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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIRB

RACISMO ESTRUTURAL NA PRIMEIRA INFÂNCIA E AS CONSEQUÊNCIAS


REFLETIDAS NO IDOSO

Adailton Ramos

Ana Izabel Souza Pereira

Mariane Lima Barreto

Róger Silva Ferreira Costa

Tamires Barbosa dos Santos


1. INTRODUÇÃO

Com a aprovação da Lei nº 14.423/2022, foram substituídas as expressões “idoso” e


“idosos” por “pessoa idosa” e “pessoas idosas” na Lei n° 10.741/2003, que a partir de
agora ganha a denominação de “Estatuto da Pessoa Idosa”. Para tanto, argumentou-se
que “Para além do maior respeito e melhor atenção às mulheres idosas, o termo ‘pessoa’
também relembra a necessidade de combate à discriminação de gênero e à
desumanização do envelhecimento”.

O Estatuto da Pessoa Idosa, criado como decreto-lei a partir de disposições sobre a


pessoa idosa contidas na Constituição de 1988, assume um papel fundamental na
maneira como a velhice é vista e tratada na sociedade brasileira. O envelhecimento
populacional é um fenômeno mundial, e, no Brasil, a população idosa é o grupo que
apresenta as taxas mais elevadas de crescimento. Diante de tal realidade, o Estado
brasileiro precisa se preparar para atender à demanda desse segmento populacional,
principalmente nos setores previdenciário, de saúde, e de assistência social.

Junto a tais entidades, a família é apontada como um lugar importante para o


assentamento da pessoa idosa e a saúde se desponta como uma preocupação
fundamental. As limitações ocupam um espaço razoável na caracterização da pessoa
idosa e junto com a saúde cria a imagem da velhice como uma fase marcada por uma
constrição da vida.

O Estudo Longitudinal da Saúde das Pessoas Idosas Brasileiras (Elsi-Brasil) apontou


em 2019 que 75,3% das pessoas idosas brasileiros dependem exclusivamente dos
serviços prestados no Sistema Único de Saúde, sendo que 83,1% realizaram pelo menos
uma consulta médica nos últimos 12 meses. Nesse período, foi identificado ainda 10,2%
das pessoas idosas foram hospitalizados uma ou mais vezes. Quase 40% das pessoas
idosas possuem uma doença crônica e 29,8% possuem duas ou mais doenças como
diabetes, hipertensão ou artrite. Ou seja, ao todo, cerca de 70% das pessoas idosas
possuem alguma doença crônica.
A importância de se trabalhar as questões que envolvem a saúde da pessoa idosa se
justifica não em apenas garantir boas condições de vidas aos indivíduos que já vivem a
velhice, mas desenvolver Políticas Públicas voltadas para a saúde da pessoa idosa
possibilitar a elaboração de estratégias que visem melhorias nas condições de vida e
promovam Saúde àqueles que estão iniciando o processo de envelhecimento e aos que
ainda irão passar por este processo (WITTER, 2006).

O etarismo prejudica a saúde, afeta a dignidade, nega às pessoas direitos humanos e


impacta a habilidade de cada indivíduo alcançar seu pleno potencial no meio social,
graças ao impacto psicológico que tal tratamento causa.

O preconceito racial também causa inúmeras consequências; a população negra enfrenta


o racismo estrutural, institucional e a ausência de políticas públicas para combatê-lo.

Estudo da Faculdade de Saúde Pública da USP aponta que 47,2% das pessoas idosas
negras avaliam sua saúde de maneira negativa, bem como 45,5% das pessoas idosas
pardas. Já entre as pessoas idosas brancas, o índice é de 33%.

Em relação ao acesso aos serviços de saúde, segundo o mesmo estudo, na cidade de São
Paulo, os equipamentos de saúde são acessados por: 63,3% brancos, 21,4% pardos e
7,3% pretos/negros.

