

COESIVOS INTERPARÁGRAFOS NÃO ACEITOS (PARA C4)


• NÃO SERÃO ACEITOS CONECTIVOS OU RECURSOS QUE SÃO SEJAM APROPRIADOS PARA INÍCIO DE
PARÁGRAFO OU QUE NÃO ESTABELEÇAM QUALQUER RELAÇÃO COM O ASSUNTO ABORDADO NO(S)
PARÁGRAFO(S) ANTERIOR(ES):

E, NEM SEM DÚVIDA

OU CERTAMENTE

OU SEJA TALVEZ

PORQUE EVENTUALMENTE

POIS (EXPLICATIVO OU CAUSAL)15 FREQUENTEMENTE

JÁ QUE ESSENCIALMENTE

EMBORA INFELIZMENTE

APESAR DE
(APESAR DISSO VALE, PORQUE O DEMONSTRATIVO FAZ UMA RETOMADA)

15Será aceita, como coesivo interparágrafo, a conjunção pois com valor CONCLUSIVO ou ADVERSATIVO. É
importante ressaltar, contudo, que não é muito comum o uso de pois adversativo no português brasileiro atual
(embora tenha sido comum no passado e ainda seja recorrente em Portugal).
39

IMPORTANTE!
Bechara (2014, p. 80) chama a atenção para o fato de que a tradição gramatical, levando em
consideração equivalências semânticas, incluiu entre as chamadas conjunções coordenativas
(e, nem, ou, mas, senão, porém) advérbios que estabelecem conexões interoracionais e
intertextuais, tais como pois, logo, então, assim, portanto, contudo, entretanto, todavia etc. Na
avaliação das provas de redação, a eficácia de determinados elementos linguísticos, na
articulação entre as partes do texto, é mais importante do que as prescrições gramaticais
referentes ao emprego de conjunções e advérbios, sobretudo porque essas prescrições são,
em geral, inconsistentes e pouco esclarecedoras em relação aos limites conceituais e
funcionais entre as duas categorias. A análise dos recursos coesivos empregados nas
redações dos candidatos mostra, por exemplo, que as chamadas conjunções adversativas
(prototípicas) mas e porém são empregadas em início de parágrafo para exercer exatamente a
mesma função (de expressar a ideia de oposição em relação ao conteúdo apresentado em
parágrafo anterior) dos (originalmente) advérbios contudo, todavia, entretanto etc. Por esse
motivo, com base nos pressupostos da Linguística Textual e buscando evitar preciosismos na
avaliação das provas de redação, a equipe técnica de correção da VUNESP optou por aceitar
como coesivos interparágrafos, reconhecendo-as como operadores argumentativos, as
conjunções mas e porém, além de contudo, todavia, entretanto, no entanto etc. Cabe
acrescentar que essas conjunções vêm sendo, frequentemente, empregadas em início de
parágrafo ou de período, em textos de escrita formal e monitorada, e algumas gramáticas da
língua portuguesa já reconhecem esse uso:

Muitas conjunções podem introduzir novos períodos. Vejamos alguns exemplos:

A evolução das camas tem sido retratada ao longo da História nas civilizações mais
antigas como a assíria, persa, egípcia e greco-romana. Porém, só a partir do século XVII
é que a cama, como a conhecemos hoje, começou a ser popularizada.

Costumo dizer que a melhor matéria que eu fiz vai ser a de amanhã. Mas devo admitir
que a reportagem mais importante que eu fiz na minha vida foi a de um Globo Repórter
Especial sobre a Guerra Civil em Ruanda. (Paulo Henrique Amorim, Imprensa, junho de
2002).

(ABREU, 2018, p. 414-415)


40

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram apresentadas, ao longo deste manual, as principais determinações referentes à
avaliação do critério C (EXPRESSÃO – MODALIDADE E COESÃO), nas provas de redação de
processos seletivos (vestibulares e concursos) promovidos pela Fundação VUNESP.

Não era intenção deste manual esgotar todas as possibilidades de desvios gramaticais
ou de problemas coesivos nos textos dos candidatos. O objetivo deste material era fornecer
uma síntese das situações mais comuns, identificadas em grande parte das redações de
vestibulares e concursos, que pudesse direcionar o trabalho dos avaliadores. É possível,
portanto, que surjam, durante a correção efetiva das provas, problemas atípicos, que não foram
previstos neste material. Sempre que isso acontecer, o avaliador deverá consultar o
coordenador da banca para que possam decidir juntos sobre a penalização (ou não) do
suposto desvio.

Além disso, é importante ressaltar que as diretrizes apresentadas neste manual, embora
sejam adotadas na grande maioria das avaliações de provas de redação da VUNESP, podem
não valer para processos seletivos mais específicos, com exigências particulares dos clientes
da Fundação. Nesses casos, as eventuais mudanças, em relação ao conteúdo disposto neste
material, serão apresentadas e discutidas durante o treinamento direcionado, especificamente,
para a correção peculiar.

Outrossim, os parâmetros expostos neste manual também não são estanques, já que a
língua é dinâmica e o processo de correção precisa acompanhar as mudanças recentes
evidenciadas pelos estudiosos da área. Dessa forma, este material será constantemente
atualizado, inclusive a partir de sugestões e críticas apontadas por seus usuários (os
avaliadores).