Os números refletem uma desigualdade latente e desafiam as autoridades e a sociedade,


como um todo, a criar, implementar e ampliar medidas e políticas públicas que ajudem a
mudar essa realidade. O direito ao envelhecimento com dignidade e saúde ilustra o nível
da cidadania e civilidade de uma sociedade. Assim, para averiguar o grau de cidadania
de uma sociedade, devemos ver como ela se preocupa e age para dar dignidade às suas
pessoas idosas, o quanto ela se preocupa e age em favor de um envelhecimento saudável
e digno.
2. RACISMO ESTRUTURAL

Racismo estrutural consiste no racismo presente em uma sociedade estruturada que


privilegia determinada raça ou etnia em detrimento de outra. Na sociedade brasileira,
desde sua formação os brancos são beneficiados, enquanto os negros são deixados a
margem da sociedade.

A desigualdade afeta a comunidade negra há anos, uma vez que os comportamentos e


falas racistas não deixaram de existir mesmo após a abolição da escravatura. Porém, os
brancos continuam ocupando os melhores empregos, na política são maioria, bem como
nos cursos superiores que garantem maior remuneração.

Segundo Silvio Almeida, em seu livro Racismo Estrutural:

“ o racismo é uma decorrência da própria estrutura social,


ou seja, do modo “normal” com que se constituem as
relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares,
não sendo uma patologia social e nem um desarranjo
institucional. O racismo é estrutural.” [1]

Embora tenham sido criadas leis e politicas publicas que trouxesse inclusão e proteção
aos negros, na pratica elas não possuem eficácia ao ponto de reduzir de forma
considerável a discriminação racial.

3. RACISMO NA INFÂNCIA

O racismo nem sempre se revela de forma explícita, em grande parte dos casos ele
ocorre de forma velada, mas os efeitos negativos causados ao indivíduo são os
mesmos. E entre as crianças os impactos são maiores, uma vez que irá carregar traumas
por toda a vida.

Uma prática comum é elogiar os cabelos lisos de uma criança branca e dizer que o
cabelo crespo de uma criança negra é cheio demais, difícil de lidar e de pentear. Ou
dizer frases como: “ela é uma negra bonita”, como se as demais não fossem.

As crianças negras são negligenciadas, conforme revelou um teste social exibido pela
Tv Record em 2015, no qual foram deixadas duas crianças em momentos distintos, no
mesmo local, com a mesma roupa, a diferença era que uma criança era negra e a outra
branca/loira. A primeira criança a realizar o experimento foi a negra e após passar uma
hora em pé no local, ninguém procurou saber pela mãe dela, se ela estava perdida ou se
precisava de ajuda. Posteriormente surge um homem (negro) e questiona onde estaria a
mãe dela, oferecendo ajuda.

No entanto, quando a criança branca é colocada no mesmo lugar, demorou apenas um


minuto e meio para que surgisse uma mulher e perguntasse se aquela criança estava
perdida. Pouco tempo depois várias pessoas cercam a menina tentando ajudá-la e
sempre era enfatizavam pelas pessoas o quanto ela era linda. [2]

Esse teste social demonstra que a cor da pele ainda influencia a forma como o
indivíduo será tratado, ainda que seja uma criança. A falta de empatia exibida no teste é
uma dura realidade na vida de milhares de crianças que se tornam invisíveis ao olhar
da população racista.

Esse tipo de tratamento dado aos infantes gera problemas físicos e psicológicos. De
acordo com Centro de Liderança Pública:
“ o estresse tóxico, isto é, a vivência uma dificuldade forte,
frequente e prolongada, sem apoio adequado de um adulto,
gera riscos à construção da arquitetura cerebral das crianças.
O que pode acarretar várias consequências a curto prazo,
como transtornos do sono, irritabilidade, desenvolvimento de
medos e piora da imunidade. E no médio e longo prazo, pode
potencializar atrasos no desenvolvimento, transtorno de
ansiedade, depressão, queda no rendimento escolar e
propensão a um estilo de vida pouco saudável na vida adulta.”
[3]

Esses infantis têm dificuldade em se sentir representados e acolhidos, podendo causar


impacto em todas as esferas de sua vida. Inclusive sua inteligência questionada com
frequência, esses fatos levam elas a se verem de forma diversa a que realmente são,
desacreditando em seu potencial.

De acordo com o psicólogo Marcos Amaral, membro do Instituto Amma Psique e


Negritude, impacto no desenvolvimento é direto:
“É um impedimento de descansar, de brincar, perde a
possibilidade de fantasia. É importante, do ponto de vista do
desenvolvimento, que a criança possa imaginar, fantasiar,
criar histórias. De que modo você vai se permitir imaginar,
criar fantasias, quando precisa viver num estado de alerta
constante? (...)O maior impacto, do ponto de vista da saúde
mental, é a impossibilidade de construir projetos de futuro. É
muito cruel a juventude ser ceifada da possibilidade de
sonhar.” [4~]

Contudo, há uma permanente desigualdade em relação a população preta e o acesso a


serviços de saúde, creche, pré-escola, saneamento básico e condições adequadas de
moradia. Logo, essas crianças não possuem as mesmas estruturas oferecidas às demais e
mesmo dentro da escola, que deveria ser um local acolhedor, são expostas a falas e atitudes
preconceituosas e estigmatizantes, causando distúrbios.

Outrossim, as crianças pretas correm maiores riscos de sofrerem violência, uma vez que
seus pais ao receberem salários menores, necessitam passar boa parte do tempo
trabalhando para que assim possam sustentar a família. Na ausência dos seus genitores,
essas crianças ficam em casa com a supervisão de um parente, vizinho ou sem nenhuma
supervisão. Tornando-os mais vulneráveis e suscetíveis a sofrerem agressões, bem como
ao recrutamento ao tráfico de drogas.

Segundo dados apresentados pelo IBGE em 2020, a taxa de mortalidade infantil, o


analfabetismo, homicídios, são maiores entre os pretos, em comparação aos brancos.
Todavia, no tocante ao ingresso a universalidade, a cargos elevados como juízes e na
política os brancos detêm a maior taxa de representatividade, mesmo a população negra
sendo maior. [5]

Durante a juventude o jovem preto, é constantemente estereotipado como perigoso,


suspeito, marginal. É comum relatos de jovens que são seguidos e abordados em lojas de
departamento, mercados, shoppings, simplesmente pelo tom escuro de sua pele.

Para tanto, esses jovens ao viver em lares pobres nem sempre tem a chance de concluir no
mínimo o ensino médio, tal pouco chegam a cursar ensino superior. Muitos são obrigados a
escolher entre o estudo e o trabalho, isso explica a grande evasão que tem ocorrido nas
escolas. Pois acabam optando por trabalhar e ajudar a manter as despesas da casa.

Por outro lado, existem outras parcelas que acabam sendo seduzidos pelo crime organizado
buscando dinheiro rápido e poder. Demonstrando a omissão do Estado em oferecer
qualidade de vida a esses jovens, assim como acesso a educação e emprego digno.
Nas abordagens policiais, são os maiores alvos dos agentes de segurança. Todos os dias em
diversas partes do Brasil, jovens pretos são mortos. A ação do Estado nas comunidades tem
se tornado cada vez mais violenta, gerando vítimas mortais e levando medo à comunidade.

Todavia, uma pequena parcela desses jovens que conseguem romper as barreiras para
completar o ensino médio e buscam ingressar em uma universidade e obter um bom
emprego, sofrem com a desigualdade racial, recebendo salários menores que os de pessoas
brancas.