Por último, é necessário acrescentar que a avaliação do critério C também leva em


consideração, além da modalidade e da coesão, o número de linhas escritas na redação:
textos muito curtos, com 15 linhas ou menos, perdem um ponto no critério que avalia a
expressão. Assim, se foi atribuída, previamente, nota 3, no critério C, a uma redação com erros
eventuais, essa nota deverá ser reduzida para 2, se a redação for composta por 15 linhas ou
menos. Essa mesma regra deve ser estendida para todas as notas do critério C (C4 passará a
C3, assim como C2 passará a C1). Ademais, em alguns processos, redações com menos de
20 linhas ficam impossibilitadas de receber a nota máxima (4), no critério C.
41

AGRADECIMENTOS
Agradeço aos colaboradores da Fundação VUNESP (professores de língua portuguesa
e estudiosos da área, que participam, frequentemente, de nossos processos de correção) que
contribuíram, enviando suas sugestões, para a elaboração deste material.
42

REFERÊNCIAS
ABREU, A. S. Gramática Integral da Língua Portuguesa: uma visão prática e funcional. Cotia:
Ateliê Editorial, 2018.

ANTUNES, I. Lutar com PALAVRAS – coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

BECHARA, E. Gramática Fácil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

FAVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.

KOCH, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.

_____. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.

_____. Desvendando os segredos do texto. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

_____. Introdução à Linguística Textual – trajetória e grandes temas. 2. ed. São Paulo: Contexto,
2015.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola


Editorial, 2008.

_____. Linguística Textual: o que é e como se faz? São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

VIEIRA JR., I. Torto Arado. São Paulo: Todavia, 2019.


43

ANEXOS
44

ANEXO A - GRADE COMPLETA (CRITÉRIO C)


45

ANEXO B
INFORMAÇÕES SOBRE O CRITÉRIO C DIVULGADAS EM EDITAL

C) Expressão (coesão e modalidade): consideram-se, neste item, os aspectos referentes


à coesão textual e ao domínio da norma-padrão da língua portuguesa. Na coesão,
avalia-se a utilização dos recursos coesivos da língua (anáforas, catáforas,
substituições, conjunções etc.), de modo a tornar a relação entre palavras, orações,
períodos e parágrafos do texto mais clara e precisa. Serão considerados aspectos
negativos as quebras entre frases ou parágrafos e o emprego inadequado de recursos
coesivos. Na modalidade, serão examinados os aspectos gramaticais, tais como
ortografia, acentuação, pontuação, regência, concordância (verbal e nominal) etc., bem
como a escolha lexical (precisão vocabular) e o grau de formalidade/informalidade
expressa em palavras e expressões.

Textos curtos, com 15 (quinze) linhas ou menos, serão penalizados no critério que avalia a
expressão. Além disso, redações com 20 (vinte) linhas ou menos não poderão alcançar a
nota máxima no critério C. (A segunda parte do parágrafo, destacada em amarelo, não é
válida para todos os processos).
46

ANEXO C - REDAÇÕES CORRIGIDAS (NO CRITÉRIO C)


Nas páginas a seguir, estão apresentadas redações (oriundas de diferentes processos
seletivos já finalizados) que foram corrigidas, no critério C, pela equipe técnica da Fundação
VUNESP. Foram marcados, nas imagens anexadas a seguir, os desvios gramaticais
(penalizados e não penalizados na correção) e problemas coesivos identificados nos textos dos
candidatos. Para facilitar o estudo individual dos avaliadores, apresento, abaixo, uma legenda
para as cores adotadas nas marcações dos textos:

desvios penalizados;

desvios não penalizados;

aspectos coesivos.
40

1 1 2

2 3 4 5

3 6

8
4 7

5 9 10

6 11

12 13 14
7
8 15 16

17
9 18

10
11
12 19 20 21 22

23
13
14 24

15
16 25

17
18 26 27

19 28 29

20
21
22 30

23 31 32 33

24 34

25 35

26 36

27 37 38 39

28
29 40

grave
A nota C1 por excesso não requer problemas sintáticos, ou seja, não é necessário que a redação
apresente problemas sintáticos para receber C1 por excesso.
29 erros em 20 linhas
(na média, há, pelo menos, 1 erro por linha)
1 1 2

2 3 4 5 6 7

3
4 8 9 10

5
11
6
7
8 12 13 14

9 15 16

18
10 17

19
11
20
21
12
22 23
13
14
24
15
26 27
16 25

17
18
19 28 29

20

A nota C1 por excesso não requer problemas sintáticos na redação.


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
CF
(esse tipo de desvio não é penalizado em todos os processos)

de

[serem] - se a preposição "de" fosse acrescentada na linha anterior


(um conectivo seria bem-vindo para melhorar a conexão nesses trechos,
mas a falta do conectivo não chega a ser um problema que impeça a nota
máxima, em C, nessas
situações)

[pois]

[e]

As medidas podem ser...; ou O projeto pode ser


ponto final
a

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