Segundo a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2019, o salário médio de trabalhadores negros
foi 45% menor do que do que o dos brancos. Já as mulheres pretas recebem 70% menos
que as mulheres.[6]

Portanto, a vida da população preta é extremamente difícil, sem quaisquer privilégios,


jogados à margem da sociedade, sendo submetido a humilhações, submetidos a trabalho
braçais, tendo direitos negados. Desigualdades que foram naturalizadas pela sociedade,
demonstrando que não há democracia racial no país.
4. REFLEXO DA DESIGUALDADE NOS IDOSOS

“A criança de hoje é o idoso de amanhã. A


população negra é afetada por
determinantes sociais e pode não chegar
aos 60 anos sem sequelas”

Lúcia Xavier, coordenadora da ONG


Criola

Essa frase revela com clareza o quão triste e real é a perspectiva de vida dos negros.
A jornada de uma vida lutando contra o racismo e desigualdade, os altos índices de
mortalidade, bem como o sofrimento com a ausência de políticas públicas eficazes,
impactam diretamente na saúde do idoso negro. Chegar à velhice é uma vitória,
porém ter saúde é outra batalha a ser enfrentada.

Conforme o Relatório Anual das Desigualdades Sociais, do Núcleo de Estudos de


População, da UnicampV de 2011, a expectativa de vida entre negros no Brasil é de
67 anos, enquanto os brancos vivem em média 73 anos. Segundo dados do IBGE,
7,9% das pessoas com mais de 60 anos no país são pretas, 35,3% são pardos e 55,1%
são brancos. A falta de acesso a saneamento básico, alimentação inadequada e
dificuldade em conseguir cuidados hospitalares, acarreta na redução da expectativa
de vida do povo negro. [7]

De acordo com Maria Letícia Machado e Nayara de Souza Araujo que são Master
em Liderança e Gestão Pública e membros da Rede Negritude Pública e da Rede
MLG de Apoio à Primeira Infância:
“Os especialistas apontam que o enfrentamento
constante do racismo sistêmico e da
discriminação cotidiana é um potente ativador
da resposta ao estresse. O que pode nos ajustar
a compreender os fatores de origem, mas não
determinantes, das disparidades raciais na
incidência de doenças crônicas não
transmissíveis na população. No Brasil,
segundo dados do Ministério da Saúde, a
população negra costuma apresentar uma maior
incidência de diabetes mellitus (tipo II) — 9%
mais prevalente em homens negros do que em
brancos; 50% mais prevalente em mulheres
negras do que em brancas — e, de maneira
geral, possuem quadros de hipertensão arterial
mais complicados.”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que a raça é um determinante social


de saúde, uma vez que o racismo atua como um produtor de iniquidades e de
vulnerabilidade na saúde das pessoas negras.

Portanto há que comparar a velhice e saúde de pretos e brancos, uma vez que ambos
não têm acesso a serviços de saúde, trabalho, educação, moradia, de forma
igualitária.

Em conformidade com o tema, o InformaSus expôs que acima de 64 anos, o


percentual de pardos e negros na sociedade decai absurdamente. Demonstrando que o
racismo deve ser combatido por todos e em todas as áreas, inclusive na área de saúde.
REFERÊNCIAS

1. Livro Racismo Estrutural, Silvio Almeida


2. https://www.youtube.com/watch?v=y3oW1AnL-Q0
3. https://www.clp.org.br/primeira-infancia-e-negritude-quando-o-
racismo-inicia-seu-impacto/
4. https://www.brasildefato.com.br/2020/06/25/racismo-e-infancia-brasil-
falha-em-proteger-suas-criancas-e-jovens-pretos
5. https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/01/racismo-
em-pauta-2014-racismo-estrutural-mantem-negros-e-indigenas-a-
margem-da-sociedade
6. https://www.cut.org.br/noticias/racismo-estrutural-segrega-negros-no-
mercado-de-trabalho-548e
7. https://www.metropoles.com/materias-especiais/populacao-negra-
enfrenta-desafios-para-garantir-longevidade

Data de entrega: 30/10/2023

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